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Ricardo Antunes, Jair Batista da Silva

PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS?

DOSSIÊ
Do sindicalismo de confronto ao sindicalismo negocial

Ricardo Antunes*
Jair Batista da Silva**

O objetivo deste artigo é indicar elementos para a seguinte indagação: para onde foram os sindicatos? Para
tanto, analisamos as duas principais centrais sindicais do país: a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e
a Força Sindical (FS), tanto em seu ideário quanto em relação às suas respectivas atuações sindicais. Nos-
sa hipótese central é que o sindicalismo brasileiro recente, denominado como novo sindicalismo, sofreu
grandes transformações ao longo de mais de três décadas, que acabaram por alterar significativamente
suas práticas e concepções sindicais. Isso se verificou especialmente em seu núcleo mais importante, a
CUT, resultante direta do novo sindicalismo, cuja atuação sindical distanciou-se do chamado sindicalismo
combativo, dotado de claro caráter de classe, para práticas sindicais predominantemente voltadas para as
negociações visando à ampliação dos espaços de cidadania. Para realizar esta análise nosso trabalho recor-
reu às principais resoluções de congressos, plenárias, documentos e às pesquisas que analisaram as práticas
sindicais durante as décadas mais recentes.
Palavras-chave: Ação sindical. Centrais sindicais. Novo sindicalismo. Sindicalismo negocial. CUT. Força Sindical.

INTRODUÇÃO Para esboçar uma resposta preliminar à


questão, parece-nos adequado partir da seguin-
O objetivo deste artigo é compreender as te hipótese: o sindicalismo brasileiro recente
mutações que vêm ocorrendo nos organismos (ou novo sindicalismo, como se consagrou na
de representação da classe trabalhadora, parti- bibliografia especializada) vem se transfor-
cularmente as transformações experimentadas mando de modo acentuado; inaugurado pelas
pelas principais centrais sindicais, visando ofe- greves de 1978, bem como pelas primeiras arti-
recer uma resposta inicial à indagação que mo- culações sindicais que se desenvolviam desde
tiva este texto: para onde foram os sindicatos? meados daquela década, o novo sindicalismo
Para indicar algumas respostas que par- promoveu mudanças significativas na cultura

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ticularizam o caso brasileiro, vamos procurar sindical e política brasileira ao instituir novas
compreender, em linhas mais gerais, quais fo- práticas, mecanismos e instituições. Gradati-
ram os ideários e as principais ações desenca- vamente, entretanto, ao longo de mais de três
deadas pelas duas principais centrais sindicais décadas, suas práticas cotidianas de acentua-
que atuaram – e atuam – no Brasil recente: a da (ainda que não exclusivamente) tendência
Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a For- confrontacionista – foram sendo substituídas
ça Sindical (FS). Esta análise tem como pano de por uma nova pragmática sindical predomi-
fundo o contexto econômico, político e sindical nantemente negocial, onde o confronto cedia
que remete aos ciclos das lutas e ações sindi- espaço para as parcerias, negociações e incen-
cais travadas nas últimas décadas no Brasil. tivo aos pactos sindicais etc. (Antunes, 2013;
Antunes e Santana, 2014; Silva, 2008; 2013).
* Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Insti- O desdobramento desta mutação vem
tuto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).r
Barão Geraldo. Cep: 13083-970. Campinas – São Paulo – consolidando entre nós uma prática sindical
Brasil. Caixa-postal: 6110. rantunes@unicamp.br que, para além de fetichizar a negociação,
** Universidade Federal da Bahia (UFBA). Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas (FFCH). transforma os dirigentes em novos gestores que
Estrada de São Lázaro. Federação. Cep: 40210730. Salva-
dor – Bahia – Brasil. jabs222@gmail.com encontram na estrutura sindical mecanismos

http://dx.doi.org/ 10.1590/S0103-49792015000300005 511


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e espaços de realização, tais como operar com já começavam a despontar as tendências eco-
fundos de pensão, planos de pensão e de saú- nômicas, políticas e ideológicas que foram
de, além das inúmeras vantagens intrínsecas responsáveis pela inserção do sindicalismo
ao aparato burocrático típico do sindicalismo brasileiro na onda regressiva, resultado tanto
de estado vigente no Brasil desde a década da reestruturação produtiva em curso em es-
de 1930. Isto alterou o perfil das lideranças e cala global, como da emergência da pragmáti-
das práticas sindicais adotadas até então. Tais ca neoliberal e da financeirização do capital,
mudanças também alteraram o destinatário do que passaram a exigir mudanças significativas
discurso sindical, cujo ideário vai paulatina- no mundo do trabalho. Esta processualidade
mente se deslocando de um sindicalismo de complexa trouxe fortes consequências também
classe para um sindicalismo cidadão (Silva, para os organismos representativos da classe
2008; Antunes, 1995; J. Rodrigues, 1997; Ro- trabalhadora. (Antunes, 2013; Antunes e San-
drigues, 1993) tana, 2014; Silva, 2008; 2009). Vamos indicar,
Sabemos que estas mutações e meta- então, como esse movimento ocorreu no inte-
morfoses nas práticas sindicais ocorreram ao rior das duas principais centrais sindicais do
longo da um período expressivo da ação da país, na CUT e na Força Sindical. Comecemos
classe trabalhadora e suas formas de organi- pela CUT.
zação no Brasil. Ao longo dos anos 1980, por
exemplo, nosso país esteve à frente das lutas
sociais e sindicais, mesmo quando comparado A CUT: a emergência do confronto,
com outros países avançados dotados de am- o avanço do sindicalismo propositi-
pla experiência sindical. A criação do PT em vo e o culto da negociação
1980, da CUT em 1983, do MST em 1984, a
luta pelas eleições diretas em 1985, a eclosão Depois de mais de trinta anos da emer-
de quatro greves gerais ao longo da década, a gência do novo sindicalismo e da Central Única
campanha pela Constituinte e a promulgação dos Trabalhadores (CUT), criada em 1983, já
da nova Constituição em 1988 e, finalmente, é possível fazer um balanço do que se passou
as eleições diretas de 1989, são exemplos vi- nestes anos. Quais foram seus principais avan-
vos da força das lutas daquela década.1 Houve ços e recuos? Sua prática sindical, três décadas
avanços significativos na luta pela autonomia depois de sua criação, consolidou mais ruptu-
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e liberdade dos sindicatos em relação ao Es- ras ou acabou por acomodar-se ao sindicalis-
tado, através do combate ao Imposto Sindical, mo de tipo mais tradicional? São perguntas
à estrutura confederacional, cupulista, hie- que nosso texto busca elucidar ou, ao menos,
rarquizada e atrelada (Antunes, 1982; Araú- indicar pontos para uma possível resposta.
jo, 1998; Vianna, 1976), instrumentos que se É possível afirmar alusivamente que, en-
constituíam em alavancas utilizadas pelo Es- tre as décadas de 1970 e 1980, um novo ele-
tado e as classes dominantes para controlar mento começou a caracterizar o movimento
os sindicatos e a classe trabalhadora. Aquela sindical brasileiro existente durante a ditadura
década conformou, também, um quadro niti- militar. O nosso movimento operário e sindical
damente favorável para o chamado novo sindi- viveu em fins dos anos 1970 um momento de
calismo, que caminhava em direção contrária extrema importância para sua história. Após o
à crise sindical presente em vários países capi- duro impacto do golpe de 1964, que lhe havia
talistas avançados. deixado pouco espaço de ação – a não ser aque-
Entretanto, no final da década de 1980 les presentes no trabalho silencioso e cotidiano
no interior das fábricas e de algumas tentativas
1
Retomamos aqui várias ideias que estão apresentadas es-
pecialmente em Antunes e Santana, 2014. pontuais de contestação (Antunes, 1992; Hum-

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phrey, 1982; Frederico, 1979) –, um sindicalis- movimento sindical, cuja liderança de maior
mo de corte mais autêntico aflorava, exigindo destaque era Luiz Inácio Lula da Silva, que en-
a ampliação dos espaços para a representação contrava capilaridade não só entre os trabalha-
dos interesses da classe trabalhadora que se dores industriais, como os metalúrgicos, mas,
expandiu enormemente durante estas décadas. também, entre os assalariados rurais, como os
No cenário político mais amplo, a ree- chamados “boias-frias”, os funcionários públi-
mergência do movimento dos trabalhadores cos e os setores assalariados médios urbanos
estremeceu os arranjos políticos da transição que se “proletarizavam”, como médicos e pro-
do fim da ditadura militar para o rearranjo fessores, dentre tantos outros contingentes do
civil que estava sendo articulado, excluindo mundo do trabalho que se alteravam profun-
o movimento sindical e dos trabalhadores, e damente. O setor de serviços e a agricultura
atacava frontalmente a política econômica de- também gestavam novos assalariados que am-
senvolvida pela ditadura. (Silva, 2008; Santa- pliavam a nossa classe trabalhadora, quando
na, 1999; J. Rodrigues, 1997; Antunes, 1992 e comparada àquela existente no pré-1964.
1995; Frederico, 1979). Fruto desta conjuntura, o novo sindica-
Houve avanços significativos na luta lismo surgiu da articulação de variadas con-
pela autonomia e liberdade dos sindicatos em cepções que se articulavam em torno da ban-
relação ao Estado, deu-se um combate à estru- deira de um sindicalismo de classe, mais au-
tura atrelada ao estado e ao Imposto Sindical, tônomo e independente em relação ao estado.
instrumentos utilizados para controlar os sin- Neste sentido, ele propunha uma ruptura com
dicatos. Conformou-se, também, um quadro o passado, que teria sido predominantemente
nitidamente favorável para o chamado novo pautado pela “colaboração de classe”, “refor-
sindicalismo, que resistia fortemente, frente às mismo”, “conciliação”, “cupulismo” etc., prá-
tendência regressivas dominantes no cenário ticas às quais o novo sindicalismo se opunha
europeu e norte-americano, cujo sindicalismo fortemente. (Santana, 2001; 1999).
se encontrava em um quadro crítico. Sua corrente mais expressiva – o chama-
A intensificação da introdução de plan- do novo sindicalismo – era oriundo da própria
tas industriais modernas e sua concentração estrutura sindical. Agrupava vários líderes sin-
geográfica (processo que se iniciou em fins dos dicais denominados “autênticos” (como Lula,
anos 1950) possibilitou o surgimento do que se Olívio Dutra, Jacó Bittar, dentre tantos outros)

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convencionou chamar de “nova classe operá- e que praticavam um sindicalismo que, de fato,
ria”. Estavam sendo criadas, então, a partir do se diferenciava do velho sindicalismo oficial.
golpe de 1964, elementos que possibilitaram Essa tendência somou-se ao também impor-
uma forte expansão do padrão de acumulação tante movimento das oposições sindicais, bus-
através do incremento da produção industrial, cando avançar em sua maior aspiração, que
em gestação desde os anos 1950/1970, am- era criar uma nova central sindical autônoma,
pliando significativamente o novo proletaria- livre e independente do estado e do patronato.
do industrial no Brasil, concentrado, particu- Já em 1977, diversos setores e represen-
larmente, no cinturão industrial automotivo tantes da primeira vertente – os sindicalistas
e metalúrgico do ABC paulista, onde estavam independentes – manifestam interesse em
instaladas as grandes montadoras (Antunes, realizar um Congresso Nacional das Classes
1992; Humphrey, 1982; Almeida, 1975). Trabalhadoras (CONCLAT). A oportunidade
E essa forte expansão da classe traba- para realizar tal articulação ocorreu em 1978,
lhadora, ao final dos anos 1970, constituiu-se no V Congresso da Confederação Nacional dos
na principal base social do novo sindicalismo Trabalhadores na Indústria (CNTI). A união
que começava a florescer. Forjou-se um novo destes ativistas sindicais contra o presidente

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da entidade Ary Campista foi um ensaio de Giannotti e Lopes Neto, 1991).


unidade e mobilização dos dirigentes sindi- Deve-se sublinhar a importância dessa
cais mais ativos contra as lideranças acomo- confluência, que foi decisiva para a criação
dadas no interior das entidades e da estrutura da nova central. De um lado, as denominadas
sindical, o chamado peleguismo. Este ensaio “lideranças autênticas” que já se apresentavam
de união permitiu a este grupo constituir uma como expressão do novo sindicalismo. De ou-
identidade sindical própria, passando a inti- tro lado, as oposições sindicais que se desta-
tular-se como “sindicalistas autênticos”. Des- cavam pelas lutas que travavam contra a es-
te grupo faziam parte várias lideranças que se trutura sindical. Se o “Congresso de Poços de
organizaram posteriormente para criar a CUT Caldas (MG) e o Congresso em Lins (SP) foram
(Silva, 2008). momentos embrionários do novo sindicalismo
Outra força política importante, que que questionou a prevalência da burocracia
contribuiu para a constituição da CUT foi o sindical sobre as entidades sindicais”, de ou-
agrupamento organizado em torno das opo- tra parte, “com eixos de ação diferenciados,
sições sindicais. A expressão mais fortemen- realizou-se o Encontro Nacional das Oposi-
te articulada deste grupo girava em torno do ções Sindicais e, posteriormente, o I Encontro
Movimento da Oposição Sindical Metalúrgi- Nacional de Trabalhadores em Oposição à Es-
ca de São Paulo (MOMSP). Uma das primei- trutura Sindical (ENTOES), que reafirmava o
ras iniciativas para reunir a oposição sindical papel das oposições sindicais na luta contra o
ocorreu no congresso da MOMSP, realizado em sindicato oficial (Silva, 2008; Antunes, 1995).
São Paulo, em 1979. A finalidade era reunir, Da ação convergente do novo sindicalismo e do
organizar e mobilizar as diferentes forças de movimento de oposição sindical caminhou-se,
esquerda que atuavam no movimento sindi- rapidamente, para a criação, no início dos anos
cal e combatiam duramente tanto o peleguis- oitenta, de uma central sindical de âmbito na-
mo, como o reformismo sindical da esquerda cional” (Antunes, 1995, p. 45-46).
tradicional que se articulava em torno do PCB É deste rico movimento de fusão, com-
(Silva, 2008; Antunes, 1995; Giannotti e Lopes portando confluências e tensões, entre impor-
Neto, 1991). tantes correntes que praticavam um sindica-
Ainda anteriormente à criação da CUT, a lismo diferenciado do peleguismo, que nasceu
Associação Nacional dos Movimentos Popula- a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
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res e Sindicais (ANAMPOS) realizou congres- Criada nestes embates, no início da década de
sos nacionais, como o Encontro de Monlevade 1980, a CUT foi, por um lado, um vivo resul-
realizado em fevereiro de 1980 e o Encontro tado deste esforço de unificação das lutas da
de Goiânia em 1982. No primeiro encontro, foi classe trabalhadora. Mas foi, também, simul-
aprovado o Documento de Monlevade, no qual taneamente, a cristalização das diferenciações
foram estabelecidas as principais orientações no interior do movimento sindical brasileiro,
em direção à luta pela democratização da es- que se aprofundariam mais tarde.
trutura sindical, em conformidade com a Con- A nova Central nasceu, portanto, da
venção 87 da Organização Internacional do associação de diversas forças com tradições
Trabalho. O fim dos impedimentos jurídicos sindicais distintas – sindicalistas independen-
que restringiam o pleno direito de greve, além tes, oposições sindicais, militantes da pastoral
do direito de greve e da implantação da ne- operária, setores da esquerda oriundos da tra-
gociação direta entre trabalhadores e patrões, dicional, mas que romperam com o sindicalis-
sem a mediação ou intervenção do Estado fo- mo político vigente no pré-64, todos com o ob-
ram pontos de destaque nesta corrente sindi- jetivo de construir um sindicalismo autônomo,
cal (Silva, 2008; Antunes, 1995; Costa, 1994; em oposição ao atrelamento das entidades sin-

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dicais às estruturas do Estado e, desse modo, as dos Bancários em 1995), greves com ocupa-
exercerem uma nova prática, que propugnava ção de fábricas (como a da General Motors em
a liberdade e autonomia sindicais, além de am- São José dos Campos em 1985 e a da Compa-
plo direito de greve. nhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda
Desta forma, o sindicalismo cutista nas- em 1989), bem como com o desencadeamento
ceu rejeitando as formas de conciliação de de greves gerais de âmbito nacional, como a
classe, defendendo – especialmente durante o de março de 1989, talvez a mais expressiva de
período de sua formação ao longo da década todas as greves gerais desta década (Antunes e
de 1980 – uma ação sindical mais combativa Santana, 2014; Antunes, 1995). Vale recordar
nos embates dos trabalhadores com governos que o número de greves foi extremamente sig-
e patrões. Suas lideranças sindicais desejavam, nificativo durante todo o período, sendo que,
também, o reconhecimento de seus direitos de no mundo rural, houve significativo avanço
organização sindical. Na esfera política, as rei- do sindicalismo, possibilitando a retomada da
vindicações giravam em torno da luta pelo fim organização sindical dos trabalhadores, o que,
da ditadura, da democratização do país, por por certo, influenciou as ações que levaram ao
meio das eleições diretas para presidente, go- nascimento do Movimento dos Trabalhadores
vernador, etc, bem como da instauração de uma Sem-Terra (MST), em 1984.
Assembleia Constituinte, que contemplasse os A partir de 1990, entretanto, a conjun-
interesses e direitos da classe trabalhadora, com tura econômica e política se transformou, com
a completa eliminação das leis de exceção. a vitória de Collor e início de seu governo, se-
O perfil desta liderança sindical foi for- guido depois pelo de FHC, criando as condi-
jado em nova prática, quer dentro dos sindi- ções para que as políticas de corte neoliberal
catos, piquetes, assembleias e passeatas, nas se desenvolvessem com intensidade. O setor
ações de diretas e ocupações dos locais de tra- produtivo estatal foi em grande medida priva-
balho, nas greves parciais e gerais e diversas tizado (siderurgia, telecomunicações, energia
iniciativas que a luta sindical e política do mo- elétrica, bancos, etc.), o que alterou o tripé
vimento operário logra construir para resistir e existente entre capital nacional, estrangeiro e
lutar em seu cotidiano. estatal, que comandou o padrão de desenvol-
Essa associação entre distintas variantes vimento capitalista existente no Brasil desde a
do sindicalismo de classe partia de uma con- emergência do Varguismo, ampliando-se a in-

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cepção de unidade concreta que, inclusive, es- ternacionalização da nossa economia.
teve presente no próprio nome da Central, cujo A fusão entre neoliberalismo e rees-
conteúdo político-ideológico é o seguinte: “a truturação produtiva, dentro de um universo
ideia de única, [que] ficou no nome da Central, conduzido pelo capitalismo financeiro, gerou
vem da concepção reinante no movimento sin- profundas transformações no mundo do tra-
dical que as formas de organização e represen- balho, afetando, em especial, o sindicalismo.
tação dos trabalhadores tinham que expressar, Informalidade, flexibilização e terceirização
sempre, a unidade inquebrantável da classe” passam a ser imperativos empresariais (Silva,
(Giannotti e Lopes Neto, 1991, p. 23). 2009; Cardoso, 2003; Alves, 2000; Antunes,
A década de 1980 foi, então, um perí- 1995; Druck, 1999). No apogeu da era da fi-
odo especial das lutas sindicais e sociais: um nanceirização, do avanço técnico-científico
amplo ciclo de greves, locais e gerais, desen- -informacional, do mundo digital onde tempo
cadeado pelos operários industriais, assalaria- e espaço se convulsionam, o Brasil vivenciou
dos rurais, assalariados médios, num amplo mutações fortes no mundo do trabalho, alte-
e denso movimento que se caracterizou pela rando sua morfologia, na qual a informalidade,
existência de greves gerais por categoria (como a precarização e o desemprego ampliavam-se

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intensamente (Antunes e Santana, 2014; San- ram seu momento de maior expressão no 3º


tana, 2011; Souza, 2002; Galvão, 2002; J. Ro- CONCUT (1988),3 pois “simbolicamente, esse
drigues, 1997; Antunes, 1995). encontro significou o fim da fase heroica da
É nesta quadra histórica, na virada dos construção da CUT e tudo que ela representa-
anos 1980 para década de 1990, isto é, na pas- va para uma parte da militância cutista” (Ro-
sagem do 3° CONCUT (1988) para o 4° CON- drigues, 1997, p. 117). A tese do fim da “fase
CUT (1991), que mudanças substanciais ocor- heroica” fundamentava-se na concepção de
reram no sindicalismo cutista, demarcando que, nos primeiros momentos de criação, dada
a consolidação de uma prática sindical que a necessidade de adquirir maior legitimidade
sempre esteve presente, ainda que em menor junto às suas bases, haveria maior disposição
escala, no seu interior, mas que, até aquele mo- em desencadear lutas e estratégias sindicais
mento, não tinha se tornado o centro da ativi- mais radicalizadas, ofensivas ou confrontacio-
dade sindical da CUT. Assim, pouco a pouco, a nistas, informadas de modo acentuado pelo
conduta propositiva e seu corolário, a negocia- ethos socialista. Desta forma, os caminhos
ção, passaram ao centro da orientação política trilhados pelo sindicalismo propugnado pela
da Central. Vale ressaltar, contudo, que a de- CUT, do momento de sua fundação ao seu 3º
nominada fase movimentista2 já trazia embu- Congresso, que ocorreu em 1988, “representou
tida a característica que buscava a negociação. o período de sua construção e afirmação, cuja
Combinavam-se movimentação, confronto e fase mais movimentista, libertária, socialista
prática negocial na ação sindical, mas a ênfase e de confrontação, enfim, heroica encerra-se
gradativamente passava da confrontação para com o III CONCUT” (Rodrigues, 1997, p.118).
aquela que vai ser tonar dominante na década Com esta mudança no perfil da ação e
de 1990 (Silva, 2008; J. Rodrigues, 1997). dos ativistas sindicais no interior da CUT, que
Esta “nova” práxis sindical tinha - e ain- ocorreu a partir do 3º CONCUT, as práticas de
da tem- na negociação seu instrumento de ação maior confrontação e mais combativas come-
predominante e acentua a propositura de que çaram a dar lugar a um padrão de ação sindi-
não bastava ao sindicalismo assumir tão so- cal mais pragmático e negocial;4 numa palavra,
mente uma conduta de rejeição às iniciativas mais “propositivo” e negociador da entidade e
dos patrões e governos, mas procurava, frente da liderança sindical, como pode ser observa-
aos dilemas enfrentados pelos trabalhadores, do nestas passagens das Resoluções da 5ª Ple-
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construir alternativas “propositivas” conside- nária Nacional da CUT:


radas mais viáveis e realistas. Rejeitando for-
O principal objetivo de nossa estrutura vertical deve
temente em sua prática a estratégia conduzida ser a superação do fracionamento e pulverização re-
durante a década de oitenta, a CUT passava sultante do atual sistema de organização e negocia-
a defender e praticar um sindicalismo mode- ção por categoria, que divide os trabalhadores e di-
rado, resultado a um só tempo das diretrizes ficulta o enfrentamento das questões já apontadas,
político-ideológicas da tendência hegemôni- além de preservar a interferência do Estado. Essa

ca no seu interior, a Articulação Sindical – e 3


Alguns analistas têm sublinhado que a mudança ocorri-
articulado ao cenário de refluxo da atividade da na forma de atuação política da Central foi decorrência
da conquista da maioria interna, alcançada artificialmente
sindical durante este período, tanto no âmbito pela Articulação Sindical, através das alterações nos es-
tatutos da Central (Souza, 2002; Antunes, 1995; Costa,
internacional quanto no Brasil. 1995). Houve uma drástica redução do número de delega-
dos credenciados e escolhidos pelas bases e um aumento
Segundo Iram Jácome Rodrigues (1997), considerável no número de entidades.
as mudanças no sindicalismo cutista tive- 4
“a) Vigência das atuais convenções e acordos coletivos
de trabalho por tempo indeterminado, somente podendo
ser alterado mediante futura negociação da qual participe
2
Fase movimentista refere-se à prática sindical que prio- a entidade sindical que o assinou ou seu sucessor” (Reso-
riza os piquetes, assembleias, caminhadas, manifestações luções da 7ª Plenária Nacional Zumbi dos Palmares. CUT,
de rua e nas empresas etc. 1995, p.24).

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estrutura é o elemento central do novo modelo sin- dicalismo foi confrontado por um contexto ain-
dical que estamos construindo e fundamental para da adverso, iniciado com a vitória (e posse) de
o sucesso de nosso projeto sindical e político (CUT,
Collor. Conforme Antunes e Santana (2014) in-
1992, p. 32).
dicam, a forte pressão interna e externa imposta
Ou ainda, pelos capitais, objetivando avançar a reestrutura-
ção produtiva, a financeirização da economia e a
Na situação em que vivemos hoje no Brasil e por
livre circulação dos capitais, as privatizações do
tudo o que pudemos concluir de várias experiências
de negociação, é necessário que o processo de nego- setor produtivo estatal, a flexibilização da legis-
ciação dos contratos (e convenção etc.) de trabalho lação trabalhista, em suma, a pressão para uma
permaneçam como processo de negociação e contra- nova inserção do Brasil na nova divisão interna-
tação no nível de categorias, ou seja, interempresas, cional do trabalho sob a hegemonia neoliberal
e controlado pelo sindicato (CUT, 1992, p. 73).
e financeira, tudo isso, ocorrendo simultanea-
É preciso salientar, entretanto, que as mente e com forte intensidade, afetou intensa-
ações de caráter mais combativas e de confron- mente o Brasil. Com o impeachment de Collor, o
tação parecem não estar somente associadas à interregno Itamar Franco e a eleição de Fernando
fase de formação, isto é, vinculadas à sua ori- Henrique em 1994 (depois reeleito em 1998),
gem, mas decorrem, em boa medida, da conjun- o mundo produtivo no país foi profundamen-
tura política e da situação socioeconômica de te alterado. As práticas da desregulamentação,
cada momento. Por isso parece possível, tam- flexibilização, privatização, desindustrialização
bém, supor que não existiria nenhuma garantia ampliaram-se, assim como a informalidade, ter-
social e política de que, com o agravamento da ceirização, subempregado e o desemprego (An-
situação socioeconômica dos trabalhadores, a tunes; Santana, 2014).
CUT não voltaria a basear sua ação numa con- O sindicalismo da CUT, mais propenso
duta política que recuperaria, mais acentuada- à negociação, em um momento sindical novo,
mente, a linha da confrontação, em resposta à pautado pela existência de centrais sindicais
própria pressão da classe trabalhadora, como diferenciadas e dificultado pelo advento da
se pode presenciar embrionariamente na atual Força Sindical, criada em 1991 e que passou a
luta contra o PL 4330, em 2015, que amplia a disputar fortemente os espaços políticos e sin-
terceirização também para as atividades-fim. dicais próprios de um sindicalismo mais nego-
cial, fez com que a CUT, sob hegemonia da Ar-

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Exemplos neste sentido apareceram, também,
entre as categorias mais organizadas do sin- ticulação Sindical, respondesse avançando na
dicalismo brasileiro que, dadas as condições alternativa mais contratualista e propositiva,
objetivas que os trabalhadores e trabalhado- oferecendo-se como alternativa sindical factí-
ras experimentaram, as permitiram questionar vel frente ao neoliberalismo. Ainda segundo os
e levar adiante ações político-sindicais mais autores acima, a “defesa da redução dos tribu-
ofensivas do que aquelas desejadas pelas dire- tos à indústria automobilística, como forma de
ções sindicais dominantes (Silva, 2008).5 dinamizar a indústria automotiva e com isso
Na década de 1990, justamente quando se preservar empregos; a política de incentivo às
acentuavam estas novas tendências, o novo sin- “câmaras setoriais”, espaço policlassista de ne-
gociação; as constantes participações em ou-
5
Vários exemplos neste sentido podem ser encontrados en- tros fóruns e espaços de negociação tripartites,
tre as diversas categorias presentes no sindicalismo cutis-
ta. Os bancários da cidade de São Paulo, cujo sindicato é distanciavam cada vez mais a CUT de seus va-
controlado pela mesma corrente que detém a hegemonia
na CUT, por meio da ação da oposição sindical e pressão lores fundacionais” (Antunes; Santana, 2014,
dos trabalhadores de base, levaram adiante movimentos p. 137). E acrescentam: “As políticas de ‘con-
grevistas nacionais, em claro confronto com a orientação
que privilegia a moderação. Outras categorias também têm vênios’, ‘apoios financeiros’, ‘parcerias’ com
seguido esse mesmo posicionamento, como professores,
metalúrgicos, petroleiros, trabalhadores rurais etc. a socialdemocracia sindical, especialmente

517
PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? ...

européia, levada a cabo amplamente por duas já não provocam insegurança junto às classes
décadas, também acabaram reorientando o dominantes.6
“novo sindicalismo”, ajudando a arrefecer sua A influência e o controle político do go-
postura mais classista ao valorizar mais enfa- verno sobre vários movimentos sociais, bem
ticamente os espaços institucionalizados, as como a orientação político-ideológica condu-
máquinas sindicais hierarquizadas e burocra- zida pela corrente hegemônica no interior da
tizadas” (idem, p. 137). CUT constituíram-se em elementos importan-
Na impossibilidade de desenvolver as tes para se compreender as ações e dificulda-
ações daquele período, foi emblemática a greve des que diversos setores dos movimentos so-
dos trabalhadores petroleiros em 1995, que se ciais, populares e sindicais mais à esquerda
constituiu no primeiro combate aberto à política tiveram para enfrentar os governos e as polí-
neoliberal de FHC. Essa greve configurou, entre- ticas implementadas. Neste particular, a trans-
tanto, uma nítida divisão no interior da CUT que, formação da CUT, de Central sindical crítica
mais próxima das políticas de concertação e ne- e independente dos governos – como propug-
gociação, não foi capaz de oferecer uma solidarie- nam seus Estatutos, resoluções e plenárias –
dade efetiva e profunda aos petroleiros. em uma entidade fortemente afinada com as
A CUT já não se apresentava mais como ações e políticas do governo Lula7 apenas ser-
a herdeira das lutas sindicais pela autonomia viu, mais uma vez, para desorientar e desorga-
e independência frente ao estado e ao patrona- nizar o movimento sindical no combate e opo-
to, mas, cada vez mais, ao longo dessa década, sição ao ideário neoliberal, ainda que em sua
assemelhava-se a um sindicalismo institucio- nova variante social-liberal. Sua oscilação en-
nalizado, verticalizado, hierarquizado, que se tre a adesão “crítica” ao ideário neoliberal ou
distanciava de sua década original. E, ao pro- social-liberal, recorrendo, entretanto, às ações
ceder desse modo, com essa nova pragmáti- e práticas sindicais um pouco mais combati-
ca, ajudava a abrir caminho para a ascensão vas quando era imprescindível, deixou marcas
do Partido dos Trabalhadores ao poder, sem o profundas no sindicalismo cutista.8
peso de ser uma central sindical avessa à nego- A CUT foi, paulatinamente, deslocando
ciação e à moderação. o destinatário do seu discurso da “classe” para
Após a vitória do Partido dos Trabalha- a “cidadania”, sendo que suas ações prioriza-
dores – liderando uma frente considerada de vam o caminho da luta por direitos aos cida-
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015

centro-esquerda – nas eleições presidenciais dãos. O foco migrou para o combate aos di-
de 2002 e a experiência do primeiro governo versos problemas enfrentados pela classe tra-
de Luiz Inácio Lula da Silva, com a manuten- balhadora, tais como discriminação racial, de
ção das políticas neoliberais do governo de 6
A eleição presidencial de 2006 talvez seja exemplar nesse
FHC, o medo representado por um governo de sentido, pois a campanha petista baseou-se na manuten-
ção da confiança e apoio político da burguesia; por isso
esquerda capitaneado por aquele partido se a campanha não poderia deixar de trabalhar com ditados
populares amplamente reiterados: “não troque o certo pelo
desfez. O receio e a desconfiança não foram duvidoso”, numa clara demonstração de manutenção das
políticas adotadas até aquele momento. O mesmo se re-
completamente afastados, é verdade, mas per- petiu com a eleição de Dilma em 2010 e, posteriormente,
mitem compreender a adequação e aceitação em 2014.

do governo petista em relação aos interesses 7


Não deixa de ser sintomático dessa nova postura política
adotada pela CUT, o fato de seu ex-presidente Luiz Ma-
do grande capital e das distintas frações bur- rinho, componente da Articulação Sindical, ser alçado à
condição de ministro do trabalho do governo Lula.
guesas, particularmente aqueles representados
8
Segundo Andréia Galvão: “A trajetória da CUT evidencia
pelo capital financeiro. Através da condução uma oscilação entre, de um lado, a assimilação de elemen-
e do aprofundamento das principais políticas tos do discurso neoliberal, que se revelam na elaboração
de uma perspectiva propositiva e, de outro, a contraposi-
neoliberais anteriormente adotadas por FHC, ção à política neoliberal, que tem permitido a reativação
de uma prática sindical mais combativa” (GALVÃO, 2002,
o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores p. 109 – Grifo da autora).

518
Ricardo Antunes, Jair Batista da Silva

gênero, geracional, desemprego, qualificação, terra, do emprego e da cidadania, o dia nacio-


terceirização etc., associados sempre à ideia de nal de luta por habitação e creches e o dia na-
conquista da cidadania, sem que os mesmos ti- cional da consciência negra, fundamentavam-
vessem uma clara visão de classe. Operando se na garantia da cidadania como instrumento
um forte deslocamento dos interesses históri- de luta para combater o avanço das políticas
cos da classe trabalhadora para a defesa abstra- neoliberais (CUT, 1996).
ta da cidadania, a CUT distanciou-se, também, O embate político contra o racismo, por
da construção (e até mesmo da defesa) de um exemplo, também trilhou esse caminho, já que
projeto político alternativo à ordem social ca- a luta se direcionava para o questionamento
pitalista, que, cada vez mais, desaparecia das nos marcos do Estado de direito e da inserção
propostas e das ações da Central (Silva, 2008). dessa reivindicação no âmbito da política de
Parece não ser outro o sentido desta direitos humanos. Foi esse o caminho cons-
concepção: “a melhor perspectiva para o movi- truído politicamente para legitimar a luta pela
mento sindical é comprometer-se com as lutas ampliação da cidadania, sem que, é preciso en-
mais amplas. As políticas sociais devem esta- fatizar, a articulação destes temas fosse remeti-
belecer a relação entre sindicato e cidadania” da à dimensão de classe (Silva, 2008).
(J. Nogueira, 1996, p. 212). Segundo a formu- Assim, a Central que nasce nos anos
lação da CUT: 1980, profundamente ancorada no universo do
trabalho e nas lutas sindicais, consolidava sua
Quando os trabalhadores brasileiros retomaram
suas lutas e mobilizações no final da década de
transição para uma prática sindical moderada,
1970, sob a ditadura militar, buscavam principal- aderindo, gradativamente, a uma concepção de
mente melhorar seu nível de vida e suas condições defesa da cidadania desprovida de um compo-
de trabalho. O passo seguinte foi avançar na luta nente acentuado de classe, além de atuar cen-
pela conquista de direitos individuais e coletivos, tralmente no espaço da negociação. Onde, vale
ou seja, o direito ao pleno exercício da cidadania
recordar, ela não mais estava só, pois esse era,
(CUT, 1992, p. 28).
também, o espaço preferencial da Força Sindi-
Na VII Plenária Nacional (1995), a CUT cal. É dela que trataremos a seguir: como essas
reafirmou sua estratégia anterior no campo da questões aparecem no interior da central sindi-
educação, do emprego e da renda, da reestru- cal que se apresenta como a principal força po-
turação produtiva etc. Essas bandeiras tinham lítica de oposição à CUT? Como respondem as

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015


como pressuposto a conquista e a manutenção lideranças da Força Sindical às transformações
de direitos sociais, como prerrogativa essen- ocorridas na sociedade brasileira durante os
cial para o exercício da “cidadania”: anos 90? É o que trataremos no próximo item.

A complexa realidade das relações de trabalho no


país – agravada pelas medidas reativas do capital
à crise econômica, pelo processo mundial de re- A FORÇA SINDICAL: a pragmática
ordenação política e econômica, a globalização da neoliberal no interior do sindicalismo
economia, a organização dos blocos econômicos,
acompanhados das recentes mudanças tecnológicas A Força Sindical foi fundada entre os
e organizacionais do trabalho na produção e nos
dias 8, 9 e 10 de março de 1991, em São Paulo.9
serviços – introduz sérios desafios aos trabalhado-
Criada como uma nova proposta para o cenário
res brasileiros que se somam às antigas lutas contra
a exclusão social e pela conquista e manutenção dos sindical brasileiro, a Central dizia abarcar os
direitos de cidadania (CUT, 1995, p. 32-33). mais variados setores do “movimento de luta

As iniciativas deliberadas, como, por


exemplo, a conferência nacional em defesa da
9
Este item retoma pontos apresentados mais detalhada-
mente em Silva, 2008; 2013.

519
PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? ...

dos trabalhadores Brasileiros”.10 De acordo neoliberais: segundo Trópia, “o projeto da cen-


com Rodrigues e Cardoso (1993): “oficialmen- tral era, originalmente, ambicioso: pretendia
te, pelos documentos da secretaria da Força tornar-se a principal central sindical do País,
Sindical, teriam participado do congresso de derrotar as iniciativas progressistas e popula-
fundação 1793 delegados, representando 783 res e bloquear a luta de resistência do movi-
sindicatos e federações, ao lado de 74 repre- mento sindical ao modelo neoliberal” (Trópia,
sentantes internacionais” (Rodrigues; Cardoso, 2002, p. 160).
1993, p. 13). Por esse motivo, a bandeira veiculada
A principal finalidade da nova Central pela nova Central era sintonizar o movimen-
dizia respeito à direção do sindicalismo no to sindical com a modernidade – “modernos
quadro de redemocratização da sociedade bra- somos, pois fomos quem primeiro teve a cora-
sileira: “as preocupações eram quanto ao rumo gem de modificar a visão do sindicalismo e do
que o sindicalismo estava tomando, ficando trabalho em geral” (www.fsindical.org.br apud
para trás no processo de redemocratização do Silva, 2008) –, atualização essa que deveria,
país, seja por causa do radicalismo estéril ou, para construir uma central forte, “endurecer
por outro lado, por conformismo paralisante” quando preciso mas também de saber nego-
(www.fsindical.org.br apud Silva, 2008). ciar, [ser] autônoma, livre, pluralista, aberta
Não resta dúvida de que a nova central ao debate interno e com a sociedade” (www.
surgiu disposta a estabelecer uma dupla dis- fsindical.org.br apud Silva, 2008).
tinção no sindicalismo brasileiro. De um lado, A novidade trazida pela Força Sindical
pretendia ser uma alternativa à CUT – definida estava presente tanto em seu projeto político
como praticante de um “radicalismo inconse- como na sua prática. A nova Central objetiva
quente” – que não trazia resultados tangíveis mudar a sociedade brasileira transformando a
aos trabalhadores. De outro lado, a Força Sin- cultura sindical brasileira. Contudo, ao contrá-
dical buscava se diferenciar dos setores sindi- rio da mudança perseguida por outros projetos
cais agrupados em torno da CGT de Joaquim sindicais – especialmente aqueles referentes
de Andrade, Joaquinzão, caracterizados, aqui, às tradições de esquerda que almejavam mu-
como portadores de um conformismo parali- dar a sociedade em direção ao socialismo –,
sante. A pretensão da Força Sindical é o caráter das mudanças propostas pela Força
Sindical visava “lutar pelo capitalismo. A mu-
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015

Ser a central deste final de século pós-socialista, ca-


paz de defender os interesses dos trabalhadores aqui
dança se referiria ao conteúdo do capitalismo
e agora, sem relacionar as reivindicações imediatas que existiria entre nós” (Rodrigues; Cardoso,
à luta pelo socialismo, quer dizer, sem propostas 1993, p. 17).
utópicas que acabariam, na concepção da central, Neste sentido, o caráter da transição bra-
por induzir ao ‘socialismo burocrático’. Desse ân- sileira não era do capitalismo para o socialismo
gulo, a Força Sindical marca, em seu discurso, um
(como apontam várias resoluções da CUT, com
rompimento com as tradições corporativas, nacio-
nalistas e socialistas das correntes mais militantes
ênfase ao menos nos anos 1980), e sim, uma
do sindicalismo brasileiro e parece mais adaptada mudança entre um capitalismo selvagem para
às mudanças econômicas, sociais, políticas e cultu- uma sociedade capitalista avançada, competi-
rais que estão marcando esse final de século (Rodri- tiva e moderna (Rodrigues e Cardoso, 1993).
gues e Cardoso, 1993, p. 21). Sociedade essa que garantisse espaços de par-
ticipação efetiva para os trabalhadores, reco-
Mas a pretensão da Força Sindical tinha
nhecendo-os como protagonistas das decisões,
de fato a finalidade de desarmar a resistência
pois “era preciso dar aos trabalhadores o reco-
dos trabalhadores das investidas dos governos
nhecimento de que eles poderiam participar
10
Para uma referência sumária à origem da Força Sindical,
ver www.fsindical.org.br apud Silva, 2008) do processo, sentando às mesas de negociação

520
Ricardo Antunes, Jair Batista da Silva

e endurecendo quando necessário. Antes de sada a negociação, as entidades de representa-


tudo, que os trabalhadores fossem voz ativa ção sindicais de trabalhadores podem utilizar
dos novos tempos que viriam” (www.fsindical. o instrumento da greve, sendo que, nos casos
org.br – Grifo nosso - apud Silva, 2008) de serviços essenciais, alguns procedimentos
Para além do discurso apresentado, po- específicos deverão ser preservados” (Força
de-se afirmar que a Força Sindical foi, desde Sindical, 1993, p. 524).
logo, um desdobramento do sindicalismo de A fundação da nova Central representou,
resultados. Este surgiu da articulação de duas entretanto, consequências políticas profundas
trajetórias sindicais distintas, que, a partir da para o conjunto do sindicalismo brasileiro: “sob
segunda metade da década de 1980, passaram os auspícios do governo Collor, a Força Sindi-
a defender o mesmo projeto político. De um cal aderiu a aspectos da plataforma neoliberal
lado, o grupo de ativistas que tem na lideran- ao apoiar, de forma militante, as privatizações e
ça de Luiz Antônio de Medeiros sua maior a desregulamentação do mercado de trabalho”
expressão; oriundo do PCB, este dirigente sin- (Trópia, 2002, p. 159). Ela “foi propositivamen-
dical foi para o Sindicato dos Metalúrgicos de te neoliberal. A central engajou-se, ofensiva-
São Paulo para concretizar uma nova forma mente, no processo de implementação da polí-
de ação sindical (Nogueira, 1998). De outro, a tica estatal neoliberal, contribuindo, ao mesmo
liderança de Antônio Magri, dirigente que fez tempo, com a disseminação ideológica do neoli-
sua carreira política no Sindicato dos Eletrici- beralismo” (Trópia, 2002, p. 165). É preciso su-
tários do Estado de São Paulo e era uma espé- blinhar, ainda, que a nova Central, em sintonia
cie de representante de uma corrente sindical com os governos federais ao longo da década de
de influência norte-americana, que convivia e 1990, fez sistemática campanha contra a atua-
se mesclava com o velho peleguismo brasilei- ção do MST, chegando a criar a Força da Terra
ro, da qual a Força Sindical foi também herdei- para combatê-lo e tentar se constituir – sem ne-
ra. (Antunes, 1995). nhuma efetividade – como alternativa entre os
O ideário do sindicalismo de resultados trabalhadores rurais (Idem, p. 165).
combinava essa sua origem dúplice – ou trí- Sua pretensa despartidarização e ou de-
plice – com a nova pragmática neoliberal, que sideologização do movimento sindical, tese
expressava a concordância com a sociedade defendida e enunciada frequentemente pelos
de mercado e o reconhecimento da vitória do seus dirigentes, escondia – e acentuava – de

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015


capitalismo; sua ação sindical deveria buscar a fato, uma maior ideologização do movimento,
melhoria das condições de trabalho, sem extra- acirrando a polarização entre as duas princi-
polar este âmbito da melhoria da força de traba- pais centrais sindicais. (Antunes, 1995; Silva,
lho. Acrescentava, ainda, que não caberia aos 2008; 2013) Em verdade, apesar da afirmação
sindicatos nenhuma interferência partidária, reiterada de apartidarismo, a Força Sindical
mas sim, uma ação e influência na esfera polí- não era uma entidade que adotava o apoliti-
tica. (Silva, 2008 e 2013; Antunes, 1995; Força cismo como conduta política; a atuação e as
Sindical, 1993; Rodrigues e Cardoso, 1993). afirmações de sua maior liderança, Luiz An-
O processo de formação da Força Sindi- tônio de Medeiros, desfazem qualquer dúvida
cal combinava a rejeição ferrenha ao confron- quanto a esse ponto: “eu jamais disse, em lu-
to, ao mesmo tempo em que as ações sindi- gar algum, que sou apolítico. Eu faço política,
cais são estrategicamente calculadas para não que eu considero política sindical. Sou contra
ultrapassar a esfera da negociação. De fato, a a partidarização do sindicato” (Medeiros, apud
greve era concebida como a última alternativa Rodrigues e Cardoso, 1993, p. 22.). E, mesmo
depois de esgotadas todas as possibilidades de essa pretensa ausência de partidarização não
negociação. Conforme sua indicação: “fracas- significa que a Central não assuma valores,

521
PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? ...

visões de mundo etc. que estejam associadas duplo objetivo de integrar os setores mais carentes
a agrupamentos ou partidos políticos. Ao con- e marginalizados da população, minimamente, aos
serviços de proteção social do Estado, e de conferir
trário, no seu principal documento até hoje pu-
maiores garantias ao empregado na sua relação com
blicado (Força Sindical, 1993), a Força Sindical o empregador (tanto do ponto de vista individual
deixava claro, por exemplo, que era a favor da como coletivo). (Força Sindical, 1993, p. 32).
redução da presença do Estado na economia. A
mesma concepção que foi defendida e imple- Em outros termos, a Constituição deve-
mentada por Collor e FHC durante a década ria garantir uma forma de regulação contratual
de 1990. A propalada – mas nunca praticada entre agentes que compram e vendem merca-
– desideologização da ação sindical implicava, dorias, sempre no sentido de valorizar o preço
de fato, a subordinação da classe trabalhadora da mercadoria-força de trabalho. No plano das
que a Central pretendia representar no univer- liberdades individuais e políticas, o documen-
so ideológico da sociabilidade capitalista. Con- to defende que a Constituição deveria garantir
forme indica Fredericio: “a consolidação dos direitos civis e políticos
do cidadão”, impondo “restrições mínimas
A pretensa ‘desideologização’ da práxis sindical, na
à formação e ao funcionamento dos partidos
verdade, significa uma clara aceitação da sociabilida-
políticos” (Força Sindical, 1993, p. 32; Silva,
de do mundo capitalista: os agentes sociais ficam re-
duzidos à condição de obstinados comerciantes que 2008). E foi, também, dentro deste universo
só almejam vender sua mercadoria pelo melhor pre- que a Central elaborou sua concepção de cida-
ço. A obtenção de ‘resultados’ numa conjuntura re- dania. Cidadão, para a Força Sindical, era um
cessiva, além de inviável, tem a função ideológica de indivíduo portador de direitos, cidadão que é,
manter o movimento operário entregue à dinâmica
antes de tudo, produtor, consumidor e eleitor.
do mundo burguês sem formular um projeto político
A concepção de cidadania que aparecia em
alternativo visando a redimir o mundo do trabalho
do fetichismo mercantil. (Frederico, 1994, p. 73). seus documentos se referia ao padrão normati-
vo e institucional, que garantia aos indivíduos
Assim, a nova central adotava, segundo as liberdades políticas e sociais, além do gozo
Rodrigues e Cardoso (1993), os princípios do de direitos.
liberalismo11 com a finalidade de aprofundar Portanto, cidadão, aqui, diz respeito ao
a sociedade dentro da qual seria reservado à indivíduo que é capaz de produzir e consumir,
classe trabalhadora, do ponto de vista político, sendo útil na esfera econômica. E, enfeixando
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015

fundamentalmente, a participação cidadã jun- o círculo da matriz de fundo neoliberal, ser ci-
to e, do ponto de vista econômico, o aumento dadão é ter o direito de votar, o que significaria
da participação dos salários na renda nacional exercer participação política nos órgãos e de-
(Silva, 2008; 2013; Rodrigues e Cardoso, 1993;) cisões do Estado através do processo eleitoral.
Por exemplo, ao tratar em seu documento-pro- Como se pode depreender do texto abaixo:
grama Um projeto para o Brasil: a proposta da
Não basta, nesse sentido, estimular práticas de par-
Força Sindical, a nova Central afirmava que a
ticipação, mas estabelecer as condições institucio-
Constituição deveria garantir: nais para que a vontade organizada dos cidadãos
– entendidos como produtores, consumidores e
No plano dos direitos sociais e trabalhistas, com
eleitores – interfira de modo importante nas gran-
11
Não se encontra o termo liberalismo social nos docu- des decisões econômicas e políticas. (Força Sindi-
mentos da Central, como sublinham Rodrigues e Cardoso
(1993); todavia, tal orientação política e ideológica pode cal, 1993, p. 44).12
ser concluída da concepção geral dos textos. Encontra-se
a valorização do pensamento liberal em passagens como
esta: “as conquistas cristalizadas no pensamento democrá-
tico liberal – como o voto direto e universal, a liberdade de 12
Na mesma direção aponta a passagem a seguir: “O Estado
imprensa, liberdade de produção e comércio, livre concor- haverá de ser menor e descentralizado. Na administração de
rência etc. – podem e devem ser preservadas no âmbito de interesses locais imediatos, por exemplo, o Estado deve ser au-
um direito que cada vez mais é sensível ao desequilíbrio xiliado pela ação participativa dos próprios cidadãos, na ges-
de poder na sociedade” (Força Sindical, 1993, p. 113). tão e na defesa de seus interesses” (Força Sindical, 1993, p. 41).

522
Ricardo Antunes, Jair Batista da Silva

A Força Sindical concebia a reforma do a Força Sindical incentivava a cooperação,


Estado brasileiro, a reforma administrativa, a em busca do objetivo comum, para “criar um
melhoria das condições de vida etc. como me- ambiente de cooperação entre capital e traba-
canismos políticos para realizar o desenvolvi- lho que induza ao aumento da produtividade
mento humano e social que permita o exercí- e das rendas reais dos trabalhadores” (Força
cio da cidadania plena. O caráter “moderno do Sindical, 1993, p. 517). O resultado, mais do
Estado” deveria resguardar as normas de rela- que cooperação, foi na direção de aprofundar,
ção entre os agentes sociais, impedindo que através de sua ação sindical, os mecanismos de
o mercado exercesse o papel de explorador e subordinação da classe trabalhadora aos impe-
arena sob a qual age de modo pleno o poder rativos da sociedade do mercado. (Silva, 2008;
econômico, pois o mercado deveria ser o es- 2013; Antunes, 1995). Uma curiosa e imprevis-
paço de criação de riquezas, do bem-estar e da ta aproximação com a CUT estava ocorrendo e,
qualidade de vida dos cidadãos: com ela começava a se gestar outra mutação
no universo sindical. É dele que trataremos no
Um Estado ‘moderno’ não é omisso, é um defensor
intransigente das regras de interação dos agentes
último item. Mas, ainda outra mutação estava
em sociedade. Particularmente em seu papel diante por ocorrer.
das atividades econômicas, cabe a ele garantir que
o mercado não seja o universo da usurpação e do
exercício puro e simples do poder econômico, mas RUMO AO SINDICALISMO NEGO-
o universo de criação de riquezas e do bem-estar dos
CIAL DE ESTADO?
cidadãos, entendidos como produtores e consumi-
dores. (Força Sindical, 1993, p. 270).
Cada uma ao seu modo, CUT e Força
Neste preciso sentido, a Força Sindical Sindical, para além das disputas e mesmo dos
defendia que o trabalhador-cidadão fosse reco- antagonismos que caracterizaram seus projetos
nhecido como produtor e consumidor, efetivan- iniciais, conforme procuramos evidenciar neste
do uma espécie de cidadania mercantil que ape- artigo, aproximavam-se ao defender uma polí-
nas poderia ser plena à medida que cumprisse tica sindical voltada, centralmente, para a ne-
os imperativos da lógica do mercado, no qual gociação e para a defesa da cidadania em detri-
o trabalhador-cidadão fosse, simultaneamente, mento (e não em sintonia) dos valores da classe
produtor e consumidor (Silva, 2008; 2013).13 trabalhadora. Suas diferenças, profundas no

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015


É por isso que o objetivo de sua proposta de início, começaram lentamente a se desvanecer.
relação entre capital e trabalho era o de criar Vimos que a CUT foi muito mais ousa-
uma estrutura normativa, política e econômi- da em suas propostas, especialmente durante
ca que permitisse a administração do conflito a década de 1980, o período da confrontação,
existente. Com efeito, “o conflito entre capital e quando vinculou, explicitamente, a conquista
trabalho é dado natural entre esses dois atores de direitos sociais, a melhoria das condições de
sociais em uma economia de mercado. Desta vida, como direito à saúde, por exemplo, à luta
forma, o importante é criar mecanismos que ad- pela ampliação dos direitos sociais e políticos,
ministrem esse conflito e não tentar reprimi-lo além de reiterar em vários de seus encontros e
ou suprimi-lo” (Força Sindical, 1993, p. 517). documentos – inclusive no de fundação – a ne-
Coerente com sua concepção de inte- cessidade de lutar pela construção de uma so-
gração das classes na sociedade capitalista, ciedade socialista. Diferentemente, no caso da
Força Sindical, a reivindicação pautava-se sem-
13
Não deixa de ser curioso como, apesar das origens bas- pre pela ampliação de direitos políticos dentro
tante distintas e mesmo opostas, as proposições da Força
Sindical passassem a contemplar, cada vez mais, certas de uma concepção liberal (de fato neoliberal),
similitudes com o movimento que vinha ocorrendo no in-
terior da CUT em direção à conquista da cidadania. onde o aumento da participação política dos

523
PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? ...

trabalhadores deveria ocorrer sempre dentro Força Sindical nasceu tendo, desde o início,
dos estritos limites das decisões no estado pela um sentido pragmático e de atuação dentro do
via da colaboração e da negociação, procuran- capitalismo “para melhorá-lo” – o que signifi-
do colocar-se como alternativa dentro da ordem cava manter a classe trabalhadora, tanto polí-
e claramente contra as posições da CUT: tica quanto ideologicamente, subordinada aos
valores do capital –, para a CUT, a passagem
As preocupações eram quanto ao rumo que o sindi-
calismo estava tomando, ficando para trás no proces-
de práticas com claro sentido de classe e de
so de redemocratização do país, seja por causa de ra- confrontação para ações sindicais mais mode-
dicalismo estéril ou, por outro lado, por conformismo radas e voltadas para a predominância propo-
paralisante. Essas ações e inúmeras outras demons- sitiva (pela via da negociação) aprofundou-se
traram sempre a capacidade de atuação da Força Sin- ainda mais com a vitória eleitoral do Partido
dical. Capacidade que logo predispôs à aglutinação
dos Trabalhadores. Tendo sua principal lide-
de setores preocupados em defender e conquistar di-
reitos efetivos para os trabalhadores (www.forçasin-
rança forjada no interior do novo sindicalismo,
dical.org.br apud Silva, 2008 – Grifo nosso). a CUT ajudava, finalmente, o PT a conquistar
a Presidência da República pelo voto direto.
Apesar das diferenças indicadas, entre- O que não se deu sem novas consequências.
tanto, ao longo da década de 1990, a ação sin- A nova pragmática sindical, inserida na lógi-
dical de ambas as centrais orientou-se, como ca dominante da negociação, defrontava-se,
vimos, crescentemente para a defesa da cida- agora, com um governo cujos membros eram,
dania, aceitando a existência conflitual, mas, em boa medida, recolhidos também dentro da
em última instância, recusando o caminho própria CUT, dada a forte simbiose que sempre
da confrontação. Se este foi o eixo da ação da existiu entre ambas.15
CUT ao longo de toda a década anterior, nos De sua parte, a Força Sindical somou-se
anos 1990, o centro de sua nova concepção, à CUT e ambas tornaram-se partícipes do go-
presente tanto em seus documentos, quanto verno Lula. Atuaram conjuntamente, durante
em sua prática dominante, foi voltar-se para o vários anos, como parceiras de governo, por
avanço da cidadania. certo com disputas pelos espaços existentes,
Já a Força Sindical, que nascera em outro mas exercitando uma convivência bastante
contexto, pautado pela recusa explícita à atua- diferente da década de 1990, onde, como vi-
ção no universo da luta de classes, encontrava mos, CUT e Força Sindical pautavam-se por
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015

na defesa da cidadania o elemento ideal para a uma forte disputa, clara diferenciação e níti-
sua proposição, uma vez que, desde suas ori- da conflagração. A defesa da negociação como
gens, jamais se colocou na direção da conquis- caminho predominante e a conversão de suas
ta de uma sociedade socialista. A CUT, ao con- programáticas, centradas na busca da “cidada-
trário, fazendo o caminho inverso, foi, pouco nia”, abriram caminho para que as diferenças
a pouco, abandonando qualquer discurso que 15
O quadro sindical já era também bastante distinto. Se-
privilegiasse a prática de confrontação em be- gundo Andréia Galvão: “Dez novas centrais sindicais sur-
giram a partir de 2004, somando-se às três centrais sin-
nefício da via predominante da negociação e dicais criadas nos anos 1980 e 1990 (CUT, CGTB/Central
da defesa do cidadão (Silva, 2008; 2013).14 Geral dos Trabalhadores do Brasil e Força Sindical), dentre
as quais destacamos: Conlutas (Coordenação National de
Se a concepção sindical presente na Lutas), criada em 2004 e cuja denominação mudou para
CSP-Conlutas em 2010; NCST (Nova Central Sindical de
Trabalhadores), criada em 2005; Intersindical, criada em
14
Como sublinha Saes (2003), o exercício da cidadania 2006; UGT (União Geral dos Trabalhadores) e a CTB (Cen-
plena articulada com a concepção de classe significaria tral dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), criadas
acentuar as contradições da sociedade capitalista e das em 2007 e CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), em
suas instituições políticas, visto que a conquista de efe- 2012. Em 2008 a Intersindical se dividiu em: Intersindical
tivos direitos políticos e sociais situa-se além dos limites – instrumento de luta e organização da classe trabalhadora
constituídos pela sociedade capitalista. É por isso que o e Intersindical - instrumento de luta, unidade de classe
autor afirma que “o processo de criação de direitos na so- e construção de uma nova central. Esta última corrente
ciedade capitalista é necessariamente conflituoso, embora fundou a Intersindical – Central da Classe Trabalhadora,
não contraditório” (Saes, 2003, p. 20). em 2014. (Galvão, 2015, p. 4).

524
Ricardo Antunes, Jair Batista da Silva

fossem crescentemente reduzidas e ambas as fora combatido pela CUT. O sindicalismo de


centrais entrassem com força dentro do apa- estado começava a ressuscitar, agora adicio-
relho de estado. O novo sindicalismo chegava, nado de um forte componente de proposição
finalmente, ao Estado, depois de tantos anos e negociação. O mundo negocial e a depen-
de luta pela autonomia e independência sin- dência estatal (política, ideologia e financeira)
dicais. A estrutura sindical atrelada ao esta- passaram, também, a fazer parte, ainda mais
do – duramente combatida pela CUT em seus intensamente, do cotidiano daquele que, no
anos dourados e que sempre fora preservada passado recente, havia sido positivamente de-
pela Força Sindical – finalmente permitia que signado como novo sindicalismo.
as duas principais centrais do país galgassem Para onde foram os sindicatos? Esse é o
o topo do estado, sendo que a CUT, por sua tema proposto para este dossiê. Nossa resposta
própria vinculação estreita com o PT, era ainda à hipótese apresentada no início deste artigo
mais intensa (Soares, 2005). é que as últimas décadas parecem empurrar o
Participando de ministérios e secreta- novo sindicalismo em direção a uma esdrúxula
rias nos âmbitos federal, estadual e munici- combinação, síntese de, ao menos, três movi-
pal, elegendo-se para cargos de representação mentos: a velha prática peleguista, a forte he-
parlamentar, participando ativamente na ges- rança estatista e a forte influência do ideário
tão de fundos de pensão16 e dos conselhos neoliberal (ou social-liberal), impulsionada,
de empresas estatais etc., o sindicalismo que ainda, pelo culto da negociação e defesa do ci-
propugnava a autonomia e a independência dadão. Vale dizer que cada um destes elemen-
sindical frente ao estado, no caso da CUT, e tos pode ter prevalência em diferentes con-
o pretenso antiestatismo neoliberal propugna- junturas. E esse Frankenstein que está sendo
do pela Força Sindical, acomodaram-se muito embrionariamente gestado, estamos denomi-
bem nos aparatos burocrático-ministeriais dos nando, provocativamente, como uma espécie
governos do PT. de sindicalismo negocial de estado (Antunes,
Mesclando traços da velha e persistente 2013). Se a profunda crise política, econômica
herança sindical peleguista, que a Força Sindi- e social que atinge o país neste ano de 2015
cal sempre conservou, com um burocratismo será capaz de afirmar ou infirmar a tendência,
institucionalizado e verticalizado, que a CUT já é questão para outro artigo.
abraçou ao longo da década de 1990, ambas,

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entretanto, pautadas pelo ideário e pela prag-
Recebido para publicação em 06 de junho de 2015
mática da negociação e de defesa da cidadania, Aceito em 05 de agosto de 2015
forjou-se o que, provocativamente, estamos
denominando como sindicalismo negocial de
estado. REFERÊNCIAS
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governo Lula deslanchava vigorosamente: as ALMEIDA, Maria H. O sindicato no Brasil: novos
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ANTUNES, Ricardo. Classe operária, sindicatos e partido
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16
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525
PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? ...

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526
Ricardo Antunes, Jair Batista da Silva

WHERE DID THE LABOR UNIONS GO? From a OÙ SONT DONC LES SYNDICATS? Du syndicalisme
combative unionism to a negotiating unionism de confrontation au syndicalisme de négociation

Ricardo Antunes Ricardo Antunes


Jair Batista da Silva Jair Batista da Silva

This article tries to answer the following question: Le but de cet article est d’indiquer des éléments
where did the labor unions go? For such, we capables de répondre à la question suivante : où
analyze the two main union centers: the Workers sont donc les syndicats ? À ces fins nous analysons
Union Center (CUT) and the Union Force (FS), les deux principaux syndicats du pays : la Centrale
regarding their ideals and the unionized actions. Unique des Travailleurs (CUT) et la Force Syndicale
Our main hypothesis is that contemporary Brazilian (FS), autant au niveau de leurs idées que dans le
unions, called new unionism, went through big cadre de leurs actions syndicales respectives.
transformations over more than three decades. Notre hypothèse principale est que le syndicalisme
These transformations significantly altered their brésilien récent, appelé nouveau syndicat, a souffert
practices and union concepts. This is especially d’importantes transformations pendant plus de
apparent in its most important center, the CUT, a trois décennies qui ont fini par modifier de manière
direct result of the new unionism, which distanced significative leurs pratiques et leurs conceptions
itself in actions from the so-called combative syndicales. Ce fut tout particulièrement le cas de
unionism, which clearly has a classist take, towards son représentant le plus important, la CUT. C’est une
union actions that are more negotiating and aim to conséquence immédiate du nouveau syndicalisme
broaden citizenship spaces. To perform this analysis, dont l’action s’est éloignée du dit syndicalisme
our research focused on the main resolutions from militant, doté d’un caractère de classes très clair,
Congress, assemblies, documents, and on studies pour aller vers des pratiques syndicales portant
that analyzed union practices over the last decades. essentiellement sur des négociations visant à élargir
les espaces de citoyenneté. Notre analyse est fondée
sur les principales résolutions prises au cours des
congrès, les sessions plénières, les documents et les
recherches qui ont étudié les pratiques syndicales
au cours des dernières décennies.

Keywords: Union practices. Union centers. New Mots-clés: Action syndicale. Fédérations
unionism. Negotiating unionism. CUT. Union Force syndicales. Nouveau syndicalisme. Syndicalisme
de négociation. CUT. Force Syndicale.

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015


Ricardo Antunes - Livre Docente em Sociologia (UNICAMP). Professor Titular de Sociologia do Trabalho
no Departamento de Sociologia e do Programa de Pósgraduação em Sociologia do IFCH/UNICAMP.
Tem experiência na área de sociologia, com ênfase em sociologia do trabalho e teoria social, atuando
principalmente nos seguintes: trabalho, ontologia do ser social, classes sociais, movimento operário
e sindicalismo.  Publicações recentes: Os Sentidos do Trabalho (São Paulo: Boitempo, 2013) reedição,
publicado também na Argentina, Itália, EUA, Inglaterra/Holanda, Portugal e Índia; Adeus ao Trabalho?
(São Paulo:Cortez, 2015), edição especial de 20 anos, publicado também na Argentina, Colômbia,
Venezuela, Espanha e Itália e Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil, vol, III (São Paulo: Boitempo),
entre outros livros. Coordena as Coleções Mundo do Trabalho (Boitempo) e Trabalho e Emancipação
(Expressão Popular).
Jair Batista da Silva - Doutor em Ciências Sociais (UNICAMP). Professor do Departamento e do
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais/UFBA. Pesquisador do CRH-Centro de Estudos e
Pesquisas em Humanidades/UFBA. Tem experiência na área de sociologia, com ênfase em sociologia do
trabalho e teoria social, atuando principalmente nos seguintes: sindicalismo, racismo, trabalho bancário,
teoria das classes sociais, marxismo e reconhecimento. Publicações recentes: Classes e lutas de classes:
novos questionamentos (co-autoria Henrique Amorim). (São Paulo: Annablume, 2015); A perversão da
experiência no trabalho (Salvador: EDUFBA, 2009).

527
PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? ...

ERRATA

Caderno CRH – Volume 28, Número 75, set./dez. 2015, p. 511-528, http://dx.doi.org/ 10.1590/S0103-49792015000300005
na página 511

onde se lia:

TRABALHADORES E SINDICALISMO NO BRASIL: para onde foram os sindicatos?

Leia-se:

“PARA ONDE FORAM OS SINDICATOS? Do sindicalismo de confronto ao sindicalismo negocial”

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792015000300019
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 75, p. 511-528, Set./Dez. 2015

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