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Quanto maior o tema, maior é a exigência de simplicidade. Os grandes temas já são por si
de natureza complexa. Pretendo falar do aspecto psicológico do capitalismo através da
compreensão do seu sistema de valores, que é bastante simples; vou colocar em palavras
o que o capitalismo diria ao indivíduo. Você é livre, você pode fazer o que bem entender,
mas só uma falha não é admitida: os contratos têm de ser respeitados. Assinado o
contrato ele tem de ser cumprido, senão você apanha e quem tem o direito de bater é o
Estado, que é o único com o direito de bater. Você tem também de cumprir o contrato que
organiza o seu país, a constituição, ou seja, você tem que viver dentro da lei. Fora disto
você é livre.
Um contrato é uma definição objetiva e racional de obrigações das partes envolvidas nele.
Como o contrato organiza a sociedade capitalista, a objetividade e racionalidade se tornam
valores inquestionáveis. Assim o capitalismo inventou as ciências, esforços de
estabelecimento de uma relação objetiva e racional com a realidade.
O capitalismo é absolutista, não pode haver poder maior do que o contrato por isto existe
uma militância capitalista, que é o estabelecimento da objetividade e racionalidade como
valores universais. Em função disto as ciências têm valor diferente, as ciências objetivas
têm poder sobre os contratos enquanto as que tratam da subjetividade não.
Se ela é medicina como Reich defendeu, ela se transforma em uma antropologia; porque é
um conhecimento racional e objetivo, que questiona os valores do capitalismo dentro das
regras deste. Como ciência humana ou psicologia é apenas mais uma alternativa de
pensamento.
O aparelho psíquico é o conceito que faz a linha divisória entre estas duas concepções. A
proposta que o constitui é a de ser o modelo do funcionamento do sistema nervoso, assim
é descrito e entendido por Freud. Com a independência da psicanálise tornou-se uma
entidade abstrata, não se referindo a nada além do contexto analítico. Meu trabalho é a
retomada da concepção original, que entendo como instrumento para recolocar a
descoberta freudiana no lugar revolucionário e sem violência que lhe é próprio.
A essência desta revolução é a descoberta, confirmada todos os dias, que o ser humano
privado de liberdade interior adoece. Diferente da concepção capitalista que vê o homem
como selvagem a ser domesticado pela força dos contratos, a psicanálise mostra que
aquilo que compreendemos como selvageria não é mais do que a conseqüência da
privação de liberdade.
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