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CEI-DPU

RETA FINAL 2017


ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

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RETA FINAL 2017
ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA

DURAÇÃO

18/04/2017 A 17/07/2017

MATERIAL ÚNICO
Questões totalmente inéditas

ACESSÍVEL
Computador, Tablet, Smartphone

150 QUESTÕES OBJETIVAS


Por rodada

2 QUESTÕES DISSERTATIVAS
Por rodada

1 PEÇA JUDICIAL
Por rodada

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PROFESSORES

Caio Paiva. Coordenador do CEI-DPU e professor de Direito Penal e Criminologia, Direito


Penal Militar, Direito Processual Penal, Direito Processual Penal Militar, Direitos
Humanos e Princípios Institucionais da Defensoria Pública
Defensor Público Federal. Chefe da Defensoria Pública da União em Campinas/SP. Especialista em
Ciências Criminais. Autor dos livros Audiência de Custódia e o Processo Penal Brasileiro e Prática
Penal para Defensoria Pública, e coautor do livro Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos.

E-mail: profcei.caiopaiva@gmail.com

Thimotie Aragon Heemann. Professor de Direito Eleitoral, Direito Internacional e


Direito Ambiental
Advogado. Especialista em Processo Penal Internacional. Coautor do livro Jurisprudência Internacional
de Direitos Humanos.

E-mail: profcei.thiotieheemann@gmail.com

Maria Helena Rocha. Professora de Direito Administrativo, Direito do Trabalho,


Direito Processual do Trabalho, Direito Tributário
Advogada da União. Foi Defensora Pública do Estado de Pernambuco. Aprovada nos concursos da
DPU, DPE/RN e AGU. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho.

E-mail: profcei.mariahelena@gmail.com

Edilson Santana. Professor de Direito Processual Civil e Direito Constitucional


Defensor Público Federal. Especialista em Direito Processual. Foi Defensor Público do Estado do
Maranhão. Coautor do livro Dicionário de Ministério Público e autor dos livros A Eficácia Horizontal
dos Direitos Fundamentais: sua vinculação às relações particulares e Defensoria Pública e a Tutela
Coletiva de Direitos.

E-mail: profcei.edilsonsantana@gmail.com

Fernanda Prugner. Professora de Direito Civil, Direito Empresarial e Direito do Con-


sumidor
Advogada. Aprovada nos concursos da Defensoria Pública do Estado da Bahia e Defensoria Pública
do Estado do Espírito Santo.

E-mail: profcei.fernandaprugner@gmail.com

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Rafael Vasconcelos Porto. Professor de Direito Previdenciário e da Assistência Social


Juiz Federal Titular em Poços de Caldas – MG (aprovado no XIII Concurso para o TRF-1) Foi Defensor
Público Federal (2010-2011). Bacharel em Direito pela UFMG e mestrando em Direito Previdenciário
pela PUC-SP. Aprovado também para os cargos de Procurador Federal (AGU) e Advogado da Caixa
Econômica Federal.

E-mail: profcei.rafaelporto@gmail.com

Daniel Chiaretti. Professor de Filosofia do Direito, Noções de Ciência Política e No-


ções de Sociologia Jurídica
Defensor Público Federal. Bacharel em Direito e Filosofia pela USP. Mestrando em Ética e Filosofia
pela USP. Defensor Regional dos Direitos Humanos em São Paulo.

E-mail: profcei.danielchiaretti@gmail.com

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QUESTÕES DISSERTATIVAS

PROFESSOR: EDILSON SANTANA


E-mail: profcei.edilsonsantana@gmail.com

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

QUESTÃO 1. Após o expediente ordinário, Maria compareceu, no período noturno, à Defensoria


Pública da União, quando foi atendida pelo servidor plantonista. Narrou que no dia anterior foi
diagnosticada com inesperado problema de saúde, necessitando ingerir medicamento no prazo
de quarenta e quatros horas, conforme receituário e outros documentos médicos apresentados.
Caso não realize o tratamento no prazo indicado, sofrerá sequelas irreparáveis.

Informou que, passados já vinte e quatros horas, não conseguiu acesso ao medicamento por
meio da rede pública de saúde e, tampouco, na rede privada. Narrou que foi informada que o
medicamento está disponível em um único hospital da região onde reside, o qual, apesar de
público, se recusou a fornecer a medicação alegando que esta somente está disponível para as
pessoas que ali se encontram internadas. Procurou também as drogarias da cidade, sendo que
em todas não há disponibilidade da medicação.

Diante disso, o servidor plantonista, após instaurar Procedimento de Assistência Jurídica - PAJ,
acionou o Defensor Público Federal que se encontrava escalado para o plantão. Analisando
o PAJ, o Defensor Público observou, através da documentação juntada, que os rendimentos
auferidos por Maria eram elevados, de forma que esta não era pobre.

Diante da situação hipotética, responda:

a) O Defensor Público Federal plantonista poderá deferir a assistência jurídica gratuita


para Maria?

b) Há alguma medida judicial que possa ser adotada antes do ajuizamento da ação
principal, visando a consecução do medicamento?

MODELO DE RESPOSTA

1 A Constituição Federal, nos artigos 134, caput e Art. 5º, LXXIV, disciplinam caber à Defensoria
2 Pública a prestação de assistência jurídica gratuita aos “necessitados”, ou seja, “aos que
3 comprovarem insuficiência de recursos”. A necessidade, todavia, não se resume apenas
4 ao aspecto patrimonial, havendo outros tipos de vulnerabilidades, como a necessidade

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5 circunstancial (episódica ou transitória), de forma que o Defensor Público Federal poderá


6 deferir a assistência jurídica gratuita para Maria, sendo possível o ajuizamento, antes da ação
7 principal, de “tutela antecipada requerida em caráter antecedente”, nos termos dos artigos 294,
8 parágrafo único e 303 e seguintes do CPC, requerendo que, deferida e cumprida a tutela de
9 urgência, seja a parte intimada para constituir advogado que apresente o aditamento previsto
10 no artigo 303, § 1º, I, do CPC.

COMENTÁRIO

Quesito exigido Pontuação

Os artigos 134, caput e 5º, LXXIV da Constituição Federal, que disciplinam


a Defensoria Pública, não limitam a atuação do órgão à necessidade 2,0
econômica, havendo outros tipos de vulnerabilidades.

No caso apresentado, é possível identificar uma necessidade circunstancial,


episódica ou transitória, de forma que o Defensor Público Federal poderá 1,5
deferir a assistência jurídica gratuita para Maria.

É possível o ajuizamento, antes da ação principal, de “tutela de urgência em


caráter antecedente”, nos termos dos artigos 294, parágrafo único e 303 e
seguintes do CPC, requerendo que, deferida e cumprida a tutela de urgência, 1,5
seja a parte intimada para constituir advogado que apresente o aditamento
previsto no artigo 303, § 1º, I, do CPC.

Total: 5,00

Ponto do edital: 27 Tutela antecipada e tutela específica.

A presente questão traz à baila caso prático e envolve o conhecimento das regras concernentes à
Defensoria Pública e o Direito Processual Civil.

Inicialmente, cabe verificar o regramento da Defensoria Pública na Constituição Federal,


especialmente no caput do artigo 134 e no artigo 5º. Vejamos:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional


do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa,
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta
Constituição Federal.

Art. 5º, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos.

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Neste campo, verifica-se equívoco, ainda hoje corrente, no sentido de vincular a necessidade ao
aspecto patrimonial, chegando-se a instaurar-se no senso comum a expressão reducionista de
que “à Defensoria Pública cabe a defesa dos pobres”. Acerca disso, interessante observar que
Constituição Federal, ao referir-se à Defensoria Pública e ao destinatário da assistência jurídica
gratuita, utiliza as expressões “necessitados” (Art. 134, caput) e “insuficiência de recursos” (Art. 5º,
LXXIV). Não há, portanto, a utilização da expressão “pobre” para definir aquele que fará jus aos
serviços de assistência jurídica gratuita, por meio da Defensoria Pública. A expressão também não
é encontrada na Lei Complementar 80.

A ideia costumou ser repetida, através sobretudo da utilização do termo “hipossuficiente econômico”
ou “hipossuficiência econômica”, com o fito de designar aquele que faz jus à assistência jurídica
gratuita, ou seja, o necessitado.

É importante saber, todavia, que apesar de o carente de recursos financeiros ser necessitado,
existem outros tipos de vulnerabilidade, que autorizam a prestação de assistência jurídica gratuita
por meio da Defensoria Pública.

Assim, apesar de o raciocínio não se mostrar totalmente errado, é incompleto, já que resume a
necessidade ao aspecto econômico, de forma equivocada.

Evidentemente, a referência ao “recurso” constante no texto constitucional não tem relação somente
com a falta de condições financeiras. Os recursos (ou sua falta) podem ser de várias ordens.

Resposta ao item “a”: No caso da situação narrada na questão encontramos uma necessidade
circunstancial, que pode autorizar o deferimento de assistência jurídica gratuita.

Neste ponto, vale lembrar que, conforme disposição constitucional (vide artigos supratranscritos)
a assistência jurídica gratuita é incumbia à Defensoria Pública, no Brasil. Importante, ainda,
não confundir “assistência jurídica gratuita” (ou seja, o serviço prestado pela Defensoria Pública
com vistas à representação e à defesa de direitos, judicial e extrajudicialmente) com “gratuidade
judiciária” (também conhecida como “gratuidade da justiça” ou “justiça gratuita”), tendo esta última
relação com a isenção de custas processuais, atualmente disciplinada pelos artigos 98 e seguintes
do CPC.

Sobre o tema, transcrevo os ensinamentos de Diogo Esteves e Franklyn Roger Alves Silva, autores
da mais abrangente obra sobre Defensoria Pública, dissertando sobre a vulnerabilidade episódica
ou transitória:

“Mesmo possuindo condições econômicas e sociais favoráveis para o exercício regular


de seus direitos, o indivíduo pode enfrentar situações episódicas em que o acesso ao
sistema de justiça pode ser obstaculizado ou inviabilizado. Nesses casos, a assistência
jurídica gratuita prestada pela Defensoria Pública pode constituir importante instrumento
para a superação da vulnerabilidade episódica ou transitória, garantindo o acesso pleno
à justiça.

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Esse quadro de vulnerabilidade momentânea vem sendo identificado tipicamente nos


plantões judiciários diurnos e noturnos da Defensoria Pública, quando pessoas que
possuem recursos suficientes para contratar advogados acabam necessitando da
assistência jurídica gratuita para obter tutela judicial considerada emergencial (ex.:
pessoa com vastos recursos econômicos procura o plantão judicial noturno como o
objetivo de garantir a realização de procedimento cirúrgico emergencial em familiar que
se encontra internado, buscando a assistência jurídica da Defensoria Pública por não
ter tido tempo hábil para contratar advogado particular; nesse caso, o serviço jurídico-
assistencial público deve atuar unicamente para obter e garantir o cumprimento da tutela
provisória antecipada de urgência, devendo a causa ser posteriormente assumida por
advogado regulamente contratado pela parte).

Nesse sentido, leciona Edilson Santana Gonçalves Filho, em recente obra publicada
sobre o tema:

A vulnerabilidade circunstancial foi verificada, por exemplo, em Procedimento de


Assistência Jurídica instaurado durante o plantão noturno da Defensoria Pública da
União. Naquela ocasião uma mulher – não hipossuficiente financeira - que recentemente
houvera sido diagnosticada com gravidez ectópica necessitava ser medicada no prazo
de setenta e duas horas após a retirada do feto. A não injeção do medicamento poderia
ocasionar sérias consequências, comprometendo futura gestação, conforme confirmado
por laudo médico. Passadas já mais de quarenta oito horas do infortúnio, a paciente não
havia ainda conseguido a medicação, sendo que o hospital no qual se encontrava-se
internada até então negava-se ao fornecimento, sob o argumento de que ela já havia
recebido alta médica. A situação exigiu uma atuação emergencial do Defensor Público,
que ajuizou a ação ainda naquela noite, tendo sido a limitar deferida na manhã seguinte.
As peculiaridades do caso revelaram uma legitimação circunstancial, somente para
aquela questão específica, fazendo-nos observar a impossibilidade de adotar-se uma
concepção estática quanto à possibilidade de assistência jurídica.

A previsão contida no artigo 303 do Código de Processo Civil revela instrumento apto
à atuação em defesa de situações circunstanciais, pois permite que o pedido se limite
tão somente ao requerimento da tutela antecipada. Na situação narrada, seria possível,
diante da vulnerabilidade constatada, requerer o medicamento, à título de antecipação
dos efeitos da tutela, solicitando ao juízo que, após a concessão e efetivação da medida,
intimasse a parte (agora já não mais vulnerável) para constituir advogado que pudesse
continuar sua defesa, aditando a petição inicial, com a complementação da argumentação,
a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em quinze
dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar (artigo 303, § 1º, I), sendo possível, ainda,
em tais casos, a estabilização dos efeitos da tutela provisória concedida, nos termos

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do artigo 304 do código processual.” (ESTEVES, Diogo; SILVA, Franklyn Roger Alves.
Princípios institucionais da Defensoria Pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p.
285).

Resposta ao item “b”: É possível o ajuizamento, antes da ação principal, da “tutela antecipada
requerida em caráter antecedente”, prevista nos artigos 294, parágrafo único, e 303 e seguintes
do CPC, requerendo que, uma vez deferida e cumprida a tutela de urgência, seja a parte intimada
para constituir advogado que apresente o aditamento previsto no artigo 303, §1º, I, do CPC,
considerando o desaparecimento da necessidade circunstancial.

Art. 303. Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do
pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do
perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.

§ 1º Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo:

I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação,


a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze)
dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar.

MELHORES RESPOSTAS

JULY DE ALMEIDA MELLO


1 A CF assevera em seu art. 134 que a Defensoria Pública é instituição essencial à jurisdição do
2 Estado incumbindo-lhe orientação jurídica aos necessitados. O art. 185 do CPC caminha no mesmo
3 sentido atribuindo à Defensoria a promoção de direitos humanos e defesa de direitos individuais e
4 coletivos dos necessitados. O termo necessitado é um conceito jurídico indeterminado que pode
5 ser compreendido em sua concepção econômica, jurídica, fática, organizacional, dentre outras. No
6 caso concreto, como há uma urgência pela necessidade fática de ingestão do remédio em 44 horas,
7 indeferir a assistência jurídica à Maria iria contra os princípios institucionais da Defensoria, contra os
8 direitos humanos e a defesa do direito individual mais importante: a vida. De tal forma, o Defensor
9 pode deferir assistência jurídica gratuita à Maria. Ademais, diante da urgência do caso concreto,
10 pode-se valer da tutela antecipada em caráter antecedente prevista no art. 303 do CPC, bastando a
11 indicação do pedido de tutela final com a exposição da lide, do direito e do perigo de dano.

JANAINA BARRETO

1 a) A Constituição Federal, ao tratar da assistência jurídica, dispõe que ela deve ser oferecida
2 aos necessitados. Não usa a expressão “pobre” como condição para que a pessoa obtenha o

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3 direito a ser assistido. Existem outros tipos de necessidade que não a econômica. Podemos
4 citar também a necessidade jurídica, informacional ou de minorias étnicas.

5 A Defensoria Pública, conforme dispositivo constitucional, tem o dever de fazer a defesa do


6 necessitado que comprove a insuficiência de recursos. Portanto, a Defensoria Pública tem
7 como missão constitucional a defesa dos vulneráveis, e, assim, poderá deferir a assistência
8 jurídica gratuita para Maria, que é vulnerável, embora não seja economicamente necessitada.

9 b) Antes do ajuizamento da ação principal, visando a consecução do medicamento, a Defensoria


10 Pública poderá ingressar com tutela satisfativa antecedente, nos termos do art. 303 do Código
11 de Processo Civil.

MARIAH SOARES

SILVIA MOREIRA

1 No caso em tela é possível o deferimento de assistência jurídica gratuita à Maria, pois, embora
2 ela não seja hipossuficiente sob o aspecto econômico, o indeferimento da assistência colocará
3 em risco direitos fundamentais, em especial o direito de acesso à justiça e consequentemente
4 a saúde e a vida de Maria (CRFB/88, art. 5º caput e XXXVI e CSDPU, Resolução 85/2014,
5 art. 4º).

6 Antes mesmo do ajuizamento da ação principal será possível postular tutela provisória de
7 urgência antecipada antecedente, liminarmente, “inaudita altera parte”, eis que evidentes a
8 probabilidade do direito e o perigo de dano (CPC, art. 294, parágrafo único c/c art. 300).

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ANDREY GOES

1 A Defensoria poderá patrocinar Maria. Isso muito embora a literalidade dos arts. 134 e 5º, LXXIV,
2 da CRFB/88, e 1º da LC 80/94, sugira, de fato, à primeira vista, que a atuação da Defensoria deve
3 restringir-se à assistência dos necessitados do ponto de vista estritamente econômico. É que a
4 interpretação tida por mais correta na atualidade (inclusive pelo STJ) é no sentido de que cabe à
5 Defensoria assistir não só os desprovidos de recursos econômicos, mas também os chamados
6 necessitados organizacionais (hipervulneráveis). No caso, a urgência da situação de Maria – que
7 não logrou acesso ao medicamento nem mesmo na rede particular –, a coloca em situação que
8 recomenda e autoriza a atuação do Defensor. Tal postura, aliás, é a mais consentânea com a missão
9 institucional da Defensoria de promoção dos direitos humanos. No caso, o defensor poderá se valer,
10 antes da propositura da ação principal, da chamada tutela antecipada antecedente, prevista no art.
11 303, CPC/2015, tendo em vista que a urgência é contemporânea à propositura da ação.

RAFAEL MONTEIRO
1 a) A assistência jurídica gratuita poderá ser deferida à Maria, uma vez que, embora esta
2 não possua hipossuficiência econômica, encontra-se em situação de vulnerabilidade (art.
3 134, caput, da CRFB e 4º, I, da LC 80/94), uma vez que está em jogo o seu direito à vida.
4 Considerando ainda serem objetivos da Defensoria Pública a primazia da dignidade da pessoa
5 humana e dar efetividade aos Direitos Humanos (art. 3º-A, I e III, da LC 80/94), a atuação do
6 Defensor Público Federal encontra-se amparada pela legislação.

7 b) A medida judicial a ser adotada antes do ajuizamento da ação principal é a tutela antecipada
8 requerida em caráter antecedente, prevista no art. 303 do CPC, dirigida ao juízo de plantão.
9 Trata-se de uma petição inicial onde se conta apenas o pedido da antecipação de tutela,
10 devidamente fundamentada, e que poderá ser posteriormente aditada, uma vez concedida a
11 tutela e distribuída a ação ao juízo competente, na forma do art. 303, § 1º, I, do CPC.

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PROFESSOR: DANIEL CHIARETTI


E-mail: profcei.danielchiaretti@gmail.com

DIREITO CONSTITUCIONAL

QUESTÃO 2. Na década de 1930, o governo de certo Estado da federação transferiu


a propriedade de terras ocupadas por indígenas para fazendeiros locais. Em que pese a
perda formal da terra, o grupo permaneceu na região ocupando, em certos casos de forma
violenta, o território. No entanto, em 1989 o grupo foi definitivamente expulso. Nesta situação,
responda se seria possível o reconhecimento da terra como indígena, dissertando de forma
objetiva sobre os critérios para este reconhecimento e a natureza desta propriedade.

MODELO DE RESPOSTA

1 A Constituição Federal definiu como terras tradicionalmente ocupadas pelos índios aquelas
2 ocupadas em caráter permanente e utilizadas para atividades produtivas e tradições culturais.
3 É direito originário, cabendo a propriedade à União e aos povos indígenas a posse permanente
4 e o usufruto exclusivo. O STF, restringindo direitos fundamentais dos indígenas, definiu como
5 marco temporal para o reconhecimento a promulgação da Constituição, adotando a teoria
6 do fato indígena em detrimento do indigenato, este mais amplo em razão de extrapolar o
7 marco. Também basta que no marco temporal os indígenas estejam lutando pelas terras,
8 caracterizando o esbulho renitente, situação que se enquadra na questão e autoriza o
9 reconhecimento da terra como indígena.

COMENTÁRIO

A DPU tem progressivamente ampliado sua atuação na questão indígena tanto do ponto de vista
nacional quanto no ambito do sistema interamericano, daí porque a importância de dar uma especial
atenção a este tema. No ultimo edital a temática indígena estava na matéria de direitos humanos,
mas o CESPE, com frequência, a coloca em direito constitucional. De todo modo, seguramente a
questão tem grandes chances de ser cobrada no concurso.

São povos indígenas os grupos étnicos que habitam um determinado território desde tempos
imemoriais e que se desenvolveram de maneira tradicionalmente por eles conhecida, com
manifestações culturais e hábitos próprios.

A Constituição Federal de 1988 reconheceu a organização social, costumes, línguas, crenças e


tradições dos índios, além de transformar a questão de suas terras em ponto central dos direitos
constitucionais desses povos. Assim, conforme o texto constitucional, há direito de usufruto e de
propriedade sobre as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. A proprietária é a União, nos

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termos do art. 20, XI, da CF, mas trata-se de uma propriedade vinculada, cujo escopo é unicamente
garantir o gozo dos índios sobre as referidas terras. Ademais, tais terras são inalienáveis,
intransferíveis, indisponíveis e imprescritíveis (art. 231, § 4º, da CF). Ou seja, todas as terras
tradicionalmente ocupadas por índios são de domínio da União (art. 231, § 1º).

Ademais, a CF também determina que são nulos e extintos os atos que tenham por objeto a
ocupação, o domínio e a posse das terras tradicionalmente ocupadas por indígenas (art. 231, §
6º, da CF). Neste sentido, a CF de 1988, ao eliminar qualquer pretensão particular sobre as terras
indígenas, afastou qualquer tipo de indenização, salvo de benfeitorias nos casos de ocupação de
boa-fé.

Sobre este tema, vale a lição de José Afonso da Silva (SILVA, 2007, p. 858-859):

“o indigenato é a fonte primária e congênita da posse territorial; é um direito congênito,


enquanto a ocupação é um título adquirido. O indigenato é legítimo por si, ‘não é um fato
dependente de legitimação, ao passo que a ocupação, como fato posterior, depende de
requisitos que a legitimem’”.

E prossegue:

Essas considerações, só por si, mostram que a relação entre o indígena e suas terras
não se rege pelas normas do Direito Civil. Sua posse extrapola da órbita puramente
privada, porque não é e nunca foi uma simples ocupação da terra para explorá-la, mas
base de seu habitat, no sentido ecológico de interação do conjunto de elementos naturais
e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida humana. Esse tipo de
relação não pode encontrar agasalho nas limitações individualistas do direito privado,
daí a importância do texto constitucional em exame, porque nele se consagra a ideia de
permanência, essencial à relação do índio com as terras que habita.”

Em síntese, o território tradicionalmente ocupado pelos povos indígenas não pode ser encarado
apenas sob o ponto de vista civilista, mas sim considerando que se trata do habitat de um povo,
sendo portanto essencial para o exercício pleno dos direitos humanos desta população.

Quanto ao ponto principal da questão, o STF já estabeleceu que, como regra, se os índios não
estavam na posse da área na data da promulgação da CF/88, o território não poderá ser considerado
indígena, salvo no caso de renitente esbulho, ou seja, que na época da promulgação da CF a
terra ainda estivesse sendo alvo de disputas possessórias (STF, ARE 803.462 – Info 771).

Trata-se de uma posição que foi muito criticada pela doutrina especializada, pois adotou a teoria
do fato indígena em detrimento do citado indigenato. De acordo com a teoria escolhida pelo STF,
para a configuração da terra como indígena, é essencial a mencionada ocupação em 05/10/1988,
o que seria desnecessário do ponto de vista do indigenato.

Mas é importante consignar, por fim, que aldeamentos extintos estão definitivamente fora deste

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reconhecimento à luz da Súmula 650/STF: “Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não
alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto.”

MELHORES RESPOSTAS

HELENA KLEINE OLIVEIRA


1 Os índios possuem posse permanente e usufruto exclusivo de suas terras (art. 231, par. 2º, CRB).
2 Os critérios para reconhecimentos de tais terras estão estabelecidos no art. 231, par 1º da CRB,
3 que devem ser combinados com a decisão no Caso Raposa Serra do Sol, em que o STF, de forma
4 criticável, atuou como legislador positivo e adotou 1988 (CRB) como marco temporal, contrariando
5 o Indigenato, que estabelece o direito originário e imprescritível dos nativos latino-americanos sobre
6 suas terras. A questão ganha nuance, pois se assemelha a caso concreto em que os índios, a despeito
7 da privação da propriedade, permaneceram na terra até após a promulgação da CRB. Assim, devem
8 ser considerados nulos e extintos os atos que buscam o domínio da propriedade indígena (art. 231,
9 par 6º, CRB). Vale perceber que a posição jurisprudencial e legal é muito mais restritiva que aquela
10 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que se aproxima mais do Indigenato.

ANA FLÁVIA GUSMÃO

1 Diferentemente da teoria do indigenato (a qual reconhece o direito à terra como um direito congênito
2 e primário dos indígenas, independentemente de qualquer reconhecimento formal), para a teoria
3 do fato indígena, adotada pelo STF (caso Raposa Serra do Sol) e bastante criticada por parte da
4 doutrina, apenas serão reconhecidos aos índios o direito à posse e ao usufruto exclusivo, nos termos
5 do art. 231, “caput” e §§ 1º e 2º da CF/88, das terras tradicionalmente por eles ocupadas quando da
6 promulgação da citada Carta Magna (05/10/1988) e daquelas que, embora não ocupadas àquele
7 tempo, eram objeto de disputa/litígio entre índios e não-índios (conflito possessório) em razão de os
8 primeiros terem sido destas esbulhados pelos segundos. Tais terras são bens da União, nos termos
9 do art. 20, XI, da CF/88. No caso ora apresentado, é possível o reconhecimento da terra como
10 indígena, uma vez que os índios nela permaneceram até 1989 e, em que pese a perda formal da
11 propriedade em 1930, resta caracterizado o conflito possessório até a citada data.

RAFAEL DE SOUZA LUPPI

1 Para os povos indígenas, a terra que ocupam vai muito além do direito à propriedade, incluindo
2 seu próprio senso de comunidade e espiritualidade, cuja ligação remete a tempos imemoriais.
3 A teoria do indigenato dá contornos jurídicos a tal entendimento, afirmando não ser possível
4 estabelecer um marco temporal inicial para a posse da terra por uma comunidade indígena. Tal
5 reconhecimento seria um direito fundamental das comunidades indígenas, estando respaldada

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6 no art. 231 da CRFB e na Convenção 169 da OIT.

7 O STF, contudo, preferiu adotar a teoria do fato indígena, que afirma que o marco temporal para
8 o reconhecimento das terras indígenas é o da vigência da atual Constituição (05/10/1988). Tal
9 entendimento é criticável justamente por ignorar situações onde as comunidades indígenas
10 tenham sido desalojadas antes da CRFB. Neste sentido, mitigando sua posição, posteriormente
11 o STF adotou a teoria do Renitente Esbulho.

12 A natureza dessa propriedade é a de bem da União, insuscetível de alienação (art.20, XI c/c


13 231, § 4º, da CRFB).

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PEÇA JUDICIAL

PROFESSORA: MARIA HELENA ROCHA


E-mail: profcei.mariahelena@gmail.com

DIREITO DO TRABALHO

No dia 17/08/2016, Maria foi contratada, a título de experiência, para trabalhar na casa de Joana,
que tem um bebê e vive em Campo Grande/MS. Findos os 30 (trinta) dias inicialmente acertados
no contrato de experiência, não houve novo acordo com a empregadora, tendo Maria continuado
a trabalhar na residência de Joana normalmente.

Maria trabalhava das 8h às 17h, com intervalo de 45 (quarenta e cinco) minutos para almoço.
Sua remuneração, que era de um salário mínimo, sofria os seguintes descontos: contribuição
para o INSS da empregada, relativo exclusivamente à parcela devida pela própria empregada;
25% da remuneração, correspondente à alimentação consumida na casa de Joana; 20% da
remuneração, referente ao vale-transporte que recebia de Joana, já que Maria morava em um
bairro muito afastado do local de trabalho e 10% em razão dos produtos de higiene, tais como
creme dental, absorvente e sabonetes que Joana adquiria para Maria.

No dia 17/11/2016, após descobrir que Maria estava grávida, Joana resolveu dispensá-la,
pagando-lhe as seguintes verbas: férias proporcionais de 3/12 avos acrescidas de 1/3 e 13º
salário proporcional de 3/12 avos.

Maria, assistida pela Defensoria Pública da União, ajuizou reclamação trabalhista, requerendo
tudo o que você, Defensor, entendeu que era seu direito. Contudo, no dia 26/04/2017, após
o curso regular do processo, foi proferida sentença de improcedência total, na qual o juízo
considerou legais os descontos efetuados, as verbas rescisórias pagas a Maria, bem como a
dispensa realizada, já que, tratando-se de contrato de experiência, não há direito à estabilidade
provisória. Você foi intimado pessoalmente da sentença no mesmo dia em que ela foi proferida.

Diante disso, apresente a medida processual adequada à reforma do julgado, detalhando os


fundamentos para o seu cabimento, bem como todas as razões jurídicas suficientes à defesa
dos interesses de Maria. Utilize, como data, o prazo final para a apresentação da medida cabível.

MODELO DE RESPOSTA

1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DO TRABALHO DA ____ VARA DO TRABALHO DE


2 CAMPO GRANDE/MS

3 Processo n.o _____________________

ALUNO: mirlonfernando pág. 16


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4 (10 linhas)

5 Maria, já qualificada nos autos da reclamação trabalhista em epígrafe, movida em


6 face de Joana, vem, perante Vossa Excelência, por intermédio do Defensor Público Federal
7 subscritor – no uso das atribuições previstas no art. 134 da CRFB e na LC 80/94 –, com
8 fundamento no art. 895, I, da CLT, interpor RECURSO ORDINÁRIO em face da sentença de
9 improcedência proferida, o que faz tempestivamente, consoante as razões de fato e de direito
10 que seguem anexas.

11 Assim, requer que seja recebido o presente recurso, notificando-se a Reclamada


12 para, querendo, oferecer suas contrarrazões (art. 900 da CLT), com a subsequente remessa
13 dos autos ao Tribunal Regional do Trabalho da 24a Região, para julgamento.

14 Campo Grande, 12/05/2017.

15 Defensor Público Federal

16 Egrégio Tribunal Regional do Trabalho

17 Excelentíssimo Senhor Desembargador Relator

18 RAZÕES DE RECURSO ORDINÁRIO

19 I. DA TEMPESTIVIDADE – De início, ressalta-se que o presente recurso é tempestivo.


20 Verifica-se dos autos que a sentença recorrida foi proferida no dia 26/04/2017, sendo a
21 Recorrente intimada dos seus termos naquela mesma data. Dessa forma, considerando-se
22 o prazo em dobro de que a Defensoria Pública dispõe para recorrer (art. 44, I, LC 80/1994 e
23 art. 186, CPC), e levando-se em conta, ademais, que não se aplica ao processo trabalhista a
24 contagem dos prazos processuais em dias úteis (art. 219, CPC), conforme o entendimento do
25 TST, o termo final para a interposição do presente recurso é a data de hoje, 12/05/2017.

26 II. DOS FATOS – A Recorrente foi contratada como empregada doméstica, a


27 título de experiência, em 17/08/2016, a fim de trabalhar na casa da Recorrida. Depois dos
28 30 dias acertados de início, não houve novo ajuste entre as partes a respeito de eventual
29 prorrogação do vínculo, continuando a Recorrente a exercer suas funções normalmente. A
30 jornada diária de trabalho ia das 8h às 17h, com um intervalo de 45 quarenta e cinco minutos
31 para almoço, e a remuneração foi fixada em um salário mínimo. Desse valor, a Recorrida
32 descontava a contribuição previdenciária da Recorrente, relativo à parcela devida por esta;
33 25% correspondentes à alimentação fornecida; 20% referentes ao vale-transporte e 10% em
34 virtude dos produtos de higiene pessoal fornecidos à Recorrente. No dia 17/11/2016, tomando
35 ciência da gravidez da Recorrente, a Reclamada dispensou-a sem justa causa, pagando-lhe
36 somente férias proporcionais, com adicional de 1/3, e 13º salário proporcional. Sendo assim, a
37 Recorrente ajuizou reclamação trabalhista, a qual, porém, foi julgada totalmente improcedente
38 pelo juízo a quo, em decisão que merece reforma, como se passa a demonstrar.

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39 III. DO CONTRATO DE TRABALHO POR PRAZO INDETERMINADO. DO DIREITO


40 AO AVISO PRÉVIO – De início, importa destacar que o contrato de experiência da Recorrente
41 transmudou-se em contrato de trabalho por prazo indeterminado (art. 5º, § 2º, LC 150/2015),
42 uma vez que, após os 30 dias acertados, não se ajustou sua prorrogação, nem a Recorrente
43 interrompeu a prestação dos serviços. Com isso, seria devido o pagamento de aviso prévio
44 (art. 23, caput, da LC 150/2015) para a dispensa, sem justo motivo, da Recorrente, inclusive
45 com os reflexos sobre as férias (mais o terço) e a gratificação natalina proporcionais (art. 23,
46 § 1º, LC 150/2015), tendo em vista que o período do aviso se integra ao tempo de serviço do
47 empregado.

48 IV. DO DIREITO À ESTABILIDADE PROVISÓRIA – A Recorrente engravidou no curso


49 do contrato de trabalho, fazendo jus, portanto, à estabilidade provisória, desde a confirmação
50 da gravidez até 5 meses após o parto (art. 25, parágrafo único, LC 150/15 e art. 10, II, ADCT),
51 o que lhe confere o direito a ser reintegrada no emprego (Súmula 244, II, TST). Destaque-
52 se que a Recorrente faria jus à estabilidade provisória mesmo que a confirmação do estado
53 gravídico houvesse ocorrido no curso do contrato de experiência (Súmula 244, III, TST), o
54 qual, conforme foi demonstrado acima, transmudou-se em contrato de trabalho por tempo
55 indeterminado.

56 V. DA ILEGALIDADE DOS DESCONTOS EFETUADOS – A LC 150/2015 proíbe


57 o empregador de efetuar descontos no salário do empregado em virtude de fornecimento
58 de alimentação e produtos de higiene (art. 18). Assim, os descontos feitos pela Recorrida
59 nessas categorias foram indevidos, devendo ser restituídos. Por outro lado, o vale-transporte
60 foi descontado em percentual excessivo (20%), pois a Lei 7.418/1975 o limita a 6% do salário
61 (art. 4º, parágrafo único). Essa diferença, por conseguinte, também deve ser restituída à
62 Recorrente.

63 VI. DO DIREITO ÀS HORAS EXTRAS – A Recorrente, na condição de empregada


64 doméstica, tem assegurado o direito à jornada de 8 horas diárias e 44 horas semanais (art. 7º,
65 parágrafo único, da CRFB). Contudo, laborou sempre das 8h às 17h, com um intervalo de 45
66 minutos para almoço, de modo que sua jornada diária totalizava 8 horas e 15 minutos. Incide,
67 no caso, o enunciado no 437, I, da Súmula do TST: por não lhe ter sido concedido o intervalo
68 intrajornada mínimo de 1 hora (art. 13, LC 150/2015), a Recorrente faz jus ao adicional de
69 hora extra correspondente a todo o período do intervalo (1 hora), sem prejuízo do adicional de
70 50% pelo excesso de 15 minutos diários, o que resulta em 1 hora e 15 minutos extraordinários
71 por dia. Observe-se que não houve acordo escrito entre a Recorrente e a Recorrida para a
72 compensação das horas, nem semelhante compensação ocorreu na prática, restando íntegro
73 o direito da Recorrente ao pagamento de 1 hora e 15 minutos por dia, com acréscimo do
74 percentual de 50%, a título de horas extraordinárias.

75 VII. DOS PEDIDOS – Ante o exposto, requer-se que o presente recurso ordinário

ALUNO: mirlonfernando pág. 18


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76 seja conhecido e provido, condenando-se a Recorrida a: a) promover a reintegração da


77 Recorrente ao emprego ou indenizá-la pelo período correspondente à estabilidade provisória;
78 b) no caso de não reintegrar a Recorrente, efetuar o pagamento dos valores devidos a título de
79 aviso prévio e os seus reflexos nas férias e na gratificação natalina, assim como das demais
80 verbas rescisórias; c) ainda no caso de não reintegrar a Recorrente, proceder à retificação
81 da anotação de dispensa em sua CTPS, alterando-se a data do término do contrato, com a
82 projeção do aviso prévio, conforme OJ 82,SDI-I, TST; d) em qualquer hipótese, devolver os
83 valores descontados indevidamente do salário da Recorrente, em virtude de alimentação,
84 higiene e vale-transporte, nos termos acima, e) pagar os valores correspondentes a 1 hora e
85 15 minutos extras por dia, acrescidos do adicional de 50%, em razão do excesso de jornada
86 e da não concessão integral do intervalo intrajornada mínimo de 1 hora para alimentação e
87 descanso.

88 Campo Grande, 12 de maio de 2017.

89 Defensor Público Federal

COMENTÁRIO

ESPELHO PONTUAÇÃO

1. Apresentação e estrutura textual (inclusive fluência e ortografia). 2,5

2. Interposição no juízo de primeiro grau (vara do trabalho) de Campo


2,5
Grande/MS e endereçamento ao tribunal.

3. Argumentação no sentido de que o contrato se transmudou em por prazo


1,5
indeterminado (art. 5º, § 2º, LC 150/2015).

4. Argumentação no sentido de que é necessário o pagamento de aviso


prévio de 30 dias e o reflexo nas férias + ⅓ e 13º salário (art. 23, § 1º, LC 1,5
150/15), após o período estabilitário.

5. Argumentação no sentido de que o desconto de 25% a título de refeição,


bem como do desconto referente aos itens de higiene, é vedado (art. 18, LC 1,5
150/15).

6. Argumentação no sentido de que o vale transporte foi cobrado em excesso,


pois o máximo de desconto é de 6% do salário base do trabalhador (art. 4º, 1,5
parágrafo único, Lei 7.418/85).

7. Argumentação no sentido de que Maria faz jus a uma hora extra diária,
pela supressão do intervalo intrajornada de uma hora (art. 13, LC 150/15 e 1,5
Súmula nº 437, TST).

ALUNO: mirlonfernando pág. 19


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8. Maria trabalhava mais de oito horas por dia, sem que o enunciado tenha
1,5
mencionado qualquer acordo de compensação (art. 2º, § 4º, LC 150/15).

9. Argumentação no sentido de a gravidez enseja estabilidade (art. 25,


1,5
parágrafo único, LC 150/15 e Súmula 244 do TST).

10. Pedido de reforma da sentença para: a) reintegração ou indenização


pelo período de estabilidade; b) pagamento de aviso prévio e seus reflexos
nas férias e décimo terceiro, após o período estabilitário; c) retificação da
anotação da dispensa, com a projeção do aviso prévio (OJ 82, TST); d)
3,5
devolução do desconto de alimentação e produtos de higiene; e) devolução
do excesso do desconto do vale transporte; f) pagamento de hora extra pela
supressão de intervalo intrajornada; g) pagamento de hora extra por excesso
da jornada legal.

11. Tempestividade (art. 775, CLT) - dia 12/05/2017. 1,0

TOTAL 20,0

Ponto do edital abordado: 28. Trabalho Doméstico.

Caros alunos,

No início de praticamente cada e-mail recebido, vinha um pedido de desculpas, por ausência de
familiaridade com o Direito do Trabalho. A boa notícia é que, no geral, esse desconforto noticiado
com a matéria não prejudicou um desempenho geral muito bom por parte de vocês. É assim
mesmo: vamos tentando e aprendendo. Ressalto o que disse Caio: é importante, desde logo,
treinar as questões dissertativas e peças, pois, assim, podemos, com tempo, ver o que se passa
na cabeça de vocês e tentar, no que estiver ao nosso alcance e for possível, dar a nossa opinião
sobre como seria mais fácil acertar o espelho.

Nesta questão, procuramos abordar aspectos sobre as regras aplicáveis às relações de trabalho
dos empregados domésticos, sobretudo com base na LC 150/2015.

Primeiramente, discutiremos as questões de mérito que constaram do espelho, para, em seguida,


pontuar os aspectos processuais, sempre fazendo observações sobre teses utilizadas nas peças
que vocês enviaram (no intuito de que vocês tenham atenção e acertem na prova).

1. Caracterização de contrato de trabalho por tempo indeterminado e concessão de aviso


prévio, com seus reflexos.

De início, seria necessário ao candidato identificar que a continuidade na prestação dos serviços,
por parte de Maria, na residência de Joana, tem o condão de transmudar a natureza do contrato
de trabalho, que deixa de ser por prazo determinado (contrato de experiência), passando a

ALUNO: mirlonfernando pág. 20


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ser um contrato de trabalho por tempo indeterminado. Nesse sentido, o artigo 5º, § 2º, da LC
150/2015, dispõe que “o contrato de experiência que, havendo continuidade do serviço, não for
prorrogado após o decurso de seu prazo previamente estabelecido ou que ultrapassar o período
de 90 (noventa) dias passará a vigorar como contrato de trabalho por prazo indeterminado.” Muitos
alunos, embora tenham reconhecido que o contrato passaria a vigorar por tempo indeterminado,
tomaram como base dispositivos da CLT, e não a LC 150/2015. Como se tratava de empregado
doméstico, seria fundamental que as respostas viessem fundamentadas, sempre que possível, na
citada lei complementar.

A consequência lógica da transformação do contrato de trabalho em “por tempo indeterminado” é


a necessidade de concessão de aviso prévio ao empregado quando da dispensa, pois, nesta nova
modalidade contratual, ele passa a contar com a perenidade do vínculo empregatício. Acerca do
aviso prévio do empregado doméstico, o artigo 23 da LC 150/2015 estabelece o seguinte:

Art. 23. Não havendo prazo estipulado no contrato, a parte que, sem justo motivo,
quiser rescindi-lo deverá avisar a outra de sua intenção.

§ 1º O aviso prévio será concedido na proporção de 30 (trinta) dias ao empregado


que conte com até 1 (um) ano de serviço para o mesmo empregador.

§ 2º Ao aviso prévio previsto neste artigo, devido ao empregado, serão acrescidos 3


(três) dias por ano de serviço prestado para o mesmo empregador, até o máximo de 60
(sessenta) dias, perfazendo um total de até 90 (noventa) dias.

§ 3º A falta de aviso prévio por parte do empregador dá ao empregado o direito aos


salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a integração desse
período ao seu tempo de serviço.

§ 4º A falta de aviso prévio por parte do empregado dá ao empregador o direito de


descontar os salários correspondentes ao prazo respectivo.

§ 5º O valor das horas extraordinárias habituais integra o aviso prévio indenizado.

Portanto, como demonstra o dispositivo transcrito, o direito ao aviso prévio repercutirá em outras
verbas devidas, como as férias e o 13º, o que também deveria ter sido argumentado e requerido
na questão.

2. Ilegalidade dos descontos efetuados a título de alimentação e higiene e, em relação ao


vale-transporte, ilegalidade do desconto realizado acima de 6% do salário base.

No que diz respeito aos descontos efetuados, é preciso ter em mente o que preconiza o artigo 18
da LC 150/2015: “é vedado ao empregador doméstico efetuar descontos no salário do empregado
por fornecimento de alimentação, vestuário, higiene ou moradia, bem como por despesas com
transporte, hospedagem e alimentação em caso de acompanhamento em viagem.” Assim,

ALUNO: mirlonfernando pág. 21


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percebam que a vedação do dispositivo, em relação à proibição de descontos com transportes,


refere-se especificamente ao caso de acompanhamento em viagem. Realmente, seria imoral que
o empregado doméstico, subordinado que é ao empregador, tivesse que arcar com os custos de
transporte em viagens de trabalho. Entretanto, para o transporte do dia-a-dia, o próprio artigo 19
da LC 150/2015 permite a aplicação, à relação de trabalho doméstico, da Lei nº 7.418/1985, que
institui o vale-transporte.

O artigo 4º, parágrafo único, deste último diploma legal, por sua vez, estipula que “o empregador
participará dos gastos de deslocamento do trabalhador com a ajuda de custo equivalente à
parcela que exceder a 6% (seis por cento) de seu salário básico.” Sendo assim, a interpretação do
dispositivo, a contrario sensu, permite concluir, corretamente, que é possível o desconto de até 6%
do salário básico do empregado doméstico para fins de vale-transporte.

Dessa forma, no caso narrado, enquanto para os descontos referentes à moradia e materiais de
higiene seria devida a devolução de todas as supressões realizadas por Joana, em relação ao
vale-transporte, a devolução a ser requerida deveria ser, apenas, da diferença percentual entre o
desconto realizado a maior (20%) e os 6% permitidos pela lei.

3. Consequência da redução ou supressão do intervalo intrajornada e da sobrejornada de


Maria.

Além disso, muitos (muitos, muitos) alunos se equivocaram em relação à redução do intervalo
intrajornada para menos de uma hora, sem existência de prévio acordo, alegando que o adicional
de 50% seria devido somente sobre a diferença entre o intervalo concedido e o mínimo de 1 hora
(ou seja, alegaram que apenas os quinze minutos faltantes para completar o intervalo mereciam
ser remunerados como hora extra). O entendimento sumulado do TST, contudo, colide com essa
linha de pensamento.

De fato, o artigo 13, caput, da LC 150/2015, estabelece que, em regra, o intervalo para repouso e
alimentação (intervalo intrajornada) deve ser concedido por, no mínimo, 1 e, no máximo, 2 horas,
podendo, mediante prévio acordo escrito, ser reduzido para 30 (trinta) minutos. Não foi o caso da
questão: Maria só tinha direito a 45 minutos de intervalo intrajornada, situação que, de acordo com
o enunciado nº 437, I, da Súmula do TST, equivale à supressão total de intervalo, devendo a hora
inteira ser considerada como extraordinária e remunerada com o adicional de 50%. A redação do
verbete é a seguinte:

Súmula 437

INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. APLICAÇÃO DO


ART. 71 DA CLT

I - Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão ou a concessão parcial


do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados

ALUNO: mirlonfernando pág. 22


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urbanos e rurais, implica o pagamento total do período correspondente, e não


apenas daquele suprimido, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da
remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT), sem prejuízo do cômputo
da efetiva jornada de labor para efeito de remuneração.

II - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a


supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene,
saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e
art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva.

III - Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, § 4º, da CLT, com redação
introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou
reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação,
repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais.

IV - Ultrapassada habitualmente a jornada de seis horas de trabalho, é devido o gozo


do intervalo intrajornada mínimo de uma hora, obrigando o empregador a remunerar o
período para descanso e alimentação não usufruído como extra, acrescido do respectivo
adicional, na forma prevista no art. 71, caput e § 4º da CLT.

Observem, ainda, que os 15 minutos trabalhados diariamente por Maria além das 8 horas também
devem ser remunerados como horas extras, nos termos da parte final do inciso I do enunciado, já
que a jornada efetivamente trabalhada por Maria perfazia 8 horas e 15 minutos. Ela deve receber,
como horas extras, o equivalente a 1 hora de trabalho (referente ao intervalo intrajornada mínimo
não concedido), sem prejuízo dos citados 15 minutos, trabalhados a mais, o que resulta em 1 hora
e 15 minutos extras por dia, a serem pagos com o adicional de 50%.

4. Estabilidade da gestante

O artigo 10, II, “b”, do ADCT, garante à empregada gestante estabilidade desde a confirmação da
gravidez até cinco meses após o parto. Nesse sentido, o art. 25, parágrafo único, da LC 150/2015,
reforça: “a confirmação do estado de gravidez durante o curso do contrato de trabalho, ainda
que durante o prazo do aviso prévio trabalhado ou indenizado, garante à empregada gestante
a estabilidade provisória prevista na alínea “b” do inciso II do art. 10 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.” Embora o contrato de Maria fosse por tempo indeterminado, pela
continuidade dos serviços, como já se argumentou, seria interessante, também, demonstrar que,
ainda que se tratasse de contrato de experiência, haveria direito à estabilidade, de acordo com o
enunciado nº 244 da Súmula do TST, in verbis:

Súmula 244

GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA.

I - O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao

ALUNO: mirlonfernando pág. 23


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pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, “b” do ADCT).

II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante


o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais
direitos correspondentes ao período de estabilidade.

III - A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10,
inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo
na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado.

5. Considerações sobre a formulação dos pedidos.

Diante dos argumentos de direito apresentados, os pedidos, que devem sempre corresponder às
teses desenvolvidas, deveriam ser: a) reintegração ou indenização pelo período de estabilidade e,
neste último caso: b) pagamento de aviso prévio e seus reflexos nas férias e décimo terceiro, após
o período estabilitário; c) retificação da anotação da dispensa, com a projeção do aviso prévio (OJ
82, SDI-I TST); d) devolução do desconto de alimentação e produtos de higiene; e) devolução do
excesso do desconto do vale transporte; f) pagamento de hora extra pela supressão de intervalo
intrajornada; g) pagamento de hora extra por excesso da jornada legal.

Detenho-me no pedido de letra “c”, que decorre da OJ 82 da SDI-I, a qual dispõe: “a data de saída
a ser anotada na CTPS deve corresponder à do término do prazo do aviso prévio, ainda que
indenizado”. Assim, ocorre uma projeção do fim do contrato de trabalho, que só findará com o fim
do período do aviso prévio.

Ainda quanto aos pedidos, é interessante especificá-los um a um, pois, muitas vezes, constituem
uma parte autônoma da pontuação, e é assim também na prática, pois, no tópico dos pedidos,
relembramos ao juízo qual é a nossa pretensão. Além disso, é importante pedir em uma ordem
lógica e coerente. Primeiro, pede-se o conhecimento e provimento do recurso, para, em seguida,
fazer a formulação dos pedidos de mérito. Dentro dos pedidos de mérito, igualmente, deve haver
uma sequência lógica. Por exemplo: pedir o pagamento de verbas rescisórias e, logo em seguida,
a reintegração de Maria, não é factível. Se ela for reintegrada, serão devidas apenas as verbas
correspondentes aos salários e reflexos do período de afastamento indevido. Se, entretanto,
persistir a vontade de dispensá-la após o período estabilitário, ou sendo impossível a reintegração,
aí sim, ela receberá as verbas rescisórias.

6. Considerações sobre a contagem do prazo: inaplicabilidade do artigo 219 do CPC ao


processo do trabalho e prazo em dobro para a DP.

Muitos alunos também se equivocaram quanto à contagem do prazo para interposição do recurso
e à indicação do termo final. Duas considerações são importantes: primeiro, aplica-se o prazo em
dobro a todas as manifestações da Defensoria Pública, nos termos do art. 186, caput, CPC, salvo
se a lei estabelecer expressamente um prazo próprio para a Defensoria. No mesmo sentido, o art.

ALUNO: mirlonfernando pág. 24


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44, I, da LC 80/94; segundo, não se contam os prazos processuais em dias úteis na Justiça do
Trabalho.

Com efeito, o Tribunal Pleno do TST aprovou, em março de 2016, a Instrução Normativa 39/2016,
esclarecendo que o art. 219 do CPC não se aplica ao processo trabalhista, pois a legislação de
regência não é omissa, e o CPC encontra aplicação apenas subsidiariamente (art. 2º, III).

Dessa forma, tendo havido a intimação pessoal do Defensor Público no dia 26/04/2017, o termo
inicial para interpor o recurso é o dia seguinte, 27/04/2017. Sendo de 8 dias o prazo para recurso
ordinário (art. 895, I, CLT), e computando-se em dobro, basta contar 16 dias, com início em 27/04,
de modo que o termo final (data correta requerida pela questão) é o dia 12/05/2017.

7. Alerta: organização da Justiça do Trabalho e formatação de peças.

No aspecto formal, também faço uma recomendação a todos para que estudem a organização da
Justiça do Trabalho. Alguns alunos endereçaram a petição de interposição ao “juiz de direito” ou
ao “juiz federal”; outros interpuseram o recurso diretamente no Tribunal, o que demonstra certo
desconhecimento acerca do funcionamento da Justiça do Trabalho, bem como do processamento
dos recursos.

Assim, por exemplo, no endereçamento, era necessário atentar para o fato de que a localidade da
prestação dos serviços foi apontada no enunciado da questão, de modo que a reclamação deveria
ser endereçada ao juízo trabalhista de Campo Grande/MS.

Aliás, sobretudo quem teve pontos descontados nos dois primeiros itens do espelho deve prestar
atenção na estrutura do recurso ordinário. Nesse recurso, a petição de interposição é feita no juízo
de primeiro grau, enquanto as razões são endereçadas ao Tribunal Regional do Trabalho, que será
o responsável pela reforma da decisão.

Recomendo a vocês, futuros Defensores Públicos Federais, que mantenham um caderno com os
modelos de peças de cada matéria, nos quais vocês podem escrever a estrutura básica de cada
uma, com seus fundamentos de cabimento e tempestividade.

8. Considerações finais.

A respeito dos honorários advocatícios: embora haja alguma discussão em torno do art. 4º, XXI,
da LC 80/94 (“São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras: XXI – executar
e receber as verbas sucumbenciais decorrentes de sua atuação, inclusive quando devidas por
quaisquer entes públicos, destinando-as a fundos geridos pela Defensoria Pública e destinados,
exclusivamente, ao aparelhamento da Defensoria Pública e à capacitação profissional de seus
membros e servidores), na esfera trabalhista adota-se uma sistemática própria.

Com efeito, para que sejam devidos honorários advocatícios em causas que tramitam perante a
Justiça do Trabalho, é necessário que o empregado, além de sair vencedor da demanda, seja a)

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beneficiário da justiça gratuita e b) assistido por sindicato da categoria. Nesse sentido, dispõe o
enunciado 219 da Súmula do TST, transcrito a seguir:

Súmula 219

I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários


advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte,
concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional;
b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou
encontrar-se em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo
do próprio sustento ou da respectiva família (art.14, § 1º, da Lei nº 5.584/1970). (ex-
OJ nº 305 da SBDI-I).

II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação rescisória


no processo trabalhista.

III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure
como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego.

IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a


responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência
submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90).

V – Em caso de assistência judiciária sindical ou de substituição processual sindical,


excetuados os processos em que a Fazenda Pública for parte, os honorários advocatícios
são devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, § 2º).

VI - Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais


específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.

Quanto à transcrição de dispositivos, embora não haja nenhuma vedação nesse sentido, em uma
peça com tantas teses como esta e com o reduzido espaço de que vocês dispunham não é nem
um pouco recomendável gastar as linhas transcrevendo a íntegra de artigos. A simples indicação
seria suficiente.

No mais, pessoal, continuem com o bom trabalho e procurem não esmorecer.

Sigam firmes nos estudos e contem conosco!

Um abraço,

Maria Helena

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MELHORES RESPOSTAS

CARINA

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LISS

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