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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE

COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

EMBRIOLOGIA

Conteudista
Ana Cristina Casagrande Vianna

Rio de Janeiro / 2009

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO


UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO

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Branco - UCB.

Un3e Universidade Castelo Branco

Embriologia / Universidade Castelo Branco. – Rio de Janeiro: UCB, 2009.


- 56 p.: il.

ISBN 978-85-7880-049-9

1. Ensino a Distância. 2. Título.

CDD – 371.39

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Apresentação

Prezado(a) Aluno(a):

É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de gradu-
ação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, consequentemente, propiciando
oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente es-
peram retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.

Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhe-
cimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.

Seja bem-vindo(a)!
Paulo Alcantara Gomes
Reitor
Orientações para o Autoestudo

O presente instrucional está dividido em oito unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam
atingidos com êxito.

Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades com-
plementares.

As Unidades 1, 2, 3 e 4 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.

Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das oito unidades.

Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o
conteúdo de todas as Unidades Programáticas.

A carga horária do material instrucional para o autoestudo que você está recebendo agora, juntamente com
os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que
você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.

Bons Estudos!
Dicas para o Autoestudo

1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.

2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite


interrupções.

3 - Não deixe para estudar na última hora.

4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.

5 - Não pule etapas.

6 - Faça todas as tarefas propostas.

7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento
da disciplina.

8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a autoavaliação.

9 - Não hesite em começar de novo.


SUMÁRIO
Quadro-síntese do conteúdo programático ................................................................................................. 09
Contextualização da disciplina .................................................................................................................... 11

UNIDADE I

INTRODUÇÃO À EMBRIOLOGIA

1.1 - Os fundamentos da vida ...................................................................................................................... 13


1.2 - Períodos do desenvolvimento humano ................................................................................................ 13
1.3 - Fases do desenvolvimento embrionário .............................................................................................. 13

UNIDADE II

REPRODUÇÃO HUMANA

2.1 - Sistema reprodutor feminino ............................................................................................................... 15


2.2 - Sistema reprodutor masculino ............................................................................................................. 18
2.3 - Gametogênese ..................................................................................................................................... 21
2.4 - Os hormônios e a reprodução ............................................................................................................. 24

UNIDADE III

FERTILIZAÇÃO E PRIMEIRA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.1 - Introdução ............................................................................................................................................ 27


3.2 - Fertilização .......................................................................................................................................... 27
3.3 - Clivagem do zigoto e blastogênese ..................................................................................................... 29
3.4 - Implantação do blastocisto no endométrio .......................................................................................... 31

UNIDADE IV

SEGUNDA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

4.1 - Término da implantação do blastocisto .............................................................................................. 32


4.2 - Formação da cavidade amniótica, disco embrionário bilaminar e saco vitelino ................................. 32
4.3 - Formação do celoma extraembrionário e do saco vitelino definitivo .................................................. 34
4.4 - Desenvolvimento do saco coriônico ................................................................................................... 35

UNIDADE V

TERCEIRA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

5.1 - Gastrulação: formação das camadas germinativas .............................................................................. 36


5.2 - A alantoide ........................................................................................................................................... 39
5.3 - Neurulação: formação do tubo neural ................................................................................................. 39
5.4 - Desenvolvimento dos somitos ............................................................................................................. 40
5.5 - Desenvolvimento do celoma embrionário ........................................................................................... 41
5.6 - Desenvolvimento inicial do sistema cardiovascular ............................................................................ 41
5.7 - Desenvolvimento das vilosidades coriônicas ...................................................................................... 41
UNIDADE VI

QUARTA A OITAVA SEMANAS – PERÍODO DAS ORGANOGÊNESE

6.1 - Dobramento do embrião ...................................................................................................................... 43


6.2 - Derivados das camadas germinativas ................................................................................................. 45

UNIDADE VII

NONA SEMANA AO NASCIMENTO – PERÍODO FETAL

7.1 - O parto ................................................................................................................................................. 47

UNIDADE VIII

ANEXOS EMBRIONÁRIOS

8.1 - Saco vitelino ....................................................................................................................................... 50


8.2 - Âmnio .................................................................................................................................................. 50
8.3 - Alantoide ............................................................................................................................................. 51
8.4 - Placenta ............................................................................................................................................... 52

Glossário ...................................................................................................................................................... 55

Referências bibliográficas ............................................................................................................................ 56


Quadro-síntese do conteúdo 9
programático

UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS

• Reconhecer os principais fundamentos da vida;


I. INTRODUÇÃO À EMBRIOLOGIA
• Conhecer aspectos gerais dos períodos do desenvol-
1.1 - Os fundamentos da vida
vimento humano;
1.2 - Períodos do desenvolvimento humano
• Identificar as fases do desenvolvimento embrioná-
1.3 - Fases do desenvolvimento embrionário
rio humano.
• Conhecer os aspectos anatômicos e funcionais do
sistema reprodutor feminino e masculino;
II. REPRODUÇÃO HUMANA • Compreender e identificar as fases do processo de
2.1 - Sistema reprodutor feminino produção das células sexuais femininas e masculi-
2.2 - Sistema reprodutor masculino nas;
2.3 - Gametogênese • Reconhecer a importância da meiose para a viabili-
2.4 - Os hormônios e a reprodução dade da reprodução sexuada;
• Entender o mecanismo endócrino de controle da re-
produção humana.

III. FERTILIZAÇÃO E PRIMEIRA SEMANA DO


• Compreender e identificar as diferentes etapas do
DESENVOLVIMENTO HUMANO
processo de fertilização;
3.1 - Introdução
• Conhecer e identificar os principais acontecimen-
3.2 - Fertilização
tos durante a primeira semana do desenvolvimento
3.3 - Clivagem do zigoto e blastogênese
humano.
3.4 - Implantação do blastocisto no endométrio

IV. SEGUNDA SEMANA DO DESENVOLVIMEN-


TO HUMANO
4.1 - Término da implantação do blastocisto
4.2 - Formação da cavidade amniótica, disco embrio- • Conhecer e identificar os principais acontecimentos
nário bilaminar e saco vitelino durante a segunda semana do desenvolvimento hu-
4.3 - Formação do celoma extraembrionário e do mano.
saco vitelino definitivo
4.4 - Desenvolvimento do saco coriônico

V. TERCEIRA SEMANA DO DESENVOLVIMEN-


TO HUMANO

5.1 - Gastrulação: formação das camadas germina-


tivas • Conhecer e identificar os principais acontecimentos
5.2 - A alantoide durante a terceira semana do desenvolvimento huma-
5.3 - Neurulação: formação do tubo neural no;
5.4 - Desenvolvimento dos somitos • Compreender a ação de agentes teratógenos a partir
5.5 - Desenvolvimento do celoma embrionário dessa etapa do desenvolvimento.
5.6 - Desenvolvimento inicial do sistema cardiovas-
cular
5.7 - Desenvolvimento das vilosidades coriônicas

VI. QUARTA A OITAVA SEMANAS – PERÍODO


• Conhecer e identificar os principais acontecimentos
DA ORGANOGÊNESE
durante o período da organogênese humana;
6.1 - Dobramento do embrião
• Identificar os derivados das camadas germinativas.
6.2 - Derivados das camadas germinativas
VII. NONA SEMANA AO NASCIMENTO - PERÍ-
• Conhecer e identificar os principais acontecimentos
ODO FETAL
durante o período fetal;
7.1 - O parto
• Identificar as etapas do trabalho de parto.

VIII. ANEXOS EMBRIONÁRIOS


8.1 - Saco vitelino
8.2 - Âmnio • Reconhecer e identificar morfológica e funcional-
8.3 - Alantoide mente os anexos embrionários.
8.4 - Placenta
Contextualização da Disciplina 11

Ao longo do processo evolutivo dos seres vivos, as células se especializaram e se organizaram, formando
associações cada vez mais complexas até constituírem os primeiros seres pluricelulares e organismos mais
complexos. Deste modo, podemos dizer que as células se associaram, constituindo, assim, os tecidos básicos:
epitelial, conjuntivo, muscular e nervoso. Estes, por sua vez, agrupam-se de diferentes modos para formar os
órgãos e os grandes sistemas, que interagem entre si. O conhecimento da estrutura e fisiologia celular, bem
como da arquitetura microscópica dos tecidos são pré-requisitos fundamentais para o entendimento dos proces-
sos biológicos da vida e das patologias, pois doença, na essência, é disfunção de células e tecidos.

O conhecimento das ciências morfológicas é necessário para o entendimento do desenvolvimento e evolução


dos seres vivos, dos processos fisiológicos e para o conhecimento das alterações do desenvolvimento, assim
como para fornecer subsídios para o desenvolvimento de hipóteses, sejam para explicar a origem da vida ou
até mesmo para criar novas drogas que interajam com a maquinaria biológica.

O estudo dos estágios pré-natais de desenvolvimento, especialmente os que ocorrem durante o período em-
brionário, ajuda-nos a compreender as relações entre as estruturas normais do adulto e as causas das anomalias
congênitas. A Embriologia elucida e a Anatomia explica como as anormalidades se formam.

As diversas ciências exigem distintos modos de ler e nos obrigam a atribuir importância a coisas diferentes.
A Embriologia atribui importância à percepção visual de fenômenos biológicos, bem como à estimulação da
imaginação.

Planeje suas atividades – esta é a forma correta de “ganhar” tempo para o estudo:

• Programe a utilização de períodos vazios em seu dia;


• Substitua o horário de uma ou mais atividades “não-essenciais” para obter tempo de estudo;
• Reserve um período mínimo para estudar todos os dias;
• Estipule metas a serem cumpridas e realize um cronograma semanal, e siga-o rigidamente;
• Não deixe acumular atividades, provavelmente isto afetará seu desempenho;
• Não utilize desculpas para o não cumprimento de suas metas;
• Nunca desista de suas metas;
• “Quem faz o tempo somos nós”.
UNIDADE I 13

INTRODUÇÃO À EMBRIOLOGIA

1.1 - Os Fundamentos da Vida

Os humanos iniciam a vida como uma célula Um zigoto humano contém 46 cromossomos
única – uma célula-ovo fertilizada, ou zigoto. O distribuídos em 23 pares. Um cromossomo de
cada par vem da mãe e outro do pai.
núcleo de cada uma dessas células é preenchi-
do com informações codificadas sob a forma de Assim como é capaz de ser preenchido com
ácido desoxirribonucléico (DNA) e organizadas informações, o DNA dos cromossomos também
em grupos chamados genes, que estão arranja- tem a capacidade de copiar a si próprio; sem
isso, as células não poderiam duplicar-se, nem
dos como estruturas conhecidas como cromos- poderiam passar informações de uma geração
somos. para outra.

1.2 - Períodos do Desenvolvimento Humano


O desenvolvimento humano pode ser dividido em O período pré-natal pode ser dividido em duas fa-
dois períodos: pré-natal e pós-natal. Após o nasci-
mento, o desenvolvimento humano não cessa e, além ses: o desenvolvimento embrionário e o desenvol-
do crescimento, mudanças importantes ocorrem, por vimento fetal. A fase embrionária vai desde a fecun-
exemplo: o desenvolvimento das mamas nas mulhe-
res, o crescimento dos dentes, o desenvolvimento do dação, com a formação do zigoto, até a oitava semana
cérebro etc. Na verdade, acredita-se que o desenvolvi- do desenvolvimento, e a fase fetal se estende da nona
mento humano se prolongue até os 25 anos, idade na
qual a maior parte do desenvolvimento já terminou. semana do desenvolvimento até o nascimento.

1.3 - Fases do Desenvolvimento Embrionário

O desenvolvimento humano pode ser dividido em A Embriologia é a ciência que estuda a ori-
três fases que têm uma certa inter-relação: gem e o desenvolvimento de um ser vivo,
desde o zigoto até o seu nascimento.
• A primeira fase do desenvolvimento é a do cres-
cimento (aumento de tamanho), que envolve a divi- O estudo do desenvolvimento embrionário, espe-
são celular e a elaboração de produtos celulares. cialmente o humano, é um dos aspectos mais impor-
• A segunda fase do desenvolvimento é a da mor-
tantes para o estudo da evolução e desenvolvimento
fogênese (desenvolvimento da forma), que inclui mo-
dos órgãos, bem como para as prováveis causas das
vimentos de massas de células. A morfogênese é um
processo elaborado, durante o qual ocorrem muitas más formações congênitas.
interações complexas em uma sequência ordenada. O
movimento das células possibilita sua interação du- A maioria das espécies animais apresenta particu-
rante a formação dos tecidos e órgãos. laridades específicas durante o desenvolvimento em-
• A terceira fase do desenvolvimento é a da dife- brionário. Porém todas apresentam uma sequência
renciação (maturação dos processos fisiológicos). básica que é bastante semelhante: segmentação ou
O término da diferenciação resulta na formação de clivagem, gastrulação, neurulação e organogênese
tecidos e órgãos capazes de executar funções espe- (Figura 1).
cializadas.
14

Serão essas etapas do desenvolvimento humano que nós estudaremos agora, iniciando nosso estudo pelo
sistema reprodutor e produção de gametas.

BONS ESTUDOS!
UNIDADE II 15

REPRODUÇÃO HUMANA

Para a sobrevivência dos seres humanos, é neces- ninos e meninas não são muito diferentes entre si,
sária a existência de um mecanismo para a produção com exceção da genitália. A maturação sexual que
de novos indivíduos. Sendo assim, no decorrer dessa ocorre durante a puberdade torna o indivíduo capaz
unidade nós estudaremos o sistema reprodutor femi- de reproduzir-se.
nino e masculino, que está projetado para assegurar
a produção dos gametas sexuais, a união bem-suce- Inicialmente iremos estudar a anatomia e as fun-
dida do espermatozoide com o ovócito para formar ções dos órgãos que compõem o sistema reprodutor,
o zigoto, bem como o seu desenvolvimento até o para em seguida, estudarmos a produção de gametas
nascimento. e a endocrinologia da reprodução.

Antes da puberdade, ou seja, antes do desenvolvi-


mento das características sexuais secundárias, me-

2.1 - Sistema Reprodutor Feminino

O sistema reprodutor feminino (Figura 1) é consti- - útero


tuído por: - vagina
- genitália externa
- 1 par de ovários
- 1 par de tubas uterinas

Ovários Os ovários apresentam duas regiões (Figura 2):

São as gônadas ou glândulas sexuais femininas e • medular: contém numerosos vasos sanguíneos e
possuem a forma de uma amêndoa. Localizados em tecido conjuntivo frouxo.
ambos os lados do útero, no interior da cavidade pél-
vica, são ancorados por diversos ligamentos, incluin- • cortical: onde predominam os folículos ovarianos,
do o ligamento próprio e o largo. Medem até 5cm contendo os ovócitos.
em seu maior diâmetro, e possui espessura máxima
de 1,5cm (Figura 2).
16

Os ovários são responsáveis pela produção e secre- uterina. Transportam também o zigoto em divisão
ção dos hormônios sexuais femininos (estrógeno e para a cavidade uterina.
progesterona) e pela produção e manutenção das cé-
lulas sexuais femininas, chamadas de ovócitos. Apresentam quatro segmentos:

• intramural: localiza-se no interior da parede ute-


Tubas Uterinas rina.
• istmo: 1/3 da tuba adjacente ao útero.
São tubos musculomembranosos de grande mobi- • ampola: porção dilatada.
lidade, com cerca de 12cm de comprimento (Figura • infundíbulo: forma de funil e localiza-se próximo
3). As tubas transportam ovócitos provenientes dos ao ovário. A extremidade livre do infundíbulo apre-
ovários e espermatozoides vindos do útero para al- senta prolongamentos em forma de franjas ou fím-
cançarem o local da fertilização na ampola da tuba brias.
Útero • colo: região inferior estreitada que se abre na va-
gina. 17
Tem a forma de uma pêra de cabeça para baixo (Fi-
gura 3) e está localizado entre a bexiga urinária e o A parede do útero é formada por três camadas (Fi-
reto. O ligamento largo envolve o útero e o mantém gura 4):
em posição.
• perimétrio: camada externa; túnica serosa.
A principal função do útero é promover um ambien- • miométrio: camada média; musculatura lisa.
te seguro e nutritivo para o crescimento do novo ser. • endométrio: formado por duas camadas:
– camada basal: delgada, vascularizada e situa-se
Anatomicamente pode ser dividido em três partes junto ao miométrio.
(Figura 4): – camada funcional: responde aos hormônios
ovarianos e se espessa na reparação do leito que rece-
• fundo: região superior em forma de cúpula, situa- berá o óvulo fertilizado. É também aquela que desca-
do acima da entrada das tubas uterinas. ma durante a menstruação.
• corpo: região central.

Colo uterino ou cérvix é a parte estreitada e cilín- Vagina


drica (Figura 4), que apresenta poucas fibras mus-
culares e grande quantidade de tecido conjuntivo. A A vagina é o tubo muscular que se estende da vulva
mucosa do conduto cervical é constituída por epitélio até o útero (Figura 1).
prismático simples de células produtoras de muco e
uma lâmina própria onde se encontram as glândulas Apresenta três camadas:
cervicais.
Mucosa
Durante a ovulação, as glândulas do colo secretam • epitélio estratificado pavimentoso, podendo suas
muco rico em água, muito fluido, que facilita a passa- células superficiais apresentar certa quantidade de
gem de espermatozóides. queratina.
• lâmina própria formada de tecido conjuntivo frou-
A face externa do colo, que faz saliência na vagina, xo, muito rico em fibras elásticas.
é revestida por epitélio estratificado pavimentoso.
Muscular • Vestíbulo: corresponde à abertura da vagina. Nele
18 • fibras musculares lisas dispostas em feixes longitu- abrem-se a uretra e os ductos das glândulas vestibula-
dinais e alguns circulares. res maiores e menores, ambas do tipo mucoso.
• Clitóris: pequeno órgão erétil, equivalente morfo-
Adventícia lógico do pênis, sendo muito importante para o estí-
• tecido conjuntivo denso, rico em fibras elásticas mulo sexual da mulher.
grossas, que une a vagina aos órgãos adjacentes. • Pequenos lábios: são dobras da mucosa vaginal,
que contêm glândulas sebáceas na lâmina própria.
Genitália Externa • Grandes lábios: são dobras da pele, contendo
grande quantidade de tecido adiposo, que ocultam a
A genitália externa ou vulva (Figura 5) é formada abertura da vagina.
por:

2.2 - Sistema Reprodutor Masculino

O sistema reprodutor masculino (Figura 6) é cons- • 1 par de ductos deferentes


tituído por: • 1 par de ductos ejaculatórios
• uretra
• 1 par de testículos • glândulas acessórias
• 1 par de epidídimos • genitália externa
Testículos (em torno de 36o a 37°C), preferindo a temperatura
mais baixa do escroto, por volta de 34°C. 19
Os dois testículos apresentam forma oval e se loca-
lizam fora da cavidade abdominal, contidos em uma Os testículos têm dupla função: produção de esper-
estrutura em forma de bolsa denominada escroto ou matozoides e síntese do hormônio sexual masculino,
bolsa escrotal (Figura 6). a testosterona.

Durante a vida intrauterina os testículos iniciam seu Cada testículo é envolvido por uma cápsula de te-
desenvolvimento no interior da cavidade abdominal, cido conjuntivo, rico em fibras colágenas, a albugí-
descendo para o escroto durante os dois últimos me- nea. Na região posterior, a albugínea apresenta um
ses do desenvolvimento fetal. A incapacidade dos espessamento, o mediastino testicular, de onde par-
testículos em descerem para o escroto é denominada tem septos fibrosos, que atingem a albugínea do lado
criptorquidia, uma condição que pode resultar em oposto, dividindo o testículo em aproximadamente
esterilidade, se não for tratada, visto que os esperma- 250 compartimentos piramidais, os lóbulos testicu-
tozoides não podem viver na temperatura corpórea lares (Figura 7).

Cada lóbulo é ocupado por um a quatro túbulos germinativo ou seminífero (Figura 8), onde se ori-
seminíferos imersos em tecido conjuntivo frouxo, ginam os espermatozoides. O epitélio germinativo é
contendo vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e as constituído pelas células de Sertoli e as células que
células intersticiais ou de Leydig. Essas células são constituem a linhagem espermatogênica ou semi-
responsáveis pela síntese e secreção da testosterona. nal. O tecido conjuntivo que envolve os túbulos se-
miníferos apresenta as células mioides, contráteis e
Os túbulos seminíferos são retorcidos e medem com característica de célula muscular lisa.
cerca de 0,2mm de diâmetro por 30 a 70 cm de com-
primento. Terminam na região posterior do testículo, As células de Sertoli (Figura 8) formam a barrei-
nos túbulos retos, que se anastomosam em uma rede ra hematotesticular; secretam inibina, que deprime
de túbulos, a rede testicular, de onde partem de 8 a a secreção de FSH; fornecem suporte e controlam a
15 ductos eferentes. nutrição dos espermatozoides em formação; fagoci-
tam restos celulares do citoplasma que se desprendem
Cada túbulo seminífero consiste em uma túnica de das espermátides; secretam um fluido cuja correnteza
tecido conjuntivo, uma lâmina basal e uma camada leva os espermatozoides.
interna formada por um epitélio especial, o epitélio
Epidídimo Ducto Deferente e Ducto Ejaculatório
20
É a primeira parte das vias condutoras de gametas. O ducto deferente é a continuação do epidídimo.
Mede em torno de 6m, é densamente enovelado e está Possui trajeto ascendente e penetra no interior da ca-
localizado sobre as faces superior e posterior de cada vidade abdominopélvica, atravessando o canal ingui-
testículo (Figuras 6 e 7). Enquanto os espermatozoi- nal (na virilha) (Figura 6).
des estão no epidídimo, eles amadurecem, ganham
motilidade e tornam-se férteis (viáveis). Ao percorrer a cavidade pélvica, o ducto deferente
curva-se acima da bexiga urinária e une-se ao ducto
O epidídimo é revestido por epitélio pseudoestratifi- da vesícula seminal para formar o ducto ejaculatório
cado cilíndrico estereociliado apoiado em uma mem- (Figura 9). Os ductos ejaculatórios direito e esquer-
brana basal. do penetram na próstata e desembocam em ducto ím-
par e mediano, a uretra (Figura 9).

Uretra Glândulas Acessórias


É um canal que se estende desde a bexiga urinária São encontradas três glândulas acessórias no siste-
até a glande do pênis, pertencendo aos sistemas ge- ma reprodutor masculino: vesículas seminais, prós-
nital e urinário (Figura 6). Assim, ela conduz a urina tata e glândulas bulbouretrais (Figura 9).
(proveniente da bexiga urinária) e o sêmen, desde os
ductos ejaculatórios até o meio externo (Figura 9). Vesículas seminais
Embora tenha função dupla, a uretra só pode realizar São pares e estão localizadas na base da bexiga
uma de cada vez, isto é, ela permite a passagem de urinária (Figura 9). Secretam um líquido viscoso e
urina ou sêmen, nunca ambos simultaneamente. amarelado, rico em substâncias como frutose, citrato,
inositol, vitamina C, prostaglandinas e diversas prote-
O sêmen é uma mistura formada pelos esperma- ínas. Essas substâncias nutrem e ativam os esperma-
tozoides e pelas secreções das glândulas acessórias. tozoides enquanto eles percorrem os ductos.
Em torno de 60% do volume do sêmen provêm das
glândulas seminais; do restante, a maior parte vem Próstata
da próstata. Glândula com a forma aproximada de uma noz, que
envolve a uretra prostática imediatamente abaixo da
Apresenta-se leitoso e de pH alcalino (7,2 a 7,6). A bexiga (Figura 9). Secreta substância leitosa e alca-
quantidade de sêmen por ejaculação é de 2 a 6ml e o lina, com as funções de aumentar a motilidade dos
número de espermatozóides por ejaculação é de 50 a espermatozoides e de neutralizar o ambiente ácido da
100 milhões. vagina protegendo-os na ocasião da entrada no corpo
feminino. Durante a ejaculação, a musculatura lisa da • 1 corpo esponjoso
próstata se contrai empurrando a secreção para o in- 21
terior da uretra. Este último apresenta uma extremidade anterior di-
latada, a glande do pênis, por onde a uretra se abre no
Glândulas bulbouretrais meio externo.
As pequenas glândulas bulbouretrais produzem um
muco que é lançado na uretra esponjosa. Esse muco A pele livre que recobre o pênis se estende inferior-
serve como lubrificante durante o ato sexual. São for- mente e forma uma bainha ao redor da glande chama-
mações pares, do tamanho de uma ervilha (Figura 9). da de prepúcio. Ocasionalmente, o prepúcio é muito
justo, o que não permite a sua retração. Esta condição
Genitália Externa é chamada de fimose.

A genitália externa masculina é constituída pelo A bolsa escrotal é uma dobra cutânea, cuja função é
pênis e pela bolsa escrotal. alojar os testículos e epidídimos (Figura 6).

O pênis tem como função conduzir urina para o Um espermatozoide leva cerca de 70 dias para ser
meio externo e atuar como órgão de cópula, deposi- produzido. Eles não podem se desenvolver adequada-
tando os espermatozoides no trato genital feminino. mente na temperatura normal do corpo (36,5°C). As-
sim, os testículos e epidídimos se localizam na parte
O corpo do pênis contém três colunas de tecido eré- externa do corpo, dentro da bolsa escrotal, que tem a
til (Figuras 9 e 10): função de termorregulação (aproximam ou afastam os
testículos do corpo), mantendo-os a uma temperatura
• 2 corpos cavernosos geralmente em torno de 1 a 3°C abaixo da corporal.

2.3 - Gametogênse

A gametogênese (formação de gametas) é o pro- ploides (23 cromossomos), enquanto que as células
cesso de formação e desenvolvimento dos gametas somáticas são diploides (46 cromossomos).
ou células germinativas – ovócitos, nas mulheres, e
espermatozoides, nos homens. Importância da meiose:

Durante a gametogênese, o número de cromossomos


• Ela mantém constante o número cromossômico de
é reduzido pela metade e a forma das células se altera,
geração para geração;
especialmente das células sexuais masculinas.
• Permite a seleção ao acaso de cromossomos pater-

Os espermatozoides e ovócitos são que contêm a nos e maternos entre os gametas.


metade do número de cromossomos, esse número
é reduzido por um tipo especial de divisão celular de- Por meio do crossing-over, embaralha os genes e
nominada meiose. Esse tipo de divisão celular ocorre produz uma recombinação do material genético.
durante a formação dos gametas – espermatogênese
nos homens e ovogênese nas mulheres.
Ovogênese
A meiose consiste em duas divisões celulares mei-
óticas, durante as quais o número de cromossomos A ovogênese refere-se à sequência de eventos pelos
das células germinativas é reduzido pela metade do quais células germinativas primitivas, denominadas
número presente nas outras células do corpo (células ovogônias, são transformadas em células germinati-
somáticas), portanto, as células germinativas são ha- vas maduras, os ovócitos maduros (Figura 11).
22

Este processo de maturação começa durante o perío- (ovócito II), e durante o processo de ovulação, o ovó-
do fetal, mas somente termina após a puberdade (12 cito secundário inicia a segunda divisão meiótica, po-
a 15 anos). A ovogênse é um processo recorrente e faz rém novamente interrompe o processo. Esta divisão
parte do ciclo ovariano. Estes ciclos ocorrem men- só se completa quando um espermatozoide penetra no
salmente durante toda vida reprodutiva das mulheres, ovócito secundário, que a partir deste momento passa
exceto durante a gravidez. a ser denominado ovócito maduro (Figura 11).

No início da vida fetal, as ovogônias proliferam Observe na figura 11 que, tanto na meiose I quanto
por divisão mitótica, porém, ao nascimento, todas as na meiose II, a divisão do citoplasma é desigual, o
ovogônias iniciaram a primeira divisão meiótica, for- que leva à formação de células grandes, que ficam
mando os ovócitos primários (ovócitos I), os quais com quase todo o citoplasma (ovócito secundário na
permanecem nesse estágio até a puberdade. Neste meiose I e ovócito maduro na meiose II) e células pe-
momento células do estroma ovariano circundam o quenas, com muito pouco citoplasma, denominadas
ovócito primário, gerando o folículo primordial. Na corpos polares I e II (glóbulos polares), as quais de-
puberdade, as células do folículo aumentam, e forma- generam.
se o folículo primário; neste estágio o ovócito passa a
ser circundado também, por uma camada glicoprotei- O ovócito secundário liberado na ovulação está en-
ca chamada zona pelúcida. Logo, as células que cir- volvido por uma capa de material amorfo, denomina-
cundam o ovócito se proliferam, tornando-se agora, da zona pelúcida, e por uma camada de células foli-
folículo secundário (Figura 2). culares, denominada corona radiata (Figura 12). Em
comparação com as células comuns, o ovócito secun-
A partir da puberdade, a cada mês um ovócito ama- dário é grande e, a olho nu, é visível como uma pe-
durece e ocorre a ovulação. A longa espera para o quena mancha. Geralmente, até 2 milhões de ovócitos
término da divisão meiótica talvez seja um predis- primários estão presentes nos ovários de uma menina
ponente a erros de divisão, como as não-disjunções, recém-nascida. A maioria desses ovócitos regride du-
por exemplo, a Síndrome de Down. Nenhum ovócito rante a infância, de modo que na puberdade somente
primário se forma depois do nascimento. Pouco an- permanecem não mais que 40.000. Destes, somente
tes da ovulação, o ovócito primário conclui a primei- cerca de 400 amadurecem e são ovulados durante o
ra divisão meiótica, tornando-se ovócito secundário período reprodutivo.
Espermatogênese inativas até a puberdade, quando passam por suces-
sivas divisões mitóticas. Após várias divisões mitó- 23
Refere-se à sequência inteira de eventos pelos quais ticas, algumas espermatogônias duplicam seu DNA
células germinativas primitivas, chamadas esperma- e aumentam de tamanho, tornando-se espermatócitos
togônias, são transformadas em células germinativas primários. Cada espermatócito primário passa pela
maduras, os espermatozoides. Este processo de ma- primeira divisão meiótica, dando origem a dois es-
turação inicia-se na puberdade (13 a 16 anos) e conti- permatócitos secundários. Em seguida, estes sofrem
nua até a velhice (Figura 13). a segunda divisão meiótica, originando quatro es-
permátides, células haploides, com 23 cromossomos
No período fetal, o homem já possui células germi- cada. Através de um processo denominado espermio-
nativas, porém ainda imaturas (espermatogônias) nos gênese (período de diferenciação), as espermátides
túbulos seminíferos. As espermatogônias são células gradualmente se diferenciam em espermatozoides
diploides, com 46 cromossomos. Estas permanecem (Figura 13).

O espermatozoide é uma célula ativamente móvel, cleo com os 23 cromossomos paternos e o acrossoma,
sendo constituída por cabeça e cauda (Figura 14). O uma organela contendo enzimas que facilita a pene-
colo do espermatozoide é a junção da cabeça com a
cauda. A cabeça do espermatozoide forma a maior tração do espermatozóide durante a fertilização. A
parte do volume do espermatozoide e contém o nú- cauda dá motilidade ao espermatozoide.
2.4 - Os Hormônios e a Reprodução
24
A reprodução humana normal envolve a interação A idade do início da puberdade parece ser influencia-
entre vários hormônios e órgãos, a qual é controlada da pelo estado geral de saúde e de nutrição da criança,
pelo hipotálamo. Tanto nas mulheres como nos ho- bem como por fatores socioeconômicos e hereditá-
mens, o hipotálamo secreta neuro-hormônios, deno- rios. Na Europa Ocidental, a idade média na qual a
minados fatores de liberação, que chegam à hipófise, menina apresenta a primeira menstruação reduziu 4
uma glândula do tamanho de uma ervilha localizada meses por década entre 1850 e 1950, mas deixou de
logo abaixo do hipotálamo. Esses hormônios estimu- diminuir nas últimas quatro décadas.
lam a hipófise a liberar outros hormônios.
As meninas com obesidade moderada tendem a
Por exemplo, o hormônio liberador de gonado- menstruar mais cedo e aquelas com peso muito abai-
tropina – GnRH (um fator de liberação secretado xo da média e desnutridas tendem a menstruar mais
pelo hipotálamo) estimula a hipófise a secretar o tarde. A menstruação também começa mais precoce-
hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folícu- mente entre as meninas que vivem em áreas urbanas
lo-estimulante (FSH). Estes hormônios estimulam a e aquelas cujas mães começaram a menstruar mais
maturação das glândulas reprodutivas e a liberação de cedo.
hormônios sexuais. Nas mulheres, os ovários liberam
estrogênio e progesterona e, nos homens, os testícu-
los liberam testosterona. Fisiologia da Reprodução Masculina
A partir da puberdade, o hormônio folículo-estimu-
Puberdade lante (FSH) estimula a espermatogênese pelas célu-
las dos túbulos seminíferos e o hormônio luteinizan-
Ao nascimento, as concentrações dos hormônios te (LH) estimula a produção de testosterona pelas
LH e FSH são altas, mas elas diminuem em poucos células intersticiais dos testículos, as características
meses e mantêm-se baixas até a puberdade. No iní- sexuais secundárias e elevação do desejo sexual.
cio da puberdade, a concentração desses hormônios
aumenta, estimulando a produção dos hormônios se-
xuais. Nas adolescentes, o aumento da concentração Fisiologia da Reprodução Feminina - Ciclos
desses hormônios estimula a maturação das mamas, Reprodutivos da Mulher
dos ovários, do útero e da vagina, o início da menstru-
ação e o desenvolvimento das características sexuais As mulheres passam por ciclos reprodutivos men-
secundárias (p.ex., pêlos pubianos e axilares). sais, que têm início na puberdade (com a menarca)
e, normalmente, continuam durante os anos reprodu-
Nos adolescentes, os testículos, a próstata, as vesí- tivos até a menopausa. Estes ciclos envolvem a ativi-
culas seminais e o pênis amadurecem e ocorre cresci- dade do hipotálamo (no encéfalo), hipófise, ovários
mento dos pêlos faciais, pubianos e axilares. Normal- e útero (Figura 15). Estes ciclos mensais preparam o
mente, essas mudanças ocorrem em sequência durante sistema reprodutor para a gravidez.
a puberdade, resultando na maturidade sexual. Nas
adolescentes, a primeira alteração da puberdade é co- Por definição, o primeiro dia de sangramento é con-
mumente o aumento das mamas (elas começam a se siderado o início de cada ciclo reprodutivo feminino
desenvolver), seguido de imediato pelo crescimento (dia 1), o qual termina um pouco antes do menstrua-
dos pelos pubianos e axilares. ção seguinte. Os ciclos variam entre 21 a 40 dias. Ape-
nas 10% a 15% dos ciclos são de exatamente 28 dias.
O intervalo entre o aumento das mamas e a primei- Os intervalos entre os períodos são geralmente mais
ra menstruação geralmente é de aproximadamente 2 longos nos anos imediatamente posteriores à menarca
anos. A forma do corpo da adolescente muda e a por- e anteriores à menopausa. O ciclo reprodutivo pode
centagem de gordura corpórea aumenta. O estirão de ser dividido em: ciclo ovariano e ciclo menstrual. O
crescimento que acompanha a puberdade geralmente ciclo ovariano refere-se à série de eventos que ocorre
inicia antes mesmo do desenvolvimento das mamas. nos ovários e pode ser dividido em três fases: folicu-
O crescimento é relativamente mais rápido no início lar, ovulatória e lútea (Figura 15). O ciclo menstrual
da puberdade, antes do início da menstruação. A se- refere-se às alterações que ocorrem no endométrio
guir, o crescimento reduz consideravelmente; cessan- uterino, sendo dividido em fases menstrual, prolife-
do geralmente entre os 14 e 16 anos. Em contraste, os rativa, secretora e isquêmica.
adolescentes crescem mais rapidamente entre os 13 e
17 anos, e podem continuar a crescer até um pouco O ciclo ovariano inicia-se com a fase folicular, a
depois dos 20 anos. qual varia em duração, estende-se desde o primeiro
dia de sangramento até imediatamente antes da rápida de progesterona e estrógeno. Após +/- 14 dias se não
elevação da concentração do hormônio luteinizante tiver ocorrido fertilização o corpo lúteo degenera, 25
(LH), a qual acarreta a ovulação (liberação do óvulo). havendo, em consequência da queda de estrógeno e
Esta fase foi assim denominada porque os folículos progesterona, a isquemia da camada funcional do en-
ovarianos encontram-se em processo de desenvolvi- dométrio, levando à menstruação.
mento. Durante a primeira metade da fase, a hipófise
aumenta discretamente a secreção de hormônio folí- O ciclo menstrual inicia-se com a fase menstru-
culo-estimulante (FSH), estimulando o crescimento al ou menstruação, na qual a camada funcional do
de 3 a 30 folículos, cada um contendo um ovócito. endométrio desprende-se em resposta a uma redução
Apenas um desses folículos continua a crescer. Os das concentrações de estrógeno e progesterona. A fase
outros folículos estimulados degeneram. menstrual dura 3 a 7 dias, com uma média de 5 dias.

O folículo em desenvolvimento sofre várias trans- Após a fase menstrual a mucosa uterina fica reduzi-
formações: o ovócito primário que se encontra es- da a uma pequena faixa de tecido conjuntivo (camada
tacionado na meiose I vai completar o crescimento, basal do endométrio), contendo as porções secreto-
ao mesmo tempo as células foliculares multiplicam- ras das glândulas e as artérias espiraladas, pois suas
se e originam a Zona Granulosa, estas células são porções superficiais e o epitélio de revestimento se
produtoras de estrógeno, além de nutrirem o ovóci- perderam.
to primário. Em torno do ovócito primário forma-se
um revestimento glicoproteico a que se dá o nome de A fase proliferativa coincide com o desenvolvi-
Zona Pelúcida. Com a evolução dos folículos for- mento dos folículos ovarianos e com a produção de
ma-se uma cavidade cheia de líquido entre as células estrógenos, sendo chamada também de fase estro-
foliculares. Tendo terminado o crescimento, o ovóci- gênica. Nesta fase, ocorre o crescimento da camada
to primário completa a meiose I e, após a citocinese funcional do endométrio. No fim da fase proliferati-
(divisão do citoplasma) desigual forma-se o ovócito va, as glândulas apresentam-se retas, com luz estreita,
secundário e o 1º corpo polar. O ovócito secundá- podendo conter um pouco de secreção.
rio inicia a meiose II, mas fica bloqueado na metáfase
II. Por esta altura o folículo completou o desenvolvi- A fase secretora é chamada também de progesta-
mento e denomina-se folículo maduro ou folículo de cional. Esta fase inicia-se após a ovulação e depende
Graaf (Figuras 2 e 15). Todo este processo demora da formação do corpo lúteo, o qual secreta proges-
em média 14 dias. Esse folículo maduro, contendo o terona. As glândulas tornam-se tortuosas e as célu-
ovócito secundário estacionado na meiose II que será las acumulam glicogênio na parte basal. Nesta fase
ovulado, dando início a segunda fase do ciclo ovaria- o endométrio atinge sua espessura máxima (5mm),
no. A fase folicular torna-se mais curta no final dos devido ao acúmulo de secreção e ao aparecimento de
anos reprodutivos, próximo à menopausa. edema na lâmina própria. As glândulas helicoidais
continuam o crescimento, estas se estendem até as
O ovócito secundário estacionado na meiose II rode- porções superficiais do endométrio.
ado pela zona pelúcida e por algumas células folicu-
lares (corona radiata) é expulso da cavidade folicular Caso não haja uma fertilização ocorre uma queda
para fora do ovário, sendo capturado pelas fímbrias brusca dos níveis de estrógenos e progesterona no
das tubas uterinas. A fase ovulatória, durante a qual sangue, porque o corpo lúteo deixa de funcionar 14
o ovócito secundário é liberado, começa com uma rá- dias depois de formado, assim, ocorre isquemia e
pida elevação da concentração do hormônio luteini- descamação da camada funcional do endométrio, ou
zante (LH). Em geral, a ovulação ocorre de 16 a 32 seja, inicia-se um novo ciclo reprodutivo.
horas após o início da elevação da concentração do
hormônio luteinizante. No caso de ocorrer a implantação de um embrião,
este começa a sintetizar o hormônio gonadotrofina
A fase lútea inicia-se após a ovulação. As células coriônica humana (hCG), que estimula o corpo lú-
foliculares que permaneceram no ovário, por ação do teo e o mantém secretando normalmente estrógeno e
hormônio luteinizante (LH) aumentam de volume progesterona, o que evita a menstruação.
e formam o corpo lúteo, responsável pela secreção
26
UNIDADE III 27

FERTILIZAÇÃO E PRIMEIRA SEMANA DO


DESENVOLVIMENTO HUMANO

3.1 - Introdução

Nesta unidade, vamos estudar os processos de fer- goto. Esta célula altamente especializada, pluripoten-
tilização, clivagem do zigoto, blastogênse (formação te, marca o início de cada um de nós como indivíduo
do blastocisto) e fase incial da implantação do blasto- único. O zigoto, visível a olho nu como uma pequeni-
cisto no endométrio. na mancha, contém cromossomos e genes provenien-
tes da mãe e do pai. Este organismo unicelular divi-
O desenvolvimento humano começa com a fertili- de-se muitas vezes e se transforma progressivamente
zação, processo durante o qual um gameta masculino em um ser humano multicelular através da divisão,
ou espermatozoide se une a um gameta feminino ou migração, crescimento e diferenciação celular.
ovócito para formar uma única célula denominada zi-

3.2 - Fertilização

O local usual da fertilização é a ampola uterina, sua mente pela tuba até o útero, onde degenera e é absor-
porção mais dilatada e extensa (Figura 1). Quando o vido. A fertilização pode ocorrer em outras partes da
ovócito não é fertilizado neste local, ele avança lenta- tuba, porém nunca ocorrerá no útero.

local de ovulação Óvulo recém-liberado


do ovário

fimbria
Ovário (coria aberto para mostrar
os óvulos se desenvolvendo)

espermatozóide

A fertilização é uma complexa sequência de estão, possivelmente, envolvidas no processo de fer-


eventos moleculares coordenados (Figura 2). De- tilização, através do reconhecimento dos gametas e
feitos em qualquer um dos estágios desta sequência da união das células. O processo de fertilização leva
de eventos podem causar a morte do zigoto. Molécu- cerca de 24 horas.
las ligantes de carboidratos da superfície dos gametas
Fases da Fertilização
28

1. Reconhecimento e penetração na zona pelúcida 3. Término da segunda divisão meiótica do ovó-


que envolve o ovócito: A penetração na zona pelúci- cito e formação do pronúcleo feminino: Depois da
da por um espermatozoide é a fase mais importante entrada do espermatozoide, o ovócito, que estava pa-
do início da fertilização. A formação de um caminho rado na metáfase da segunda divisão meiótica, ter-
através da zona pelúcida resulta da ação de enzimas mina essa divisão e forma um ovócito maduro e um
proteolíticas liberadas pelo acrossomo (Figura 2). segundo corpo polar. Depois da descondensação dos
cromossomos maternos, o núcleo do ovócito maduro
2. Fusão das membranas plasmáticas do ovócito torna-se o pronúcleo feminino (Figura 3).
e do espermatozoide: As membranas plasmáticas ou
celulares do ovócito e do espermatozoide fundem-se 4. Formação do pronúcleo masculino: Dentro do
e dissolvem-se na área da fusão. A cabeça e a cauda citoplasma do ovócito, o núcleo do espermatozoide
do espermatozoide penetram no citoplasma do ovó-
fica maior e forma o pronúcleo masculino, e a cauda
cito, mas a sua membrana plasmática fica para trás
do espermatozoide degenera. Morfologicamente, não
(Figura 2). Após a fusão das membranas, ocorrem
é possível distinguir os pronúcleos masculino e femi-
mudanças na membrana plasmática do ovócito, tor-
nino (Figura 3).
nando-a impermeável aos espermatozoides (bloqueio
primário). As propriedades bioquímicas da zona pelú-
cida também sofrem alterações (bloqueio secundário 5. As membranas dos pronúcleos se dissolvem,
– Reação da Zona). Com isso, esta camada amorfa os cromossomos se condensam e se dispõem para
torna-se “impermeável” a outros espermatozoides. uma divisão mitótica da célula – a primeira divi-
Há uma alteração na composição molecular da zona são de clivagem: O ovócito fertilizado ou zigoto é
pelúcida. Acredita-se que a reação da zona resulte da um embrião unicelular. A combinação de 23 cromos-
ação de enzimas lisossômicas liberadas pelos grânu- somos de cada pronúcleo resulta em um zigoto com
los da cortical do ovócito externamente à membrana 46 cromossomos (Figura 3).
plasmática.
29

Podemos dizer, então, que a fertilização: minino e um espermatozóide contendo Y produz um


embrião masculino;
• estimula o ovócito secundário a completar a se- • causa a ativação metabólica do ovócito e dá início
gunda divisão meiótica; à clivagem (divisão celular do zigoto).
• restaura o número diploide normal de cromosso-
mos (46) do zigoto; O zigoto é geneticamente único, porque metade de
• promove a variação da espécie humana através do seus cromossomos vem da mãe e metade, do pai. O
embaralhamento dos cromossomos maternos e pater- zigoto contém uma nova combinação de cromosso-
nos; mos que é diferente das células dos progenitores. Este
• determina o sexo cromossômico do embrião; um mecanismo forma a base da herança dos dois progeni-
espermatozoide contendo X produz um embrião fe- tores e da variação da espécie humana.

3.3 - Clivagem do Zigoto e Blastogênese


A clivagem consiste em repetidas divisões mitó- número de células sem que ocorra o aumento da mas-
ticas do zigoto, que resultam no rápido aumento do sa do embrião (Figura 4).
Estas células, os blastômeros, tornam-se meno- outros, formando uma bola compacta de células.
30 res a cada divisão da clivagem. Primeiramente, o Este fenômeno, conhecido como compactação, é
zigoto se divide em dois blastômeros que, por sua provavelmente mediado por glicoproteínas de ade-
vez, dividem-se em quatro, oito blastômeros e as- são da superfície celular. A compactação possibi-
sim por diante. Normalmente, a clivagem ocorre
lita uma maior interação célula a célula e constitui
enquanto o zigoto passa ao longo da tuba uteri-
na em direção ao útero (Figura 5). Durante a cli- um pré-requisito para a segregação das células in-
vagem, o zigoto fica dentro de uma zona pelúcida, ternas que formam a massa celular interna (em-
espessa, gelatinosa, que se apresenta translúcida brioblasto) do blastocisto. Quando estão formados
ao microscópio (Figura 4). A divisão do zigoto em de 12 a 15 blastômeros, o ser humano em desen-
blastômeros começa cerca de 30 horas após a volvimento é denominado mórula (do lat. morus,
fertilização. As divisões subsequentes seguem-se amora) (Figura 4). As células internas da mórula
umas às outras, formando blastômeros progressi- (massa celular interna) são rodeadas por uma ca-
vamente menores.
mada de células que formam a camada celular ex-
Depois do estágio de nove células, os blastôme- terna. A mórula esférica forma-se cerca de 3 dias
ros mudam de forma e aderem firmemente uns aos após a fertilização e penetra no útero.

Pouco depois de entrar no útero (cerca de 4 dias massa celular interna é, com frequência, denominada
após a fertilização), a mórula forma em seu interior embrioblasto.
um espaço cheio de fluido, denominado cavidade
blastocística (blastocele) (Figura 5). Com o aumento Neste estágio do desenvolvimento, o concepto é
do fluido na cavidade blastocística, ele separa os blas- denominado blastocisto. A massa celular interna ou
tômeros em duas partes: embrioblasto agora faz saliência na cavidade blasto-
cística, e o trofoblasto forma a parede do blastocisto.
• uma camada celular externa, delgada, denominada
Depois do blastocisto ter flutuado nas secreções uteri-
trofoblasto (do gr. trophe, nutrição), que dá origem à
parte embrionária da placenta e aos anexos embrio- nas por cerca de 2 dias, a zona pelúcida degenera gra-
nários. dualmente e desaparece. A perda da zona pelúcida
• um grupo de blastômeros, de localização central, possibilita o rápido crescimento do blastocisto. Ao
denominado massa celular interna, que dá origem flutuar livremente no útero, o embrião é nutrido pelas
ao embrião; por constituir o primórdio do embrião, a secreções das glândulas uterinas.
3.4 - Implantação do Blastocisto no Endométrio
31
Cerca de seis dias após a fertilização (dia 20 de um • uma camada interna de citotrofoblasto (trofoblas-
ciclo menstrual de 28 dias), o blastocisto fixa-se ao to celular);
epitélio do endométrio, geralmente do lado adjacente • uma massa externa de sinciciotrofoblasto (trofo-
à massa celular interna, chamado polo embrionário. blasto sincicial), que consiste em uma massa proto-
Logo depois de fixar-se ao epitélio do endométrio, o plasmática, multinucleada, na qual não se observam
trofoblasto começa a proliferar rapidamente e a di- limites celulares.
ferenciar-se gradualmente em duas camadas (Figura
6):

Por volta do 6º dia, os prolongamentos digitiformes ce uma camada de células, o hipoblasto. Dados em-
do sinciciotrofoblasto (sintrofoblasto) atravessam o briológicos comparativos sugerem que o hipoblasto
epitélio endometrial e invadem o tecido conjuntivo provém da delaminação da massa celular interna.
(estroma). No fim da primeira semana, o blastocisto
está implantado superficialmente na camada compac-
ta do endométrio e nutre-se dos tecidos maternos ero-
didos. O sinciciotrofoblasto, altamente invasivo, se Resumo dos eventos da primeira semana do
expande com rapidez na parte adjacente à massa celu- desenvolvimento humano
lar interna, área conhecida como polo embrionário.
O sinciciotrofoblasto produz enzimas que erodem os Fecundação
tecidos maternos, permitindo que o blastocisto se im-
Clivagem ou segmentação do zigoto
plante no endométrio (Figura 6).
Formação do blastocisto
Por volta do 7º dia, na superfície da massa celular Início da implantação
interna voltada para a cavidade do blastocisto, apare- Formação do hipoblasto
32 UNIDADE IV
SEGUNDA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

A implantação do blastocisto termina durante a O disco embrionário dá origem às camadas ger-


segunda semana do desenvolvimento embrioná- minativas que formam todos os tecidos e órgãos
rio. Enquanto isto, ocorrem mudanças morfológicas do embrião. As estruturas extraembrionárias, que se
na massa celular interna ou embrioblasto que resul- formam durante a segunda semana, são a cavidade
tam na formação de um disco embrionário bilaminar amniótica, o saco vitelino, o pedículo do embrião e o
composto por duas camadas: epiblasto e hipoblasto. saco coriônico.

4.1 - Término da Implantação do Blastocisto


A implantação do blastocisto começa no fim da • citotrofoblasto, uma camada mononucleada de
primeira semana e termina no fim da segunda. O células mitoticamente ativas forma novas células
sinciciotrofoblasto, ativamente erosivo, invade o do trofoblasto, que migram para a crescente massa
estroma endometrial (estrutura de tecido conjunti- do sinciciotrofoblasto, onde se fundem e perdem
vo) que sustenta os capilares e glândulas de útero. as membranas celulares.
Enquanto isto, o blastocisto se introduz, lentamen-
te, no endométrio. Esta implantação ocorre por seu • sinciciotrofoblasto, uma massa multinucleada
em rápida expansão, na qual não são perceptíveis
pólo embrionário. Enzimas proteolíticas produzi-
os limites celulares.
das pelo sinciciotrofoblasto promovem a proteóli-
se, que facilita a invasão do endométrio materno. O sinciciotrofoblasto começa a produzir um
hormônio, a gonadotrofina coriônica humana
As células do estroma do endométrio (tecido (hCG), que vai para o sangue materno nas lacunas
conjuntivo) situadas em torno do local da im- do sinciciotrofoblasto. O hCG mantém a ativida-
plantação se tornam carregadas de glicogênio de do corpo lúteo do ovário durante a gravidez
e lipídios e tomam um aspecto poliédrico. Al- e forma a base dos testes de gravidez. Os an-
gumas destas “novas células” (as células da decí- ticorpos usados nestes testes são específicos para
dua) adjacentes ao sinciciotrofoblasto degeneram. a subunidade beta do hormônio (ß-hCG). Ao fim
O sinciciotrofoblasto engloba estas células em da segunda semana, o sinciciotrofoblasto produz
degeneração, criando uma rica fonte para a nu- hCG suficiente para dar um resultado positivo no
trição do embrião. teste de gravidez, apesar de, provavelmente, a mu-
lher não saber que está grávida.
Durante a implantação do blastocisto, mais trofo-
Ao final da segunda semana o blastocisto en-
blasto entra em contato com o endométrio e dife- contra-se completamente implantando no endo-
rencia-se em duas camadas: métrio.

4.2 - Formação da Cavidade Amniótica, Disco Embrionário


Bilaminar e Saco Vitelino
Durante a implantação do blastocisto, aparece uma tada, o embrioblasto, constituída por duas camadas
pequena cavidade na massa celular interna, que cons- (Figura 1):
titui o primórdio da cavidade amniótica. Logo
células amniogênicas, os amnioblastos, se separam • epiblasto, a camada mais espessa, composto por
do epiblasto e formam uma membrana delgada, cha- células colunares altas e voltado para a cavidade am-
mada âmnio, que envolve a cavidade amniótica. Si- niótica.
multaneamente, ocorrem mudanças morfológicas na • hipoblasto ou endoderme primitiva composta
massa celular interna (embrioblasto) que resultam na por pequenas células cubóides adjacentes à cavidade
formação de uma placa de células, bilaminar e acha- exocelômica.
33

O epiblasto forma o assoalho da cavidade amni- dade amniótica e o saco vitelino primitivo. Células
ótica e é contínuo, perifericamente, com o âmnio. da membrana (membrana de Heuser) que reveste o
O hipoblasto forma o teto da cavidade exocelômi- saco vitelino dão origem a uma camada de tecido
ca e é contínuo com a delgada membrana exoce- conjuntivo frouxo, a mesoderme extraembrioná-
lômica (Membrana de Heuser). A membrana e ria, que envolve o âmnio e o saco vitelino (Figura
a cavidade exocelômicas modificam-se rapida- 2). O saco vitelino e a cavidade amniótica tor-
mente, formando o saco vitelino primitivo. Nes- nam possíveis movimentos morfogenéticos das
te momento, o disco embrionário fica entre a cavi- células do disco embrionário.

extraembionária a partir da membrana de Heuser.

Durante a formação do âmnio, do disco embrioná- A comunicação dos capilares endometriais ero-
rio bilaminar e do saco vitelino primitivo, aparecem didos com as lacunas representa o início da circu-
cavidades isoladas, lacunas, no sinciciotrofoblasto. lação uteroplacentária. Quando o sangue materno
Estas lacunas se enchem com uma mistura de sangue
flui para as lacunas, oxigênio e substâncias nutritivas
materno, proveniente de capilares endometriais rom-
pidos, e de secreções de glândulas uterinas erodidas. tornam-se disponíveis para o embrião. Como ramos
O sangue materno nas lacunas também recebe hCG, arteriais e venosos de vasos sanguíneos maternos se
produzido pelo sinciciotrofoblasto, que mantém o comunicam com as lacunas, fica estabelecida a cir-
corpo lúteo, uma estrutura glandular endócrina que culação do sangue. Sangue oxigenado flui para as la-
secreta estrógeno e progesterona necessários para a
cunas, vindo das artérias espiraladas do endométrio,
manutenção da gravidez. O fluido dos espaços lacu-
nares, algumas vezes denominado embriotrofo, che- e sangue desoxigenado é removido através das veias
ga ao disco embrionário por difusão. endometriais.
O concepto (embrião e membranas associadas) hu- de esponja. Estas redes de lacunas, particularmente
34 mano de 10 dias está completamente implantado no evidentes no polo embrionário, constituem os pri-
endométrio. Durante cerca de 2 dias, há uma falha mórdios dos espaços intervilosos da placenta. Os
no epitélio do endométrio preenchida por um tampão, capilares endometriais em torno do embrião implan-
um coágulo fibrinoso de sangue. Por volta do 12º dia, tado tornam-se congestos e dilatados, formando si-
o epitélio uterino, quase completamente regenerado, nusoides, vasos terminais de paredes finas maiores
cobre este tampão. Com a implantação do concepto, do que capilares comuns. O sinciciotrofoblasto erode
as células do tecido conjuntivo do endométrio sofrem os sinusoides e o sangue materno flui para as redes
uma transformação conhecida por reação da decí- de lacunas, estabelecendo a circulação uteroplacen-
dua. As células se tornam intumescidas ao acumu- tária primitiva. As células e glândulas do estroma
larem glicogênio e lipídio no citoplasma, passando a endometrial degeneradas, juntamente com o sangue
ser denominadas células da decídua. A função pri- materno, constituem uma rica fonte de material para
mária da reação da decídua é criar um local imu- a nutrição do embrião. O crescimento do disco em-
nologicamente privilegiado para o concepto. brionário bilaminar (embrião) é lento em compara-
ção com o crescimento do trofoblasto. Aos 12 dias, o
Em um embrião de 12 dias, lacunas adjacentes do blastocisto implantado produz uma pequena elevação
sinciciotrofoblasto já se fundiram e formaram redes na superfície do endométrio, que faz uma protrusão
de lacunas, dando ao sinciciotrofoblasto um aspecto na luz do útero.

4.3 - Formação do Celoma Extraembrionário e do


Saco Vitelino Definitivo

Enquanto ocorrem estas transformações no isolada, o celoma extraembrionário (Figura


trofoblasto e no endométrio, a mesoderme ex- 3). Esta cavidade cheia de fluido envolve o âm-
traembrionária cresce e aparecem espaços iso- nio e o saco vitelino, exceto no local em que
lados dentro dela. Estes espaços se fundem estes se prendem ao córion pelo pedículo do
rapidamente, formando uma grande cavidade embrião (Figura 4).

extraembrionários.

Com a formação do celoma extraembrionário, o vitelino secundário, uma grande parte do saco
saco vitelino primitivo diminui de tamanho e vitelino primitivo destaca-se. O saco vitelino
forma-se o segundo saco vitelino secundário contém fluido, mas não contém vitelo. Ele pode
(definitivo) (Figura 4). Este saco vitelino menor desempenhar um papel no transporte seletivo de
é formado por células endodérmicas extraem- substâncias nutritivas para o disco embrionário.
brionárias que migram para o lado interno do O trofoblasto absorve fluido nutritivo das redes
saco vitelino primitivo, vindas do hipoblasto do de lacunas do sinciciotrofoblasto, que é transfe-
disco embrionário. Durante a formação do saco rido para o embrião.
35

extraembrionários, bem
como

4.4 - Desenvolvimento do Saco Coriônico

O fim da segunda semana caracteriza-se pelo apa- vidade coriônica. O saco amniótico (com o epiblasto
recimento das vilosidades coriônicas primárias do embrião constituindo o “assoalho”) e o saco vi-
(Figura 4). A proliferação de células do citotrofo- telino (com o hipoblasto do embrião constituindo o
blasto produz extensões celulares que penetram no “teto”) são análogos a duas bexigas pressionadas uma
sinciciotrofoblasto. Acredita-se que o crescimento contra a outra (local do disco embrionário) e suspen-
dessas projeções do citotrofoblasto seja induzido pela sos por um cordão (pedículo do embrião) dentro de
mesoderme extraembrionária subjacente. As ex- uma bexiga maior (o saco coriônico).
tensões celulares formam as vilosidades coriônicas
primárias, primeiro estágio do desenvolvimento das O embrião de 14 dias ainda tem a forma de um disco
vilosidades coriônicas da placenta. embrionário bilaminar achatado, mas, em uma área
localizada, as células do hipoblasto tornaram-se colu-
O celoma extraembrionário divide a mesoderme ex-
nares, formando uma área circular espessada, a placa
traembrionária em duas camadas:
precordal (procordal). Esta placa indica o futuro lo-
cal da boca e de um importante organizador da região
• mesoderme somática extraembrionária, que re-
da cabeça.
veste o trofoblasto e recobre o âmnio.
• mesoderme esplâncnica extraembrionária, que
envolve o saco vitelino.
Resumo dos eventos da segunda semana do
A mesoderme somática extraembrionária e as duas desenvolvimento humano
camadas de trofoblasto constituem o córion. O có-
rion forma a parede do saco coriônico (saco da ges- Término da implantação do blastocisto
tação), dentro do qual o embrião e os sacos amniótico Formação de estruturas extraembrionárias
e vitelino estão suspensos pelo pedículo. O celoma Formação do disco embrionário bilaminar
extraembrionário passa, agora, a ser denominado ca- Formação da placa precordal
36 UNIDADE V
TERCEIRA SEMANA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO

O rápido desenvolvimento do embrião a partir do • formação da notocorda;


disco embrionário, durante a parte inicial da terceira • diferenciação das três camadas germinativas, das
semana, caracteriza-se por: quais se formam todos os tecidos e órgãos do em-
brião.
• aparecimento da linha primitiva;

5.1- Gastrulação: Formação das Camadas Germinativas


5.1
A gastrulação é o processo pelo qual o disco em- tecido conjuntivo e vasos associados aos tecidos e ór-
brionário bilaminar é convertido em um disco gãos; a mesoderme também forma a maior parte do
embrionário trilaminar. A gastrulação é o início da sistema cardiovascular e é a fonte das células do san-
morfogênese (desenvolvimento da forma do corpo) e gue e da medula óssea, do esqueleto, músculos estria-
é o evento significativo que ocorre durante a terceira dos e órgãos reprodutores e de excreção.
semana. A gastrulação se inicia com a formação da • Endoderme é a fonte dos revestimentos epiteliais
linha primitiva na superfície do epiblasto do disco das vias respiratórias e do trato gastrintestinal (GI),
embrionário (Figura 1). Cada uma das três camadas incluindo as glândulas que nele desembocam, assim
germinativas (ectoderme, mesoderme e endoderme) como as células glandulares dos órgãos associados,
dá origem a tecidos específicos e órgãos. tais como o fígado e o pâncreas.

• Ectoderme dá origem à epiderme, ao sistema ner- As formações da linha primitiva, das camadas ger-
voso central e periférico, à retina do olho e a várias minativas e da notocorda são processos importantes
outras estruturas. que ocorrem durante a gastrulação. Durante este pe-
• Mesoderme dá origem às capas de músculo liso, ríodo, o embrião é denominado gástrula.
Linha Primitiva partindo da linha primitiva. Estas células têm o po-
tencial de proliferar e se diferenciar em diversos ti- 37
O primeiro sinal da gastrulação é o aparecimento pos celulares, tais como fibroblastos, condroblastos
da linha primitiva na extremidade caudal do embrião. e osteoblastos. Resumindo, através da gastrulação,
No início da terceira semana, aparece uma opacidade células do epiblasto dão origem às três camadas ger-
formada por uma faixa linear espessada no epiblasto, minativas do embrião, primórdios de todos os tecidos
denominada linha primitiva, caudalmente no plano e órgãos (Figura 1B).
mediano do aspecto dorsal do disco embrionário (Fi-
gura 1A). A linha primitiva resulta da proliferação
e migração de células do epiblasto para o plano me-
Destino da Linha Primitiva
diano do disco embrionário (Figura 1B). Enquanto
A linha primitiva forma ativamente a mesoderme até
a linha primitiva se alonga pela adição de células na
o início da quarta semana; depois disso, a produção
extremidade caudal, a extremidade cefálica prolifera,
de mesoderme torna-se mais lenta. A linha primitiva
formando o nó primitivo. Concomitantemente, na
diminui de tamanho relativo, acabando por tornar-se
linha primitiva forma-se o estreito sulco primitivo,
uma estrutura insignificante na região sacrococcígea
que se continua com uma pequena depressão no nó
do embrião. Normalmente, a linha primitiva passa
primitivo, a fosseta primitiva. O aparecimento da li-
por mudanças degenerativas e desaparece ao fim da
nha primitiva torna possível identificar o eixo cefáli-
quarta semana.
co-caudal do embrião, as extremidades cefálica e cau-
dal, as superfícies dorsal e ventral e os lados direito
e esquerdo. O sulco e a fosseta primitivos resultam Processo Notocordal e Notocorda
da invaginação de células do epiblasto.
Algumas células mesenquimais migram cefalica-
Pouco depois do aparecimento da linha primitiva, mente do nó e da fosseta primitivos, formando um
células abandonam sua superfície profunda e formam cordão celular mediano, o processo notocordal (Fi-
uma malha frouxa de tecido conjuntivo embrionário, gura 2). Este processo adquire logo uma luz, o canal
denominado mesênquima ou mesoblasto (Figura 1B). notocordal. O processo notocordal cresce, cefalica-
O mesênquima forma os tecidos de sustentação do mente, entre a ectoderme e a endoderme até alcançar
embrião, tais como a maior parte dos tecidos conjun- a placa precordal (placa procordal), uma pequena
tivos do corpo e os componentes do estroma das glân- área circular de células endodérmicas colunares. O
dulas. O mesênquima forma uma camada denominada processo notocordal, oco e semelhante a um bastão,
mesoderme. Algumas células do epiblasto da linha não pode se estender além, porque a placa precor-
primitiva também deslocam o hipoblasto, formando dal está firmemente presa à ectoderme sobrejacente.
a endoderme no teto do saco vitelino. As células que Estas camadas germinativas fundidas formam a
permanecem no epiblasto formam a ectoderme. Sob membrana bucofaríngea (Figura 2B), localizada no
a influência de vários fatores de crescimento embrio- futuro local da cavidade oral (boca).
nários, células mesenquimais migram amplamente,
38

Algumas células mesenquimais da linha primiti- uma certa rigidez, servindo de base para o desenvol-
va e do processo notocordal migram lateral e cefa- vimento do esqueleto axial (ossos da cabeça e da co-
licamente, entre a ectoderme e a mesoderme, até luna vertebral) e indicando o local dos futuros corpos
alcançarem as bordas do disco embrionário. Neste das vértebras.
local, estas células continuam-se com a mesoderme
extraembrionária que cobre o âmnio e o saco vitelino.
A mesoderme extraembrionária deriva da endoderme Formação da Notocorda (Figura 2)
do saco vitelino. Algumas células da linha primitiva
1. O processo notocordal se alonga pela invaginação
migram cefalicamente de cada lado do processo noto-
cordal e em torno da placa precordal. Neste local, elas de células vindas da fosseta primitiva (Figura 2A).
se encontram cefalicamente, formando a mesoderme 2. A fosseta primitiva se estende para dentro do pro-
cardiogênica da área cardiogênica, onde o primórdio cesso notocordal, formando o canal notocordal.
do coração começa a se desenvolver no fim da tercei- 3. O processo notocordal torna-se um tubo celular
ra semana. que se estende, cefalicamente, do nó primitivo até a
placa precordal.
Caudalmente à linha primitiva, há uma área circular, 4. O assoalho do processo notocordal se funde com
conhecida por membrana cloacal, que indica o local a endoderme intraembrionária do saco vitelino subja-
do futuro ânus (Figura 2B). Na membrana cloacal e na cente (Figura 2A).
membrana bucofaríngea, o disco embrionário per- 5. As camadas fundidas sofrem uma degeneração
manece bilaminar, porque a ectoderme e a endoderme gradual, resultando na formação de aberturas no as-
estão fundidas, impedindo a migração de células me- soalho do processo notocordal. Estas aberturas comu-
senquimais entre si. Na metade da terceira semana, a nicam o canal notocordal com o saco vitelino (Figura
mesoderme intraembrionária separa a ectoderme da 2B).
endoderme em todos os lugares, exceto: na membra- 6. As aberturas confluem rapidamente, e o assoalho
na bucofaríngea, cefalicamente ao nó primitivo, onde do canal notocordal desaparece; os restos do processo
se localiza o processo notocordal, e caudalmente na notocordal formam a placa notocordal, achatada, com
membrana cloacal (Figura 2). um sulco (Figura 2C).
7. Iniciando pela extremidade cefálica do embrião,
A notocorda é um bastão celular que se forma as células da notocorda proliferam e a placa notocor-
pela transformação do processo notocordal. A no- dal se dobra, formando a notocorda, cuja forma se
tocorda define o eixo primitivo do embrião e dá-lhe assemelha a um bastão (Figura 2D).
8. A parte proximal do canal notocordal persiste, qual se forma a coluna vertebral. Ela se estende
temporariamente, como o canal neuroentérico que da membrana bucofaríngea ao nó primitivo. A noto- 39
forma uma comunicação transitória entre as cavida- corda degenera e desaparece com a formação dos
des dos sacos amniótico e vitelino. Normalmente, o corpos das vértebras, mas persiste, como o núcleo
canal neuroentérico se oblitera ao fim do desenvolvi- pulposo, em cada disco intervertebral.
mento da notocorda. A notocorda separa-se da endo-
derme do saco vitelino, que novamente se torna uma A notocorda funciona como o indutor primário
camada contínua (Figura 2D e 2E). do embrião inicial, sendo a primeira impulsionado-
ra de uma série de episódios indutores de sinais, que
Estudos tridimensionais usando cortes seriados de acabam transformando células embrionárias não espe-
embriões humanos mostraram que a extremidade ce- cializadas em tecidos e órgãos definitivos do adulto.
fálica da notocorda é complexa e termina bifurcada; A notocorda em desenvolvimento induz a ectoderme
a extremidade caudal também parece ser ramificada, sobrejacente a espessar-se e formar a placa neural,
com segmentos separados de tecidos cordais. A no- primórdio do sistema nervoso central (SNC).
tocorda é uma estrutura intrincada em torno da

5.2 - A Alantoide
A alantoide (do gr. alias, salsicha) aparece por volta ótica assumem suas funções. No embrião humano,
do 16º dia como um pequeno divertículo, em forma a alantoide está envolvida na formação inicial do
de salsicha (evaginação), da parede caudal do saco sangue e está associada ao desenvolvimento da be-
vitelino, que penetra no pedículo do embrião (Figura xiga. Com o crescimento da bexiga, a alantoide torna-
2A). Em embriões de répteis, pássaros e alguns ma- se o úraco, representado nos adultos pelo ligamento
míferos, a alantoide é uma estrutura grande, em forma umbilical mediano. Os vasos sanguíneos da alantoide
de saco, com função respiratória e/ou de servir de re- tornam-se as artérias e veias umbilicais.
servatório para a urina durante a vida embrionária.
Para mais informações sobre a alantoide, consulte a
Nos embriões humanos, a alantóide permanece Unidade VIII desse instrucional.
muito pequena porque a placenta e a cavidade amni-

5.3 - Neurulação: Formação do Tubo Neural

Os processos envolvidos na formação da placa neu- Enquanto a notocorda se alonga, a placa neural se
ral e pregas neurais e fechamentos destas pregas para alarga e, eventualmente, se estende cefalicamente até
formar o tubo neural constituem a neurulação (Fi- a membrana bucofaríngea. Eventualmente, a placa
gura 3). Estes processos terminam no fim da quarta neural ultrapassa a notocorda. Por volta do 18º dia,
semana, quando ocorre o fechamento do neuróporo a placa neural invagina-se ao longo de seu eixo cen-
caudal (posterior). Durante a neurulação, o embrião tral, formando um sulco neural mediano, longitudi-
é denominado nêurula. nal, com pregas neurais de ambos os lados (Figura
3A e B). As pregas neurais se tornam particularmente
proeminentes na extremidade cefálica do embrião e
Placa Neural e Tubo Neural constituem os primeiros sinais do desenvolvimento
do encéfalo. No fim da terceira semana, as pregas
Com o desenvolvimento da notocorda, a ectoder- neurais já começaram a aproximar-se e fundir-se,
me embrionária acima dela se espessa, formando convertendo a placa neural no tubo neural, o primór-
uma placa alongada, em forma de chinelo, de célu- dio do SNC (Figura 3C e D).
las epiteliais espessadas, a placa neural (Figura 3).
A notocorda em desenvolvimento induz a formação A formação do tubo neural é um processo comple-
da placa neural. A ectoderme da placa neural (neuro- xo, multifatorial, envolvendo forças extrínsecas. O
ectoderme) dá origem ao SNC, ao encéfalo e à me- tubo neural separa-se logo da ectoderme da superfí-
dula espinal. A neuroectoderme também dá origem a cie e suas bordas livres se fundem, tornando esta ca-
várias outras estruturas, como a retina. Inicialmente, a mada contínua sobre nervos autônomos. Os gânglios
placa neural alongada corresponde em comprimento, dos nervos cranianos (NC) V, VII, IX e X também
de modo preciso, à notocorda subjacente. Ela aparece derivam, em parte, de células da crista neural. Além
cefalicamente ao nó primitivo e dorsalmente à noto- de formarem células ganglionares, as células da crista
corda e ao mesoderma adjacente a esta (Figura 3A). neural formam as bainhas de mielina dos nervos pe-
riféricos (compostas pelas células de Schwann) e as contribuem para a formação de células pigmentares,
40 meninges que cobrem o encéfalo e a medula espinal células da medula da adrenal e vários componentes
(pelo menos a pia-máter e a aracnóide). Elas também esqueléticos e musculares da cabeça.

A placa neural, primórdio do SNC, aparece duran- da neurulação pode resultar em anormalidades graves
te a terceira semana e dá origem às pregas neurais e do encéfalo e da medula espinal.
ao começo do tubo neural, portanto uma perturbação

5.4 - Desenvolvimento dos Somitos

Durante a formação da notocorda e do tubo neural, No fim da terceira semana, a mesoderme paraxial di-
a mesoderme embrionária de ambos os lados proli- ferencia-se e começa a se dividir em pares de corpos
fera, formando uma coluna longitudinal, espessa, de cubóides, chamados somitos (do gr. soma, corpo).
mesoderme paraxial. Cada coluna continua-se late- Estes blocos de mesoderme se localizam de ambos
ralmente com a mesoderme intermediária, que se os lados do tubo neural em desenvolvimento (Figura
adelgaça lentamente para formar a camada de meso- 2E). Durante o período somítico do desenvolvimento
derme lateral. O mesoderme lateral continua-se com (dias 20 a 30), formam-se cerca de 38 pares de somi-
a mesoderme extraembrionária que cobre o saco vite- tos. No fim da quinta semana, estão presentes 42 a 44
lino e o âmnio (Figura 2E). pares de somitos. Os somitos formam elevações que
se destacam na superfície do embrião e são algo trian- e dão origem à maior parte do esqueleto axial (ossos
gulares em secção transversal. Uma cavidade em for- do crânio, coluna vertebral, costelas e esterno) e aos 41
ma de fenda sem importância, a miocele, aparece em músculos associados, assim como à derme da pele
cada somito, mas logo desaparece. Como os somitos adjacente. O primeiro par de somitos aparece no fim
são bem proeminentes durante a quarta e a quinta se- da terceira semana a uma pequena distância caudal da
manas, eles constituem um entre os vários critérios extremidade cefálica da notocorda. Posteriormente,
usados para determinar a idade do embrião. formam-se pares de somitos em uma sequência ce-
falocaudal.
Os somitos aparecem primeiro na futura região oc-
cipital do embrião. Logo avançam cefalocaudalmente

5.5 - Desenvolvimento do Celoma Embrionário


O primórdio do celoma embrionário (cavida- • a camada visceral ou esplâncnica, quase
de do corpo do embrião) aparece como peque- contínua com a mesoderme extraembrionária
que cobre o saco vitelino.
nos espaços celômicos ou vesículas isolados na
mesoderme lateral e na mesoderme cardiogêni- A mesoderme somática e a ectoderme do em-
ca (formador do coração). Estes espaços logo brião sobrejacente formam a parede do corpo
do embrião ou somatopleura, enquanto a meso-
coalescem, formando uma única cavidade em derme esplâncnica e a endoderme subjacente do
forma de ferradura, o celoma embrionário, que embrião formam a parede do intestino do em-
divide a mesoderme lateral em duas camadas brião ou esplancnopleura. Durante o segundo
(Figura 3C): mês, o celoma intraembrionário está dividido
em três cavidades do corpo:

• a camada parietal, ou somática, continuan- • cavidade pericárdica


do-se com a mesoderme extraembrionária que • cavidades pleurais
cobre o âmnio; • cavidade peritoneal

5.6 - Desenvolvimento Inicial do Sistema Cardiovascular

No início da terceira semana, começa a angiogê- A formação inicial do sistema cardiovascular está
nese (do gr. angeion, vaso, genesis, produção) ou relacionada com a ausência de uma quantidade signi-
formação de vasos sanguíneos na mesoderme extra- ficativa de vitelo no ovo e no saco vitelino, e com a
embrionária da alantóide e do córion. Os vasos san- consequente urgência em obter vasos sanguíneos que
guíneos do embrião começam a se formar, na meso- tragam oxigênio e nutrientes para o embrião a par-
derme embrionária, cerca de 2 dias mais tarde. tir da circulação materna através da placenta. No fim
da segunda semana, o embrião é nutrido pelo sangue
O coração origina-se na mesoderme situada ante- materno por difusão através do celoma extraembrio-
riormente à membrana bucofaríngea, designada área nário e do saco vitelino. Durante a terceira semana,
cardiogênica, portanto, coração e vasos sanguíneos desenvolve-se o primórdio de uma circulação utero-
originam-se a partir da mesoderme. placentária.

5.7 - Desenvolvimento das Vilosidades Coriônicas

Pouco depois do aparecimento das vilosidades co- as vilosidades coriônicas secundárias recobrem
riônicas primárias no fim da segunda semana, elas toda a superfície do saco coriônico. Logo, algumas
começam a ramificar-se. No início da terceira sema- células mesenquimais da vilosidade se diferenciam
na, a mesoderme extraembrionária penetra nas vilosi- em capilares e em células sanguíneas. Quando vasos
dades primárias, formando um eixo central de tecido sanguíneos ficam visíveis nas vilosidades, elas se tor-
mesenquimatoso (conjuntivo) frouxo. Neste estágio, nam vilosidades coriônicas terciárias (Figura 4).
42

Os capilares das vilosidades coriônicas se fundem, das vilosidades-tronco constituem as vilosidades ra-
formando redes arteriocapilares; estas logo se unem mificadas (vilosidades terminais). É através das pa-
ao coração do embrião através de vasos que se dife- redes das vilosidades ramificadas que se dá a maior
renciam no mesênquima do córion e no pedículo do parte das trocas de material entre o sangue da mãe e
embrião. No fim da terceira semana, o sangue do do embrião. As vilosidades ramificadas são banhadas
embrião começa a fluir lentamente pelos capilares por sangue materno do espaço interviloso, que é tro-
das vilosidades coriônicas. Oxigênio e nutrientes do cado continuamente.
sangue materno presentes nos espaços intervilosos
difundem-se através das paredes das vilosidades e
penetram no sangue do embrião. Dióxido de carbo-
no e resíduos são difundidos do sangue dos capilares Resumo dos eventos da terceira semana do
fetais para o sangue materno através da parede das desenvolvimento humano
vilosidades.
Gastrulação: linha primitiva, disco embrioná-
Concomitantemente, células do citotrofoblasto das rio trilaminar e notocorda
vilosidades coriônicas proliferam e se estendem pelo Neurulação: formação do tubo e das cristas
sinciciotrofoblasto, formando uma capa citotrofoblás- neurais
tica que gradualmente envolve o saco coriônico e o Formação e desenvolvimento de anexos em-
prende ao endométrio. As vilosidades que se prendem brionários
aos tecidos maternos através da capa citotrofoblásti- Somitos e celoma embrionário
ca constituem as vilosidades-tronco (vilosidades de Desenvolvimento inicial do sistema cardio-
ancoragem). As vilosidades que crescem dos lados vascular
UNIDADE VI 43

QUARTA A OITAVA SEMANAS - PERÍODO DA


ORGANOGÊNESE
O período que vai da quarta à oitava semana do Com a formação dos tecidos e órgãos, a forma do em-
desenvolvimento humano constitui a maior parte do brião muda, de modo que, ao final da oitava semana,
período do desenvolvimento embrionário. Durante ele tem um aspecto nitidamente humano (Figura 1).
as três primeiras semanas, ocorrem eventos críticos
do desenvolvimento, tais como clivagem do zigoto, Durante o período da quarta à oitava semana, os te-
blastogênese e o desenvolvimento inicial dos siste- cidos e sistemas de órgãos estão se desenvolvendo ra-
mas nervoso e cardiovascular. Porém, todas as princi- pidamente, razão pela qual a exposição de embriões a
pais estruturas, internas e externas, se estabelecem da teratógenos durante esse período pode causar grandes
quarta à oitava semana. anomalias congênitas. Teratógenos são agentes, tais
como drogas e vírus, que produzem ou aumentam a
No final do período da organogênese, todos os incidência de anomalias congênitas. Os teratógenos
principais sistemas orgânicos já começaram a se for- atuam durante o estágio da diferenciação ativa de um
mar, entretanto o funcionamento da maioria deles é tecido ou órgão.
mínimo, com exceção do sistema cardiovascular.

intrauterino.

6.1 - Dobramento do Embrião

Um acontecimento importante no estabelecimen- do disco embrionário não acompanha o ritmo de


to da forma do corpo é o dobramento do disco em- crescimento do eixo maior enquanto o embrião
brionário trilaminar plano que dá ao embrião uma aumenta rapidamente de comprimento. Isto leva
forma mais ou menos cilíndrica. O dobramento se ao dobramento do embrião. O dobramento das ex-
dá nos planos mediano e horizontal e decorre do tremidades cefálica, caudal e lateral do embrião
rápido crescimento do embrião, particularmente ocorre simultaneamente. Concomitantemente, a
do encéfalo e medula espinhal (sistema nervo- junção do embrião com o saco vitelino sofre uma
so central). A velocidade de crescimento lateral constrição relativa (Figura 2).
Dobramento do Embrião no Plano Mediano brana cloacal (futuro local do ânus). Durante o do-
44 bramento, parte da camada germinativa endodérmica
O dobramento ventral das extremidades do embrião é incorporada pelo embrião, formando o intestino
produz as pregas cefálica e caudal, que levam as ex- posterior (primórdio do cólon descendente). A porção
tremidades cefálica e caudal a se deslocarem em dire- terminal do intestino posterior se dilata um pouco e
ção ventral, enquanto o embrião se alonga cefálica e forma a cloaca (primórdio da bexiga e do reto). Antes
caudalmente (Figura 2-A2). do dobramento, a linha primitiva é cefálica à mem-
brana cloacal; depois do dobramento, ela assume uma
Prega Cefálica: no início da quarta semana, as pre- posição caudal. O pedículo (primórdio do cordão um-
gas neurais da região cefálica tornam-se mais espes- bilical) prende-se à superfície ventral do embrião, e
sas, formando o primórdio do encéfalo. Inicialmente, a alantoide – um divertículo do saco vitelino – é par-
o encéfalo em desenvolvimento se projeta, dorsal- cialmente incorporada pelo embrião (Figuras 2-B2 e
mente, na cavidade amniótica. Posteriormente, o C2).
encéfalo anterior em desenvolvimento cresce em di-
reção cefálica para além da membrana bucofaríngea,
e coloca-se sobre o coração em desenvolvimento. Dobramento do Embrião no Plano Horizontal
Concomitantemente, o septo transverso (septo trans-
verso mesodérmico), o coração primitivo, o celoma O dobramento lateral do embrião leva à formação
pericárdico e a membrana bucofaríngea se deslocam das pregas laterais, direita e esquerda (Figuras 2-A1
sobre a superfície ventral do embrião (Figuras 2-A2, e B1). O dobramento lateral resulta do rápido cresci-
B2 e C2). mento da medula espinal e dos somitos. Os primór-
dios da parede ventrolateral dobram-se em direção ao
Durante o dobramento longitudinal, parte da endo- plano mediano, deslocando, ventralmente, as bordas
derme do saco vitelino é incorporada pelo embrião, do disco embrionário e formando um embrião gros-
passando a constituir o intestino anterior (Figuras seiramente cilíndrico (Figura 2-C1). Com a formação
2-A1, B1 e C1). O intestino anterior situa-se entre das paredes abdominais, parte da camada germinativa
o encéfalo e o coração, e a membrana bucofaríngea endodérmica é incorporada pelo embrião, formando
separa o intestino anterior do estomodeu (Figura 2- o intestino médio (primórdio do intestino delgado).
B2). Depois do dobramento, o septo transverso fica Inicialmente, há uma ampla ligação entre o intestino
colocado caudalmente ao coração, onde, subsequen- médio e o saco vitelino, mas, depois do dobramento
temente, vai formar o tendão central do diafragma. A lateral, esta ligação fica reduzida, formando o pedí-
prega cefálica também influencia a formação do celo- culo vitelino (Figuras 2-A1, B1 e C1). A região da
ma embrionário (primórdio das cavidades do corpo). ligação do âmnio com a superfície do embrião tam-
Antes do dobramento, o celoma é uma cavidade acha-
bém fica reduzida, formando a região umbilical, rela-
tada em forma de ferradura. Depois do dobramento, o
tivamente estreita.
celoma pericárdico fica ventral ao coração e cefálico
ao septo transverso. Neste estágio, o celoma embrio-
Com a transformação do pedículo do embrião no
nário se comunica livremente, por ambos os lados,
com o celoma extraembrionário (Figura 2). cordão umbilical, a fusão ventral das pregas laterais
reduz a região de comunicação entre as cavidades ce-
Prega Caudal: O dobramento da extremidade cau- lômicas intra e extraembrionárias a uma comunicação
dal do embrião decorre, basicamente, do crescimento estreita. A expansão da cavidade amniótica oblitera a
da parte distal do tubo neural, primórdio da medula maior parte do celoma extraembrionário, e o âmnio
espinal (Figuras 2-A2, B2 e C2). Com o crescimento passa a formar o revestimento epitelial do cordão um-
do embrião, a região caudal se projeta sobre a mem- bilical (Figura 2-C2).
45

6.2 - Derivados das Camadas Germinativas

As três camadas germinafivas (ectoderme, mesoder- A mesoderme, que dá origem ao tecido conjunti-
me e endoderme), que se formaram durante a gastru- vo, à cartilagem, ossos, músculos estriados e lisos,
lação, dão origem aos primórdios de todos os tecidos coração, vasos sanguíneos e linfáticos, rins, ovários
e órgãos. Entretanto, a especificidade das camadas e testículos, ductos genitais, membranas serosas que
germinativas não é rigidamente fixa. As células das revestem as cavidades do corpo (pericárdica, pleurais
camadas germinativas se dividem, migram, agre- e peritoneal), baço e córtex da adrenal.
gam-se e diferenciam-se seguindo padrões bastante
precisos ao formarem os vários sistemas de órgãos
A endoderme, que dá origem ao revestimento epite-
(organogênese). Os principais derivados das camadas
germinativas são os seguintes: lial dos tratos gastrintestinal e respiratório, parênqui-
ma das tonsilas, tireóide e paratireóides, timo, fígado
A ectoderme, que dá origem ao sistema nervoso e pâncreas, revestimento epitelial da bexiga e maior
central (SNC), ao sistema nervoso periférico, aos epi- parte da uretra e revestimento epitelial da cavidade
télios sensoriais do olho, aparelho auditivo e nariz, timpânica, antro do tímpano e tuba faringotimpânica
à epiderme e anexos (pelos e unhas), às glândulas ou auditiva.
mamárias, à hipófise, às glândulas subcutâneas e ao
esmalte dos dentes.
Resumo dos eventos da quarta a oitava se-
As células da crista neural, originárias da neuro- manas do desenvolvimento humano
ectoderme, que dão origem às células dos gânglios
espinais da cabeça (NCs V, VII, IX e X) e gânglios
Dobramento do embrião
autônomos; às células que formam as bainhas do sis-
tema nervoso periférico; às células pigmentares da Desenvolvimento dos principais sistemas or-
epiderme; e aos tecidos musculares, conjuntivo e os- gânicos (organogênese)
sos, que se originam dos arcos faríngeos (branquiais); Rápido crescimento do encéfalo
à medula da adrenal e às meninges (cobertura) do en- Embrião adquire características humanas ní-
céfalo e medula espinal. tidas
46 UNIDADE VII
NONA SEMANA AO NASCIMENTO - PERÍODO FETAL

A transformação do embrião em feto significa que Na 20ª semana, o feto pesa aproximadamente 250-
ele se tornou um ser humano reconhecível, e que a 450g e mede cerca de 15-19cm da cabeça aos pés. As
maioria dos órgãos e sistemas importantes já se for- glândulas sudoríparas desenvolvem-se e a pele exte-
maram. rior transformou-se de transparente em opaca.

O desenvolvimento durante este período se caracte- Durante o fim do primeiro trimestre e o segundo tri-
riza basicamente pelo rápido crescimento do corpo mestre, é notável o rápido crescimento do feto (5cm
e pela diferenciação dos tecidos, órgãos e sistemas. por mês) enquanto o peso aumenta consideravelmen-
Uma notável mudança que ocorre durante o período te durante os 2 últimos meses de gestação (700g por
fetal é a diminuição relativa do crescimento da cabeça mês).
em comparação com o do resto do corpo. Durante as
últimas semanas, o ganho de peso pelo feto é muito Pela 21ª semana a mãe reconhece claramente os
grande. movimentos do feto. Na 24ª semana, o feto é capaz
de inalar, exalar e até chorar. Os olhos estão comple-
Entre a 9ª e a 12ª semanas, o feto já dobra os dedos tamente formados e a língua desenvolveu o gosto.
à volta de um objeto colocado na palma da mão. Pode
começar a sugar o polegar. As impressões digitais do Com 24 semanas, as células epiteliais secretoras
feto estão a ser gravadas. As pálpebras e palmas das (pneumócitos tipo II) das paredes interalveolares
mãos são sensíveis ao toque. Nesta fase também se dos pulmões começaram a secretar a substância sur-
formam as unhas (das mãos e dos pés). factante, um líquido tensoativo que mantém abertos
os alvéolos pulmonares em desenvolvimento.
A genitália externa masculina e feminina é seme-
lhante até o final da 9ª semana. Sua forma fetal madu- Apesar de um feto de 22 a 25 semanas nascido pre-
ra somente fica estabelecida na 12ª semana. maturamente poder sobreviver se receber cuidados
intensivos, ele tem grandes chances de morrer no pe-
Ao final de 12 semanas aparecem centros primá- ríodo pós-natal porque seu sistema respiratório ainda
rios de ossificação no esqueleto, especialmente no está imaturo.
crânio e ossos longos.
A partir da 26ª semana, com frequência um feto
No início do período fetal, o fígado é a principal sobrevive (recebendo cuidados intensivos) se nascer
sede da eritropoese (formação dos glóbulos verme- prematuramente, porque seus pulmões já são capazes
lhos do sangue). Ao final da 12ª semana esta atividade de respirar. Os pulmões e os vasos sanguíneos já se
já diminuiu no fígado e começou no baço. A eritropo- desenvolveram o suficiente para permitir as trocas
ese no baço termina com 28 semanas, quando a me- gasosas adequadas. Além disso, o sistema nervoso
dula óssea torna-se a sede principal deste processo. central amadureceu ao ponto de ser capaz de dirigir
os movimentos respiratórios rítmicos e controlar a
Os rins começam a produzir urina entre a 9ª e a 12ª temperatura do corpo.
semana, e a urina é eliminada dentro da cavidade am-
niótica. O feto reabsorve parte do líquido amniótico Na 28ª semana o feto geralmente é capaz de viver
por deglutição. Os produtos de excreção fetal são fora do útero da mãe e será considerado prematuro
transferidos para a circulação materna atravessando a à nascença.
membrana placentária.
Os fetos de 35 semanas têm uma preensão palmar
A rapidez da condução dos impulsos nervosos atra- firme e exibem uma orientação espontânea à luz. À
vés dos neurônios é assegurada pelo envolvimento medida que se aproxima o fim da gestação (37 a 38
dos prolongamentos neuronais por uma bainha prote- semanas), o sistema nervoso está suficientemente ma-
tora de mielina. A mielinização inicia-se ao 4º mês e duro para executar algumas funções integrativas.
termina por volta do 1º ano de vida pós-natal.
Este período terminal é devotado sobretudo ao pre-
Por volta da 16ª semana, o feto tem cerca de 9- paro e amadurecimento dos sistemas envolvidos na
14cm de comprimento. Pode pestanejar, agarrar e transição do ambiente intrauterino para o extraute-
mover a sua boca. O cabelo cresce na cabeça e o pelo, rino, principalmente os sistemas respiratório e car-
no corpo. diovascular.
As alterações que ocorrem no período fetal não são no crescimento e desenvolvimento funcional normal,
tão dramáticas quanto as que ocorrem no período em- especialmente do cérebro e dos olhos. 47
brionário, mas são muito importantes. O feto é me-
nos vulnerável aos efeitos teratogênicos das drogas, A 38ª semana marca o final do período normal de
vírus e radiação, mas estes agentes podem interferir gestação.

7.1 - O Parto

O trabalho de parto consiste em uma série de contra- O trabalho de parto geralmente não dura de 12 a 14
ções uterinas rítmicas e progressivas que fazem o feto horas na primeira gestação de uma mulher e tende
descer gradualmente através do colo do útero (parte a ser mais curto (em média, 6 a 8 horas) nas gesta-
inferior do útero) e da vagina (canal do parto) até o ções subsequentes. O tampão mucoso (uma pequena
exterior. As contrações uterinas promovem a dilata- quantidade de sangue mesclada com muco cervical)
ção (abertura gradual) do colo do útero e também o geralmente é o sinal de que o trabalho de parto está
seu afilamento e apagamento (desaparecimento), até para começar. No entanto, ele pode ser eliminado da
ele praticamente confundir-se com o restante do úte- vagina até 72 horas antes do início das contrações.
ro.
Ocasionalmente, as membranas cheias de líquido
que contêm o feto rompem antes do início do trabalho
Essas alterações permitem a passagem do feto atra-
de parto e o líquido amniótico flui através do colo do
vés do canal do parto. Em geral, o trabalho de parto
útero e da vagina (ruptura de bolsa) para o exterior.
inicia dentro das 2 semanas (antes) da data estimada
Quando ocorre a ruptura das membranas, a mulher
do parto. Os fatores que desencadeiam o trabalho de deve notificar o médico ou a obstetriz (parteira) ime-
parto não são completamente compreendidos, mas diatamente. Aproximadamente 80% a 90% das mu-
vários hormônios estão relacionados com o início das lheres que apresentam ruptura das membranas entram
contrações. em trabalho de parto espontaneamente em 24 horas.

As contrações involuntárias do músculo liso uterino Quando isto não ocorre, a gestante é internada e o
são provocadas pela ocitocina, hormônio hipotalâmi- trabalho de parto é induzido (provocado) para reduzir
co, liberado pela neuro-hipófise. o risco de infecção causada por bactérias da vagina
que invadem o útero. Essas infecções podem afetar a
Estudos feitos em ovelhas e em primatas não huma- mãe ou o feto. A ocitocina ou uma droga similar é uti-
nos sugerem que a duração da gestação e o processo lizada para a indução do trabalho de parto. Quando o
do nascimento estão sob o controle direto do feto. concepto é prematuro, o controle rigoroso da gestante
Certamente é o hipotálamo fetal que inicia o processo pode ser preferível à indução do trabalho de parto e
do nascimento. nenhum exame pélvico é realizado até o parto ter sido
planejado.
Estágios do Trabalho de Parto
48
Há três estágios no trabalho de parto:
49

Resumo dos eventos do período fetal

Rápido crescimento do corpo


Crescimento da cabeça mais lento
Amadurecimento dos sistemas orgânicos
Ganho de peso
Trabalho de parto
50 UNIDADE VIII
ANEXOS EMBRIONÁRIOS

Placenta, âmnio, saco vitelino e alantóide consti- é incorporada ao embrião como o primórdio do intes-
tuem os anexos embrionários. Estas se formam do tino. A alantoide torna-se um cordão fibroso, conheci-
zigoto, mas não participam na formação do embrião do como úraco, no feto, e como ligamento umbilical
ou do feto, exceto partes do saco vitelino e da alantoi- mediano, no adulto. Ele se estende do ápice da bexiga
de. Veremos nessa unidade que parte do saco vitelino urinária ao umbigo.

8.1 - Saco Vitelino

• Origem: cavidade blastocística ⇒ cavidade exo- formação do intestino primitivo; contribui para a for-
celômica ⇒ saco vitelino primário ⇒ saco vitelino mação das células germinativas primordiais.
secundário. • Destino: atrofia-se com o avanço da gravidez, fi-
• Funções: Transferência de nutrientes para o em- cando finalmente muito pequeno a partir da 10ª sema-
brião durante a 2ª e 3ª semanas, período em que a na de gestação.
circulação uteroplacentária ainda não está formada;

8.2 - Âmnio

O âmnio forma um saco membranoso cheio de lí- do embrião; permite que o feto se mova livremente,
quido (líquido amniótico) que envolve o embrião e contribuindo assim para o desenvolvimento muscu-
posteriormente o feto (Figuras 1 e 2). Ele também re- lar (p. ex., músculos dos membros); age como uma
veste o cordão umbilical (Figura 2). barreira contra infecções; permite o desenvolvimento
normal dos pulmões fetais; impede a aderência entre
É importante ressaltar que esse anexo embrionário o embrião e o âmnio.
surgiu com os répteis, cujo desenvolvimento é terres-
• Composição do Líquido Amnióticos: é composto
tre.
de eletrólitos, proteínas, aminoácidos, substâncias ni-
• Origem: Surge entre o embrioblasto e o trofoblas- trogenadas, lipídios, carboidratos, vitaminas, hormô-
to no polo embrionário (Figura 1). nios e células esfoliadas.
• Funções do Líquido Amniótico: proteção contra
choques mecânicos, desidratação e manutenção da O líquido amniótico é normalmente engolido pelo
temperatura; permite o crescimento externo simétrico feto e absorvido pelo trato gastrointestinal.
51

8.3 - Alantoide
• Origem: A alantoide (do gr. allos, salsicha) surge desenvolvimento da bexiga urinária (ligamento um-
por volta do 16º dia, como um pequeno divertículo bilical médio).
(evaginação), a partir da parede caudal do saco vite- • Destino: os vasos sanguíneos da alantoide vão se
lino (Figura 3A). tornar as veias e artérias umbilicais, sendo que a alan-
• Funções: função respiratória e/ou atua como re-
toide torna-se um cordão fibroso, conhecido como
servatório de urina durante a vida embrionária nos
répteis, aves e alguns mamíferos; mantém-se muito úraco, no feto, e como ligamento umbilical mediano,
pequena em embriões humanos, mas está envolvida no adulto. Ele se estende do ápice da bexiga urinária
com o início da formação do sangue e se associa ao ao umbigo (Figuras 3B a 3D).
8.4 - Placenta
52
A placenta é o local fundamental das trocas de - Fornece sangue arterial para as lacunas situadas
nutrientes e gases entre a mãe e o feto (Figura 4). entre as vilosidades coriônicas secundárias e recebe
de volta o sangue tornado venoso nessas lacunas. O
• Origem: é um órgão maternofetal, apresentando sangue fetal e o materno não se misturam a não ser
origem mista: porção fetal, que se origina de parte em proporção muito pequena e no fim da gravidez.
do saco coriônico, e porção materna, que deriva do
endométrio. • Funções:
- troca de gases;
Porção Fetal – é formada pelo córion. - troca de nutrientes, eletrólitos e produtos de ex-
- Consta de uma placa corial de onde partem vilo- creção;
sidades coriônicas, que são os vilos secundários. Es- - transporte de hormônios;
sas vilosidades são constituídas por uma parte central - transporte de anticorpos maternos;
conjuntiva, derivada da mesoderme extraembrioná- - metabolismo (p.ex.: síntese de glicogênio)
ria, e pelas camadas de citotrofoblasto e de sincio- - transmissão de anticorpos maternos;
trofoblasto. O sinciotrofoblasto permanece até o fim - produção de hormônios (p. ex.: progesterona,
da gestação, mas citotrofoblasto desaparece gradual- estrógeno, gonadotrofina coriônica humana (hCG),
mente durante a segunda metade da gravidez. lactogênio placentário humano, tireotrofina coriônica
humana e corticotrofina coriônica humana);
Parte Materna – é a decídua basal. - Algumas drogas e agentes infecciosos também po-
- A decídua refere-se à camada funcional do endo- dem atravessar a barreira placentária.
métrio em uma mulher grávida.
53
54

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1) concluiu o estudo deste guia;
2) participou dos encontros;
3) fez contato com seu tutor;
4) realizou as atividades previstas;
Então, você está preparado para as
avaliações.

Parabéns!
Glossário
55
Aborto: expulsão do útero de um embrião ou feto antes de se tornar viável (antes de se tornar capaz de viver
fora do útero).

Anomalias congênitas: termo utilizado para descrever perturbações do desenvolvimento presentes no nasci-
mento.

Clivagem: série de divisões celulares mitóticas do zigoto que resulta na formação das primeiras células em-
brionárias – os blastômeros.

Concepto: este termo refere-se ao conjunto constituído pelo embrião mais os anexos embrionários.

Embrião: este termo refere-se ao ser humano em desenvolvimento durante os estágios iniciais (p. ex.: zigoto,
mórula, blastocisto).

Espermatozoides: célula sexual masculina produzida nos testículos.

Gametogênese: processo de formação das células sexuais.

Meiose: divisão celular reducional que ocorre para formação das células sexuais.

Membrana placentária: consiste em tecidos extrafetais que separam o sangue materno do fetal.

Parto: é o processo durante o qual o feto, a placenta e as membranas fetais são expulsos do útero.

Placenta: órgão maternofetal responsável pelas trocas entre embrião/feto e mãe.

Ovários: glândula sexual feminina responsável pela síntese e secreção dos hormônios sexuais femininos e pela
produção dos ovócitos.

Primórdio: início ou primeira indicação notável de um órgão ou estrutura.

Ovócito: célula sexual feminina produzida nos ovários.

Teratologia: ramo da ciência que estuda o desenvolvimento intrauterino anormal.

Testículos: glândula sexual masculina responsável pela síntese e secreção do hormônio sexual masculino e
pela produção dos espermatozoides.

Zigoto: esta célula, resultado da fertilização, é o início de um novo ser humano.


Referências Bibliográficas
56
MOORE, K. L. & PERSAUD, T. V. N. Embriologia básica. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.
______. Embriologia básica. 7 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
______. Embriologia Clínica. 8 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SADLER. T. W. Langman. Embriologia médica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

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