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Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 2
Aula Teórica 12

AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE

O processo de avaliação da personalidade (cont.)


• Interpretar os dados da avaliação
• Reportar os resultados da avaliação
Inventários de personalidade
• Construção e validação
• Características importantes: sensibilidade e especificidade

19 de Maio de 2016
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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 2
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Avaliação da personalidade

O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE


5. Interpretar os dados da avaliação
Tentativas de falsear os resultados
Efeitos de manipulação de imagem: tentativas conscientes e
deliberadas por parte dos examinandos para pintar um quadro falso de
si próprios.
Tentar parecer mais perturbado ou psicologicamente disfuncional do
que na realidade é (malingering, faking bad ou overreporting)
Tentar atenuar as suas dificuldades e limitações com vista a parecer
mais bem ajustado e mais capaz do ponto de vista psicológico do que
na realidade é (deception, faking good ou underreporting )

Importante averiguar as motivações 2


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Avaliação da personalidade

Tentativas de falsear os resultados (cont.)


• Desejabilidade social – Tendência para responder no sentido
daquilo que se acredita ser desejável, do ponto de vista social.
• Efeito da aquiescência – Tendência para responder sim, ou
concordo, ou verdadeiro a todas as perguntas.

Padrões de inconsistência entre as partes de cada teste, entre os dados dos


testes e as observações da entrevista, ou entre os testes e a entrevista e a
informação histórica disponível acerca do caso.

Escalas de validade nos inventários de autorresposta - baseadas em


respostas inconsistentes ou improváveis a itens específicos, que ajudam a
identificar quer o exagero quer a atenuação. 3
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5. Interpretar os dados da avaliação (cont.)


Relevância do contexto cultural e experiencial
As expectativas culturais podem determinar se as mesmas
características de personalidade são adaptativas ou mal-
adaptativas.
A atenção ao contexto cultural e experiencial do indivíduo é
um aspeto essencial na tradução das descrições da
personalidade em conclusões e recomendações úteis.

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O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA PERSONALIDADE


6. Reportar os resultados da avaliação
Dados de identificação / Procedimentos de avaliação

Resposta ao pedido

Sumário, conclusões e recomendações

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“Em Maio de 2010 examinei no meu consultório o Sr. José Maia, de 27 anos, solteiro,
funcionário de secretaria numa escola secundária, que consultou o Dr. Pereira por
queixas de ansiedade, flutuações do humor e insatisfação com a sua vida. O Sr. Maia
foi-me enviado para avaliação de possível doença bipolar e recomendações quanto à
necessidade de uma psicoterapia”. QUEM, QUANDO, ONDE E PORQUÊ DA
AVALIAÇÃO.
“De acordo com o seu relatório, o Sr. Maia tem tido um bom desempenho na sua
profissão e nunca solicitou nem recebeu anteriormente qualquer tipo de cuidados de
saúde mental”. HISTÓRIA PRÉVIA

“Para proceder à avaliação tive oportunidade de ler o resumo do processo pessoal de


Ana Moutinho, datado de 5 de Maio de 2010, o qual me foi enviado pelo diretor de
recursos humanos da empresa onde trabalha. Entrevistei a Sra. no meu gabinete
relativamente à sua história pessoal e laboral tendo, igualmente, trocado algumas
breves impressões com o marido, que a acompanhou à consulta. Administrei, então,
uma bateria de testes psicológicos, a qual incluiu os seguintes instrumentos: [segue-se
lista dos testes administrados]. INDICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO:
6
“As respostas do Sr. Maia ao inventário de personalidade identificam
um estilo afetivo estável e reservado, em oposição a uma
emocionalidade lábil e expansiva. Este dado é atípico de uma doença
bipolar, pelo que se julga pouco provável que apresente tal quadro…”

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“O elevado grau de sofrimento de José e os limitados meios de
suporte na sua vida tornam indicada neste momento uma terapia
cognitivo-comportamental orientada para lidar com a situação de
crise”.

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Avaliação da personalidade

6. Reportar os resultados da avaliação (cont.)


Promover a compreensão da informação
Evitar o uso de gíria profissional
Descrever as pessoas e não os processos
Identificar os aspetos positivos e não só as limitações
Indicar o grau de certeza das conclusões
• Baseadas em resultados: Os resultados dos testes sugerem
fortemente que… Os resultados dos testes apontam para…
• Margem de erro: Parece haver… É provável que… Os dados sugerem
que… Existe evidência considerável de que…
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“A Beatriz parece comparar-se de um modo desfavorável com as
outras pessoas e por isso tem uma baixa autoestima e uma
autoconfiança limitada”

diz mais do que

“A autoestima da Beatriz é baixa e a sua autoconfiança limitada”.

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Avaliação da personalidade

6. Reportar os resultados da avaliação (cont.)


Fornecer feedback colaborativo e terapêutico
Nalgumas circunstâncias o relato dos resultados da avaliação pode
incluir uma fase final que consiste em dar o feedback pessoalmente
ao examinando, essencialmente em contextos clínicos.
Sessões devem ser interativas – exploração do grau de
concordância ou discordância de um examinando em relação às
inferências feitas a partir dos dados dos testes muitas vezes ajudam
o examinador a afinar as suas conclusões.
Iniciar por áreas fortes da personalidade.
Iniciar os aspetos mais problemáticos por aqueles que são mais
claramente sugeridos pelos dados dos testes. 11
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Inventários de Personalidade – construção e validação

INVENTÁRIOS DE PERSONALIDADE

Construção e validação
• Definição do construto / universo de conteúdo
• Preparação dos itens
• Seleção dos itens (estudos preliminares)
• Validade (análise fatorial)
• Validade externa (relativa a um critério)
• Criação de normas

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Inventários de Personalidade – construção e validação

Definição do construto e universo de conteúdo


Primeiro passo inevitável na construção de qualquer instrumento de
medida: definir o que vai ser medido e fazer uma listagem completa
de todas as características que fazem parte integrante do construto
(universo de conteúdo).
Partir de uma definição satisfatória (a qualidade do instrumento não
pode ser superior à da sua definição).
Consulta de fontes que se sabe terem alguma relevância para o
conceito: teorias, outros instrumentos, etc.

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Inventários de Personalidade – construção e validação

Preparação dos itens


Passo seguinte: fazer uma amostragem representativa do universo de
conteúdo.
• organizar o conteúdo;
• itens devem ser preparados para cobrir, de uma forma
representativa e compreensiva, cada um dos elementos;
• ter pelo menos o dobro do número de itens a reter.

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Características importantes dos itens:


Linguagem não-ambígua, visando conteúdos específicos.
Duas importantes ameaças à validade:
• Aquiescência: pode ser contornada redigindo um número
equivalente de itens na positiva e na negativa.
• Desejabilidade social

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Desejabilidade social
Evitar itens que sejam elevados em desejabilidade social (“Gosto da
minha mãe”) ou baixos (“Apetece-me com frequência magoar as pessoas”);

Reformulá-los de modo a refletirem o mesmo significado de uma forma


menos extrema (“Devo admitir que tive algumas vezes vontade de magoar
alguém”);

Calcular a correlação entre cada item e uma medida de desejabilidade


social e excluir aqueles cujas correlações atinjam um determinado nível
pré-definido (por exemplo, .30).

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Inventários de Personalidade – construção e validação

Seleção dos itens


Testar diretamente estas características num grupo de sujeitos similares
àqueles a quem o inventário se destina (n=300).
Processo de eliminação mais do que de seleção.
Procedimentos iniciais funcionam também como oportunidade para
solicitar feedback aos examinandos (cf. grupos focais).

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Precisão
Número mínimo de itens necessário para uma precisão adequada em
escalas dicotómicas: n=20.
Escalas do tipo Likert alcançaram bastante popularidade nos últimos anos,
em parte porque requerem menos itens do que as escalas dicotómicas
para alcançarem o mesmo nível de precisão.
Teste-reteste
Consistência interna: até que ponto todos os itens de uma escala avaliam
o mesmo conceito.

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Validação interna (avaliação da adequação do conteúdo)


Decidir quais são os itens que mais diretamente representam a natureza
do construto que está a ser avaliado: recurso à análise fatorial.
Procedimento específico a utilizar depende do grau em que a natureza ou
estrutura do conceito são compreendidos.
• análise fatorial confirmatória: se se trata de um conceito cujos
componentes são conhecidos e aceites;
• análise fatorial exploratória: se não possuirmos ideias prévias sobre a
estrutura ou componentes do conceito que está a ser avaliado.

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Validação externa
Quando uma escala é usada para tomar decisões particulares
Devem calcular-se os respetivos pontos discriminativos (ou limiares
discriminativos, ou pontos de corte - cut-off points)
Baseados em informações concretas acerca da taxa de prevalência da
característica na população-alvo
Devem ser determinadas as taxas de erro (falsos positivos, falsos
negativos).

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Indivíduos normais
incorretamente identificados
pelo novo teste como possuindo
problemas de alcoolismo
Pacientes alcoólicos
identificados corretamente pelo novo
teste como possuindo
problemas de alcoolismo

Pacientes alcoólicos
identificados
incorretamente pelo
novo teste como
não possuindo
problemas de alcoolismo

Indivíduos normais
identificados corretamente
pelo novo teste como não
possuindo problemas de
alcoolismo 21
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A taxa de verdadeiros positivos designa-se por SENSIBILIDADE – dos


casos em que o sintoma está presente, qual a taxa que o teste consegue
identificar corretamente?

A taxa de verdadeiros negativos designa-se por ESPECIFICIDADE – dos


casos em que o sintoma está ausente, qual a taxa que o teste consegue
identificar corretamente?

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Inventários de Personalidade – construção e validação

A seleção dos pontos de corte ou limiares discriminativos mais


adequados deve ter em conta os custos relativos de cada tipo de erro:
• fracasso na identificação dum caso (falso negativo);
• identificação de uma pessoa como possuindo a característica alvo,
quando na verdade não a possui (falso positivo).

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Inventários de Personalidade – construção e validação

• Exemplos:
1) Identificação de potenciais suicidas…
deverá ser usado um ponto discriminante mais baixo e será tolerado um
número superior de falsos positivos com o objetivo de minimizar a ocorrência
de falsos negativos.
2) Avaliação da elegibilidade para liberdade condicional por parte de
abusadores sexuais…
deverão ser usados pontos discriminantes mais altos, uma vez que o custo
para a sociedade inerente ao erro de libertar uma pessoa perigosa, não-
elegível (falso positivo) é muito superior ao custo de reter uma pessoa não
perigosa, elegível (falso negativo).
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Não suicidas Potenciais suicidas

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Não elegível Elegível

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Inventários de Personalidade – construção e validação

Normas
Devem ser desenvolvidas normas no mesmo grupo populacional ao qual o
instrumento se destina.

Opção entre criar um único conjunto de normas gerais ou vários conjuntos


de normas para subgrupos específicos da população (em inventários de
personalidade: homens e mulheres).

Determinar a variação em função da idade, educação e outras características


demográficas.

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