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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

MÔNICA FERREIRA DE PAULA MENEZES

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS PÚBLICAS: um estudo de caso


da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico
do Brasil

RIO DE JANEIRO
2008
Mônica Ferreira de Paula Menezes

SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS PÚBLICAS: um estudo de caso da


Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do
Brasil

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Serviço Social da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do grau de bacharel em Serviço Social.

Orientador:
Professor Dr. Marcelo Braz Moraes dos Reis

Rio de Janeiro
2008
Pela realização deste trabalho agradeço
primeiramente a Deus.
Aos meus pais Carlos e Célia que me deram
seu apoio.
Ao meu noivo Rodrigo que sempre me deu toda
a força que eu precisava para completar essa
jornada. Também agradeço as minhas amigas
da faculdade pelo apoio.
À minha supervisora Maria Fernanda que me incentivou a desenvolver esse

tema e que brilhantemente me orientou na minha formação profissional.

E não poderia esquecer do meu orientador


Marcelo que me guiou na construção desse
trabalho.
Obrigado a todos...
Sem vocês não teria conseguido!
RESUMO

MENEZES, Mônica Ferreira de Paula – Serviço Social nas empresas públicas: um


estudo de caso da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço
Geológico do Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço
Social) – Escola de Serviço Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2008.

Pretendemos com este trabalho fazer uma análise crítica da prática profissional

em uma empresa pública, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço

Geológico do Brasil (CPRM/SGB), discutindo parte da sua história e sua atualidade.

Para isso, iniciamos com o estudo do Serviço Social nas empresas, de forma geral,

fazendo um balanço do debate teórico existente e discutindo sobre as requisições

postas pelo empregador, a prática profissional do assistente social e a visão do

trabalhador sobre a profissão. Falamos das mudanças do capitalismo na

contemporaneidade e dos impactos das mesmas sobre os trabalhadores, para abordar

as mudanças da atuação e dos espaços profissionais do Serviço Social frente a elas.

Traçamos um debate de como o assistente social é requisitado pelo

empregador (CPRM/SGB), utilizando com fonte documental os Editais de Concurso

Público da empresa. Falamos das demandas e respostas profissionais dos assistentes

sociais, com base nos Projetos de Intervenção dos mesmos.

Por fim, fizemos uma análise da problemática teórica com as fontes

documentais empíricas, analisando as requisições do empregador, os limites e

desafios da prática profissional e as respostas profissionais.

Palavras-chaves: Serviço Social em empresas; Reestruturação Produtiva;

Empresa Pública; Prática Profissional.


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO........................................................................................

INTRODUÇÃO..............................................................................................

1 O SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS: UM BALANÇO DO DEBATE


TEÓRICO EXISTENTE.................................................................................

10
1.1 A NATUREZA DO SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS......................... 10

1.2 AS MUDANÇAS DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: A NOVA FÁBBRICA DE


CONSENSOS E O NOVO PERFIL DO TRABALHADOR... 20
1.3 AS RESPOSTAS DO SERVIÇO SOCIAL FRENTE ESSE NOVO
QUADRO...................................................................................................... 27

2 O SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS PÚBLICAS...............................

34
2.1 AS FUNÇÕES DO ESTADO NO CAPITALISMO MONOPOLISTA........

34

2.2 A “REFORMA” DO ESTADO NO BRASIL E AS EMPRESAS PÚBLICAS

37
2.3 AS DEMANDAS/ EXIGÊNCIAS PROFISSIONALMENTE POSTAS AO SERVIÇO
SOCIAL NAS EMPRESAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO DA
CPRM/SGB.................................................................................. 44
2.3.1 As demandas profissionais da CPRM/SGB: as requisições do
empregador................................................................................................
46
2.3.2 As demandas profissionais do Serviço Social da CPRM/SGB......

52

3 UM BALANÇO DA PROBLEMÁTICA TEÓRICA INICIAL COM O QUE


FOI VERIFICADO NAS FONTES DOCUMENTAIS...................................

58
3.1 REQUISIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL PELO EMPREGADOR............

58
3.2 LIMITES E DESAFIOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL.........................

60
3.3 RESPOSTAS PROFISSIONAIS: AÇÕES, PROJETOS E PROGRAMAS.

63

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................

67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 71
APRESENTAÇÃO

Em virtude dos dois anos de estágio curricular que fiz na Companhia de

Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil que me despertou

interesse sobre o Serviço Social nas empresas. Isso aconteceu por diversas razões,

mas a principal foi a dificuldade de encontrar esse tipo de debate na área acadêmica.

Quando o encontrava, percebia certo tipo de “preconceito” quando se tratava desse

assunto, pois a visão “mais geral” que percebia era que o profissional dessa área

somente visava o capital e não o trabalhador. O que me incomodava bastante, pois

nessa minha experiência apreendi que não é somente isso que acontece, assim

veremos nesse trabalho.

Outro ponto que me incomodava bastante era ver a contradição expressa entre

o que o empregador exigia da assistente social e o que estudamos na Universidade. E

também que a rotina da prática profissional nos prendia em tarefas burocráticas sem

ter espaço para desenvolver análises mais críticas da realidade que nos cercava.

Por isso, resolvi desenvolver esse tema, até mesmo para me aprofundar

teoricamente nessa área da nossa prática profissional e também para contribuir com o

retorno de informações para meu antigo campo de estágio.

Minha intenção com este trabalho é promover uma análise crítica acerca da

atuação profissional do Serviço Social em uma empresa estatal com referência na

bibliografia existente, nos documentos da prática profissional (Projetos de Intervenção)

e nos documentos que expressam a requisição do empregador (Editais de Concurso

Público).
INTRODUÇÃO

Pretendemos com este trabalho fazer uma análise crítica da prática profissional

em uma empresa pública (CPRM/SGB1), discutindo parte de sua história e sua

atualidade, e também a sua teoria com a prática. Temos como objetivo a promoção de

um maior conhecimento acerca dessa área temática (Serviço Social em empresas), a

viabilização de uma análise da história do Serviço Social nas empresas com a prática

profissional e requisições da mesma na atualidade, e a contribuição para o retorno de

informações à empresa referida.

Levantamos como hipótese que a prática profissional e as suas requisições na

atualidade serão diferentes do que veremos na sua história, por causa das mudanças

no interior do Serviço Social e das novas exigências profissionais das empresas dado

o processo de reestruturação produtiva e de “reforma” do Estado.

No Capítulo 1 deste trabalho trataremos do Serviço Social nas empresas, de

forma geral, fazendo um balanço do debate teórico existente. Iniciamos com a sua

natureza, tratando também do caráter contraditório da prática profissional.

Debateremos sobre a requisição do empregador, a prática profissional e a visão do

trabalhador sobre o assistente social.

Ainda no capítulo inicial iremos mostrar as mudanças do capitalismo na

contemporaneidade, trazendo características das mudanças do modo de produção

capitalista (para a acumulação flexível), da reestruturação produtiva e dos impactos da

mesma sobre os trabalhadores. E para finalizar abordaremos as mudanças da atuação

e dos espaços profissionais do Serviço Social frente a esse novo quadro expresso.
1
-Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil.
No Segundo Capítulo trataremos do Serviço Social em empresas públicas,

trazendo primeiramente a compreensão do papel do Estado, pois meu objeto de

estudo é uma empresa pública, e das funções que ele assume no modo de produção

capitalista em sua fase monopolista. Logo em seguida mostraremos como a “reforma”

do Estado se dá no Brasil e de que maneira ela afeta as empresas estatais.

Exposto isso, falaremos da CPRM/SGB, trazendo as suas características e de

que maneira a “reforma” do Estado a afetou. Após, faremos uma análise de como o

assistente social é requisitado pelo empregador, utilizando com fonte documental os

Editais de Concurso Público da empresa. Também trataremos das demandas e

respostas profissionais dos assistentes sociais, com base nos Projetos de Intervenção

dos mesmos, buscando identificar as demandas recorrentes bem como as ações e

atividades previstas pelos profissionais. É importante ressaltar que esse estudo será

feito com um recorte histórico delimitado em torno da “reforma” do Estado, a partir do

primeiro Governo FHC2 até a atualidade.

O Capítulo 3 trará uma análise que relaciona o debate teórico presente no

Capítulo 1, com as fontes documentais tratadas no Capítulo 2. E para isso

analisaremos as requisições do empregador, os limites e desafios da prática

profissional e as respostas profissionais.

Para desenvolver esse estudo adotamos os seguintes Procedimentos

Metodológicos:

1. Problematização do tema e definição do objeto de estudo;

2. Levantamento das hipóteses;

3. Levantamento bibliográfico para cada capítulo (capítulo por capítulo);

4. Leitura crítica da bibliografia;


2
- Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
5. Redação parcial dos capítulos;

6. Debate acerca da bibliografia estudada com o orientador;

7. Levantamento do material documental para a pesquisa;

8. Análise do material documental;

9. Redação final.

Por fim, cabe lembrar que simultaneamente a esse processo também ocorriam

discussões/debates e orientações com o professor orientador.


1 O SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS: UM BALANÇO DO DEBATE
TEÓRICO EXISTENTE.

1.1 A natureza do Serviço Social nas empresas.

Antes de tratarmos da natureza do Serviço Social nas empresas, é importante

ressaltar o caráter contraditório da prática profissional dos Assistentes Sociais e

também das demandas que lhes são postas.

Segundo Iamamoto (1992), o Serviço Social se institucionaliza rompendo as

barreiras de uma mera filantropia, como um recurso do Estado, do empresariado, e

com o apoio da Igreja, para atuar na “questão social”, dentro de um contexto de

transição para o capitalismo monopolista. Isso ocorre também por causa do processo

de formação e desenvolvimento da classe operária urbana, o que demandou outros

tipos de intervenção, não mais a mera filantropia ou repressão.

“É assim que, tendo como alvo o proletariado urbano e o exército industrial


de reserva, o Serviço Social se institucionaliza como profissão quando o
Estado passa a intervir diretamente nas relações entre o empresariado e a
classe operária através da regulamentação jurídica do mercado de trabalho,
da legislação social e trabalhista, da organização de uma rede de serviços
sociais. O objetivo era disciplinar a reprodução da força de trabalho, controlar
suas expressões sociais e políticas e atenuar as seqüelas materiais e morais
do trabalho assalariado”. (Iamamoto, 1992: 121)

Posto esse quadro, segundo Iamamoto (1992: 123), o grande desafio é avançar

nessa direção de crise capitalista e nas relações do âmbito do trabalho, mas para isso,

temos que enfrentar as nossas ilusões, rompendo com a visão fatalista e a messiânica

presentes no debate e na prática profissional.

Essa visão fatalista se dá pelo fato do profissional ter uma visão determinista da

lógica do capital, esvaziada da sua dinâmica contraditória e da possibilidade da sua


superação. Assim, encontramos um profissional acomodado, que realiza suas tarefas

de forma burocratizada e rotineira. Reforçando, deste modo, o seu caráter tutelar e

paternalista, tornando-se mais um agente que concretiza as estratégias de classe

(dominante). Mas essa visão também afeta o profissional que se diz progressista, mas

que acha que as lutas de classes só têm espaço na arena estritamente política

(partidos políticos, parlamento), como se fossem imunes aos conflitos da vida social,

das lutas de classes. (Idem: 123 - 124)

A outra ilusão é a visão messiânica do Serviço Social, que é deslocada da

história, dotada de um caráter voluntarista que muitas vezes se reduz na vontade do

profissional, e sem entender as “possibilidades transformadoras” da profissão.

“Marcada por uma visão mágica da transformação social, que passa a ser reduzida a

uma questão de princípios”. (Ibidem: 124)

Por isso, muitos profissionais, até o presente momento, acabam negando os

princípios do nosso projeto ético-político, e os valores do Código de Ética, por terem

como norte uma visão descolada da história e/ou voluntarista da profissão.

Segundo Iamamoto (1992: 124-125), para superarmos essas ilusões temos que

ser profissionais com um preparo teórico e político para enfrentar as demandas que

nos são postas e ter a capacidade de articular o particular com o geral. Como também

desenvolver pesquisas reflexivas da realidade com a qual trabalhamos, para que

possamos ultrapassar o discurso de mera denúncia e elaborar propostas competentes

e eficazes para a melhoria da nossa prática. Precisamos também acompanhar

atentamente o movimento das classes sociais. Outra questão é a compreensão do

poder institucional, que exige do profissional os recursos teóricos e políticos para


entender a dinâmica conjuntural, os sujeitos coletivos presentes e suas relações com a

profissão.

Para finalizar, o caráter contraditório da prática profissional dos Assistentes

Sociais se dá também pelas demandas que nos são postas profissionalmente, pois

partem de classes sociais antagônicas e contraditórias (burguesia e proletariado;

detentores dos meios de produção e os que vendem a sua força de trabalho).

Agora, vamos começar a tratar da natureza do Serviço Social nas empresas: As

empresas não são as principais empregadoras da categoria. A inclusão do Serviço

Social em empresas se dá a partir de 1960.

Segundo Mota (1998: 39-40), a empresa capitalista tem como objetivo gerenciar

capital e trabalho na produção de bens e serviços. Assegurando a valorização do

capital, sua acumulação e reprodução, com a mais-valia sendo seu instrumento de

lucro na esfera da produção. Essa instituição está inserida no modo de produção

capitalista e é condicionada ao movimento histórico da sociedade, em uma dinâmica

social global.

Percebemos assim, que a requisição da prática do assistente social na empresa

“se inclui em uma relação social mais ampla: a produção e reprodução das relações

de produção no todo da sociedade”. (Idem: 40)

Para Braverman (apud Mota, 1998: 43), na empresa existem funções básicas

sendo uma delas a “coordenação social”, e esta seria uma das propostas do

capitalismo, pois tem que manter a grande massa da sociedade urbana sob certo

controle e equilíbrio. Como a sociedade capitalista não tem meios para desenvolver

um planejamento social, dado a tendência à anarquia da produção capitalista, essa

função acaba ficando como responsabilidade da empresa.


Percebemos assim, que não se trata de uma comoção por parte da empresa

em desenvolver esse tipo de “coordenação”, mas sim de uma negociação entre ela e o

Estado, que são formadores do bloco hegemônico de poder. Sabemos também que

eles devem assegurar a manutenção do modo de produção capitalista em todos os

seus níveis.

A empresa tem que conseguir manter essa relação desigual que ela tem com

seus trabalhadores, situação esta que se mostra pelo fato da venda de sua força de

trabalho ser a única saída de sobrevivência do trabalhador e que esta é vendida pelo

salário que o capitalista paga. E para isso, a empresa recorre à assistência social

privada, e também às políticas sociais e econômicas no âmbito do Estado, que são

determinadas pela exploração que o capital exerce sobre o trabalho. (Ibidem: 44)

Segundo Mota (1998: 47-48), a questão social é assumida pelas empresas com

a existência de “pactos de dominação” com o Estado e também por uma tensão entre

empregado e empregador, expressa nas pressões que a classe trabalhadora exerce

com as suas demandas. E essas pressões podem ocorrer de forma organizada e

consciente ou não. Por isso, a empresa recorre às “ciências do comportamento” para

conseguir manipular os “problemas” dos trabalhadores ao seu proveito.

O assistente social é requisitado pela empresa por ser um profissional

capacitado para trabalhar na área dos Recursos Humanos, mediante a prestação dos

serviços sociais, e também desenvolvendo tarefas de caráter “educativo”. O discurso

do empresariado nos mostra que o assistente social é chamado para mediar os

conflitos de interesses do empregador e do empregado, para que não se prejudique o

processo produtivo (a ordem) (Idem: 56-57).


A nossa especialidade profissional, no caso específico das empresas, seria a

forma técnica de administrar os benefícios sociais, trabalho esse que antes era

desarticulado, realizado por funcionários administrativos. Ou, também, o assistente

social entra na empresa para “modernizar o gerenciamento das carências sociais do

trabalhador, compondo as equipes técnicas de recursos humanos” (Ibidem: 57).

Representando um avanço nas formas de planejar e executar as políticas sociais nas

empresas, substituindo o paternalismo, garantindo assim, o acesso a essas políticas a

todos os empregados.

O Serviço Social é visto como um meio de alcançar o objetivo de controlar os

comportamentos dos empregados, pelas habilidades que o profissional tem de

dialogar, ouvir e orientar. Isso tudo “mediante a execução de atividades educativas

que se assentam na veiculação de informações e valores éticos normativos”. (Mota,

1998: 62) Mas essa tarefa tem que ser desempenhada sem gerar conflitos.

Segundo Carvalho: “O ideário profissional assume o próprio projeto

empresarial, ao desconsiderar os trabalhadores enquanto classe e,

consequentemente, suas expressões de negação de exploração, o que auxilia o

capital na atualização de suas formas de manipulação da desigualdade” (apud Mota,

1998: 63).

Para concluirmos, a empresa demanda o trabalho profissional do assistente

social para atuar sobre a diferença entre os salários pagos aos empregados e os

custos de reprodução da sua força de trabalho, por meio de políticas sociais públicas

ou privadas.

Não podemos deixar de tratar o aspecto das respostas profissionais dadas pelo

Serviço Social a essas demandas que lhes são postas, onde percebemos claramente
duas visões. A primeira diz respeito ao assistente social legitimar as estratégias do

empresariado (identidade com o empresariado). E a segunda onde os profissionais

possuem uma visão mais crítica e negam essa identidade.

A presença dessa identidade com o empresariado se dá no próprio discurso dos

profissionais de Serviço Social. De acordo com Mota (1998: 70), eles tentam explicar

que o lucro da empresa tem apenas um caráter eventual, e que apesar disso, ela

possui uma função social. Indicando na falação de um assistente social entrevistado

pela autora que a empresa gerou maiores possibilidades de empregos e

desenvolvimento para o Nordeste. Outros entrevistados também apontam as

“facilidades” da política de industrialização e da disponibilidade de mão de obra.

Mas o aspecto político não é destacado pelos entrevistados nesse processo de

industrialização do Nordeste. Eles se reportam mais aos problemas que envolvem a

sua ação profissional e não aos problemas estruturais. Dizem que os problemas dos

trabalhadores nordestinos são anteriores à empresa, trazendo então, o estigma da

“marginalidade” do nordestino, identificado na pobreza.

Sendo assim os assistentes sociais “omitem o nexo existente entre a expansão

do capital nacional e a implantação e criação de empresas, bem como a

disponibilidade de reserva de força de trabalho, que têm no Estado o principal

incentivador”3. (Idem: 71)

Percebemos que os assistentes sociais se baseiam somente nas necessidades

declaradas pelos empregados e empregadores e não fazem uma análise da totalidade

que os cercam, e do processo que cria essas necessidades.

3
- Referente à pequisa realizada por Ana Elisabete Mota com empresas que possuem assistentes
sociais, em Recife, no ano de 1983.
Outro ponto que é importante ressaltar é que quando os assistentes sociais

colocam que a empresa reconhece a carência de seus empregados mais não tem a

obrigação de suprí-la. Assim, falam da “sensibilidade” da empresa, que dá “auxílios”

aos seus empregados, reforçando a ideologia assistencial. (Ibidem: 73-74)

Além disso, o assistente social considera que o Estado não tem condições de

suprir essas necessidades dos trabalhadores e que por isso, a empresa colabora com

seus serviços sociais. Esses pactos de dominação são vistos como viabilização do

bem-estar social.

Mas, como havíamos dito, existem profissionais que possuem uma visão mais

crítica da realidade que os cerca nesse contexto. E isso acontece, quando, por

exemplo, alguns profissionais identificam que possuem um papel na empresa que é de

evitar que os “problemas” dos empregados afetem o empresariado e a ordem do

processo produtivo.

Em uma visão mais crítica, compreendem que existem contradições entre

capital e trabalho, mas também não abandonam a necessidade dos programas

assistenciais. Negando assim a idéia de assistência como uma boa ação da empresa

e compreendendo o real sentido do Serviço Social na empresa. Também abordam a

questão do confronto, que devem criar condições para que ele exista entre os dois

grupos, não somente mediar os conflitos entre eles. (Mota, 1998: 83-84)

Ainda nas análises mais críticas sobre os “problemas” sociais vividos pelos

empregados, não encontramos nenhuma referência nos conflitos de classes. “Os

profissionais parecem endossar a ideologia da empresa na epígrafe das ‘carências’ e

esquecem a profundidade da dominação ideológica.” (Idem: 89).


Deste modo, entendemos que, mesmo os assistentes sociais que possuem uma

visão mais crítica, têm uma percepção fatalista da realidade, onde possuem uma visão

esvaziada da dinâmica contraditória do capital. E entendem que o trabalhador tem

que possuir uma atitude natural em relação à visão de sua consciência de explorado.

Para concluir, a atuação do assistente social se dá inserida dentro dos limites dos

objetivos da empresa, excluindo assim a possibilidade de tais manifestações serem

expressão do potencial de negação do trabalhador. (Ibidem: 90-91)

Esse potencial de negação do trabalhador se dá a partir da sua consciência

social, quando ele nega o discurso empresarial e entende que está dentro de uma

relação contraditória (capital x trabalho).

Quando falamos de consciência social, temos que pensar “na viabilidade de

construção da ideologia dominada enquanto força social que se objetiva na luta pela

transformação, esfera superestrutural em que a formação de consciência crítica é

plasmada nas contradições em busca de uma superação” (Mota, 1998: 95).

Não se pode reduzir o potencial negador do trabalhador às empresas.

Esclarecendo que quando se trata de suprir as necessidades dos trabalhadores pelas

empresas, é apenas um aspecto da prática social que não pode ser considerada

enquanto manifestação da totalidade.

Deste modo, vemos as necessidades dos trabalhadores não somente como as

suas carências, mas como elementos do processo de formação de consciência de

classe. “Uma ideologia que possui um potencial negador do sistema dominante”

(Ibidem: 97).

O trabalhador que possui uma visão mais crítica identifica os serviços sociais

não como ajuda, mas sim uma forma de amenizar os conflitos e de contribuir aos
objetivos da empresa. Ele também entende que essa assistência prestada é um direito

que ele adquiriu por vender sua força de trabalho. “Portanto, o significado que os

trabalhadores dão aos serviços sociais é inscrito na relação capital e trabalho

corporificada na empresa” (Mota, 1998: 102-103). Mesmo considerando os benefícios

como direitos, eles admitem que também existam a “ajuda”, o “quebra galho”.

Pelo estudo desenvolvido da autora, foi constatado que mais de 90% dos

trabalhadores assinalam a ação profissional do assistente social como uma “forma de

ajuda”. E que esta se dá de duas formas, uma pela assistência material e a outra é a

orientação social. (Idem: 105)

Mas os trabalhadores também identificam que o assistente social é contratado

para o cumprimento dos objetivos da empresa. E que para além da ajuda que

prestariam a eles, a presença do assistente social seria uma das formas mais eficazes

de controle da força de trabalho pela empresa. Não se caracterizando como um aliado

dos trabalhadores, mas sim como um agente da empresa. Mas quando o trabalhador

percebe que o assistente social também é um empregado da empresa, ele o identifica

como seu aliado e que também possui limites dentro dessa instituição. (Ibidem:

105-107)

O trabalhador “ao mesmo tempo em que requisita e se beneficia da “ajuda”,

constrói e afirma o seu “potencial negador”, apontando, inclusive, para uma nova

prática do Serviço Social” (Mota, 1998: 109).

O Serviço Social tem sua prática desenvolvida no interior de uma contradição,

capital x trabalho, onde tem que suprir as necessidades do trabalhador e afirmar o

domínio do capital. Mas se o potencial negador do trabalhador fosse fortalecido

poderia ser uma forma para combater os interesses do capital, até por causa da
retirada da idéia que os benefícios sociais podem ser utilizados como salários

indiretos. (Idem: 115)

Na sua prática convencional, o Serviço Social tem mediado os interesses do

capital junto ao trabalhador, mas sempre tendo como “pano de fundo” a ”lógica da

manutenção da desigualdade como uma condição de dominação”. Deste modo, para a

construção de uma nova prática, devemos reconhecer o potencial negador do

trabalhador, negar a requisição do capital e nos desvincularmos dessa prática

convencional. E principalmente, devemos aderir ao projeto político da classe

trabalhadora (Ibidem: 116-117).

“Em realidade, pode-se afirmar que o assistente social é requisitado para


atender uma exigência técnica, legitimando seu lugar no atendimento de
carências materiais e na orientação de comportamentos divergentes que
interferem na produtividade da força de trabalho, via execução de programas
assistenciais” (Mota, 1998: 127).

Mas a questão profissional não se esgota ou se justifica somente por essa

constatação. Porque no momento em que o assistente social se legitima na empresa,

ele exerce uma função que contribui com o processo produtivo, é onde ele se depara

com a sua própria contradição, pois ele também é um trabalhador assalariado. E é por

esse tipo de inserção, como classe trabalhadora do processo produtivo, que

poderíamos enxergar alguns caminhos para a construção para uma nova prática

profissional. (Idem: 127-129)

É verdade que a prática profissional se constrói preponderantemente mediante

as requisições da empresa, mas a profissão tem se articular internamente para poder

respondê-las, procurando descobrir as relações de classe contraditórias presentes.

Também se admite a visão imediatista da profissão, que transforma as requisições em


verdades, abandonando a possibilidade da construção de um objeto de ação. (Ibdem:

130)

1.2 As mudanças do capitalismo na contemporaneidade: a nova fábrica

capitalista e o novo perfil do trabalhador.

Segundo Mota (1998b: 27), em uma conjuntura de crise a reestruturação

produtiva e a reorganização dos mercados são estratégias utilizadas pelo capital para

enfrentá-la através do redirecionamento do processo de produção de mercadorias e

da realização do lucro. E este movimento determina a reestruturação de capitais, com

a íntima relação entre o capital industrial e financeiro, além dos oligopólios globais

(concentração e descentralização do capital). Também determina as transformações

no processo de trabalho, fazendo surgir outras formas de constituição e reprodução do

trabalhador coletivo, além de redefinir as fronteiras entre os processos de “subsunção

real e formal” do trabalho ao capital.

“Na esfera da produção, observa-se o aumento das taxas de lucro via


crescimento da produtividade do trabalho, intermediada pelo uso de novas
tecnologias e de novas formas de consumo da força de trabalho. Na esfera
da circulação, essa reorganização incide em mudanças no mercado
consumidor, determinando também novas formas de concorrência entre
firmas, com base na seletividade dos mercados e no marketing da qualidade
dos produtos. Na esfera sócio-politica e institucional, ocorrem novas
modalidades de controle do capital sobre o trabalho, que exigem um conjunto
de reformas institucionais e a implementação de mecanismos capazes de
promover a adesão e o consentimento dos trabalhadores às mudanças
requeridas” (Idem: 28).

Essas mudanças são consideradas como uma alternativa ao modelo de

produção fordista que começava a apresentar seus primeiros sinais de crise nos anos

60.

Em relação aos processos de trabalho, a produção em série e de massa foram

“substituídas” pela flexibilização da produção, pela “especialização flexível”, por novos

padrões de busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à

lógica do mercado. Lembrando que esse processo não se dá de forma linear nos

países que sofreram essas mudanças. Ensaiam-se também modalidades de

desconcentração industrial, busca de novos padrões de gestão da força de trabalho,

entre os quais, os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), a “gestão participativa”,

e a busca da “qualidade total”. Deste modo, o toyotismo se mistura ou até mesmo

substitui o padrão fordista antes dominante, em várias partes do mundo globalizado.

Essas novas formas de produção trazem desdobramentos no que diz respeito aos

direitos do trabalho, onde estes são desregulamentados, flexibilizados, para poder se

adequar a elas. Os direitos e as conquistas históricas dos trabalhadores são

substituídos e eliminados no mundo da produção. (Antunes, 1995: 16).

Harvey (apud Antunes, 1995: 20) apresenta um esboço analítico acerca do

significado das mudanças e transformações vivenciadas pelo capitalismo. Para ele, o

núcleo essencial do fordismo manteve-se forte até pelo menos 1973, baseado na

produção em massa. Mas depois da recessão instalada a partir daquele ano, teve

início ao processo de transição no interior do processo de acumulação de capital.


Em seu estudo sobre a acumulação flexível, expressa que essa fase da

produção é marcada pelo confronto direto com a rigidez do fordismo. Onde a mesma

se “apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos

produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de

produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços

financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação

comercial, tecnológica e organizacional”. (Harvey apud Antunes, 1995: 21). Essa nova

fase da produção cria um vasto movimento no emprego no chamado “setor de

serviços”, e também em novos conjuntos industriais situados em regiões até então

subdesenvolvidas. Ele reconhece que as pressões competitivas e as formas para

controlar a força de trabalho, acarretaram o nascimento dessa nova forma de

produção ou à conexão do fordismo a uma organização de subcontratação e de

deslocamento, para conseguir uma maior flexibilidade por causa do aumento das

competições.

Para Antunes, Harvey “reconhece a existência de uma combinação de

processos produtivos, articulando o fordismo com processos flexíveis, “artesanais”,

tradicionais”. (Harvey apud Antunes, 1995: 21).

Segundo Mota (1998b: 30), para a burguesia este movimento se materializa em

defesa de um “pensamento único”, amparado no neoliberalismo, como ideário

econômico e político, com a regulação mínima estatal, e liberdade política e

econômica.

Para os trabalhadores, além dos impactos dessa crise, como o “desemprego,

da precarização do trabalho, dos salários e dos sistemas de proteção social, observa-

se a construção de outras formas de sociabilidade marcadas por iniciativas


pragmáticas de enfrentamento da crise, fraturando suas formas históricas de

organização” (Idem: 30).

Para Teixeira4 (apud Mota, 1998b: 31), no âmbito das relações de produção,

“do ponto de vista objetivo, este movimento se materializa na criação de novas formas

de produção de mercadorias, mediante a racionalização do trabalho vivo, ciência e

tecnologia e pela implementação de formas de ”externalização” da produção”,

permitindo o aumento da produtividade e a redução dos custos.

Nesse contexto, de fragmentação objetiva do trabalhador coletivo, temos dois

grandes grupos, os trabalhadores estáveis (empregados) do grande capital e os que

são excluídos do emprego formal, sujeitos ao trabalho desprotegido.

“Seja na condição de trabalhadores precarizados, seja na de provedores de


“trabalho objetivado”, tais trabalhadores são sujeitos da novíssima
modalidade de exclusão do mercado de trabalho formal, porque não mais
fazem parte da estrutura interna das empresas, ao mesmo tempo em que se
transformam em objeto de um novo modo funcional de inclusão econômica”
(Teixeira apud Mota, 1998b: 31-32).

A externalização da produção, ou terceirização, ao mesmo tempo em que exclui

os trabalhadores do mercado formal de trabalho, cria outras formas de incluí-los, de

forma desprotegida, que é a sua principal característica (Mattoso5 apud Mota, 1998b:

32).

A fragmentação do mercado de trabalho impõe sobre a classe trabalhadora

uma fragilização e também um enfraquecimento do poder sindical. Portanto, a

reestruturação produtiva faz com que o movimento dos trabalhadores recue para o

terreno econômico-corporativo, deixando de lado seus elementos ético-culturais que

4
- Teixeira, Francisco J. S. trata da “externalização da produção” na sua obra: Neoliberalismo e
reestruturação produtiva – as novas determinações do mundo do trabalho.

5
- Jorge E. Matoso discute esse assunto em seu livro: A desordem do trabalho.
construíram as classes trabalhadoras como força autônoma e revolucionária. (Mota,

1998b: 33).

Segundo Teixeira (apud Mota, 1998b: 34), essa forma de externalização da

produção não passa de mais uma nova forma de estruturação do trabalho abstrato.

Onde o trabalhador se sente dono do seu próprio negócio, patrão de si mesmo, porque

ele que organiza seu processo de trabalho e estabelece a duração da sua jornada de

trabalho. E também se sente “parceiro” de seus antigos empregadores.

“A reestruturação produtiva redefine socialmente o processo de produção de


mercadorias. Assim, a reestruturação produtiva não se caracteriza apenas
pelas mudanças nos processos técnicos de trabalho nas empresas,
comprovadamente tímidos no Brasil, porque aqui reestruturação é abrir
capital, privatizar empresas estatais, terceirizar, demitir trabalhadores e a
aumentar a produtividade em até 100%”. (Mota, 1998b: pg. 34)

Deste modo, percebemos que a marca da reestruturação produtiva no Brasil é

“a redução de postos de trabalho, o desemprego dos trabalhadores do núcleo

organizado da economia e a sua transformação em trabalhadores por conta própria,

trabalhadores sem carteira assinada, desempregados abertos, desempregados

ocultos por trabalho precário, desalento, etc”. (Idem: 35) Ela é também um movimento

internacional marcado pela globalização e pela difusão do pensamento neoliberal, o

que se estrutura também com a desresponsabilização do Estado perante a proteção

do trabalho, e as parcerias com o capital.

Assim, podemos entender que a questão posta pela reestruturação produtiva “e

aqui conceituada como uma necessidade real, subjacente ao conjunto das demandas

profissionais, são as novas formas de produção, gestão e consumo da força de

trabalho”. (Ibidem: 36)


As formas de exploração são consolidadas em qualquer espaço social, porque

o processo de trabalho pode ser nas fábricas, nas residências, na rua, entre outros. E

esses trabalhadores que foram excluídos do trabalho protegido, agora exercem sua

auto-exploração, de sua família e de outros trabalhadores, tendo esta como sua

principal fonte de produção de valor. (Mota, 1998b: 36)

As mudanças nas relações entre Estado, sociedade e mercado, se materializam

nos “mecanismos de privatização, as pressões do empresariado e da burocracia

estatal para suprimir direitos sociais e trabalhistas e a “naturalização” da

superexploração do trabalho”. (Idem: 37)

“Enquanto a grande indústria fordista necessitava do keynesianismo, a indústria

de produção flexível necessita da liberdade do mercado e da abolição de parte dos

controles do Estado sobre as condições de uso da força de trabalho”. (Ibidem: 38)

É importante ressaltarmos a experiência do toyotismo ou o modelo japonês, que

maior impacto tem causado em escala mundial por causa da sua propagação.

Segundo Antunes (1995: 26), os traços constitutivos básicos do toyotismo podem ser

resumidos da seguinte maneira: a sua produção é voltada diretamente pela sua

demanda, que dirá o que será produzido. Assim, a produção se sustenta na existência

do estoque mínimo. É necessário o melhor aproveitamento do tempo de produção

(garantido pelo just in time), onde se inclui o tempo gasto com o transporte, o controle

de qualidade e o estoque. Outro ponto é o kanban, onde a reposição do estoque se

inicia após a venda do mesmo.

Para atender as exigências mais individualizadas do mercado, é necessário que

a produção se sustente em um processo flexível, onde os operários operem várias


máquinas, o que diferentemente do fordismo recria a relação homem/máquina. (Idem:

26)

O trabalho passa a ser realizado em equipe, caracterizando também a

necessidade da flexibilização da organização do trabalho. No toyotismo tem-se uma

horizontalização da produção, ultrapassando o âmbito da montadora e estendendo-se

às subcontratadas, às “terceiras”, para a produção de elementos básicos. O que

acarreta a expansão dos métodos e procedimentos do toyotismo às suas

fornecedoras. (Ibidem: 27)

No toyotismo, para a efetiva flexibilização do aparato produtivo, é também

necessária a flexibilização dos trabalhadores. Esta lógica opera dentro do discurso dos

direitos flexíveis, e pela produção se estruturar a partir de um número mínimo de

trabalhadores, que somente são ampliados pelo advento das horas extras. Objetiva-se

também a existência de trabalhadores temporários ou subcontratados, dependendo

das condições do mercado. (Gounet apud Antunes, 1995: 28).

A produção toyotista é controlada por grupos de trabalhadores, não mais por

gerentes. A empresa investe em treinamento e participação para melhorar a qualidade

e a produtividade. “A Toyota trabalha com grupos de oito trabalhadores (...) Se apenas

um deles falha, o grupo perde o aumento, portanto este último garante a produtividade

assumindo o papel que antes era da chefia. O mesmo tipo de controle é feito sobre o

absenteísmo”. (Watanabe apud Antunes, 1995: 29).

Em relação à introdução e expansão do toyotimo na Europa, devemos dizer que

o mesmo:

“tenderá a enfraquecer ainda mais o que se conseguiu preservar do welfare


state, uma vez que o modelo japonês está muito mais sintonizado com a
lógica neoliberal do que com uma concepção verdadeiramente social-
democrática. O risco maior que visualizamos dessa ocidentalização do
toyotismo é o de que, com a retração dos governos da social-democracia
européia, bem como a sua subordinação a vários pontos da agenda
neoliberal, tenderia a haver um encolhimento ainda maior dos fundos
públicos, acarretando maior redução das conquista sociais válidas para o
conjunto da população, tanto aquela que trabalha quanto a que não encontra
emprego”. (Antunes, 1995: 31-32)

Para Antunes, “não temos dúvidas ao enfatizar que a ocidentalização do

toyotismo (eliminados os traços singulares da história, cultura, tradições que

caracterizam o Oriente Japonês) conformaria em verdade uma decisiva aquisição do

capital contra o trabalho”. (Idem: 33)

Em relação ao mundo do trabalho, “o resultado do processo de trabalho

corporificado no produto, permanece alheio e estranho ao produtor, preservando, sob

todos os aspectos, o fetichismo da mercadoria (...) Por isso pensamos que se possa

dizer que, no universo da empresa da era da produção japonesa, vivencia-se um

processo de estranhamento do ser social que trabalha, que tendencialmente se

aproxima do limite. Neste preciso sentido é um estranhamento pós-fordista” (Ibidem:

34).

Essas transformações acarretam metarmofoses no ser do trabalho, atinge

também o universo da consciência, da subjetividade do trabalho, das suas formas de

representação. Podemos perceber pelos sindicatos que atuaram por um caminho de

institucionalização e de distanciamento dos movimentos autônomos de classe.

Afastam-se da ação, desenvolvida pelo sindicalismo classista e pelos movimentos

sociais anticapitalistas. Onde as diversas formas de resistência de classe encontram

barreiras na carência de direções dotadas de uma consciência para além do capital

(Antunes, 1995: 34-36).

1.3 As respostas do Serviço Social frente a esse novo quadro.


Como já havia relatado sobre as mudanças nas formas de produção, no perfil

do trabalhador, na política e na gestão da força de trabalho, agora temos que entender

o que essa realidade trouxe de diferente para as demandas, os espaços e a prática

profissional cotidiana dos assistentes sociais nas empresas.

Os espaços ocupados pelos assistentes sociais estão relacionados às

demandas institucionais e às formas de trabalho utilizadas por eles, historicamente. “A

demanda central comum, mantida em todos os períodos, confirma a finalidade do

trabalho desse profissional, historicamente constituída, que tem sido a reprodução

física e espiritual (psicológica, social, cultural e política) do trabalhador, através da

ausência material e da orientação de um modo de ser, sentir, pensar e agir, em

relação ao trabalho, à sociedade e à vida”. (Freire, 2006: 63)

Estes espaços vão demandar diferentes formas de atuação profissional, na

busca do atendimento dos usuários dos serviços para a garantia de suas

necessidades e direitos sociais. Todos eles expressam um saber técnico operativo,

que exige uma participação interdisciplinar, mas que se particulariza na relação com a

bagagem teórico-metodológica da profissão, no âmbito das políticas sociais. Sendo

assim, a ocupação desses espaços é diferenciada pelos saberes e técnicas que

qualificam os profissionais. (Idem: 64).

Na ocupação e constituição desses espaços, e do desenvolvimento dos

processos de trabalho, “há uma interação entre seus elementos determinantes –

societários, institucionais, dos usuários e do profissional” (Freire, 2006: 64). O

assistente social tem relativa autonomia para trabalhar, decorrente do seu saber

teórico acumulado, técnico e político, da sua maturidade nesses três elementos. “As
particularidades das empresas na ocupação, desocupação e novas formas de

ocupação desses espaços pelos assistentes sociais e outros profissionais elucidam,

ainda, a história da cultura institucional e desses profissionais que participam de sua

construção, sendo, ao mesmo tempo, nela construídos” (Freire, 2006: 64).

Na atual conjuntura, a prática dos assistentes sociais que estão relacionados

diretamente ou indiretamente nos processos de produção, não pode se restringir às

questões do espaço ocupacional das empresas, gestão e consumo da força de

trabalho, pois a reestruturação produtiva ultrapassa o âmbito das relações de

produção (Mota, 1998b: 38).

Este processo se desenvolve em dois planos. Um que se relaciona com as

questões que afetam diretamente o exercício profissional, envolvendo as alterações no

mercado de trabalho e nas condições de trabalho do profissional. O outro se refere ao

surgimento de novas problemáticas que podem mobilizar competências profissionais

estratégicas, para obterem respostas qualificadas ao enfrentamento das questões que

lhe são postas. (Idem: 25)

“As demandas, a rigor, são requisições técnico-operativas que, através do


mercado de trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes.
Em outros termos, elas comportam uma verdadeira “teleologia” dos
requisitantes a respeito das modalidades de atendimento de suas
necessidades. Por isso mesmo, a identificação das demandas não encerra o
desvelamento das reais necessidades que as determinam”. (Ibidem: 25)

Dessa maneira, entendemos que a identificação das demandas é um elemento

importante, mas não necessariamente revelam as necessidades sociais que estão por

trás delas. As demandas postas (imediatas) são formas aparentes da origem das

necessidades sociais.

Por isso, temos que entender as demandas inseridas em uma conjuntura maior,

de totalidade. Mas só conseguiremos obtendo uma postura reflexiva, investigativa para


compor um conjunto de demandas que aparentemente estão isoladas, desarticuladas,

mas fazem parte de um todo.

O profissional deve se antecipar (postura propositiva) e definir seus próprios

objetivos estratégicos. Conectar as demandas do mercado com as tendências da

sociedade (totalidade) e também com os princípios do nosso projeto ético-político, a

“direção social estratégica”, segundo a expressão de Netto6.

Para Mônica César (1999: 176), um dos novos desafios que a reestruturação

produtiva trouxe para o exercício profissional dos assistentes sociais é a redefinição de

papéis na gestão dos recursos humanos. Onde o Serviço Social tem o papel de

mediar a construção de uma racionalidade técnica e política na empresa, mas com a

valorização da busca de soluções para as carências e conflitos dos trabalhadores.

Porém essa busca de soluções não necessariamente é exclusiva dos

assistentes sociais, passando a ser da alçada de todos os profissionais da área de

recursos humanos e também, essa função, é incorporada aos gerentes. Mas não

podemos esquecer que a gerência tem seu papel na busca dessas soluções,

decorrente das modificações nas práticas de gestão da força de trabalho, que era

antes historicamente do Serviço Social. (Idem: 176)

Isso expressa um caráter contraditório que justifica a presença de assistentes

sociais na empresa, pois seu trabalho pode ser valioso e imprescindível pela sua

intervenção técnica nessas carências. Mas também pode ser tornar descartável, pois a

empresa pode repassar essa responsabilidade para a gerência, fortalecendo o poder

das chefias na interação com a massa trabalhadora. (Ibidem: 176-177)

6
- José Paulo Netto trata da “direção social estratégica” em seu artigo na Revista Serviço Social e
Sociedade, número 50, São Paulo: Editora Cortez, 1996
Assim, podemos entender que o profissional de Serviço Social tem que se

requalificar, “adequando-se a um perfil sociotécnico e ideopolítico exigido pelas

mudanças introduzidas na organização do processo de trabalho” (César, 199: 177).

Outro desafio que encontramos são as condições de trabalho profissional,

porque o assistente social também é um trabalhador e está sujeito a todos os efeitos

decorrentes da reestruturação produtiva que já foram relatados anteriormente. Outro

fato é que os “quadros médios e superiores, em que estão incluídos os assistentes

sociais, têm sofrido uma perda de autonomia e uma desvalorização de suas

responsabilidades, sendo vítimas de novas formas de precarização ou mesmo do

desemprego, que amesquínham seu estatuto formal” (Idem: 178). E a autora finaliza

dizendo que esses desafios colocam em questão o “Estatuto profissional” 7 dos

assistentes sociais.

Segundo Freire (2006: 78), nos anos 1990, que estamos tratando nesse item, a

prática profissional dos assistentes sociais nas empresas se modificou. O espaço que

antes era meramente assistencial (dos benefícios) se aproximou com o caráter da

remuneração, que tinha como forma a recompensa pelo desempenho, dentro das

diretrizes da reestruturação produtiva. Podemos dizer que a assistência social estaria

se tornando uma política distributiva com o critério meritocrático, em função da

produtividade do trabalhador e sua colaboração com a empresa. Assim, os benefícios

sociais concedidos pelas empresas passam a se revelar como um instrumento do

capital para atingir suas metas.

7
- Por “Estatuto Profissional” entendemos que é o conjunto de leis que regulamenta e norteiam a prática
profissional: Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº8.662/1993), o Código de Ética Profissional de
1993 e o nosso projeto ético-político.
Mas isso não miniminiza o fato de que os benefícios a serem concedidos sejam

individuais e subjetivos. E é aqui que se insere o assistente social para assessorar os

gerentes e analisar as situações individuais dos trabalhadores. (Idem: 79-80).

Agora vamos ver alguns métodos que eram utilizados pelos assistentes sociais

e que sofreram modificações com a reestruturação produtiva. O primeiro é o trabalho

com grupos, que “surge como alternativa ao atendimento individual, em função do

caráter comum de algumas problemáticas, assim como do desenvolvimento das

terapias grupais multidisciplinares” (Freire, 2006: 86). Como exemplo desses trabalhos

com grupos, podemos citar os de alcoolismo (dependência química), que tinha como

apoio os Alcoólatras Anônimos (AA) e apoio familiar pelo Alanon (grupo específico do

AA que dá apoio às famílias de pessoas com dependência alcoólica). Outro programa

é o de preparação para a aposentadoria (PPA), pois o envelhecimento da força de

trabalho se torna um problema para o desenvolvimento de novas tecnologias da

produção. (Idem: 87).

Nos anos 90, esses programas “sofrem uma redução, o primeiro em função da

tendência à terceirização desse atendimento para serviços especializados e o

segundo, em face da sua institucionalização mais formal como treinamento” (Ibidem:

87).

Segundo Freire (2006: 92), outros tipos de trabalho que existiam eram o

institucional, societário e comunitário nas empresas. O “trabalho institucional” é voltado

para análise da instituição, para a promoção de melhores condições de trabalho. Não

desconsiderando as problemáticas dos sujeitos envolvidos, mas sim as suas relações

com as condições institucionais.


“Esta diferença exige processos internos de democracia direta e controle
social, abrangentes à totalidade dos sujeitos inseridos no segmento sob
análise – que pode ser o único setor ou toda a instituição – ou referentes a
um objeto relevante para a instituição e seus integrantes, como a saúde, os
acidentes, a alimentação, as relações sociais, a organização e o processo de
trabalho” (Idem: 92).

Podemos perceber que este espaço presente na empresa é contraditório e

político, onde os seus integrantes têm possibilidades de se desenvolver como sujeitos

políticos.

O “trabalho institucional” teve seu início a partir de 1970, e a reestruturação

produtiva trouxe novas características a esse tipo de trabalho, “que se insere no

campo das atuais tecnologias de qualidade total e clima organizacional” (Freire, 2006:

96). Esse espaço é apropriado como instrumento gerencial em ligação às relações

sociais de produção. “Isto lhe confere características de participação gerencialista e

objetivos de cooptação e adesão dos trabalhadores às metas do capital, às quais são

subsumidas as suas necessidades” (Idem: 96).

A “dimensão societária” tem uma perspectiva externa à instituição, onde

anteriormente ela estava relacionada ao intercâmbio de recursos interinstitucionais.

Mas a partir dos anos 90, ela se torna mais política, “relativa ao espaço dos Conselhos

e fóruns similares de controle social, com potencial de interferência em diversas

instituições e nas políticas do País, em todas as suas instâncias: municipal, estadual,

federal” (Freire, 2006: 100).

O “trabalho com comunidades” é articulado com o institucional e atualmente tem

como titulação “responsabilidade social”, isso porque a empresa tem que se articular

com a comunidade vizinha e também devida a imagem e os parâmetros da “qualidade

total” exigida. Ele tem uma maior concentração nos problemas sociais locais, ainda

que estes estejam articulados com as políticas da sociedade em geral.


Para finalizar esse item é importante citar uma breve passagem de Mônica

César:

“Em síntese, no contexto da reestruturação produtiva, o conjunto de inflexões


sobre a experiência do Serviço Social está relacionado com as alterações
nos meios de consumo da força de trabalho, com as novas estratégias de
controle persuasivo e com as políticas de benefícios e incentivos, que
pressupõem a formação de um novo comportamento produtivo pautado na
participação e no comprometimento do trabalhador com os objetivos
empresariais” (César, 199: 179).

2 O SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS PÚBLICAS

2.1 As funções do Estado no Capitalismo Monopolista

Antes de tratar especificamente do Serviço Social em empresas públicas,

devemos entender o papel do Estado e as funções que ele assume no modo de

produção capitalista, em sua fase monopolista.


O capitalismo monopolista altera a dinâmica da sociedade burguesa, onde ao

mesmo tempo em que aumenta as contradições fundamentais do capitalismo já

existentes, as combina com as novas contradições e antagonismos dessa nova fase

do capitalismo. (Netto, 2001: 19-20).

A era dos monopólios busca a “maximização dos lucros pelo controle dos

mercados”, trazendo problemas, pois acabam sendo “vítimas dos constrangimentos

inerentes à acumulação e à valorização capitalistas” (Idem: 24). Por isso, a

necessidade da existência de “mecanismos extra-econômicos”, ocorrendo então a

refuncionalização do Estado, que é a instância de poder extra-econômico (Ibidem: 24).

Até então o Estado sempre interveio nos processos econômicos capitalistas,

mas na fase monopolista esse tipo de intervenção muda estruturalmente e

funcionalmente (Netto, 2001: 24). Porque se torna muito estranho se pensar num

Estado “árbitro” inserido dentro de um contexto de desenvolvimento do imperialismo

capitalista. Onde ele passa a ser garantidor dos lucros capitalistas.

Como funções econômicas diretas do Estado na sua fase monopolista,

podemos citar: “a sua inserção como empresário nos setores básicos não rentáveis

[como energia e matérias-primas fundamentais]” (Idem: 25), ele também assume as

empresas que estão em dificuldades, entrega aos monopólios o que foi construído

com o dinheiro público, subsidia e garante os seus lucros também. As funções

indiretas são as compras de produtos dos monopólios, assegurando a sua circulação,

os investimentos públicos em transporte, infra-estrutura, como forma de subsídios

indiretos, e a preparação da força de trabalho. “O Estado atua como um instrumento

de organização da economia, operando notadamente como um administrador dos

ciclos de crise” (Ibidem: 25-26).


É uma função estatal de primeira ordem a preservação e controle da força de

trabalho, esteja esta ocupada ou não. Ele é forçado “(e o faz mediante os sistemas de

previdência e segurança social, principalmente) a regular a sua pertinência a níveis

determinados de consumo e a sua disponibilidade para a ocupação sazonal, bem

como a instrumentalizar mecanismos gerais que garantam a sua mobilização e

alocação em função das necessidades e projetos do monopólio” (Netto, 2001: 26-27).

A funcionalidade da política social é referente à preservação da força de

trabalho ocupada pela regulamentação das relações entre trabalhadores e capital,

assim como a força de trabalho desocupada, amparada pelos sistemas de seguro

social.

Nesta fase capitalista a “questão social” se internaliza pelas necessidades de

legitimação do Estado burguês e pela consolidação política do movimento operário, e

se torna parte das condições gerais para a produção capitalista. (Idem: 29-30).

Mas essa intervenção estatal sobre a “questão social” se dá de forma

fragmentada e parcial. As suas seqüelas são vistas de formas particularizadas, como a

saúde, a educação, a habitação, mas sem nenhuma noção dos seus nexos causais

(Ibidem: 32).

As políticas sociais decorrem da capacidade de mobilização das classes

subalternas (lutas de classes), e que o Estado às vezes responde com antecipações

estratégicas. Mas elas também são atravessadas por protagonistas e demandas, que

por sua vez também estão abarcadas por contradições e conflitos (Netto, 2001: 33).

Devemos “registrar que as lutas e as confluências dos protagonistas não se

encerram na formulação – a implementação das políticas sociais é outro campo de


tensões e alianças, no qual frequentemente jogam papel não desprezível categorias

técnico-profissionais especializadas” (Idem: 33-34).

Agora vamos tratar do Estado reformado, ou melhor, como ele se

refuncionaliza. Começaremos, então, pela explicação da crise do (ou localizada no)

Estado. Ela se dá pelas mudanças que estão em curso e passam por uma “reação do

capital ao ciclo depressivo aberto no início dos anos 70” (Harvey apud Behring, 2003:

197), onde o capital exerce pressão para uma refuncionalização do Estado na qual

devem haver mudanças na esfera do trabalho, da produção, circulação e regulação.

Cada país tem uma reação diferente devido as suas particularidades, como correlação

de forças entre as classes, a política e seu mercado.

A reestruturação produtiva é uma das tentativas para a recuperação das

altíssimas taxas de lucros (dos anos pós-guerra); como outra tentativa, podemos

destacar a rearticulação do mercado mundial com a presença do capital financeiro; e o

neoliberalismo que traz as reformas liberalizantes sempre orientadas para o mercado,

mas combinado a uma ofensiva intelectual e moral para criar condições para a

efetivação de seus valores sem a presença de resistências (Behring, 2003: 197-198).

2.2 A “reforma” do Estado no Brasil e as empresas públicas

A “reforma” do Estado brasileiro, da forma em que está sendo conduzida, é uma

“estratégia de inserção passiva e a qualquer custo na dinâmica internacional e

representa uma escolha político-econômica, não um caminho natural diante dos

imperativos econômicos” (Idem: 198). Essa escolha é típica do estilo das classes
dominantes brasileiras, mas ela implicou numa forte destruição dos processos de

modernização conservadora.

O ajuste fiscal é considerado como o centro dessa “reforma”, e as

preocupações com a proteção social e com a consolidação da democracia e cidadania

são adereços para tornar essa “reforma” mais aceitável. (Ibidem: 198).

Para Bresser Pereira8 (apud Behring, 2003:173), se a crise do Estado está

localizada na “insolvência fiscal”, no excesso de regulação e na ineficiência do serviço

público, o Estado tem que ser reformado para garantir sua legitimidade e a sua

capacidade financeira e administrativa de governar. Para isso é necessária a garantia

de taxas de poupança e investimentos mais justas, assim tornando mais eficiente a

distribuição de renda e recursos. E o lugar das políticas sociais seria inserido nas

“organizações públicas não-estatais competitivas”.

E para ele, a solução dessa “crise” do Estado brasileiro seria uma “reforma”, e

esta tem quatro componentes básicos. O primeiro é a delimitação das funções do

Estado, onde vemos expressamente nos programas de privatização, “publicização” e

terceirização. O segundo trata da sua desregulamentação na qual deve ser reduzido o

grau de intervenção do Estado em relação ao mercado. O terceiro é o aumento da

governança que é a capacidade gerencial do Estado, e para isso acontecer é

necessário à implantação de uma administração pública gerencial, não mais a

8
- Luiz Carlos Bresser Pereira assumiu no governo de Fernando Henrique Cardoso o Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado, onde comandou a Reforma da Gestão Pública de 1995.
burocrática. O último componente dessa “reforma” é o aumento da governabilidade,

que é a capacidade política de governar.

O que nos interessa é como foi prevista essa delimitação das funções do

Estado. Bresser Pereira (1997: 22) separou o Estado em três áreas de atuação: “as

atividades exclusivas do Estado; os serviços sociais e científicos; e a produção de

bens e serviços para o mercado”. E em cada área foram separadas quais eram as

atividades principais e as atividades auxiliares (que deveriam ser terceirizadas).

As atividades exclusivas do Estado, portanto permanecem nele, são as

atividades monopolistas, porque não permitem concorrência, e é aonde o seu poder é

exercido. E estas são: “poder de definir as leis do país, poder de impor a justiça, poder

de manter a ordem, de defender o país, de representá-lo no exterior, de policiar, de

arrecadar impostos, de regulamentar as atividades econômicas, fiscalizar o

cumprimento das leis” (Pereira, 1997: 23).

As atividades exclusivas do “Estado Social”9 são as de formulação de políticas

públicas na área econômica e social, realizando “transferências para a educação, a

saúde, a assistência social, a previdência social, a garantia de uma renda mínima, o

seguro desemprego, a defesa do meio ambiente, proteção do patrimônio cultural, o

estímulo às artes” (idem: 23). Mas como não são todas essas atividades exclusivas do

Estado, o argumento que se é utilizado é que as mesmas não são devidamente

remuneradas pelo mercado, no ponto de vista de algumas áreas específicas. Outro

9
- Expressão utilizada por Luiz Carlos Bresser Pereira na sua publicação dos Cadernos MARE da
Reforma do Estado nº 1. Onde ele define como “Estado Social” o que surgiu em decorrência da crise do
Estado Liberal. E esse modelo de Estado “no século vinte procurou proteger os direitos sociais e
promover o desenvolvimento econômico, assumindo, na realização desse novo papel, três formas: a do
Estado do Bem-Estar nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, a do Estado
Desenvolvimentista nos países em desenvolvimento, e a do Estado Comunista nos países em que o
modo de produção estatal tornou-se dominante” (Pereira, 1997:12).
argumento é que essas atividades “envolvem direitos humanos fundamentais que

qualquer sociedade deve garantir a seus cidadãos” (ibidem: 23).

A garantia de estabilidade da moeda e do sistema financeiro também é

considerada como exclusiva. Mas os gastos com infra-estrutura e nos serviços

públicos não são totalmente exclusivos, podendo ser objeto de concessão do Estado

para ser administrado pelo mercado, como o exemplo das privatizações da rede

ferroviária e de algumas rodovias que agora cobram pedágio para poder trafegar

nelas.

Percebemos assim que essas atividades permanecem inseridas no Estado,

mas com a necessidade de uma reforma na sua administração, que pretendia deixar

de ser burocrática para ser implementada uma gerencial. Cabe lembrar que esse tipo

de administração enfatiza que a ação do Estado deve ser orientada para o que se

chama de “cidadão-cliente”.

Um dos princípios fundamentais dessa “reforma” administrativa é o de que o

Estado só deve executar diretamente as tarefas que lhe são exclusivas. Entre elas

devemos distinguir as tarefas centralizadas que são as de formulação e controle das

políticas públicas e da lei a serem executadas por secretarias ou departamentos do

Estado, das tarefas de execução que devem ser descentralizadas para agências

executivas e/ou reguladoras autônomas. Os serviços sociais e científicos devem ser

contratados com organizações públicas não-estatais, enquanto que os demais

serviços (auxiliares) podem ser contratados por empresas privadas (terceirização), que

passam a competir no mercado. As três formas gerenciais de controle (controle social,

de resultados e competição administrada) devem ser aplicadas tanto às agências,

quanto às organizações sociais, em substituição das formas rígidas da administração


burocrática (supervisão e auditoria). Por fim, também apresenta uma dimensão

cultural, que visa a uma “mudança de mentalidade”, para que haja uma maior

confiança nesse tipo de administração (gerencial).

O ponto mais polêmico é o relativo aos critérios de contratação de funcionários

públicos. A “reforma” restringiu o quadro de servidores públicos com direito à

estabilidade somente às funções consideradas estratégicas, como exemplo podemos

citar, militares, procuradores, diplomatas, médicos, policiais, auditores fiscais e

técnicos do Banco Central. Para os demais cargos, a “reforma” autorizou a

contratação de servidores com base na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),

como é o caso da empresa pública que iremos estudar a seguir.

Por outro lado, as privatizações das empresas estatais brasileiras eram feitas

em nome da diminuição da dívida pública e pela busca de um Estado que conseguisse

atingir as políticas públicas sociais com maior eficiência, sendo consideradas assim

como um fator importante para essa “reforma”.

As justificativas e promessas das privatizações das empresas estatais foram

diversas, dentre elas podemos citar: a prestação de serviços com maior qualidade sob

pena de punição de quem não cumprisse o combinado; tarifas mais baixas para o

consumidor, por sua maior eficiência. Mas isso não foi o que ocorreu, como no caso

das empresas de fornecimento de energia elétrica e de telecomunicações, onde o

governo tinha a intenção de elevar as tarifas. Claro que tudo isso era omitido da

população!

Segundo Biondi (2001: 07), o governo elevou as tarifas, antes da privatização,

para garantir os lucros das futuras compradoras desses serviços, garantindo que
depois não houvesse protestos e indignações da população.

Sobre a qualidade dos serviços, o que ocorreu foi uma flexibilização da

fiscalização das metas que elas deveriam cumprir. No caso da Light, foi permitida a

“piora dos serviços”, onde encontramos um maior índice de “apagões” e também a

interrupção no fornecimento de energia elétrica. Além disso, as “punições” fixadas em

multas, eram de apenas 0,1% do faturamento anual (Idem: 08).

As empresas privatizadas lucram facilmente porque antes da sua privatização o

governo aumenta as tarifas e os preços, assim elas já entram ganhando. Outra forma

são as demissões que o governo faz antes da sua venda. Deste modo, ele é quem

gasta com as indenizações e com os direitos trabalhistas, e também os seus

compradores já recebem a empresa com uma folha de pagamento menor.

Agora, um ponto que nunca ficou muito claro para a população, era o

congelamento dos preços e tarifas que o governo fazia para beneficiar alguns setores

da economia (considerados como estratégicos) e para controlar a inflação. Desta

maneira, as estatais tinham lucros muito baixos e começaram a acumular dívidas

durante muitos anos. Assim, eram consideradas como “incompetentes” e “sacos sem

fundo” (Ibidem: 09). Mas na hora da sua venda o governo “engoliu” as dívidas das

estatais que eram para serem pagas pelos seus compradores.

Além disso, em 1989, um presidente da República (José Sarney) proibiu o

BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) – hoje, BNDES (Banco

Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) –, de realizar empréstimos as

empresas estatais. Proibição estranha, já que ele é um banco estatal que foi criado

com o “objetivo de fornecer recursos para a execução de projetos de infra-estrutura”,

que exigem investimentos pesados (Biondi, 2001: 19-20).


Outro ponto são os planos especiais de aposentadoria e os fundos de pensões

dos trabalhadores das estatais. Onde seus compradores ficaram livres desse

compromisso, pois o governo transferiu os aposentados para sua folha de pagamento

e em relação aos fundos de pensões também se responsabilizou pelo pagamento

(Idem: 10).

Recorde-se também que algumas estatais foram vendidas com dinheiro em

caixa e que na maioria das privatizações, o valor da venda dessas empresas é pago

em prestações, e com juros baixíssimos. Ademais, o nosso dinheiro serve como forma

de financiamento dessas empresas privatizadas, porque o BNDES oferece

empréstimos bilionários para elas. Tal processo de privatização se assemelha ao

exemplo da Inglaterra, país onde se deu o ponto de partida para as privatizações, que

tinha como objetivo a pulverização das ações das empresas estatais, e seus donos

eram os próprios cidadãos.

Esse seria um caminho para o Brasil, mas como vimos até agora, não foi o que

aconteceu. Se a sociedade brasileira tivesse noção que essas empresas pertencem a

todos nós, isso não teria acontecido dessa forma. Mas os meios de comunicação

tiveram grande participação nesse processo, quando se aliaram ao projeto de

privatização do qual tratamos e contribuiram para a campanha de desmoralização das

empresas estatais.

Segundo Biondi (2001:18), a política de privatizações foi implantada com

distorções, o que culminou num fator da recessão. Os empresários do setor de peças

e componentes (das privatizadas) realizavam importações em substituição à produção

local, o que resultou em um “rombo” interno e externo da economia brasileira. E a

política de empréstimos, a juros baixíssimos, do BNDES, agravou a recessão.


Com o “Programa de Publicização”10, onde os serviços sociais e científicos

foram alocados no setor “público não-estatal”, iniciou-se a criação das agências

executivas e das organizações sociais. E uma forma mais recente é a regulamentação

da parceria com o Terceiro Setor (Organizações não-governamentais – ONGs e

instituições filantrópicas) para a implementação e execução das políticas sociais

públicas. (Behring, 2003: 204).

Com isso, podemos perceber que a “reforma”, tal como foi conduzida, finalizou

por ter um impacto perverso em termos de aumentar a implementação eficiente das

políticas públicas, por causa de seu vínculo com a política econômica e a emergência

da dívida pública. Encontramos também uma desresponsabilização do Estado na

implementação e execução dessas políticas públicas, especialmente as sociais,

seguidas pela repulsa do padrão constitucional da seguridade social. O que ocorre

juntamente com o crescimento da demanda por essas políticas, graças ao

desemprego cada vez maior e a pobreza também crescente, que são aprofundados

pela macroeconomia do Plano Real. Devido ao “Programa de Publicização”, e o seu

impacto sob as políticas públicas, fez expandir o trinômio do neoliberalismo

“privatização, focalização e descentralização” (Idem: 211).

Por fim, é importante ressaltar que essa “reforma” do Estado brasileiro nada

mais é do que uma contra-reforma devido ao desmonte que se deu em seu cerne,

dada a sua natureza “destrutiva e regressiva“.

Como vimos, tal “reforma” redireciona e atribui novas funções ao Estado na sua

fase monopolista do capitalismo, atingindo assim as empresas estatais.

10
- O “Programa de Publicização” no Brasil, segundo Bresser Pereira, prevê a modificação dos serviços
sociais e científicos em “organizações sociais”, em entidades públicas de direito privado.
2.3 As demandas/ exigências profissionalmente postas ao Serviço Social
nas empresas públicas: um estudo de caso da CPRM/SGB11

A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil

(CPRM/SGB) é uma empresa de âmbito nacional (com treze unidades regionais em

todo o Brasil) da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, com

vinculação ao Ministério de Minas e Energia.

Suas áreas de atuação são: Levantamentos Geológicos; Levantamentos

Geofísicos; Avaliação dos Recursos Minerais do Brasil; Levantamentos

Hidrogeológicos; Gestão da Informação Geológica; e Análises Químicas e Minerais do

Laboratório de Análises Minerais – LAMIN.

A sua missão é: "Gerar e difundir o conhecimento geológico e hidrológico

básico necessário para o desenvolvimento sustentável do Brasil"

(http://www.cprm.gov.br/).

Em seu nascimento, em 1969, era uma sociedade de economia mista, porém a

Lei nº 8.970 de 28 de Dezembro de 1994 a transformou em empresa pública dando-

lhe atribuições e responsabilidades de Serviço Geológico do Brasil, encerrando a sua

característica de empresa prestadora de serviços.

Entendemos que essa mudança, “incomum” para o período da “reforma” do

Estado, se deve ao fato de que esse tipo de conhecimento é estratégico ao Estado

brasileiro e não é rentável à iniciativa privada, devido ao grande volume de gastos

financeiros e humanos agregados a esse serviço. Isso nos remete ao item 2.1 (As

funções do Estado no Capitalismo Monopolista), onde foram estudadas as funções

11
- CPRM/SGB – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil.
econômicas diretas do Estado (pg. 34-35), e dentre elas podemos destacar a “sua

inserção como empresário nos setores básicos não-rentáveis [como energia e

matérias-primas fundamentais]” (Netto, 2001:25).

Com essa compreensão da “reforma” do Estado e das características

particulares dessa empresa é que vamos iniciar o nosso estudo a partir dos

documentos propostos a seguir.

Para verificar a demanda profissional e teórica nessa empresa a partir da

chamada “reforma” do Estado, usaremos como fonte documental os Editais de

Concurso Público ou Seleção Pública entre 1995 e 200712 e os Projetos de

Intervenção do Serviço Social. Esse período temporal foi escolhido por causa do

recorte histórico pretendido que é em torno da “reforma” do Estado até a atualidade.

As duas fontes documentais utilizadas como objetos de estudo foram

escolhidas para compreendermos como são postas as exigências e demandas aos

profissionais de Serviço Social nessa empresa. O estudo dos “Editais de Concurso

Público ou Seleção Pública” busca capturar como o empregador requisita o assistente

social, quais as exigências que ele impõe a esse profissional. O estudo dos “Projetos

de Intervenção do Serviço Social” é realizado com a intenção de identificar quais são

as demandas profissionais dos assistentes sociais nessa empresa, bem como as

respostas profissionais sugeridas, nos aproximando da sua realidade de intervenção,

pretendendo mostrar as ações e atividades previstas por eles e também as demandas

identificadas nas ações e nos programas.

Para iniciar é interessante ressaltar algumas particularidades do Serviço Social

dessa empresa. Ela conta com quatro Assistentes Sociais em todo o Brasil, no Rio de
12
- Pesquisa realizada nos arquivos de editais de concursos públicos e seleções públicas do CRESS –
RJ (Conselho Regional de Serviço Social – Rio de Janeiro).
Janeiro, na Superintendência de Belém, de Recife e Salvador. Cada uma dá apoio às

regiões que lhe competem, que são divididas em norte, nordeste e sul/sudeste. A

profissional que faz parte do Escritório do Rio de Janeiro está inserida no

Departamento de Recursos Humanos e no Centro de Saúde Ocupacional (ambos de

âmbito nacional). Ela é a responsável também pelo planejamento e implementação

dos programas de nível nacional.

2.3.1 As demandas profissionais da CPRM/SGB: as requisições do

empregador.

A pesquisa feita com os Editais de Concurso Público dessa empresa visa à

compreensão de como o empregador (o Estado) requisita o assistente social, a partir

da “reforma” do Estado.

No período em que a pesquisa foi delimitada encontramos apenas dois editais,

do ano de 2002 e 2006. Onde em 2002 foi realizada a contratação de três profissionais

e o de 2006 era apenas para cadastro de reserva e somente no corrente ano foi

realizada a última contratação.

Um primeiro ponto a ser analisado é a titulação que o empregador atribui ao

assistente social (nos dois concursos), que é Assistente de Recursos Humanos, com a

função de assistente social. Mas, pelas suas atribuições veremos que não é um

profissional que tem característica de assistir, mas sim de analisar, planejar e projetar.

No Concurso Público realizado em 2002, de acordo com o Edital, encontramos

as seguintes atribuições necessárias aos profissionais:


“1- Elaborar, coordenar, executar planos, programas e projetos no âmbito de

atuação do Serviço Social;

2- Prestar orientação social a empregados e dependentes, motivando e

conscientizando o servidor de suas responsabilidades e deveres para com a

instituição e criando condições para que as suas necessidades humanas e sociais

sejam atendidas;

3- Auxiliar o médico do trabalho no atendimento ao Programa de Controle

Médico e Saúde Ocupacional (NR7, Port. nº 3214, de 08/06/1978 - MTE)” (Edital de

Concurso Público da CPRM/SGB: 2002).

Podemos analisar essas atribuições da seguinte forma: em relação ao segundo

item percebemos que o profissional tem que “motivar e conscientizar” os empregados

e dependentes somente no que cabem as suas “responsabilidades e deveres” e não

aos seus direitos enquanto trabalhadores, servidores do Estado e cidadãos. E para

finalizar ainda indica que ele deve criar condições para que as necessidades humanas

e sociais sejam atendidas. Mas como isso pode acontecer se o que é alertado são

deveres e responsabilidades somente enquanto empregados?

De acordo com o terceiro item, compreendemos que o assistente social deve

“auxiliar” o médico do trabalho em atendimento ao PCMSO – Programa de Controle

Médico e Saúde Ocupacional. Mas o adequado seria trabalhar em equipe, de forma

multiprofissional ou interprofissional e não “auxiliá-lo”. Pois o assistente social visto

como “auxiliar” do médico do trabalho enfatiza a sua posição de subalterno na

instituição.
No Concurso Público realizado em 2006, de acordo com o Edital, encontramos

as seguintes atribuições necessárias aos profissionais:

“1- Elaborar, coordenar e executar planos/programas/projetos no âmbito de

atuação do Serviço Social e/ou em equipe multiprofissional: Organização e

desenvolvimento de programas de visitas e entrevistas a empregados (as) com

problemas sócio-funcionais;

2- Participação nos programas de interação/reintegração de empregados (as)

no ambiente social/empresarial;

3- Pesquisar as causas de possíveis problemas sócio-funcionais que afetem os

empregados com reflexo no processo de trabalho e na produtividade.

4- Prestar serviços de caráter social a empregados (as) e familiares, auxiliando-

os na solução de problemas de ordem material, psíquica ou outros, de acordo com

normas estabelecidas: Pesquisa e atualização de recursos e serviços públicos para

atendimento a empregados (as) e familiares;

5- Colaborar com equipe de saúde ocupacional no desenvolvimento do

Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO – (NR 7, Portaria no.

3.214, de 8/6/78 – MTE” (Edital de Concurso Público da CPRM/SGB: 2006).

Analisando essas atribuições apreendemos que já houve uma evolução em

relação ao ano anterior, nota-se que aparece o trabalho multiprofissional até mesmo

nos planos/programas/projetos que anteriormente era pedido somente ao profissional

de Serviço Social, o que torna o trabalho mais rico e mais abrangente no sentido de

que consegue atingir a maior parte das demandas dos empregados (item 1). Como
veremos a seguir (no próximo ponto a ser estudado) alguns exemplos desse tipo de

programa.

No item 5 onde trata do PCMSO também atenta para o fato de que o assistente

social irá colaborar com a equipe de saúde ocupacional e não mais “auxiliar” o médico

do trabalho. Isso nos mostra um avanço, que foi possibilitado pela inserção da nova

profissional na instituição (pelo concurso público anterior) que se colocou de outra

forma perante essa situação. E também se deve ao fato de uma modernização da

gerência da instituição, que busca outras formas de trabalho, como o trabalho em

equipe.

O item 3 trata da pesquisa das causas dos possíveis “problemas” que afetem na

ordem do processo de trabalho e da produtividade. Deste modo, encontramos o

principal ponto que foi estudado no primeiro capítulo desse trabalho (pg. 13), onde

trata que desde o início da sua atuação no ambiente empresarial, o assistente social é

requisitado pelo empregador para tratar dos possíveis conflitos que possam interferir

na ordem do processo produtivo e da produtividade.

Como vemos nesse trecho estudado: “O discurso do empresariado nos mostra

que o assistente social é chamado para mediar os conflitos de interesses do

empregador e do empregado, para que não se prejudique o processo produtivo (a

ordem)” (pg. 13).

Percebemos assim que atualmente não é diferente, ele ainda é requisitado para

esse fim. E também isso vai de contraponto a uma perspectiva de totalidade, de

entender que o usuário do Serviço Social como um todo, que ele não é só o

empregado da empresa, mas sim um indivíduo que faz parte da sociedade, e acima de

tudo, um cidadão portador de direitos. Por isso que é importante fazer uma análise da
totalidade que os cercam, e do processo que cria essas necessidades e não somente

pensar nos “problemas” sócio-funcionais que afetem a produtividade e/ou o processo

de trabalho. As necessidades sociais dos trabalhadores não são somente as suas

carências, mas sim elementos do processo de formação de uma consciência de

classe.

Foi encontrada a palavra “problema” em três itens (1, 3 e 4) dessas atribuições

e com isso podemos dizer que esse tipo de expressão se relaciona com

conservadorismo no Serviço Social. Nesse momento é importante mostrar que essa

expressão era utilizada nas primeiras décadas do século XX, onde a “questão social”

surgia como alvo de debate na sociedade, Estado e Igreja Católica. E a Igreja era

obrigada a se posicionar diante dela, então a tratava como “problemas sociais”. Nesse

contexto surgiu o Serviço Social no Brasil, da iniciativa de grupos das classes

dominantes, que se expressavam através da Igreja (Iamamoto, 1992: p. 18-19).

Mas a perspectiva teórica que se segue atualmente é a do Serviço Social crítico

que entenderia que esses “problemas” são na verdade necessidades sociais que

existem por causa da contradição capital – trabalho e que temos que entendê-las em

uma dinâmica global e não individualmente. Porém, sabemos que essa expressão

“problema” nega essa perspectiva teórica porque, na verdade, representa uma

vertente do conservadorismo.

O processo de renovação do Serviço Social teve como base três perspectivas:

a modernização conservadora, a reatualização do conservadorismo e a intenção de


ruptura13. As duas primeiras somente tentaram trazer uma nova roupagem para o

antigo conservadorismo, sem intenção de rompê-lo.

O pensamento conservador encontra-se enraizado, até hoje, no discurso e

prática de muitos assistentes sociais, como veremos nos elementos a seguir. Segundo

Iamamoto (1992: p. 29) um elemento do conservadorismo é a ênfase na família como

“célula básica” da sociedade, e para isso são realizados trabalhos de cunho

educativos entre a família operária (os mais carentes), com o objetivo de integrar seus

membros na sociedade. Na família também se busca explicação de comportamentos

adversos, “anômalos”, do padrão de “normalidade” imposto pela ordem burguesa.

Assim, podemos perceber que a família constitui um “grupo social básico” que é tido

como “referência para a apreensão de vida em sociedade”, em relação às classes

sociais.

O próximo elemento que iremos tratar é a “individualização dos ‘casos sociais’,

em detrimento do reconhecimento da situação social comum vivida pelos segmentos

sociais que constituem a ‘clientela’ do Serviço Social” (Iamamoto, 1992: p.29).

Percebemos assim que os indivíduos são tratados individualmente, mas suas

características não possuem vinculação às suas bases materiais, “isto é,

subjetivamente e apartadas da situação social de vida dos ‘clientes’, transformando-se

e princípios e postulados universalizantes orientadores da ação profissional” 14

(Iamamoto, 1992: p.29-30).

Com a reatualização do conservadorismo, encontramos uma forte tendência à

psicologização das relações sociais, onde é considerado que o diálogo trataria os


13
- Expressões utilizadas por José Paulo Netto em seu livro: Ditadura e Serviço Social: uma análise do
Serviço Social no Brasil pós-64 (p. 201).
14
- Ver em: “Documento de Araxá”. Debates Sociais, nº 4, ano III, maio/1967, p.9.
“problemas” relacionais, de desintegração e desadaptação social e funcional. Onde as

“exigências de sobrevivência são tidas como demandas secundárias para uma

profissão que procura ultrapassar o estigma de assistencialista” (Iamamoto, 1992:

p34).

Esses elementos foram descritos somente para ressaltar algumas

características presentes no conservadorismo, mas o que interessa é como aconteceu

a ruptura com essas características. Essa intenção de ruptura traz o “reconhecimento

das contradições sociais” presentes nas condições da prática profissional e também

intenta colocar-se à “serviço dos interesses” dos usuários dos serviços prestados.

Sempre dentro da lógica que esse é um movimento que faz parte de um movimento

social mais geral, que é a “correlação de forças entre as classes fundamentais da

sociedade”. Para a autora, isso provoca a necessidade do “enriquecimento do

instrumental científico de análise da realidade social e o acompanhamento atento da

dinâmica conjuntural” (Iamamoto, 1992: p.37).

Finalizando, essas são as atribuições profissionais dos assistentes sociais que

o empregador (Estado) requisita para trabalhar na CPRM/SGB, no âmbito do recorte

histórico delimitado.

2.3.2 As demandas profissionais do Serviço Social da CPRM/SGB.

Nessa parte iremos tratar das demandas e respostas profissionais por parte dos

assistentes sociais da CPRM/SGB. Onde iremos identificar as ações e atividades


previstas pelos profissionais e também as demandas identificadas nas ações e nos

programas.

Primeiro vamos falar das demandas espontâneas, aquelas que são

identificadas nos atendimentos sociais diários dos empregados e terceirizados da

empresa. Lembrando que a empresa é de âmbito nacional, mas o estudo desses

atendimentos foi feito com base no Escritório do Rio de Janeiro.

De acordo com relatórios mensais feitos pela assistente social percebemos que

as demandas espontâneas que aparecem frequentemente são: necessidade de apoio

psicológico (para empregados e familiares); dúvidas referentes a benefícios do INSS –

Instituto Nacional do Seguro Social (auxílio-doença e cálculo de aposentadoria);

acompanhar atendimento em urgência hospitalar; pedido de orientação sobre recursos

da rede pública de saúde e da Assistência Social (mais comum nos atendimentos de

terceirizados).

A demanda mais recorrente se refere às questões sobre os benefícios do

Acordo Coletivo de Trabalho – ACT15, como por exemplo, as cláusulas 15, 16, 41 –

Auxílio ao Dependente Deficiente Físico e/ou Portador de Necessidades Especiais;

Auxílio ao Colaborador Portador de Doença Crônica; Dispensa Especial de

Trabalhador, respectivamente.

As ações previstas pela profissional são: o atendimento, acompanhamento,

emissão de pareceres, encaminhamentos de empregados e/ou prestadores de serviço

em questões funcionais, de saúde, familiares, financeiras, etc; que direta ou

indiretamente interferem no processo de trabalho.


15
- O Acordo Coletivo de Trabalho é um instrumento de lutas dos trabalhadores e dos sindicatos que os
representam. Ele é negociado anualmente (e assinado em Julho) e tem como característica a obtenção
de benefícios para os empregados, além dos que estão previstos pela CLT – Consolidação das Leis
Trabalhistas.
Além dos contatos com instituições para aumentar a rede social e também para

pesquisa de recursos que alguns empregados demandam ao Serviço Social; Visitas

domiciliares, quando necessário ou requisitado pelo empregado; Visitas a empregados

internados necessitando de informações sobre benefícios e auxílio-doença (INSS);

acompanhamento de seu estado de saúde e das possíveis demandas que possam

surgir dele ou de sua família.

Cabe lembrar que existem limitações no atendimento dos terceirizados da

empresa, pois eles não possuem os mesmos direitos que os empregados, como os

benefícios do Acordo Coletivo de Trabalho. O atendimento é feito pela profissional da

mesma maneira, sem diferenciação, porém ela encontra entraves em relação ao

acompanhamento em atendimentos hospitalares, as visitas domiciliares e na aquisição

de recursos por parte da empresa. Normalmente, os recursos são conseguidos por

meio de contatos com a rede social ou com a rede pública, então são realizados os

devidos encaminhamentos.

Outro tipo de atendimento que o Serviço Social tem que fazer é aos

empregados e terceirizados de outras superintendências (unidades regionais), por ser

uma empresa que só possui quatro assistentes sociais em todo o Brasil. Esse tipo de

atendimento abrange a região Sul/Sudeste das Unidades Regionais da empresa, e é

feito por meio de elaboração de parecer social e/ou acompanhamento in loco para

entrevistas em seu local de trabalho. No entanto, às vezes os pareceres são emitidos

sem a entrevista presencial, pois a empresa alega falta de verba ou que não há

necessidade de visita da profissional na unidade regional.

As ações previstas pelos profissionais foram discutidas em uma reunião em

2005 das três assistentes sociais e tem como proposta que elas estejam tecnicamente
vinculadas ao Departamento de Recursos Humanos, desenvolvendo atividades/ações

de acordo com as especificidades de suas Unidades Regionais de lotação, bem como,

a partir da prática profissional e das respectivas demandas locais planejem e

coordenem programas/projetos/ações de caráter nacional em consonância com a

política de Recursos Humanos da CPRM/SGB.

Agora vamos tratar de dois programas realizados pelo Serviço Social de âmbito

nacional e foram escolhidos além da sua relevância por causa das suas demandas e

das suas características próprias que veremos a seguir.

O primeiro é o Programa de Preparação para a Aposentadoria – PPAp que

surgiu da necessidade de atender as demandas que foram surgindo na empresa. Pois,

a faixa etária média dos empregados é de 50-55 anos, então muitos já estão em fase

de se aposentar ou pelo menos pensar sobre o assunto. Assim, surgiram muitas

dúvidas em relação à tomada de decisão sobre o desligamento da empresa. Dúvidas

essas em relação a benefícios que a empresa concede, como por exemplo,

assistência médica, e também de qual será a redução de seu salário.

Seu estudo foi iniciado em 2003, com o nome de "Proposta de Estudo de

Programa de Preparação para Aposentadoria" onde foi criado um Grupo de Trabalho

através do ATO n. 014/PR/2003, com os componentes: Maria Fernanda (assistente

social), Mônica Leon (enfermeira do trabalho), sob a coordenação de Wilson José

Correa (administrador). Assim, ele se tornou um programa permanente de política de

Recursos Humanos. É um programa anual, cuja proposta era que sua realização fosse

duas vezes ao ano, mas ainda não ocorreu dessa forma. Cada ano ele atende a uma

região específica, como por exemplo, em 2006 ele foi realizado em Salvador para
atender a região Norte/Nordeste e em 2007 foi realizado no Rio de Janeiro e atendeu

a região Sul/Sudeste.

A implantação do PPAp, em 2004, não só atendeu a uma cláusula reivindicada

e concretizada no Acordo Coletivo de Trabalho, mas, principalmente, significou o

objetivo da empresa em disponibilizar instrumentos que permitam ao empregado

identificar e refletir sobre novas perspectivas, nos diferentes aspectos pertinentes à

situação de aposentadoria.

As ações previstas pelo programa são palestras que ocorrem durante uma

semana, mas não são simples palestras informativas, mas sim uma vivência do

conteúdo disposto. Isso porque ele se utiliza do “Método Pedagógico Construtivista

Libertador”16. Os temas abordados durante essa semana são: benefícios (ex:

Assistência Médica); BB-Previdência; INSS/Previdência Social; Planejamento

Financeiro - Orçamento Doméstico; Políticas Públicas; Ocupação do Tempo Livre e

Resgate de Potencialidades; Processo de Envelhecimento: Aspectos Biológico,

Psicológico e Social; Espiritualidade/Existencialidade; Pontos Críticos da

Aposentadoria na Família; entre outros.

Outro objetivo do programa é viabilizar o acesso às informações necessárias à

tomada de decisão consciente e espontânea quanto à aposentadoria e possibilitar aos

empregados, na condição de “aposentáveis”, a reflexão sobre as mudanças

pertinentes ao momento do desligamento, visando minimizar impactos, temores e

riscos relativos a tal mudança.

16
- Este método é um estudo da Profª. Helena Bertho da Silva - em seu livro Preparação para
Aposentadoria - lições de ensinar e aprender fazendo. - Serra: Companhia Siderúrgica de Tubarão,
2006.
O segundo programa a ser estudado é o Programa Pró-equidade de Gênero,

que já possui uma característica diferente do PPAp pois aconteceu “de cima para

baixo”, ele veio da Presidência que pediu a assistente social que o estudasse e o

implantasse na empresa.

É um programa que está dentro do Plano Nacional de Políticas para as

Mulheres (PNPM) e está vinculado à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres

da Presidência da República (SPM/PR), a qual foi criada em 1 de Janeiro de 2003,

com status de Ministério. O PNPM objetiva traduzir em ações o compromisso de

enfrentar as desigualdades entre mulheres e homens em nosso país e reconhece o

papel fundamental do Estado, através de ações e políticas públicas, no combate a

estas e outras desigualdade sociais.

Voltando ao programa, ele realiza interface com a gestão de pessoas e a

cultura organizacional com vistas a alcançar a equidade de gênero no ambiente de

trabalho de empresas públicas que aderiram ao programa. A CPRM/SGB aderiu ao

programa em 2005/2006 e ratificou sua adesão em 2006/2007. Constituiu um Comitê

Interno para questões de gênero, com a presença do Serviço Social, e com o objetivo

de, inicialmente, propor um Plano de Ação junto ao MME – Ministério de Minas e

Energia e a SPM/PR.

As ações previstas estão inseridas no Plano de Ação do Comitê Interno e elas

são: promover a divulgação entre empregadas, terceirizadas e estagiárias da

empresa, da criação do Comitê Pró-Equidade de Gênero, do Perfil da Unidade de

Referência17 e dos objetivos do Programa Pró-Equidade do Gênero; e promover a

sensibilização das mesmas para a formação de um fórum permanente de discussão e


17
- Esse perfil foi preenchido no momento de adesão ao programa e revela como são os empregados
da empresa, em relação a gênero, cor/raça, idade e cargos ocupados, bem como de todos os
terceirizados e estagiários.
disseminação das questões de gênero. Criar espaço para o questionamento, o debate

e o encaminhamento desses temas.

A última ação diz respeito ao projeto da área afim da empresa (Geologia e

Hidrologia): Projeto Monitoramento da Qualidade da Água do Rio Paraíba do Sul. E

visa à inserção das mulheres dessa região que são treinadas para observar e coletar a

água e participar do projeto com parceria da CPRM/SGB. Com o objetivo de garantir

trabalho e renda; e da melhoria da sua qualidade de vida. Essas ações estão previstas

em seu cronograma para serem realizadas em um ano.

3 UM BALANÇO DA PROBLEMÁTICA TEÓRICA INICIAL COM O QUE

FOI VERIFICADO NAS FONTES DOCUMENTAIS.

Nesse capítulo pretendemos fazer um debate entre a problemática teórica que

foi estudada no primeiro capítulo e a realidade da prática profissional na CPRM/SGB

(com o material empírico levantado). Cabe lembrar que tal material empírico levantado

possui um recorte histórico (entre 1995 até 2007), o que nos remete a
contemporaneidade do debate. Tal recorte histórico será relacionado com a natureza

do Serviço Social nas empresas.

3.1 Requisição do Serviço Social pelo empregador.

Nesse ponto pretendemos verificar se as exigências postas pelo empregador

identificadas no Capítulo 2 se relacionam com os apontamentos teóricos feitos pelas

autoras vistas anteriormente, estudados no Capítulo 1 a partir de Ana Elisabete Mota,

Lúcia Freire, Mônica César, dentre outros.

Um ponto que ficou claro é que o assistente social continua sendo requisitado

pela empresa para, segundo o próprio discurso do empresariado, “mediar os conflitos

de interesses do empregador e do empregado, para que não se prejudique o processo

produtivo (a ordem)” (Mota 1998, 56-57).

O Serviço Social é requisitado, segundo Mota, para administrar os benefícios

sociais da empresa, e também para “modernizar o gerenciamento das carências

sociais do trabalhador, compondo equipes técnicas de recursos humanos” (Idem: 57).

E vemos que isso acontece atualmente também porque pelo estudo feito nos Editais

de Concurso Público apreendemos que ele é um profissional que irá trabalhar na área

dos recursos humanos e que tem como atribuições prestar serviços sociais que

auxiliem nas necessidades de ordem material, psíquica e outros.

Como exemplo de atribuições encontradas vemos que o profissional deve

motivar e conscientizar o servidor de suas responsabilidades e deveres para com a

empresa. Isso nos mostra uma característica ressaltada por Mota (1998: 62) que os

assistentes sociais são vistos como uma forma de controlar os comportamentos dos
empregados, por ser um profissional capaz de dialogar, ouvir e orientar os mesmos. E

isso se dá por meio de atividades educativas que se expressam na divulgação de

informações e valores éticos normativos da empresa.

Por fim, concluímos que o Serviço Social continua sendo requisitado da “mesma

forma” desde a sua inserção nessa área, e isso porque a empresa tem que conseguir

manter a exploração que ela tem com os seus empregados. Contradição essa

expressa nos antagonismos entre capital e trabalho. Onde o empregado vende sua

força de trabalho e a empresa a paga, de forma às vezes precária, assim sendo

necessário o suprimento de suas carências através das políticas sociais privadas.

Assim, objetiva-se a manutenção da ordem do processo produtivo da empresa. É

importante ressaltar que quando dizemos que o Serviço Social continua sendo

requisitado da “mesma forma”, nos referimos ao sentido da essência do que se exige

do assistente social. No entanto, esse profissional reproduz esse fazer na atualidade,

valendo-se de outras funções previstas pelo capital (empregador), tais como os

programas de “qualidade total”.

3.2 Limites e desafios da prática profissional.

Como exemplo de limites que cercam a prática profissional dos assistentes

sociais da empresa estudada sabemos que eles são também trabalhadores

assalariados subordinados à instituição. Isso nos remete a mesma característica

expressa por Mota (1998) onde diz que o assistente social se legitima na empresa
tendo uma função que contribui com o processo produtivo. Então, ele vivencia uma

contradição, por ser um trabalhador assalariado semelhante aos usuários de seus

serviços. Porque ambos vivenciam os limites institucionais pela sua relação de

assalariamento (de exploração). No entanto, ainda que com limites, podemos dizer

que o assistente social dispõe de uma relativa autonomia comparado ao outro

trabalhador.

Sabemos também que a nossa prática profissional também é determinada

preponderantemente pelas requisições da empresa, o grande desafio é ser capaz de

respondê-las e não somente aceitá-las como verdades absolutas,

Assim nos deparamos com a nossa limitação maior dentro dessa instituição.

Outra limitação encontrada diz respeito ao atendimento dos trabalhadores

terceirizados da empresa. Porque com o surgimento da reestruturação produtiva

houve a necessidade de se obter novas formas de produção, gestão e consumo da

força de trabalho. Com esse advento surgiu a “terceirização”, e a limitação do

profissional se dá porque ela envolve trabalhadores pagos por outra empresa e seus

benefícios também deveriam ser concedidos pela mesma, o que não acontece em

geral.

Esses empregados terceirizados não possuem os mesmos recursos

(benefícios) que são disponibilizados pela CPRM/SGB para seus empregados de

carreira. Como por exemplo, a assistência médica, o acompanhamento de situações

de doença, e a ajuda material em caso de necessidade, entre outros.

Essa limitação se coloca para o Serviço Social porque a empresa não

reconhece essa necessidade de atendimento, assim esses atendimentos ficam no

plano meramente assistencial, para garantir uma necessidade ou outra e com


recursos, na maioria das vezes, de órgãos da rede pública de saúde ou assistência.

Uma forma de enfrentamento seria uma aproximação com a gerência das empresas

desses trabalhadores a fim de mostrar as demandas que são postas pelos mesmos ao

Serviço Social da CPRM/SGB, no intuito de obter algum tipo de apoio para que

possam ser solucionadas e na tentativa de elaborar algum tipo de projeto acerca

dessas demandas.

Outro atendimento que possui limitações é o que realizado aos empregados e

terceirizados de outras superintendências (unidades regionais). Ele é feito por meio de

elaboração de parecer social. Porém, às vezes os “pareceres são emitidos sem a

entrevista presencial, pois a empresa alega falta de verba ou que não há necessidade

de visita da profissional na unidade regional” 18. Acredito que uma forma para enfrentar

essa questão seria a exigência da entrevista presencial para a elaboração dos

pareceres, porque da mesma forma que eles precisam do parecer do assistente social,

esse profissional necessita o acompanhamento in loco para que seu trabalho seja feito

corretamente. Não deixando passar algum fato importante que só apreendemos com a

entrevista presencial, assim a análise deixa de ficar no que ele acredita e nas suas

sugestões para que se realizem propostas concretas acerca do caso analisado.

A falta de investimento e de apoio institucional de alguns projetos e programas

do Serviço Social também é um limite imposto ao profissional. Mas acredito que seja a

realidade dos mais diversos campos de atuação dos assistentes sociais. O que não

podemos é deixar que isso nos torne profissionais com uma visão fatalista da

realidade, onde não conseguem ver possibilidades da sua superação. Acomodando-se

nessa realidade e realizando as suas funções de forma burocrática e rotineira.

18
- Ver na página 54 deste trabalho.
Por isso o profissional deve se antecipar, ter uma postura propositiva, para

conseguir definir seus objetivos estratégicos e ultrapassar essas limitações e os

desafios impostos pela empresa.

Alguns elementos estudados nos mostram que o assistente social se insere de

uma forma subalternizada na empresa. Um exemplo disso é seu nível hierárquico que

se expressa na titulação que é atribuída pela CPRM/SGB, Assistente de Recursos

Humanos. Digo isso porque outros profissionais de nível superior são considerados

como analistas e não assistentes. E também pelas suas próprias atribuições vemos

que não é um profissional que tem atributo de assistir, mas sim de analisar, planejar e

projetar. Segundo a lei de Regulamentação da Profissão, nas atribuições privativas do

assistente social vemos que o profissional é capacitado para “coordenar, elaborar,

executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, programas e projetos na área de

Serviço Social; planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de

Serviço Social; e realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e

pareceres sobre a matéria de Serviço Social” (CRESS: 2004, p.34); entre outros.

No Edital de Concurso Público de 2002 compreendemos que o assistente social

deveria “auxiliar” o médico do trabalho em atendimento ao PCMSO – Programa de

Controle Médico e Saúde Ocupacional. “Mas o adequado seria trabalhar em equipe,

de forma multiprofissional ou interprofissional e não “auxiliá-lo”. Pois o assistente

social visto como “auxiliar” do médico do trabalho enfatiza a sua posição de subalterno

na instituição”19.

Segundo Lúcia Freire (2006) o assistente social tem uma relativa autonomia

para trabalhar, por causa de seu saber teórico e da sua especificidade técnica e

19
-Ver na página 47 deste trabalho.
política. Mas como ele é também um trabalhador assalariado, está sujeito a todas as

implicações que traz a reestruturação produtiva. Segundo Mônica César (1999: 177),

os “quadros médios e superiores, em que estão incluídos os assistentes sociais, têm

sofrido uma perda de autonomia e uma desvalorização de suas responsabilidades,

sendo vítimas de novas formas de precarização ou mesmo do desemprego, que

amesquínham seu estatuto formal” 20.

3.3 Respostas profissionais: ações, projetos e programas.

Nesse ponto pretendemos verificar se as respostas profissionais dadas pelo

Serviço Social da CPRM/SGB se relacionam com as apontadas pelas autoras

estudadas. Mas como não estudamos as respostas profissionais propriamente ditas,

iremos ficar no plano das ações previstas dos profissionais.

Como vimos o profissional exerce as seguintes atividades na CPRM/SGB:

atendimento, acompanhamento, emissão de pareceres para a gerência sobre

situações de empregados, encaminhamentos referentes às questões funcionais, de

saúde, familiares, financeiras; que direta ou indiretamente interferem no processo de

trabalho (segundo o próprio planejamento do profissional). Com isso percebemos a

mesma característica que já foi ressaltada no item 3.1 deste trabalho, sobre a

requisição do profissional para mediar os conflitos entre empregador e empregado

para que não haja prejuízos no processo produtivo, e então vemos que isso também

aparece no discurso dos profissionais dessa empresa.

20
-Ver na página 30 deste trabalho.
Outro ponto é que segundo Freire (2006), o assistente social se insere na

empresa para assessorar os gerentes e analisar as situações individuais dos

trabalhadores para a concessão dos benefícios da mesma.

Isso também nos remete ao que foi estudado no item 1.3 deste trabalho, onde

tratamos do “trabalho institucional”, que é voltado para a instituição, para a promoção

de melhores condições de trabalho, mas sem desconsiderar as problemáticas dos

sujeitos envolvidos, mas as suas relações com as condições institucionais (Freire,

2006: 92). Isso exige processos internos de democracia e controle social, onde

podemos citar o Acordo Coletivo de Trabalho – ACT da CPRM/SGB, que é um

instrumento de lutas dos trabalhadores e dos sindicatos que os representam. Tem

como característica a obtenção de benefícios para os empregados, além dos que

estão previstos pela CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas.

Esse tipo de trabalho sofreu modificações com o advento da reestruturação

produtiva, onde se insere no campo das tecnologias de qualidade total e clima

organizacional. E se torna um importante instrumento gerencial para a “cooptação dos

trabalhadores às metas do capital, as quais são subsumidas as suas necessidades”

(Freire, 2006:100).

Em relação ao programa que estudamos anteriormente (Programa de

Preparação para a Aposentadoria - PPAp), sabemos que são realizadas palestras

multidisciplinares que ocorrem durante uma semana, com o objetivo de viabilizar o

acesso às informações necessárias à tomada de decisão consciente quanto à

aposentadoria e possibilitar aos empregados, na condição de “aposentáveis”, a

reflexão sobre as mudanças pertinentes ao momento do desligamento, visando

minimizar impactos relativos a tal mudança.


Esse tipo de trabalho com grupos é ressaltado por Freire (2006: 86) como uma

alternativa ao atendimento individual por se tratar de demandas comuns a um

determinado grupo, e também como forma de terapia grupal multidisciplinar. Como

exemplos a autora citou o próprio Programa de Preparação para a Aposentadoria e

também os de alcoolismo (dependência química). Mas esses programas sofreram uma

redução nos anos 90 por causa da terceirização desse tipo de atendimento para

serviços especializados e também por causa do caráter formal dado pela empresa

como forma de treinamento.

Mas o PPAp não tem esse caráter formal por se tratar de uma vivência em

relação aos temas que ele desenvolve, e não de simples palestras. Também não é

realizado na empresa, mas sim em auditórios alugados e também muitas vezes em

outras cidades, onde os empregados viajam e ficam fora da empresa durante essa

semana do programa.

Outro programa que tratamos foi o Programa Pró-equidade de Gênero que tem

como objetivo promover a divulgação e a sensibilização entre empregadas,

terceirizadas e estagiárias da empresa, para a formação de um fórum permanente de

discussão e disseminação das questões de gênero. E também criar espaço para o

questionamento, o debate e o encaminhamento desses temas.

Mas além desse caráter institucional, esse programa também visa o “trabalho

com comunidades”, estudado em Freire (2006), onde a empresa tem que desenvolver

um projeto que é o Projeto Monitoramento da Qualidade da Água do Rio Paraíba do

Sul. Que visa à inserção das mulheres dessa região para observar e coletar a água,

com o objetivo de garantir trabalho e renda, e da melhoria da sua qualidade de vida.


Esse tipo de trabalho é ressaltado por Freire como uma forma de

“responsabilidade social” da empresa, por se articular com a comunidade vizinha. Visa

uma compreensão dos problemas sociais das comunidades locais articulados com as

políticas da sociedade em geral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho estudamos sobre a contradição existente na nossa prática

profissional, que se dá por sermos profissionais que trabalhamos com as contradições

entre as classes sociais, e tudo isso se dá num quadro de uma sociedade capitalista

que visa a produção, o consumo e o lucro. Logo em seguida estudamos sobre a

natureza do Serviço Social nas empresas mostrando como o assistente social é

requisitado para esse trabalho, como os seus usuários (os trabalhadores) os vêem e

como o próprio profissional caracteriza seu trabalho nesse ambiente.

Achamos importante fazer uma abordagem das mudanças ocorridas com a

crise do capitalismo. Crise esta que trouxe a reestruturação produtiva que combinou

os processos produtivos já existentes com os processos flexíveis, acarretando um

novo perfil de trabalhadores pela necessidade de “enquadrarem” nessa realidade.

Assim, traçamos o que mudou nesse espaço profissional dos assistentes sociais, e as

respostas profissionais que eram dadas frente a esse quadro que gerou novas

demandas para a classe trabalhadora.

Para iniciarmos o estudo sobre o Serviço Social nas empresas públicas, vimos

as funções que o Estado assume e o seu papel na fase monopolista do modo de

produção capitalista. Com isso percorremos sobre a “crise” do Estado e a sua

necessidade de refuncionalização, surgindo a “reforma” do Estado. Desta maneira

estudamos como essa “reforma” se deu no Brasil, trazendo o advento das

privatizações das empresas estatais, a terceirização das atividades auxiliares, e a

alocação de algumas políticas sociais nas “organizações públicas não-estatais”,

chamadas de Terceiro Setor, dentre outras mudanças. Fizemos isso para

compreender como essa reforma afetou as empresas públicas.


Isso foi feito para começarmos a desenvolver o estudo sobre a CPRM/SGB, que

durante essa “reforma” sofreu uma mudança “incomum”, pois antes era uma empresa

de economia mista para se tornar totalmente pública. Mas entendemos que isso se

deve pelo fato dela trabalhar com um conhecimento estratégico para o Estado e não

rentável à iniciativa privada.

Assim, iniciamos o estudo de caso da CPRM/SGB sobre as requisições do

empregador para o assistente social, com base na pesquisa dos Editais de Concurso

Público, com a delimitação do período que compreende a “reforma” do Estado até a

atualidade. E seguindo essa mesma delimitação analisamos os Projetos de

Intervenção das assistentes sociais para conseguirmos verificar quais são as

demandas e respostas profissionais existentes nessa empresa, identificando as ações

e atividades previstas pelas profissionais.

Isso tudo foi feito para conseguirmos conclusões, ainda que parciais, sobre a

hipótese que levantamos inicialmente, que a prática profissional e as suas requisições

na atualidade são diferentes do que as que vemos na sua história, por causa das

mudanças no interior do Serviço Social e das novas exigências profissionais das

empresas dado o processo de reestruturação produtiva e de “reforma” do Estado.

Concluímos que em relação às respostas profissionais vimos que todas se

relacionam com as levantadas no estudo feito de Lúcia Freire, mas é importante dizer

que não foram ações profissionais propriamente ditas que estudamos nos Projetos de

Intervenção, mas sim seu planejamento. Porque esse tipo de projeto mostra o

planejamento de trabalho do profissional e isso não quer dizer que as ações realizadas

por ele serão as mesmas previstas. Outro ponto é que a obra de Freire foi publicada

no ano de 2006, o que também nos remete a atualidade, então não podemos dizer
que conseguimos fazer o paralelo proposto. Mas acreditamos que isso se deve a

dificuldade de encontrar bibliografia sobre esse tema.

Quando falamos das requisições do Serviço Social pela CPRM/SGB concluímos

que o assistente social continua sendo requisitado da “mesma forma”, no sentido da

essência do que se exige dele. Isso porque a empresa tem que conseguir manter a

exploração que ela tem com os seus empregados. Assim, objetiva-se a manutenção

da ordem do processo produtivo da empresa, através de políticas sociais privadas,

dentre outras ações.

Indagamos também sobre os limites e desafios da prática profissional nessa

empresa e nos estudos que fizemos da bibliografia pertinente, mas não com o intuito

de fazer o paralelo entre história e atualidade, mas sim de mostrá-los e propor

algumas maneiras de enfrentá-los.

É importante ressaltarmos que fazer esse trabalho não foi uma tarefa fácil, pois

no caminho encontramos vários percalços. Dentre eles, a existência de pouca

bibliografia sobre a área temática, o fato das fontes documentais não serem

suficientes para uma análise mais profunda, e a própria limitação do tempo hábil para

a realização deste trabalho. E por isso, repensamos várias vezes sobre a direção que

daríamos a esse trabalho, entretanto foi muito produtivo para ele e principalmente para

a minha formação acadêmica.

Contudo, consideramos ter alcançado o objetivo inicial de fazer uma análise

crítica da prática profissional na CPRM/SGB, trazendo elementos de estudos teóricos

e materiais empíricos. Esperamos que esse trabalho aguce a vontade de outros

alunos a pesquisarem sobre esse tema e que isso nos permita uma maior discussão
sobre esse espaço profissional que ainda é tão pouco explorado, porém muito

importante.

Por fim, a empresa é um espaço profissional legítimo, devemos ocupá-lo e não

somente julgá-lo sem ter nada a acrescentar a ele. Mas não podemos esquecer que

esse espaço deve ser ocupado com uma postura crítica e não somente no intuito de

preencher um lugar vazio.


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