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Dr.

Manhattan (Tempo)

- Não estabelece ilusão de continuidade (constantemente partida).

Por si só, a sucessão de fatos corresponde à dimensão episódica da narrativa, porquanto


a história é feita de acontecimentos. Enredo é a dimensão configurante, que dos diversos
acontecimentos extrai “a unidade de uma totalidade temporal”, a unidade do texto
enquanto obra. (NUNES, 1988, p. 14).

Tirar dúvida quanto à “sucessão e dimensão episódica” e “totalidade temporal e


sequência de enunciados”. (P. 14 de NUNES).

Tempo pressupõe mudança e se opõe ao conceito de permanência.

O tempo na literatura depende totalmente da linguagem, mas na HQ utiliza-se também o


recurso visual.

De “uma infinita docilidade” o tempo da ficção liga entre si momentos que o tempo real
separa. Também pode inverter a ordem desses momentos ou perturbar a distinção entre
eles, de tal maneira que será capaz de dilata-los indefinidamente ou de contraí-los num
momento único, caso em que se transforma no oposto do tempo, figurando o
intemporal e o eterno. (NUNES, 1988, p. 25).

O tempo para Dr. Manhattan não se trata de flashback ou flashfoward.

Ler: Massaud Moisés. A Criação Literária.

Para George Lukács, o tempo está ligado a forma. (Teoria do romance)

A época do romance é a época do surgimento da História moderna e, não por acaso,


também aquela em que está começando a cronometria do trabalho e da produção, que
levou o controle dos relógios mecânicos, depois que se tornaram mais precisos, a
estender-se sobre toda a vida social. (NUNES, 1988, p. 50).

Watchmen é uma narrativa de tipo estereoscópica, oferecendo pontos de vista de


diversos personagens no decorrer da obra, muitas vezes até mesmo no sentido literal,
permitindo que o leitor observe exatamente o que o personagem está vendo. Essa
técnica, embora popularizada no romance do século XIX, ganha destaque com o
surgimento do cinema e de sua linguagem particular, futuramente assimilada pelos
quadrinhos dos anos 70 e 80.

Watchmen, de certa forma, utiliza-se da temporalidade do romance moderno, e é a


respeito do Dr. Manhattan que isso se torna mais evidente, com estratégias que
visam desconstruir convenções tradicionais de tempo, como William Faulkner o
fez em Som e Fúria e Laurence Sterne em Vida e Opiniões de Tristram Shandy.

OBS: Romance moderno que, segundo Massaud Moisés, surge com a obra Em
busca do tempo perdido de Proust.
A técnica de salto temporal (time shift) cria anacronismos, não preenchendo os períodos
vazios (tarjetas dos quadrinhos).

O tempo unificado de Dr. Manhattan é mais do que um dispositivo narrativo, ele é um


campo de reflexão a respeito de si mesmo.

O tempo, para Dr. Manhattan, não se trata apenas de fluxo de consciência, mas de vive-
los a todo instante.

A contrastação da duração interior com a impessoalidade e a objetividade do tempo


cronológico é um dos principais condutos da tematização do tempo no romance.
(NUNES, 1988, p. 57).

Em cada agora começa o ser: em torno do aqui rola a esfera do acolá. O meio está em
toda parte. Recurvo é o caminho da eternidade. (NIETZSCHE, Assim falava
Zaratustra).

Assim a mediação do enredo na efetuação da leitura é a mediação de uma forma


compreensiva da ação humana. Desse ponto de vista, Paul Ricoeur poderá afirmar que
“a obra narrativa é um convite para ver a nossa práxis como ordenada por tal ou qual
enredo articulado em nossa literatura”. Consequentemente, esse mesmo pensador
admitirá que a narrativa, como forma de linguagem, é um equivalente simbólico da ação
e do tempo humano correlato. (NUNES, 1988, p. 77).

I think there were probably quite a few things about Watchmen that chimed well with
the times, but to me perhaps the most important was the actual storytelling, where the
world that was presented didn’t really hang together in terms of linear cause and effect.
But was instead seen as some massively complex simultaneous event with connections
made of coincidence, synchronicity, and I think that it was this worldview, if anything,
that resonated with and audience that had realized that their previous view of the world
was not adequate for the complexities of this shadowy and scary new world that we
were entering into. (MOORE, 2003).

Segundo Moisés (1984) há três tipos de tempo: cronológico, psicológico e o metafísico.


Dr. Manhattan parece habitar os três ao mesmo tempo.

O tempo metafísico, ou mítico, é o tempo do ser. Acima ou fora do tempo histórico ou


do tempo psicológico, embora neles possa inserir-se ou por meio deles relevar-se, é o
tempo ontológico por excelência, anterior à História e à Consciência, identificado com o
Cosmos ou a Natureza. […] tempo reversível, em circularidade perene, tempo original,
primário, sempre idêntico, tempo dos arquétipos (Jung) […]; tempo sacro, tempo
eterno, sem começo nem fim. (MOISÉS, 1984, p. 109).

Segundo Moisés (1984) o uso de tempo psicológico se manifesta, principalmente, de


Proust até os dias de hoje.

The eternal recurrence is not a theory of the world but a view of the self” (p. 150).

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