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Geologia de

Barragens
Walter Duarte Costa

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© Copyright 2012 Oficina de Textos

Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil a partir de 2009.

Conselho editorial Cylon Gonçalves da Silva; José Galizia Tundisi; Luis Enrique Sánchez;
Paulo Helene; Rozely Ferreira dos Santos; Teresa Gallotti Florenzano

Capa e projeto gráfico Malu Vallim


Foto da capa Barragem de Irapé, construída pela Cemig no Rio Jequitinhonha. Com 200 m de altura, é
a barragem de terra mais alta do Brasil. Acervo da Cemig, cedida por cortesia dessa empresa.
Diagramação Douglas da Rocha Yoshida
Preparação de textos Gerson Silva
Revisão de textos Elisa Andrade Buzzo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Costa, Walter Duarte


Geologia de barragens / Walter Duarte Costa. --
São Paulo : Oficina de Textos, 2012.

Bibliografia
ISBN 978-85-7975-054-0

1. Barragens - Projeto e construção 2. Geologia


3. Geologia de engenharia 4. Geomorfologia
5. Geotécnica I. Título.
12-04914 CDD-624.151

Índices para catálogo sistemático:


1. Geologia de barragens 624.151

Todos os direitos reservados à Oficina de Textos


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Aos mestres e amigos Fernando Olavo
Francis e Jaime de Azevedo Gusmão Filho,
eméritos conhecedores da geologia de enge-
nharia, aos quais devo grande parte de meu
saber;
À minha esposa, Solange, filhos e netos,
razão de meu viver;
Aos meus pais (in memoriam) e irmãos,
pelo legado e carinhoso afeto.

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O autor

Nascido em Recife, atual empresa de consultoria (Ecogeo) e in-


em 1938, Walter gressou na Universidade Federal de Minas
Duarte Costa diplo- Gerais (UFMG), onde lecionou durante 12
mou-se em Geologia anos nos cursos de Geologia, Engenharia
pela Universidade Fe- Civil, Engenharia de Minas e Arquitetura.
deral de Pernambuco Em 1997 fez um curso de aperfeiçoamento
(UFPE). Ingressou na em contaminação de águas subterrâneas
Sudene, onde exerceu na Universidade de Alcalá de Henares, em
a função de hidrogeó- Madri. Em 2002 obteve o título de Doutor
logo durante cinco anos. Posteriormente, em Geociências pela Universidade de São
ingressou na empresa Sondotécnica, do Paulo (USP). Em sua atual empresa, exerce
Rio de Janeiro, onde passou a dedicar- a consultoria nas áreas de geotecnia, hidro-
-se à Geologia aplicada à Engenharia geologia, mineração e meio ambiente.
também durante cinco anos. Nessa Nas empresas em que trabalhou ou nas
cidade, obteve os títulos de Mestre em suas próprias empresas, participou como
Geologia de Engenharia e de  Aperfei- projetista ou consultor na construção  de
çoamento em Mecânica das Rochas na Uni- 170 barragens em todo o Brasil, além
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de realizar vários estudos geotécnicos sobre
e lecionou na Pontifícia Universidade Ca- túneis, rodovias, portos e áreas urbanas.
tólica (PUC) e na Universidade Federal Na hidrogeologia, participou de projetos
Fluminense (UFF). sobre abastecimento de água em cidades,
De volta a Pernambuco, lecionou durante irrigação, indústria de água mineral e con-
18 anos na UFPE, nos cursos de graduação taminação de aquíferos. Na mineração,
em Geologia e no mestrado de Hidrogeo- elaborou inúmeros relatórios de pesquisa
logia. Exerceu paralelamente, por meio de mineral e, no meio ambiente, desenvolveu
sua própria empresa (Geotecnia), a ativi- estudos para mineração, indústria e obras
dade de consultor nas áreas de Geologia de de engenharia. Atuou como perito judicial
engenharia e Hidrogeologia, quando asses- em mineração e meio ambiente.
sorou projetos e construção de barragens Possui 23 trabalhos publicados sobre
em todo o Nordeste brasileiro. A partir de barragens, 17 sobre hidrogeologia, 4 sobre
1984, passou a residir em Belo Horizonte, mineração e 3 sobre meio ambiente. É só-
contratado pela empresa Enerconsult-SP cio-fundador da Associação Brasileira de
para desenvolver estudos hidrelétricos para Geologia de Engenharia e sócio do Comitê
a Cemig. Na década de 1990, fundou sua Brasileiro de Grandes Barragens.

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Muito além de lembranças
O livro Geologia de Barragens é um importante registro do desenvolvimento e evo-
lução da hidroenergia na matriz energética nacional. A LEME Engenharia, desde sua
fundação, há mais de quatro décadas, esteve presente na elaboração e execução de pro-
jetos de diversas barragens citadas neste documento histórico. A expertise acumulada
pela empresa, conta com a inestimável contribuição de dois grandes profissionais: Mário
Bittencourt e Mário Guedes.

Bittencourt, engenheiro civil, participou de Jirau (Rondônia); Las Placetas, na


e coordenou mais de 30 empreendimentos República Dominicana e no Projeto dos
na América Latina. Pela LEME Engenharia, Mares, no Panamá.
esteve à frente de vários projetos, como as Mais do que projetos, a grandeza é o
Usinas Hidrelétricas de Quitaracsa (Peru), que os fizeram tão importantes e o que
Mazar e Sopladora (Equador). eles deixaram vai além de lembranças:
Em sua trajetória profissional como marcaram nossas vidas com seus feitos
geólogo, Guedes participou de mais de 50 e ensinamentos.
projetos no Brasil e exterior. Como colabo- Mário Bittencourt e Mário Guedes.
rador da LEME Engenharia, compartilhou Dois nomes que ficarão registrados na
seus conhecimentos com o Complexo Hi- história. Que seus exemplos e legados
drelétrico Capim Branco e com as Usinas nos inspirem!
Hidrelétricas de Estreito, Irapé, Itiquira, Aos colegas, nosso agradecimento
São Salvador e Nova Ponte. eterno.
Juntos, Bittencourt e Guedes, deixa- Flavio Campos
ram suas assinaturas na Usina Hidrelétrica Presidente LEME Engenharia

Mário Bittencourt Mário Guedes

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Prefácio

O presente livro não tem a pretensão profissionais envolvidos não conheciam as


de esgotar o vasto e complexo campo da reais potencialidades oferecidas pela geo-
Geologia aplicada a barragens, nem consti- logia para a otimização de um projeto de
tuir um estado da arte sobre tão delicado barragem.
assunto. Ao escrevê-lo, o autor foi movido As intrínsecas dependências desse tipo
por dois objetivos básicos: propiciar uma de obra com os aspectos geomorfológicos,
objetiva literatura técnica sobre o assunto geológicos, geotecnológicos e hidrogeo-
aos alunos de Geologia e de Engenharia; e técnicos mostram uma implícita relação
orientar os profissionais dessas duas áreas entre a obra e a natureza. As incontáveis
sobre a melhor forma de aplicar os conhe- variações ocorridas nessas relações impe-
cimentos geológicos em prol de projetos de dem que se conjecturem fórmulas rígidas
barragens mais seguros e econômicos. aplicáveis a diferentes situações, a exemplo
Nos 30 anos em que o autor lecionou a de uma receita de bolo, pois essas varia-
disciplina de Geologia Aplicada à Engenha- ções contextuais impingem ao projeto de
ria em cursos de Geologia e de Engenharia uma barragem a assertiva de que cada caso
nas universidades de Pernambuco, Rio de é um caso.
Janeiro e Minas Gerais, deparou-se sempre Por isso, faz-se necessário ao geólogo e
com a mesma dificuldade enfrentada pela ao engenheiro que lidam com esse tipo de
maioria dos alunos não versada em línguas obra um perfeito conhecimento de todas as
estrangeiras: a falta de bons livros sobre condicionantes que possam exercer qual-
essa ciência editados em português. Essa quer influência na obra a projetar, bem
deficiência foi bastante minorada com a como das principais características previs-
publicação em 1998, pela Associação Brasi- tas preliminarmente para o projeto. A esses
leira de Geologia de Engenharia Ambiental profissionais caberá sempre a decisão de
(ABGE), do livro Geologia de Engenharia. recomendar os tipos de barragem mais ade-
Assim, um dos objetivos do autor foi com- quados ao local escolhido e, para isso, será
plementar para esses alunos os frutos sempre necessário possuir, minimamente,
advindos da publicação do livro da ABGE, um perfeito conhecimento das seguin-
especificamente para o caso de barragens. E tes condicionantes: morfologia das bacias
por que barragens? É que, nas 170 obras de hidrográfica e hidráulica, bem como dos
barragens em que o autor teve a felicidade possíveis eixos barráveis; caracterização
de participar, seja na fase de projeto ou de geomecânica das fundações, obras comple-
construção, pôde constatar que muitos dos mentares e bacia hidráulica; caracterização

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PROJETOS E CONSULTORIA LTDA.

A ECOGEOCIÊNCIA é uma empresa de prestação de serviços nas áreas de geologia,


geotecnia, hidrogeologia, mineração e meio ambiente que alia a experiência adquirida
nos vários anos de funcionamento à larga vivência profissional de seu corpo técnico. Esse
somatório de experiência é complementado pela incessante busca no aprimoramento
de técnicas de metodologias de trabalho, objetivando fornecer aos seus clientes um
serviço de máxima qualidade. Suas principais áreas de atuação são:
GEOLOGIA:
Fotointerpretação geológica; mapeamento geológico; mapeamento estrutural; e análi-
se macro e micropetrográfica.
GEOTECNIA:
Estudos geotécnicos para as diversas etapas de um projeto de barragens (foto abaixo);
estudos de mecânica das rochas para túneis, dutos e galerias subterrâneas; estudos de
contenção de taludes em áreas urbanas, barragens, estradas e mineração; estudos para
fundações de obras de engenharia; análises de erosão e assoreamento; estudos para
projetos de irrigação; projetos viários e portuários; carta geotécnica.
HIDROGEOLOGIA:
Caracterização hidrodinâmica dos aquíferos; análise das possibilidades de explotação
de aquíferos; caracterização físico-química e bacteriológica das águas subterrâneas;
contaminação de aquíferos; explotação de águas minerais.
MINERAÇÃO:
Prospecção através de poços e trincheiras; avaliação de ocorrências minerais; Relatório
Final de Pesquisa; Plano de Aproveitamento Econômico; requerimento para pesquisa
mineral; planejamento de lavra.
MEIO AMBIENTE:
Relatório de Controle Ambiental – RCA; Plano de Controle Ambiental – PCA; Estudo
de Impacto Ambiental – EIA/RIMA; Plano Diretor relacionado com áreas urbanas ou
bacias hidrográficas.

Responsável técnico
Geólogo Doutor Walter Duarte Costa (forma-
do em 1962 e doutorado em 2002)
endeReço administRativo
Rua Volta Grande, 581 – CEP 31.030-340
Belo Horizonte – MG
endeReço técnico
Rua Washington, 886 apto. 1201 – Bairro Sion
CEP 30.315-540 – Belo Horizonte – MG
Telefones: (31) 3241.3925 – (31) 85005813
(31) 99738407 Barragem de Irapé – Estudos geotécnicos da etapa
e-mail: walter1938@gmail.com de viabilidade executados por Walter Duarte Costa

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dos materiais naturais de construção; e de um relatório técnico nas diversas etapas
impactos ao meio ambiente passíveis de em que se divide uma pesquisa para projeto
ocorrer com a implantação da obra. de uma barragem, desde a sua construção
Por outro lado, é fundamental a esses até sua operacionalização.
profissionais conhecer bem os objetivos Seguem-se os capítulos que abordam, da
para os quais a obra será projetada, pois forma mais compreensível possível, os se-
é comum constatar-se a realização de guintes aspectos ligados ao projeto de uma
processos investigativos ou construtivos barragem: bacias hidrográfica e hidráulica;
inadequados para a finalidade com que será eixo barrável e obras complementares;
construída a barragem, como, por exemplo, investigações de campo e laboratório; tra-
impermeabilizar as fundações de uma bar- tamento das fundações; materiais naturais
ragem prevista para controle de enchentes, de construção; monitoramento; meio am-
mesmo que a percolação pelas fundações biente; e critérios para a escolha do tipo de
não comprometam a segurança da obra. barragem.
Outra deficiência constatada em inú- Dessa forma, o presente livro representa
meros profissionais que lidam com as uma modesta contribuição no sentido de
obras de barragens reside na elaboração aprimorar cada vez mais os conceitos de
dos relatórios técnicos. Às dificuldades uma obra de barramento segura, econô-
de redação consequentes do mau apren- mica e minimamente impactante.
dizado da língua pátria somam-se a falta Finalizando, o autor deseja expressar
de objetividade e um melhor conheci- sua profunda gratidão ao professor Edézio
mento dos aspectos a abordar, resultando Teixeira de Carvalho, pela revisão final
em documentos imprecisos, inelegíveis e do presente trabalho; ao professor Paulo
incompletos, desprovidos de um roteiro Roberto Aranha, pela revisão e pelas suges-
conciso, bem explicativo e com boas ilus- tões no capítulo de geofísica; e às entidades
trações. Por esse motivo, o presente livro Cemig, Sondotécnica e ABGE, pela autori-
dedica um de seus capítulos iniciais à ex- zação para uso de algumas figuras.
planação de conteúdos para a elaboração
O Autor

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10 Geologia de Barragem

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Apresentação

Um livro sobre Geologia de barragens, desenhavam de retração da energia nuclear


ou para barragens. Será um anacronismo? como parte importante da matriz energé-
Nos últimos tempos – ponha-se logo o tica, por causa dos problemas – dados como
marco: ao término do milênio passado –, as insolúveis – da questão ambiental envol-
(grandes) barragens pareciam ter seus dias vida, ainda então concentrada no destino
contados. O Brasil tinha parado em Tucu- dos resíduos e nos acidentes com os reato-
ruí. Em termos de altura, lembro que Minas res; isso bem antes do vazamento de Three
ainda fazia Irapé, mas o empreendimento Miles Island. Havia também uma certa ex-
grande de fato, dos últimos anos no mundo, pectativa de esgotamento do petróleo. “Não
é Três Gargantas, na China. Os grandes dura mais que 30 anos” foi muitas vezes
“barrageiros” brasileiros, engenheiros, geó- falado com certeza absoluta. Curiosamente,
logos e a multidão de operários que a partir há alguns anos, dei com uma análise do ce-
dos anos 1960 migravam como aves de ar- nário para o petróleo e o carvão, e, no caso
ribação de um canteiro para outro tinham do petróleo, não obstante o consumo cres-
quase sumido como por encanto. Todavia, cente, constava que em todos os anos, desde
as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) a crise do petróleo, as reservas tinham au-
prosperaram, contando-se às centenas as mentado, exceto durante a guerra dita do
obras simultâneas, nos vários estados bra- Golfo. Hoje sabemos que a questão nuclear
sileiros, tocadas por muito menos gente, continua mal resolvida, apesar de países
em parte pelo porte muito menor e, em como o Japão, a França, os Estados Unidos
parte, pelo avanço da mecanização, que e outros terem aí parte substancial de seu
cortou muitos empregos no operariado. suprimento energético.
Geólogos e engenheiros, ou pararam na Evidentemente, com as dificuldades do
chegada da idade de aposentadoria, caíram petróleo (agora acirradas com a presunção
num recolhimento voluntário, quase um do aquecimento global), do carvão e da ener-
ostracismo autoimposto, ou entregaram- gia nuclear, os brasileiros se sentiram mais
-se a outros afazeres. Nessas PCHs, embora bem preparados para o futuro com energias
tecnicamente mais simples, os respectivos “limpas” de fontes renováveis, hidráulica,
cadernos de encargos tornaram-se mais solar direta, eólica e da biomassa. Natural-
complexos para atendimento a exigências mente, essas convicções são abaladas por
ambientais crescentes. processos de aprovação algo atribulados,
Lembro-me bem, ainda cursando Geologia como o de Belo Monte no Xingu (empreen-
na Escola de Minas de Ouro Preto, das dis- dimento antigamente, nos anos 1970/1980,
cussões sobre as perspectivas que então se chamado Kararaô e Babaquara).

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Parece evidente que, se os grandes bar- -se a reunir em livro um pouco do muito que
ramentos fossem todos dotados de eclusas sabe do tema, com bom arranjo didático-
para a navegação, como no São Francisco, -pedagógico, em linguagem simples e
Tocantins e Paraná, teria o setor energé- objetiva. São 12 capítulos de conteúdo ex-
tico recebido da sociedade brasileira um positivo e 4 apêndices: glossário de termos
reconhecimento muito maior, porque a técnicos; normas da ABNT; conversão de
navegação interna, condição essencial  de unidades; e relação das obras de barragens
sustentabilidade para qualquer país de di- em que o Autor participou.
mensões continentais, contaria como Sem pretender repetir o sumário, anoto
impacto positivo das grandes barragens, e que o Autor apresenta a matéria da se-
não negativo. A relação com os atingidos, guinte forma:
principalmente os que são removidos de Capítulo 1: conceitos introdutórios
suas residências ou que têm suas proprie- sobre as questões territoriais pertinentes,
dades inundadas, também tem importante os objetivos das barragens e os seus prin-
papel na formação de uma consciência des- cipais tipos.
favorável aos empreendimentos do gênero. Capítulo 2: fases do projeto e da vida das
O geólogo Walter Duarte Costa teve boa barragens, temas apresentados com clara
formação desde o ensino fundamental até a fundamentação, justificando as atividades
universidade e pós-graduação. É natural de das diversas fases de estudo, projeto, cons-
Pernambuco, Estado que se notabiliza por trução e observação do comportamento.
ter dado ao Brasil homens de grande estatura Esses capítulos introdutórios já incluem ar-
científica, técnica, cultural, social e política, gumentos lógicos vinculados à importância
e que, portanto, não inovou em dar-nos o relativa das diversas ocasiões de tomadas de
Autor do livro que honradamente prefacio. decisões. A leitura é agradável, mesmo para
Houve por bem ele centrar em Minas Gerais quem formalmente já tenha passado por
a segunda parte de sua vida profissional, esses temas, de outros autores, em cursos
como geólogo e consultor e como professor de graduação ou pós-graduação.
universitário no Departamento de Geolo- Capítulo 3: apresenta o Autor um sumá-
gia do Instituto de Geociências da UFMG, rio dos aspectos geológicos mais relevantes
onde, por tempo mais curto que o desejado, da bacia de contribuição, distinguindo bem
chegamos a conviver. Homem de ameno a hidrográfica, total, e a hidráulica, inclusa
trato e de falar sóbrio, sempre conduzido na primeira e, no caso, a que fica inteira-
com moderação e, nas questões técnicas, mente submersa em condição de pleno
sempre guarnecido de bons referenciais da armazenamento. Mais uma vez compa-
lógica. É o Walter que vi em artigos técni- recem aspectos da lógica da investigação,
cos, em exposições de encontros científicos, distinguindo-se as necessidades de investi-
nas conversas de corredores escolares, nos gação de cada um deles.
colegiados deliberativos. Capítulos 4 e 5: aprofundam-se as re-
As barragens não deixarão de ser lações interativas entre a barragem e seus
construídas. É o que nos diz ele ao dispor- diversos setores e órgãos auxiliares com

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Sumário
1 Conceitos introdutórios....................................................................................... 21
1.1 Critérios de projeto ..................................................................................................... 21
1.2 Objetivos e sua importância no projeto ...................................................................... 22
1.2.1 Barragens de regularização ................................................................................................... 22
1.2.2 Barragens de contenção ....................................................................................................... 22
1.2.3 Incidência dos objetivos no planejamento da obra .............................................................. 23
1.3 Tipos de barragens...................................................................................................... 24
1.3.1 Barragens convencionais ....................................................................................................... 24
1.3.2 Barragens não convencionais................................................................................................ 27
1.4 Conceitos, nomenclatura e terminologia ..................................................................... 28
1.5 Arranjo de uma obra de barragem .............................................................................. 29

2 Fases e métodos de investigação geológico – geotécnica em barragens............. 31


2.1 Etapas na vida de uma barragem ................................................................................ 31
2.2 Fases de um projeto .................................................................................................... 31
2.2.1 Inventário ou plano diretor ................................................................................................... 31
2.2.2 Viabilidade ........................................................................................................................... 31
2.2.3 Projeto básico....................................................................................................................... 31
2.2.4 Projeto executivo.................................................................................................................. 32
2.3 Investigações geológico-geotécnicas em barragens .................................................... 32
2.3.1 Fase de inventário ou plano diretor ...................................................................................... 32
2.3.2 Fase de viabilidade ............................................................................................................... 34
2.3.3 Fase de projeto básico .......................................................................................................... 37
2.3.4 Fase de projeto executivo ..................................................................................................... 39
2.3.5 Observação do comportamento da obra.............................................................................. 41

3 Aspectos geológicos ligados às bacias hidrográfica e hidráulica ........................ 43


3.1 Erosão e assoreamento ............................................................................................... 43
3.1.1 Erosão ................................................................................................................................... 43
3.1.2 Assoreamento ...................................................................................................................... 44
3.1.3 Riscos de erosão e assoreamento ......................................................................................... 45
3.1.4 Medidas preventivas contra a erosão e o assoreamento ....................................................... 46
3.2 Instabilidade de encostas ............................................................................................ 47
3.2.1 Agentes predisponentes ...................................................................................................... 47
3.2.2 Agentes efetivos .................................................................................................................. 52
3.3 Fugas naturais ............................................................................................................. 53
3.4 Sismicidade induzida ................................................................................................... 54
3.4.1 Causas dos sismos induzidos ................................................................................................ 55
3.4.2 Estudos preventivos ............................................................................................................. 55
3.5 Contribuições indesejáveis .......................................................................................... 56

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4 Problemas geotecnológicos da fundações de uma barragem .............................. 57
4.1 Identificação geológico-geotécnica das fundações ...................................................... 57
4.1.1 Caracterização ...................................................................................................................... 57
4.1.2 Classificação ......................................................................................................................... 64
4.1.3 Compartimentação ............................................................................................................... 67
4.1.4 Modelagem .......................................................................................................................... 68
4.2 Caracterização geomecânica e hidrogeotécnica das fundações da barragem .............. 72
4.2.1 Deformabilidade ou compressibilidade ................................................................................. 73
4.2.2 Estabilidade .......................................................................................................................... 78
4.2.3 Estanqueidade...................................................................................................................... 87
4.2.4 Classificação geomecânica das fundações de uma barragem ............................................... 96

5 Geotecnia das obras complementares ............................................................... 105


5.1 Canais de adução e restituição .................................................................................. 105
5.1.1 Caracterização geológico-geotécnica .................................................................................. 105
5.1.2 Condições de estabilidade .................................................................................................. 106
5.1.3 Modelo geomecânico de escavação ................................................................................... 106
5.2 Vertedouro ............................................................................................................... 106
5.3 Erosão a jusante ........................................................................................................ 108
5.4 Obras subterrâneas................................................................................................... 111
5.4.1 Tipos de obras subterrâneas ............................................................................................... 111
5.4.2 Influências da geologia nas obras subterrâneas .................................................................. 112
5.4.3 Influência do estado de tensões ......................................................................................... 116
5.4.4 Influência da geometria do túnel ........................................................................................ 118
5.4.5 Classificação geomecânica ................................................................................................. 119
5.5 Áreas de acampamento e de canteiro de obras ......................................................... 119
5.6 Acessos ..................................................................................................................... 121
5.7 Ensecadeiras ............................................................................................................. 122
5.7.1 Configuração em planta ...................................................................................................... 122
5.7.2 Construção da ensecadeira ................................................................................................. 123
5.7.3 Aspectos geotécnicos ......................................................................................................... 125

6 Investigações para obras de barragens .............................................................. 127


6.1 Tipos de prospecção ................................................................................................. 128
6.2 Prospecção indireta ................................................................................................... 129
6.2.1 Eletrorresistividade ............................................................................................................. 129
6.2.2 Sísmica ............................................................................................................................... 137
6.2.3 Georradar (GPR) ................................................................................................................ 145
6.3 Prospecção semidireta............................................................................................... 149
6.3.1 Sondagem a varejão (SV) ................................................................................................... 151
6.3.2 Sondagem a trado (ST) ...................................................................................................... 151
6.3.3 Sondagem a percussão (SP) ............................................................................................... 153
6.3.4 Sondagens rotativas (SR).................................................................................................... 157

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6.3.5 Sondagens mistas (SM) ...................................................................................................... 172
6.3.6 Sondagem com rotopercussão ........................................................................................... 172
6.4 Prospecção direta...................................................................................................... 174
6.4.1 Poços .................................................................................................................................. 175
6.4.2 Trincheira ........................................................................................................................... 177
6.4.3 Túneis................................................................................................................................. 179

7 Ensaios e testes .................................................................................................. 181


7.1 Ensaios in situ ............................................................................................................ 181
7.1.1 Ensaios in situ em materiais inconsolidados ......................................................................... 181
7.1.2 Ensaios in situ em materiais consolidados ........................................................................... 188
7.2 Ensaios de laboratório ............................................................................................... 202
7.2.1 Ensaios de laboratório em materiais inconsolidados ............................................................ 202
7.2.2 Ensaios de laboratório em materiais consolidados............................................................... 216

8 Tratamento de maciços naturais ......................................................................... 231


8.1 Métodos de tratamento ............................................................................................ 232
8.1.1Substituição dos materiais da fundação................................................................................ 232
8.1.2 Injeções .............................................................................................................................. 236
8.1.3 Drenagem subterrânea ....................................................................................................... 253
8.1.4 Congelamento .................................................................................................................... 254
8.2 Aplicabilidade de cada método ................................................................................. 255
8.2.1 Melhoramento da resistência.............................................................................................. 255
8.2.2 Redução da percolação ...................................................................................................... 255
8.3 Critérios para definir a necessidade de tratamento .................................................... 263

9 Materiais naturais de construção ....................................................................... 269


9.1 Tipos de materiais e fontes de obtenção ................................................................... 269
9.2 Materiais pétreos ...................................................................................................... 270
9.2.1 Utilização do material pétreo .............................................................................................. 270
9.2.2 Pesquisa, explotação e beneficiamento do material pétreo ............................................... 270
9.2.3 Caracterização do material pétreo ..................................................................................... 275
9.2.4 Apresentação dos resultados ............................................................................................. 287
9.3 Material arenoso ....................................................................................................... 288
9.3.1 Utilização do material arenoso ............................................................................................ 288
9.3.2 Pesquisa, explotação e beneficiamento do material arenoso ............................................ 289
9.3.3 Caracterização do material arenoso .................................................................................. 291
9.3.4 Apresentação dos resultados ............................................................................................ 294
9.4 Material terroso ........................................................................................................ 294
9.4.1 Tipos de materiais terrosos e suas aplicações ..................................................................... 294
9.4.2 Pesquisa e explotação dos materiais terrosos ..................................................................... 296
9.4.3 Caracterização técnica dos materiais terrosos .................................................................... 297
9.4.4 Apresentação dos resultados .............................................................................................. 298

geologia_barragem2.indb 17 16/7/2012 09:36:58


10 Monitoramento ................................................................................................ 303
10.1 Inspeção visual.......................................................................................................... 303
10.2 Topografia ................................................................................................................ 304
10.3 Instrumentação ......................................................................................................... 305
10.3.1 Medição do nível d’água ................................................................................................. 307
10.3.2 Medição da pressão neutra ............................................................................................. 308
10.3.3 Medição da tensão total .................................................................................................. 308
10.3.4 Medição de deslocamento ............................................................................................. 308
10.3.5 Medição da vazão ........................................................................................................... 310
10.3.6 Medição de aceleração sismológica ................................................................................. 310
10.3.7 Frequência das medições ................................................................................................. 311

11 Meio ambiente ................................................................................................. 313


11.1 Critérios de estudo .................................................................................................... 313
11.2 Fase de projeto ......................................................................................................... 315
11.2.1 Abertura de acessos ......................................................................................................... 315
11.2.2 Execução de sondagens .................................................................................................. 315
11.2.3 Abertura de túneis .......................................................................................................... 316
11.2.4 Expectativas sociais ......................................................................................................... 316
11.3 Fase de instalação do canteiro, acampamento e acessos ........................................... 317
11.3.1 Impactos gerados pelo canteiro de obras ......................................................................... 317
11.3.2 Impactos gerados pelo acampamento ............................................................................. 317
11.3.3 Impactos causados pela abertura de acessos ................................................................... 319
11.4 Fase de construção e preparação do reservatório ........................................................ 319
11.4.1 Impactos gerados pela construção ................................................................................... 319
11.4.2 Impactos gerados pela explotação de materiais naturais de construção ........................... 320
11.4.3 Impactos gerados na preparação do reservatório ............................................................ 320
11.5 Fase de enchimento do reservatório.......................................................................... 321
11.5.1 Inundação das áreas marginais ........................................................................................ 321
11.5.2 Redução de água a jusante ............................................................................................. 321
11.5.3 Modificação da qualidade das águas .............................................................................. 322
11.6 Fase de desmobilização do canteiro e do acampamento ........................................... 322
11.6.1 Desmobilização do canteiro de obras .............................................................................. 322
11.6.2 Desmobilização do acampamento ................................................................................... 322
11.7 Fase de operação ...................................................................................................... 323
11.7.1 Variação do nível do reservatório ..................................................................................... 323
11.7.2 Manutenção da infraestrutura remanescente ............................................................................. 324
11.8 Estudos ambientais ................................................................................................... 324
11.8.1 Documentação ................................................................................................................ 324
11.8.2 Licença Prévia (LP)............................................................................................................ 325
11.8.3 Licença de Instalação (LI) ................................................................................................ 325
11.8.4 Licença de Operação (LO) .............................................................................................. 327

geologia_barragem2.indb 18 16/7/2012 09:36:58


12 Critérios para escolha dos tipos de obras......................................................... 329
12.1 Topografia ................................................................................................................ 329
12.1.1 Corpo da barragem ......................................................................................................... 329
12.1.2 Vertedouro ..................................................................................................................... 329
12.1.3 Desvio do rio .................................................................................................................... 330
12.1.4 Obras auxiliares ................................................................................................................ 330
12.2 Geologia das fundações ............................................................................................ 330
12.2.1 Corpo da barragem .......................................................................................................... 330
12.2.2 Obras auxiliares................................................................................................................ 333
12.3 Materiais naturais de construção............................................................................... 333
12.3.1 Localização ....................................................................................................................... 333
12.3.2 Quantidade ...................................................................................................................... 334
12.3.3 Características técnicas do material .................................................................................. 334
12.4 Meio ambiente ......................................................................................................... 334
12.4.1 Materiais naturais de construção ...................................................................................... 334
12.4.2 Áreas inundadas ............................................................................................................... 334
12.5 Fase de definição do tipo de barragem ..................................................................... 335

Apêndice 1 – Glossário de termos técnicos ........................................................... 337

Apêndice 2 – Principais normas técnicas da ABNT


aplicadas a solos e agregados ............................................................................... 341

Apêndice 3 – Conversão de unidades do Sistema Internacional


de Unidades (SI) para as principais unidades (Frazão, 2002; Inmetro, 1989) ........ 343

Apêndice 4 – Barragens que tiveram a participação do autor ............................... 345

Bibliografia recomendada .....................................................................................348

Referências bibliográficas ..................................................................................... 351

geologia_barragem2.indb 19 16/7/2012 09:36:58


1 Conceitos introdutórios

1.1 Critérios de projeto y Climatologia e recursos hídricos;


y Morfologia;
O projeto de uma barragem envolve as- y Geologia e Geotecnia;
pectos muito diversificados, sobretudo por y Impactos ambientais.
abranger fatores de natureza bastante dis-
tinta quando considerados em função do Normalmente é difícil dissociar as in-
aspecto enfocado: obra propriamente dita terdependências dos fatores relacionados
ou ambiente em que a obra será inserida. às condicionantes naturais de alguns fato-
Os fatores relacionados com a obra pro- res ligados à própria obra, principalmente
priamente dita referem-se à concepção e ao no que se refere aos parâmetros necessários
dimensionamento dos diferentes compo- à definição da concepção do projeto. Assim,
nentes da obra e podem, em geral, admitir dificilmente se pode conceber o melhor ar-
a seguinte abordagem: ranjo de obra sem levar em conta, ao mesmo
y Objetivo da obra; tempo, os seguintes fatores:
y Tipo de barragem; y Objetivo da obra;
y Arranjo de obras; y Balanço hídrico;
y Dimensionamento da barragem, le- y Relevo;
vando em conta suas características de y Condições geológico-geotécnicas das
deformabilidade, estabilidade e estan- fundações;
queidade; y Disponibilidade de materiais naturais
y Dimensionamento das obras com- de construção;
plementares, como vertedouro, canais, y Impactos ambientais relevantes.
túneis e casa de força, em função de cri-
térios de projeto e segurança das obras; Os fatores listados são essenciais não
y Metodologia de construção; apenas para definir o melhor arranjo das
y Cronograma e custos; obras de uma barragem, mas também
y Monitoramento das obras projetadas; para analisar a própria viabilidade dessa
y Critérios operacionais. obra. Os demais fatores relacionados ao
dimensionamento serão fundamentais
Os fatores relacionados com o ambiente para a definição do método construtivo, dos
em que a obra será inserida dizem respeito custos e da segurança na fase operacional.
às condicionantes naturais do local de Dos fatores essenciais mencionados
implantação da obra e do reservatório for- anteriormente, apenas o balanço hídrico
mado, podendo, em princípio, abordar os não será abordado na presente obra, por se
seguintes tópicos: constituir num campo vasto da Hidrologia,

geologia_barragem2.indb 21 16/7/2012 09:36:58


1 – Conceitos introdutórios 27

transversal. Os tipos mais conhecidos são: 1.3.2 Barragens


terra/enrocamento (Fig. 1.5a); terra/con- não convencionais
creto (Fig. 1.5b); e enrocamento/concreto
Barragens de gabião
(Fig. 1.5c). A barragem é mista ao longo do
seu traçado quando parte da obra é de um A barragem de gabião é uma obra de pe-
tipo e parte, de outro, entre as barragens queno porte (geralmente inferior a 10  m
convencionais. Não se considera barragem de altura) projetada para ser parcial ou to-
mista aquela em que o  corpo principal é talmente vertedoura. Conforme mostra a
de terra ou enrocamento e o vertedouro Fig. 1.5e, essa obra é constituída por uma
é de  concreto, mesmo que constitua uma parede de gabião com extensão para ju-
continuidade do traçado (Fig. 1.5d). sante formando a bacia de dissipação e

Fig. 1.5 Barragens mistas e não convencionais

geologia_barragem2.indb 27 16/7/2012 09:37:02


2 Fases e métodos de investigação
geológico – geotécnica em barragens

2.1 Etapas na vida de decorrência do progressivo detalhamento


uma barragem que as fases mais decisivas passam a exigir.
As fases de estudo de um projeto e suas
Como toda obra de engenharia, uma principais características são descritas a
obra de barramento possui uma vida útil seguir.
que considera todo o seu período de utiliza-
2.2.1 Inventário ou plano diretor
ção, na hipótese de um dia vir a tornar-se
inaproveitável para os objetivos que nortea- Essa fase corresponde a um primeiro
ram a sua construção. Essa vida, na verdade, planejamento para a escolha de locais
inicia-se com o projeto da obra, admitindo passíveis de serem barrados em uma de-
três etapas distintas e bem características: terminada bacia hidrográfica, e pode ser
projeto, construção e operação. concluída com uma ordem de prioridade
O projeto considera todo o conjunto de das alternativas inventariadas, em função
investigações, estudos e análises que per- dos objetivos e das condicionantes naturais
mite definir o tipo de obra mais adequado de cada local.
e toda a metodologia para a sua construção.
2.2.2 Viabilidade
A construção abrange não apenas a barra-
gem propriamente dita, mas todas as obras Nessa fase, terão início os estudos espe-
auxiliares que possibilitarão a utilização cíficos para uma determinada alternativa
da barragem, segundo os objetivos para os inventariada, ao final dos quais estarão de-
quais a obra foi concebida. A construção é finidos: a exata posição do eixo barrável, o
dada por concluída com o enchimento do melhor tipo de barragem, as diferentes solu-
reservatório criado. Por sua vez, a operação ções de arranjo de obras e, principalmente, a
corresponde ao efetivo funcionamento da viabilidade técnica e econômica do empreen-
obra, que poderá ter início com o uso parcial dimento. Em geral, um projeto de viabilidade
de sua capacidade de utilização, incremen- não excede os dois anos de duração; todavia,
tando esse uso no decorrer do tempo. no Brasil, barragens mais complexas têm ex-
trapolado em muito esse prazo.

2.2 Fases de um projeto 2.2.3 Projeto básico


O projeto de uma barragem é execu- Nessa fase, serão analisados todos os
tado em fases sucessivas, cujos objetivos e estudos e investigações necessários à confi-
metodologia variam não só em função da guração final do projeto de obras, fornecendo
escala de estudo, mas principalmente em todos os elementos que possibilitem licitar a

geologia_barragem2.indb 31 16/7/2012 09:37:03


3 Aspectos geológicos ligados às
bacias hidrográfica e hidráulica

A abordagem da influência de fatores no deslocamento de partículas que com-


geológicos simultaneamente em ambas põem um solo ou uma rocha. No presente
as bacias que se relacionam com o barra- trabalho, será analisada apenas a erosão
mento de um rio deve-se ao fato de que, provocada pela água (o vento, o mar e as
na maioria dos casos, esses fatores são geleiras ficarão fora dessa análise), não
comuns a essas duas áreas. À medida que apenas pelo fato de esta ser o mais impor-
tais fatores forem abordados, será dada tante agente erosivo, mas também pela
ênfase à área em que são mais importan- inexistência ou fraca atuação dos demais
tes; eles podem, todavia, em alguns casos, agentes com relação a barragens no Brasil.
estar ausentes em uma dessas áreas. A erosão pelo efeito da água pode ser
pluvial, quando exercida diretamente
pelas águas de chuva, ou fluvial, quando
3.1 Erosão e assoreamento
provocada pelos rios. Em termos de re-
Esses fatores são abordados em con- servatório, a erosão pluvial é muito mais
junto por estarem intimamente ligados significativa, pois a área exposta a esse pro-
como um perfeito exemplo de causa/ cesso em uma bacia hidrográfica é muitas
efeito, pois é sabido que a erosão é a causa vezes superior àquela em que pode ocorrer
da remoção dos componentes de um solo a erosão fluvial (margens do rio apenas).
ou rocha, enquanto o assoreamento dos Na erosão pluvial, interferem muitos fa-
cursos d’água e dos reservatórios, de- tores de natureza bastante diversificada,
corrente da sedimentação do material e os mais significativos são: pluviosidade,
erodido, constitui o efeito dessa erosão. No declividade, natureza do solo, cobertura
processo erosão/sedimentação, faltaria vegetal e atividade antrópica.
apenas a componente do transporte, que A influência da pluviosidade se faz
geralmente é o mesmo veículo responsável sentir mais na forma como ocorre do que
pela erosão, ou seja, a água. Ainda assim, no volume  da precipitação pluviométrica
será feita uma análise da fenomenologia anual. Nas regiões onde a pluviosidade
de cada processo separadamente e, depois, é concentrada em poucos meses do ano,
analisado o risco de erosão e assoreamento os  efeitos das precipitações pluviais
como um único processo em termos de sobre  a  erosão dos solos são muito mais
danos causados a um reservatório. intensos. Em 1988, na região norte do
Estado de Minas Gerais, foi constatada
3.1.1 Erosão
uma precipitação pluvial em cinco dias
A erosão é um processo que resulta correspondente a 40% da média anual

geologia_barragem2.indb 43 16/7/2012 09:37:06


46 Geologia de Barragens

radas, pois tal análise visa fornecer dados fatores acham-se divididos em sete clas-
para um eventual zoneamento de áreas ses, de acordo com a variação considerada
problemáticas nesse aspecto, e alguns para cada fator, em termos de influência
fatores, como o clima, são geralmente relativa média. O risco de erosão foi de-
uniformes ao longo de toda a área de uma finido em função da combinação desses
bacia hidrográfica. Outros fatores, como fatores, conforme indicado na Tab. 3.1b,
a ação antrópica, são muito localizados e na qual foram consideradas cinco classes
dinâmicos, de sorte que dificilmente as de risco, do nulo ao muito alto.
condições no início dos estudos serão as
3.1.4 Medidas preventivas
mesmas à época em que forem tomadas as
contra a erosão e o
medidas preventivas ou corretivas.
assoreamento
Assim, serão considerados como fatores
variáveis e ponderáveis de risco de erosão No estudo de um reservatório, deve-
apenas a declividade, a natureza do solo -se proceder ao levantamento de todas as
e a cobertura vegetal. Na Tab. 3.1a, esses condições que favorecem a erosão e carac-
terizar as potencialidades morfológicas
de assoreamento do futuro lago formado
Tab. 3.1 Hipóteses de agrupamento pela barragem. As medidas preventivas,
de risco
(a) Fatores influentes na erosão
estabelecidas a partir de um diagnóstico
Fator Variação Número preciso dessas potencialidades, variam
< 20% 1 desde o ataque das causas da erosão até a
Declividade 20%-50% 2 medida extrema de deslocar a barragem
> 50% 3 para um local melhor, pois o assorea-
coesivo 4 mento pode constituir-se num fator que
Solo
não coesivo 5 inviabilize a construção da obra.
eficiente 6
Vegetação O ataque às causas da erosão resume-
ineficiente 7
-se ao eficaz controle de áreas desmatadas
(b) Classificação do risco de erosão
e à proteção de pilhas de materiais soltos
Combinação de
Grau Risco provenientes de rejeitos e estéreis de mi-
fatores (Nos)
I 1+4+6 nulo neração ou da construção civil. Devem-se
1+4+7 evitar os cortes e aterros que fiquem des-
II 1+5+6 reduzido protegidos contra a erosão, bem como a
2+4+6
exposição demorada de solos entre o des-
1+5+7
matamento e o plantio agrícola.
2+4+7
III médio Reduzidos os focos de erosão e plane-
2+5+6
3+4+6
jada a localização da barragem de forma
2+5+7 a evitar situações como a mostrada na
IV 3+4+7 alto Fig. 3.1f, pode-se conviver com o assorea-
3+5+6 mento sem grandes traumas, desde que se
V 3+5+7 muito alto adotem as seguintes medidas:

geologia_barragem2.indb 46 16/7/2012 09:37:07


4 Problemas geotecnológicos das
fundações de uma barragem

O sítio de obras corresponde a toda a mecânico das fundações, que retratará a


área necessária à perfeita caracterização do definitiva relação entre as condicionantes
arranjo de obras em um projeto de barra- geológicas, morfológicas e hidrogeológicas
gem. Inclui, assim, a obra relacionada com com as características das obras a proje-
o barramento propriamente dito e todas as tar. Essa identificação envolve processos
obras complementares, como vertedouro, distintos, embora superpostos em alguns
canais de adução, obras subterrâneas, en- casos, que variam em função do crité-
secadeiras, acessos, área de acampamento rio identificatório e do volume de dados
e canteiro de obras. No presente capítulo, disponíveis. Esses processos são: caracte-
porém, serão analisados apenas os aspec- rização, classificação, compartimentação e
tos ligados às fundações da barragem. modelagem.

4.1.1 Caracterização
4.1 Identificação geológico-
A caracterização corresponde à etapa
-geotécnica das fundações
mais importante do processo identificató-
Como fundação será considerado todo rio, pois, nessa etapa, deverão ser definidos
o embasamento geológico existente no todos os parâmetros que permitam dis-
local onde será assentada a barragem ou tinguir os diferentes materiais envolvidos
suas obras complementares (vertedouro, em uma fundação. É baseada em todos
canais, tubulações para adução, usina etc.), os meios de investigação geológica e
independentemente se tal material será geotécnica, a saber: fotointerpretação,
conservado ou retirado para a construção geologia de campo, sondagens diretas e
da obra em projeto. Assim, a fundação in- indiretas, ensaios in situ e de laboratório.
cluirá não apenas o maciço rochoso, mas Por meio dessas investigações, deverão ser
todo o material incoerente – ou regolito – buscadas, para cada material existente, as
que o recobre, seja produzido in situ, como seguintes caracterizações:
os diversos estágios de material intempe-
Geologia:
rizado, cuja gradação vai da rocha sã até o
solo residual maduro, seja transportado y Materiais incoerentes: composição
(aluvião, coluvião, tálus etc.). granulométrica, coloração, espessura,
A completa identificação desses mate- estrutura, grau de compacidade e con-
riais constitui um processo evolutivo com sistência.
as etapas de estudo de uma barragem. To- y Materiais coerentes: tipo litológico,
davia, deve-se sempre levar em conta que composição mineralógica, estruturas,
o objetivo final é chegar ao modelo geo- estágios de alteração, estados de con-

geologia_barragem2.indb 57 16/7/2012 09:37:11


68 Geologia de Barragens

dados pontuais. Para tanto, utilizam-se sificação, ou mesmo uma seção para cada
os dados da caracterização ou da clas- compartimentação, conforme mostram as
sificação e são estabelecidas unidades Figs. 4.6 e 4.7. Além dos dados geológicos e
geológico-geotécnicas de forma bi ou tridi- geomecânicos que embasarão essas compar-
mensional,  de sorte que se possa ter uma timentações, devem ser explorados todos
visão ampla de todo o maciço da funda- os elementos topográficos e hidrogeotécni-
ção, com suas variações geomecânicas na cos. Na compartimentação tridimensional,
horizontal e na vertical. Na forma bidimen- procura-se integrar as três principais di-
sional, a compartimentação é apresentada reções relacionadas com a obra. Pode-se
por meio de seções, geralmente paralelas realizá-la por meio de blocos diagramas ou
ao eixo barrável, embora possam ser com- de diagrama de cerca, em que várias seções
plementadas por outras direções. Nessas serão entrelaçadas (Fig. 4.5).
seções, devem-se plotar todas as infor-
4.1.4 Modelagem
mações obtidas nas investigações, sejam
diretas (poços, galerias e sondagens) ou in- Nessa etapa, procura-se estabelecer pro-
diretas (geofísicas). Em uma mesma seção, tótipos para as condicionantes geológicas
pode-se apresentar mais de um tipo de clas- e geotécnicas, com base em todas as fases

Fig. 4.5 Diagrama de cerca mostrando quatro seções geológicas de uma obra de barramento (barragem de
Irapé‑MG)
Fonte: cortesia da Cemig.

geologia_barragem2.indb 68 16/7/2012 09:37:17


84 Geologia de Barragens

Tab. 4.6 Valores médios de resistência das principais rochas


Grupo de Resistência à Resistência ao Resistência à
Rocha
rocha compr. (kgf/cm2) cisalh. (kgf/cm2) tração (kgf/cm2)
Basalto e gabro 800 - 4.000 50 - 400 60 - 200
Anfibolito 1.700 - 2.800 150 - 300 100 - 150
Granito e granodiorito 1.200 - 2.800 100 - 300 100 - 250
Ígneas
Diabásio 1.200 - 2.500 100 - 150 100 - 200
Andesito 500 - 3.000 80 - 150 50 - 150
Riolito e fonolito 1.000 - 3.000 80 - 200 80 - 120
Mármore 600 - 1.800 100 - 250 60 - 160
Quartzito 2.800 - 3.000 150 - 200 150 - 200
Metamórficas Gnaisse 800 - 2.500 50 - 100 40 - 70
Quartzoxisto 1.300 - 2.500 120 - 150 100 - 150
Micaxisto 500 - 1.500 40 - 80 30 - 70
Calcário 600 - 1.800 100 - 180 50 - 120
Arenito 300 - 1.500 100 - 200 30 - 100
Sedimentares
Dolomito 200 - 1.200 80 - 150 25 - 100
Argilito 400 - 1.000 40 - 70 30 - 50
Fonte: Legget (1962); Novik e Rzhevsky (1971).

por I nessa figura, produz duas zonas de mobilizada a tensão de cisalhamento linear
cisalhamento, cada  uma delas constituída na Fig. 4.12g.
por duas partes: uma de cisalhamento radial, A influência da direção do plano de
indicada por II e limitada por um arco de es- descontinuidade sobre a ruptura por
piral logarítmica; e outra de cisalhamento cisalhamento pode ser observada no gráfico
linear, indicado por III e definida pelo ângulo da Fig. 4.14b. Verifica-se essa influência até
de 45º - f/2 com a horizontal, explicado 45º entre as direções de descontinuidade
pelo esquema da Fig. 4.14a. A capacidade de e de aplicação dos esforços, e ela se reduz
suporte da fundação, que define a sua con- para ângulos inferiores a 45º e se anula to-
dição de estabilidade, é igual à resistência talmente a partir dos 60º. Assim, pode-se
oferecida ao deslocamento pelas zonas de prever que as descontinuidades do maciço
cisalhamento radial e linear. rochoso que possuem ângulos de 0º até 60º
Uma vez que a resistência ao no sentido de montante são passíveis de in-
cisalhamento de um maciço rochoso é con- fluenciar a estabilidade das fundações de
dicionada pelas suas descontinuidades, que barragens de peso (Fig. 4.14c). A situação
constituem planos de fraqueza do maciço, mais crítica de instabilidade é aquela em que
pode-se constatar que as piores condições ocorrem descontinuidades mergulhando
de estabilidade de uma fundação em rocha para jusante e para montante (Fig.  4.14d),
correspondem à situação em que a direção pois a intersecção desses planos favorecerá
de uma ou mais descontinuidades coincide a formação de cunhas instáveis que tendem
ou está próxima à direção em que se acha a se deslocar para jusante, a exemplo do

geologia_barragem2.indb 84 16/7/2012 09:37:27


5 Geotecnia das obras complementares

5.1 Canais de adução de fluxo, seção do canal, cota do nível da água


e restituição e variação de profundidade de escavação),
deve-se programar a investigação geotécnica
Em uma obra de barragem, os canais (supondo-se já conhecer a geologia de super-
podem ser utilizados para o direcionamento fície), que pode ser baseada em sondagens
das águas do reservatório para diversas es- mecânicas ou com o auxílio da geofísica.
truturas, como vertedouro, tomada d’água Com os resultados das sondagens, deve-
e túneis de desvio, ou como restituição das -se apresentar uma seção longitudinal ao
águas para jusante, a partir da casa de força canal e algumas seções transversais sempre
ou de túneis de desvio. Com base no co- que ocorram variações, quer topográficas,
nhecimento das condicionantes geológicas, quer geológicas, que influam na defini-
geotécnicas e morfológicas da área de en- ção dos problemas de estabilidade. Nessas
torno da barragem, o geólogo deve auxiliar seções, devem ser compartimentadas as
o engenheiro projetista quanto à melhor diferentes unidades  geológico-geotécnicas
localização dos canais necessários à obra, presentes no futuro canal, conforme exem-
principalmente quando essas condicionan- plo da Fig.  4.6. É sumamente importante
tes são muito diferentes nas duas margens caracterizar nessas seções e em sua análise
do rio. Uma vez selecionados os melhores os seguintes elementos:
locais sob o ponto de vista de arranjo de a] contato solo/rocha;
obras e das condicionantes naturais, devem b] contato entre diferentes classes do
ser caracterizados os problemas induzidos maciço rochoso;
pelo fluxo das águas nesses canais. Nessa c] características dos materiais no trecho
caracterização, três pontos devem ser bem submerso do canal;
definidos: d] características dos materiais no trecho
y natureza dos materiais de escavação submetido a variação do nível d’água
(solo ou rocha); (NA);
y geometria das descontinuidades; e] características dos materiais no trecho
y estabilidade das paredes de escavação. permanentemente emerso;
f] características dos materiais na entrada
do canal;
5.1.1 Caracterização geológico-
g] geometria das descontinuidades (plota-
-geotécnica
das em estereograma polar);
Conhecido o traçado previsto para o h] persistência, extensão, rugosidade e
canal e as condições de projeto (velocidade preenchimento das descontinuidades.

geologia_barragem2.indb 105 16/7/2012 09:37:38


106 Geologia de Barragens

5.1.2 Condições de estabilidade o embricamento dos blocos dificulta o seu


arrancamento pelo fluxo das águas, ofe-
Os canais de adução ou de restitui- recendo boas condições de estabilidade à
ção são sempre veículos de fluxos com parede de escavação.
vazões consideráveis, razão pela qual
devem ser constituídos de materiais que
5.1.3 Modelo geomecânico
de escavação
ofereçam resistência à erosão. Assim, a pri-
meira consequência do estudo geológico Em função das características de es-
consiste em zonear os trechos de baixa re- tabilidade diagnosticadas no estudo
sistência à erosão e que necessariamente geológico-geotécnico, deve-se estabelecer
tenham que ficar submersos, recomen- um modelo geomecânico para as escava-
dando não somente taludes de escavação ções do canal em que conste:
apropriados, mas também estruturas de y trechos sem revestimento;
contenção para evitar sua erosão e/ou y trechos com revestimento;
seu desabamento. y taludes em solo e em rocha, no trecho
Para os trechos de rocha sã, o canal não emerso e no trecho submerso;
deverá ser revestido, mas geralmente es- y estruturas de contenção (placas, ti-
cavado com taludes verticalizados. Nesses rantes etc.);
trechos, é necessário definir as relações y proteção contra erosão no trecho
entre as direções do fluxo das águas e as emerso em solo.
direções das descontinuidades presentes
no maciço, bem como as condições de em- A Fig. 5.2 mostra um tipo de modelo
bricamento dos blocos individualizados geomecânico de escavação para o canal
por tais descontinuidades. Isso porque do  vertedouro da barragem de Irapé
eventuais situações desfavoráveis nessas (Cemig).
relações de direções podem induzir o ar-
rancamento de blocos das paredes, o que
funcionará como início de erosões pontuais
5.2 Vertedouro
que poderão desencadear grandes instabi- O vertedouro de uma barragem pode ser
lidades ao longo da parede de escavação, de vários tipos, desde os mais convencio-
com os consequentes problemas de assore- nais, em calhas incorporadas à barragem
amento do canal e transporte de detritos ou em canais abertos em uma das margens,
para as estruturas de jusante. até os mais incomuns, que incluem a tulipa
A Fig. 5.1 mostra duas situações de e os túneis.
estabilidade de talude em canais. Na pri- No caso de tulipa, praticamente não há
meira (a), o fluxo de águas favorece o qualquer interferência das condicionantes
arrancamento de blocos, podendo gerar geológicas, pois toda a estrutura é incorpo-
instabilidade da parede de escavação em rada à própria barragem, merecendo, assim,
função das demais características de resis- apenas os cuidados de um engenheiro pro-
tência do maciço rochoso; na segunda (b), jetista. Por esse motivo, esse tipo de obra

geologia_barragem2.indb 106 16/7/2012 09:37:38


6 Investigações para obras de barragens

Entende -se por investigação ou pes- o perfeito conhecimento das feições geoló-
quisa no estudo de uma barragem o gicas e geotécnicas do projeto a implantar.
conjunto de operações que permitam O mais importante na programação
uma perfeita caracterização de todas as dessa pesquisa é racionalizar o seu uso em
feições geológicas e geotécnicas passíveis função das reais necessidades requeridas
de ser relacionadas com a implantação por cada etapa de investigação discutida
desse tipo de obra. A metodologia da no Cap. 2. Isso porque o custo dessas in-
pesquisa envolve desde a investigação vestigações cresce muito com o grau de
de campo, incluindo os estudos superfi- detalhamento requerido nas fases de pro-
ciais, os diferentes meios prospectivos e jeto básico e projeto executivo, razão
os ensaios tecnológicos desenvolvidos in pela qual é totalmente desaconselhável
situ, até os testes realizados em labora- a realização de métodos mais avançados
tório. Os estudos superficiais iniciam-se de investigação antes que seja compro-
no escritório por meio do levantamento e vada a viabilidade técnica e econômica da
da análise dos dados fisiográficos, geoló- obra na etapa de viabilidade. Esses cuida-
gicos, hidrogeológicos e geotecnológicos dos devem levar em conta não apenas o
não apenas do local de barramento, mas tipo de investigação, mas também a sua
de toda a bacia hidrográfica contribuinte. quantificação, uma vez que alguns tipos
Segue -se, ainda no escritório, a caracteri- de prospecção e de ensaios são iniciados
zação preliminar dessa área por meio da já na fase de viabilidade, como mostrado
fotointerpretação geológica. Esses estu- no Cap. 2, continuando nas fases de de-
dos têm continuidade em campo, com a talhamento do projeto. Assim, deve-se
aferição da fotogeologia, caracterização quantificar um  número mínimo desses
in situ dos aspectos geológicos e geotéc- processos investigatórios na fase de viabi-
nicos da bacia e dos locais de obra, além lidade, desde que atendam à necessidade a
da identificação superficial dos materiais que se propõem, e aumentar esse número
naturais de construção e dos prognósti- nas etapas seguintes.
cos dos impactos ambientais. Outros aspectos relevantes na progra-
Essa pesquisa superficial acha-se deta- mação de uma investigação são: tipo de
lhada por etapa de investigação no Cap. 2 obra, porte da obra, natureza geológica
e será concluída com a programação das do local de implantação, riscos envolvidos
investigações subsuperficiais, por meio dos e meio ambiente. Explicitou-se no Cap. 2
diferentes tipos de prospecção, bem como que uma das recomendações a ser feita no
dos ensaios que se fizerem necessários para relatório relacionado com a fase de inven-

geologia_barragem2.indb 127 16/7/2012 09:37:50


152 Geologia de Barragens

a propiciar a continuidade da escavação o que também deve ser feito se houver


com o trado concha. Ao atingir horizon- artesianismo não surgente. Os resultados
tes de argila mais rija, ou argila abaixo do da perfuração devem ser apresentados
nível freático, a concha deve ser substitu- em perfis apropriados, onde constarão,
ída pelo trado helicoidal. no mínimo:
A sondagem a trado será encerrada nos y nome da obra e do cliente;
seguintes casos: y identificação e localização do furo;
y quando atingir a profundidade que y diâmetro da sondagem;
interessa ao projeto; y data de execução;
y quando ocorrer desmoronamentos y cota, quando possível;
sucessivos das paredes do furo; y descrição dos materiais atravessa-
y quando o avanço da escavação for dos;
inferior a 5 cm em 10 minutos de y profundidade das amostras coletadas;
operação contínua; y medidas de nível de água, quando
y quando se atingir o impenetrável à possível.
perfuração, pela ocorrência de casca-
lho, matacão ou rocha (nesse caso, o O Boletim nº 3 da ABGE (1999) apre-
furo poderá ser deslocado num raio senta um modelo para o perfil desse tipo
de 3 m e tentada nova perfuração). de sondagem.
Em barragens, pode-se utilizar a son-
Caso seja encontrado o nível freático, dagem a trado na pesquisa de materiais
a sua profundidade deverá ser anotada, terrosos (ver Cap. 9) e na caracterização
das fundações da barragem. Para as fun-

Fig. 6.26 Tipos de trado Fig. 6.27 Trado mecanizado


Fonte: modificado de ABGE (1980). Fonte: pesquisa do autor.

geologia_barragem2.indb 152 16/7/2012 09:38:05


7 Ensaios e testes

7.1 Ensaios in situ Para ratificar essas diferenças, pode-se


citar o caso do material rochoso. Quando
Os ensaios ou testes in situ são aqueles se coleta uma amostra desse material para
realizados em campo para determinação ensaio de laboratório, definem-se as pro-
das propriedades físicas e mecânicas dos priedades físicas e mecânicas da rocha
materiais que funcionarão como base de ensaiada; porém, se o ensaio for realizado
obras relacionadas com a barragem, ou in situ, as propriedades determinadas
que sejam alvo de escavações a céu aberto referem-se ao maciço rochoso, na situação
ou subterrâneas nesse tipo de obra. Pode- mais condizente com a influência sofrida
-se realizá-los em materiais incoerentes, por esse maciço com a implantação da obra.
como os diversos tipos de solos; em ma- Além das heterogeneidades e desconti-
teriais consolidados, como os diversos nuidades presentes em um maciço rochoso,
tipos de rochas; e nas zonas de transição também a existência de zonas alteradas
entre esses materiais, como os saprólitos. pode influir muito na caracterização desse
Na presente análise, os saprólitos serão maciço, efeito este somente detectado pelo
incluídos entre os maciços rochosos para ensaio in situ, uma vez que as amostras
a abordagem dos ensaios in situ, pelo fato levadas para ensaios de laboratório são
de serem acessados pelos mesmos méto- sempre escolhidas em estado são.
dos utilizados para a rocha. A abordagem dos ensaios in situ pode,
Os ensaios in situ levam uma grande em princípio, incluir duas linhas, as quais
vantagem sobre os de laboratório pelas diferem pela metodologia de aplicação:
seguintes razões: ensaios em materiais inconsolidados e en-
y ensaiam materiais indeformados; saios em materiais consolidados.
y na maior parte dos ensaios, a área de
7.1.1 Ensaios in situ em
atuação é muito grande, o que per-
materiais inconsolidados
mite resultados médios compatíveis
com as heterogeneidades presentes Os principais ensaios in situ realizados
no material ensaiado; em materiais inconsolidados para proje-
y por alcançar grandes áreas, os tos de barragens são:
ensaios atingem uma grande quan- y Peso específico aparente
tidade de descontinuidades que y Permeabilidade
retratam melhor as condições mecâ- y Resistência à penetração
nicas do material ensaiado. y Resistência ao cisalhamento
y Resistência à compressão simples

geologia_barragem2.indb 181 16/7/2012 09:38:19


8 Tratamento de maciços naturais

Como maciços naturais são considera- com a construção de uma obra de barra-
dos os solos, as rochas e os materiais de mento, principalmente pela imposição de
transição, ou saprólitos. Esses materiais novas tensões, sejam efetivas, pelo peso
podem exigir tratamento para melhorar da barragem construída, sejam neutras,
suas características independentemente pela água armazenada no reservatório for-
do local em que se encontrem em relação a mado. Como nem sempre as características
uma obra de barramento, incluindo aque- originais desse maciço natural são suficien-
las que lhe são associadas. A situação mais tes para suportar as modificações a serem
presente com relação à localização desses impostas pela obra projetada, é necessário
materiais relaciona-se com as fundações melhorar ou reforçar essas característi-
da barragem, que serão analisadas prio- cas por meio de técnicas e procedimentos
ritariamente, com considerações sobre visando a uma melhor adequação das fun-
o tratamento eventualmente necessário dações à obra projetada. Nisso consiste o
desses materiais quando localizados em tratamento das fundações.
uma encosta, no entorno de um canal, Os tipos de tratamento das fundações
de  um túnel ou de outro tipo de escava- têm experimentado um sucessivo apri-
ção subterrânea. moramento ao longo dos últimos anos,
No item 4.1, foi considerado como seja em função da presença de condições
fundação de uma barragem todo o geológicas cada vez mais desfavoráveis
embasamento geológico existente no em decorrência de aproveitamentos prio-
local em que será assentada a barragem e ritários anteriores, seja pela necessidade
suas obras complementares (vertedouro, de conciliar cada vez mais os aspectos
canais, ensecadeira, usina etc.), indepen- econômicos, sociais e ambientais. Assim,
dentemente de sua constituição geológica, é comum o confronto entre o nível de se-
se formado por rocha ou pelo solo de co- gurança alcançado por um determinado
bertura. Também ficou claro que o local método de tratamento e o elevado custo
referido como fundação da barragem que este representa para a obra, ou até
propriamente dita não se restringe à área mesmo em relação às dificuldades técnicas
geralmente aplainada do fundo do vale, de sua implantação. A escolha do melhor
mas estende-se para as ombreiras laterais método de tratamento de uma fundação
que receberão parte da obra de barra- depende de uma série de fatores; porém,
mento ou de obras complementares. duas condicionantes são fundamentais
O maciço natural que constitui essa nessa escolha: a caracterização geológica
fundação sofrerá intensas modificações das fundações e o objetivo do tratamento.

geologia_barragem2.indb 231 16/7/2012 09:38:48


9 Materiais naturais de construção

9.1 Tipos de materiais e fontes empréstimo, o que também significa


de obtenção impactos ambientais significativos;
y elimina os custos de desapropriação
Como material natural passível de ser das áreas de empréstimo;
utilizado em uma obra de barramento, y elimina os custos com a construção,
podem ser distinguidos: material pétreo, manutenção e desapropriação de
material arenoso e material terroso. acessos para as áreas de empréstimo;
As fontes de obtenção desses mate- y elimina os custos de transporte dos
riais são basicamente duas: escavações materiais provenientes de áreas de
da própria obra e áreas de empréstimo. empréstimo.
Muitos projetos de barragens exigem es-
cavações consideráveis, sejam no solo ou É muito comum os materiais rocho-
em rocha, ora com o propósito de atingir sos apresentarem trechos alterados e
uma fundação mais resistente, ora para trechos de excelente sanidade. Nesses
alcançar níveis mais profundos para o casos, pode-se perfeitamente utilizar
escoamento da água, como ao longo de o material alterado no corpo da barra-
canais. A abertura de túneis também pro- gem “envelopado” pelo material de boa
picia a obtenção de um grande volume de sanidade, constituindo as chamadas
materiais, principalmente pétreos. Em “zonas random”, que podem assumir va-
todos esses casos, é necessário, ainda riadas posições no interior do maciço
em fase de projeto, realizar os ensaios barrável. Quando, porém, a quantidade
de campo e de laboratório adequados a ou a qualidade dos materiais escavados
cada tipo de material que será escavado não atenderem de forma alguma as ne-
durante a construção, a fim de pesquisar cessidades previstas para a obra, apela-se
a possível aplicabilidade desses materiais para as áreas de empréstimo,  seja para
na construção da obra projetada. Essa suprir todas essas necessidades, seja para
prática encontra, entre outras, as seguin- complementar a utilização dos materiais
tes justificativas: escavados. Nesse caso, as áreas de emprés-
y elimina ou reduz a formação de de- timo incluem as pedreiras para materiais
pósitos ou bota-fora dos materiais pétreos ou as jazidas para materiais terro-
escavados, que representam sérios sos e arenosos.
impactos ambientais; Na pesquisa das áreas de empréstimo,
y elimina a recuperação de áreas de- deve-se ter em mente que o transporte do
gradadas pela escavação de áreas de material é o fator que mais onera a sua

geologia_barragem2.indb 269 16/7/2012 09:39:01


10 Monitoramento

O monitoramento de uma obra re- ter muitos significados. As principais ob-


presenta o conjunto de atividades que servações a ser feitas nessas trincas são:
permitem o controle da segurança e da direção em relação ao eixo da barragem
eficácia de sua construção. Em uma obra (paralelas, perpendiculares ou inclina-
de barramento, deve-se exercer esse mo- das), extensão, retilinidade e abertura.
nitoramento durante a fase construtiva e A seguir, deve-se fazer um acompanha-
na operacionalização da obra, e poderá in- mento sistemático e detalhado, uma vez
cluir o corpo da barragem, suas fundações por semana, sobre a evolução da trinca,
e as obras complementares superficiais e principalmente com relação à sua ex-
subterrâneas. tensão e abertura. A interpretação dos
Deve o monitoramento garantir a se- resultados desse monitoramento permi-
gurança de uma obra barrável por toda a tirá ao projetista caracterizar as causas
sua vida útil e pode ser feito por meio dos do fissuramento, bem como a forma de
seguintes processos: estancá-lo.
y Inspeção visual
b) Abatimentos localizados
y Topografia
y Instrumentação Os abatimentos são mais comuns
no centro da barragem, embora possam
ocorrer também em seus espaldares.
10.1 Inspeção visual
As principais observações a fazer são:
A inspeção visual é o método mais dimensões (comprimento, largura e pro-
simples, porém exige certa experiência fundidade) e forma (circular, oval ou
do observador para detectar indícios, outra). Como esse tipo de deformação
muitas vezes imperceptíveis, de anorma- pode ser grave, devem-se tomar medidas
lidades que possam denotar o início de urgentes para caracterizar suas causas,
um problema significativo no futuro, com por meio de sondagens e escavações, per-
risco de afetar a segurança da obra. Entre mitindo a imediata aplicação de técnicas
essas anormalidades, podem ser detecta- que corrijam o problema.
das as seguintes:
c) Surgência d’água
a) Trinca no corpo da barragem
A surgência d’água, quer pelo corpo
Essas trincas geralmente ocorrem na da barragem (geralmente no pé de ju-
crista da barragem de terra, mas podem sante), quer pelas fundações, deve ser
aparecer também nos seus espaldares e monitorada tanto na fase de construção

geologia_barragem2.indb 303 16/7/2012 09:39:13


11 Meio ambiente

11.1 Critérios de estudo b] Incidência: os aspectos ambientais


podem ser direta ou indiretamente rela-
O estudo das condições ambientais cionados ou controlados pela empresa, de
reinantes em uma região em que se pre- acordo com as seguintes condições:
tende projetar uma barragem, bem como y Direta: a empresa exerce in-
o prognóstico dos impactos que tal obra fluência e controle sobre ati-
exercerá sobre o meio ambiente local e vidades realizadas dentro das
regional, devem ser fundamentados em suas instalações, inclusive
normas e preceitos ambientais regula- aquelas executadas por tercei-
dos tanto no nível federal como no nível ros;
estadual. Assim, a norma ISO 14000 y Indireta: a empresa exerce in-
considera fundamental, na interação fluência mas não controla as
meio ambiente/empreendimento, a ca- atividades realizadas fora de
racterização dos aspectos ambientais, e suas instalações por vizinhos,
explicita no seu item 4.3.1: “A organização fornecedores, prestadores de
deve estabelecer e manter procedimentos serviços e clientes.
para identificar os aspectos ambientais
de suas atividades, produtos e serviços c] Classe: indica se o aspecto gerará um
que possam por ela ser controlados e impacto benéfico (B) ou adverso (A). No
sobre os quais se presume que ela tenha primeiro caso, o impacto será positivo e
influência, a fim de determinar aque- no segundo, negativo.
les que tenham ou possam ter impactos d] Reversibilidade: indica se o aspecto
significativos sobre o meio ambiente. A gerará um impacto que poderá ex-
organização deve assegurar que os as- tinguir-se uma vez cessada a causa
pectos relacionados a esses impactos impactante (impacto reversível – R) ou
significativos sejam considerados na de- se não há essa possibilidade (impacto
finição de seus objetivos ambientais”. Na irreversível – I).
valoração dos aspectos ambientais, serão e] Interferência: indica a extensão do
considerados os seguintes fatores: impacto, que pode ser local ou regional.
a] Escopo: indica se o aspecto poderá f] Duração: indica a forma de atuação do
gerar impacto ao meio ambiente, se impacto com relação ao tempo, o qual
constitui um problema de saúde ocu- pode ser classificado de temporário, cí‑
pacional e segurança do trabalho, ou se clico ou permanente.
atinge simultaneamente as duas áreas.

geologia_barragem2.indb 313 16/7/2012 09:39:15


11 – Meio ambiente 317

propriedades para forçar sua desapro- b] Contaminação das águas por óleos,
priação vantajosa quando for realizada graxas e combustíveis: nas instalações
a desocupação dos terrenos que serão de oficina e na lavagem de máquinas e
alagados pelo reservatório. veículos, os materiais oleosos e gra-
d] Lavras clandestinas: a lavra clandes- xosos podem fluir para a drenagem
tina na área da bacia hidráulica poderá fluvial local ou se infiltrar nos solos
ser intensificada, principalmente por e contaminar as águas subterrâneas.
garimpeiros no leito do rio, criando Nos tanques de combustíveis (óleo
sérios problemas ambientais. diesel e gasolina), geralmente enter-
e] Caça predatória: a caça predatória nas rados, podem ocorrer vazamentos não
áreas florestadas que serão inundadas observáveis que também irão contami-
pode ser intensificada aos primeiros nar os solos e as águas subterrâneas.
sinais de implantação de uma obra de c] Pátio de sucatas: sucatas provenien-
barramento na região. tes da construção, como madeira,
ferragens, latas de tinta, pneus etc., se
expostas em áreas descobertas, podem
11.3 Fase de instalação do
gerar produtos contaminantes ao ser
canteiro, acampamento
carreadas pelas águas pluviais, conta-
e acessos
minando o solo e os rios locais.
Nessa fase, muitos dos impactos re- d] Geração de lixo: o lixo de natureza
lacionados para a fase de projeto serão química e orgânica gerado durante a
intensificados e outros serão criados, prin- instalação do canteiro de obras poderá
cipalmente levando em conta a grande ser direcionado aos rios pelas  águas
extensão da área a ser ocupada com as in- pluviais, causando a sua  contamina-
tervenções antrópicas. ção.

11.3.1 Impactos gerados pelo 11.3.2 Impactos gerados


canteiro de obras pelo acampamento
O canteiro de obras geralmente fica O acampamento geralmente é insta-
restrito à parte mais baixa do vale, razão lado na parte mais elevada do vale, em
pela qual seu impacto visual é mais redu- regiões mais aplainadas, de preferência
zido. Assim, seus principais impactos são: nas proximidades das estradas principais.
a] Intensificação dos impactos já descri- Para  obras barráveis de médio a grande
tos: desmate e decapeamento dos solos; porte, o acampamento inclui as seguintes
compactação do solo; criação de cortes construções:
e aterros com risco de instabilidade de y escritório;
taludes; erosão e assoreamento; gera- y almoxarifado;
ção de pó e poeira; geração de ruídos; y restaurante;
formação de depósitos de materiais es- y casas para engenheiros;
cavados; caça predatória. y casas para operários;

geologia_barragem2.indb 317 16/7/2012 09:39:16


12 Critérios para escolha dos tipos de obras

A escolha dos tipos de obras que in- lar, sejam de terra, de enrocamento, ou
tegram um complexo de barramento mistas, com trechos em terra e trechos em
depende de uma série de fatores, mas é enrocamento. Obviamente, as estruturas
sempre da responsabilidade do geólogo de de tomada d’água, vertedouro e adução
engenharia a análise desses fatores e as para usinas, no caso de hidrelétricas,
primeiras recomendações sobre os tipos serão construídas em concreto, na posição
de obras mais adequados para atender aos que mais se adequar na relação topogra-
objetivos do projeto em uma determinada fia/concepção de obras e em atendimento
área. às condições geológicas das fundações.
Nas considerações que se seguem, não Nas áreas de declividades acentua-
serão abordadas especificidades do pro- das, a topografia favorece a concepção
jeto, como taludes, seção tipo, drenagem de maciço em concreto, estrutural ou
etc., por serem tais atributos objeto do compactado, e a decisão acerca do tipo de
detalhamento de cada obra e de respon- seção, em gravidade ou em contrafortes, é
sabilidade do engenheiro projetista, além feita em função da geologia das fundações.
de não interferirem na escolha do tipo de Em áreas em cânions, quando a extensão
barragem e obras auxiliares. Os fatores da barragem for inferior ao triplo de sua
que realmente pesam na escolha dos tipos altura, a topografia favorecerá o projeto
de obras de barramento são: topografia, de barragem  delgada  em concreto com
geologia das fundações, materiais natu- dupla curvatura.
rais de construção e meio ambiente.
12.1.2 Vertedouro
Sempre que houver pontos de fuga na
12.1 Topografia
bacia hidráulica nas proximidades do eixo
As configurações morfológicas regio- barrável, haverá a possibilidade de proje-
nal e local poderão fornecer importantes tar um vertedouro nesse local, isolando-o
subsídios para a concepção das obras, não totalmente do maciço barrável, o que
apenas com relação ao corpo da barragem, constitui uma boa alternativa de projeto,
mas também para as obras auxiliares e principalmente em vales estreitos onde
desvio do rio. a melhor solução para o maciço barrável
recaia no maciço granular (terra ou enro-
12.1.1 Corpo da barragem
camento).
Nas áreas de topografia suave são mais Quando há mais de uma depressão
indicadas as barragens de maciço granu- lateral, ou ponto de fuga da bacia hidráu-

geologia_barragem2.indb 329 16/7/2012 09:39:17

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