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Fatores de risco cardiovascular em adolescentes de município do sul do Brasil Rev Bras Epidemiol
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les dos grandes centros, o que possibilita privadas). A população alvo consistiu de es-
um melhor planejamento e organização colares de 14 a 19 anos de idade (N = 1.642),
dos serviços de saúde. O estudo teve como regularmente matriculados no sistema de
objetivo determinar a prevalência de fato- ensino no ano de 2006.
res de risco cardiovascular, considerando A amostra foi probabilística, estratifi-
indicadores comportamentais e biológicos, cada, proporcional por sexo e nível econô-
e analisar sua associação com variáveis mico, a partir dos seguintes parâmetros:
sociodemográficas em adolescentes do intervalo de confiança de 95%, erro amos-
município de Três de Maio/RS. tral tolerável de 3,5 pontos percentuais,
prevalência de 40% de sedentarismo2 (por
Métodos oferecer maior variabilidade, considerando
o cálculo de variância em distribuições
Este estudo caracterizou-se como trans- binomiais e, por conseguinte, necessitar
versal de base escolar. Realizado na zona ur- de maior tamanho amostral) e mais 40%
bana da cidade de Três de Maio, cujos dados para perdas e recusas, principalmente pela
foram coletados de junho a julho de 2006. O necessidade de coleta de sangue.
projeto do estudo foi aprovado pelo Comitê Os sujeitos que compuseram a amostra
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos foram selecionados em dois estágios. No
da Universidade Federal de Santa Catarina primeiro estágio foram criados dois estratos
(parecer nº 41/2006). A coleta de dados proporcionais: um por sexo com duas cate-
aconteceu após autorização dos responsá- gorias (feminino e masculino) e outro por
veis legais locais (secretário municipal de nível socioeconômico com três categorias
saúde e coordenador regional de educação). (alta, média e baixa). Na sequência, para
A secretaria municipal de saúde disponibili- cada escola, foram elaboradas duas listas
zou material e equipe técnica para a coleta segundo sexo, constando os adolescentes
de dados. Na sequência foram contatos os de 14 a 19 anos de idade regularmente ma-
diretores das escolas. Os responsáveis ou triculados, ordenados alfabeticamente. A
participantes do estudo assinaram o Termo seleção se deu de forma sistemática.
de Consentimento Livre e Esclarecido. O cálculo do poder estatístico da amos-
Três de Maio é um município de pe- tra foi realizado a posteriori. Neste estudo
queno porte localizado na região noroeste foi possível detectar significância estatística
do Estado do Rio Grande do Sul, pertence à para razões de prevalência (RP) iguais ou
microrregião de Santa Rosa, e está distante superiores a 1,24, considerando prevalência
475 quilômetros da capital do Estado, Porto de sedentarismo nos não expostos de 50%,
Alegre. Possuía uma população estimada para um intervalo de confiança de 95% e
em 24.245 habitantes (2006)14. A população poder de 80%.
é constituída, predominantemente, por Para a coleta dos dados foi composta
descendentes das etnias alemã, italiana, uma equipe que incluiu duas estagiárias,
polonesa, sendo caracterizada por forte uma técnica de enfermagem, uma nutricio-
miscigenação entre os grupos. O município nista, um bioquímico e uma profissional de
possui economia basicamente primária e educação física. Esta equipe foi previamente
área territorial de 424,2 km². O Índice de treinada e calibrada em estudo piloto.
Desenvolvimento Humano (IDH, 2000) era As informações sociodemográficas
de 0,83, segundo o último levantamento (sexo, idade e nível econômico) e os fatores
publicado no Atlas do Desenvolvimento de risco cardiovascular de natureza compor-
Humano no Brasil, (1991/2000)15. tamental foram avaliados por meio de ques-
Todas as escolas urbanas (N = 7) que tionário, com base em outros instrumentos
ofereciam ensino fundamental (8ª série), previamente validados e/ou utilizados por
médio (1ª a 3ª séries) e cursos técnicos outros estudos com escolares8,9.
foram incluídas no estudo (5 públicas e 2 Neste estudo as idades foram agrupadas
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em faixas etárias: 14 a 16 anos e 17 a 19 anos. O tabagismo foi identificado por meio
O nível econômico foi baseado no padrão de de uma questão fechada do Global School-
consumo e no grau de instrução do chefe da Based Student Health Survey19. Foi consi-
família e identificado por meio do Critério derado fumante o adolescente que referiu
de Classificação Econômica Brasil (ABEP, fumar um ou mais dias nos últimos 30 dias,
2003)16. Para fins de análise, no presente independentemente da quantidade. Os fa-
estudo, optou-se por agrupar em dois níveis: tores de risco cardiovasculares de natureza
A e B (alta), C, D e E (média e baixa). biológica foram identificados por meio de
Para a avaliação do nível de atividade variáveis antropométricas, hemodinâmi-
física foi utilizada uma lista de atividades cas e bioquímicas, sendo considerados,
físicas (atividades físicas no lazer, deslo- neste estudo, o excesso de peso (sobrepeso
camento, trabalho e aulas de educação e obesidade), o excesso de adiposidade
física), culturalmente adaptadas à realidade abdominal, a pré-hipertensão e a hiperten-
pesquisada. Os adolescentes informaram a são arterial sistêmica, a hiperglicemia e as
frequência (dias/semana) e duração (mi- dislipidemias.
nutos/dia) das atividades físicas praticadas Os indivíduos foram pesados e medidos
nos últimos sete dias. Foi utilizada uma sem calçados e com um mínimo de roupa
lista com 18 atividades físicas moderadas possível, segundo procedimentos padroni-
a vigorosas (AFMV), com espaço reservado zados20. Utilizou-se uma balança Filizola®
para adição de outras atividades por parte mecânica com estadiômetro acoplado
dos adolescentes. Determinou-se o nível de (precisão de 100 gramas e capacidade de
atividade física com base no somatório do 150 quilogramas), calibrada pelo Instituto
produto da frequência e duração das ati- Nacional de Metrologia, Normalização e
vidades praticadas (minutos/sem/AFVM). Qualidade Industrial do Rio Grande do Sul
Considerou-se sedentário o adolescente (INMETRO-RS). Com base nessas medidas
que tivesse praticado menos de 300 minutos determinou-se o índice de massa corporal
de atividades físicas moderadas a intensas [IMC = peso (kg) /estatura2 (m)]. Para a
nos últimos sete dias17. classificação do IMC foram utilizados os
A dieta habitual foi identificada por meio pontos de corte sugeridos pelo International
de inquérito alimentar. Os adolescentes Obesity Task Force (IOTF)21.
foram estimulados a informar o tipo e a A circunferência de cintura (CC) foi
quantidade, em medidas caseiras, de cada mensurada por com uma fita antropo-
alimento consumido em cada uma das métrica em fibra de vidro (marca Mabis)
refeições (café da manhã, lanches, almoço, no ponto médio entre a última costela e a
jantar e extras), considerando sua dieta crista ilíaca e, considerada a sua média, os
habitual, nos últimos 15 dias. Para a deter- pontos de corte utilizados foram sugeridos
minação da dieta aterogênica utilizou-se por Katzmarzyk et al (2004)22.
um inquérito alimentar e as informações A pressão arterial foi verificada por meio
foram avaliadas pelo programa de nutrição do método auscultatório, utilizando-se um
DietPro 4.0 (Viçosa, Minas Gerais). Foram esfigmomanômetro de coluna de mercúrio
analisadas as quantidades de lipídeos, com manguito adequado à circunferência
colesterol, sódio e o percentual de ácidos do braço. A medida foi realizada no braço
graxos saturados totais (AGST). Foi conside- direito à altura do coração após o estudante
rado consumo inadequado a ingestão diária permanecer 5 minutos em repouso sentado.
superior a 200 mg de colesterol, 2.300 mg de Foram efetuadas até três medidas em
sódio, 7% de AGST e 30% do valor calórico dias diferentes. Primeira medida: todos os
total de lipídeos. A dieta foi considerada adolescentes selecionados para participar
aterogênica quando pelo menos um dos do estudo (n = 660). Segunda medida: aque-
componentes estava sendo consumido fora les que apresentaram pré-hipertensão ou
das recomendações4,18. hipertensão na primeira medida (n = 69).
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Terceira medida: os que foram identificados quência, calculou-se a razão de prevalência
com pré-hipertensos ou hipertensos na entre cada fator de risco cardiovascular e
segunda aferição (n = 33). as variáveis sociodemográficas. A associa-
Foi considerado como pré-hipertensão a ção estatística ficou evidenciada quando
pressão arterial sistólica (PAS) e/ou pressão o valor de p ≤ 0,05. Adotou-se intervalo de
arterial diastólica (PAD) > percentil 90 e < confiança de 95%.
95 e hipertensão arterial sistêmica a PAS e/ Os dados foram organizados Microsof
ou PAD ≥ ao percentil 95 para sexo, idade Office Excel© versão 2003 e analisados no
e altura em três ocasiões distintas4. As va- programa STATA versão 7.0. Foram sorte-
riáveis bioquímicas foram analisadas com ados e redigitados 10% do total dos dados
sangue coletado nas escolas; para isso foram e encontrada baixa inconsistência (0,2%).
utilizados 5 ml de sangue venoso na prega Em seguida, os dados foram checados ma-
do cotovelo, após jejum de 10 a 12 horas. O nualmente e possíveis valores discrepantes
colesterol total (CT), as lipoproteínas de alta foram conferidos no protocolo de pesquisa.
densidade (HDL-C) e a glicemia foram de-
terminadas por método enzimático, método Resultados
direto e método enzimático colorimétrico,
respectivamente, com reagentes e instru- A amostra ficou composta por 660 ado-
mentos do mesmo lote (BioSystems®, Barce- lescentes (317 rapazes e 343 moças), totali-
lona, Espanha). Os pontos de corte adotados zando 2,8% de perdas (não participação nas
para dislipidemias foram CT ≥ 170mg/dL4; duas etapas da coleta, falta às aulas nos dias
HDL–C < 45mg/dL4; não-HDL-C (não-HDL- da coleta ou transferência escolar) e 6% de
C = CT-HDL‑C) >165mg/dL23; para hipergli- recusas. A média de idade foi de 16,05 anos
cemia, glicose ≥ 100mg/dL24. (desvio padrão – DP = 1,3) para os rapazes
Foi realizado o controle de qualidade e 15,76 anos (desvio padrão – DP = 1,3) para
das informações obtidas. Os questionários e as moças.
inquérito alimentar foram orientados e con- Dentre os adolescentes que participa-
duzidos em pequenos grupos, sempre pelos ram do estudo, 65,8% encontravam-se na
mesmos avaliadores, previamente treinados faixa etária de 14 a 16 anos e 63,3% perten-
em estudo piloto. As medidas antropomé- ciam ao nível econômico C, D e E (Tabela 1).
tricas foram realizadas em duplicata no Dentre os 98,3% dos adolescentes que
período da manhã (após a coleta sanguí- apresentaram uma dieta aterogênica, 95,4%
nea) por uma única antropometrista que consumiam na sua alimentação habitual
apresentou erro técnico de medida baixo proporções de ácidos graxos saturados
(< 1%) e anotada por uma única apontadora, totais (AGST) (95,2%) e de sódio (59,4%).
segundo padronização pré-estabelecida. A Os fatores de risco de maior prevalência
medida da pressão arterial foi realizada por nos adolescentes três-maienses, em ordem
um único profissional experiente. Foram decrescente, foram: dieta aterogênica, se-
sorteados 5% do total dos exames bioquími- dentarismo, excesso de adiposidade abdo-
cos e realizada uma nova análise, não sendo minal, HDL-C baixo e colesterol total (CT)
verificadas inconsistências na comparação elevado (Tabela 1). As moças apresentaram
entre os resultados. prevalências superiores de sedentarismo
Inicialmente foram calculadas as preva- (Tabela 2), de excesso de adiposidade abdo-
lências das variáveis dependentes (fatores minal (Tabela 3) e de CT aumentado (Tabela
de risco cardiovascular) e nos diversos 4); por outro lado, os rapazes obtiveram
estratos de cada uma das variáveis indepen- maiores prevalências de dieta aterogênica,
dentes analisadas (sexo, idade, nível econô- pré-hipertensão/hipertensão arterial (Tabe-
mico). Utilizou-se o teste do qui-quadrado la 3) e de HDL-C baixo (Tabela 4).
para identificação das diferenças entre os Dentre os fatores de risco comporta-
estratos das variáveis estudadas. Na se mentais, observou-se que o sedentarismo
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Tabela 1 - Descrição das variáveis sociodemográficas, prevalência (%) dos fatores de risco
cardiovascular e intervalos de confiança de (IC95%). Três de Maio, RS, Brasil.
Table 1 - Description of sociodemographic variables, prevalence (%) of cardiovascular risk factors
and confidence intervals (CI95%). Três de Maio, RS, Brazil.
foi 33% maior entre as moças do que entre de adiposidade abdominal foi duas vezes e
os rapazes. Quanto à dieta aterogênica meia maior do que a de um rapaz (Tabela
pode-se observar que, quando comparadas 3). Da mesma forma, encontrou-se uma
as proporções, existem diferenças signifi- prevalência de CT elevado 89% superior
cativas entre os sexos; todavia, quando se no sexo feminino em relação ao masculino.
analisa a razão de prevalência a mesma Quanto ao HDL-c, os rapazes apresentaram,
perde a significância. Com relação ao taba- aproximadamente, duas vezes mais possi-
gismo, aqueles com 17 a 19 anos têm 86% bilidades de tê-lo em valores baixos quando
mais probabilidade de serem fumantes do comparados às moças (Tabela 4).
que os mais jovens (Tabela 2). Os fatores de A probabilidade de os rapazes apresen-
risco de natureza biológica, em sua maioria, tarem pré-hipertensão/hipertensão arterial
apresentaram associação com o sexo. A pro- foi quase cinco vezes maior, quando com-
babilidade de uma moça apresentar excesso parados às moças. No que se refere à idade,
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Tabela 2 - Prevalência de fatores de risco comportamentais, razão de prevalência bruta (RPb) e intervalos de 95% de
confiança (IC95%), segundo variáveis sociodemográficas. Três de Maio, RS, Brasil.
Table 2 - Prevalence of behavioral risk factors, crude prevalence ratio (RPb) and confidence interval (CI 95%), according to
sociodemographic variables. Três de Maio, RS, Brazil.
Tabela 3 - Prevalência de fatores de risco biológicos (variáveis antropométricas e hemodinâmicas), razão de prevalência
bruta (RPb) e intervalos de 95% de confiança (IC95%), segundo
variáveis sociodemográficas. Três de Maio, RS, Brasil.
Table 3 - Prevalence of biological risk factors (anthropometric and hemodynamics variables), crude prevalence ratio (RPb) and
confidence interval (CI 95%), according to sociodemographic variables. Três de Maio, RS, Brazil.
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Tabela 4 - Prevalência de fatores de risco biológicos (variáveis bioquímicas), razão de prevalência
bruta (RPb) e intervalos confiança (IC95%), segundo variáveis sociodemográficas. Três de Maio,
RS, Brasil.
Table 4 - Prevalence of biological risk factors (biochemical variables), crude prevalence ratio (RPb) and confidence interval (CI
95%), according to sociodemographic variables. Três de Maio, RS, Brazil.
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superestimam a participação em atividades é importante relatar a especificidade dos
físicas, sobretudo aqueles que são menos hábitos culturais dos adolescentes gaúchos
ativos fisicamente e os que apresentam residentes em Três de Maio, que incluem
excesso de peso. um elevado consumo de carnes (acresci-
Ainda como limitação, destaca-se que das de altos teores de sódio), o que deve
as análises bioquímicas possibilitam uma contribuir para o aumento das proporções
margem de variação intra-individual. Neste de gorduras saturadas. Esses dados indicam
estudo foi realizada uma segunda análise a necessidade de intervenção. Talvez uma
apenas para 5% da amostra e para os casos estratégia plausível seja a regulamentação
que apresentaram valores discrepantes. das cantinas escolares, adequando-as à
No Brasil, a prevalência de adolescen- promoção de uma alimentação saudável,
tes com níveis insuficientes de atividade além de campanhas educativas que visem
física varia de 39% a 93,5%. Esta variação uma alimentação equilibrada e que sugiram
pode ser influenciada pela diversidade de a moderação no consumo de gorduras sa-
instrumentos utilizados e pela definição turadas e de sódio.
do ponto de corte para os baixos níveis A OMS26 indica que a maioria dos fu-
de atividade física25. O sedentarismo em mantes começam a fazer uso do tabaco an-
adolescentes de Três de Maio/RS foi en- tes dos 18 anos. A prevalência de tabagismo
contrado em uma posição intermediária encontrada em Três de Maio/RS foi inferior
quando comparado às frequências encon- às encontradas pelo Vigescola (que conside-
tradas em outras cidades25. Todavia, con- rou o mesmo critério de classificação), em
siderando as características do município estudo realizado em 12 capitais brasileiras
(pequeno porte, segurança, facilidade para nos anos de 2002/2003 27. Comparada a
o deslocamento ativo, disponibilidade de levantamentos realizados na região sul do
quadras de esporte), esta prevalência pode Brasil, a prevalência de tabagismo foi tam-
ser considerada alta, sugerindo políticas de bém inferior àquela encontrada em Pelotas/
promoção à atividade física que proporcio- RS28 e em Florianópolis/SC2, e superior à de
nem um melhor aproveitamento tanto dos Sapiranga/RS29.
espaços públicos quanto do espaço físico Nesta amostra, rapazes e moças apre-
escolar. O sedentarismo foi superior entre as sentaram comportamentos similares
moças, corroborando resultados de estudos quanto ao tabagismo. Este resultado foi
realizados em Niterói/RJ12, Maceió/AL10 e corroborado por Malcon et al. na cidade de
Londrina/PR7. Pelotas/RS28. Já Bordin et al,29 encontraram
Observou-se uma alta prevalência de em Sapiranga/RS uma predominância de
dieta aterogênica, com predominância no tabagismo no sexo masculino, enquanto
consumo de ácidos graxos saturados totais que Vigescola27 detectou em Porto Alegre/
(AGST) e sódio. A maioria dos estudos que RS uma prevalência mais elevada para o
investigaram a alimentação de adolescen- sexo feminino. Considerando estas diver-
tes caracterizou qualitativamente o tipo de gências na associação do tabagismo com
dieta. Este estudo caracterizou quantitativa- o sexo, pode-se sugerir que, embora estes
mente uma dieta aterogênica. Outras pes- estudos tenham sido realizados no Rio
quisas2,7,9 investigaram o padrão alimentar Grande do Sul, as populações investigadas
de estudantes e identificaram um excesso foram de diferentes regiões do Estado. As
de gordura na sua dieta. Entre adolescentes, questões culturais inerentes a cada reali-
dietas pouco saudáveis são bem relatadas dade podem explicar esse desacordo nos
na literatura (Florianópolis/SC2, Belo Ho- resultados. Os adolescentes mais velhos
rizonte/MG9, Londrina/PR7), o que foi aqui apresentaram uma prevalência superior
corroborado. Todavia, além do consumo de de tabagismo, achados concordantes com
muita fritura (comum aos hábitos alimen- os de outros estudos8,29. A escola, indiscu-
tares dos adolescentes de maneira geral), tivelmente, é um espaço privilegiado para
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a prevenção do tabagismo. São sugeridas, hábitos atuais sejam mantidos.
portanto, ações educativas já no ensino fun- A forte relação existente entre a gordura
damental, buscando minimizar o processo concentrada na região central do corpo e o
de experimentação do cigarro e evitando desenvolvimento de doenças cardíacas e
seu uso regular. metabólicas, torna indispensável a análise
O excesso de peso (sobrepeso/obesi- da distribuição da gordura corporal22. A me-
dade) ocasiona anormalidades na pressão dida da circunferência de cintura (CC) é um
arterial e no metabolismo dos lipídeos e da indicador efetivo na detecção de gordura
glicose e, consequentemente, predispõe central; contudo, sua utilização ainda é inci-
às DCV30. O impacto adverso do excesso piente e são poucas as propostas de pontos
de peso sobre os múltiplos fatores de risco de corte, o que dificulta a comparação dos
cardiovascular requer prevenção primária resultados. Foi detectada uma prevalência
já em idades precoces e, acrescido a estas de 32,6% de excesso de adiposidade abdo-
evidências, estudos apontam que o excesso minal entre os adolescentes três-maienses.
de peso na adolescência tende a persistir na Com relação ao sexo, este estudo identificou
vida adulta31. 45,5% de excesso de gordura abdominal
Estudos nacionais 2,9,10,32,33,34 apresen- entre as moças e 18,6% entre os rapazes.
taram uma variação de 10% a 25,9% na Estudo realizado em Presidente Prudente/
prevalência de excesso de peso. Este estudo SP37 no entanto, detectou 21,8% de obesi-
apresentou excesso de peso [(sobrepeso dade abdominal entre os rapazes e 10,3%
(12%) + obesidade (3%) = excesso de peso nas moças. As diferenças nas prevalências
(15%)] inferior ao encontrado em Pelotas/ encontradas podem ser explicadas pelos
RS32 e em Florianópolis/SC2, similar aos diferentes pontos de corte de CC utiliza-
resultados de Maceió/AL10 e Recife/PE33 e dos, enquanto este estudo utilizou pontos
superior ao excesso de peso encontrado de corte para predizer o agrupamento de
em adolescentes de João Pessoa/PB34 e Belo fatores de risco cardiovascular, enquanto os
Horizonte/MG9. de Presidente Prudente/SP foram gerados
No presente estudo, a prevalência de para identificar a obesidade abdominal. É
excesso de peso não diferiu entre os sexos, o importante que mais estudos utilizem a CC
que foi identificado também em estudo con- para identificar o excesso de adiposidade
duzido na cidade de Pelotas/RS32. Todavia, abdominal e que sejam gerados pontos de
resultados contrários foram encontrados corte para a população pediátrica brasileira.
em outras investigações onde os rapazes Níveis pressóricos elevados em idades
apresentaram maior prevalência34-36. No que jovens tendem a se manter na idade adul-
concerne à idade, os resultados encontrados ta38. As prevalências de pré-hipertensão/
coincidiram com os achados de outros estu- hipertensão arterial encontradas foram
dos34-36, onde o excesso de peso não esteve baixas (1,5% e 1,8%, respectivamente)
associado à idade dos adolescentes. quando comparadas a outros levantamen-
Apesar de sua conhecida origem mul- tos (4,5% - 12%)2,6,10,11,39,40,. A hipertensão
tifatorial, o excesso de peso é influenciado arterial sistêmica é associada, em muitos
por uma alimentação pobre em nutrientes estudos, à cor de pele negra40; assim, a bai-
e rica em energia, aliada à inatividade física. xa prevalência de hipertensão encontrada
Estes fatores apresentaram uma prevalência neste grupo talvez possa ser parcialmente
elevada na população estudada. Ressalta-se explicada pelo fato de a população estudada
a necessidade de uma atenção especial dos ser predominantemente de cor branca. Os
gestores de saúde em implementar ações de rapazes apresentaram prevalência superior
estímulo à promoção de um estilo de vida de pré-hipertensão/hipertensão arterial, o
saudável (alimentação e atividade física) que foi corroborado pelos achados de ou-
para a contenção de possíveis avanços da tros estudos11,40. Neste estudo, observou-se
prevalência de excesso de peso, caso os prevalência superior de pré-hipertensão/
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hipertensão arterial nos adolescentes mais uma relação direta entre as mortalidades
velhos, contrapondo resultados encontra- por doenças isquêmicas do coração em
dos em João Pessoa/PB11. As diferenças me- cidades brasileiras e as médias de coleste-
todológicas podem ser as principais causas rol total de suas crianças. Já a lipoproteína
da grande variabilidade nas prevalências de alta densidade (HDL-C) representa um
de pressão arterial elevada. A realização da fator de proteção para a aterogênese e a sua
medida de pressão arterial em mais de uma diminuição acarreta riscos cardiovascula-
visita, minimizando os possíveis efeitos da res. Neste estudo observou-se um número
“síndrome do jaleco branco”, representa elevado de adolescentes com HDL-C baixo
outro ponto forte deste estudo. A realização (< 45mg/dL); esta frequência foi superior
da medida de pressão arterial em uma úni- a de outras investigações 8,9. Pesquisas3,8
ca visita, mesmo realizando duas ou mais demonstraram que o uso do não-HDL-C
medidas, tende superestimar os valores da consiste um bom indicador de risco para
pressão arterial41. doenças cardiovasculares por incluir todas
Dentre as variáveis bioquímicas analisa- as lipoproteínas aterogênicas. Todavia,
das neste estudo, a hiperglicemia foi a que ainda é incipiente o seu uso, o que dificulta
apresentou menor prevalência (0,9%). Esta a comparação com outros resultados. Em
baixa prevalência encontrada constituiu- estudo prévio realizado na cidade de Floria-
se de fator positivo, pois a hiperglicemia nópolis8, foi encontrada prevalência similar
está associada à aterogênese. Todavia, desta fração de lipoproteínas.
deve-se considerar que o presente estudo As prevalências de CT, HDL-C e não-
não investigou a hiperinsulinemia, o que HDL-C fora das proporções recomendadas
impossibilitou avaliar a resistência à insu- não teve influência da idade. O sexo femi-
lina, que constitui um indicador importante nino apresentou frequências superiores de
que pode preceder os quadros crônicos de CT; e, o sexo masculino, de HDL-C baixo.
hiperglicemia. Importante destacar que as moças, ao
O Estudo do Coração de Bogalusa1,23,30,31 mesmo tempo em que apresentaram maior
tem encontrado muitas respostas acerca das prevalência de níveis de CT elevado, eviden-
dislipidemias e do seu impacto na saúde ciaram, também, maiores proporções de
futura do ser humano, mas ainda há muito HDL-C alto do que os rapazes.
a ser esclarecido. Dosar os lídipes séricos Estas variações existentes no perfil
em crianças e adolescentes não se constitui lipídico entre os sexos podem ser explica-
rotina clínica na área da saúde; no entanto, das pelos hormônios sexuais endógenos.
essa ação é importante em casos de presen- Após a maturação, os níveis de CT e HDL-C
ça de fatores de risco comportamentais e mostram-se mais elevados entre as moças, o
de excesso de peso, pois permite identificar que corresponde aos resultados aqui encon-
precocemente os distúrbios metabólicos trados. Nos rapazes, a redução do HDL-C
das gorduras e, se necessário, intervir ainda parece estabelecer associação negativa com
nessa fase da vida, possibilitando retardar e/ os níveis de testosterona, enquanto que nas
ou impedir o avanço da aterogênese. moças se observa uma associação positiva
O colesterol total elevado (CT > 170mg/ do estradiol com o HDL-C42.
dL) teve uma prevalência de 20,3% na Embora diversas pesquisas 5,8,9,11,33,34
amostra estudada. Entretanto, frequências tenham estabelecido associação entre os
superiores foram encontradas por outros fatores de risco cardiovasculares e os níveis
pesquisadores em Bento Gonçalves/RS5, econômicos, no presente estudo nenhum
Florianópolis/SC8 e Belo Horizonte/MG9. A fator de risco investigado teve influência do
importância do monitoramento dos níveis nível econômico dos adolescentes. Os estu-
de CT em populações pediátricas vai além dos que encontraram associação indicaram
da saúde do próprio jovem, como demons- alguns resultados contraditórios, enquanto
trado por Giuliano (2003)2, que encontrou alguns relacionaram o nível socioeconômi-
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co alto a alguns fatores de risco9,34 e outros valência de dieta aterogênica, sedentarismo
evidenciaram justamente o oposto11,33. Os e excesso de adiposidade abdominal. Suge-
tipos de instrumentos utilizados para esti- re-se, portanto, a realização de projetos de
mar os níveis econômicos podem dificultar intervenção no município pesquisado, por
a comparação dos resultados. No entanto, os meio de informações e de esclarecimentos
resultados aqui obtidos podem sugerir que a que visem promover uma alimentação mais
realidade de uma cidade de pequeno porte saudável, principalmente com redução no
é diferenciada das demais tendo em vista consumo de sal e de ácidos graxos satura-
que o estilo de vida apresenta especificida- dos totais e estímulo à prática de atividade
des e que o custo de vida é bem mais baixo física por meio da ampliação dos espaços
comparado a cidades de médio e grande disponíveis e implantação de programas
porte, podendo-se minimizar as influên- que incentivem a adesão dos adolescentes
cias dos níveis econômicos (especialmente a um estilo de vida fisicamente ativo.
quando medido por meio da aquisição de Às escolas, sugere-se a construção de
bens de consumo) sobre os fatores de risco uma proposta pedagógica interdisciplinar
cardiovascular. que vise a educação à saúde. Mudanças
O tamanho populacional é um indica- individuais e organizacionais podem pro-
dor para a caracterização da identidade mover transformações na comunidade em
municipal. Entretanto, não se pode deixar geral e, desse modo, diminuir o impacto
de mencionar que determinadas caracterís- das doenças cardiovasculares para esta
ticas geográficas, culturais ou econômicas população.
podem influenciar os resultados, indepen-
dentemente do tamanho dos municípios. Agradecimentos
Deste modo, são necessários mais estudos
que versem sobre a prevalência de fatores À Secretaria Municipal de Saúde de Três
de risco cardiovasculares em cidades de de Maio/RS, pelo apoio na realização do
pequeno porte em outros Estados e/ou estudo, em especial a Vanderli Machado de
regiões para que se possa analisar melhor Barros e a Glaci Weber Gauger. A Fernanda
esses contextos e estabelecer metas efeti- Raquel Sartor, Jacira Lucas Taborda, Marli
vas tanto para os grandes centros urbanos Wächter Weber, Janieli Aparecida Tontini e
quanto para as pequenas cidades do interior César Roberto Barcellos de Almeida, agra-
do Brasil. decemos pela colaboração na coleta dos
dados. À Coordenação de Aperfeiçoamento
Conclusão de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela
bolsa concedida para a execução do estudo.
Os dados apresentados neste inquérito
epidemiológico indicaram uma elevada pre- Conflito de interesses: Não há.
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