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CEI-DPU
RETA FINAL 2017
ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA
DURAÇÃO
18/04/2017 A 17/07/2017
MATERIAL ÚNICO
Questões totalmente inéditas
ACESSÍVEL
Computador, Tablet, Smartphone
2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
Por rodada
1 PEÇA JUDICIAL
Por rodada
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QUESTÕES DISSERTATIVAS
Informou que, passados já vinte e quatros horas, não conseguiu acesso ao medicamento por
meio da rede pública de saúde e, tampouco, na rede privada. Narrou que foi informada que o
medicamento está disponível em um único hospital da região onde reside, o qual, apesar de
público, se recusou a fornecer a medicação alegando que esta somente está disponível para as
pessoas que ali se encontram internadas. Procurou também as drogarias da cidade, sendo que
em todas não há disponibilidade da medicação.
Diante disso, o servidor plantonista, após instaurar Procedimento de Assistência Jurídica - PAJ,
acionou o Defensor Público Federal que se encontrava escalado para o plantão. Analisando
o PAJ, o Defensor Público observou, através da documentação juntada, que os rendimentos
auferidos por Maria eram elevados, de forma que esta não era pobre.
b) Há alguma medida judicial que possa ser adotada antes do ajuizamento da ação
principal, visando a consecução do medicamento?
MODELO DE RESPOSTA
1 A Constituição Federal, nos artigos 134, caput e Art. 5º, LXXIV, disciplinam caber à Defensoria
2 Pública a prestação de assistência jurídica gratuita aos “necessitados”, ou seja, “aos que
3 comprovarem insuficiência de recursos”. A necessidade, todavia, não se resume apenas
4 ao aspecto patrimonial, havendo outros tipos de vulnerabilidades, como a necessidade
COMENTÁRIO
Total: 5,00
A presente questão traz à baila caso prático e envolve o conhecimento das regras concernentes à
Defensoria Pública e o Direito Processual Civil.
Art. 5º, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.
Neste campo, verifica-se equívoco, ainda hoje corrente, no sentido de vincular a necessidade ao
aspecto patrimonial, chegando-se a instaurar-se no senso comum a expressão reducionista de
que “à Defensoria Pública cabe a defesa dos pobres”. Acerca disso, interessante observar que
Constituição Federal, ao referir-se à Defensoria Pública e ao destinatário da assistência jurídica
gratuita, utiliza as expressões “necessitados” (Art. 134, caput) e “insuficiência de recursos” (Art. 5º,
LXXIV). Não há, portanto, a utilização da expressão “pobre” para definir aquele que fará jus aos
serviços de assistência jurídica gratuita, por meio da Defensoria Pública. A expressão também não
é encontrada na Lei Complementar 80.
A ideia costumou ser repetida, através sobretudo da utilização do termo “hipossuficiente econômico”
ou “hipossuficiência econômica”, com o fito de designar aquele que faz jus à assistência jurídica
gratuita, ou seja, o necessitado.
É importante saber, todavia, que apesar de o carente de recursos financeiros ser necessitado,
existem outros tipos de vulnerabilidade, que autorizam a prestação de assistência jurídica gratuita
por meio da Defensoria Pública.
Assim, apesar de o raciocínio não se mostrar totalmente errado, é incompleto, já que resume a
necessidade ao aspecto econômico, de forma equivocada.
Evidentemente, a referência ao “recurso” constante no texto constitucional não tem relação somente
com a falta de condições financeiras. Os recursos (ou sua falta) podem ser de várias ordens.
Resposta ao item “a”: No caso da situação narrada na questão encontramos uma necessidade
circunstancial, que pode autorizar o deferimento de assistência jurídica gratuita.
Neste ponto, vale lembrar que, conforme disposição constitucional (vide artigos supratranscritos)
a assistência jurídica gratuita é incumbia à Defensoria Pública, no Brasil. Importante, ainda,
não confundir “assistência jurídica gratuita” (ou seja, o serviço prestado pela Defensoria Pública
com vistas à representação e à defesa de direitos, judicial e extrajudicialmente) com “gratuidade
judiciária” (também conhecida como “gratuidade da justiça” ou “justiça gratuita”), tendo esta última
relação com a isenção de custas processuais, atualmente disciplinada pelos artigos 98 e seguintes
do CPC.
Sobre o tema, transcrevo os ensinamentos de Diogo Esteves e Franklyn Roger Alves Silva, autores
da mais abrangente obra sobre Defensoria Pública, dissertando sobre a vulnerabilidade episódica
ou transitória:
Nesse sentido, leciona Edilson Santana Gonçalves Filho, em recente obra publicada
sobre o tema:
A previsão contida no artigo 303 do Código de Processo Civil revela instrumento apto
à atuação em defesa de situações circunstanciais, pois permite que o pedido se limite
tão somente ao requerimento da tutela antecipada. Na situação narrada, seria possível,
diante da vulnerabilidade constatada, requerer o medicamento, à título de antecipação
dos efeitos da tutela, solicitando ao juízo que, após a concessão e efetivação da medida,
intimasse a parte (agora já não mais vulnerável) para constituir advogado que pudesse
continuar sua defesa, aditando a petição inicial, com a complementação da argumentação,
a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em quinze
dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar (artigo 303, § 1º, I), sendo possível, ainda,
em tais casos, a estabilização dos efeitos da tutela provisória concedida, nos termos
do artigo 304 do código processual.” (ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn Roger Alves.
Princípios institucionais da Defensoria Pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.
285).
Resposta ao item “b”: É possível o ajuizamento, antes da ação principal, da “tutela antecipada
requerida em caráter antecedente”, prevista nos artigos 294, parágrafo único, e 303 e seguintes
do CPC, requerendo que, uma vez deferida e cumprida a tutela de urgência, seja a parte intimada
para constituir advogado que apresente o aditamento previsto no artigo 303, §1º, I, do CPC,
considerando o desaparecimento da necessidade circunstancial.
Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do
pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do
perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
MELHORES RESPOSTAS
JANAINA BARRETO
1 a) A Constituição Federal, ao tratar da assistência jurídica, dispõe que ela deve ser oferecida
2 aos necessitados. Não usa a expressão “pobre” como condição para que a pessoa obtenha o
3 direito a ser assistido. Existem outros tipos de necessidade que não a econômica. Podemos
4 citar também a necessidade jurídica, informacional ou de minorias étnicas.
MARIAH SOARES
SILVIA MOREIRA
1 No caso em tela é possível o deferimento de assistência jurídica gratuita à Maria, pois, embora
2 ela não seja hipossuficiente sob o aspecto econômico, o indeferimento da assistência colocará
3 em risco direitos fundamentais, em especial o direito de acesso à justiça e consequentemente
4 a saúde e a vida de Maria (CRFB/88, art. 5º caput e XXXVI e CSDPU, Resolução 85/2014,
5 art. 4º).
6 Antes mesmo do ajuizamento da ação principal será possível postular tutela provisória de
7 urgência antecipada antecedente, liminarmente, “inaudita altera parte”, eis que evidentes a
8 probabilidade do direito e o perigo de dano (CPC, art. 294, parágrafo único c/c art. 300).
ANDREY GOES
1 A Defensoria poderá patrocinar Maria. Isso muito embora a literalidade dos arts. 134 e 5º, LXXIV,
2 da CRFB/88, e 1º da LC 80/94, sugira, de fato, à primeira vista, que a atuação da Defensoria deve
3 restringir-se à assistência dos necessitados do ponto de vista estritamente econômico. É que a
4 interpretação tida por mais correta na atualidade (inclusive pelo STJ) é no sentido de que cabe à
5 Defensoria assistir não só os desprovidos de recursos econômicos, mas também os chamados
6 necessitados organizacionais (hipervulneráveis). No caso, a urgência da situação de Maria – que
7 não logrou acesso ao medicamento nem mesmo na rede particular –, a coloca em situação que
8 recomenda e autoriza a atuação do Defensor. Tal postura, aliás, é a mais consentânea com a missão
9 institucional da Defensoria de promoção dos direitos humanos. No caso, o defensor poderá se valer,
10 antes da propositura da ação principal, da chamada tutela antecipada antecedente, prevista no art.
11 303, CPC/2015, tendo em vista que a urgência é contemporânea à propositura da ação.
RAFAEL MONTEIRO
1 a) A assistência jurídica gratuita poderá ser deferida à Maria, uma vez que, embora esta
2 não possua hipossuficiência econômica, encontra-se em situação de vulnerabilidade (art.
3 134, caput, da CRFB e 4º, I, da LC 80/94), uma vez que está em jogo o seu direito à vida.
4 Considerando ainda serem objetivos da Defensoria Pública a primazia da dignidade da pessoa
5 humana e dar efetividade aos Direitos Humanos (art. 3º-A, I e III, da LC 80/94), a atuação do
6 Defensor Público Federal encontra-se amparada pela legislação.
7 b) A medida judicial a ser adotada antes do ajuizamento da ação principal é a tutela antecipada
8 requerida em caráter antecedente, prevista no art. 303 do CPC, dirigida ao juízo de plantão.
9 Trata-se de uma petição inicial onde se conta apenas o pedido da antecipação de tutela,
10 devidamente fundamentada, e que poderá ser posteriormente aditada, uma vez concedida a
11 tutela e distribuída a ação ao juízo competente, na forma do art. 303, § 1º, I, do CPC.
DIREITO CONSTITUCIONAL
MODELO DE RESPOSTA
1 A Constituição Federal definiu como terras tradicionalmente ocupadas pelos índios aquelas
2 ocupadas em caráter permanente e utilizadas para atividades produtivas e tradições culturais.
3 É direito originário, cabendo a propriedade à União e aos povos indígenas a posse permanente
4 e o usufruto exclusivo. O STF, restringindo direitos fundamentais dos indígenas, definiu como
5 marco temporal para o reconhecimento a promulgação da Constituição, adotando a teoria
6 do fato indígena em detrimento do indigenato, este mais amplo em razão de extrapolar o
7 marco. Também basta que no marco temporal os indígenas estejam lutando pelas terras,
8 caracterizando o esbulho renitente, situação que se enquadra na questão e autoriza o
9 reconhecimento da terra como indígena.
COMENTÁRIO
A DPU tem progressivamente ampliado sua atuação na questão indígena tanto do ponto de vista
nacional quanto no ambito do sistema interamericano, daí porque a importância de dar uma especial
atenção a este tema. No ultimo edital a temática indígena estava na matéria de direitos humanos,
mas o CESPE, com frequência, a coloca em direito constitucional. De todo modo, seguramente a
questão tem grandes chances de ser cobrada no concurso.
São povos indígenas os grupos étnicos que habitam um determinado território desde tempos
imemoriais e que se desenvolveram de maneira tradicionalmente por eles conhecida, com
manifestações culturais e hábitos próprios.
termos do art. 20, XI, da CF, mas trata-se de uma propriedade vinculada, cujo escopo é unicamente
garantir o gozo dos índios sobre as referidas terras. Ademais, tais terras são inalienáveis,
intransferíveis, indisponíveis e imprescritíveis (art. 231, § 4º, da CF). Ou seja, todas as terras
tradicionalmente ocupadas por índios são de domínio da União (art. 231, § 1º).
Ademais, a CF também determina que são nulos e extintos os atos que tenham por objeto a
ocupação, o domínio e a posse das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas (art. 231, §
6º, da CF). Neste sentido, a CF de 1988, ao eliminar qualquer pretensão particular sobre as terras
indígenas, afastou qualquer tipo de indenização, salvo de benfeitorias nos casos de ocupação de
boa-fé.
Sobre este tema, vale a lição de José Afonso da Silva (SILVA, 2007, p. 858-859):
E prossegue:
Essas considerações, só por si, mostram que a relação entre o indígena e suas terras
não se rege pelas normas do Direito Civil. Sua posse extrapola da órbita puramente
privada, porque não é e nunca foi uma simples ocupação da terra para explorá-la, mas
base de seu habitat, no sentido ecológico de interação do conjunto de elementos naturais
e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida humana. Esse tipo de
relação não pode encontrar agasalho nas limitações individualistas do direito privado,
daí a importância do texto constitucional em exame, porque nele se consagra a ideia de
permanência, essencial à relação do índio com as terras que habita.”
Em síntese, o território tradicionalmente ocupado pelos povos indígenas não pode ser encarado
apenas sob o ponto de vista civilista, mas sim considerando que se trata do habitat de um povo,
sendo portanto essencial para o exercício pleno dos direitos humanos desta população.
Quanto ao ponto principal da questão, o STF já estabeleceu que, como regra, se os índios não
estavam na posse da área na data da promulgação da CF/88, o território não poderá ser considerado
indígena, salvo no caso de renitente esbulho, ou seja, que na época da promulgação da CF a
terra ainda estivesse sendo alvo de disputas possessórias (STF, ARE 803.462 – Info 771).
Trata-se de uma posição que foi muito criticada pela doutrina especializada, pois adotou a teoria
do fato indígena em detrimento do citado indigenato. De acordo com a teoria escolhida pelo STF,
para a configuração da terra como indígena, é essencial a mencionada ocupação em 05/10/1988,
o que seria desnecessário do ponto de vista do indigenato.
Mas é importante consignar, por fim, que aldeamentos extintos estão definitivamente fora deste
reconhecimento à luz da Súmula 650/STF: “Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não
alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto.”
MELHORES RESPOSTAS
1 Diferentemente da teoria do indigenato (a qual reconhece o direito à terra como um direito congênito
2 e primário dos indígenas, independentemente de qualquer reconhecimento formal), para a teoria
3 do fato indígena, adotada pelo STF (caso Raposa Serra do Sol) e bastante criticada por parte da
4 doutrina, apenas serão reconhecidos aos índios o direito à posse e ao usufruto exclusivo, nos termos
5 do art. 231, “caput” e §§ 1º e 2º da CF/88, das terras tradicionalmente por eles ocupadas quando da
6 promulgação da citada Carta Magna (05/10/1988) e daquelas que, embora não ocupadas àquele
7 tempo, eram objeto de disputa/litígio entre índios e não-índios (conflito possessório) em razão de os
8 primeiros terem sido destas esbulhados pelos segundos. Tais terras são bens da União, nos termos
9 do art. 20, XI, da CF/88. No caso ora apresentado, é possível o reconhecimento da terra como
10 indígena, uma vez que os índios nela permaneceram até 1989 e, em que pese a perda formal da
11 propriedade em 1930, resta caracterizado o conflito possessório até a citada data.
1 Para os povos indígenas, a terra que ocupam vai muito além do direito à propriedade, incluindo
2 seu próprio senso de comunidade e espiritualidade, cuja ligação remete a tempos imemoriais.
3 A teoria do indigenato dá contornos jurídicos a tal entendimento, afirmando não ser possível
4 estabelecer um marco temporal inicial para a posse da terra por uma comunidade indígena. Tal
5 reconhecimento seria um direito fundamental das comunidades indígenas, estando respaldada
7 O STF, contudo, preferiu adotar a teoria do fato indígena, que afirma que o marco temporal para
8 o reconhecimento das terras indígenas é o da vigência da atual Constituição (05/10/1988). Tal
9 entendimento é criticável justamente por ignorar situações onde as comunidades indígenas
10 tenham sido desalojadas antes da CRFB. Neste sentido, mitigando sua posição, posteriormente
11 o STF adotou a teoria do Renitente Esbulho.
PEÇA JUDICIAL
DIREITO DO TRABALHO
No dia 17/08/2016, Maria foi contratada, a título de experiência, para trabalhar na casa de Joana,
que tem um bebê e vive em Campo Grande/MS. Findos os 30 (trinta) dias inicialmente acertados
no contrato de experiência, não houve novo acordo com a empregadora, tendo Maria continuado
a trabalhar na residência de Joana normalmente.
Maria trabalhava das 8h às 17h, com intervalo de 45 (quarenta e cinco) minutos para almoço.
Sua remuneração, que era de um salário mínimo, sofria os seguintes descontos: contribuição
para o INSS da empregada, relativo exclusivamente à parcela devida pela própria empregada;
25% da remuneração, correspondente à alimentação consumida na casa de Joana; 20% da
remuneração, referente ao vale-transporte que recebia de Joana, já que Maria morava em um
bairro muito afastado do local de trabalho e 10% em razão dos produtos de higiene, tais como
creme dental, absorvente e sabonetes que Joana adquiria para Maria.
No dia 17/11/2016, após descobrir que Maria estava grávida, Joana resolveu dispensá-la,
pagando-lhe as seguintes verbas: férias proporcionais de 3/12 avos acrescidas de 1/3 e 13º
salário proporcional de 3/12 avos.
Maria, assistida pela Defensoria Pública da União, ajuizou reclamação trabalhista, requerendo
tudo o que você, Defensor, entendeu que era seu direito. Contudo, no dia 26/04/2017, após
o curso regular do processo, foi proferida sentença de improcedência total, na qual o juízo
considerou legais os descontos efetuados, as verbas rescisórias pagas a Maria, bem como a
dispensa realizada, já que, tratando-se de contrato de experiência, não há direito à estabilidade
provisória. Você foi intimado pessoalmente da sentença no mesmo dia em que ela foi proferida.
MODELO DE RESPOSTA
4 (10 linhas)
75 VII. DOS PEDIDOS – Ante o exposto, requer-se que o presente recurso ordinário
COMENTÁRIO
ESPELHO PONTUAÇÃO
7. Argumentação no sentido de que Maria faz jus a uma hora extra diária,
pela supressão do intervalo intrajornada de uma hora (art. 13, LC 150/15 e 1,5
Súmula nº 437, TST).
8. Maria trabalhava mais de oito horas por dia, sem que o enunciado tenha
1,5
mencionado qualquer acordo de compensação (art. 2º, § 4º, LC 150/15).
TOTAL 20,0
Caros alunos,
No início de praticamente cada e-mail recebido, vinha um pedido de desculpas, por ausência de
familiaridade com o Direito do Trabalho. A boa notícia é que, no geral, esse desconforto noticiado
com a matéria não prejudicou um desempenho geral muito bom por parte de vocês. É assim
mesmo: vamos tentando e aprendendo. Ressalto o que disse Caio: é importante, desde logo,
treinar as questões dissertativas e peças, pois, assim, podemos, com tempo, ver o que se passa
na cabeça de vocês e tentar, no que estiver ao nosso alcance e for possível, dar a nossa opinião
sobre como seria mais fácil acertar o espelho.
Nesta questão, procuramos abordar aspectos sobre as regras aplicáveis às relações de trabalho
dos empregados domésticos, sobretudo com base na LC 150/2015.
De início, seria necessário ao candidato identificar que a continuidade na prestação dos serviços,
por parte de Maria, na residência de Joana, tem o condão de transmudar a natureza do contrato
de trabalho, que deixa de ser por prazo determinado (contrato de experiência), passando a
ser um contrato de trabalho por tempo indeterminado. Nesse sentido, o artigo 5º, § 2º, da LC
150/2015, dispõe que “o contrato de experiência que, havendo continuidade do serviço, não for
prorrogado após o decurso de seu prazo previamente estabelecido ou que ultrapassar o período
de 90 (noventa) dias passará a vigorar como contrato de trabalho por prazo indeterminado.” Muitos
alunos, embora tenham reconhecido que o contrato passaria a vigorar por tempo indeterminado,
tomaram como base dispositivos da CLT, e não a LC 150/2015. Como se tratava de empregado
doméstico, seria fundamental que as respostas viessem fundamentadas, sempre que possível, na
citada lei complementar.
Art. 23. Não havendo prazo estipulado no contrato, a parte que, sem justo motivo,
quiser rescindi-lo deverá avisar a outra de sua intenção.
Portanto, como demonstra o dispositivo transcrito, o direito ao aviso prévio repercutirá em outras
verbas devidas, como as férias e o 13º, o que também deveria ter sido argumentado e requerido
na questão.
No que diz respeito aos descontos efetuados, é preciso ter em mente o que preconiza o artigo 18
da LC 150/2015: “é vedado ao empregador doméstico efetuar descontos no salário do empregado
por fornecimento de alimentação, vestuário, higiene ou moradia, bem como por despesas com
transporte, hospedagem e alimentação em caso de acompanhamento em viagem.” Assim,
O artigo 4º, parágrafo único, deste último diploma legal, por sua vez, estipula que “o empregador
participará dos gastos de deslocamento do trabalhador com a ajuda de custo equivalente à
parcela que exceder a 6% (seis por cento) de seu salário básico.” Sendo assim, a interpretação do
dispositivo, a contrario sensu, permite concluir, corretamente, que é possível o desconto de até 6%
do salário básico do empregado doméstico para fins de vale-transporte.
Dessa forma, no caso narrado, enquanto para os descontos referentes à moradia e materiais de
higiene seria devida a devolução de todas as supressões realizadas por Joana, em relação ao
vale-transporte, a devolução a ser requerida deveria ser, apenas, da diferença percentual entre o
desconto realizado a maior (20%) e os 6% permitidos pela lei.
Além disso, muitos (muitos, muitos) alunos se equivocaram em relação à redução do intervalo
intrajornada para menos de uma hora, sem existência de prévio acordo, alegando que o adicional
de 50% seria devido somente sobre a diferença entre o intervalo concedido e o mínimo de 1 hora
(ou seja, alegaram que apenas os quinze minutos faltantes para completar o intervalo mereciam
ser remunerados como hora extra). O entendimento sumulado do TST, contudo, colide com essa
linha de pensamento.
De fato, o artigo 13, caput, da LC 150/2015, estabelece que, em regra, o intervalo para repouso e
alimentação (intervalo intrajornada) deve ser concedido por, no mínimo, 1 e, no máximo, 2 horas,
podendo, mediante prévio acordo escrito, ser reduzido para 30 (trinta) minutos. Não foi o caso da
questão: Maria só tinha direito a 45 minutos de intervalo intrajornada, situação que, de acordo com
o enunciado nº 437, I, da Súmula do TST, equivale à supressão total de intervalo, devendo a hora
inteira ser considerada como extraordinária e remunerada com o adicional de 50%. A redação do
verbete é a seguinte:
Súmula 437
III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou
reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação,
repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.
Observem, ainda, que os 15 minutos trabalhados diariamente por Maria além das 8 horas também
devem ser remunerados como horas extras, nos termos da parte final do inciso I do enunciado, já
que a jornada efetivamente trabalhada por Maria perfazia 8 horas e 15 minutos. Ela deve receber,
como horas extras, o equivalente a 1 hora de trabalho (referente ao intervalo intrajornada mínimo
não concedido), sem prejuízo dos citados 15 minutos, trabalhados a mais, o que resulta em 1 hora
e 15 minutos extras por dia, a serem pagos com o adicional de 50%.
4. Estabilidade da gestante
O artigo 10, II, “b”, do ADCT, garante à empregada gestante estabilidade desde a confirmação da
gravidez até cinco meses após o parto. Nesse sentido, o art. 25, parágrafo único, da LC 150/2015,
reforça: “a confirmação do estado de gravidez durante o curso do contrato de trabalho, ainda
que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à empregada gestante
a estabilidade provisória prevista na alínea “b” do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.” Embora o contrato de Maria fosse por tempo indeterminado, pela
continuidade dos serviços, como já se argumentou, seria interessante, também, demonstrar que,
ainda que se tratasse de contrato de experiência, haveria direito à estabilidade, de acordo com o
enunciado nº 244 da Súmula do TST, in verbis:
Súmula 244
III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10,
inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo
na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado.
Diante dos argumentos de direito apresentados, os pedidos, que devem sempre corresponder às
teses desenvolvidas, deveriam ser: a) reintegração ou indenização pelo período de estabilidade e,
neste último caso: b) pagamento de aviso prévio e seus reflexos nas férias e décimo terceiro, após
o período estabilitário; c) retificação da anotação da dispensa, com a projeção do aviso prévio (OJ
82, SDI-I TST); d) devolução do desconto de alimentação e produtos de higiene; e) devolução do
excesso do desconto do vale transporte; f) pagamento de hora extra pela supressão de intervalo
intrajornada; g) pagamento de hora extra por excesso da jornada legal.
Detenho-me no pedido de letra “c”, que decorre da OJ 82 da SDI-I, a qual dispõe: “a data de saída
a ser anotada na CTPS deve corresponder à do término do prazo do aviso prévio, ainda que
indenizado”. Assim, ocorre uma projeção do fim do contrato de trabalho, que só findará com o fim
do período do aviso prévio.
Ainda quanto aos pedidos, é interessante especificá-los um a um, pois, muitas vezes, constituem
uma parte autônoma da pontuação, e é assim também na prática, pois, no tópico dos pedidos,
relembramos ao juízo qual é a nossa pretensão. Além disso, é importante pedir em uma ordem
lógica e coerente. Primeiro, pede-se o conhecimento e provimento do recurso, para, em seguida,
fazer a formulação dos pedidos de mérito. Dentro dos pedidos de mérito, igualmente, deve haver
uma sequência lógica. Por exemplo: pedir o pagamento de verbas rescisórias e, logo em seguida,
a reintegração de Maria, não é factível. Se ela for reintegrada, serão devidas apenas as verbas
correspondentes aos salários e reflexos do período de afastamento indevido. Se, entretanto,
persistir a vontade de dispensá-la após o período estabilitário, ou sendo impossível a reintegração,
aí sim, ela receberá as verbas rescisórias.
Muitos alunos também se equivocaram quanto à contagem do prazo para interposição do recurso
e à indicação do termo final. Duas considerações são importantes: primeiro, aplica-se o prazo em
dobro a todas as manifestações da Defensoria Pública, nos termos do art. 186, caput, CPC, salvo
se a lei estabelecer expressamente um prazo próprio para a Defensoria. No mesmo sentido, o art.
44, I, da LC 80/94; segundo, não se contam os prazos processuais em dias úteis na Justiça do
Trabalho.
Com efeito, o Tribunal Pleno do TST aprovou, em março de 2016, a Instrução Normativa 39/2016,
esclarecendo que o art. 219 do CPC não se aplica ao processo trabalhista, pois a legislação de
regência não é omissa, e o CPC encontra aplicação apenas subsidiariamente (art. 2º, III).
Dessa forma, tendo havido a intimação pessoal do Defensor Público no dia 26/04/2017, o termo
inicial para interpor o recurso é o dia seguinte, 27/04/2017. Sendo de 8 dias o prazo para recurso
ordinário (art. 895, I, CLT), e computando-se em dobro, basta contar 16 dias, com início em 27/04,
de modo que o termo final (data correta requerida pela questão) é o dia 12/05/2017.
No aspecto formal, também faço uma recomendação a todos para que estudem a organização da
Justiça do Trabalho. Alguns alunos endereçaram a petição de interposição ao “juiz de direito” ou
ao “juiz federal”; outros interpuseram o recurso diretamente no Tribunal, o que demonstra certo
desconhecimento acerca do funcionamento da Justiça do Trabalho, bem como do processamento
dos recursos.
Assim, por exemplo, no endereçamento, era necessário atentar para o fato de que a localidade da
prestação dos serviços foi apontada no enunciado da questão, de modo que a reclamação deveria
ser endereçada ao juízo trabalhista de Campo Grande/MS.
Aliás, sobretudo quem teve pontos descontados nos dois primeiros itens do espelho deve prestar
atenção na estrutura do recurso ordinário. Nesse recurso, a petição de interposição é feita no juízo
de primeiro grau, enquanto as razões são endereçadas ao Tribunal Regional do Trabalho, que será
o responsável pela reforma da decisão.
Recomendo a vocês, futuros Defensores Públicos Federais, que mantenham um caderno com os
modelos de peças de cada matéria, nos quais vocês podem escrever a estrutura básica de cada
uma, com seus fundamentos de cabimento e tempestividade.
8. Considerações finais.
A respeito dos honorários advocatícios: embora haja alguma discussão em torno do art. 4º, XXI,
da LC 80/94 (“São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: XXI – executar
e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por
quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados,
exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus
membros e servidores), na esfera trabalhista adota-se uma sistemática própria.
Com efeito, para que sejam devidos honorários advocatícios em causas que tramitam perante a
Justiça do Trabalho, é necessário que o empregado, além de sair vencedor da demanda, seja a)
beneficiário da justiça gratuita e b) assistido por sindicato da categoria. Nesse sentido, dispõe o
enunciado 219 da Súmula do TST, transcrito a seguir:
Súmula 219
III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure
como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego.
Quanto à transcrição de dispositivos, embora não haja nenhuma vedação nesse sentido, em uma
peça com tantas teses como esta e com o reduzido espaço de que vocês dispunham não é nem
um pouco recomendável gastar as linhas transcrevendo a íntegra de artigos. A simples indicação
seria suficiente.
Um abraço,
Maria Helena
MELHORES RESPOSTAS
CARINA
LISS