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SISTEMAS DE SUPORTE DE PAREDES DE EDIFÍCIOS

ANTIGOS EM DEMOLIÇÃO

Rui Manuel Pereira Cruz

Dissertação de Mestrado para a obtenção do grau de Mestre em


Engenharia Militar

Júri
Presidente: Prof. Francisco José Loforte Teixeira Ribeiro
Orientador: Prof. Jorge Manuel Calico Lopes de Brito
Vogal: Prof. António Manuel Candeias de Sousa Gago

Setembro de 2008
Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

SISTEMAS DE SUPORTE DE PAREDES DE EDIFÍCIOS ANTIGOS EM


DEMOLIÇÃO

RESUMO

O objectivo desta dissertação de mestrado é a produção de um estudo sobre as


estruturas temporárias que suportam as paredes de edifícios antigos, preservadas
aquando da demolição dos mesmos, visando a sua recuperação.
Dada a crescente necessidade da reabilitação de edifícios, a retenção de fachadas
e de outras partes de edifícios torna-se também numa prática com crescente importância
na sociedade actual. Porém, existe uma grande falta de informação nesta matéria, tendo
sido estas as motivações para a elaboração deste trabalho.
Após um breve enquadramento, são descritos alguns aspectos importantes do
processo construtivo, começando-se por referir a importância de se realizarem estudos
preliminares antes de se elaborar o projecto e de se iniciarem quaisquer intervenções.
Prossegue-se indicando algumas intervenções de que os elementos antigos preservados
podem ser alvo no início do processo, continuando-se com a montagem dos sistemas de
suporte e outros procedimentos, até ao desmonte.
Para uma melhor compreensão das estruturas de suporte de paredes de edifícios
antigos em demolição, é apresentada uma classificação que as divide em métodos de
contenção (exterior, interior e misto) e tipos de contenção (suporte aéreo bielas,
sistemas em consola e sistemas em pórtico).
Outro aspecto muito importante é a quantificação das acções que actuam sobre
estas estruturas, para as poder dimensionar, assim como as suas ligações. Através da
criação de modelos de cálculo, com as estruturas em condições idênticas, consegue-se
uma melhor compreensão do seu comportamento.
Seguidamente, um estudo comparativo confronta os diferentes tipos de
estruturas em função de alguns aspectos importantes a ter em consideração por quem as
vai utilizar, podendo ajudar no processo de decisão.
Por fim, este trabalho é complementado pelo estudo de exemplos de aplicação
dos diversos assuntos aqui tratados e por considerações e ilações finais.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -i-


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

SUPPORT SYSTEMS FOR WALLS IN ANCIENT BUILDINGS UNDER


DEMOLITION

ABSTRACT

The purpose of this master's dissertation is to produce a study of the temporary


structures which support the walls of ancient buildings that are to be preserved after
their demolition, aiming at their reconstruction.
Since the need for rehabilitation of buildings is growing, the retention of facades
and of other parts of buildings is also a practice with growing importance in today's
society. However, there is a great lack of information on this subject. Therefore, these
were the motivations for the preparation of this work.
After a brief framework, some important aspects of the constructive process are
described, starting up by noting the importance of holding preliminary studies before
the project is drawn and any interventions stand. Afterwards, some interventions that
can be done in the old preserved parts at the beginning of the constructive process are
indicated, continuing with the assembly of support systems and other procedures, until
its disassemble.
For a better understanding of the support systems for walls in ancient buildings
that are being demolished, a classification is presented that divides them into methods of
containment (external, internal and mixed) and types of containment (flying shores,
ranking shores vertical shores and dead shores).
Another very important aspect is the quantification of the loads that act on these
structures, in order to produce a correct design of the structure and its connections.
Through the creation of structural models and considering the structures under the same
conditions, it is possible to achieve a better understanding of their behaviour.
Then, a comparative study of the different types of structures is made in light of
some important aspects to be taken into consideration by those who will use them,
which can help in the decision-making process.
Finally, this work is supplemented by examples of implementation of various
subjects treated within and final conclusions are drawn.

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Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço à Academia Militar e ao Instituto Superior Técnico


todo o apoio que me foi prestado bem como os meios colocados à minha disposição. Do
mesmo modo, agradeço a todos os docentes destas duas instituições por todos os
conhecimentos transmitidos e pela compreensão, ajuda e dedicação ao longo de todos
estes anos de formação, pela qual são maioritariamente responsáveis.
Um forte agradecimento vai para o meu orientador, o Professor Jorge de Brito,
pela sua excelente orientação, pela sua paciência e verdadeira disponibilidade
apresentadas e pelo seu espírito crítico, sugestões e correcções que foi apontando ao
longo do desenvolvimento do presente trabalho.
Por todos os esclarecimentos de dúvidas e informações fornecidas, agradeço
também aos Eng.os da empresa Sociedade de Construções H. Hagen S.A., em especial
ao Eng.º Pedro Silva e também ao Encarregado Geral, Sr. Serafim, pela amabilidade e
disponibilidade. Pelas mesmas razões, agradeço aos Eng.os da empresa MSF - Moniz da
Maia Serra & Fortunato - Empreiteiros S.A., em especial ao Eng.º Romano, pela visita
guiada à obra de construção da sede do BIG, esclarecendo sem hesitação todas as
dúvidas.
Um eminente agradecimento ao Eng.º Eduardo Freitas da empresa Planeamento
e Projectos de Engenharia, Lda., pelos importantes esclarecimentos e pela prontidão que
manifestou em ajudar.
Ao Professor Lind Guimarães, agradeço especialmente por me ter auxiliado na
redacção do extended abstrart, disponibilizando-se para satisfazer qualquer dúvida que
surgisse no campo da língua inglesa.
A todos os Oficiais do Exército, especialmente aqueles que foram meus
comandantes ou professores e que assistiram à minha formação, tornando-me na pessoa
que hoje sou.
A todos os directores de curso em especial ao Major João Rei e ao Tenente
Coronel Albano Silva, que maior auxílio deram na realização deste trabalho.

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Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Agradeço aos meus colegas que realizaram também as suas dissertações em


igual período e sob a mesma orientação, pelo espírito de grupo e apoio mútuo mantido e
pelo ambiente de motivação que ajudaram a criar, nomeadamente ao Filipe Palha e ao
Pedro Amorim.
Presto ainda um importante agradecimento aos meus camaradas e amigos, com
quem passei intensos anos e partilhei momentos que nunca mais esquecerei. José Paiva,
André Barata, Jorge Balula, César Pousa, João Soares, Bruno Martins, Jorge Ferreira,
obrigado por sempre me apoiaram e porque sei que poderei sempre contar convosco.
Finalmente, um agradecimento muito especial à minha família pelo apoio
incondicional, pela compreensão e por todos os esforços que fizeram para que eu
conseguisse atingir os objectivos a que me propus, sempre nas melhores condições
possíveis e à Leonor por todo o carinho e pela força de vontade que me transmitiu e que
se revelaram essenciais nos momentos mais difíceis.

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ÍNDICE GERAL

RESUMO .......................................................................................................................... i

ABSTRACT ..................................................................................................................... ii

AGRADECIMENTOS .................................................................................................... iii

ÍNDICE GERAL .............................................................................................................. v

ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................. xiii

ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................ xii

1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1
1.1. Enquadramento do tema ................................................................................... 1
1.1.1. A reabilitação de edifícios ........................................................................ 1
1.1.2. A retenção de fachadas ............................................................................. 2
1.2. Motivação e objectivos..................................................................................... 4
1.3. Organização da dissertação .............................................................................. 6

2. PROCESSO CONSTRUTIVO................................................................................. 7
2.1. Estudos preliminares ........................................................................................ 7
2.1.1. A importância de um estudo antecipado................................................... 7
2.1.2. Inspecção inicial ....................................................................................... 8
2.1.3. Planeamento ............................................................................................. 9
2.2. Intervenções preliminares............................................................................... 10
2.2.1. Consolidação da alvenaria ...................................................................... 11
2.2.1.1. Revestimento de superfícies ........................................................... 12
2.2.1.2. Preenchimento de vazios ................................................................ 13
2.2.1.3. Pregagens........................................................................................ 14
2.2.2. Reforço de vãos ...................................................................................... 15
2.3. Sistemas de monitorização ............................................................................. 16
2.4. Montagem dos sistemas de suporte ................................................................ 18
2.5. Ligação do sistema de suporte às paredes ...................................................... 19
2.5.1. Ligação directa ....................................................................................... 19
2.5.2. Ligação indirecta .................................................................................... 20

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2.6. Demolição....................................................................................................... 21
2.7. Fundações ....................................................................................................... 23
2.7.1. Recalce de fundações.............................................................................. 24
2.7.2. Contenção periférica............................................................................... 28
2.7.3. Fundações dos sistemas de suporte de paredes ...................................... 30
2.8. Execução da nova estrutura ............................................................................ 31
2.9. Ligação à nova estrutura................................................................................. 34
2.10. Desmonte dos sistemas de suporte ............................................................. 36

3. TIPOLOGIA........................................................................................................... 37
3.1. Considerações gerais ...................................................................................... 37
3.2. Métodos de contenção de fachadas ................................................................ 38
3.2.1. Exterior ................................................................................................... 38
3.2.2. Interior .................................................................................................... 39
3.2.3. Misto....................................................................................................... 39
3.3. Tipos de soluções ........................................................................................... 40
3.3.1. Suporte aéreo (flying shores).................................................................. 40
3.3.1.1. Ligação a edifícios adjacentes ........................................................ 42
3.3.1.2. Edifícios isolados............................................................................ 43
3.3.1.3. Edifícios de gaveto ......................................................................... 45
3.3.1.4. Edifícios com elementos interiores ................................................ 45
3.3.2. Bielas (ranking shores)........................................................................... 46
3.3.3. Sistemas em consola (vertical shores).................................................... 47
3.3.4. Sistemas em pórtico (dead shores)......................................................... 49
3.3.5. Sistemas mistos ...................................................................................... 51
3.3.6. Coberturas provisórias............................................................................ 52

4. DIMENSIONAMENTO......................................................................................... 53
4.1. Segurança aos Estados Limite Últimos .......................................................... 53
4.2. Segurança aos Estados Limite de Utilização.................................................. 54
4.2.1. Encurvadura............................................................................................ 55
4.2.2. Vibrações ................................................................................................ 57
4.3. Principais acções actuantes............................................................................. 57
4.4. Dimensionamento dos ligadores..................................................................... 58
4.4.1. Comportamento axial ............................................................................. 60

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4.4.2. Comportamento ao corte ........................................................................ 61


4.5. Definição da estrutura a suportar.................................................................... 63
4.5.1. Determinação do estado de tensão.......................................................... 67
4.5.2. Determinação das características de deformabilidade............................ 68
4.5.3. Estimativa da resistência à compressão.................................................. 69
4.5.4. Estimativa da resistência à tracção ......................................................... 69
4.6. Definição da malha estrutural de suporte interior .......................................... 70
4.7. Modelos de cálculo......................................................................................... 73
4.7.1. Generalidades ......................................................................................... 73
4.7.1.1. Fachada-tipo ................................................................................... 74
4.7.1.2. Acção tipo....................................................................................... 74
4.7.2. Suporte aéreo (flying shores).................................................................. 75
4.7.3. Bielas (ranking shores)........................................................................... 76
4.7.4. Sistemas em consola (vertical shores).................................................... 79
4.7.5. Sistemas em pórtico (dead shores)......................................................... 81
4.7.6. Ligações.................................................................................................. 85

5. ESTUDO COMPARATIVO .................................................................................. 87


5.1. Velocidade de montagem (facilidade de execução) ....................................... 88
5.2. Impactes na execução da obra ........................................................................ 88
5.3. Impactes na envolvente .................................................................................. 92
5.3.1. Impactes visuais...................................................................................... 92
5.3.2. Incómodos para os cidadãos ................................................................... 92
5.4. Análise económica.......................................................................................... 94
5.5. Segurança........................................................................................................ 96
5.6. Síntese comparativa........................................................................................ 98

6. CASOS DE ESTUDO ............................................................................................ 99


6.1. Recuperação de imóvel para um hotel, Rua de Santa Marta, Lisboa ............. 99
6.2. Edifício Sede do BIG, Avenida 24 de Julho, Lisboa.................................... 105

7. CONCLUSÕES .................................................................................................... 111


7.1. Considerações finais ..................................................................................... 111
7.2. Conclusões gerais ......................................................................................... 112
7.3. Desenvolvimentos futuros ............................................................................ 115
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 117

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 2.1 - Revestimento de superfícies: a) aplicação da argamassa por projecção; b) reboco armado 12
Fig. 2.2 - Injecção de alvenarias: a) selagem de fendas; b) consolidação do material......................... 13
Fig. 2.3 - Pregagens: a) generalizadas; b) transversais; c) de costura em paredes ortogonais; d) de
costura em paredes de canto ................................................................................................................ 14
Fig. 2.4 - Pregagens longas ou tirantes................................................................................................ 15
Fig. 2.5 - Cintagem de edifício............................................................................................................ 15
Fig. 2.6 - Reforço de vãos: a) com perfis metálicos; b) com alvenaria; c) usando parte da estrutura de
suporte da fachada............................................................................................................................... 16
Fig. 2.7 - Instrumentos de monitorização: a) fissurómetro de corda-vibrante; b) fissurómetro Tell-
Tale; c) comparador de fissuras; d) alongâmetro mecânico ................................................................ 17
Fig. 2.8 - Ligações da estrutura: a) soldadas; b) aparafusadas ............................................................ 18
Fig. 2.9 - Ligação directa: a) ligação parcial; b) ligação total ............................................................. 20
Fig. 2.10 - Ligação indirecta ............................................................................................................... 21
Fig. 2.11 - Fases da demolição ............................................................................................................ 23
Fig. 2.12 - Recalce de fundações com pegões..................................................................................... 25
Fig. 2.13 - Recalce través de pegões com ancoragens pré-esforçadas................................................. 25
Fig. 2.14 - Reforço e recalce de fundações com micro-estacas: a) sapata isolada; b) sapata precária ou
em mau estado; c) reforço a acções horizontais .................................................................................. 26
Fig. 2.15 - Contenção periférica com paredes moldadas..................................................................... 28
Fig. 2.16 - Contenção periférica com muros de Munique ................................................................... 28
Fig. 2.17 - Fundação de estrutura de suporte em pórtico com micro-estacas solidarizadas com
maciços de encabeçamento e vigas de fundação, formando um vão que possibilita a passagem de
pessoas e/ou veículos .......................................................................................................................... 31
Fig. 2.18 - Pormenor de projecto (tipo) contemplando as excentricidades na estrutura de betão
armado, de forma a ajustar-se à parede de alvenaria da fachada......................................................... 33
Fig. 2.19 - Técnicas de selagem de ferrolhos para ligação à nova estrutura: a) com cartucho de resina
não misturada; b) e c) com ingredientes pré-misturados ..................................................................... 34
Fig. 2.20 - Métodos de ligação da estrutura antiga à nova estrutura ................................................... 35

Fig. 3.1 - Esquema tipo do suporte aéreo ............................................................................................ 41


Fig. 3.2 - Escoramento de edifícios adjacentes com estrutura em treliça (a) e pormenor de
mecanismos de distribuição das cargas (b).......................................................................................... 42
Fig. 3.3 - Escoramento de edifícios adjacentes com perfis metálicos ................................................. 43

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Fig. 3.4 - Sistemas estruturais em quadro rígido com apoios intermédios: Rua do Carmo, Lisboa; b)
Armazéns do Chiado, Lisboa .............................................................................................................. 44
Fig. 3.5 - Escoramentos de canto num Edifício no Largo Luís de Camões, Lisboa. As escoras
reduzem os vãos da malha estrutural de suporte e estabilizam os cantos, estando estas também
contraventadas..................................................................................................................................... 44
Fig. 3.6 - Preservação de elementos interiores nos armazéns do Chiado, Lisboa: a) pormenor de
preservação do núcleo interior; b) vista aérea do edifício, sendo visíveis vários tipos de contenção
aérea: ligação e suporte de núcleo (1) e paredes (2) ; escoramentos de canto (3); sistema estrutural
com apoio intermédio (4); ligação a edifícios adjacentes (5) .............................................................. 45
Fig. 3.7 - Esquema tipo da contenção por bielas ................................................................................. 46
Fig. 3.8 - Contenção por bielas: a) metálicas em parede de fachada; b) de madeira em parede de
empena ................................................................................................................................................ 47
Fig. 3.9 - Esquema tipo da contenção em consola............................................................................... 48
Fig. 3.10 - Estrutura de contenção em consola aplicada em ambos os lados da estrutura................... 49
Fig. 3.11 - Esquema tipo da contenção em pórtico ............................................................................. 50
Fig. 3.12 - Sistema de suporte em pórtico complementado com escoramentos de canto (suporte aéreo)
de um edifício na Rua da Madalena (Lisboa)...................................................................................... 51
Fig. 3.13 - Edifício com estrutura de contenção da fachada em pórtico e com cobertura provisória na
Rua da Madalena e Rua de São Julião (Lisboa) .................................................................................. 52

Fig. 4.1 - Flechas num elemento metálico........................................................................................... 55


Fig. 4.2 - Estrutura de suporte da fachada que recebe cargas do contraventamento do edifício vizinho:
a) esquema representativo; b) exemplo num edifício na Rua da Lapa, Lisboa ................................... 58
Fig. 4.3 - Modos de rotura de ancoragem em alvenaria: a) arrancamento de um cone de betão /
fracturação da alvenaria; b) esmagamento do betão / alvenaria; c) rotura no ferrolho; d) arrancamento
do ferrolho; e) arrancamento da ancoragem ........................................................................................ 59
Fig. 4.4 - Efeito de costura .................................................................................................................. 62
Fig. 4.5 - Condições geométricas para a mobilização do efeito de ferrolho (dowel action)................ 63
Fig. 4.6 - Deslocamento transversal necessário para a mobilização máxima de Vrd,b ......................... 63
Fig. 4.7 - Classificação da secção das paredes em alvenaria de pedra segundo o número de
paramentos: (a) paramento simples; (b) dois paramentos sem ligação; (c) dois paramentos com
ligação; (d) três paramentos com núcleo de fraca qualidade .............................................................. 65
Fig. 4.8 - Ensaio com macacos planos: a) macacos planos simples; b) macacos planos duplos ......... 66
Fig. 4.9 - Modelo de cálculo do afastamento da malha de suporte interior......................................... 70
Fig. 4.10 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo aéreo (vista a 3 dimensões) ..... 75
Fig. 4.11 - Diagrama de esforço axial do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
aéreo (vista a 3 dimensões) ................................................................................................................. 76
Fig. 4.12 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo bielas (vista a 3 dimensões)..... 77

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Fig. 4.13 - Diagrama de esforço axial do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
bielas (vista a 3 dimensões e yz) ......................................................................................................... 78
Fig. 4.14 - Sapatas de fundação do sistema de suporte de paredes tipo bielas .................................... 78
Fig. 4.15 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo consola (vista a 3 dimensões).. 79
Fig. 4.16 - Diagramas de esforço transverso (à esquerda) e de momento flector (à direita) do modelo
de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo consola ................................................................... 80
Fig. 4.17 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo pórtico (vista a 3 dimensões)... 81
Fig. 4.18 - Diagrama de esforço axial do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
pórtico (vista a 3 dimensões)............................................................................................................... 82
Fig. 4.19 - Diagrama de esforço transverso do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes
tipo pórtico (vista a 3 dimensões)........................................................................................................ 82
Fig. 4.20 - Diagrama de momento flector do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
pórtico (vista a 3 dimensões)............................................................................................................... 83
Fig. 4.21 - Diagramas de esforços do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo pórtico:
esforço axial, esforço transverso e momento flector, da esquerda para a direita................................. 83
Fig. 4.22 - Planta das fundações adoptadas para o sistema de suporte de paredes tipo pórtico........... 84
Fig. 4.23 - Esquema das fundações adoptadas para o sistema de suporte de paredes tipo pórtico ...... 85

Fig. 5.1 - Montagem de estrutura tipo pórtico, acoplando blocos previamente montados .................. 89
Fig. 5.2 - Gama alargada de componentes que permitem combinar simples vigas em sistemas de
escoramento excepcionalmente versáteis, adaptáveis a quase todas as situações ............................... 89
Fig. 5.3 - Sistema de suporte aéreo: ligação das fachadas a um edifício adjacente; distribuição de
perfis no interior do edifício condicionando a movimentação de equipamentos e materiais.. ............ 90
Fig. 5.4 - Estrutura de suporte de fachada tipo pórtico, criando um vão de entrada na obra, com o
respectivo reforço da mesma zona ...................................................................................................... 91
Fig. 5.5 - Contenção exterior tipo pórtico, envolvida por rede exterior .............................................. 92
Fig. 5.6 - Contenção aérea poligonal, em treliça ................................................................................. 93
Fig. 5.7 - Edifício com contenção aérea em treliça na Av. Duque de Ávila........................................ 93
Fig. 5.8 - Passadiço para os transeuntes, aproveitando o espaço entre os montantes da estrutura e rede
que impede o lançamento de detritos para a rua.................................................................................. 94
Fig. 5.9 - Passagem de viaturas no interior de estruturas de contenção tipo pórtico ........................... 94
Fig. 5.10 - Acidentes mortais nos diferentes sectores da construção civil .......................................... 96
Fig. 5.11 - Passadiço não aproveitado pelos cidadãos, Avenida da Liberdade, Lisboa....................... 97
Fig. 5.12 - Passadiço aproveitado pelos cidadãos, Rua de Santa Marta, Lisboa ................................. 97

Fig. 6.1 - Estrutura de contenção das fachadas do edifício (Rua de Santa Marta, Lisboa)................ 100
Fig. 6.2 - Estrutura de contenção em pórtico no interior do edifício ................................................. 101

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Fig. 6.3 - Ligação entre a estrutura de contenção e a fachada: a) aperto entre as malhas exterior e
interior; b) calço de madeira.............................................................................................................. 102
Fig. 6.4 - Esquema da ligação entre a nova estrutura e a fachada .................................................... 103
Fig. 6.5 - Modelo de cálculo da estrutura de contenção da fachada frontal ...................................... 104
Fig. 6.6 - Futuro edifício do BIG....................................................................................................... 105
Fig. 6.7 - Ligações da estrutura de contenção à fachada ................................................................... 106
Fig. 6.8 - Alvo topográfico ................................................................................................................ 106
Fig. 6.9 - Estrutura de contenção tipo pórtico, utililizada na contrução da sede do BIG................... 107
Fig. 6.10 - Fundação da fachada de tardoz e da respectiva estrutura de contenção........................... 108
Fig. 6.11 - Pilar betonado num roço aberto na fachada ..................................................................... 109
Fig. 6.12 - Passagem para peões, devidamente protegida e sinalizada.............................................. 110

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1 - Vantagens e desvantagens dos pegões e micro-estacas.................................................. 27


Quadro 2.2 - Vantagens e desvantagens de diferentes métodos de contenção periférica .................... 29

Quadro 4.1 - Limites recomendados para deformações horizontais.................................................... 56


Quadro 4.2 - Esforços nas fundações do sistema de suporte de paredes tipo pórtico.......................... 85
Quadro 4.3 - Máximos esforços axiais e de corte nas estruturas de suporte de paredes tipo pórtico e
tipo bielas ............................................................................................................................................ 86
Quadro 4.4 - Cálculo do número de ligadores por cada 3m para a resistência ao esforço de corte..... 86

Quadro 5.1 - Síntese comparativa dos diversos tipos de sistemas de contenção ................................. 98

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1. INTRODUÇÃO
1.1. Enquadramento do tema

Pelo alvará régio de 20 de Agosto de 1721, D. João V atribuiu à Real Academia


de História a tarefa pela qual: "daqui em diante nenhuma pessoa de qualquer estado,
qualidade e condição que seja, [possa] desfazer ou destruir em todo nem em parte,
qualquer edifício que mostre ser daqueles tempos ainda que em parte esteja
arruinado e da mesma sorte as estátuas, mármores e cipos." Assim nasce o sistema
português de protecção do Património, que se tivesse sido implementado teria poupado
muitos elos da nossa identidade nacional os quais seriam hoje testemunhos vivos do
passado do povo português [42].

1.1.1. A reabilitação de edifícios


A decadência de um edifício, ou de bairro inteiro, assemelha-se à progressão de
uma doença obstinada, em que um problema conduz a outro e rapidamente todo o
sistema está comprometido, culminando na sua destruição ou numa tentativa
desesperada de o recuperar.
Presentemente, encontram-se duas situações que conduzem à recuperação ou
reconstrução de edifícios. Em primeiro lugar, é necessário reedificar quando as
construções se tornam funcionalmente obsoletas e o terreno ocupado se torna mais
valioso do que a própria estrutura. Em segundo lugar, existe uma saturação do território,
com edificações novas e antigas, existindo um número de fogos que ultrapassa
largamente o número de núcleos familiares, o que deve obrigar cada vez mais a pensar
numa política de reconstrução ao invés de uma política de construção.
O ciclo de morte e renovação urbana é, para os pragmáticos, um mero produto
da evolução de uma cidade para acompanhar as mudanças das necessidades dos seus

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INTRODUÇÃO

habitantes. Porém, para um número crescente de pessoas, as construções e os bairros


históricos são mais do que apenas imóveis, são a cultura e identidade do povo, são o
legado para o futuro. De facto, embora durante vários anos muitos edifícios antigos
tenham sido integralmente demolidos para dar lugar a novas construções, por vezes com
uma arquitectura completamente fora do contexto da sua envolvente urbana, existe hoje
uma consciência colectiva relativamente à necessidade de preservação do património
edificado.
No passado, a conservação histórica e a modernização eram tidas como duas
vias antagónicas. Nos dias de hoje, para além de se ter ultrapassado esse problema, a
preservação do património urbano pode ainda realçar a vida económica e cultural da
cidade, em benefício dos seus moradores.
O processo de reabilitação deve ser antecedido de um diagnóstico detalhado
sobre os níveis de actuação, os processos construtivos e os materiais. Na medida do
possível, é preferível uma intervenção localizada ao nível das deficiências apresentadas,
maximizando a preservação do edifício como um todo. Todavia, é frequente encontrar a
edificação num estado de degradação tão avançado que obras de recuperação e restauro
podem revelar-se insuficientes para solucionar as anomalias acumuladas ao longo dos
anos. Nesse caso, exige-se uma intervenção mais profunda, podendo ser necessário
proceder à demolição parcial do edifício, conservando apenas os elementos de maior
valor arquitectónico, que são em geral as fachadas do edifício. Um engenheiro que se
dedique à reabilitação deverá ter “um espírito muito aberto, mas sempre dominado pelo
espírito do existente, e uma grande humildade. Deverá ser esta a sua postura”1.
Surge então, a necessidade de se desenvolverem e aplicarem técnicas de
demolição juntamente com técnicas e métodos de suporte e contenção a aplicar nas
zonas a preservar, tendo como rumo a preservação do património arquitectónico,
minimizando os dispêndios económicos e os incómodos para os cidadãos e
maximizando a funcionalidade da nova estrutura, sempre num ambiente de segurança.

1.1.2. A retenção de fachadas


A reabilitação de edifícios com valor patrimonial é fonte de controvérsia entre
arquitectos, urbanistas, conservadores e progressistas, levantando questões éticas e
filosóficas. Enquanto que uns defendem a manutenção do edifício na sua totalidade (na

1
Eng.º João Appleton, in Ingenium, nº 88, Julho de 2005

Rui Manuel Pereira Cruz -2-


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

medida do possível), outros entendem a construção de um novo edifício, preservando as


antigas fachadas, como uma opção realista e necessária.
Na verdade, a retenção de fachadas tem-se tornado uma prática bastante comum,
demonstrando ser um bom compromisso entre conservação arquitectónica e progresso, e
conta já com inúmeros exemplos, espalhados pela maioria das cidades, como os
Armazéns do Chiado ou a Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa ou o Louvre,
em Paris.
Após definida a necessidade de intervenção num edifício, um dos aspectos mais
importantes a ter em conta é o grau de deterioração do mesmo, que se caracteriza por
ser extremamente variável. Nalguns casos, as zonas degradadas são relativamente
restritas, sendo vantajoso optar por uma intervenção que seja, também ela, de nível local.
No entanto, se o nível de deterioração é muito elevado, é necessário estender a
intervenção a todo o edifício, demolindo-se a maioria dos elementos estruturais e
procurando preservar os elementos de maior valor patrimonial, que geralmente são as
fachadas.
Geralmente, a retenção de fachadas é a opção mais dispendiosa e mais morosa,
quer se esteja a falar de intervenções a nível local quer de demolição completa do
edifício e reconstrução. Apesar disso, a retenção das fachadas pode apresentar
numerosas vantagens:
o a demolição de alguns edifícios não é permitida, devido à sua importância
arquitectónica ou histórica, podendo esta ser a única solução para a
recuperação do edifício;
o algumas instituições, como bancos, companhias de seguros, entre outras,
procuram um edifício bem localizado e com uma apresentação prestigiante;
o a construção de instalações modernas atrás das fachadas históricas
acrescenta valor ao edifício pelo que as organizações podem estar dispostas a
investir numa profunda intervenção no edifício;
o enquanto que as fachadas antigas projectam a imagem requerida, as novas
instalações proporcionam o ambiente de trabalho necessário;
o usualmente, encontra-se definido o número máximo de pisos permitidos na
construção de novos edifícios, o que não implica que os edifícios mais
antigos não ultrapassem esse valor; neste caso, a reconstrução do edifício
com manutenção das antigas fachadas permite obter um novo edifício e com
pisos adicionais.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -3-


INTRODUÇÃO

Para além destas, outras razões para manter as fachadas podem ser enumeradas e,
embora não possam ser consideradas vantagens, são igualmente válidas:
o os avanços tecnológicos, industriais e comerciais e a busca por melhor
conforto, quer se trate de trabalho ou de lazer, tornam alguns edifícios
ultrapassados ou até mesmo obsoletos;
o assim, torna-se necessário reabilitar esses edifícios e, caso possuam fachadas
com uma arquitectura atractiva, pode ser uma boa ideia mantê-las;
o algumas fachadas de edifícios constituem óptimos exemplos de um
determinado período ou estilo arquitectónico pelo que se deverão preservar
essas mesmas fachadas;
o por vezes, a fachada faz parte, não só de um edifício, mas sim de uma rua ou
de uma determinada zona, pelo que alterá-la ou removê-la irá
descontextualizar o edifício ou mesmo eliminar a identidade histórica e/ou
arquitectónica desse mesmo local;
o de acordo com regulamentação municipal existente, mantendo-se as
fachadas, consegue-se um aumento significativo da área de construção,
através da criação de caves ou do aumento do número de pisos acima do solo;
o por vezes, o edifício é reconstruído mantendo as fachadas quando estas são
consideradas de valor e o interior está degradado, devido a negligência,
envelhecimento, vandalismo ou incêndios, ou então não dá resposta às novas
exigências de suporte de cargas ou reorganização dos compartimentos.
Pode-se então concluir que a retenção de fachadas é uma prática com uma
crescente importância na sociedade actual, tendo tendência para se tornar cada vez mais
frequente. Poderia revelar-se de grande utilidade um documento contendo os principais
aspectos relacionados com a retenção de fachadas em geral e com as suas estruturas de
suporte mais especificamente.

1.2. Motivação e objectivos

Não existem dúvidas de que, hoje em dia, existe uma consciência colectiva
relativamente à necessidade de preservação do património edificado. Assim, torna-se
importante, ao nível da engenharia civil, aprofundar do conhecimento técnico sobre as
diversas questões relativas à conservação e reabilitação da construção.

Rui Manuel Pereira Cruz -4-


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Esta crescente preocupação foi sendo transmitida pelos docentes que assistiram à
formação do autor, despertando interesse nesta área. A este facto alia-se a necessidade
de sistematização das variadíssimas intervenções em edifícios antigos e da falta de
informação e regulamentação em determinadas particularidades como a retenção de
fachadas.
Os edifícios a recuperar localizam-se, muito frequentemente, em zonas cuja
malha urbana é densa e os acessos são difíceis, numa demanda pelo escasso espaço que
coloca sérias restrições na execução dos trabalhos e nos métodos utilizados neste
processo de reconstrução.
Assim, a reconstrução de edifícios mantendo paredes antigas torna-se desafiante,
tanto para engenheiros como para arquitectos, que tentam dar resposta às novas
necessidades da sociedade actual, mantendo a personalidade original do edifício,
contornando as restrições impostas e fazendo uso das mais inovadoras tecnologias.
Neste trabalho, pretende-se fazer um estudo sobre as estruturas temporárias que
suportam as paredes de edifícios antigos, preservadas aquando da demolição dos
mesmos, visando a sua recuperação. Para uma melhor compreensão destas estruturas,
tenciona-se fazer uma divisão em diferentes tipos, de acordo com as suas características
típicas.
Além de um enquadramento do âmbito da reabilitação de edifícios e da retenção
de fachadas, interessa descrever o processo construtivo deste tipo de obras, referindo
com algum pormenor, os aspectos intimamente relacionados com estruturas de suporte
de paredes.
Pretende-se ainda estabelecer alguns princípios de dimensionamento e criar
modelos de cálculo, não para proceder ao dimensionamento das referidas estruturas mas
para uma melhor compreensão, analisando e comparando, qualitativamente, o seu
comportamento.
Por fim, um estudo comparativo, poderá tornar-se uma importante ferramenta no
processo de decisão sobre a escolha do tipo de estrutura de suporte a empregar, em
função das prioridades de quem opta por este processo.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -5-


INTRODUÇÃO

1.3. Organização da dissertação

Em concordância com os objectivos acima referidos, o presente trabalho está


estruturado em 7 capítulos, de entre os quais, a introdução e as conclusões.
O primeiro capítulo, a introdução, fornece uma visão geral da necessidade e das
razões para a reabilitação de edifícios particularizando, de seguida, no tema da retenção
de fachadas, expondo o seu leque de aplicação, as razões que a motivam e as suas
principais vantagens.
No capítulo 2 descrevem-se os principais aspectos que intervêm no processo de
decisão, montagem e inactivação da estrutura de suporte, bem como alguns tópicos
acerca da demolição do interior do edifício e da montagem da nova estrutura. Este
capítulo, o processo construtivo, reforça ainda a importância da realização de estudos
preliminares e de intervenções preliminares, bem como uma monitorização constante de
todo o processo.
O capítulo 3 agrupa as diversas estruturas de suporte de paredes sob dois pontos
de vista: métodos de contenção e tipos de contenção, apresentando as principais
características comuns nas diferentes estruturas, de acordo com a classificação.
O quarto capítulo faz referência às acções que actuam sobre os sistemas de
contenção e estabelece os critérios para a verificação da segurança. Dada a importância
das ligações entre a estrutura temporária ou definitiva e as paredes de alvenaria, neste
capítulo descreve-se o comportamento destes elementos e, necessariamente, demonstra-
se como estimar as características mecânicas da parede a suportar.
No capítulo 5, é realizado um breve estudo comparativo entre os diferentes tipos
de estrutura de suporte, apresentando-se também as vantagens das mais recentes
soluções, acopláveis e reutilizáveis, face às tradicionais de perfis metálicos.
O objectivo do sexto capítulo é fazer uma descrição ilustrada sobre alguns casos
de retenção de fachadas, dando uma visão detalhada de cada sistema e das diferentes
técnicas utilizadas para resolver os vários problemas técnicos.
Por fim, são resumidas as principais ideias e retiradas algumas ilações, no
capítulo final, onde são igualmente deixadas algumas ideias para futuras investigações
sobre aspectos que merecem um maior aprofundamento.

Rui Manuel Pereira Cruz -6-


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

CAPÍTULO 2

PROCESSO CONSTRUTIVO

2. PROCESSO CONSTRUTIVO
Este capítulo tem como objectivo descrever, de uma forma genérica, o processo
da construção de um novo edifício mantendo as fachadas antigas. Este procedimento
passa por uma série de fases que vão desde um estudo inicial de levantamento das
condições existentes até à construção do novo edifício e trabalhos posteriores como o
desmonte dos sistemas de suporte.

2.1. Estudos preliminares

2.1.1. A importância de um estudo antecipado


Antes de se iniciar qualquer intervenção no edifício, quer de demolição, quer de
consolidação, quer de montagem do sistema de suporte, é necessário percorrer uma série
de passos que vão delinear estas mesmas tarefas, assim como todo o procedimento a
tomar, do qual resultará um novo edifício, com uma arquitectura mais ou menos
semelhante à do precedente.
De edifício para edifício, existe uma grande diversidade de dados e restrições
que variam, do que resultam diferentes projectos, não podendo ser sistematizados ou
parametrizados. Portanto, antes de passar à acção, é indispensável a realização de
estudos preliminares, que irão revelar as particularidades da edificação, que a
caracterizam e distinguem dos demais casos.
A inspecção dos edifícios circundantes é, também, indispensável. Analisando e
registando toda a informação de caracterização dos mesmos, procura-se garantir que
todos os problemas identificados sejam alheios ao processo construtivo e evitar que
novos problemas surjam com o decorrer das obras (demolição e construção).

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -7-


PROCESSO CONSTRUTIVO

Deve-se procurar conhecer o estado de degradação do edifício e as respectivas


causas, porque a diferentes níveis de conservação, anomalias e origens corresponderão
também intervenções distintas.
De certa forma, existe uma interdependência entre a solução pretendida e a
inspecção inicial. Por um lado, a solução de reabilitação à partida pretendida vai ditar os
estudos a realizar sobre o local onde se pretende intervir e sobre a zona envolvente e,
por outro lado, desses estudos e testes pode-se concluir sobre o tipo e número de
elementos a preservar e, possivelmente, que talvez seja melhor adoptar outra solução.
Desses resultados surgem ainda os dados de partida para o dimensionamento da
estrutura de suporte bem como conclusões sobre o processo construtivo a adoptar e o
tipo de estrutura de suporte que melhor se adapta.
Só depois da construção existente ser compreendida, em termos do seu estado,
das cargas actuantes, dos caminhos de carga e da relação com os edifícios vizinhos,
pode ser desenvolvido um esboço da solução tanto para os trabalhos temporários
(estrutura de contenção) como para os trabalhos permanentes (demolição e construção
da nova estrutura) pois estas estão sujeitas às restrições particulares, conhecidas in situ,
após uma investigação criteriosa [4].
Pode-se então concluir que é necessário conhecer profundamente o edifício em
questão e a sua envolvente, pois só depois de compreender a realidade da situação
presente se podem tomar decisões sobre as melhores intervenções e técnicas a adoptar,
tornando o processo construtivo mais económico, rápido, funcional e seguro.

2.1.2. Inspecção inicial


Antes de se iniciar a intervenção num edifício e antes mesmo de se tomar a
decisão sobre o modo como o edifício irá ser reabilitado e que partes se manterão no
edifício ou desaparecerão, é necessário realizar uma adequada caracterização, quer do
edifício quer do meio que o compreende.
A inspecção inicial tem como objectivo o conhecimento detalhado do edifício e
da sua contiguidade e deverá partir de uma recolha de toda a informação relevante como
dados do projecto e construção (desenhos, cálculos, especificações dos materiais,
medições,...), alterações e intervenções posteriores à construção e, técnicas e métodos
utilizadas na sua construção. Estes dados podem ser obtidos junto a entidades como o
dono de obra, projectista, construtor e entidades licenciadoras como câmaras municipais.

Rui Manuel Pereira Cruz -8-


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

A recolha de informação deve ainda incluir um conhecimento sobre as condicionantes


patrimoniais e históricas e a possibilidade de alteração da utilização do edifício.
De seguida, a inspecção inicial poderá ter seguimento com uma minuciosa
inspecção visual que permite uma compreensão global da estrutura e uma análise de
vários aspectos como:
o geometria do edifício;
o sistema de fundação;
o estado de conservação dos vários elementos que compõem o edifício;
o materiais que compõem o edifício;
o existência de construções vizinhas, estado de conservação das mesmas e
relação destas com o edifício em estudo;
o envolvente;
o cargas actuantes e caminhos de carga.
A inspecção inicial deverá ainda ser complementada com uma série de testes e
de ensaios que permitam fornecer dados sobre:
o caracterização geotécnica do local de implantação;
o nível de degradação do edifício;
o características dos materiais;
o capacidade de carga e estado de tensão.
A caracterização resultante da inspecção inicial, como se viu no ponto anterior, é
de ampla importância pois permite tomar algumas decisões como:
o a técnica de construção;
o a estrutura de suporte de fachada mais adequada;
o o tipo de demolição mais adequado;
o o faseamento construtivo.
Deste modo, consegue-se chegar a um planeamento detalhado de todas as
intervenções para que não ocorram acidentes e para que se chegue à solução mais eficaz
ou vantajosa, sendo construída de um modo eficiente.

2.1.3. Planeamento
Os estudos preliminares, embora também sejam alvo de planeamento, devem
fazer com que o processo construtivo e as questões patrimoniais sejam revistos de
acordo com as conclusões retiradas. É muito importante que, desde a inspecção inicial
até ao desmantelamento da estrutura de contenção e eventuais trabalhos posteriores,

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -9-


PROCESSO CONSTRUTIVO

haja um planeamento detalhado de todas as tarefas de modo a evitar surpresas


desagradáveis e a tornar todo o processo o mais eficiente possível.
É essencial ter a certeza de que as responsabilidades pelos diferentes trabalhos
são compreendidas e claramente atribuídas aos diversos níveis.
A elaboração de um projecto de sustentação de fachadas compreende na sua
generalidade diversas etapas que estão intimamente ligadas, implicando frequentemente
uma abordagem simultânea. Todas elas têm a sua devida importância no processo
evolutivo.
No planeamento, não deverão faltar as necessárias considerações de
acessibilidade, segurança e ocupação [8]:
o deve ser determinado um perímetro de intervenção que compreende toda a
área que será afectada directamente pela realização da construção;
o a área de intervenção será alvo de estudos em termos de acessibilidades de
modo a estabelecer um plano de circulação que não prejudique o acesso à
mesma, face às densidades de circulação de peões e viaturas;
o no caso de existir autorização para obstruir passeios ou partes das vias
circundantes, devem ser previstos caminhos alternativos, devidamente
dimensionados e executados, de modo a não se criar estrangulamentos
consideráveis;
o prevê-se um plano de segurança que englobe toda a informação referente a
procedimentos de prevenção e contingência e que também analise o impacte
que os trabalhos a realizar irão ter, quer no edifício a manter, quer nos
edifícios contíguos.

2.2. Intervenções preliminares

Os edifícios em estudo possuem geralmente paredes de alvenaria ordinária


constituída por pedras toscas, irregulares em forma e dimensão, muitas vezes ligadas
por argamassas que lhes conferem muito pouca coesão e resistência.
De um modo geral, antes e durante os trabalhos de demolição, é necessário e de
boa prática proceder a uma consolidação e/ou reforço estrutural dos elementos que irão
ser preservados, de forma a manter a sua integridade. Tal procedimento protege
fachadas, empenas e cunhais, varandas, chaminés, paredes e núcleos interiores de

Rui Manuel Pereira Cruz - 10 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

possíveis fissurações, desagregações ou até mesmo, do colapso, susceptíveis de


surgirem com as compressões e descompressões, vibrações e impactos resultantes do
processo de demolição da estrutura antiga e edificação da nova estrutura.
O estado de conservação destes elementos irá ditar o nível de intervenção.
Quanto maior for o número de fissurações e de elementos em elevado estado de
degradação, soltos ou em vias de se desprender, mais exigente deverá ser o processo de
consolidação, de modo a repor (ou melhorar) a segurança estrutural mantendo um
elevado respeito pela identidade cultural das construções. Todavia, mesmo que estas
anomalias não sejam identificadas, pode-se proceder à consolidação de algumas partes
do edifício, por mera questão de segurança.

2.2.1. Consolidação da alvenaria


Geralmente, a consolidação da alvenaria original é feita pelo interior, podendo
ser generalizada a toda a superfície da fachada ou localizada em áreas mais degradadas
ou zonas singulares como vãos de janelas e portas ou locais de ligação entre as novas
lajes e o elemento conservado.
O processo de consolidação visa corrigir ou evitar o aparecimento das anomalias
referidas, conferindo ao elemento uma melhor coerência e resistência, usando
determinadas técnicas como o revestimento das superfícies, o preenchimento de vazios
e as pregagens, individual ou complementarmente.
As intervenções devem ser planeadas e seguir uma metodologia que permita
identificar as origens das anomalias de forma a eliminá-las e compreender as
características da estrutura e dos materiais para que a técnica adoptada seja compatível e
a mais vocacionada pois os efeitos das diferentes técnicas não são os mesmos, existindo
soluções mais adequadas para melhorar as características mecânicas da alvenaria e
outras mais habilitadas para melhorar o comportamento estrutural. Assim, à
peculiaridade das estruturas de alvenaria antigas parece adequar-se uma abordagem
metodológica, por etapas, semelhante à utilizada em medicina [28]:
o Anamnese (historial): estudo da evolução histórica e recolha de dados e
informações importantes;
o Diagnóstico: identificação das causas das anomalias e da degradação e
avaliação da segurança estrutural;
o Terapia: escolha e aplicação da(s) técnica(s) de intervenção;
o Controlo: acompanhamento e controlo da eficiência da intervenção”.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -11-


PROCESSO CONSTRUTIVO

Antes de se prosseguir com a consolidação das alvenarias, é necessário prestar


atenção aos materiais que se vão utilizar. Os materiais presentemente usados são
diferentes dos usados aquando da construção da estrutura pelo que deve existir um
esforço para usar materiais com características idênticas para não causar o aparecimento
de novas anomalias devidas a incompatibilidades físicas, mecânicas ou químicas.

2.2.1.1.Revestimento de superfícies
Esta técnica inicia-se com uma remoção dos elementos soltos e/ou de uma
picagem da superfície, seguida de lavagem, por forma a remover todas as substâncias
que possam prejudicar a boa ligação com os materiais a aplicar posteriormente.
Seguidamente, procede-se ao revestimento das superfícies com argamassa de cimento. É
necessária uma espessura de recobrimento que garanta uma eficiente ligação. Caso esta
camada de argamassa seja insuficiente, pode ser introduzida uma malha de armadura de
aço ou de polímeros - armadura de pele (Fig. 2.1).

Armadura de
pele

b)

a) Camada de
argamassa
Parede original de
alvenaria

Fig. 2.1 - Revestimento de superfícies: a) aplicação da argamassa por projecção [32];


b) reboco armado [37]

A argamassa pode ser aplicada pelo tradicional processo manual ou por


gunitagem, uma técnica que consiste na projecção de argamassa com o auxílio de uma
bomba apropriada. Esta última técnica torna-se bastante mais vantajosa, particularmente
quando se trata de revestir grandes áreas.

Rui Manuel Pereira Cruz - 12 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

2.2.1.2.Preenchimento de vazios
O preenchimento de vazios, como fendas, fissuras, espaços entre os inertes ou
entre paredes e cantarias, por exemplo, é conseguido à base de injecções de caldas que
permitem uma melhoria das suas propriedades mecânicas das paredes, em consequência
do aumento da sua coesão e densidade.
Pode-se dizer que a injecção consiste na emissão de uma calda fluida (cimentícia,
hidráulica ou de resinas orgânicas), em furos, previamente efectuados e
convenientemente distribuídos (Fig. 2.2b)), para preencher os vazios e fissuras
interiores. Também é possível aproveitar fendas ou orifícios existentes, por onde se
insere um tubo maleável (Fig. 2.2a)). Após introduzido o tubo e selada a restante
abertura, é injectado o material e selado o tubo até que a calda ganhe presa.
A granulometria das caldas de injecção está dependente da dimensão das fendas
ou vazios. Embora geralmente se use uma calda de ligante com água sem areia, se os
vazios forem de grande dimensão, é preferível uma argamassa ou um betão de
consistência relativamente fluida.

a) b)

Fig. 2.2 - Injecção de alvenarias: a) selagem de fendas; b) consolidação do material [37]

Antes da aplicação das injecções, deve ser feito um conjunto prévio de


procedimentos experimentais, in-situ e em laboratório, para determinar qual a calda a
aplicar, em função das suas características e qual o processo de injecção a utilizar, isto é:
o injecção sob pressão: esta técnica é utilizada em alvenarias, mais ou menos
degradadas, desde que possuam capacidade para conter o impulso da pressão
aplicada; a pressão deve ser controlada pois, se for muito elevada, poderá
destruir a estrutura interna da alvenaria, devido ao arrastamento de inertes
pela calda que é expelida; se, por outro lado, for baixa demais não penetra
convenientemente nos vazios; a calda deve ser injectada, de baixo para cima

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -13-


PROCESSO CONSTRUTIVO

e dos extremos em direcção ao centro, garantindo que a parede é injectada


em toda a sua extensão e evitando desequilíbrios que possam afectar a
estabilidade estrutural;
o injecção por gravidade: tem aplicação em paredes muito degradadas, sendo
executada através da emissão da calda por tubos de adução, inseridos nas
fissuras ou cavidades da parede, ou mediante utilização de seringas
hipodérmicas que actuam em tubos previamente distribuídos na parede.
Os produtos injectados devem ser relativamente fluidos de modo a permitirem
uma injecção controlada. Ainda devem ser não retrácteis e estáveis, de modo a não
perderem as suas características com o passar dos anos.
Em estruturas antigas, as caldas inorgânicas, não-cimentícias, como a cal
hidráulica, devem ser preferidas por razões de compatibilidade com as argamassas
existentes. As argamassas orgânicas (poliéster ou epóxidas), mais fluidas, devem
apenas ser usadas quando haja, sem comprometer a compatibilidade, maiores
requisitos de resistência [37].

2.2.1.3.Pregagens
As pregagens são muito utilizadas em complemento com outras técnicas e
consistem na aplicação de varões metálicos ou de material compósito em furos de
pequeno diâmetro, previamente abertos, e que posteriormente são selados. A selagem
poderá ser por via química, com caldas de injecção apropriadas, em geral caldas
cimentícias, por via mecânica, adoptando dispositivos de ancoragem exterior, ou ambas.

a) b) c) d)

Fig. 2.3 - Pregagens: a) generalizadas; b) transversais; c) de costura em paredes ortogonais;


d) de costura em paredes de canto [37]

Rui Manuel Pereira Cruz - 14 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Pode-se então definir pregagens como uma solução mecânica que se destina a
accionar ou reforçar a ligação entre duas ou mais partes, para que passem a funcionar
como partes colaborantes.
Consoante o efeito pretendido, são utilizados os seguintes tipos de pregagens
(Figs. 2.3 e 2.4):
o pregagens generalizadas: para reforço da alvenaria, melhorando as suas
capacidades mecânicas, podendo resistir a esforços de tracção e de corte e
melhorando também a resistência à compressão;
o pregagens transversais: são dispostas transversalmente à parede e munidas
de ancoragens nas extremidades para o confinamento transversal de paredes
de secção composta;
o pregagens de costura: para melhorar a ligação entre paredes ortogonais;
o pregagens longas ou tirantes: para melhorar a integridade global da estrutura,
reforçando a ligação entre paredes paralelas.
Existe ainda outra solução, que pode ser usada em vez das pregagens ou como
complemento, que consiste na utilização de cintas (bandas metálicas ou compósitos
FRP). Estas são aplicadas no exterior do edifício, ao nível dos pavimentos, melhorando
as ligações parede-pavimentos, e ao nível do coroamento das paredes (Fig.2.5) [37].

Fig. 2.4 - Pregagens longas ou tirantes [37] Fig. 2.5 - Cintagem de edifício [37]

2.2.2. Reforço de vãos


O reforço de vãos de janelas, portas e outras possíveis aberturas é quase sempre
indispensável, qualquer que seja o tipo de estrutura de suporte que se pretende utilizar.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -15-


PROCESSO CONSTRUTIVO

Nas zonas da parede periféricas a estes pontos, é normal gerar-se uma elevada
concentração de tensões, e que geralmente resulta o aparecimento de fissuras. Por outro
lado, se uma fachada possui muitos destes vãos, torna-se um elemento de baixa rigidez,
sendo muito deformável e, consequentemente, bastante instável.
Assim, tendo em vista estes dois objectivos (evitar o aparecimento de fissuras
junto dos vãos e conferir maior rigidez à fachada), pode-se optar por seguir por um dos
processos possíveis que são o tamponamento com blocos de alvenaria argamassada (Fig.
2.6b)), o reforço com perfis metálicos (Fig. 2.6a)) e, menos usado mas também possível,
o reforço com barrotes de madeira.
Quando se opta por reforçar os vãos com perfis metálicos, é comum fazê-lo com
a própria estrutura de suporte da fachada, aproveitando para fazer a ligação entre a
malha interna e externa da estrutura (Fig. 2.6c)).

a) b) c)

Fig. 2.6 - Reforço de vãos: a) com perfis metálicos; b) com alvenaria; c) usando parte da estrutura
de suporte da fachada

Quando se opta pelo tamponamento de vãos com alvenaria, existe uma tendência
para fazer uma posterior remoção de alguns blocos para a introdução da estrutura de
suporte da fachada. Este procedimento está errado, a menos que seja imediatamente
seguido de um encerramento dessas aberturas.

2.3. Sistemas de monitorização

Os elementos a preservar num edifício antigo em demolição são sujeitos a


diversas solicitações durante os trabalhos de montagem da estrutura de suporte,

Rui Manuel Pereira Cruz - 16 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

demolição de partes do edifício, escavações e construção da nova estrutura, sendo


impossível evitar a ocorrência de pequenas fendilhações, deslocamentos e
assentamentos diferenciais. Deste modo, tanto estes elementos como as construções
vizinhas devem ser permanentemente monitorizados, para que se conheça o
comportamento ao longo do tempo, designadamente, o estado de deformação e a
abertura e fecho de fissuras, de forma a serem detectadas com antecipação as anomalias
que possam surgir e que poderiam dar origem a danos irreparáveis e até mesmo
acidentes.
Esta monitorização materializa-se com a utilização de instrumentos como réguas,
estações totais e alvos topográficos colocados em pontos estratégicos da estrutura e
fissurómetros de corda vibrantes (Fig. 2.7a)), eléctricos, entre outros, de forma a medir
deslocamentos verticais e horizontais e aberturas de fendas em diversos pontos. Nas
fachadas, medem-se os deslocamentos verticais junto ao nível da rua e as deformações
horizontais, normalmente em dois níveis, junto ao topo e num ponto intermédio, de
modo a avaliar a verticalidade das mesmas. As leituras realizam-se em intervalos
regulares e sempre que decorram trabalhos em áreas críticas.

a) b)

c)
d)

Fig. 2.7 - Instrumentos de monitorização: a) fissurómetro de corda-vibrante [51]; b) fissurómetro


Tell-Tale [48]; c) comparador de fissuras [45]; d) alongâmetro mecânico [51]

É importante o registo da situação das construções adjacentes antes do início dos


trabalhos e ao longo dos mesmos, de modo a quantificar e apenas reparar os danos

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PROCESSO CONSTRUTIVO

causados pelos trabalhos e não aqueles que existiam antes do início da obra ou que têm
outras origens.

2.4. Montagem dos sistemas de suporte

A montagem do sistema de suporte de paredes pode ser o primeiro passo na


execução da obra (após os estudos iniciais e consolidações provisórias), tendo início
antes de qualquer demolição, ou então poderá ser feita por fases, em simultâneo com as
demolições. Como se irá ver, esta escolha decorrerá dos condicionantes da obra, na
maioria dos casos, do espaço disponível e, por conseguinte, do método de contenção
escolhido. De um modo geral, a estrutura é montada antes da demolição para método de
suporte exterior e, é executada em sintonia com as demolições para o método de suporte
interior.

a) b)

Fig. 2.8 - Ligações da estrutura: a) soldadas; b) aparafusadas

Geralmente, a montagem desta estrutura inicia-se com a execução das suas


fundações (caso existam). O passo seguinte deverá ser a ligação às paredes, das malhas
lineares de suporte (malhas colineares com as paredes) exteriores e/ou interiores, às
quais se irá ligar a estrutura. Depois disto, estão garantidas as condições para a
montagem da estrutura propriamente dita. Existindo fundações, inicia-se a montagem da
estrutura a partir destas, ou seja, de baixo para cima, efectuando-se as ligações à malha
previamente ligada à parede. Caso não existam fundações, ou seja, quando se opta pela
contenção aérea, a montagem da estrutura e ligação às paredes ocorre faseadamente, de
cima para baixo, à medida que evoluem também as demolições.

Rui Manuel Pereira Cruz - 18 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

As ligações entre os elementos da estrutura podem ser soldadas (Fig. 2.8a)) ou


aparafusadas (Fig. 2.8b)), tendo estas últimas a vantagem de serem mais facilmente
reutilizáveis e ainda, de mais fácil execução em obra. Para garantir a qualidade das
ligações soldadas, são necessárias condições especiais de execução in-situ,
nomeadamente, plataformas e equipamentos especiais para os trabalhadores, o que faz
com que este trabalho seja de execução mais morosa e difícil.
As ligações entre os perfis interiores e exteriores às fachadas são materializadas
por perfis simples ou em treliça ou por varões. Geralmente, estes elementos fazem-se
passar nas zonas dos vãos de portas e janelas (Fig. 2.6c)). Caso estes tenham sido
preenchidos com alvenaria ou não existam, será necessário introduzir os perfis criando
aberturas.

2.5. Ligação do sistema de suporte às paredes

Como se pôde ver, a estrutura de suporte geralmente não apoia directamente nos
elementos que contém. É sempre preferível o apoio da estrutura numa malha linear ou
outro mecanismo de distribuição de cargas que, por sua vez, se ligam às paredes.
Interessa agora discutir como se ligam esses mecanismos aos elementos retidos.
Podem-se dividir os diversos modos como se fazem essas ligações em dois principais
grupos - ligação directa e ligação indirecta. Uma outra possível classificação é a divisão
em ligação pontual e ligação contínua ou semi-contínua.
Independentemente do tipo de ligação utilizada, é fundamental que esses pontos
de ligação sejam garantidamente bem dimensionados, de maneira a que o elemento
tenha capacidade de resistir aos esforços que se geram.
Como se irá ver, geralmente é preferível uma ligação indirecta em vez de uma
ligação directa. Contudo, esta escolha poderá ser condicionada pela disposição
arquitectónica da parede. Consequentemente, é muito comum a utilização dos dois tipos
de ligação numa fachada ou ao longo das diferentes fachadas de um edifício.

2.5.1. Ligação directa


Como o próprio nome indica, nesta técnica, a estrutura é ligada directamente à
parede, através de elementos metálicos tipo buchas, pernos ou parafusos, que
atravessam a parede, total (Fig. 2.9b)) ou parcialmente (Fig. 2.9a)). Colocam-se estes

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -19-


PROCESSO CONSTRUTIVO

elementos em furos previamente executados na parede sendo posteriormente selados


com argamassa não retráctil.
Trata-se, portanto, de um método destrutivo, devido aos furos nas paredes. As
ligações devem ser pensadas e executadas com cuidado e, depois de retiradas, os furos
devem ser convenientemente reparados. Devem ser dimensionadas de acordo com a
capacidade resistente da parede e com as acções a que esta irá estar sujeita e, do mesmo
modo, deve ser determinado o afastamento mais adequado entre estes pontos.

Porca e
contraporca

Argamassa de
selagem

a) b)

Fig. 2.9 - Ligação directa: a) ligação parcial; b) ligação total

Poderá ser preferível uma ligação que atravessa a parede em toda a sua
espessura, para uma ligação mais segura ou para uma ligação e solidarização entre as
malhas exterior e interior da parede, caso existam.

2.5.2. Ligação indirecta


Esta técnica classifica-se por ser não destrutiva uma vez que, por norma, não
pressupõe a execução de furos ou outras intervenções que provoquem alterações na
parede.
Esta ligação é executada através de um aperto das malhas exterior e interior
contra a parede. Esse aperto é conseguido com a ligação entre essas malhas com perfis
simples ou em treliça ou com varões que se fazem passar nos vãos das fachadas (Fig.
2.4c)). Isto pressupõe que estes perfis horizontais que são apertados contra a fachada se
disponham ao nível dos vãos.
As malhas exterior e interior poderão encostar directamente às paredes ou
indirectamente, através de calços (usualmente de madeira) ou de uma argamassa de
assentamento. Em qualquer dos casos, é importante que a superfície de contacto seja

Rui Manuel Pereira Cruz - 20 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

suficientemente grande, para que não se gerem tensões localizadas demasiado elevadas.
Deste modo, é recomendável a utilização de cunhas que permitem um ajuste regulável e,
por conseguinte, um aperto perfeito (Fig. 2.10)).

Cunhas
metálicas

Prumo

Fig. 2.10 - Ligação indirecta

Na ausência de vãos, torna-se necessário a abertura de buracos para fazer as


ligações entre as malhas, perdendo-se a vantagem deste método que consiste na não
destruição do elemento. Assim, passaria a ser mais adequada a aplicação das ligações
directas.

2.6. Demolição

Como se pode ver, após os trabalhos preliminares e montagem da estrutura de


suporte das fachadas, inicia-se a demolição parcial do edifício. Noutros casos,
seguidamente aos trabalhos preliminares, tem início um processo gradativo de
demolição do edifício e montagem da estrutura de suporte das fachadas e de outros
eventuais elementos a preservar e, caso seja necessário, de escoramento de edifícios
confinantes.
O edifício que se pretende reabilitar é normalmente antigo e faz parte de uma
malha urbana igualmente antiga. Assim, além das limitações de espaço, ruído e poeiras,
existe uma grande preocupação para que não sejam provocadas demasiadas vibrações
quer na parte da estrutura a preservar, quer nas construções vizinhas. Consequentemente,
utilizam-se equipamentos que não sejam demasiado potentes e, muitas vezes, recorre-se

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -21-


PROCESSO CONSTRUTIVO

à demolição tradicional (elemento a elemento) efectuada à custa de trabalho braçal, com


o auxílio de ferramentas ligeiras e de andaimes ou gruas. Caso se trate de um edifício
isolado, poder-se-á utilizar equipamentos mais potentes, desde que não resulte prejuízo
para a parte do edifício a manter.
Ainda antes de se dar início à demolição, devem ser cortadas as ligações de água,
gás e electricidade do edifício e retirados os equipamentos (elevadores, bombas de água,
sistemas de aquecimento e ar condicionado, antenas, etc.) e os restantes elementos
estranhos à estrutura (envidraçados, portas, louças sanitárias, caleiras, algerozes e tubos
de queda).
Deve existir sempre o cuidado de apenas retirar qualquer elemento quando as
cargas que descarregam sobre ele já tiverem sido removidas ou lhes tenha sido
garantido novo apoio. Os elementos resistentes são demolidos por ordem inversa à da
construção [36]:
o dos pisos superiores para os pisos inferiores;
o retirando as cargas das lajes de forma simétrica;
o retirando as cargas que solicitam cada elemento resistente antes de o demolir;
o contraventando e/ou anulando as componentes horizontais em arcos e
abóbadas;
o escorando os elementos em consola (caso seja necessário);
o demolindo as estruturas hiperstáticas, de forma a implicar menores flechas,
rotações e deslocamentos.
Satisfeitas todas as medidas de segurança e requisitos preliminares e tendo
presentes todas as providências necessárias, inicia-se o processo de demolição.
Começa-se pela cobertura:
o demolição dos corpos salientes (clarabóias, chaminés e adornos);
o demolição do material de revestimento da cobertura;
o demolição da estrutura da cobertura (ripas, madres e vigas de apoio);
o demolição dos tabiques de apoio da cobertura;
o demolição do material de enchimento para formação da pendente;
o demolição dos cabos, tirantes e escoras da cobertura;
o demolição da laje de esteira.
Inicia-se então a demolição do último piso [36]:
o remoção do revestimento de paredes, pisos, tectos e escadas, elementos
pertencentes a carpintaria e serralharia, bem como tectos falsos;

Rui Manuel Pereira Cruz - 22 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

o demolição de tabiques e/ou paredes divisórias;


o demolição da laje do piso e das abóbadas (caso existam)
o demolição das vigas (se existirem);
o demolição dos elementos de suporte vertical (paredes resistentes em
estruturas tradicionais, pilares e núcleos em estruturas de betão armado);
o demolição do último troço de escada e da caixa de escadas.
Este processo repete-se nos pisos inferiores até ser atingido o piso térreo e
continua para as caves, existindo nestas cuidados especiais, como se irá descrever mais
à frente.

Fig. 2.11 - Fases da demolição [36]

2.7. Fundações

As fundações de edifícios antigos em reabilitação são, muitas vezes, fracas e


instáveis e, portanto, sensíveis às alterações que irão ser introduzidas. Por conseguinte,
necessitam frequentemente de cautelosas e variadas intervenções, de acordo com o

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -23-


PROCESSO CONSTRUTIVO

estado em que estas se encontram e com o tipo de reestruturação que se pretende


realizar.
Por vezes, não será necessário reparar as fundações. Contudo, é imprescindível
que a edificação da nova estrutura não afecte a estabilidade dos elementos antigos
preservados, o que assume particular importância ao nível das fundações. Assim, será
preciso um cuidado no desenho das novas fundações, podendo-se apontar dois métodos
comummente usados, seguidamente descritos.
O primeiro método consiste em dispor as fundações da nova estrutura
relativamente afastadas dos elementos a preservar e dos edifícios contíguos, garantindo
que estes irão receber das novas fundações uma influência muito pequena.
Alternativamente, pode-se optar por outro método que necessita de ser empregue
quando não é possível colocar todas as novas fundações afastadas das antigas. Quando
isto acontece, as fundações são submetidas a carregamentos excêntricos os quais terão
de ser, de algum modo, absorvidos. A solução passa por ligar estruturalmente as sapatas
das fundações com vigas de fundação.
Os trabalhos de escavação e eventualmente também os de demolição exigem que
se proceda a reestruturações a este nível, sendo que, muitas vezes, não só é necessário
reparar as fundações, como também prolongá-las até níveis mais profundos, como se irá
ver.

2.7.1. Recalce de fundações


A execução de recalces nas fundações antigas é relativamente frequente e poderá
ser devida a razões como:
o as fundações estão demasiado degradadas ou são claramente insuficientes;
o as fundações antigas não estão preparadas para receber o novo nível de
cargas a que irão ser sujeitas;
o pretende-se executar escavações sob ou perto das fundações existentes;
o as fundações de edifícios vizinhos são sensíveis aos trabalhos no novo
edifício por serem débeis ou porque se pretende executar escavações perto
destas.
Os recalces podem ser aplicados nas fundações antigas de alguns elementos do
edifício que está a ser reparado ou nas fundações de edifícios vizinhos e tem como
objectivo o reforço destas estruturas, transmitindo as cargas que recebem dos elementos

Rui Manuel Pereira Cruz - 24 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

verticais a uma cota inferior, minimizando problemas de deslocamentos, assentamentos


diferenciais, esforços adicionais e fendilhações.
Os recalces só podem ser executados depois da demolição do edifício, a menos
que sejam feitos pelo exterior, o que seria preferível mas raramente é possível devido à
integração do edifício na malha urbana. Devem também ser realizados, sempre que
possível, antes do início da escavação.
Os recalces podem ser executados através de diferentes técnicas como pegões ou
poços, estacas (estacas moldadas ou micro-estacas) ou uma solução mista. A escolha da
técnica a empregar deve resultar de um estudo antecipado dentro do qual se destaca uma
análise das características geotécnicas do solo e um reconhecimento do estado de
conservação, geometria e cota das fundações existentes.
Torna-se então necessário um estudo da solução e método de intervenção mais
vantajosos, quer para o edifício quer sob um ponto de vista económico, consoante a sua
exequibilidade, o estado da estrutura, o tipo de terreno e a profundidade que se pretende
atingir

Aterros

3ª fase de betonagem

2ª fase de
betonagem

1ª fase de betonagem

Fig. 2.12 - Recalce de fundações com Fig. 2.13 - Recalce través de pegões com
pegões [34] ancoragens pré-esforçadas [30]

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -25-


Sistemas de Suporte de Paredes de Edifícios Antigos em Demolição

Os pegões (Fig. 2.12) são elementos de fundação semi-directa, tendo aplicação


até 6 a 10 metros de profundidade, possuindo estes uma elevada secção transversal
(normalmente > 1 m2) e uma esbelteza reduzida (valores entre 5 e 8).
Os pegões ou poços podem ser utilizados para profundidades maiores, sendo
executados através de um processo construtivo um pouco diferente: é feita a escavação
do poço, este é convenientemente entivado e depois efectuam-se diferentes fases de
betonagem, sendo cada troço ancorado, de modo a resistir aos respectivos impulsos do
terreno (Fig. 2.13).
As micro-estacas (Fig. 2.14) também são largamente aplicadas no reforço e
recalce de fundações. São elementos de elevada esbelteza, possuindo uma elevada
capacidade resistente (300 a 1300 kN), e que transmitem as solicitações ao solo,
essencialmente por atrito lateral mas também por ponta. Estas estacas possuem um
pequeno diâmetro (8 a 40 cm, sendo mais utilizadas entre 10 e 20 cm) e são executadas
in-situ. Sobre as micro-estacas, é executado um maciço de encabeçamento solidarizado
com as fundações antigas.

P P Braçadeira P
metálica H

Betão ou
Fundação
alvenaria
precária
Armadura Alargamento
do maciço

Selagem

a) b) c)

Fig. 2.14 - Reforço e recalce de fundações com micro-estacas:


a) sapata isolada; b) sapata precária ou em mau estado; c) reforço a acções horizontais

Para profundidades menores, os pegões são a solução mais económica. Contudo,


tanto esta solução como as micro-estacas apresentam diferentes vantagens e
desvantagens, como se pode ver no Quadro 2.1.

Rui Manuel Pereira Cruz -26


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Quadro 2.1 - Vantagens e desvantagens dos pegões e micro-estacas [34] [54]

Vantagens Desvantagens
 Tecnologia simples;  Estrato resistente necessariamente
 rapidez de execução; perto da superfície (6 a 10 m);
 poucos ruídos / vibrações;  possibilidade de ocorrerem
 diâmetros transversais entre 0.5 e 3.5 m; desmoronamentos de vulto para o
 implantação em terreno seixoso; interior da escavação;
 facilidade em alargar a base sem pôr em causa a  grande movimento de terras;
Pegões

economia;  possíveis assentamentos de


 inspecção visual do solo; construções vizinhas;
 dispensa maciço de fundação;  assistência técnica durante a
 substitui um grupo de estacas; execução;
 grande capacidade de carga;  necessita de condições
 percentagem diminuta de armadura; climatéricas favoráveis;
 prescinde de revestimento ou cofragem (geralmente).  risco não desprezável de vidas
humanas no processo manual.
 Diâmetro reduzido (10 a 20 cm);  Limitação da capacidade de carga
 capacidade de carga relativamente elevada mesmo em (até 1000 a 1300 kN);
solos de características fracas ou impermeáveis;  apenas mobilizam atrito lateral
 grande comprimento; em terrenos com NSPT > 40
 qualquer direcção espacial (entre 0 e 90 º); pancadas;
 aplicação válida em praticamente qualquer tipo de  reduzida capacidade para
terreno; transmitir cargas por ponta;
 funcionamento à tracção ou compressão;  limitação à encurvadura (elevada
Micro-estacas

 excelente controlo de assentamentos; esbelteza), em solos com zonas ocas


 equipamento de furação de baixa potência, rotativo, ou vazios;
ligeiro, pouco volumoso e barato;  necessidade de recorrer a firmas
 execução em espaços exíguos; especializadas com equipamento e
 reduzidas vibrações e ruído; mão-de-obra adequados.
 perturbação mínima no terreno;
 dispensa a realização de escavação;
 rapidez e facilidade de execução; logo, economia de
tempo e mão-de-obra;
 possibilidade de adequada verificação / controlo de
execução.

Por vezes, torna-se difícil posicionar o equipamento de furacão, de modo a


executar as micro-estacas na prumada das fundações encontradas. Quando isto se

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PROCESSO CONSTRUTIVO

verifica, é possível executar as micro-estacas lateralmente às paredes, pelos dois lados e


o mais próximo possível, executando-se também maciços de encabeçamento,
posteriormente solidarizados com varões pré-esforçados. Estes maciços de
encabeçamento acabam por funcionar também como viga de fundação.
É também relevante um aspecto relacionado com a preservação de núcleos
interiores, que é a escolha da ocupação do espaço sob as suas fundações, quando existe
escavação do terreno para a criação de caves. Quando se opta por ocupar este espaço, é
necessário efectuar o recalce das fundações dos núcleos, prolongando-as até à cota em
que se continua a pretender ocupar esse espaço. Doutra forma, se não interessa ocupar a
área que reside sob o núcleo, basta reforçar as suas fundações e prolongá-las com uma
contenção periférica do terreno abaixo, convenientemente ancorada.

2.7.2. Contenção periférica


A execução de escavações para a construção de caves, quando se reconstrói um
edifício antigo, é praticamente inevitável, dada a crescente valorização dos terrenos à
superfície e a falta de espaço e obrigatoriedade de parqueamento automóvel.

Fig. 2.15 - Contenção periférica com paredes Fig. 2.16 - Contenção periférica com muros
moldadas [33] de Munique [35]

Assim, para além do reforço das fundações antigas, torna-se também necessário
executar uma contenção periférica dos terrenos, para a posterior ou simultânea
escavação que visa a construção de caves.

Rui Manuel Pereira Cruz - 28 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Quadro 2.2 - Vantagens e desvantagens de diferentes métodos de contenção periférica [35]

Vantagens Desvantagens
 É possível atingir elevadas profundidades;  Possibilidade de se dar estrangulamento
Cortinas de estacas moldadas

 pode-se dispensar o recurso a fluidos em solos moles ou soltos;


estabilizadores, caso o terreno seja coesivo;  é difícil garantir a verticalidade das
 não há vibrações importantes associadas ao estacas;
processo de execução (excepto no recurso ao  a entrada e/ou percolação de água pode
trépano); causar anomalias no betão antes da presa;
 existe uma grande variedade de diâmetros  exigem equipamento e mão-de-obra
disponíveis. especializados.
 Método que pode ser utilizado praticamente  Em terrenos rijos, a execução é mais difícil
em qualquer circunstância (mesmo com nível e conduz a menores rendimentos;
Paredes moldadas

freático elevado, percolação de água e/ou  exigem equipamento e mão-de-obra


terrenos incoerentes ou moles): especializados;
 é possível atingir elevadas profundidades;  exige grande espaço de estaleiro;
 boa garantia de estanqueidade à passagem  solução relativamente onerosa - lamas
de água do exterior; bentoníticas (fabrico, recuperação e
 permite grande maleabilidade na reciclagem) / recurso a ancoragens na fase
programação da obra (painéis). provisória).
 Economia (se as ancoragens forem  Processo muito moroso e fracos
substituídas por escoramentos); rendimentos diários em área;
Muros de Munique

 permitem em simultâneo a realização da  mau desempenho para nível freático


escavação e a execução da contenção; elevado, não garantindo por si sós
 não exigem grande área de estaleiro nem impermeabilidade a longo prazo;
pessoal e tecnologia especializados;  exigem terrenos com alguma consistência;
 propiciam acabamento aceitável, por serem  a cravação dos perfis metálicos pode
cofrados interiormente. produzir vibrações indesejáveis.
 Economia, sobretudo para contenções  Mau desempenho para nível freático
provisórias; elevado, devido à percolação dos finos e à
 facilidade de manobrar e construir, com
Muros de Berlim

erosão interna do solo; a água passa


bons rendimentos diários em área de parede; livremente entre os elementos;
 permite em simultâneo a realização da  exigem terrenos com alguma consistência;
escavação e a execução da contenção;  estão relativamente limitadas em termos de
 não exige grande área de estaleiro nem profundidade;
pessoal e tecnologia especializados.  a cravação dos perfis metálicos pode
produzir vibrações indesejáveis.

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PROCESSO CONSTRUTIVO

A solução adoptada para a contenção dos terrenos abaixo das cotas das
fundações deverá ser escolhida após um estudo antecipado das características do solo, a
posição do nível freático, as características do edifício e da sua envolvente e a
profundidade da escavação.
Existem técnicas que requerem a execução da estrutura de contenção antes do
início da escavação, ainda que devam ser ancoradas ao terreno, à medida que a
escavação progride. Estas soluções poderão ser cortinas de estacas moldadas ou paredes
moldadas no terreno (Fig. 2.15).
Outras soluções permitem a execução da estrutura de contenção, à medida que a
escavação avança. Estas técnicas requerem uma maior consistência do terreno e um
nível freático profundo. Estas soluções poderão ser muros de Berlim ou muros de
Munique (Fig. 2.16), quer se pretenda uma solução provisória ou definitiva,
respectivamente.
Algumas vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de soluções são referidas
no Quadro 2.2.
Antes de qualquer escavação, é preciso garantir a estabilidade das zonas
enterradas das paredes de fachada. Esta estabilidade, antes da demolição, é garantida
pelos elementos interiores do edifício. Antes destes elementos serem retirados, é
necessário garantir o que este confinamento é mantido, de modo a que as paredes
continuem a suportar os impulsos a que é sujeita.
Nestes casos, as soluções adoptadas são, usualmente, escoramentos interiores,
ancoragens pré-esforçadas, ou uma complementação dos dois métodos.

2.7.3. Fundações dos sistemas de suporte de paredes


As fundações das estruturas de suporte das fachadas podem ser feitas de diversos
modos, dependendo dos elementos a preservar no edifício, do tipo de estrutura e das
suas características particulares (altura, comprimento, forma, distância entre elementos)
e do tipo de solo.
De um modo geral, os esforços são conduzidos da estrutura para o solo através
de sapatas isoladas ou ligadas por vigas de fundação, sapatas corridas ou maciços de
betão. Estas fundações podem ou não estar assentes sobre estacas ou micro-estacas (Fig.
2.17), consoante as características do solo de fundação e as solicitações que lhe são
transmitidas ou devido à construção de caves ou outras condicionantes que provoquem a

Rui Manuel Pereira Cruz - 30 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

instabilidade estrutural. Tal como as sapatas, os maciços podem ser isolados, contínuos
ou ligados entre si por vigas de fundação, sendo escolhida a melhor solução quer sob o
ponto de vista estrutural, quer sob o ponto de vista económico e social, de modo a que o
seu posicionamento facilite a circulação pedonal e viária.

Maciços de
encabeçamento
Maciços de
encabeçamento

Micro-estacas

Fig. 2.17 - Fundação de estrutura de suporte em pórtico com micro-estacas solidarizadas com
maciços de encabeçamento e vigas de fundação, formando um vão que possibilita a passagem de
pessoas e/ou veículos [17]

2.8. Execução da nova estrutura

Na reconstrução de edifícios antigos com preservação de alguns elementos, deve


existir uma compatibilização entre esses elementos preservados e a nova estrutura, para
que a nova estrutura não lhes cause danos e para que haja o melhor aproveitamento
possível do edifício em termos de valor arquitectónico e de espaço útil, sem pôr em
causa as futuras utilizações do edifício e a sua funcionalidade.
Quando se implementa a nova estrutura, podem ocorrer duas situações distintas:
o elemento preservado continua a ter função estrutural ou tem apenas uma função de
integração arquitectónica. No primeiro caso, geralmente é necessário consolidar esses
elementos com as técnicas já referidas e ainda reforçar a sua estrutura pois as cargas que

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -31-


PROCESSO CONSTRUTIVO

irão suportar são, normalmente, maiores do que as que existiam com a estrutura antiga.
No segundo caso, esses elementos não funcionam como resistentes, sendo necessário
garantir que a nova estrutura lhes confere apoio e não lhe transmite cargas.
Numa grande parte dos edifícios antigos, verifica-se que os seus elementos
verticais resistentes (paredes da fachada e interiores) diminuem de espessura desde o
nível das fundações até à cobertura, de forma mais ou menos constante entre pisos,
sendo essas variações de espessura mais acentuadas entre as zonas enterradas e as dos
pisos acima do nível dos arruamentos.
Para a execução dos elementos da nova estrutura de betão junto às paredes das
fachadas, é então necessário encontrar uma solução eficiente de compatibilização entre
a necessidade de obter o melhor aproveitamento possível do espaço disponível e de
conseguir uma eficiente transmissão de cargas verticais. Caso se verifiquem essas
variações de espessura nas paredes da fachada, pode-se manter a prumada definida ao
nível do rés-do-chão com perda de espaço útil a níveis superiores ou manter os
elementos estruturais encostados à fachada, abrindo roços nas zonas inferiores das
paredes para reduzir as excentricidades. A melhor solução visando a optimização de
espaço seria manter os elementos estruturais encostados à fachada. Contudo, isso
provoca uma excentricidade na transmissão das cargas verticais. Este problema pode ser
contornado adoptando soluções como a apresentada na Fig. 2.18, uma solução adoptada
nas obras de recuperação do Chiado.
Neste tipo de intervenções, deve existir um esforço para que a presença de uma
nova estrutura atrás de uma fachada antiga seja dissimulada ao máximo. É
compreensível que em muitas situações tal não seja possível, sendo mais difícil quanto
maior for o número de fachadas a preservar.
Do mesmo modo, a iluminação, o mobiliário e a decoração que outrora existiam
e que criavam determinado ambiente, definindo a própria identidade do edifício, devem
ser mantidos ou recreados. Na maioria dos casos, esta situação poderá não ser possível,
sendo incompatível com a nova utilização do edifício. Contudo, é desejável manter esta
atmosfera, pelo menos nos espaços que possam ser observados pelas janelas. Um
exemplo muito comum em que isto não é respeitado é a criação de grandes espaços
abertos para escritórios, em edifícios que antigamente eram de habitação, com uma
imensidão de luzes fluorescentes espalhadas por tectos falsos, facilmente vistas pelas
janelas, principalmente à noite. Isto poderia ser minimizado colocando pequenos

Rui Manuel Pereira Cruz - 32 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

escritórios atrás da fachada, convenientemente mobilados e iluminados, de modo a


recriar o original uso doméstico.

0.15 0.20

Ø12//0,10 Armadura do pilar superior

0.30
0.30

Armadura do pilar inferior

0,20 0,20

Fig. 2.18 - Pormenor de projecto (tipo) contemplando as excentricidades na estrutura de betão


armado, de forma a ajustar-se à parede de alvenaria da fachada [29]

Sempre que possível, os novos pisos devem ficar ao nível dos antigos, para que
estejam em concordância com os vãos de janelas das fachadas preservadas. Nalguns
casos, torna-se inevitável este conflito. Tem-se um exemplo disso, quando o rés-do-chão
tem um pé-direito bastante grande e existe a tentação de criar um novo piso, que tem de
passar ao nível das janelas altas do rés-do-chão. Em situações como esta, é preciso
disfarçar esta ocorrência, como por exemplo com painéis opacos ou um vidro especial.
No caso de se pretender ampliar o edifício com a construção de um acréscimo, é
necessário que esse suplemento esteja em harmonia com o restante, em aparência,
posição e dimensão. Um acrescento para as traseiras do edifício poderá não ter efeitos
significantes. Contudo, se for lateral, poderá ser visto e comparado com a fachada
preservada. Em alternativa, se for muito difícil ou se não se quiser combinar este
acréscimo com o que já existe, é possível não o fazer, construindo-o em contraste, ou
seja, de modo a que seja visto como um edifício separado [19].

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -33-


PROCESSO CONSTRUTIVO

2.9. Ligação à nova estrutura

Um dos problemas que se tem de resolver quando se reconstrói um edifício


preservando algumas partes é encontrar uma forma de as ligar permanentemente à nova
estrutura pois o suporte lateral que as partes demolidas lhe conferiam tem de ser, de
alguma maneira, reposto. A solução partirá se um sistema de amarração mecânica que
tem de cumprir os seguintes requisitos:
o tem de efectivamente segurar o elemento, impedindo-o de se mover
independentemente da estrutura;
o não deve transmitir cargas da nova estrutura para o elemento, a menos que se
preveja que funcione como elemento estrutural;
o deve ser capaz de se adaptar a pequenos deslocamentos diferenciais previstos,
entre a nova estrutura e a parte antiga, sem as danificar e sem se danificar.

a) b)

c)

Fig. 2.19 - Técnicas de selagem de ferrolhos para ligação à nova estrutura:


a) com cartucho de resina não misturada; b) e c) com ingredientes pré-misturados

A solução mais comummente usada consiste na utilização de pregagens que se


executam no paramento interior da parede, introduzindo varões de aço, selados com

Rui Manuel Pereira Cruz - 34 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

calda de cimento ou com alguns tipos de argamassas resinosas apropriadas, e deixando


uma parte no exterior, onde se fará a ligação à nova estrutura. A ancoragem destes
ferrolhos pode ser executada com cartuchos de resina e também com resina pré-
misturada. A primeira técnica consiste em executar furos na parede onde se introduzem
os cartuchos de resina com os ingredientes não misturados mas capazes de formar uma
resina de fixação rápida depois de misturados. De seguida, faz-se introduzir o varão de
aço rodando e empurrando-o com uma máquina perfuradora, o que faz quebrar o
cartucho e misturar os ingredientes da resina, ancorando o cartucho na alvenaria (Fig.
2.19a)). O outro método consiste executar furos na alvenaria, enchê-los com a resina,
por fim, introduzir os varões (Fig. 2.19b)), ou então, introduzir primeiro os varões e
selá-los de seguida (Fig. 2.19c)).
Outra solução possível é a utilização de varões que atravessam totalmente a
parede, sendo ancorados do lado de fora do edifício através de uma chapa metálica
soldada ou aparafusada à extremidade do varão. Este método tem algumas limitações
pelo facto de ter de se esconder as extremidades. Assim, se, por exemplo, não se pode
remover o revestimento da fachada para colocar a chapa e voltar a tapar, não se pode
utilizar esta solução.

Fig. 2.20 - Métodos de ligação da estrutura antiga à nova estrutura [19]

A ligação entre as pontas deixadas e a estrutura poderá ser feita de variados


modos, incorporando os varões na nova estrutura ou recorrendo a perfis metálicos

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -35-


PROCESSO CONSTRUTIVO

angulares (Fig. 2.20). Se, na ligação entre a nova estrutura e os elementos preservados,
forem permitidos eventuais pequenos movimentos diferenciais, consegue-se evitar o
aparecimento de esforços localizados nesses pontos de ligação que poderiam resultar em
danos severos para os ferrolhos e/ou para as estruturas. Isso consegue-se criando uma
superfície de escorregamento entre as superfícies nova e antiga que impede que se
colem. A superfície poderá ser constituída por uma ou mais camadas de polietileno ou
material similar.

2.10. Desmonte dos sistemas de suporte

Após a conclusão da construção da nova estrutura e respectiva ligação aos


elementos antigos, a estrutura utilizada para o suporte desses elementos poderá então ser
desmobilizada. Este desmonte da estrutura deve ser feito com cuidado e pela ordem
inversa de montagem, de modo a causar o mínimo de danos no elemento que sustinha.
As estruturas montadas pelo exterior, de um modo geral, são mais fáceis de
desmontar, sendo retiradas peça a peça ou por blocos e existindo, normalmente,
facilidade de manobra, devido ao espaço disponível. Estes sistemas têm a vantagem de
poderem ser reutilizadas em obras semelhantes, após pequenas alterações.
Por outro lado, as estruturas montadas pelo interior são desmontadas peça a peça,
para poderem ser retiradas pelos vãos definitivos, o que lhes deixa pouca possibilidade
de voltarem a ser reutilizadas com funções idênticas. Alguns destes elementos podem
também ser desmontados à medida que a nova estrutura cresce e é ligada aos elementos
antigos, desde que já não façam falta.
As estruturas aparafusadas, tal como são mais fáceis de montar, são também
mais fáceis de desmontar. Por vezes, não é necessário desapertar todas as ligações,
fazendo-se uma desmontagem em blocos, que ficam já prontos para a próxima
montagem. No caso de as ligações serem soldadas, ter-se-á que cortar a estrutura. Os
locais por onde se efectuam os cortes devem ser previstos, para se obter a maior taxa de
reaproveitamento possível dos perfis metálicos em futuras aplicações.
Como as estruturas de suporte são elementos provisórios, quando se faz a
escolha do tipo de estrutura a empregar, deve-se ter também em conta as consequências
aquando da sua remoção.

Rui Manuel Pereira Cruz - 36 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

CAPÍTULO 3

TIPOLOGIA

3. TIPOLOGIA
3.1. Considerações gerais

Neste capítulo, pretende-se fazer uma classificação e descrição dos diferentes


tipos de sistemas de suporte de paredes mais comuns.
Estas estruturas são construídas por fases, à medida que os trabalhos de
demolição e escavação avançam, de modo a que, por vezes, apenas ficam concluídas
quando estes trabalhos finalizam. Tratando-se de estruturas provisórias, geralmente são
utilizadas estruturas metálicas, pois sendo relativamente leves e ao mesmo tempo
resistentes, tornam-se muito versáteis, permitindo uma aplicação com bastante rapidez e
flexibilidade.
O tipo de estrutura que se vai utilizar deve ter em consideração as
condicionantes impostas pela envolvente, o estado de conservação do edifício, entre
outros aspectos técnicos relacionados com a sua montagem e com a sua
compatibilização com os trabalhos de reconstrução e interacção com a malha urbana.
No capítulo anterior, pôde-se ver como um estudo antecipado poderá ajudar à
escolha do tipo de estrutura de suporte que poderá constituir a melhor solução.
A diversidade dos tipos de estruturas de suporte de paredes é bastante grande.
Cada situação tem as suas condicionantes, exigindo um tratamento específico. Assim,
não é simples a tarefa de classificar os diferentes tipos de soluções que podem ser
previstas.
No que se refere a esta classificação, existem duas principais correntes. A
primeira faz uma divisão tendo em conta a posição da estrutura provisória em relação ao
edifício, fazendo uma distinção entre estruturas exteriores e interiores ao edifício e
ainda uma complementação destas duas, as estruturas mistas. A segunda classificação

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -37-


TIPOLOGIA

tem em consideração o tipo de estrutura utilizada fazendo uma separação em estruturas


de contenção por bielas, estruturas em pórtico, estruturas em consola e contenção aérea.
Neste trabalho, é feita uma abordagem que consiste na adopção desta última
classificação, considerando que a primeira se refere aos métodos utilizados na
contenção de fachadas.
Independentemente do método adoptado ou do tipo de estrutura que se utilize, é
fundamental que esta seja instalada antes das demolições e permaneça capaz de dar total
apoio aos elementos a preservar até que estes sejam ligados à nova estrutura de forma
permanente.

3.2. Métodos de contenção de fachadas

Regra geral, a contenção de fachadas pelo exterior é feita por pórticos ou em


consola, sendo utilizadas também bielas, enquanto que na contenção pelo interior é
utilizada a sustentação do tipo aéreo.
Tendo em conta as inúmeras condicionantes que se encontram e as vantagens e
desvantagens de cada um dos métodos, o projectista tem de fazer as suas opções, nunca
se devendo esquecer do seu principal objectivo que é fornecer às paredes retidas
estabilidade e resistência contra as acções a que estarão sujeitas durante o período de
trabalhos.

3.2.1. Exterior
Na grande maioria dos casos, as fachadas são os elementos a preservar em
edifícios antigos, pelo que é preferível um travamento pelo exterior, evitando a
existência de elementos no interior que dificultariam os trabalhos de reconstrução.
Contudo, a ocupação do espaço exterior, em geral, é restrita, pelo que deve ser
minimizada, de modo a minorar também os conflitos com a envolvente. Devido a
obstruções que regularmente causam na circulação pedonal e viária na via pública, este
método, em muitos casos, não é autorizado.
Por norma, estas estruturas são montadas ainda antes de se iniciarem os
trabalhos de demolição, o que é desejável, pois assim consegue limitar deslocamentos
que poderiam surgir durante estes processos.

Rui Manuel Pereira Cruz - 38 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

3.2.2. Interior

Por vezes, devido à facilidade de execução ou simplesmente porque a área


exterior não pode ser ocupada, opta-se pela colocação das estruturas de suporte no
espaço interior dos edifícios
Este método tem a vantagem de não ocupar passeios e faixas de rodagem
adjacentes mas coloca importantes restrições no decorrer dos trabalhos, tanto de
demolição como de reconstrução.
Deste modo, existe uma dependência entre o andamento dos trabalhos de
demolição e de montagem da estrutura de suporte. A estrutura é montada por fases, de
cima para baixo, à medida que o interior do edifício vai sendo demolido e substituindo o
apoio que os elementos demolidos conferiam àqueles que são mantidos.
Neste método, o desenho da estrutura de suporte é muito variável, sendo
bastante sensível às características de cada edifício e ao ambiente que o envolve, como a
quantidade de elementos a preservar e a posição e distância entre eles, a existência ou
não de edifícios vizinhos e o estado de conservação das paredes e dos edifícios
adjacentes. Assim, tem-se estruturas significativamente diferentes para fachadas
isoladas, perpendiculares ou paralelamente opostas, para a existência de elementos
interiores ou outro tipo de apoios que poderão ser edifícios vizinhos.
A solução deve ser desenhada de modo a causar o mínimo de embaraço nos
trabalhos de reconstrução, na movimentação de materiais e equipamentos tendo também
o objectivo de acautelar a ocorrência de acidentes.

3.2.3. Misto
Em inúmeras situações, é possível utilizar algum espaço exterior ao edifício sem
causar perturbações importantes e, ao mesmo tempo é necessário ou proveitoso a
complementação com escoramentos localizados no interior do mesmo edifício. Nestas
condições, torna-se vantajosa a aplicação do método misto, ou seja, utilizando uma
estrutura em que uma parte dela é exterior ao edifício e outra interior. Este método não é
mais do que a conjugação dos anteriores, sendo importante não esquecer que combina
não só as vantagens mas também as desvantagens dos dois métodos.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -39-


TIPOLOGIA

3.3. Tipos de soluções

Uma descrição singular de cada um dos diferentes tipos de soluções a serem


adoptados para a contenção de paredes pode ser um pouco redutora, uma vez que é
muito comum a sua utilização conjunta. No entanto, como se poderia compreender o
conjunto sem os compreender individualmente?
Posto isto, descreve-se, seguidamente, as mencionadas estruturas,
compreendendo o seu funcionamento e pormenores como as suas vantagens e
desvantagens, ligação às paredes e fundações.
Por fim, faz-se então referência à utilização de estruturas mistas e também de
uma particularidade que se pode encontrar em qualquer tipo de solução que é a
aplicação de coberturas provisórias

3.3.1. Suporte aéreo (flying shores)


Este tipo de estrutura é utilizado, geralmente, quando se opta pelo método de
contenção interior ou constituindo uma parte da estrutura no método misto. Assim
sendo, pode ser utilizada exclusivamente ou em conjunto com outros tipos de estrutura,
quando a utilização do espaço exterior é interdita ou limitada, ou quando se torna
vantajosa dada a proximidade de pontos de apoio como outros edifícios ou os próprios
elementos do edifício que são mantidos.
O suporte aéreo transmite a totalidade das forças para as estruturas adjacentes
em que se apoia. Por conseguinte, está dependente do estado em que se encontram e da
sua capacidade resistente. Encontrando sustentação nesses elementos, este tipo de
contenção não necessita de ligação ao solo por fundações.
Esta estrutura usualmente é composta por barras rectas, podendo ser perfis ou
treliças, dispostas na horizontal (Fig. 3.1) ou aproximadamente, embora não tendo de
ser necessariamente assim. A disposição destas barras poderá ser perpendicular ou
oblíqua às paredes, tanto no plano horizontal como vertical. Funcionando em
compressão, é importante atender ao ângulo que elas formam com o plano das paredes.
A aproximação ao ângulo recto maximiza a capacidade mecânica da barra assim como a
força máxima admissível transmitida ao apoio.
Existe ainda uma malha estrutural de suporte, que é uma malha coplanar com a
fachada e é materializada por perfis convenientemente espaçados que têm o objectivo de
tornar a fachada mais rígida e servir de apoio à restante estrutura.

Rui Manuel Pereira Cruz - 40 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

A contenção aérea vai sendo aplicada de cima para baixo, com o desenvolver
dos trabalhos de demolição, e é mantida até que a evolução da nova construção chegue
aos respectivos níveis desta estrutura.

Fig. 3.1 - Esquema tipo do suporte aéreo [8]

O projecto deste sistema deve ser pensado de modo a evitar, na medida do


possível, que a sua geometria preencha em demasia o espaço interior, criando
obstruções na execução da obra e proporcionando risco de acidentes como por exemplo
a colisão de uma grua contra uma das barras.
É muito importante uma localização correcta dos pontos de apoio, procurando
sempre as zonas mais rígidas e que, portanto, têm maior capacidade para absorver as
cargas transmitidas pelas barras. Podem ocorrer situações como:
o ligação à fachada de um edifício vizinho: os pontos de apoio devem situar-se
ao nível dos pavimentos do edifício em questão, os quais funcionam como
planos de maior rigidez que absorvem a força transmitida pela barra e a
distribuem pelos elementos verticais do mesmo edifício; quando a força
transmitida ao apoio é elevada, é conveniente adoptar um meio de a
distribuir por uma superfície maior (Fig 3.2b)), de modo a que a tensão
imposta seja compatível com a resistência do elemento;
o ligação à fachada a preservar: no plano horizontal, os apoios estão ao nível
da malha estrutural de suporte enquanto que, no plano vertical, deverão

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -41-


TIPOLOGIA

assentar sob a prumada mais resistente da fachada, e preferencialmente


contínua, o que geralmente corresponde ao espaço entre vãos.
Neste tipo de estruturas, é conveniente adoptar um sistema de cunhas ou rosca
que, para além de facilitar a montagem, permite o ajuste das barras em função do nível
de esforço que se pretende instalar, de acordo com as necessidades no decorrer da obra.

3.3.1.1.Ligação a edifícios adjacentes


Como referido, é usual, nestes sistemas, tirar partido de edifícios próximos para
servirem de apoio à estrutura de suporte constituída por tirantes e escoras de canto,
ligados a esses edifícios e a uma malha que rigidifica o elemento a reter (Fig. 5.3).
No entanto, a existência de edifícios adjacentes pode trazer outras complicações.
Em determinados casos, nos quais se executa a demolição de um edifício adjacente a
outros, é criado um estado de descompressão mais ou menos elevado nas estruturas dos
edifícios contíguos, devido à redução do efeito de confinamento outrora proporcionado
pelo edifício parcial ou totalmente demolido.

a) b)

Fig. 3.2 - Escoramento de edifícios adjacentes com estrutura em treliça (a) [1] e pormenor de
mecanismos de distribuição das cargas (b) [20]

Assim, deve existir a preocupação de evitar ao máximo a ocorrência de


fendilhação nos edifícios confinantes, o que pode ser conseguido impedindo os
deslocamentos horizontais e os assentamentos diferenciais através da colocação de
estruturas provisórias para o escoramento desses edifícios.

Rui Manuel Pereira Cruz - 42 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Na maioria dos casos, é utilizado o escoramento aéreo, sendo constituído por


perfis metálicos (Fig. 3.3) ou treliças (Fig. 3.2) ligando os edifícios com apoios ao nível
dos pisos que possuem mecanismos de distribuição das cargas e de ajuste das escoras
(Fig 3.2b)). Contudo, é possível utilizar outro tipo de escoramento como por exemplo
bielas inclinadas mas que normalmente impõe maiores dificuldades no normal
andamento dos trabalhos, particularmente ao nível do solo.

Fig. 3.3 - Escoramento de edifícios adjacentes com perfis metálicos [22]

3.3.1.2.Edifícios isolados
No caso de se pretender preservar fachadas de edifícios isolados, obviamente
não se pode recorrer a apoios em outros edifícios. A solução em contenção aérea irá
variar conforme o número de fachadas a preservar, a sua geometria e a sua localização
relativa:
o fachadas adjacentes: se não se mantêm todas as fachadas mas as retidas são
adjacentes, a solução passará pela colocação de escoramentos de canto
ligados e complementados com vigas horizontais dispostas ao longo da
fachada de modo a rigidificá-la (Fig. 3.5);
o todas as fachadas são mantidas: neste caso, pode-se recorrer à criação de um
sistema estrutural em quadro rígido com vigas horizontais que envolvem o
edifício que podem ser complementadas com escoras ligando fachadas
opostas e escoras de canto (Figs. 3.4 e 3.5);

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -43-


TIPOLOGIA

a) b)

Fig. 3.4 - Sistemas estruturais em quadro rígido com apoios intermédios:


a) Rua do Carmo, Lisboa [22]; b) Armazéns do Chiado, Lisboa [1]

o edifícios de grande porte: neste tipo de edifícios, é corrente existirem


fachadas opostas muito afastadas entre si; isto não inviabiliza a ligação das
fachadas mas, sendo demasiado grandes os vãos a vencer, deve-se adoptar
um sistema estrutural com apoios ao solo intermédios (Fig. 3.4).

Fig. 3.5 - Escoramentos de canto num Edifício no Largo Luís de Camões, Lisboa [1]. As escoras
reduzem os vãos da malha estrutural de suporte e estabilizam os cantos, estando estas também
contraventadas

Rui Manuel Pereira Cruz - 44 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

3.3.1.3.Edifícios de gaveto
Quando se pretende preservar as fachadas mais ou menos ortogonais entre si de
um edifício em gaveto, a solução mais expedita e eficiente será aproveitar a posição
relativa das fachadas e ligá-las por escoras de canto distribuídas a vários níveis ao longo
da altura do edifício (Fig. 3.5), de acordo com o referido nos pontos anteriores.

3.3.1.4.Edifícios com elementos interiores


Interessa, por vezes, preservar elementos do interior do edifício, frequentemente
paredes e núcleos (Fig. 3.6), sendo as respectivas envolventes demolidas. Também estes
elementos carecem de um sistema de suporte apesar de, no caso particular dos núcleos
interiores, a sua estabilidade global não implicar grandes preocupações, dado que se
trata de um elemento de grande rigidez. Naturalmente, é preciso salvaguardar a sua
integridade conjunta. Logo, deve-se contornar o núcleo com perfis metálicos ou tirantes
ligados entre si, de modo a exercerem um aceitável confinamento periférico (Fig. 3.6a)).
Caso seja possível, pode-se criar um sistema estrutural com escoras e tirantes
ligando paredes interiores, núcleos e fachadas resultando num conjunto muito mais
rígido (Fig. 3.6b)).

a) b)

Fig. 3.6 - Preservação de elementos interiores nos armazéns do Chiado, Lisboa:


a) pormenor de preservação do núcleo interior [22]; b) vista aérea do edifício, sendo visíveis vários
tipos de contenção aérea: ligação e suporte de núcleo (1) e paredes (2) ; escoramentos de canto (3);
sistema estrutural com apoio intermédio (4); ligação a edifícios adjacentes (5) [1]

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -45-


TIPOLOGIA

3.3.2. Bielas (ranking shores)


Constituído por barras ancoradas na superfície do solo, este sistema suporta as
paredes do edifício, não sendo mais do que um conjunto de barras bi-articuladas (Fig.
3.7). Quando se trata de conferir apoio lateral a uma parede, este é o sistema estrutural
mais simples, sendo também muito utilizado na contenção de escavações.
Uma vez que as bielas funcionam como barras bi-articuladas, o esforço axial é o
mais importante. É necessário não esquecer que as barras podem funcionar tanto à
tracção como à compressão.

Fig. 3.7 - Esquema tipo da contenção por bielas [8]

As bielas, que poderão ser elementos metálicos (Fig. 3.8a)) ou de madeira (Fig.
3.8b)), devem formar com o plano horizontal, um ângulo compreendido entre 45º e 75º,
sendo bastante usual agrupar duas ou mais bielas na mesma sapata, divergindo o ângulo
de ataque.
Em casos mais elementares, é habitual neste tipo de suporte substituir as sapatas
por barrotes de madeira no ponto de contacto entre as bielas e o solo para evitar que
estas se enterrem.
Em casos mais complexos, pode ser necessário ou vantajoso o recurso a sapatas
contínuas para a transmissão dos esforços ao solo através das bielas.
Relativamente às fundações, justifica-se ainda dizer que estas devem ter um
dimensionamento cuidado, sendo particularmente importante a verificação da
estabilidade ao escorregamento pois é relativamente grande a componente horizontal da
reacção das bielas.

Rui Manuel Pereira Cruz - 46 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Este tipo de contenção, para além de ter aplicação no caso do suporte de paredes
de edifícios antigos em demolição, também é muito usado quando se pretende executar
uma contenção de emergência para paredes instabilizadas devido a trabalhos de
escavação, acção do vento, entre outros, devido à rapidez com que é montado.

Fig. 3.8 - Contenção por bielas: a) metálicas em parede de fachada; b) de madeira em parede de
empena [8]

Embora este tipo de contenção seja o mais simples, a preferência pela sua
utilização está dependente não só das características dos elementos a suportar, como
também do espaço disponível, uma vez que este tipo de estrutura ocupa uma área muito
ampla. Devido a essa grande necessidade de espaço esta estrutura, normalmente, é
colocada no exterior do edifício.
Outra limitação deste tipo de estrutura é o comprimento máximo das bielas que,
por razões construtivas e estruturais, não deverá ultrapassar os 24 metros. Posto isto, os
sistemas em bielas devem ser usados em fachadas de alturas compreendidas entre 12 e
24 m, desde que o espaço disponível para a sua implantação o permita [8].
Embora se trate de uma contenção temporária, esta pode resistir em boas
condições por longos períodos.
As bielas não devem apoiar directa e pontualmente nas paredes mas sim através
de um meio de distribuição de cargas que poderá ser um conjunto de chapas paredes que
transmitem os impulsos para as bielas ou à acima referida malha estrutural de suporte.

3.3.3. Sistemas em consola (vertical shores)


Este sistema de contenção consiste num conjunto de perfis colocados na vertical
(sob as prumadas de maior resistência das paredes), encastrados em fundações ao solo e

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -47-


TIPOLOGIA

ligados a uma outra série de perfis dispostos horizontalmente (Fig. 3.9). Disto se conclui
que funcionam como consolas verticais recebendo cargas pontuais transmitidas pelos
perfis horizontais.

Fig. 3.9 - Esquema tipo da contenção em consola [8]

Geralmente, estes elementos verticais são colocados na parte exterior do edifício


(Fig. 3.9), de modo a terem pouca interferência com os trabalhos realizados no interior e
por ocuparem uma área pequena, não causando grande impacte na envolvente do
edifício, geralmente passeios. Todavia, existem casos em que se opta por colocar esta
estrutura pelo interior, podendo depois vir a fazer parte da estrutura definitiva, ou
mesmo pelos dois lados das fachadas (Fig. 3.10).
Este sistema estrutural encontra aplicação em paredes isoladas de pequena altura
ou no escoramento de fachadas de pequenos edifícios cujo interior não é demolido.
Também é frequente encontrar este sistema complementado com o sistema de suporte
aéreo.
Esta limitação na sua aplicação deve-se ao seu funcionamento em consola e por
ser uma estrutura adjacente ao edifício, o que torna a sua resistência muito menor
quando comparada com os outros tipos de sustentação. Assim, qualquer variação mais
brusca de carga poderá fragilizar e instabilizar as fundações pelo que se deverá ter um
particular cuidado no dimensionamento destas.
Poder-se-á então concluir que a sua aplicação se encontra limitada a uma altura
não superior a 12 metros, comprimento normal de fabrico dos perfis. Comprimentos

Rui Manuel Pereira Cruz - 48 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

superiores, para além de exigirem emendas nos perfis, iriam submeter a consola a
cargas com grande excentricidade, o que levaria a um dimensionamento de sapatas com
grandes dimensões e poderia mesmo ser inexequível devido à falta de espaço ou à
possível interferência destas com a fundação da fachada.

Fig. 3.10 - Estrutura de contenção em consola aplicada em ambos os lados da estrutura [8]

Não obstante as suas limitações, este tipo de estrutura de suporte poderá ser
vantajoso dada a sua facilidade de execução, requerendo um baixo número de perfis, e
dada a diminuta área que ocupa, tanto no interior como no exterior do edifício.

3.3.4. Sistemas em pórtico (dead shores)


Este sistema pode ser designado por pórtico ou treliça no caso de as ligações
serem articuladas. Por norma, é basicamente constituído por duas fiadas de perfis
verticais, contraventados por uma série de alinhamentos de barras horizontais ao nível
dos vários pisos (no mínimo), podendo ou não conter barras diagonais (Fig. 3.11).
Os perfis principais (verticais) recebem os esforços transmitidos pelos perfis
secundários (horizontais e diagonais) transmitindo-os ao solo através das fundações.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -49-


TIPOLOGIA

Embora os esforços transmitidos às fundações sejam comparativamente fáceis de


absorver, é conveniente que os dois perfis verticais tenham uma sapata comum ou, pelo
menos, sapatas ligadas por vigas de fundação, capazes de impedir assentamentos
diferenciais.

Fig. 3.11 - Esquema tipo da contenção em pórtico [8]

O afastamento e consequente dimensionamento dos perfis verticais depende não


só dos esforços a absorver mas também do espaço disponível no exterior da fachada,
onde esta estrutura geralmente tem lugar.
Tal como nos outros sistemas, a ligação às paredes nunca será pontual sendo
usual a ligação por intermédio de perfis horizontais coplanares com a fachada
distribuídos ao longo dos vários pisos.
Este tipo de contenção e a contenção aérea são os mais utilizados, sendo muitas
vezes aplicados em conjunto.
A preferência pelos sistemas em pórticos poderá ser devida ao facto de ser o
único sistema autoportante, o que, aliado ao facto de se adaptar com facilidade, faz com
que tenha aplicação em qualquer tipo de parede, independentemente da geometria e do
estado de conservação. Para além disso, este versátil sistema estrutural é o que
proporciona maior facilidade de abertura de zonas de trabalho (acesso ao interior do
edifício) para circulação de máquinas, equipamentos e pessoal.
Pode-se dizer que a grande limitação deste sistema é a ocupação de uma área
exterior à fachada, necessária para a sua implantação, sendo por vezes interdita a sua

Rui Manuel Pereira Cruz - 50 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

aplicação em zonas urbanas. Por esta mesma razão, é usual prescindir das barras
diagonais ao nível do piso do rés-do-chão, criando um espaço para a passagem de peões
ou mesmo de viaturas. Consequentemente, esta parte da estrutura deve ser reforçada.
Outra desvantagem é a sua complexidade, comparativamente com outros
sistemas. Com o grande aumento do número de perfis a ligar, baixa a facilidade de
execução. Esta dificuldade pode, de certa forma, ser contornada pela adopção de
soluções de perfis metálicos acopláveis e de comprimento variável, extremamente
versáteis, fáceis de montar e de transportar, vocacionados para este tipo de utilização.
Soluções como esta representam um investimento inicial relativamente elevado,
mas que acaba por se amortizar com a utilização em várias obras e com o elevado
rendimento obtido pela sua utilização. Torna-se, por isso, uma solução economicamente
vantajosa a médio ou a longo prazo.
Outra vantagem destas estruturas é a possibilidade de colocação, no seu interior,
de elementos de estaleiro como casas de banho, dormitórios e escritórios,
racionalizando espaço, o que, em meios urbanos é extremamente importante.

3.3.5. Sistemas mistos


É muito frequente encontrar a utilização de mais do que um dos tipos de
sistemas de suporte referidos na mesma obra e, até mesmo, na mesma parede. A
definição geométrica de um edifício e a sua envolvente ditam qual a melhor opção de
contenção, juntamente com uma busca pela rapidez e pela economia. Assim, a melhor
solução para uma parte do edifício poderá não ser a melhor noutros zonas com
particularidades diferentes.

Fig. 3.12 - Sistema de suporte em pórtico complementado com escoramentos de canto (suporte
aéreo) de um edifício na Rua da Madalena (Lisboa) [1]

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -51-


TIPOLOGIA

Um claro exemplo de sistemas mistos, muito frequentemente encontrado, é a


utilização de sistemas tipo pórtico complementada com sistemas tipo aéreo. Nesta
situação, pode-se ter concluído que a melhor solução seria o suporte com sistemas em
pórtico. Contudo, em locais em que a fachada está próxima de outros edifícios, próxima
de outras partes do edifício ou em cantos (Fig. 3.12), seria mais vantajoso a aplicação do
suporte aéreo.

3.3.6. Coberturas provisórias


As coberturas provisórias (Fig. 3.13), não muito invulgarmente, encontram
aplicação em conjunto com as estruturas de suporte de paredes, quando se procede à
reabilitação de edifícios, evitando que as chuvas penetrem no interior do edifício.
O propósito destas estruturas é a protecção de elementos interiores ao edifício,
de elevado valor patrimonial, que não se destinam a ser retirados, e são susceptíveis de
se degradarem quando expostos à água da chuva, como, por exemplo, escadas e
pavimentos de madeira, paredes e tectos de tabique.
Por acréscimo, surge também a vantagem de ser permitido o normal desenrolar
dos trabalhos, mesmo em dias de intempérie.
Por outro lado, existem algumas desvantagens. Dentro destas, destacam-se a
dificuldade em aceder ao interior com meios de elevação como gruas, o confinamento
em altura do espaço interior e o aumento do custo da obra pela adopção deste tipo de
estrutura que, noutros casos, é perfeitamente dispensável.

Fig. 3.13 - Edifício com estrutura de contenção da fachada em pórtico e com cobertura provisória
na Rua da Madalena e Rua de São Julião (Lisboa)

Rui Manuel Pereira Cruz - 52 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

CAPÍTULO 4

DIMENSIONAMENTO

4. DIMENSIONAMENTO
Os sistemas ou estruturas de suporte de paredes de edifícios antigos em
demolição têm como função garantir a estabilidade dos elementos preservados enquanto
esta não é reposta pela estrutura interior definitiva.
Na análise e dimensionamento do sistema de suporte, adoptam-se os critérios de
segurança aos Estados Limite Últimos e de Utilização, preconizados na regulamentação
portuguesa de estruturas:
o RSA - Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e
Pontes, 1983;
o EC3 - Design of Steel Structures, 1993;
o REAE - Regulamento de Estruturas de Aço para Edifícios, 1986.

4.1. Segurança aos Estados Limite Últimos

A segurança em relação aos Estados Limite Últimos consiste em respeitar a


seguinte condição:
S d ≤ Rd
(1)
em que:
- Sd é o valor de dimensionamento do esforço actuante;
- Rd é o valor de dimensionamento do esforço resistente.
São consideradas as seguintes combinações fundamentais:
m  n 
S d = ∑ γ gi ⋅S Gi , k + γ q  S Q1,k + ∑ Ψ0 j S Qj ,k  (2)
i =1  j =2 

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -53-


DIMENSIONAMENTO

em que:
- SGi,k representa os esforços resultantes de acções permanentes
consideradas com os seus valores característicos;
- SQ1,k é o esforço resultante da acção variável base tomada com o seu
valor característico;
- SQj,k representa os esforços resultantes das restantes acções variáveis
tomadas com os seus valores característicos.

Os coeficientes de segurança γgi e γq, respectivamente para acções permanentes e


variáveis, são os seguintes:
- γg (peso próprio da estrutura) = 1,35 ou 1,00
- γg (restantes cargas permanentes) = 1,50 ou 1,00
- γq (acções variáveis) = 1,50 ou 0,00

Os coeficientes de redução ψ0, ψ1 e ψ2 são considerados de acordo com o


preconizado no RSA.

Segundo o Eurocódigo 3, a equação (2), pode ser simplificada sendo substituída


por:
m
S d = ∑ γ gi ⋅S Gi ,k + γ q S Q1,k , (3)
i =1

considerando apenas uma acção variável desfavorável ou:


m n
S d = ∑ γ gi ⋅S Gi , k + 0.9∑ γ qj ⋅ S Qj , k , (4)
i =1 j =1

considerando todas as acção variáveis desfavoráveis.

4.2. Segurança aos Estados Limite de Utilização

A deformação e as vibrações da estrutura devem ser limitadas de modo a


satisfazer as seguintes condições:
o a deformação não deve adversamente afectar a aparência da estrutura nem
causar danos nas paredes que suportam;

Rui Manuel Pereira Cruz - 54 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

o não devem existir vibrações ou oscilações que causem desconforto ou danos


na estrutura.

4.2.1. Deformação
Na verificação da estrutura à deformação, deve ser considerada a combinação
rara de acções, isto é, as acções não são multiplicadas pelos coeficientes de segurança γ:
m n
Sd = ∑ SGi , k + SQ1, k + ∑ Ψ1 j SQj , k (5)
i =1 j =2

Segundo o Eurocódigo 3, a equação (5), pode ser simplificada sendo substituída


por:
m
S d = ∑ S Gi ,k + S Q1,k , (6)
i =1

considerando apenas uma acção variável desfavorável ou:


m n
S d = ∑ S Gi , k + 0.9∑ S Qj ,k , (7)
i =1 j =1

considerando todas as acção variáveis desfavoráveis.

O Eurocódigo 3 considera a seguinte equação para o cálculo da flecha máxima


δmáx de um elemento metálico:
δ máx = δ 1 + δ 2 − δ 0 (8)

Fig. 4.1 - Flechas num elemento metálico [12]

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -55-


DIMENSIONAMENTO

em que:
- δ1 é a flecha causada pelas acções permanentes;
- δ2 é a flecha causada pelas acções variáveis;
- δ0 é a contra-flecha pré-existente associada ao fabrico.

Para este tipo de estruturas, δmáx deve ser menor do que (Quadro 4.1):
h
- , para um vão;
300
h
- , para estruturas porticadas sem ponte grua;
150
h
- , para o conjunto dos vãos;
500

em que h é a altura da estrutura.

Quadro 4.1 - Limites recomendados para deformações horizontais [14]


Vários andares Um andar

δ1 δ2 δ0

h2 δ

h0

h1
h

δ 1 ≤ h1 / 300 Pórticos sem ponte grua:

δ 2 ≤ h2 / 300 δ ≤ h / 150
Outros casos:
δ ≤ h / 300
δ 0 ≤ h0 / 500

Rui Manuel Pereira Cruz - 56 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

4.2.2. Vibrações
Durante o período de utilização da estrutura de contenção, podem ocorrer
vibrações causadas pelo normal decorrer dos trabalhos ou outras acções que actuam
directa ou indirectamente na estrutura. Posto isto, deve-se procurar, dentro do possível,
que a frequência própria da estrutura ou de partes desta, seja suficientemente diferente
da frequência de solicitação, para evitar a ressonância.

4.3. Principais acções actuantes

Para proceder ao dimensionamento da estrutura, é necessário identificar as


acções presentes, sendo consideradas diversas acções permanentes e acções variáveis.
Como acções permanentes, tem-se o peso próprio das estruturas de contenção,
das fachadas e, eventualmente, outros elementos a preservar.
Assim, as acções permanentes são as seguintes:
o γ(elementos em betão armado) = 25,0 kN/m3;
o γ(perfis metálicos) = 78,5 kN/m3;
o γ(elementos em alvenaria) = 22,0 kN/m3.

Como acção variáveis, pode-se considerar:


o acção do vento;
o acção do sismo;
o vibrações;
o colisão de elementos (gruas ou veículos);
o outras acções.
Uma vez que estas são estruturas temporárias e, portanto, com um tempo de vida
relativamente curto, muito inferior aos períodos de retorno habitualmente considerados,
usualmente a acção do sismo não é considerada. Contudo, o projectista pode optar por
considerá-la, por exemplo, em casos em que os potenciais danos de um sismo sejam
muito elevados.
O efeito provocado pelas vibrações, causadas pelas demolições ou
movimentações dos trabalhadores, durante a reconstrução, não é fácil de quantificar.
Geralmente, estas acções não são significativas não sendo consideradas mas é preciso

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -57-


DIMENSIONAMENTO

ter em atenção que, mesmo não tendo grande relevância em termos de esforços,
reduzem a rigidez da estrutura o que leva a que nem sempre possam ser desprezadas. Se
a zona for muito solicitada em termos de vibrações, como é o caso de situações
especiais como a passagem do Metro ou comboio ou a existência de indústrias com
equipamentos que provocam vibrações, deverá proceder-se à respectiva quantificação
Assim, geralmente, a acção do vento é a mais significativa que actua na fachada
e, muitas vezes, é a única a ser considerada.
Outras acções poderão estar presentes, resultando da própria obra, como por
exemplo as que derivam de partes do edifício que não são demolidas ou de edifícios
vizinhos que necessitam de contraventamento (Fig. 4.2).

Fig. 4.2 - Estrutura de suporte da fachada que recebe cargas do contraventamento do edifício
vizinho: a) esquema representativo; b) exemplo num edifício na Rua da Lapa, Lisboa [11]

Uma vez quantificadas as acções e definida a geometria da estrutura, são obtidos


os respectivos esforços elásticos combinados, necessários ao dimensionamento,
recorrendo a um programa de cálculo automático, tendo por base os modelos de cálculo
definidos.

4.4. Dimensionamento dos ligadores

Nas intervenções em edifícios antigos em que se pretende demolir o interior


preservando alguns elementos como paredes e núcleos, é ampla a utilização de ligadores,
quer para a ligação destes elementos à estrutura provisória de contenção, quer para a

Rui Manuel Pereira Cruz - 58 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

ligação à estrutura de betão (geralmente) definitiva, independentemente de se


comportarem como elementos estruturais ou de apenas necessitarem de ser ligados para
a sua estabilização.
De que serve construir uma estrutura possante, se a ligação não é capaz de
transferir os correspondentes esforços de tracção e de corte? Deve existir uma
preocupação proeminente com estes pormenores para que não se tornem pontos de
fragilidade dando azo a surpresas desagradáveis. Segundo o mesmo raciocínio, é fácil
concluir que não basta colocar ligadores de grande resistência, sendo também necessário
garantir que não se dá a rotura por esmagamento / arrancamento do betão ou da
alvenaria ou por arrancamento do ferrolho ou da ancoragem.

a) b) c)

d) e)

Fig. 4.3 - Modos de rotura de ancoragem em alvenaria: a) arrancamento de um cone de betão /


fracturação da alvenaria; b) esmagamento do betão / alvenaria; c) rotura no ferrolho; d)
arrancamento do ferrolho; e) arrancamento da ancoragem

Assim, a capacidade resistente deste tipo de ancoragens dependerá de diversos


factores a ter em consideração no seu cálculo:
o resistência do ferrolho;
o espaçamento entre ancoragens;
o distância aos bordos;
o tipo de betão / alvenaria;

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -59-


DIMENSIONAMENTO

o profundidade da ancoragem.
Com a diversidade de variáveis presentes neste problema, uma estimativa mais
exacta da capacidade resistente das ancoragens requer uma análise experimental com
uma gama de ensaios em número representativo e que englobem todos os casos em
geometria e tipologia.

4.4.1. Comportamento axial


Quando submetida a um esforço axial, a ancoragem pode transmitir essa
solicitação ao betão / alvenaria através de mecanismos como [25]:
o atrito: caracteriza-se pela proporcionalidade existente entre a carga
transmitida e as forças aplicadas perpendicularmente às superfícies de atrito,
como no caso dos chumbadouros de expansão;
o aderência: que, no contexto dos sistemas de fixação, engloba apenas os
sistemas em que a transmissão da carga é contínua ao longo do comprimento
da ancoragem;
o transferência mecânica por interlock, que se distingue da transferência por
aderência pelo facto de ser feita numa região concentrada, na qual se geram
elevadas tensões de esmagamento.
Como descrito, a rotura poderá ser atingida no aço do ligador, no betão /
alvenaria ou nas superfícies ligador / resina de ancoragem e resina de ancoragem /
alvenaria. Se, por um lado, a primeira é fácil de quantificar, já a resistência por fractura
da alvenaria ou arrancamento do ligador ou da ancoragem não é fácil de formular. Para
ligadores com determinadas condições geométricas médias padrão, podem ser obtidas
regras de dimensionamento baseadas em métodos estatísticos [9].
Os ensaios de arrancamento realizados em paredes da obra e com as ancoragens
usadas na obra permitem avaliar a resistência à tracção destas ligações. Ensaios deste
tipo foram efectuados pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), com
varões de aço A400 nervurado de 10 mm de diâmetro colocados na face interior de um
troço da fachada dos Grandes Armazéns do Chiado com 2,65 m de largura, 1,10 m de
espessura e cerca de 10 m de altura, distribuídos segundo uma malha regular de cerca de
0,50 x 0,50 m. Os varões foram ancorados em furos executados na alvenaria com broca
de 34 mm de diâmetro, com 50 cm de comprimento e com uma inclinação em relação à
horizontal de cerca de 20º. Após a realização da furação na parede, os varões de aço
foram instalados nos orifícios com uma ponta saliente de forma a permitir o ensaio de

Rui Manuel Pereira Cruz - 60 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

arrancamento. Efectuaram-se 27 ensaios de arrancamento, obtendo-se uma força de


arranque média de F = 3466 kgf com um desvio padrão de ∆ = 627 kgf (coeficiente de
variação de 18%). Após o arrancamento completo de dois varões, verificou-se que a
rotura se deu na interface varão / calda pois os varões tinham a superfície praticamente
isenta de material aderente. Salienta-se, no entanto, que o valor médio correspondente à
tensão no varão σs = 4440 kgf/cm2 é muito próxima da tensão de cedência do aço, o que
mostra a quase total eficiência da ligação ensaiada [22].

4.4.2. Comportamento ao corte


Este tipo de ligações conta também com uma resistência ao corte não muito fácil
de quantificar, dada a quantidade de variáveis acima referidas.
Para a resistência ao corte entre duas superfícies de betão (betão novo e betão
existente ou betão novo e alvenaria existente), contribuem diferentes mecanismos de
resistência:
o adesão;
o atrito;
o efeito conectores de costura dos ligadores;
o resistência ao corte dos ligadores.
O CEB FIP Modelcode 90 sugere uma expressão para o cálculo da resistência ao
corte entre estas interfaces:
σ Rd = η ⋅ f 'ctd + µ ⋅ (σ cd + ρ b ⋅ f syd ,b ) ≤ 0.25 ⋅ f 'cd (9)

σrd,a σRd,f Efeito de Costura

em que:
- η varia com o tipo de superfície:
0,2 (superfícies lisas) ou 0,4 (superfícies rugosas) - [MC 90]
0,25 a 1,0 - [EC8- part 1.4, 1995]
- f’ctd é a tensão de rotura à tracção do betão / alvenaria existente;
- µ é o coeficiente de atrito entre as interfaces:
0,6 (superfícies lisas) ou 0,9 (superfícies rugosas) - [MC 90]
- σcd é a tensão de compressão na interface;
- ρb é a percentagem da área dos ligadores ≥ 0,1%;
- fsyd,b é o valor de cálculo da tensão de cedência do aço (ligadores);
- f’cd é a tensão de rotura à compressão do betão / alvenaria existente;

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -61-


DIMENSIONAMENTO

sendo:
- σrd,a a adesão;
- σRd,f o atrito;
- efeito de costura (Fig. 4.4):

s - deslizamento entre faces;


w - afastamento entre faces;
τ - tensão de corte na interface;
σs - tensão de tracção nos ligadores;
σn - tensão de compressão sobre a interface.

Fig. 4.4 - Efeito de costura [31]

O CEB FIP Modelcode 90 apresenta também uma expressão para o cálculo da


resistência ao corte dos ligadores atendendo ao efeito de ferrolho (dowel action), isto é,
a resistência última ao corte de um varão de aço entre dois elementos de betão:

{ }
VRd ,b = φb2 1 + (1.3ε ) − 1.3ε ⋅ f cd ⋅ f syd ,b ⋅ 1 − ς 2 <
2
( ) As ,b ⋅ f syd ,b
3
(10)

sendo:

e f cd
ε =3 (11)
φb f syd ,b
e
σ s ,b
ς= (12)
f syd ,b
em que:
- Øb é a o diâmetro do ligador;
- fcd é o valor de cálculo da tensão de rotura do betão à compressão;

π ⋅ φb2
- As,b é a área da secção do ligador: As ,b = . (13)
4
- e é a excentricidade da carga;

Rui Manuel Pereira Cruz - 62 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

- σs,b é a tensão de tracção no ligador;


Para que isto se verifique, as condições geométricas expressas na Fig. 4.5 devem
ser satisfeitas.

Fig. 4.5 - Condições geométricas para a mobilização do efeito de ferrolho (dowel action) [6]

Para que a força de corte máxima no ligador seja mobilizada (Vrd,b), o


deslocamento relativo entre as duas faces de betão deve ser tomado igual a 0,10Ø,
conforme ilustrado na Fig. 4.6.

Fig. 4.6 - Deslocamento transversal necessário para a mobilização máxima de Vrd,b [6]

Para a situação em estudo, é muito frequente a ligação de materiais de diferentes


características, isto é, alvenaria e betão. Pode considerar-se válida, em primeira
aproximação, a extrapolação das formulações (9) e (10), tomando as características
resistentes da alvenaria como condicionantes e, para valores da tensão de rotura à
compressão, os obtidos em ensaios de compressão de provetes de alvenaria [22].

4.5. Definição da estrutura a suportar

As características das paredes são relativamente variáveis, dependendo do tipo


de alvenaria com que são constituídas, do seu estado de degradação e dos tratamentos
de consolidação a que foram submetidas, o que traduzirá também um comportamento

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -63-


DIMENSIONAMENTO

mecânico-estrutural divergente. Ao contrário dos materiais modernos, geralmente


homogéneos, isotrópicos e com propriedades mecânicas uniformes, a alvenaria é
heterogénea e descontínua. De um modo geral, as paredes de alvenaria possuem uma
boa resistência à compressão (embora dependente do volume de vazios e, no caso de
paredes compostas, do grau de confinamento dos paramentos) e muito fraca resistência
à tracção e ao corte, contando apenas com a acção coesiva da gravidade e,
consequentemente, fraca resistência a esforços de flexão. Apresentam também, muitas
vezes, mecanismos de rotura frágil e fraca ligação entre elementos estruturais.
Correntemente, dividem-se as paredes de alvenaria em dois grupos principais:
paredes de alvenaria de pedra e paredes de tijolo cerâmico. Evidentemente, dentro de
cada um destes grupos, as paredes possuem características divergentes, consoante o
material constituinte e o processo construtivo, que variam em função da região e época
em que são construídas. Posto isto, é possível agrupar paredes com idênticas
características morfológico-construtivas, com respeito, nomeadamente, às unidades de
alvenaria, às características de assentamento, às características do(s) ligante(s) e,
fundamentalmente, às características da secção transversal, para definir tipologias de
paredes. A análise da secção desempenha um papel fundamental no estudo das
propriedades e comportamento das alvenarias pelo que uma classificação mais geral
apenas se refere às características da secção transversal, nomeadamente ao número de
paramentos e ao seu grau de sobreposição. Nas alvenarias antigas, identificam-se
fundamentalmente três grandes tipologias de secções, sendo elas paramento simples,
paramento duplo e paramento triplo [27], conforme se pode identificar na Fig. 4.7.
Após a definição das tipologias das paredes de alvenaria com particularidades
relativamente semelhantes, seria proveitoso atribuir características mecânicas
genericamente válidas para cada grupo. Contudo, mesmo assim, não se trata de tarefa
fácil, pois, dentro de cada grupo, continua a ser grande a heterogeneidade do material e
morfológica, em consequência da diversidade de características materiais e construtivas,
e, para além disso, podem apresentar diferentes anomalias e níveis de degradação.
Para se proceder à caracterização das alvenarias, poderá ser necessário remover
localmente parte do reboco criando uma espécie de janelas. Assim, através da realização
de furos com berbequim ou usando furos e fendas existentes, faz-se uma inspecção
visual, que poderá ser auxiliada de câmara boroscópica, concluindo-se sobre a
caracterização morfológico-construtiva da parede e sobre o respectivo estado de
degradação.

Rui Manuel Pereira Cruz - 64 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

b) c) d)

Fig. 4.7 - Classificação da secção das paredes em alvenaria de pedra segundo o número de
paramentos: (a) paramento simples; (b) dois paramentos sem ligação; (c) dois paramentos com
ligação; (d) três paramentos com núcleo de fraca qualidade [28]

Para uma caracterização qualitativa das alvenarias, um dos ensaios in-situ que
mais se destacam são os ensaios sónicos. Estes, baseados na velocidade de propagação
de ondas sonoras geradas por impulsos de alta ou baixa frequência (ultrasónicos ou
sónicos) permitem:
o qualificar a morfologia das secções, identificando a presença de grandes
vazios, de defeitos ou danos e identificar a presença de materiais distintos,
como por exemplo a madeira no caso de paredes de alvenaria mista;
o controlar o comportamento das estruturas depois das intervenções de reforço
(principalmente no caso de injecções e refechamento das juntas).
Dever-se-á, ainda, efectuar a caracterização mecânica da alvenaria, através de
um estudo da estrutura que permita a adopção de um modelo estrutural válido e
representativo. De entre os vários métodos que hoje existem para a determinação das
propriedades mecânicas da alvenaria, distinguem-se dois grupos principais:
o métodos indirectos - as propriedades mecânicas das alvenarias são estimadas
a partir do conhecimento das propriedades mecânicas dos seus componentes
básicos (unidades de alvenaria, tijolos e pedras, e da argamassa de
assentamento) ou através de ensaios de “carotes” sobre a alvenaria; para se
conhecerem as características dos componentes, desenvolvem-se ensaios
sobre os mesmos;
o métodos directos - por vezes, torna-se muito difícil conseguir correlacionar
as características dos componentes com as da alvenaria como um todo, como
por exemplo em casos em que existem unidades de madeira (alvenaria
“Pombalina”); assim, os ensaios têm de ser realizados sobre painéis de
alvenaria com as dimensões necessárias para que sejam representativos do

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -65-


DIMENSIONAMENTO

comportamento da parede ou então directamente sobre a estrutura de


alvenaria (in-situ); estes ensaios apresentam inúmeras desvantagens,
associadas ao seu carácter essencialmente destrutivo e às elevadas dimensões
dos provetes que limitam o número de ensaios a realizar e,
consequentemente, a representatividade dos resultados; é indispensável ter
em atenção uma série de cuidados na recolha e transporte de amostras para a
realização de ensaios em laboratório para evitar perturbações das amostras.
Hoje em dia, é muito aplicada uma técnica de carácter essencialmente não
destrutivo e muito versátil e que consegue fornecer resultados bastante fiáveis, pois é
executada in-situ, sobre uma amostra não alterada e com dimensões suficientes para
representar o comportamento médio do material. Trata-se do ensaio com macacos
planos (flat-jacks).
Este método permite a determinação das relações tensões-extensões da alvenaria.
Através da utilização de macacos planos simples (Fig. 4.8a)), consegue-se conhecer o
estado de tensão e, utilizando macacos planos duplos (Fig. 4.8b)), situados em dois
entalhes paralelos, é possível determinar as características de deformabilidade e de
resistência à compressão da alvenaria das paredes e de outros elementos estruturais.

a) b)

Fig. 4.8 - Ensaio com macacos planos: a) macacos planos simples [28]; b) macacos planos duplos [44]

O ensaio baseia-se na libertação do estado de tensão, através da realização de um ou


dois entalhes profundos na parede, seguida de aplicação de cargas através de macacos
planos de pequena área, de pequena espessura, inseridos previamente nos entalhes [44].
Os macacos planos podem ser deixados na alvenaria durante o tempo que se desejar,

Rui Manuel Pereira Cruz - 66 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

funcionando como células de carga que acompanham a evolução da estrutura durante


um período de observação. Em conjunto com este aparelho, é usado também um
alongâmetro mecânico para a medição de deformações (Fig. 2.7d)).

4.5.1. Determinação do estado de tensão


A tensão instalada na alvenaria da parede pode ser determinada com o ensaio de
macacos planos do seguinte modo:
o executa-se um corte plano na superfície;
o analisa-se o fecho do corte, medindo a convergência entre pares de pontos
dispostos simetricamente em relação ao corte;
o insere-se um macaco plano no corte.
o aumenta-se a gradualmente pressão no macaco por níveis de carga com
incremento constante, até que tenha sido eliminada a convergência
anteriormente medida;
o regista-se esse valor da pressão (P) que repõe as condições iniciais da
alvenaria e obtém-se o valor da tensão (σ) no ponto de ensaio que é dado
pela seguinte fórmula [44]:
σ = Km × Ka × P (14)

em que:
- Km tem em conta as características geométricas do macaco e a
rigidez do cordão de soldadura do macaco; este parâmetro é determinado por
meio de testes de calibração realizados pelo fabricante e é relatado no
certificado de calibração;
- Ka é dada pela razão entre a área do macaco (Am) e a do corte (Ac):
Am
Ka = ; (15)
Ac
- P é o valor da pressão que repõe as condições iniciais da alvenaria.

4.5.2. Determinação das características de deformabilidade


Para se definirem os modelos de cálculo, é necessário conhecer características da
parede como as de deformabilidade, que podem ser determinadas, quer na direcção
vertical quer na horizontal, com o ensaio de macacos planos duplos, como referido.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -67-


DIMENSIONAMENTO

Fichas técnicas da “Oz”, empresa especializada no diagnóstico dos problemas


apresentados pelas construções e caracterização das suas propriedades e do seu
desempenho, mostram como determinar as características de deformabilidade das
paredes de alvenaria:
o executam-se dois cortes paralelos na alvenaria;
o são inseridos dois macacos planos (com forma geométrica composta) nos
cortes;
o os macacos são ligados em paralelo à bomba de pressão, sendo então
aplicada uma tensão uniaxial à amostra da parede localizada entre os
macacos, reproduzindo condições do ensaio muito semelhantes às do ensaio
uniaxial convencional;
o o ensaio é realizado através de vários ciclos de carga / descarga, com o
aumento / diminuição gradual dos níveis de tensão com incrementos
constantes, sendo realizadas em cada nível leituras das deformações da
amostra;
o os níveis máximos de tensão são seleccionados em função das características
mecânicas da parede, não devendo exceder, normalmente, 50 por cento da
resistência à compressão uniaxial; o valor do módulo de elasticidade - E para
cada intervalo de tensão (σ) pode ser calculado pela seguinte fórmula:
σ
E= (16)
ε
em que:
- ε é a extensão correspondente à deformação medida nas bases de
medição, e que pode ser calculada através da fórmula:
li −l f
ε= (17)
li
em que:
- li é a distância inicial entre as bases de medição;
- lf é a distância final entre as bases de medição.
É necessário corrigir as pressões lidas no manómetro, tendo em conta os factores
de correcção Km e Ka, acima referidos.

Rui Manuel Pereira Cruz - 68 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

4.5.3. Estimativa da resistência à compressão


Para avaliar a resistência à compressão, poder-se-á utilizar a anterior disposição
dos macacos para a determinação da deformabilidade. O ensaio consiste em fazer
aumentar progressivamente a carga aplicada à amostra pelos macacos planos, até que
apareçam algumas fissuras, registando-se então a pressão observada no manómetro.
Para saber a resistência limite, basta extrapolar a curva carga / deformação [44].
Se se pretender determinar a resistência à compressão mas, neste caso,
utilizando o referido método indirecto, o Eurocódigo 6 propõe uma fórmula semi-
empírica para a determinação da resistência à compressão (fk) de alvenarias simples:

[
f k = K × f b0, 65 × f m0, 25 N mm 2 ] (18)
com: fm inferior a 20 N/mm2 e inferior a 2 fb (em qualquer dos casos, o
menor);
em que:
- K é um parâmetro função do tipo de aparelho e do tipo de unidades
de alvenaria (N/mm2)0,1;
- fb é a resistência normalizada à compressão das unidades de
alvenaria (N/mm2);
- fm é a resistência de uma argamassa convencional (N/mm2).
De acordo com o Eurocódigo 6, determinada a resistência à compressão (fk),
pode-se estimar o módulo de elasticidade (E). Para acções de curta duração, pode ser
considerado igual a 1000 fk, no caso de estados limite últimos, ou 600 fk, no caso de
estados limite de utilização. Por sua vez, o módulo de distorção G, na ausência de
valores mais precisos, pode ser tomado igual a 0.4 do módulo de elasticidade.
É necessário ter em atenção que estes valores são calculados para pedra nova, o
que não se adequa perfeitamente ao caso em questão, a reabilitação de edifícios antigos.

4.5.4. Estimativa da resistência à tracção


Nalguns casos, e ao contrário do referido, a alvenaria não conta apenas com a
acção coesiva da gravidade mas também com uma argamassa em estado
consideravelmente bom. Nestes casos, é necessário estimar a qualidade da argamassa, o
que pode ser feito com um ensaio de arrancamento com hélice [46]:
o escolhem-se os pontos de ensaio, e executam-se furos a meio da espessura de
argamassa da junta;

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -69-


DIMENSIONAMENTO

o crava-se, em cada furo, a hélice de fixação, utilizando o acessório para o


efeito, até ela ter penetrado o comprimento de referência;
o depois de colocar a peça de arrancamento, monta-se o dispositivo de
arrancamento, que tracciona a hélice de fixação, provocando a rotura por
corte da argamassa e registando a respectiva força máxima.

4.6. Definição da malha estrutural de suporte interior

A malha aqui considerada, várias vezes referida em capítulos anteriores, é linear


e coplanar com a parede onde se insere, que serve de base para a ligação da parede à
estrutura de suporte. É materializada por um conjunto de perfis metálicos dispostos
horizontalmente ao longo do desenvolvimento em altura da parede (Fig. 4.9).

1m

M
L

Fig. 4.9 - Modelo de cálculo do afastamento da malha de suporte interior

Rui Manuel Pereira Cruz - 70 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

O objectivo desta substrutura é garantir que a fachada funciona como um


diafragma rígido. Para que isto se verifique, os perfis metálicos deverão estar de modo a
que não ocorram tensões de tracção na parede, estando esta sujeita à combinação de
acções mais desfavorável. Assim, atendendo à verificação desta condição, pode-se
calcular o afastamento da malha - L, através da equação:

8GHe2
L≤ (19)
6w
em que:
- σ é a tensão máxima na parede (kN/m2);
- w é a pressão dinâmica do vento (kN/m2);
- G é o peso específico da parede (kN/m3);
- H é a distância entre a secção considerada e o topo da parede (m);
- e é a espessura da parede (m).

A expressão resulta da aplicação do princípio da sobreposição de tensões (20) a


uma faixa de um metro de parede, considerada como simplesmente apoiada na estrutura
e, portanto, com um vão igual a L (Fig. 4.9).
M P
σ= − (20)
ω A
em que:
- M é o momento a meio vão da parede, resultante da pressão
dinâmica do vento (kN.m);
- ω é o módulo de flexão (kN/m3);
- P é o peso da parede (kN);
- A é a área da faixa de um metro da parede (m2).
sendo:

wL2
M= , (21)
8
e3
ω= , (22)
6
P = GH (23)
e
A = e, (24)

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -71-


DIMENSIONAMENTO

vem:

6wL2
σ= − GH ≤ 0 (25)
8e 2
do que resulta a equação (19).

O valor “8” adoptado na equação (21) e, consequentemente, nas equações (25) e


(19), resulta da consideração do modelo de cálculo como simplesmente apoiado.
Todavia, na realidade, existe alguma continuidade nos apoios, sendo esse valor
discutível. Assim, o valor “8” poderá ser aumentado, tanto quanto maior for grau de
encastramento. De qualquer modo, este valor poderá sempre ser utilizado, uma vez que
é o mais desfavorável.
Das expressões apresentadas, pode-se concluir que o espaçamento da malha fica
mais exigente nos pisos superiores, isto é, ao longo do desenvolvimento em altura da
parede, porque, para além da diminuição do seu peso próprio, há um aumento da
pressão dinâmica do vento, requerendo um espaçamento mais apertado. Pela mesma
razão, é conveniente colocar um perfil de travamento na extremidade superior da parede.
Em determinados casos, dado o avançado estado de degradação da parede ou
devido à sua definição arquitectónica, torna-se difícil colocar uma malha com
espaçamento tal que seja suficiente para satisfazer o requisito de não existência de
tensões de tracção. Uma forma de contornar este problema é a adopção de uma malha
em grelha em vez da referida malha linear. Deste modo, tem-se um conjunto de perfis
verticais associados aos horizontais, permitindo uma distribuição dos esforços em
ambas as direcções.
Dada a aleatoriedade da acção do vento, a estrutura deve estar preparada para
cumprir o seu objectivo, independentemente da direcção em que o vento actua. É
corrente a adopção de uma segunda malha na outra face da parede.
Quando o afastamento da malha é equivalente ao do pé direito precedente, é
possível dispensar a verificação do afastamento entre perfis (19), como de seguida se
demonstra. Obviamente, este princípio não se poderá estender a situações de pé-direito
invulgares ou paredes deveras degradadas.
Demonstração:

8 × 22 × 3 × 0,5 2
L≤ = 4,9m
6 × 0,9

Rui Manuel Pereira Cruz - 72 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Como se pode ver, o espaçamento exigido é ainda grande, mesmo estando


perante uma parede com pouca espessura (e = 0,5 m), uma altura reduzida (H = 3 m) e
uma pressão dinâmica do vento, w = 0,9 kN/m2.

4.7. Modelos de cálculo

A criação de modelos de cálculo nunca poderá englobar todas as situações


possíveis de suporte de paredes pois cada caso é diferente do outro e requer um modelo
de cálculo específico. No entanto, nesta secção, tenta-se englobar ao máximo os
diversos tipos de situações, estabelecendo um modelo de cálculo para cada tipo de
contenção, adoptando uma fachada tipo a suportar e sujeita a uma acção tipo.
Não se deverá esquecer que, numa mesma situação, podem ser utilizados
sistemas de contenção diferentes, mesmo que sejam do mesmo tipo, e podem ainda ser
utilizadas combinações de diferentes tipos.
Apresentam-se, de seguida, os diagramas de esforço, correspondentes aos vários
modelos de cálculo adoptados e sujeitos à acção tipo. O objectivo não corresponde ao
dimensionamento das estruturas mas sim a poder comparar o modo como os diferentes
sistemas de contenção reagem ao mesmo tipo de acção.

4.7.1. Generalidades
Para avaliar os esforços resultantes da acção tipo, efectuaram-se modelos
tridimensionais no programa de cálculo automático SAP2000.
No que diz respeito à modelação dos vários elementos estruturais, utilizaram-se
elementos finitos de barra para simular perfis metálicos da estrutura.
Os diferentes sistemas de suporte não se ligam directamente à parede mas sim a
uma malha de suporte, constituída por perfis horizontais (HEB 200) coplanares com a
fachada e que a rigidificam. Estão colocados a cinco níveis com espaçamentos de 3 m,
correspondentes ao pé-direito dos pisos.
As fundações da estrutura foram modeladas através de encastramentos perfeitos,
considerando então que existem boas condições de fundação, recorrendo-se a fundações
indirectas, se necessário, para que esta condição seja verificada.
Considera-se que os vãos são fechados com alvenaria de tijolo, não sendo,
portanto, descontada a acção do vento sobre aqueles.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -73-


DIMENSIONAMENTO

4.7.1.1.Fachada-tipo
Considera-se então, para todos os modelos, uma “fachada-tipo”, com as mesmas
dimensões, composição e comportamento. A parede de fachada adoptada apresenta 0,80
m de espessura (e), 15 m de altura e 30 m de comprimento. Admite-se uma parede tipo
de alvenaria de pedra, possuindo um peso específico de 22,0 kN/m3 e um módulo de
elasticidade (E) de 600 MPa e um módulo de torção (G) de 80 MPa. Considera-se que a
alvenaria adoptada tem uma resistência à tracção de 0 MPa e uma resistência à
compressão de 0,6 MPa (baseado em [49]).
Considera-se ainda que a parede não tem boas condições de fundação sendo
considerada como simplesmente apoiada, suportando apenas o seu peso próprio.

4.7.1.2.Acção tipo
Seguidamente, será necessário proceder à quantificação das acções. As acções a
considerar variam com a localização do edifício e com a sua envolvente, com a sua
própria geometria e até mesmo com o projectista. Nos modelos de cálculo apresentados
de seguida, será apenas considerada como acção variável a acção do vento. Considera-
se também que o peso próprio da fachada é suportado pela mesma e que 1,5% do peso
da fachada actua como carga horizontal, devido ao desaprumo da fachada.
Recorre-se ao RSA para quantificar a acção do vento. Assim, é necessário
definir a zona e a rugosidade aerodinâmica do solo. Dado que este tipo de edifícios se
situa geralmente em zonas urbanas e, muitas vezes, não muito longe do mar, considera-
se rugosidade do tipo I e zona B.
Vento:
o Pressão dinâmica (wk) = 1,2 × 0,7 = 0,84 kN/m2 (zona B);
o Coeficiente de pressão (δp) = 0,7;
o Pressão (p) = wk × δ p = 0,588 kN/m2; (26)2

Desaprumo:
o % de desaprumo (d) = 1.5%;
o Peso específico da fachada (γalv) = 22 kN/m3;
o Carga de desaprumo (D) = γ alv × e × d = 0,264 kN/m2. (27)

2
Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA)

Rui Manuel Pereira Cruz - 74 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

4.7.2. Suporte aéreo (flying shores)


O modelo de cálculo para o suporte aéreo (Fig. 4.10) é concretizado por uma
série de barras horizontais, funcionando essencialmente por compressão. Estas barras,
numa extremidade, ligam-se a edifícios adjacentes, outras partes do edifício ou qualquer
outra forma de suporte e, na outra extremidade, ligam-se à malha estrutural de suporte
interior.
O sistema é constituído por perfis tubulares ROR de 152,4 mm de diâmetro
exterior e 4,5 mm de espessura.

Fig. 4.10 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo aéreo (vista a 3 dimensões)

Como se pode observar pelo diagrama de esforço axial (Fig. 4.11), esta estrutura
está sujeita a um esforço de compressão (ou tracção) máximo de 12, 43 kN, não
variando muito na maioria dos perfis. Assim, a estrutura deve ser dimensionada para
este valor e, consoante a tensão admitida na superfície que a suporta, deve ser
dimensionada a área dos apoios, de modo que a tensão actuante seja menor do que a
tensão resistente e que não haja problemas de punçoamento.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -75-


DIMENSIONAMENTO

12.43

Fig. 4.11 - Diagrama de esforço axial do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
aéreo (vista a 3 dimensões)

4.7.3. Bielas (ranking shores)


O modelo de cálculo para o suporte de paredes por bielas é concretizado por
uma série de barras inclinadas, funcionando essencialmente por compressão. Estas
barras são constituídas por perfis tubulares RHS (150 x 150 x 8,0 mm), espaçados de 3
em 3 m, em conformidade com a Fig. 4.12. Numa extremidade, a barra liga-se à
fundação e, na outra extremidade, liga-se à malha estrutural de suporte interior,
formando ângulos compreendidos entre 45º e 75º.
O modelo de suporte de paredes por bielas funciona fundamentalmente por
tracção / compressão das barras. O valor desses esforços em cada barra depende da área
de influência das mesmas, ou seja, do espaçamento entre elas. Este valor varia ainda em
função da respectiva inclinação, como se pode observar no diagrama de esforço axial
deste modelo (Fig. 4.13).

Rui Manuel Pereira Cruz - 76 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Fig. 4.12 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo bielas (vista a 3 dimensões)

A máxima deformação obtida nesta estrutura, δ0, é de 3,02 mm, estando abaixo
do valor máximo admitido (1/500, ou seja, 0,03 m [12]).
As fundações deste tipo de contenção transmitem ao terreno os correspondentes
esforços de tracção e de compressão. Assim, devem estar preparadas para absorver estas
tensões de tracção e têm de estar assentes num terreno capaz de absorver as tensões de
compressão. Para além disto, não podem permitir o deslizamento, uma preocupação
tanto maior quanto menor o ângulo formado com o terreno.
Para o caso analisado, conclui-se que sapatas com as dimensões indicadas na Fig.
4.14 e com 1 m de altura são suficientes para garantir que, pelo seu peso próprio e pelas
suas dimensões, resistem aos esforços de tracção e de compressão e ao deslizamento.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -77-


DIMENSIONAMENTO

31.51

Fig. 4.13 - Diagrama de esforço axial do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
bielas (vista a 3 dimensões e yz)

Fig. 4.14 - Sapatas de fundação do sistema de suporte de paredes tipo bielas

Rui Manuel Pereira Cruz - 78 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

4.7.4. Sistemas em consola (vertical shores)


O modelo de cálculo para a estrutura de suporte de paredes tipo consola (Fig.
4.15) é constituído por uma série de perfis verticais com um espaçamento de 3 m,
ligados à malha estrutural de suporte interior, ao longo da sua altura e encastrados no
solo de fundação.
Os perfis adoptados para estas barras verticais são perfis IPE 300.

Fig. 4.15 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo consola (vista a 3 dimensões)

Como o próprio nome indica, este tipo de estrutura funciona como uma consola,
ou seja, por flexão, tendo o esforço transverso uma importante contribuição para a
estabilidade da estrutura
Dado o seu funcionamento, os perfis transmitem elevados momentos e esforços
transversos às respectivas fundações.
As fundações, tendo de absorver estes importantes esforços, podem ser feitas
com micro-estacas ou maciços de betão. Uma vez que seriam necessários maciços de
dimensões muito grandes e isso poderia não ser compatível com o espaço disponível e,

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -79-


DIMENSIONAMENTO

muito provavelmente com as fundações da parede, a melhor solução será recorrer a


micro-estacas. A fundação da estrutura deve então ser constituída por uma viga de
fundação que solidariza todos os perfis e as micro-estacas, para que não ocorram
assentamentos diferencias, prejudiciais para a estrutura.
A estrutura adoptada para este caso, com perfis IPE 300, não é capaz de resistir
aos esforços a que está sujeita (Fig. 4.16) e deforma-se demasiadamente. Posto isto, a
decidir por este tipo de estrutura, deve ser adoptada uma estrutura mais rígida. A
colocação de uma segunda malha pelo interior é uma boa solução. Também devem ser
tomadas medidas para controlo da deformação, como aumentar a inércia dos perfis
verticais, colocar uma segunda malha pelo interior e/ou adoptar contraventamentos quer
sejam apoiados no solo ou noutros edifícios.

465.62
52.21

Fig. 4.16 - Diagramas de esforço transverso (à esquerda) e de momento flector (à direita) do modelo
de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo consola

Rui Manuel Pereira Cruz - 80 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

4.7.5. Sistemas em pórtico (dead shores)


As estruturas de suporte de paredes tipo pórtico correntemente adoptadas,
embora pareçam relativamente semelhantes, apresentam configurações muito distintas,
principalmente no que toca ao tipo de perfis, ao espaçamento entre eles e à adopção de
maior ou menor número de perfis inclinados. Isto varia conforme as dimensões e
geometria da fachada, as acções tomadas e o critério do projectista. Deve-se procurar a
solução que, para além de cumprir a segurança, seja económica e satisfaça requisitos
específicos como a colocação de contentores no interior ou a criação de vãos para a
passagem de viaturas.
Neste caso, e à semelhança das estruturas anteriores, é adoptado um
espaçamento de 3 m em todas as direcções e, como se pode ver na Fig. 4.17, é colocado
um perfil diagonal em cada vão.
A estrutura é constituída por perfis HEB 280.

Fig. 4.17 - Modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo pórtico (vista a 3 dimensões)

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -81-


DIMENSIONAMENTO

Fig. 4.18 - Diagrama de esforço axial do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
pórtico (vista a 3 dimensões)

Fig. 4.19 - Diagrama de esforço transverso do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes
tipo pórtico (vista a 3 dimensões)

Rui Manuel Pereira Cruz - 82 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Fig. 4.20 - Diagrama de momento flector do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes
tipo pórtico (vista a 3 dimensões)

4.46

-152.31 4.69

Fig. 4.21 - Diagramas de esforços do modelo de cálculo de sistema de suporte de paredes tipo
pórtico: esforço axial, esforço transverso e momento flector, da esquerda para a direita

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -83-


DIMENSIONAMENTO

Antes de se definir o modelo tem de ser decidido que tipo de ligação se vai
utilizar na estrutura, podendo funcionar como rótulas ou não. Se as barras inclinadas
fossem rotuladas, apenas teriam esforços de tracção / compressão. No entanto,
considera-se que neste modelo todas as ligações são soldadas, encontrando-se esforços
de flexão e esforço transverso nestas (Figs. 4.19, 4.20 e 4.21).
A máxima deformação obtida, δ0, é de 1,727 mm, estando abaixo do valor
máximo admitido (1/500, ou seja, 0,03 m [12]).
Verifica-se que, nos perfis verticais anteriores e posteriores, existem esforços
axiais com sentidos diferentes (Figs. 4.18 e 4.21). Assim, as fundações desses perfis
devem ser solidarizadas por vigas de fundação ou devem ser juntas no mesmo elemento,
evitando assentamentos diferenciais, a que corresponderiam deslocamentos indesejáveis
na parede.
Neste caso, são adoptados maciços (ou contrapesos) unindo os perfis verticais 2
a 2 (anterior e posterior), com as dimensões indicadas nas Figs. 4.22 e 4.23. Depois do
pré-dimensionamento dos contrapesos, analisam-se as forças que actuam sobre eles e
verifica-se se não é possível o derrubamento, garantindo que, para cada contrapeso, o
momento estabilizante (Me) é maior do que o momento instabilizante (Mi).

Fig. 4.22 - Planta das fundações adoptadas para o sistema de suporte de paredes tipo pórtico

Me = Wm × 2 + N 1 × 0,5 + M 1 + M 2 (kN.m)

Mi = N 2 × 3,5 + ( H 1 + H 2 ) × 2 (kN.m)

Analisando cada contrapeso, verifica-se que, na pior situação, Me = 1,55 ,


Mi
tendo-se obtido os esforços indicados no Quadro 4.2.

Rui Manuel Pereira Cruz - 84 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Quadro 4.2 - Esforços nas fundações do sistema de suporte de paredes tipo pórtico
M1 (kN.m) M2 (kN.m) N1 (kN) N2 (kN) V1 (kN) V2 (kN)
7,94 9,13 109,16 -54,96 0,28 -56,09

Fig. 4.23 - Esquema das fundações adoptadas para o sistema de suporte de paredes tipo pórtico

4.7.6. Ligações
Existe uma enorme variedade de ligadores no mercado e os diferentes
fabricantes apresentam uma gama de produtos especialmente vocacionados para cada
situação.
No caso apresentado, pode-se optar por um sistema de ancoragem química que
garanta uma ligação capaz de absorver os esforços axiais e de corte a que a parede está
submetida, perante os diferentes tipos de estrutura de suporte. A empresa HILTI
apresenta o sistema de injecção HIT-HY-70, com aplicações ilimitadas em qualquer
tipo de alvenaria. O sistema de injecção pode ser aplicado, por exemplo, com um
ligador HIT-ACR, em aço inoxidável, classe A4-70, com 10 mm de diâmetro [39].
Como referido na parte do dimensionamento dos ligadores, não basta que a
estrutura seja suficientemente resistente para suportar os esforços transmitidos pela
parede que suporta, sendo necessário que os ligadores tenham a capacidade para
transmitir esses esforços.
O valor da resistência ao arrancamento, para a parede considerada (alvenaria de
pedra natural), é difícil de estimar porque pode ser muito variado e não se encontra
tabelado, sendo recomendável a realização de ensaios para a determinação desses
valores (Devido à enorme variedade de pedras naturais, deverão … ser realizados

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -85-


DIMENSIONAMENTO

ensaios em obra para determinar os valores resistentes [39]). É desejável que a tensão
de arrancamento dos ligadores esteja próxima do valor da tensão de cedência do aço
para que se tenha uma ligação eficiente, ou seja, com um bom aproveitamento das
características do ligador. Atendendo ao ligador escolhido, deve-se ter uma força de
arranque próxima de 35 kN.
Os sistemas de suporte tipo aéreo e tipo consola apresentam, segundo os
modelos, um esforço de corte na ligação muito pequeno. Assim, e considerando um
mínimo de um ligador por metro, fica garantida a ligação para estas estruturas. Por sua
vez, as estruturas tipo pórtico e tipo bielas apresentam esforços de corte consideráveis
(Quadro 4.3), sendo necessário calcular o número de ligadores necessários.
O valor da resistência ao corte da ligação está fortemente condicionado pelas
características da alvenaria, sendo este valor menor do que a resistência do ligador,
porque, antes de se atingir esse valor, ocorre o esmagamento da alvenaria (dependendo
do tipo de alvenaria). Esse valor poderá ser estimado admitindo válida a extrapolação da
expressão (10) para a ligação estrutura de suporte / parede de alvenaria e os valores:
Øb = 10 mm;
e = 0,001 m;
fcd = 0,4 MPa [49];
fsyd,b = 450 MPa.
Obtém-se assim a resistência ao corte em cada ligação (Vrd,b) e, por conseguinte,
o número de ligadores necessários por cada ligação da estrutura à fachada (Quadro 4.4).

Quadro 4.3 - Máximos esforços axiais e de corte nas estruturas de suporte de paredes tipo pórtico e
tipo bielas
Bielas Pórtico
Axial (kN) Corte (kN) Axial (kN) Corte (kN)
15,68 34,90 17,44 18,16

Quadro 4.4 - Cálculo do número de ligadores por cada 3m para a resistência ao esforço de corte
Bielas Pórtico
fs,b 0,58 fs,b 1,25
σs,b 7,39E+03 σs,b 1,59E+04
ς 0,02 ς 0,04
Vrd,b 1,33 Vrd,b 1,33
Número de ligadores = 26 Número de ligadores =14

Rui Manuel Pereira Cruz - 86 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

CAPÍTULO 5

ESTUDO COMPARATIVO

5. ESTUDO COMPARATIVO
É muito usual recorrer-se ao uso de vários sistemas de contenção em simultâneo
sendo conjugados ou complementados, o que significa que as suas condicionantes e as
suas vantagens são associadas, de modo que se poderão somar ou anular.
Vasco Farias, em “Sistemas de contenção de fachadas”, destaca uma
desvantagem comum a todos os sistemas de contenção, independente de todos os seus
outros inconvenientes e vantagens, que é o facto de geralmente serem sistemas passivos,
querendo significar que se tratam de sistemas meramente provisórios, não apresentando
qualquer contribuição para a estabilidade da estrutura do edifício em fase de serviço.
Posto isto, é feita a sugestão da criação de um estudo sobre a viabilidade da utilização
de sistemas mais activos, ou seja, estruturas capazes de, inicialmente, conferir suporte às
paredes e, terminada esta tarefa, contribuir de forma eficaz para a estabilidade da
estrutura, contrariamente ao modus faciendi tradicional, em que se remove a estrutura.
Se se estiver perante soluções racionalizadas que são bastante adaptativas e destinadas
ao uso sistematizado em várias obras, este raciocínio não faz sentido. Contudo, em
muitas outras situações, o aproveitamento das estruturas é limitado e a adopção de uma
solução deste tipo pode ser proveitosa.
Este estudo não faz parte dos objectivos deste trabalho mas pretende-se de
seguida apresentar uma sucinta e eminentemente objectiva comparação dos diferentes
tipos de soluções, segundo diferentes pontos de vista fazendo uma análise da velocidade
de montagem e facilidade de execução, impactes na execução da obra e impactes na
envolvente, passando também por uma análise económica e considerações sobre a
segurança.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -87-


ESTUDO COMPARATIVO

5.1. Velocidade de montagem (facilidade de execução)

O sistema cuja montagem é, geralmente, mais rápida é o de suporte aéreo pois


trata-se de uma estrutura muito simples, materializada por perfis apenas apoiados nas
extremidades e dispensando o recurso a fundações. O reduzido número de perfis a
utilizar dá também um grande contributo para a facilidade de execução e rapidez de
montagem deste tipo de estrutura. Todavia, por ser aplicado por fases, acaba por levar
mais tempo a montar e desmontar do que os restantes sistemas, não obstante as
vantagens inerentes a este facto.
O sistema de suporte por bielas é outro sistema bastante fácil de executar e
rápido de montar, sendo até indicado para contenções de emergência de fachadas, muros
ou escavações. Para pequenas contenções, em que as fundações exigidas são muito
simples, torna-se discutível seleccionar qual a solução de maior facilidade ou de mais
rápida execução, esta ou a anterior (não tendo em conta a demolição do edifício pois,
caso contrário, seria, à partida, a solução com bielas).
As estruturas que faltam são, agora, facilmente ordenáveis em termos de
facilidade de execução e de rapidez de montagem. Esta ordenação, torna-se óbvia,
devido ao número de perfis utilizados, ao volume que ocupam e à consequente
complexidade das fundações dos sistemas em consola e em pórtico.
A prestação destes sistemas, segundo os pontos de vista aqui abordados, pode
ser mais ou menos melhorada, em função de diversos aspectos como:
o experiência adquirida nas obras de reabilitação que se vão realizando;
o adaptabilidade da estrutura para diferentes obras de contenção;
o possibilidade de divisão da estrutura em blocos susceptíveis de serem
transportados e facilmente montados na obra seguinte (Fig. 5.1);
o utilização de sistemas modernos acopláveis, de comprimento variável, sendo
ajustáveis e facilmente montados e desmontados, permitindo um bom
rendimento em tempo e mão-de-obra (Figs. 5.1 e 5.2).

5.2. Impactes na execução da obra

Em princípio, quando se pensa na obra que se vai executar, é necessário, de


imediato, ter em conta a estrutura de suporte de paredes que se vai utilizar, bem como

Rui Manuel Pereira Cruz - 88 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

todos os condicionalismos que a mesma impõe. Deste modo, não deve ser esquecido
que a estrutura ocupa espaço e que este espaço é também necessário para a construção
da nova estrutura, quer para a sua implantação quer para o desenvolver dos trabalhos
que lhe darão origem.

Fig. 5.1 - Montagem de estrutura tipo Fig. 5.2 - Gama alargada de componentes que
pórtico, acoplando blocos previamente permitem combinar simples vigas em sistemas de
montados [23] escoramento excepcionalmente versáteis,
adaptáveis a quase todas as situações [3]

As estruturas de contenção aérea podem ter um grande impacte no decorrer da


obra, uma vez que, usualmente, são montadas pelo interior, unindo diferentes fachadas
ou ligando-as a um edifício adjacente. Assim, é distribuído um conjunto de perfis no
seio deste espaço, que condiciona a movimentação de equipamentos e materiais (Fig.
5.3). Para além disto, pode tornar-se necessário fazer pequenas interrupções, no início,
para colocação do escoramento e continuar com a demolição e, a posteriori, para se
retirar um novo nível de perfis e assim poder-se avançar com a construção de outro piso
(caso não se pretenda desmontar apenas no final e retirá-la pelos vão definitivos, aos

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -89-


ESTUDO COMPARATIVO

pedaços). Por outro lado, o espaço exterior é deixado livre, assim como o espaço ao
nível das fundações que pode, desta forma, ser aproveitado ao máximo para a
construção de pisos inferiores.
A contenção por bielas, de um modo geral, é executada pelo exterior, que é um
espaço que não tem um impacte directo na construção do edifício tão forte como o
espaço interior.

Fig. 5.3 - Sistema de suporte aéreo: ligação das fachadas a um edifício adjacente; distribuição de
perfis no interior do edifício condicionando a movimentação de equipamentos e materiais [15]

O sistema de suporte em consola ocupa um espaço muito reduzido, pelo que o


seu impacte será também diminuto, em comparação com os demais sistemas. Deve
haver, no entanto, uma preocupação com estes sistemas, associada ao seu elevado grau

Rui Manuel Pereira Cruz - 90 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

de instabilidade, que torna as paredes mais sensíveis e, portanto, correndo o risco de


serem alvo de intervenções para reparação de fendas que apareçam ou de elementos que
se destaquem.
As contenções com estruturas em pórtico são, na maioria dos casos, executadas
pelo exterior, não desenvolvendo perturbações importantes no normal desenrolar dos
trabalhos, podendo ainda servir de suporte para a colocação de contentores e escritórios.
Todavia, cada caso é um caso e também existem situações em que se recorre a estas
estruturas montando-as pelo interior do edifício, geralmente devido à impossibilidade de
ocupação do espaço exterior. Esta situação causa problemas, não só na execução dos
novos pisos, como também na escavação e execução de caves (se for o caso), pois estas
estruturas necessitam de fundações e, no local destas, será difícil o aproveitamento do
espaço.
Independentemente da malha escolhida para suportar a fachada, pode ser
imprescindível a existência de um local cujo espaçamento entre os perfis seja tal que
permita a entrada e saída de veículos (Fig. 3.10 numa estrutura tipo consola e Fig. 5.4
numa estrutura tipo pórtico).

Fig. 5.4 - Estrutura de suporte de fachada tipo pórtico, criando um vão de entrada na obra, com o
respectivo reforço da mesma zona

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -91-


ESTUDO COMPARATIVO

5.3. Impactes na envolvente

5.3.1. Impactes visuais


Os impactes visuais destas estruturas estão directamente relacionados com o
volume que ocupam no exterior do edifício, mas não só. O aspecto da obra, nestes casos,
poderá depender muito do aspecto da estrutura e mais ainda se for colocada sobretudo
pelo exterior.
Embora este assunto não costume assumir importância significativa, pode
tornar-se relevante em zonas turísticas e em zonas em que a volumetria do próprio
edifício seja proeminente.
A adopção de um sistema de suporte de fachadas pelo interior do edifício é a
melhor opção para esconder a mesma estrutura e, para a tornar invisível, elege-se a
malha estrutural de suporte distribuída apenas pelo interior, solidarizada à fachada por
intermédio de ligações directas parciais (Fig. 2.9a)).
Uma outra forma de dissimular um pouco a estrutura, poderá ser cobrindo-a com
uma rede ou outra película do género (eventualmente com publicidade), à semelhança
da Fig. 5.5. No entanto, o aspecto final é muito variável e o impacte visual é discutível.

Fig. 5.5 - Contenção exterior tipo pórtico, envolvida por rede exterior [1]

5.3.2. Incómodos para os cidadãos


Como referido, a grande maioria dos casos em que se pretende reabilitar
edifícios preservando as fachadas ocorre nos centros urbanos, que são locais onde todo

Rui Manuel Pereira Cruz - 92 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

o espaço é pouco, tornando-se muito difícil executar uma obra deste género sem causar
impacte directo na circulação exterior ao edifício, no dia-a-dia dos cidadãos.
Aproveitando o espaço já ocupado pelo edifício, isto é, no seu interior,
minimiza-se esse impacte mas, como se viu, aumenta-se o impacte na execução da obra.
Posto isto, seria proveitoso encontrar modos de contornar estes dois problemas.
O sistema em consola ocupa pouco volume, quer seja interior, exterior ou misto,
sendo pouco incomodativo quer para os cidadãos quer para a edificação da nova
estrutura.
Pode ser minimizado o impacte do sistema aéreo para a obra, tentando reduzir ao
máximo o número de perfis que a atravessam, mantendo a segurança. Em determinados
casos, pode-se tentar idealizar uma estrutura composta por treliças, distribuídas a vários
níveis e ligadas a edifícios contíguos, contendo as fachadas e absorvendo forças de
desvio (Figs. 5.6 e 5.7).

HEA 100 HEA 100

HEA 100
HEA 100

HEA 100

Fig. 5.6 - Contenção aérea poligonal, em treliça [15]

Fig. 5.7 - Edifício com contenção aérea em treliça na Av. Duque de Ávila [20]

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -93-


ESTUDO COMPARATIVO

A contenção em pórtico ocupa um espaço relativamente grande na via pública,


sendo por vezes necessário fechar a rua para a colocação e para o emprego da estrutura.
Apesar disto, pode-se tentar permitir a normal circulação das pessoas (Fig. 5.8) ou
mesmo de viaturas (Fig. 5.9), sendo que estas o fazem pelo interior da estrutura.

Fig. 5.8 - Passadiço para os transeuntes, aproveitando Fig. 5.9 - Passagem de viaturas
o espaço entre os montantes da estrutura e rede que no interior de estruturas de
impede o lançamento de detritos para a rua contenção tipo pórtico

5.4. Análise económica

Para se concluir qual a solução mais económica a aplicar em determinada obra,


devem ser pesados diversos factores que estão para além do simples custo da estrutura.
A economia está também intimamente ligada à facilidade e rapidez de
montagem pois isto irá traduzir o tempo e o volume e especialização de mão-de-obra
dispendido para a execução desta tarefa.
Os impactes que os sistemas de contenção têm na execução da obra definem
ainda as soluções do ponto de vista económico, tendo em conta que poderão causar
maiores ou menores entraves em termos de perdas de tempo e de espaço útil e, como se
sabe, tempo é dinheiro e o espaço urbano está muito valorizado.

Rui Manuel Pereira Cruz - 94 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Posto isto, a análise descrita nos pontos anteriores é facilmente relacionada com
uma análise económica destas estruturas de contenção, dependendo de diversos factores,
de entre os quais:
o custo da estrutura de contenção - directamente relacionado com o custo de
cada perfil e com o número perfis necessários;
o custos de montagem e de desmontagem da estrutura de contenção e
construção das respectivas fundações - influenciados pela rapidez, facilidade
de execução, exigência de mão de obra e equipamentos especializados;
o impactes no decorrer da obra - causam perdas de tempo e restrições ao uso
de determinadas técnicas construtivas e equipamentos;
o impactes na envolvente - a envolvente impõe restrições e causa necessidade
de intervenções tais como a montagem de sistemas para protecção dos
edifícios vizinhos, para a protecção de pessoas e veículos e para a
minimização do impacte da normal circulação.
Numa análise económica das estruturas de suporte de parede, não se poderia
deixar de fazer uma comparação dos sistemas tradicionais elaborados com perfis
metálicos (normalmente HEB ou IPE), com os sistemas modernos de vigas aligeiradas
facilmente acopláveis [3]:
o o tempo de montagem para os sistemas acopláveis é mais reduzido;
o para além do referido anteriormente, acresce o facto de este sistema permitir
um horário de montagem e desmontagem mais alargado, dado que não
necessita de acertos nem soldaduras;
o não necessita de meios de transporte de grande envergadura face aos
sistemas tradicionais;
o normalmente dispensa o fecho de vãos;
o permite a utilização dos mesmos materiais de obra para obra, de estrutura
para estrutura.
Assim, para durações inferiores a um ano e meio, compensa o aluguer de um
sistema como o referido [3] e pode até mesmo compensar adquirir este tipo de
equipamento, apesar do avultado custo inicial.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -95-


ESTUDO COMPARATIVO

5.5. Segurança

Nos trabalhos de demolição e reconstrução de edifícios, a segurança assume um


papel muito importante e que tem início logo na fase de projecto. No Reino Unido, por
exemplo, os trabalhos de reparação e manutenção, desde 1990, deram origem a cerca de
43% do número total de acidentes mortais em construção e engenharia civil na indústria
britânica (Fig. 5.10) [40].
Neste tipo de intervenções, é necessário atender à segurança dos trabalhadores,
de todas as pessoas que circulem nas proximidade do edifício a reabilitar e, ainda, do
próprio edifício como mais-valia arquitectónica e dos edifícios vizinhos, nos quais se
pretende causar o mínimo de danos.

Novas construções (habitação) 13% Outros / Demolições 10%

Novas construções Reabilitação


(comerciais) 17% doméstica 12%

Novas construções
(industriais) 7%

Obras rodoviárias 7%
Reabilitação não doméstica 29%
Outros trabalhos de Engenharia Civil 7%

Fig. 5.10 - Acidentes mortais nos diferentes sectores da construção civil [40]

A primeira preocupação com a segurança é o correcto dimensionamento da


estrutura de suporte, pois não existe uma “receita” para dimensionar estruturas de
suporte, o que leva cada engenheiro a projectar de maneira diferente [11]. Um mau
dimensionamento poderá acarretar consequências gravíssimas que vão desde a
ocorrência de pequenas deformações e fendilhações nos elementos a preservar e/ou nos
edifícios vizinhos até ao colapso dos mesmos ou de parte deles. Desta situação, para
além das perdas arquitectónicas, pode resultar perda de vidas, quer de trabalhadores,
quer de cidadãos que frequentemente passam perto da obra, seguindo as suas habituais
rotinas.

Rui Manuel Pereira Cruz - 96 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Para a segurança dos trabalhadores, estes devem ser obrigados utilizar capacete,
luvas, botas de protecção, e coletes de cor fluorescente.
Para segurança dos peões, poderão ser construídas plataformas, vedações com
corrimão ou cobertos (Figs. 5.8, 5.11 e 5.12), o que normalmente exige autorização
prévia, por parte das respectivas autarquias. Deve ainda haver um cuidado para que esta
medida de segurança não se torne numa medida de insegurança. Quer isto dizer que,
muitas vezes, estas plataformas e cobertos não são bem executadas, não inspirando
confiança nas pessoas ou sendo a sua utilização demasiado incomodativa, o que leva os
transeuntes a contorná-los, passando no lugar destinado às viaturas e correndo riscos de
atropelamento (Fig. 5.11). Ainda para segurança das pessoas, podem ser adoptadas
redes exteriores (Figs. 5.5 e 5.8) que impedem que detritos provenientes da obra
cheguem à rua.

Fig. 5.12 - Passadiço aproveitado pelos


Fig. 5.11 - Passadiço não aproveitado pelos
cidadãos, Rua de Santa Marta, Lisboa [20]
cidadãos, Avenida da Liberdade, Lisboa

Nos sistemas de contenção pelo interior, nomeadamente no tipo de contenção


aérea, acresce outra preocupação com a segurança que é a grande probabilidade de
ocorrência de acidentes de embate dos equipamentos e materiais na estrutura de suporte,
principalmente acidentes com gruas. Um embate forte poderá ser suficiente para causar
danos irreparáveis nos elementos a preservar ou mesmo fazê-los colapsar, constituindo
um perigo muito grande para a vida dos trabalhadores. Do mesmo modo, pode também
suceder a queda de um ou mais perfis da estrutura de contenção. Recomenda-se que os
membros de suporte sejam capazes de sustentar uma força de 25 kN proveniente do
impacto de veículos ou máquinas, sem prejudicar a estabilidade global da fachada [7].

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -97-


ESTUDO COMPARATIVO

Os sistemas de suporte de paredes em consola, dada a sua maior flexibilidade,


apresentam elevado grau de instabilidade [20], diminuindo então o nível de segurança
para os trabalhadores e para a própria estrutura antiga.

5.6. Síntese comparativa

Após uma análise dos diferentes tipos de estruturas de suporte de paredes de


edifícios antigos em demolição e das suas vantagens e condicionantes ou desvantagens,
pode-se, resumidamente, estabelecer alguns critérios de comparação, seguidamente
sintetizados no Quadro 5.1:
o facilidade de execução - assumindo que as ligações entre elementos
estruturais são independentes do sistema a analisar, a facilidade de execução
e também a rapidez de montagem relaciona-se directamente com o número
de peças (elementos estruturais) a montar;
o dimensão das fundações - dado que se compara terrenos de fundação
idênticos, a sua dimensão será proporcional às tensões instaladas;
o ocupação da envolvente exterior do edifício - quando o edifício a recuperar
se situa no interior de aglomerados urbanos, os impactes na envolvente
poderão ser preponderantes;
o ocupação da envolvente interior do edifício - os atravancamentos interiores
poderão causar impactes importantes na reconstrução do interior do edifício.

Quadro 5.1 - Síntese comparativa dos diversos tipos de sistemas de contenção (baseado em [15])
Tipo de Facilidade de Dimensão das Ocupação do Ocupação do
contenção execução fundações exterior interior

Aérea Grande Nula Mínima ou nula Grande

Bielas Grande Média Grande Mínima ou nula

Consola Grande Grande Baixa Mínima ou nula

Pórtico Baixa Média Média Mínima ou nula

Rui Manuel Pereira Cruz - 98 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

CAPÍTULO 6

CASOS DE ESTUDO

Tal como ficou demonstrado no presente documento, existe uma extensa


variedade de edifícios cujas fachadas são preservadas e a sua reconstrução pode ser
realizada de muitas maneiras.
Este capítulo apresenta uma descrição detalhada de dois casos de retenção de
fachadas, dos seus sistemas de suporte e das diferentes técnicas utilizadas para resolver
os vários problemas técnicos encontrados.
Esta análise demonstra como em diversas obras, ou para vários projectistas, as
acções consideradas e a sua quantificação pode variar. Revela-se ainda como, em vários
casos, podem aparecer detalhes que exigem da parte dos engenheiros, soluções
inteligentes para os resolver.

6. CASOS DE ESTUDO
6.1. Recuperação de imóvel para um hotel, Rua de Santa Marta, Lisboa

O projecto de alterações de arquitectura para o edifício da Rua de Santa Marta,


48A a F, em Lisboa, compreende a recuperação das fachadas e a cobertura, prevendo-se
a demolição dos interiores e a remodelação das restantes fachadas, voltadas para as
travessas laterais. Actualmente, o edifício é composto por três pisos (rés do chão, 1º e 2º
andares) e um corpo com mais um piso (3º andar).
As fachadas foram mantidas por se considerarem património arquitectónico,
sendo salvaguardadas pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).
Dado o bom estado de conservação das paredes de alvenaria, estas não foram
alvo de quaisquer intervenções preliminares para a consolidação da alvenaria. Apenas
foi colocada alguma argamassa projectada, nos locais onde se fazia ligação com outras
paredes ou com as lajes e que, devido à sua demolição, os elementos da alvenaria

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -99-


CASOS DE ESTUDO

ficaram mais soltos. Por esta mesma razão, as fachadas também não são monitorizadas
ao longo da construção da nova estrutura. Apenas existiu monitorização durante a
demolição do edifício e montagem da estrutura de suporte, uma fase em que as paredes
estão mais solicitadas. Como não há grande interferência com os edifícios vizinhos,
estes não são monitorizados. Esta opção é muito discutível porque as demolições e as
escavações causam vibrações importantes, que são transmitidas, não só às fachadas do
próprio edifício como também às edificações vizinhas.
Verificou-se que apenas alguns vãos das fachadas foram preenchidos com
alvenaria de tijolo cerâmico e outros com blocos de betão, encontrando-se os restantes
sem qualquer preenchimento. Em primeiro lugar, não existe justificação para o facto de
apenas alguns vãos estarem preenchidos, devendo-se ter adoptado este procedimento na
totalidade das fachadas de modo evitar a concentração de tensões nestas zonas e a
prevenir o aparecimento de fendas. Para além disto, depois do preenchimento dos vãos,
foram feitas aberturas para se conseguir montar a estrutura de suporte das fachadas,
como se pode ver na Fig. 6.2. Depois de montada a estrutura, estas aberturas deveriam
ter sido tapadas, o que não sucedeu.

Fig. 6.1 - Estrutura de contenção das fachadas do edifício (Rua de Santa Marta, Lisboa)

Rui Manuel Pereira Cruz - 100 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Para contenção provisóra das paredes exteriores, com uma espessura de 0,60 m,
utilizou-se uma estrutura metálica tipo pórtico.
Esta estrutura metálica é constituída por perfis verticais HEB 260 e HEB 200,
por perfis de ligação horizontais HEB 200, HEB 140 e IPE270 e por perfis tubulares de
contraventamento (barras inclinadas).
O espaço interior da estrutura, aproveitado para a colocação de contentores de
escritórios, maximizando o aproveitamento do espaço (Fig. 6.1).
Dada a reduzida largura das travessas laterais, não é possível a colocação da
estrutura no exterior das fachadas laterais. Assim, parte da estrutura ocupa espaço
interior do edifício, o que neste caso, implicou uma redução da área dos pisos
subterrâneos (Fig. 6.2) correspondente à área ocupada pelas fundações da estrutura.
A demolição do edifício teve início antes da montagem da estrutura de suporte.
Começou-se por demolir a parte do edifício mais afastada das fachadas preservadas,
progressivamente até chegar às mesmas, tendo sido deixadas umas paredes-mestras que
garantiam a estabilidade das referidas fachadas. De seguida, iniciou-se a montagem da
estrutura de contenção e a sua ligação às fachadas, após o qual se finalizou a demolição,
com a remoção das paredes-mestras.

Fig. 6.2 - Estrutura de contenção em pórtico no interior do edifício

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -101-


CASOS DE ESTUDO

A ligação às paredes de fachada é do tipo indirecto, sendo conseguida através de


um aperto das malhas exterior e interior contra a parede por intermédio de pranchas ou
calços de madeira com uma espessura mínima de 0,05 m, que distribuem as cargas
horizontais devidas a ventos e sismos por uma área significativa da parede a suportar
(Fig. 6.3). Esse aperto é conseguido com a ligação entre essas malhas com perfis da
estrutura que se fazem passar nos vãos das fachadas.

a) b)

Fig. 6.3 - Ligação entre a estrutura de contenção e a fachada: a) aperto entre as malhas exterior e
interior; b) calço de madeira

Esta estrutura é mantida até à construção das lajes dos pisos e da cobertura,
altura em que as paredes estarão já perfeitamente ligadas e contraventadas pela nova
estrutura de betão armado.
As fachadas preservadas apenas têm de resistir ao seu peso próprio, não
sofrendo incremento de carga vertical, após a sua ligação à nova estrutura.
A fundação da estrutura é constituída por uma sapata de solidarização de micro-
estacas Ø200 mm em betão armado, com uma altura de 0.80 m.
As fundações das fachadas antigas não são reforçadas, sendo construídas
paredes e respectivas fundações, coplanares com as fachadas e ligadas a esta, impedindo
que se mova, como esquematizado na Fig. 6.4. Estas paredes fazem a ligação entre a
estrutura nova e a antiga, através de ferrolhos, ancorados nas fachadas e embebidos nas
referidas paredes.

Rui Manuel Pereira Cruz - 102 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Nova parede em betão armado


Parede antiga em alvenaria

Laje

Solo

Sapata de fundação

Fig. 6.4 - Esquema da ligação entre a nova estrutura e a fachada

No cálculo das estruturas, foram tidas em consideração as solicitações previstas


no Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes.
Para a determinação dos pesos próprios das estruturas existentes, adoptaram-se
os pesos específicos previstos no RSA tendo em consideração as formas geométricas
daqueles elementos.

Foram consideradas as seguintes acções permanentes:


o pesos próprios (G1):
 betão armado - 25,0 kN/m3;
 aço - 77,0 kN/m3;
 contentores / escritórios - 0,90 kN/m2;
o revestimentos (G2):
 contentores / escritórios - 1,0 kN/m2.

Foram consideradas as seguintes acções variáveis:
o sobrecargas (Q1):
 contentores / escritórios - 2,0 kN/m2;
o variação uniforme de temperatura (VUT):
 ∆ T = ± 15 ºC;

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -103-


CASOS DE ESTUDO

o variação diferencial de temperatura (VDT):


 ∆ T = + 17,8 ºC + 2,1 ºC;
o os esforços devidos à acção do vento são desprezáveis face aos devidos à
acção do sismo, pelo que não foram considerados;
o para a quantificação da acção sísmica, considerou-se a edificação situada na
zona A e em terreno tipo II e a estrutura construída com ductilidade normal.

Para avaliar os esforços resultantes das acções sísmicas, efectuaram-se modelos


de cálculo tridimensionais no programa de cálculo automático SAP2000.
No que diz respeito à modelação dos vários elementos estruturais, utilizaram-se
elementos finitos de barra para simular perfis metálicos da estrutura e as fundações
foram modeladas através de encastramentos perfeitos.
Para minimizar os impactes destes trabalhos na vida dos cidadãos, foi criado um
passadiço para peões, devidamente protegido com corrimão e cobertura de protecção
(Fig. 6.1). Verificou-se que este passadiço estava bem executado pois era, de facto,
utilizado, ao invés de contornado, como por vezes sucede.

Fig. 6.5 - Modelo de cálculo da estrutura de contenção da fachada frontal [21]

Rui Manuel Pereira Cruz - 104 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

6.2. Edifício Sede do BIG, Avenida 24 de Julho, Lisboa

O presente caso refere-se à construção do Edifício Sede do Banco de


Investimento Global, SA, situado na Avenida 24 de Julho, em Lisboa (Fig. 6.6). O lote
tem uma área de 2100 m2 e o edifício terá uma área bruta de construção acima do solo
de aproximadamente 5000 m2, desenvolvendo-se em quatro pisos e um piso técnico. No
local da empreitada, encontravam-se dois edifícios, edifício de armazém e escritórios,
que foram objecto de demolição de todo o seu interior, verificando-se a contenção de
três das suas quatro fachadas.

Fig. 6.6 - Futuro edifício do BIG [23]

As fachadas dos edifícios não têm qualquer valor arquitectónico, tendo sido
mantidas com o objectivo de permitir a mesma área de construção em planta.
Antes da concepção do projecto do novo edifício, foram realizados alguns
estudos preliminares, nomeadamente inspecções iniciais com levantamentos
fotográficos, levantamentos topográficos e estudos geotécnicos, de modo a conhecer as
características do terreno, a geometria e o estado de conservação do edifício e a
existência de construções vizinhas.
Dado o razoável estado de conservação das paredes, não foram efectuadas
intervenções para a consolidação da alvenaria, como injecções ou pregagens. As
intervenções preliminares consistiram no preenchimento dos vãos com alvenaria de
tijolo cerâmico (Fig. 6.7 a)).

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -105-


CASOS DE ESTUDO

a) b)

Fig. 6.7 - Ligações da estrutura de contenção à fachada

As paredes antigas não vão manter a função estrutural, passando apenas a resistir
ao seu peso próprio.
Para a verificação da ocorrência de anomalias nas fachadas durante os trabalhos,
como fendilhações, assentamentos ou desaprumos, estes elementos são monitorizados,
tendo sido colocados alvos topográficos (Fig. 6.8) e dois inclinómetros com a realização
de leituras semanais.

Fig. 6.8 - Alvo topográfico

A estrutura utilizada para a contenção das fachadas foi a tipo pórtico, com perfis
laminados do tipo HEA e HEB (Fig. 6.9). As ligações entre os perfis são aparafusadas,
devido à facilidade de montagem com a sua utilização.
A falta de pontos de apoio não permitiria a utilização do suporte aéreo e, mesmo
que fosse vantajoso, não existe espaço para a colocação de estrutura tipo bielas. Assim,
neste caso, considera-se que esta é a melhor solução. Esta estrutura permite um
funcionamento independente de cada fachada. O Projectista, Engenheiro Eduardo

Rui Manuel Pereira Cruz - 106 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Freitas, considera ainda que a estrutura apresenta vantagens na facilidade de montagem


e na economia, pois quem fabricou e montou a estrutura faz a sua reutilização noutras
obras, tendo em conta no preço a desmontagem e retoma do material.
De acordo com o planeamento e faseamento de obra, a estrutura de suporte foi
montada antes de se dar início à demolição de modo a que as fachadas nunca estivessem
sem apoio, sendo este transferido do interior do edifício para a estrutura provisória à
medida que a demolição evoluía. Iniciou-se com a montagem da estrutura junto às ruas
passando-se depois à montagem da contenção da fachada de tardoz.
A ligação da estrutura à fachada é conseguida pelo método indirecto, ou seja,
pelo aperto das malhas de perfis horizontais, interiores e exteriores à fachada e com
calços de madeira. O aperto é conseguido através de esticadores de varão roscado. Estas
ligações fazem-se passar pelos vãos das fachadas (Fig 6.7 a)) mas também por aberturas
realizadas nas mesmas (Fig 6.7 b)). É de notar que as aberturas realizadas nos vãos
preenchidos com alvenaria, depois de se fazer passar a estrutura, eram fechadas, o que
deverá sempre ser feito.

Fig. 6.9 - Estrutura de contenção tipo pórtico, utililizada na contrução da sede do BIG

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -107-


CASOS DE ESTUDO

As fundações das paredes preservadas são formadas por caboucos em pedra


arrumada. Uma vez que as paredes só vão resistir ao seu peso próprio, também não vão
transmitir um incremento de esforços às respectivas fundações. Assim, de um modo
geral não precisam de ser reforçadas nem substituídas, sendo reparadas apenas em
locais onde se justifique, por estarem mais degradadas. Existe uma excepção que é a
parede de tardoz. Esta parede foi suspensa (pela estrutura de suporte) e retirada a sua
fundação, que foi substituída por uma viga de fundação em betão armado.
As fundações da estrutura de suporte não são iguais em todas as fachadas.
Inicialmente, estava prevista a utilização de micro-estacas em toda a estrutura. Porém,
optou-se por alterar as fundações da contenção das fachadas frontal e lateral (viradas
para as ruas) para um maciço contínuo, a fim de evitar escavar numa zona onde as infra-
estruturas são algo complexas e desordenadas e em que algumas concessionárias não
sabiam o que havia no sub-solo.

Fig. 6.10 - Fundação da fachada de tardoz e da respectiva estrutura de contenção

A fachada de tardoz confrontava com um logradouro que, tal como o interior do


edifício, se pretendia escavar para o aproveitamento do respectivo espaço para a

Rui Manuel Pereira Cruz - 108 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

construção de caves. Assim, com o solo escavado de ambos os lados, esta fachada, para
se conseguir preservar, teve de ficar suspensa pela estrutura de suporte (Fig. 6.10) e as
suas fundações inserem-se no interior deste espaço. Nesta situação particular, a solução
consistiu na execução de micro-estacas solidarizadas por vigas de fundação, que
constituíam a fundação da estrutura e da fachada. Posteriormente, à medida que o solo
foi escavado, as micro-estacas eram contraventadas por perfis tubulares (ROR 230 e
260), construindo-se assim uma estrutura que prolongava a estrutura de contenção e
transferia os esforços para um nível inferior da fundação (Fig. 6.10), onde o solo não ia
ser escavado e tinha capacidade para resistir aos esforços transmitidos.
A ligação da nova estrutura às fachadas é feita por betonagem dos novos pilares
e lajes contra as fachadas, em roços abertos para o propósito, e dispensando cofragem
nestas faces (Fig. 6.11).

Fig. 6.11 - Pilar betonado num roço aberto na fachada

As acções consideradas para o dimensionamento da estrutura de suporte das


paredes foram, o peso próprio das paredes e da estrutura (G) e o vento (W), admitindo
as seguintes combinações de acções:
o 1,5 G;

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -109-


CASOS DE ESTUDO

o 1,0 G + 1,5 W;
o 1,5 G+ 1,5 W.
Nesta obra, foram feitas as respectivas avaliações de riscos, recomendadas as
medidas de protecção colectivas e individuais e entregues ao responsável pela
elaboração do PSS. Para protecção dos cidadãos, foi colocado um passadiço
devidamente protegido com corrimão e cobertura de protecção e convenientemente
sinalizado (Fig. 6.12), verificando-se que era, efectivamente, utilizada.
A estrutura não teve impactes significativos na construção da obra nem na
circulação de pessoas e veículos pois foi colocada pelo exterior, onde existia um espaço
destinado a estaleiro. Deste modo, apenas teve como consequência a redução do espaço
disponível para estaleiro e uma pequena ocupação da via pública.
Segundo o projectista, o aluguer das estruturas facilmente acopláveis e
reutilizáveis, como as da Fig. 5.1, não teria compensado pois são dispendiosas e com
capacidade resistente limitada. Chegou a ser proposta uma solução deste tipo por parte
do empreiteiro, mas que facilmente se mostrou pouco atractiva.

Fig. 6.12 - Passagem para peões, devidamente protegida e sinalizada

Rui Manuel Pereira Cruz - 110 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES

7. CONCLUSÕES
7.1. Considerações finais

Na presente dissertação, procurou-se, inicialmente, realizar uma abordagem


sobre a temática da reabilitação de edifícios em geral e da retenção de fachadas, mais
em particular. Após este enquadramento, fez-se uma descrição geral do processo
construtivo inerente a este tipo de intervenções, isto é, a reconstrução de edifícios
antigos demolindo uma maior ou menor parte e conservando elementos de maior valor
histórico ou arquitectónico ou que, por outro motivo, se pense que irão constituir uma
mais valia para o novo edifício.
Com a referida descrição, pôde-se constatar a ampla extensão desta temática
quando se pretende abordar com alguma especificidade os diferentes aspectos técnicos
que lhe estão directamente relacionados como a inspecção e a monitorização de
edifícios, a consolidação de alvenarias, a demolição de edifícios e a execução de
fundações, tendo então sido sinteticamente descritos pois não constitui objectivo deste
trabalho uma descrição extensiva dos mesmos.
Sendo numerosa a diversidade de estruturas de suporte de paredes que podem
ser encontradas, é fundamental uma caracterização da tipologia para que possam ser
analisadas e explanadas as vantagens e desvantagens da sua utilização.
Considera-se ainda primordial uma caracterização das acções actuantes sobre
este tipo de estruturas e que usualmente são consideradas, bem como a verificação da
segurança, tanto aos Estados Limite Últimos como aos Estados Limite de Utilização.
Mencionou-se também como são importantes os ligadores utilizados neste tipo
de trabalhos tendo-se estabelecido alguns critérios de dimensionamento.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -111-


CONCLUSÕES

Sem a intenção de proceder ao criterioso dimensionamento das estruturas


apresentadas, foram estabelecidos modelos de cálculo, que permitiram mostrar o modo
como as diferentes estruturas reagem à acção tipo definida.

7.2. Conclusões gerais

Ao longo do presente trabalho, realiza-se um estudo sobre as estruturas de


suporte de paredes de edifícios antigos em demolição, caracterizando, inevitavelmente,
a sua envolvência, as razões que levam à utilização destas estruturas e os aspectos
técnicos relacionados.
Inicialmente, pôde-se concluir que a reabilitação de edifícios, hoje em dia, é uma
temática com crescente importância o que se traduz numa utilização cada vez mais
frequente deste tipo de intervenções. A este facto alia-se à legislação que protege os
edifícios de importância arquitectónica ou histórica e a uma procura de edifícios
imponentes e prestigiantes por parte de organizações importantes que tendem a
concentrar-se nos centros históricos das cidades.
Um aspecto a ter em atenção neste ponto é que a classificação dos edifícios nem
sempre é feita da maneira mais apropriada, uma vez que, por vezes, é permitida a
demolição de fachadas de edifícios integrados em tecidos urbanos antigos, que se
apresentam em bom estado de conservação, sendo noutros casos imposta a conservação
de fachadas em avançado estado de degradação, que envolve não só custos mais
elevados, como também maior perigo para os trabalhadores envolvidos na demolição
parcial e montagem da estrutura de suporte [20].
De facto, embora o tema deste trabalho se refira à preservação de paredes de
edifícios antigos, acaba por se confundir com a preservação de fachadas porque se
conclui que, de uma forma geral, são maioritariamente estes elementos os únicos a
serem conservados.
A diversidade de situações com que se pode deparar por si sós provam que não
existe uma “receita” para a adopção de estruturas de suporte de paredes nem para a
consolidação destas. Assim, é impreterível a realização de estudos preliminares antes de
se tomar qualquer decisão num destes campos e até mesmo no processo de demolição.

Rui Manuel Pereira Cruz - 112 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

Apenas conhecendo intimamente o edifício e a sua envolvente se podem tomar


decisões sobre as melhores intervenções e técnicas a adoptar, tornando o processo
construtivo mais económico, rápido, funcional e seguro.
Após a decisão sobre os elementos do edifício a manter, poderá ser necessário,
antes, durante ou após a demolição (dependendo do estado de conservação), consolidar
essas partes pois, geralmente, são constituídas por alvenaria ordinária e pouco coesas ou
resistentes. O estado de conservação destes elementos define o tipo e o nível de
intervenção e, mesmo que nenhuma anomalia seja identificada, pode-se reforçar certas
partes do edifício, por mera questão de segurança.
Como se pôde ver, dependendo da solução escolhida, de seguida ou se inicia a
montagem da estrutura de contenção, a demolição ou um processo conjunto destes dois
trabalhos. Independentemente disso, é importante que haja uma monitorização constante
para identificação de possíveis anomalias que possam surgir durante os trabalhos,
evitando assim a destruição total ou parcial dos elementos a conservar com eventual
prejuízo de vidas humanas.
A montagem da estrutura de suporte é acompanhada da ligação desta às paredes.
Esta ligação pode ser executada de modos distintos, tendo sido feita uma divisão em
ligações directas e indirectas. A escolha da ligação não depende apenas das suas
vantagens e desvantagens, mas também da disposição arquitectónica da parede, sendo
comum a utilização dos dois tipos de ligação na mesma parede.
As fundações destes elementos a reabilitar estão, frequentemente em mau estado
e/ou não estão preparadas para o novo nível de cargas a que passam a estar sujeitas pelo
que têm de ser reforçadas (recalce), sendo muito comum o uso de pegões e micro-
estacas. Os pegões encontram mais aplicação em profundidades menores que as micro-
estacas, não tendo necessariamente de ser assim.
Uma vantagem da demolição do interior do edifício é a possibilidade de se
realizarem escavações no seu interior para a realização de caves. Nestes casos, é
necessário prolongar as fundações dos elementos conservados, executando soluções de
contenção periférica como muros de Munique ou de Berlim, cortinas de estacas ou
então paredes moldadas no terreno.
Independentemente das soluções adoptadas, é necessário garantir a estabilidade
das paredes, antes de se iniciar qualquer trabalho de demolição ou escavação.
Essa estabilidade poderá ser garantida por estruturas que podem tomar muito
diversas configurações, sendo que umas se adaptam melhor a essas situação, de acordo

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -113-


CONCLUSÕES

com a configuração geométrica do edifício, entre outros condicionalismos. A


caracterização tipológica das diferentes estruturas constitui uma importante ferramenta
para a compreensão das suas vantagens, desvantagens e aplicabilidade. Diversos autores
apresentam as suas classificações, sendo apresentada, neste documento, uma
classificação que divide as estruturas de suporte de paredes de edifícios antigos em
demolição em métodos de contenção e tipos de contenção, estando estes factores um
pouco relacionados, pois cada tipo de estrutura apresenta uma maior incidência em
determinado método, embora possa ser aplicado noutro método, como explicado.
De um modo muito sucinto, pode-se concluir que na contenção pelo interior se
utiliza em maior número as estruturas de suporte aéreo, tendo como principais
vantagens a rapidez e facilidade de execução e como principal desvantagem o facto de
ocupar o espaço interior ao edifício, necessário para o normal desenrolar dos trabalhos.
No método de contenção pelo exterior, são mais utilizadas as restantes estruturas. A
contenção tipo pórtico tem como principais vantagens a libertação do espaço interior e a
sua aplicabilidade a quase todo o tipo de paredes e, como principais desvantagens, a
ocupação do espaço exterior e a elevada complexidade. Por sua vez, a contenção por
bielas é mais simples mas ocupa ainda mais espaço exterior. Por último, a contenção em
consola é simples e ocupa pouco espaço mas é mais instável, encontrando aplicação
apenas em paredes de pouca altura ou em bom estado.
À medida que o edifício é demolido, a estrutura de suporte vai recebendo as
cargas anteriormente suportadas pelo interior do edifício e que futuramente passarão a
ser recebidas pela nova estrutura. Entretanto, a estrutura provisória fica sujeita a
diversas cargas, para as quais tem de ser dimensionada e perante as quais tem de
cumprir a segurança aos Estados Limite Últimos e aos Estados Limite de Utilização.
Após a análise de diferentes projectos, verificou-se que as acções que são
consideradas no dimensionamento destas estruturas variam, não só com o edifício e a
sua envolvente mas também com o projectista.
Concluiu-se ainda que poderá ser fundamental um cuidado dimensionamento
dos ligadores, quer da estrutura provisória às paredes preservadas, quer destas à
estrutura definitiva, para que não se gere aí um ponto de fragilidade. Embora não se
trate de tarefa fácil, são indicadas fórmulas que podem ser utilizadas nestas situações
mas que exigem um conhecimento prévio das características mecânicas dos materiais

Rui Manuel Pereira Cruz - 114 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

não só utilizados na nova estrutura como também na antiga. Para tal, são também
apresentados métodos que permitem a aquisição desta informação.
Submetendo a mesma fachada ao mesmo tipo de acções, pode-se observar os
diferentes comportamentos e nível de esforços dos tipos de estruturas considerados.
Enquanto que os sistemas aéreo e de bielas funcionam, fundamentalmente como tirantes
/ escoras apresentando esforços de tracção / compressão, o sistema em consola funciona
por flexão, como uma consola, e o sistema tipo pórtico comporta-se como uma treliça,
com esforços decrescentes em altura.
Pôde-se ainda comprovar a referida instabilidade dos sistema em consola, pela
inadmissível deformação encontrada.
A análise destas estruturas permitiu igualmente uma análise das suas fundações,
as quais estão ausentes na contenção aérea e poderão tomar diferentes configurações nas
restantes contenções, com ou sem fundações indirectas. Tal como é feito neste trabalho,
o projectista de analisar os esforços transmitidos ao terreno e encontrar uma solução
compatível, a qual poderá ser bastante diferente da aqui escolhida.
Tendo em conta que os diferentes tipos de contenção apresentam diferentes
vantagens e desvantagens e que estes podem ser complementados, é natural que se faça
uso de diferentes tipos de estrutura no mesmo edifício ou até na mesma parede. Assim,
exige-se que o projectista possua um vasto conhecimento nesta área, uma profunda
noção do edifício e alguma imaginação e engenho para que possa decidir pela melhor
solução e, sobretudo, por uma solução segura porque este tipo de intervenções constitui
risco elevado para os trabalhadores nelas envolvidos.

7.3. Desenvolvimentos futuros

A retenção de fachadas, embora seja já uma prática bastante comum, é um


assunto sobre o qual não se escreve muito e carece de estudos que possam desenvolver
o estado da arte. A falta de bibliografia é também acompanhada de falta de
regulamentação, tanto para a fase de projecto como para o acompanhamento da
execução das obras. Existem algumas recomendações espalhadas pelas diversas
publicações e sítios na Internet, mais comummente relacionados com a reabilitação de
edifícios.

Dissertação de Mestrado Integrado em Engenharia Civil -115-


CONCLUSÕES

Posto isto, seria de grande utilidade e, sobretudo, em prol da segurança, a


criação de regulamentação que definisse os critérios para a verificação da segurança
neste tipo de estruturas provisórias, nomeadamente a nível das acções que devem ser
consideradas e da sua quantificação. Do mesmo modo, deve existir regulamentação que
normalize o projecto da nova estrutura, pelas suas particularidades como cargas
adicionais transmitidas pelos elementos conservados, movimentos diferenciais,
manutenção, entre outros aspectos. A regulamentação das responsabilidades a atribuir e
de determinados procedimentos no processo construtivo poderá também trazer
vantagens para a segurança e para a preservação do património arquitectónico.
A realização da presente dissertação de mestrado fez denotar a necessidade de
aprofundamento de diversos temas:
o fundações: carece de uma clarificação dos principais problemas que surgem
na execução de recalces e contenções periféricas por baixo de fachadas
antigas bem como dos critérios de dimensionamento;
o demolições: um estudo sobre os vário tipos de demolições e procedimentos
nesta área que mais se adaptam às diferentes estruturas de contenção;
o ligadores: com base em ensaios experimentais, deve-se tentar tabelar o
comportamento dos ligadores entre estruturas de betão e alvenarias antigas e
entre estruturas metálicas e alvenarias antigas, de modo a conseguir
sistematizar o comportamento desses ligadores perante os diferentes tipos de
alvenarias (incluindo alvenaria de pedra natural), variando ainda com o tipo
e o nível de deterioração presente nas mesmas;
o interacções: seria ainda proveitoso o aprofundamento do conhecimento da
interacção estrutural entre as estruturas de temporárias de suporte e as
paredes de alvenaria e entre estas últimas e as novas estruturas de betão;
o estrutura provisória / definitiva: com referido neste trabalho, poderia tornar-
se vantajosa a integração da estrutura provisória na estrutura definitiva, após
as devidas alterações, dispensando o seu desmonte e a colocação de outros
elementos resistentes.

Rui Manuel Pereira Cruz - 116 -


Sistemas de suporte de paredes de edifícios antigos em demolição

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