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RIO DE JANEIRO
2008
Mônica Ferreira de Paula Menezes
Orientador:
Professor Dr. Marcelo Braz Moraes dos Reis
Rio de Janeiro
2008
Pela realização deste trabalho agradeço
primeiramente a Deus.
Aos meus pais Carlos e Célia que me deram
seu apoio.
Ao meu noivo Rodrigo que sempre me deu toda
a força que eu precisava para completar essa
jornada. Também agradeço as minhas amigas
da faculdade pelo apoio.
À minha supervisora Maria Fernanda que me incentivou a desenvolver esse
Pretendemos com este trabalho fazer uma análise crítica da prática profissional
Para isso, iniciamos com o estudo do Serviço Social nas empresas, de forma geral,
APRESENTAÇÃO........................................................................................
INTRODUÇÃO..............................................................................................
10
1.1 A NATUREZA DO SERVIÇO SOCIAL NAS EMPRESAS......................... 10
34
2.1 AS FUNÇÕES DO ESTADO NO CAPITALISMO MONOPOLISTA........
34
37
2.3 AS DEMANDAS/ EXIGÊNCIAS PROFISSIONALMENTE POSTAS AO SERVIÇO
SOCIAL NAS EMPRESAS PÚBLICAS: UM ESTUDO DE CASO DA
CPRM/SGB.................................................................................. 44
2.3.1 As demandas profissionais da CPRM/SGB: as requisições do
empregador................................................................................................
46
2.3.2 As demandas profissionais do Serviço Social da CPRM/SGB......
52
58
3.1 REQUISIÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL PELO EMPREGADOR............
58
3.2 LIMITES E DESAFIOS DA PRÁTICA PROFISSIONAL.........................
60
3.3 RESPOSTAS PROFISSIONAIS: AÇÕES, PROJETOS E PROGRAMAS.
63
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 71
APRESENTAÇÃO
interesse sobre o Serviço Social nas empresas. Isso aconteceu por diversas razões,
mas a principal foi a dificuldade de encontrar esse tipo de debate na área acadêmica.
assunto, pois a visão “mais geral” que percebia era que o profissional dessa área
nessa minha experiência apreendi que não é somente isso que acontece, assim
Outro ponto que me incomodava bastante era ver a contradição expressa entre
também que a rotina da prática profissional nos prendia em tarefas burocráticas sem
ter espaço para desenvolver análises mais críticas da realidade que nos cercava.
Por isso, resolvi desenvolver esse tema, até mesmo para me aprofundar
teoricamente nessa área da nossa prática profissional e também para contribuir com o
Minha intenção com este trabalho é promover uma análise crítica acerca da
Público).
INTRODUÇÃO
Pretendemos com este trabalho fazer uma análise crítica da prática profissional
atualidade, e também a sua teoria com a prática. Temos como objetivo a promoção de
viabilização de uma análise da história do Serviço Social nas empresas com a prática
atualidade serão diferentes do que veremos na sua história, por causa das mudanças
no interior do Serviço Social e das novas exigências profissionais das empresas dado
forma geral, fazendo um balanço do debate teórico existente. Iniciamos com a sua
e dos espaços profissionais do Serviço Social frente a esse novo quadro expresso.
1
-Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil.
No Segundo Capítulo trataremos do Serviço Social em empresas públicas,
estudo é uma empresa pública, e das funções que ele assume no modo de produção
que maneira a “reforma” do Estado a afetou. Após, faremos uma análise de como o
respostas profissionais dos assistentes sociais, com base nos Projetos de Intervenção
atividades previstas pelos profissionais. É importante ressaltar que esse estudo será
Metodológicos:
9. Redação final.
Por fim, cabe lembrar que simultaneamente a esse processo também ocorriam
transição para o capitalismo monopolista. Isso ocorre também por causa do processo
Posto esse quadro, segundo Iamamoto (1992: 123), o grande desafio é avançar
nessa direção de crise capitalista e nas relações do âmbito do trabalho, mas para isso,
temos que enfrentar as nossas ilusões, rompendo com a visão fatalista e a messiânica
Essa visão fatalista se dá pelo fato do profissional ter uma visão determinista da
(dominante). Mas essa visão também afeta o profissional que se diz progressista, mas
que acha que as lutas de classes só têm espaço na arena estritamente política
(partidos políticos, parlamento), como se fossem imunes aos conflitos da vida social,
“Marcada por uma visão mágica da transformação social, que passa a ser reduzida a
Segundo Iamamoto (1992: 124-125), para superarmos essas ilusões temos que
ser profissionais com um preparo teórico e político para enfrentar as demandas que
nos são postas e ter a capacidade de articular o particular com o geral. Como também
profissão.
Sociais se dá também pelas demandas que nos são postas profissionalmente, pois
Segundo Mota (1998: 39-40), a empresa capitalista tem como objetivo gerenciar
social global.
“se inclui em uma relação social mais ampla: a produção e reprodução das relações
Para Braverman (apud Mota, 1998: 43), na empresa existem funções básicas
sendo uma delas a “coordenação social”, e esta seria uma das propostas do
capitalismo, pois tem que manter a grande massa da sociedade urbana sob certo
controle e equilíbrio. Como a sociedade capitalista não tem meios para desenvolver
em desenvolver esse tipo de “coordenação”, mas sim de uma negociação entre ela e o
Estado, que são formadores do bloco hegemônico de poder. Sabemos também que
seus níveis.
A empresa tem que conseguir manter essa relação desigual que ela tem com
seus trabalhadores, situação esta que se mostra pelo fato da venda de sua força de
trabalho ser a única saída de sobrevivência do trabalhador e que esta é vendida pelo
salário que o capitalista paga. E para isso, a empresa recorre à assistência social
determinadas pela exploração que o capital exerce sobre o trabalho. (Ibidem: 44)
Segundo Mota (1998: 47-48), a questão social é assumida pelas empresas com
a existência de “pactos de dominação” com o Estado e também por uma tensão entre
capacitado para trabalhar na área dos Recursos Humanos, mediante a prestação dos
forma técnica de administrar os benefícios sociais, trabalho esse que antes era
todos os empregados.
1998: 62) Mas essa tarefa tem que ser desempenhada sem gerar conflitos.
1998: 63).
social para atuar sobre a diferença entre os salários pagos aos empregados e os
custos de reprodução da sua força de trabalho, por meio de políticas sociais públicas
ou privadas.
Não podemos deixar de tratar o aspecto das respostas profissionais dadas pelo
Serviço Social a essas demandas que lhes são postas, onde percebemos claramente
duas visões. A primeira diz respeito ao assistente social legitimar as estratégias do
profissionais de Serviço Social. De acordo com Mota (1998: 70), eles tentam explicar
que o lucro da empresa tem apenas um caráter eventual, e que apesar disso, ela
sua ação profissional e não aos problemas estruturais. Dizem que os problemas dos
3
- Referente à pequisa realizada por Ana Elisabete Mota com empresas que possuem assistentes
sociais, em Recife, no ano de 1983.
Outro ponto que é importante ressaltar é que quando os assistentes sociais
colocam que a empresa reconhece a carência de seus empregados mais não tem a
Além disso, o assistente social considera que o Estado não tem condições de
suprir essas necessidades dos trabalhadores e que por isso, a empresa colabora com
seus serviços sociais. Esses pactos de dominação são vistos como viabilização do
bem-estar social.
Mas, como havíamos dito, existem profissionais que possuem uma visão mais
crítica da realidade que os cerca nesse contexto. E isso acontece, quando, por
processo produtivo.
assistenciais. Negando assim a idéia de assistência como uma boa ação da empresa
questão do confronto, que devem criar condições para que ele exista entre os dois
grupos, não somente mediar os conflitos entre eles. (Mota, 1998: 83-84)
Ainda nas análises mais críticas sobre os “problemas” sociais vividos pelos
visão mais crítica, têm uma percepção fatalista da realidade, onde possuem uma visão
que possuir uma atitude natural em relação à visão de sua consciência de explorado.
Para concluir, a atuação do assistente social se dá inserida dentro dos limites dos
social, quando ele nega o discurso empresarial e entende que está dentro de uma
construção da ideologia dominada enquanto força social que se objetiva na luta pela
empresas, é apenas um aspecto da prática social que não pode ser considerada
(Ibidem: 97).
O trabalhador que possui uma visão mais crítica identifica os serviços sociais
não como ajuda, mas sim uma forma de amenizar os conflitos e de contribuir aos
objetivos da empresa. Ele também entende que essa assistência prestada é um direito
que ele adquiriu por vender sua força de trabalho. “Portanto, o significado que os
como direitos, eles admitem que também existam a “ajuda”, o “quebra galho”.
Pelo estudo desenvolvido da autora, foi constatado que mais de 90% dos
ajuda”. E que esta se dá de duas formas, uma pela assistência material e a outra é a
para o cumprimento dos objetivos da empresa. E que para além da ajuda que
prestariam a eles, a presença do assistente social seria uma das formas mais eficazes
dos trabalhadores, mas sim como um agente da empresa. Mas quando o trabalhador
como seu aliado e que também possui limites dentro dessa instituição. (Ibidem:
105-107)
constrói e afirma o seu “potencial negador”, apontando, inclusive, para uma nova
poderia ser uma forma para combater os interesses do capital, até por causa da
retirada da idéia que os benefícios sociais podem ser utilizados como salários
capital junto ao trabalhador, mas sempre tendo como “pano de fundo” a ”lógica da
ele exerce uma função que contribui com o processo produtivo, é onde ele se depara
com a sua própria contradição, pois ele também é um trabalhador assalariado. E é por
poderíamos enxergar alguns caminhos para a construção para uma nova prática
130)
produtiva e a reorganização dos mercados são estratégias utilizadas pelo capital para
a íntima relação entre o capital industrial e financeiro, além dos oligopólios globais
produção fordista que começava a apresentar seus primeiros sinais de crise nos anos
60.
lógica do mercado. Lembrando que esse processo não se dá de forma linear nos
Essas novas formas de produção trazem desdobramentos no que diz respeito aos
núcleo essencial do fordismo manteve-se forte até pelo menos 1973, baseado na
produção em massa. Mas depois da recessão instalada a partir daquele ano, teve
produção é marcada pelo confronto direto com a rigidez do fordismo. Onde a mesma
comercial, tecnológica e organizacional”. (Harvey apud Antunes, 1995: 21). Essa nova
deslocamento, para conseguir uma maior flexibilidade por causa do aumento das
competições.
econômica.
Para Teixeira4 (apud Mota, 1998b: 31), no âmbito das relações de produção,
“do ponto de vista objetivo, este movimento se materializa na criação de novas formas
forma desprotegida, que é a sua principal característica (Mattoso5 apud Mota, 1998b:
32).
reestruturação produtiva faz com que o movimento dos trabalhadores recue para o
4
- Teixeira, Francisco J. S. trata da “externalização da produção” na sua obra: Neoliberalismo e
reestruturação produtiva – as novas determinações do mundo do trabalho.
5
- Jorge E. Matoso discute esse assunto em seu livro: A desordem do trabalho.
construíram as classes trabalhadoras como força autônoma e revolucionária. (Mota,
1998b: 33).
produção não passa de mais uma nova forma de estruturação do trabalho abstrato.
Onde o trabalhador se sente dono do seu próprio negócio, patrão de si mesmo, porque
ele que organiza seu processo de trabalho e estabelece a duração da sua jornada de
ocultos por trabalho precário, desalento, etc”. (Idem: 35) Ela é também um movimento
aqui conceituada como uma necessidade real, subjacente ao conjunto das demandas
o processo de trabalho pode ser nas fábricas, nas residências, na rua, entre outros. E
esses trabalhadores que foram excluídos do trabalho protegido, agora exercem sua
maior impacto tem causado em escala mundial por causa da sua propagação.
Segundo Antunes (1995: 26), os traços constitutivos básicos do toyotismo podem ser
demanda, que dirá o que será produzido. Assim, a produção se sustenta na existência
(garantido pelo just in time), onde se inclui o tempo gasto com o transporte, o controle
26)
necessária a flexibilização dos trabalhadores. Esta lógica opera dentro do discurso dos
trabalhadores, que somente são ampliados pelo advento das horas extras. Objetiva-se
um deles falha, o grupo perde o aumento, portanto este último garante a produtividade
assumindo o papel que antes era da chefia. O mesmo tipo de controle é feito sobre o
o mesmo:
todos os aspectos, o fetichismo da mercadoria (...) Por isso pensamos que se possa
34).
que exige uma participação interdisciplinar, mas que se particulariza na relação com a
assistente social tem relativa autonomia para trabalhar, decorrente do seu saber
teórico acumulado, técnico e político, da sua maturidade nesses três elementos. “As
particularidades das empresas na ocupação, desocupação e novas formas de
importante, mas não necessariamente revelam as necessidades sociais que estão por
trás delas. As demandas postas (imediatas) são formas aparentes da origem das
necessidades sociais.
Por isso, temos que entender as demandas inseridas em uma conjuntura maior,
Para Mônica César (1999: 176), um dos novos desafios que a reestruturação
papéis na gestão dos recursos humanos. Onde o Serviço Social tem o papel de
recursos humanos e também, essa função, é incorporada aos gerentes. Mas não
podemos esquecer que a gerência tem seu papel na busca dessas soluções,
decorrente das modificações nas práticas de gestão da força de trabalho, que era
sociais na empresa, pois seu trabalho pode ser valioso e imprescindível pela sua
intervenção técnica nessas carências. Mas também pode ser tornar descartável, pois a
6
- José Paulo Netto trata da “direção social estratégica” em seu artigo na Revista Serviço Social e
Sociedade, número 50, São Paulo: Editora Cortez, 1996
Assim, podemos entender que o profissional de Serviço Social tem que se
desemprego, que amesquínham seu estatuto formal” (Idem: 178). E a autora finaliza
assistentes sociais.
Segundo Freire (2006: 78), nos anos 1990, que estamos tratando nesse item, a
prática profissional dos assistentes sociais nas empresas se modificou. O espaço que
remuneração, que tinha como forma a recompensa pelo desempenho, dentro das
7
- Por “Estatuto Profissional” entendemos que é o conjunto de leis que regulamenta e norteiam a prática
profissional: Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº8.662/1993), o Código de Ética Profissional de
1993 e o nosso projeto ético-político.
Mas isso não miniminiza o fato de que os benefícios a serem concedidos sejam
Agora vamos ver alguns métodos que eram utilizados pelos assistentes sociais
terapias grupais multidisciplinares” (Freire, 2006: 86). Como exemplo desses trabalhos
com grupos, podemos citar os de alcoolismo (dependência química), que tinha como
apoio os Alcoólatras Anônimos (AA) e apoio familiar pelo Alanon (grupo específico do
Nos anos 90, esses programas “sofrem uma redução, o primeiro em função da
87).
Segundo Freire (2006: 92), outros tipos de trabalho que existiam eram o
políticos.
campo das atuais tecnologias de qualidade total e clima organizacional” (Freire, 2006:
Mas a partir dos anos 90, ela se torna mais política, “relativa ao espaço dos Conselhos
como titulação “responsabilidade social”, isso porque a empresa tem que se articular
total” exigida. Ele tem uma maior concentração nos problemas sociais locais, ainda
César:
A era dos monopólios busca a “maximização dos lucros pelo controle dos
funcionalmente (Netto, 2001: 24). Porque se torna muito estranho se pensar num
podemos citar: “a sua inserção como empresário nos setores básicos não rentáveis
empresas que estão em dificuldades, entrega aos monopólios o que foi construído
trabalho, esteja esta ocupada ou não. Ele é forçado “(e o faz mediante os sistemas de
social.
se torna parte das condições gerais para a produção capitalista. (Idem: 29-30).
saúde, a educação, a habitação, mas sem nenhuma noção dos seus nexos causais
(Ibidem: 32).
estratégicas. Mas elas também são atravessadas por protagonistas e demandas, que
por sua vez também estão abarcadas por contradições e conflitos (Netto, 2001: 33).
Estado. Ela se dá pelas mudanças que estão em curso e passam por uma “reação do
capital ao ciclo depressivo aberto no início dos anos 70” (Harvey apud Behring, 2003:
197), onde o capital exerce pressão para uma refuncionalização do Estado na qual
Cada país tem uma reação diferente devido as suas particularidades, como correlação
altíssimas taxas de lucros (dos anos pós-guerra); como outra tentativa, podemos
mas combinado a uma ofensiva intelectual e moral para criar condições para a
imperativos econômicos” (Idem: 198). Essa escolha é típica do estilo das classes
dominantes brasileiras, mas ela implicou numa forte destruição dos processos de
modernização conservadora.
são adereços para tornar essa “reforma” mais aceitável. (Ibidem: 198).
público, o Estado tem que ser reformado para garantir sua legitimidade e a sua
distribuição de renda e recursos. E o lugar das políticas sociais seria inserido nas
E para ele, a solução dessa “crise” do Estado brasileiro seria uma “reforma”, e
8
- Luiz Carlos Bresser Pereira assumiu no governo de Fernando Henrique Cardoso o Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado, onde comandou a Reforma da Gestão Pública de 1995.
burocrática. O último componente dessa “reforma” é o aumento da governabilidade,
O que nos interessa é como foi prevista essa delimitação das funções do
Estado. Bresser Pereira (1997: 22) separou o Estado em três áreas de atuação: “as
bens e serviços para o mercado”. E em cada área foram separadas quais eram as
exercido. E estas são: “poder de definir as leis do país, poder de impor a justiça, poder
estímulo às artes” (idem: 23). Mas como não são todas essas atividades exclusivas do
9
- Expressão utilizada por Luiz Carlos Bresser Pereira na sua publicação dos Cadernos MARE da
Reforma do Estado nº 1. Onde ele define como “Estado Social” o que surgiu em decorrência da crise do
Estado Liberal. E esse modelo de Estado “no século vinte procurou proteger os direitos sociais e
promover o desenvolvimento econômico, assumindo, na realização desse novo papel, três formas: a do
Estado do Bem-Estar nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, a do Estado
Desenvolvimentista nos países em desenvolvimento, e a do Estado Comunista nos países em que o
modo de produção estatal tornou-se dominante” (Pereira, 1997:12).
argumento é que essas atividades “envolvem direitos humanos fundamentais que
públicos não são totalmente exclusivos, podendo ser objeto de concessão do Estado
para ser administrado pelo mercado, como o exemplo das privatizações da rede
ferroviária e de algumas rodovias que agora cobram pedágio para poder trafegar
nelas.
mas com a necessidade de uma reforma na sua administração, que pretendia deixar
de ser burocrática para ser implementada uma gerencial. Cabe lembrar que esse tipo
de administração enfatiza que a ação do Estado deve ser orientada para o que se
chama de “cidadão-cliente”.
Estado só deve executar diretamente as tarefas que lhe são exclusivas. Entre elas
Estado, das tarefas de execução que devem ser descentralizadas para agências
serviços (auxiliares) podem ser contratados por empresas privadas (terceirização), que
cultural, que visa a uma “mudança de mentalidade”, para que haja uma maior
Por outro lado, as privatizações das empresas estatais brasileiras eram feitas
atingir as políticas públicas sociais com maior eficiência, sendo consideradas assim
diversas, dentre elas podemos citar: a prestação de serviços com maior qualidade sob
pena de punição de quem não cumprisse o combinado; tarifas mais baixas para o
consumidor, por sua maior eficiência. Mas isso não foi o que ocorreu, como no caso
governo tinha a intenção de elevar as tarifas. Claro que tudo isso era omitido da
população!
para garantir os lucros das futuras compradoras desses serviços, garantindo que
depois não houvesse protestos e indignações da população.
fiscalização das metas que elas deveriam cumprir. No caso da Light, foi permitida a
governo aumenta as tarifas e os preços, assim elas já entram ganhando. Outra forma
são as demissões que o governo faz antes da sua venda. Deste modo, ele é quem
Agora, um ponto que nunca ficou muito claro para a população, era o
congelamento dos preços e tarifas que o governo fazia para beneficiar alguns setores
durante muitos anos. Assim, eram consideradas como “incompetentes” e “sacos sem
fundo” (Ibidem: 09). Mas na hora da sua venda o governo “engoliu” as dívidas das
empresas estatais. Proibição estranha, já que ele é um banco estatal que foi criado
dos trabalhadores das estatais. Onde seus compradores ficaram livres desse
(Idem: 10).
caixa e que na maioria das privatizações, o valor da venda dessas empresas é pago
em prestações, e com juros baixíssimos. Ademais, o nosso dinheiro serve como forma
exemplo da Inglaterra, país onde se deu o ponto de partida para as privatizações, que
tinha como objetivo a pulverização das ações das empresas estatais, e seus donos
Esse seria um caminho para o Brasil, mas como vimos até agora, não foi o que
todos nós, isso não teria acontecido dessa forma. Mas os meios de comunicação
empresas estatais.
Com isso, podemos perceber que a “reforma”, tal como foi conduzida, finalizou
políticas públicas, por causa de seu vínculo com a política econômica e a emergência
desemprego cada vez maior e a pobreza também crescente, que são aprofundados
Por fim, é importante ressaltar que essa “reforma” do Estado brasileiro nada
mais é do que uma contra-reforma devido ao desmonte que se deu em seu cerne,
Como vimos, tal “reforma” redireciona e atribui novas funções ao Estado na sua
10
- O “Programa de Publicização” no Brasil, segundo Bresser Pereira, prevê a modificação dos serviços
sociais e científicos em “organizações sociais”, em entidades públicas de direito privado.
2.3 As demandas/ exigências profissionalmente postas ao Serviço Social
nas empresas públicas: um estudo de caso da CPRM/SGB11
(http://www.cprm.gov.br/).
financeiros e humanos agregados a esse serviço. Isso nos remete ao item 2.1 (As
11
- CPRM/SGB – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/ Serviço Geológico do Brasil.
econômicas diretas do Estado (pg. 34-35), e dentre elas podemos destacar a “sua
particulares dessa empresa é que vamos iniciar o nosso estudo a partir dos
Intervenção do Serviço Social. Esse período temporal foi escolhido por causa do
social, quais as exigências que ele impõe a esse profissional. O estudo dos “Projetos
dessa empresa. Ela conta com quatro Assistentes Sociais em todo o Brasil, no Rio de
12
- Pesquisa realizada nos arquivos de editais de concursos públicos e seleções públicas do CRESS –
RJ (Conselho Regional de Serviço Social – Rio de Janeiro).
Janeiro, na Superintendência de Belém, de Recife e Salvador. Cada uma dá apoio às
regiões que lhe competem, que são divididas em norte, nordeste e sul/sudeste. A
empregador.
da “reforma” do Estado.
do ano de 2002 e 2006. Onde em 2002 foi realizada a contratação de três profissionais
e o de 2006 era apenas para cadastro de reserva e somente no corrente ano foi
assistente social (nos dois concursos), que é Assistente de Recursos Humanos, com a
função de assistente social. Mas, pelas suas atribuições veremos que não é um
profissional que tem característica de assistir, mas sim de analisar, planejar e projetar.
sejam atendidas;
finalizar ainda indica que ele deve criar condições para que as necessidades humanas
e sociais sejam atendidas. Mas como isso pode acontecer se o que é alertado são
instituição.
No Concurso Público realizado em 2006, de acordo com o Edital, encontramos
problemas sócio-funcionais;
no ambiente social/empresarial;
relação ao ano anterior, nota-se que aparece o trabalho multiprofissional até mesmo
de Serviço Social, o que torna o trabalho mais rico e mais abrangente no sentido de
que consegue atingir a maior parte das demandas dos empregados (item 1). Como
veremos a seguir (no próximo ponto a ser estudado) alguns exemplos desse tipo de
programa.
No item 5 onde trata do PCMSO também atenta para o fato de que o assistente
social irá colaborar com a equipe de saúde ocupacional e não mais “auxiliar” o médico
do trabalho. Isso nos mostra um avanço, que foi possibilitado pela inserção da nova
equipe.
O item 3 trata da pesquisa das causas dos possíveis “problemas” que afetem na
principal ponto que foi estudado no primeiro capítulo desse trabalho (pg. 13), onde
trata que desde o início da sua atuação no ambiente empresarial, o assistente social é
requisitado pelo empregador para tratar dos possíveis conflitos que possam interferir
Percebemos assim que atualmente não é diferente, ele ainda é requisitado para
entender que o usuário do Serviço Social como um todo, que ele não é só o
empregado da empresa, mas sim um indivíduo que faz parte da sociedade, e acima de
tudo, um cidadão portador de direitos. Por isso que é importante fazer uma análise da
totalidade que os cercam, e do processo que cria essas necessidades e não somente
classe.
e com isso podemos dizer que esse tipo de expressão se relaciona com
expressão era utilizada nas primeiras décadas do século XX, onde a “questão social”
surgia como alvo de debate na sociedade, Estado e Igreja Católica. E a Igreja era
obrigada a se posicionar diante dela, então a tratava como “problemas sociais”. Nesse
que entenderia que esses “problemas” são na verdade necessidades sociais que
existem por causa da contradição capital – trabalho e que temos que entendê-las em
uma dinâmica global e não individualmente. Porém, sabemos que essa expressão
vertente do conservadorismo.
prática de muitos assistentes sociais, como veremos nos elementos a seguir. Segundo
educativos entre a família operária (os mais carentes), com o objetivo de integrar seus
Assim, podemos perceber que a família constitui um “grupo social básico” que é tido
sociais.
p34).
intenta colocar-se à “serviço dos interesses” dos usuários dos serviços prestados.
Sempre dentro da lógica que esse é um movimento que faz parte de um movimento
histórico delimitado.
Nessa parte iremos tratar das demandas e respostas profissionais por parte dos
programas.
De acordo com relatórios mensais feitos pela assistente social percebemos que
terceirizados).
Acordo Coletivo de Trabalho – ACT15, como por exemplo, as cláusulas 15, 16, 41 –
Trabalhador, respectivamente.
empresa, pois eles não possuem os mesmos direitos que os empregados, como os
meio de contatos com a rede social ou com a rede pública, então são realizados os
devidos encaminhamentos.
Outro tipo de atendimento que o Serviço Social tem que fazer é aos
uma empresa que só possui quatro assistentes sociais em todo o Brasil. Esse tipo de
feito por meio de elaboração de parecer social e/ou acompanhamento in loco para
sem a entrevista presencial, pois a empresa alega falta de verba ou que não há
2005 das três assistentes sociais e tem como proposta que elas estejam tecnicamente
vinculadas ao Departamento de Recursos Humanos, desenvolvendo atividades/ações
Agora vamos tratar de dois programas realizados pelo Serviço Social de âmbito
nacional e foram escolhidos além da sua relevância por causa das suas demandas e
a faixa etária média dos empregados é de 50-55 anos, então muitos já estão em fase
Recursos Humanos. É um programa anual, cuja proposta era que sua realização fosse
duas vezes ao ano, mas ainda não ocorreu dessa forma. Cada ano ele atende a uma
região específica, como por exemplo, em 2006 ele foi realizado em Salvador para
atender a região Norte/Nordeste e em 2007 foi realizado no Rio de Janeiro e atendeu
a região Sul/Sudeste.
situação de aposentadoria.
As ações previstas pelo programa são palestras que ocorrem durante uma
semana, mas não são simples palestras informativas, mas sim uma vivência do
16
- Este método é um estudo da Profª. Helena Bertho da Silva - em seu livro Preparação para
Aposentadoria - lições de ensinar e aprender fazendo. - Serra: Companhia Siderúrgica de Tubarão,
2006.
O segundo programa a ser estudado é o Programa Pró-equidade de Gênero,
que já possui uma característica diferente do PPAp pois aconteceu “de cima para
baixo”, ele veio da Presidência que pediu a assistente social que o estudasse e o
implantasse na empresa.
Interno para questões de gênero, com a presença do Serviço Social, e com o objetivo
Energia e a SPM/PR.
visa à inserção das mulheres dessa região que são treinadas para observar e coletar a
trabalho e renda; e da melhoria da sua qualidade de vida. Essas ações estão previstas
(com o material empírico levantado). Cabe lembrar que tal material empírico levantado
possui um recorte histórico (entre 1995 até 2007), o que nos remete a
contemporaneidade do debate. Tal recorte histórico será relacionado com a natureza
Um ponto que ficou claro é que o assistente social continua sendo requisitado
E vemos que isso acontece atualmente também porque pelo estudo feito nos Editais
de Concurso Público apreendemos que ele é um profissional que irá trabalhar na área
dos recursos humanos e que tem como atribuições prestar serviços sociais que
empresa. Isso nos mostra uma característica ressaltada por Mota (1998: 62) que os
assistentes sociais são vistos como uma forma de controlar os comportamentos dos
empregados, por ser um profissional capaz de dialogar, ouvir e orientar os mesmos. E
Por fim, concluímos que o Serviço Social continua sendo requisitado da “mesma
forma” desde a sua inserção nessa área, e isso porque a empresa tem que conseguir
manter a exploração que ela tem com os seus empregados. Contradição essa
expressa nos antagonismos entre capital e trabalho. Onde o empregado vende sua
importante ressaltar que quando dizemos que o Serviço Social continua sendo
expressa por Mota (1998) onde diz que o assistente social se legitima na empresa
tendo uma função que contribui com o processo produtivo. Então, ele vivencia uma
assalariamento (de exploração). No entanto, ainda que com limites, podemos dizer
trabalhador.
Assim nos deparamos com a nossa limitação maior dentro dessa instituição.
profissional se dá porque ela envolve trabalhadores pagos por outra empresa e seus
benefícios também deveriam ser concedidos pela mesma, o que não acontece em
geral.
Uma forma de enfrentamento seria uma aproximação com a gerência das empresas
desses trabalhadores a fim de mostrar as demandas que são postas pelos mesmos ao
Serviço Social da CPRM/SGB, no intuito de obter algum tipo de apoio para que
dessas demandas.
entrevista presencial, pois a empresa alega falta de verba ou que não há necessidade
de visita da profissional na unidade regional” 18. Acredito que uma forma para enfrentar
pareceres, porque da mesma forma que eles precisam do parecer do assistente social,
esse profissional necessita o acompanhamento in loco para que seu trabalho seja feito
corretamente. Não deixando passar algum fato importante que só apreendemos com a
entrevista presencial, assim a análise deixa de ficar no que ele acredita e nas suas
do Serviço Social também é um limite imposto ao profissional. Mas acredito que seja a
realidade dos mais diversos campos de atuação dos assistentes sociais. O que não
podemos é deixar que isso nos torne profissionais com uma visão fatalista da
18
- Ver na página 54 deste trabalho.
Por isso o profissional deve se antecipar, ter uma postura propositiva, para
uma forma subalternizada na empresa. Um exemplo disso é seu nível hierárquico que
Humanos. Digo isso porque outros profissionais de nível superior são considerados
como analistas e não assistentes. E também pelas suas próprias atribuições vemos
que não é um profissional que tem atributo de assistir, mas sim de analisar, planejar e
pareceres sobre a matéria de Serviço Social” (CRESS: 2004, p.34); entre outros.
social visto como “auxiliar” do médico do trabalho enfatiza a sua posição de subalterno
na instituição”19.
Segundo Lúcia Freire (2006) o assistente social tem uma relativa autonomia
para trabalhar, por causa de seu saber teórico e da sua especificidade técnica e
19
-Ver na página 47 deste trabalho.
política. Mas como ele é também um trabalhador assalariado, está sujeito a todas as
implicações que traz a reestruturação produtiva. Segundo Mônica César (1999: 177),
mesma característica que já foi ressaltada no item 3.1 deste trabalho, sobre a
para que não haja prejuízos no processo produtivo, e então vemos que isso também
20
-Ver na página 30 deste trabalho.
Outro ponto é que segundo Freire (2006), o assistente social se insere na
Isso também nos remete ao que foi estudado no item 1.3 deste trabalho, onde
2006: 92). Isso exige processos internos de democracia e controle social, onde
(Freire, 2006:100).
redução nos anos 90 por causa da terceirização desse tipo de atendimento para
serviços especializados e também por causa do caráter formal dado pela empresa
Mas o PPAp não tem esse caráter formal por se tratar de uma vivência em
relação aos temas que ele desenvolve, e não de simples palestras. Também não é
outras cidades, onde os empregados viajam e ficam fora da empresa durante essa
semana do programa.
Outro programa que tratamos foi o Programa Pró-equidade de Gênero que tem
Mas além desse caráter institucional, esse programa também visa o “trabalho
com comunidades”, estudado em Freire (2006), onde a empresa tem que desenvolver
Sul. Que visa à inserção das mulheres dessa região para observar e coletar a água,
uma compreensão dos problemas sociais das comunidades locais articulados com as
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho estudamos sobre a contradição existente na nossa prática
entre as classes sociais, e tudo isso se dá num quadro de uma sociedade capitalista
requisitado para esse trabalho, como os seus usuários (os trabalhadores) os vêem e
crise do capitalismo. Crise esta que trouxe a reestruturação produtiva que combinou
Assim, traçamos o que mudou nesse espaço profissional dos assistentes sociais, e as
respostas profissionais que eram dadas frente a esse quadro que gerou novas
Para iniciarmos o estudo sobre o Serviço Social nas empresas públicas, vimos
durante essa “reforma” sofreu uma mudança “incomum”, pois antes era uma empresa
de economia mista para se tornar totalmente pública. Mas entendemos que isso se
deve pelo fato dela trabalhar com um conhecimento estratégico para o Estado e não
empregador para o assistente social, com base na pesquisa dos Editais de Concurso
Isso tudo foi feito para conseguirmos conclusões, ainda que parciais, sobre a
na atualidade são diferentes do que as que vemos na sua história, por causa das
relacionam com as levantadas no estudo feito de Lúcia Freire, mas é importante dizer
que não foram ações profissionais propriamente ditas que estudamos nos Projetos de
Intervenção, mas sim seu planejamento. Porque esse tipo de projeto mostra o
planejamento de trabalho do profissional e isso não quer dizer que as ações realizadas
por ele serão as mesmas previstas. Outro ponto é que a obra de Freire foi publicada
no ano de 2006, o que também nos remete a atualidade, então não podemos dizer
que conseguimos fazer o paralelo proposto. Mas acreditamos que isso se deve a
essência do que se exige dele. Isso porque a empresa tem que conseguir manter a
exploração que ela tem com os seus empregados. Assim, objetiva-se a manutenção
empresa e nos estudos que fizemos da bibliografia pertinente, mas não com o intuito
É importante ressaltarmos que fazer esse trabalho não foi uma tarefa fácil, pois
bibliografia sobre a área temática, o fato das fontes documentais não serem
suficientes para uma análise mais profunda, e a própria limitação do tempo hábil para
a realização deste trabalho. E por isso, repensamos várias vezes sobre a direção que
daríamos a esse trabalho, entretanto foi muito produtivo para ele e principalmente para
alunos a pesquisarem sobre esse tema e que isso nos permita uma maior discussão
sobre esse espaço profissional que ainda é tão pouco explorado, porém muito
importante.
somente julgá-lo sem ter nada a acrescentar a ele. Mas não podemos esquecer que
esse espaço deve ser ocupado com uma postura crítica e não somente no intuito de
CESAR, Monica de Jesus. “A experiência do Serviço Social nas empresas”. In: AA.
VV. Capacitação em Serviço Social e política social. Modulo 2: Crise
contemporânea, questão social e Serviço Social. Brasília: CEAD, 1999, p. 167-180.
MARX, Karl. “Introdução à crítica da economia política”. In: Marx, K.: Para a Crítica da
Economia Política; Do Capital; O Rendimento e suas fontes. São Paulo: Nova
Cultural, 1999. p. 25-48.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no
Brasil pós-64. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2005.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. “A Reforma do Estado dos anos 90: Lógica e
Mecanismos de Controle”. In: Cadernos MARE da Reforma do Estado 1. Brasília,
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www.bresserpereira.org.br/Documents/MARE/CadernosMare/Caderno1.pdf. Acesso
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