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AS DOZE CHAVES DA
FILOSOFIA
(ALQUIMIA - ASTROLOGIA - MAGIA)
TRADUÇÃO DE:
ATTÍLIO CANCIAN
L. OREN
Editora e Distribuidora de Livros Ltda
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ÍNDICE
Retorno as Fontes das Artes Herméticas Tradicionais 04
Prefácio de Dom Basílio Valentin (da Ordem Beneditina) 06
A Grande Pedra dos Antigos Sábios 08
Explicação da Chave I 16
Primeira Chave
Explicação da Chave II 19
Segunda Chave
Explicação da Chave III 22
Terceira Chave
Explicação da Chave IV 24
Quarta Chave
Explicação da Chave V 27
Quinta Chave
Explicação da Chave VI 30
Sexta Chave
Explicação da Clave VII 32
Sétima Chave
Explicação da Chave VIII 35
Oitava Chave
Explicação da Chave IX 39
Nona Chave
Explicação da Chave X 42
Décima Chave
Explicação da Chave XI 45
Décima Primeira Chave
Explicação da Chave XII 47
Décima Segunda Chave
A Primeira Matéria da Pedra Filosófica 49
Breve Apêndice 50
A Explicação do Enxofre 52
Parecer sobre o Sol dos Filósofos 53
E por Fim 55
Adendo 55
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RETORNO AS FONTES DAS ARTES HERMÉTICAS TRADICIONAIS
O TRADUTOR
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PREFACIO DE DOM BASILIO VALENTIN DA ORDEM BENEDITINA
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A GRANDE PEDRA DOS ANTIGOS SÁBIOS DE
DOM BASILIO VALENTIN, DA ORDEM DE SÃO BENTO
Em meu prefácio, ó mui grande amigo apaixonado pela arte, dei-te a esperança
de ensinar-te, pelo estudo, e aos outros que ardem pelo mesmo fogo as propriedades
da natureza e, mais profundamente, aos pesquisadores, as artes, a pedra angular e o
rochedo, assim como foi-me outorgado do alto. Indicar-te-ei de que nossos antigos
Mestres confeccionaram sua Pedra que receberam do Altíssimo, com o objetivo de
utilizá-la para sua saúde e comodidade nesta vida terrestre. Em consequência, para
que eu satisfaça às minhas promessas e não te desencaminhe demasiado em desvios
por meio de erros sofísticos, mas fundamentalmente te descubra a fonte de todo
bem, é preciso que acolhas minhas palavras e bem as peses, se estás repleto do
desejo de conhecer as artes por este meio. Cônscio de que não posso ser de muita
loquacidade, pois esta não é minha intenção, e de que, desta forma, bem pouco pode
ser apreendido, contento-me com as breves palavras que encerram o fundamento do
objeto.
Sabe então que poucas são as pessoas que atingem a posse desta soberania,
embora um grande número esteja ocupado na elaboração da nossa Pedra. Em
verdade, se o Criador quis prodigalizar a verdadeira ciência e seu conhecimento não
comum, o fez apenas a alguns que condenam o engano, que têm carinho pela
verdade e buscam-na, designados para a arte, com um coração simples, e que, antes
de tudo, sem hipocrisia, amam a Deus e, por esta razão, a ele suplicam.
E por isso te digo: se verdadeiramente te esforças por fazer nossa grande e
antiga Pedra, atém-te a meu ensinamento e, acima de tudo, roga ao Criador de toda
criatura que te confira, para tanto, sua graça e sua bênção. Se pecas, confessa-te,
pratica o bem e, nessa intenção, medita; não sejas demasiado mau, porém virtuoso, a
fim de que teu coração seja esclarecido no sentido de tudo o que é bom. E recorda-
te, quando fores elevado às honras, de vir em auxílio aos pobres e indigentes, aliviá-
los de suas misérias e reconfortá-los com tua mão generosa, para que obtenhas uma
bênção maior do Senhor e adquiras teu lugar no céu graças à confirmação de tua fé.
Não desdenhes nem desprezes, ó meu amigo, os livros verídicos daqueles que
obtiveram a Pedra antes de nós, pois, após a revelação de Deus, é deles que a recebi.
E que esta leitura seja renovada, diversa e mui frequentemente, para que o
fundamento não desapareça e a verdade não seja extinta como seria uma lâmpada.
Ademais, não te esqueças de teu mui consciencioso afã no sentido de interrogar
sempre os escritos dos autores, e não tenhas o espírito volúvel, mas busca esta Pedra
determinada pela qual todos os Sábios concordam unanimemente. Pois o homem de
pensamentos inconstantes frequentemente não anda pela via e precipita-se sozinho
nos erros. As casas destinadas a durar muito tempo não são construídas pelos
homens de julgamento instável.
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Assim como nossa antiga Pedra não nasce de coisas combustíveis e ela própria,
submetida a ensaios por toda espécie de fogo, é protegida, consequentemente deixa
de procurá-la nas coisas em que, pela natureza, não é admissível que seja encontrada
ou ai resida; mesmo que a julgássemos obra vegetal, isto não pode ser, não obstante
uma certa vegetação nela existir.
Pois, nota que, se isso ocorresse com nossa Pedra, como com qualquer erva, ela
seria facilmente queimada e assim nada restaria a não ser um certo sal. E, se. bem
que os que me precederam tivessem escrito sobre diversas pedras vegetais, saibas,
contudo, meu amigo, que isso e fácil, embora para ti seja de concepção difícil. Com
efeito, nossa Pedra vegeta e cresce e por esta razão a qualificaram de vegetal.
Além disso, saibas que os animais não produzem nenhum acréscimo de sua
espécie a menos que seja feito por sua natureza semelhante, Por conseguinte, só tens
a Obra se procuras ou logo tomas a verdadeira pedra e, para confeccioná-la, somente
sua própria semente, da qual originalmente foi feita. Daí, percebe e compreende, meu
amigo, que não deves escolher o reino animal para a procura desta Obra. Como a,
carne e o sangue foram dados aos seres animados pelo Criador que os formou, e
assim que o animal foi feito. Mas nossa Pedra, que me foi transmitida como
herança pelos anciães, provém e nasce de duas e de uma coisa, que guardam uma
terceira escondida. Isto é a mais pura verdade, dita com toda lealdade. Pois o
marido e a mulher são tomados, pelos antigos como um só corpo, não
considerando-os pelo aspecto e pelo exterior, mas encarando-os cheios de amor e
penetrados pela graça desde a origem, reconhecendo-os como um, no trabalho da
natureza. Como por seus dois espermas podem perpetuar-se e aumentar a espécie,
assim o esperma da matéria, do qual nossa Pedra é feita, pode ser estendido e
enriquecido.
É por isso que agora, se és um verdadeiro amante de nossa arte, darás
importância a este ensinamento e o examinarás com sabedoria e não farás coro
com os outros cegos sofistas: e assim não cairás na sepultura, preparada pelo
inimigo.
Por outro lado, para que saibas meu amigo, donde provém essa semente,
procura em ti mesmo com que objetivo empreendes a elaboração de nossa Pedra.
Então descobrirás claramente que não é de outra coisa senão duma certa raiz
metálica, da qual o Criador determinou que os metais fossem produzidos. Nota
como isto se processa e se realiza.
No princípio, quando o espírito pairava sobre as águas e todas as coisas
estavam envoltas em trevas, então Deus, todo poderoso e eterno, cujo começo não
tem fim e a quem a sabedoria pertenceu desde toda a eternidade, em seus
imperscrutáveis desígnios do nada criou o céu e a terra e todas as coisas que neles
se estendem, visíveis e invisíveis, de qualquer maneira que sejam denominadas.
Com efeito, Deus fez todas as coisas do nada. Mas como conseguiu esta criação
preciosíssima? Sobre este ponto não filosofarei, pois a respeito decidem os escritos
sagrados e a fé.
Numa semelhante criação, o Criador, para toda e qualquer natureza, não
visava nem a destruição nem a diminuição; colocou aí uma semente particular, a
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fim de que ela aumentasse e conservasse os homens, os seres animados, as ervas e
os metais. Por ser contrário à ordem de Deus, não foi permitido ao homem
produzir uma nova semente segundo seu capricho, mas, pelo menos, foram-lhe
concedidas a sua propagação e crescimento. Em verdade, o Criador quis reservar
apenas para si a faculdade de criar a semente. Doutra forma, seria possível ao
homem agir como o Criador; o que não pode ser e permanece reservado à
Onipotência do Altíssimo.
Agora quero que saibas que esta semente é produzida dos metais da seguinte
maneira: a influência celeste, por mando e ordem de Deus, desce do alto e mistura-
se com as propriedades dos astros. Quando, em seguida, esta conjunção se realiza,
então essas duas fazem nascer uma substância terrestre, de certa forma terceira, a
qual é o princípio de nossa semente, de sua primeira origem pela qual ela possa
indicar os ancestrais de sua geração. Destes três nascem e aparecem os elementos,
como a água, o ar e a terra, os quais, depois, pelo fogo subterrâneo, se aprimoram
até produzir algo perfeito. Eis a razão por que Hermes e todos os anteriores a mim -
porque, além do mais, nada podemos encontrar no começo do magistério -
designaram três princípios primeiros; que foram descobertos como sendo: a alma do
interior, o espírito impalpável e a essência corporal visível.
Enquanto essas três substâncias coabitam - por sua união, pelo passar do tempo
e Vulcano - elas também progridem em substância palpável, como seja em mercúrio,
enxofre e sal, os quais são levados pela mistura a seu endurecimento e coagulação,
pelo trabalho constante da natureza e produzem um corpo perfeito do qual a
semente é escolhida e ordenada pelo Criador. A ti, além do mais, que ousas procurar
a fonte de nossa Obra e esperas obter o preço da Cavalaria da arte, num desejado
combate, declaro-te, pelo eterno Criador, que esta é a verdade de toda verdade:
Que, se a alma, o espírito e a forma metálicas estão presentes, aí também devem se
encontrar o mercúrio o enxofre e o sal metálicos, os quais. necessariamente, não
podem fornecer nada além de um só corpo perfeito.
Se, todavia, não queres compreender o que convém que entendas, não serás
designado pela Filosofia ou então Deus a distanciará de ti.
Digo-te pois, brevemente, que não te deve ser possível chegar ao alvo com
proveito, na forma metálica, se não conjugares, em um, só e sem engano, os três
princípios mencionados. Agora então compreendes que os animais da terra, assim
como o homem, são compostos de carne e de sangue e que têm, como ele, um
espírito que vivifica e um sopro neles introduzidos, mas são privados da alma
racional, da qual o homem é provido acima de todos os seres viventes. Assim, logo
que as bestas brutas passam da vida à morte, nada se exala delas, na esperança de
que permaneçam na eternidade. Mas se o homem, no momento da morte material,
submete sua existência a seu Criador, ele vive pela alma, que permanece, e com a
qual ele será glorificado. Retornando a seu corpo glorificado a alma aí habitará de
modo que estejam juntos reunidos e que tenham a força de mostrar sua celeste
glorificação, o corpo, a alma e o espírito que não poderão ser separados jamais, por
toda a eternidade.
Eis porque o homem, por sua alma racional, é encarado como uma criatura fixa,
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embora morra, considerado exteriormente, visto que será vitorioso na eternidade.
Com efeito, a morte do homem é unicamente sua glorificação, de tal maneira que,
por certos graus ordenados por Deus para os culpados, ele seja liberto do pecado e
transportado a um lugar melhor, que não cabe às bestas irracionais. Estas, por outra
razão, não são consideradas criaturas fixas. Seguramente, depois de sua morte, não
poderão gozar da ressurreição, por que lhes falta alma racional, pela qual o único e
verdadeiro Mediador, Filho de Deus, supliciado, derramou seu sangue.
Na verdade, o espírito pode permanecer num corpo e nem por isso segui-lo,
devendo este corpo ser fixo, se bem que o corpo se compraza com o espírito e o
espírito não esteja de nenhum modo em luta com o corpo. De fato, estão desprovidos
um e outro desta alma forte, preciosíssima, nobre e fixa, que coordena e reforça o
corpo e o espírito, os mantém e defende naturalmente diante de todos os perigos.
Pois onde a alma não existe interiormente, aí nenhuma esperança de redenção
subsiste. É que a coisa sem alma é imperfeita; e isso é um dos maiores segredos que
convém que o sábio aplicado à pesquisa da Obra saiba. E sobretudo minha
consciência não tolerou aqui silenciar, mas desejou descobri-lo àqueles que amam o
fundamento de toda sabedoria. Sê então diligentemente atento a meu tratado: os
espíritos que se escondem nos metais são diferentes, um mais volátil ou mais fixo que
o outro, assim como sua alma e seus corpos são desiguais. Qualquer que seja o metal
que contenha, reunidos, os três dons da fixidez, esse metal compartilha dessa
resistência, pela qual pode suportar o fogo e triunfar de todos os seus inimigos. E isto
é manifestado unicamente no sol. A lua possui em si um mercúrio fixo e, por esta
razão, não se evola tão rápido no fogo como os outros metais imperfeitos, mas
suporta a prova e o demonstra mais claramente, por sua vitória, quando o
voracíssimo Saturno dela não consegue tirar nenhum proveito.
Vênus, muito dada ao amor, está cheia e vestida de superabundante cor. Todo
seu corpo é quase pura tintura, que não parece diferente, quanto à cor, daquela que
está no mais opulento dos metais e que, por causa da riqueza desta cor, se intensifica
em vermelho. Mas por ser seu corpo leproso, esta tintura não pode permanecer
encerrada nesse corpo imperfeito e assim é constrangida a perecer com ele. Com
efeito, quando o corpo é aniquilidado pela morte, a alma não pode permanecer e é
obrigada a separar-se e se evolar, porque sua morada foi destruída e consumida pelo
fogo. Não pode ficar onde não encontra lugar. Pelo contrário, ela habita
voluntariamente e com constância, num corpo fixo.
O sal fixo deu ao belicoso Marte um corpo sólido, rude e firme, pelo qual é
manifestada sua magnanimidade d'alma e nada, com esforço, pode ser levado deste
chefe guerreiro. Seu corpo, com efeito, é neste particular tão compacto que
dificilmente pode ser ferido. Mas se sua potente virtude é unida espiritualmente, por
mistura e concordância, com a fixidez da Lua e com a beleza de Vênus, uma assaz
doce Música pode mesmo ser destacada, pela qual algumas claves sejam julgadas
dignas da recompensa daquele que está privado de pão e que, tendo subido ao
degrau mais alto da escada, poderá particularmente subsistir. Pois a qualidade
fleumática e a natureza úmida da Lua devem ser dissecadas com o sangue ardente de
Vênus e seu grande negrume corrigido pelo sal de Marte.
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Mas não é necessário procurar tua semente nos elementos. É que nosso esperma
não está assim tão distanciado, pois fica próximo ao lugar em que nossa semente
tem sua estada estável e sua habitação. Só chegarás a ela se retificares o mercúrio,
o enxofre e o sal (bem entendido: dos filósofos) e se de sua alma, seu espírito e
seu corpo fizeres uma certa conjunção inseparável, a qual, em contrapartida, por
toda a eternidade, não será rompida nem poderá ser desligada. Agora é
perfeitamente assegurado o elo de amor e também preparada no alto a morada
idônea da coroação.
E quero que saibas, também, que isso nada mais é do que a chave líquida que
deve ser comparada à propriedade celeste, e a água seca adicionada à substância
terrestre, as quais são todas uma só coisa nascida e originária de três, de duas e de
uma. Se tens a força de aí chegar, és vitorioso e tens o Magistério. Então une um
ao outro, a noiva e o noivo, a fim de que se nutram e cresçam de sua carne e de
seu sangue e, por sua semente, se propaguem ao infinito.
Mesmo que por afeição revelasse mais o Criador o proibiria. Por
consequência, não me convirá falar mais claramente, para que o dom do Altíssimo
não acarrete o abuso e também para que eu não me constitua em causa de
numerosos crimes que se cometeriam e, desta maneira, não atraia sobre mim a
cólera divina e não seja lançado, como os outros, nas penas eternas.
Mas, meu amigo, se isso não te é de compreensão suficientemente clara,
ensinar-te-ei minha prática, como consegui, com a ajuda de Deus, esta Pedra dos
Antigos. Que examines e consideres com cuidado minhas Doze Chaves pela leitura
atenta, frequente e repetida e procedas como te instruo e te ensino de maneira
figurada e fundamental.
Torna um fragmento de excelente e fino ouro e divide-o por aquele meio que
a natureza doou aos homens apaixonados pela arte, como o anatomista recorta o
cadáver humano e com isso estuda o interior do corpo, e faze com que teu ouro
retrograde ao que havia sido antes. Aí então encontrarás tua semente, o começo,
o meio e o fim de onde nosso ouro e sua esposa foram feitos: de um penetrante,
sutil e puro espírito de uma alma delicada, pura e sem macula bem como, de sal e
bálsamo astrais, os quais, após sua união, não passam de um licor mercurial.
Esta mesma água foi levada à academia de seu próprio Deus Mercúrio que a
examinou e, quando a reconheceu legítima e sem excessos, associou-se à sua
amizade e uniu-se a ela em matrimônio. E assim, da união de ambos foi feito um
óleo incombustível. Mercúrio tornou-se tão orgulhoso que a custo reconhecia-se a
si mesmo. Rejeitou suas asas aquilinas, devorou sua própria cauda escorregadia de
dragão e provocou Marte para o combate.
Marte reuniu então seus cavaleiros e deu ordens para que se aprisionasse
Mercúrio, a quem Vulcano fora designado como guardião, até que fosse libertado
pelo sexo feminino.
Tendo-se propagado tais fatos por toda parte pela voz do povo, os outros
planetas também se reuniram e, por sessão do conselho, discutiram que atitude
assumiriam mais tarde, a fim de se proceder sabiamente. Então Saturno, o primeiro
na ordem, com um discurso mais inflamado, começou a falar da seguinte maneira:
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Eu, Saturno, o mais alto dos planetas no firmamento, aqui declaro, diante de
vós todos, Senhores, que sou dentre vós o mais inútil e desprezível, de corpo débil
e corruptível, de cor negra, submetido aos ultrajes de numerosos tormentos neste
vale das misérias e, no entanto, apreciador de todos vós. De fato, não tenho
morada permanente e comigo levo meu semelhante. A causa de minha
adversidade não deve ser atribuída a ninguém, senão ao inconstante Mercúrio que,
por sua indiferença e negligência, me inflige este mal. Eis porque a todos vós rogo
vingar-vos dele por minha infelicidade e, como já está aprisionado, matá-lo e retê-
lo até a putrefação, e que nele não seja deixada uma gota de sangue.
Logo que Saturno concluiu seu discurso, eis que se adianta o sombrio Júpiter.
Começa por uma flexão dos joelhos e, com uma singular reverência do cetro e
louvando o pedido de seu colega Saturno, acrescenta que todos os que não
auxiliarem no cumprimento dessas resoluções, serão perseguidos. E foi assim que
perorou o seu discurso.
Em seguida, adiantou-se com sua espada desembainhada, admiravelmente
diversificada de cores, assemelhando-se a um espelho inflamado, brilhante de raios
extraordinários dirigidos para todos os lados, entregou a espada ao carcereiro
Vulcano, a fim de que cumprisse essas coisas ordenadas pelos Senhores e que,
após ter morto Mercúrio, lhe consumisse os ossos pelo fogo: no que Vulcano, como
executor, mostrou-se dócil.
Enquanto o carrasco cumpria seu ofício, chegou uma mulher, bela e
resplendente de brancura, vestindo uma longa indumentária de cor prateada e
cravejada de numerosas pedras preciosas, a qual foi reconhecida como sendo a
Lua, esposa do Sol. Esta prosternou-se e rogou, pedindo com muitas lágrimas e
gemidos que o Sol fosse livrado da prisão em que houvera sido lançado, com
violência e perfídia, pelo artifício e poder de Mercúrio e onde, até então, estivera
retido por ordem dos outros planetas. Mas Vulcano recusou absolutamente e,
perseverando em seu ofício, procedeu com zelo à execução da sentença lavrada,
até que enfim a rainha Vênus chegou, numa veste vermelha brilhante, brocada de
verde, mui formosa de rosto, linguagem desenvolta e agradável, porte
extremamente grácil, carregando nas mãos as mais olorosas flores que, pelo
aspecto e admirável diversidade de cores, reconfortavam e encantavam os olhos
humanos. Apelou em língua caldaica junto ao justiceiro Vulcano pela libertação e
recordou-lhe o futuro resgate pelo sexo feminino. Mas os ouvidos de Vulcano
permaneceram fechados.
Enquanto ambos assim se entretinham, abriu-se o céu e surgiu um potente
animal, com numerosos milhares de filhotes, perseguindo e atingindo o justiceiro.
Abriu largamente sua goela e devorou a preciosíssima Vênus sua protetora,
gritando, ao mesmo tempo, com voz penetrante: Nasci das mulheres, que
propagaram abundantemente meu sêmen, com que enriqueceram a terra. Sua alma
esteve unida à minha e eis porque me nutrirei e saciar-me-ei de seu sangue. Assim
que falou tudo isso com vigor o animal dirigiu-se para certa caverna e aferrolhou a
porta atrás de si. Ora, todos os filhotes por ordem o seguiram e tiveram excelente
alimento que jamais haviam recebido. Beberam excelente óleo incombustível;
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digeriram facilmente os alimentos e a bebida e tornaram-se muito mais numerosos
do que antes. E isto se produziu até que os pequeninos tivessem preenchido todo o
mundo.
Enquanto esses acontecimentos se desenrolavam, numerosos homens deste
país, sábios e experimentados na ciência por um longo estudo, se reuniam e
esforçavam-se por encontrar uma explicação para todos esses fatos e todas essas
palavras, para o que fizeram uso da maior compreensão e da parte melhor de tudo.
Mas nenhum deles conseguiu chegar a uma conclusão. Efetivamente, não
chegavam a um ponto de vista comum, até que foi visto adiantar-se um homem de
avançada idade, barba e cabelos brancos como a neve, vestido de púrpura da
cabeça aos pés. Levava sobre a cabeça uma coroa, na qual brilhava um
preciosíssimo escarbúnculo. Pelo meio do corpo, cingia-o um cordão. Caminhava
com os pés descalços e exprimia-se por singular espírito que nele se ocultava, e sua
linguagem penetrava o recôndito de seu corpo, sendo sentido até pelo alento de
seu coração. De elevada estatura, exortava os povos reunidos a que guardassem
silêncio e o escutassem atentamente. Estava ali enviado do alto para que lhes
franqueasse as sobreditas alegorias e as desvendasse por fala filosófica.
E como, no momento, todos se mantivessem quietos, começou desta maneira:
Desperta, ó homem, e contempla a luz, que as trevas não te seduzam! Os
Deuses da fortuna e os Deuses superiores instruíram-me por intermédio de
profundo sono. Como é feliz o homem que reconhece os Deuses! Que portentosas
maravilhas operam! Feliz daquele cujos olhos estão abertos, de modo que veja a luz
que outrora lhe estivera escondida!
Os Deuses deram duas estrelas ao homem para conduzi-lo para a grande
sabedoria; obser-va-as, ó homem! e segue com constância seu clarão, pois que
nelas está a sabedoria.
Fênix, pássaro do sul, arranca o coração do peito de um forte animal do
oriente.
Dá asas ao animal do oriente, como àquele do sul, para que se assemelhem.
Pois o animal do oriente deve ser despojado de sua pele de leão e perder suas asas.
Nesse momento entram juntos no grande mar agitado do oceano e, de novo, saem
com a beleza. Mergulha teus espíritos instáveis numa profunda fonte, cuja água
jamais falta, a fim de que se tornem semelhantes à sua mãe, que se acha ali
escondida e que de três veio ao mundo.
A Hungria, primeiramente, engendrou-me; o céu e os astros entretêm-me e
mesmo a terra me abriga. Se bem que esteja constrangido a morrer e ser
enterrado, todavia, Vulcano, em segundo lugar, faz-me nascer. Eis porque a
Hungria é minha pátria; e minha mãe encerra todo o mundo.
Como todos os presentes entendessem estas coisas, continuou:
Faze com que o que está no alto esteja em baixo; o que é visível, invisível; o
palpável, impalpável, e, novamente, faze com que do que está em baixo seja feito
o que está no alto; do invisível, o visível; do impalpável, o palpável. Essa é toda
arte interiormente perfeita, sem falta nem omissão, na qual habitam a morte e a
vida, a destruição e a ressurreição. É uma esfera redonda pela qual a Deusa da
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fortuna impele seu carro e dispensa aos homens de Deus o dom da Sabedoria; por
outro lado, por seu próprio nome, segundo a concepção terrestre, ela é chamada
todas as coisas em todas. Acima das coisas eternas, este árbitro e juiz se mostra o
mais elevado.
Quem quer que deseje saber o que significa todas as coisas em todas, na
terra, que faça enormes asas, bem reforçadas, a fim de que se elevem sozinhos e,
voando pelo ar, se ergam à mais alta região do céu superior. Queime então suas
asas por um fogo muito vivo, a fim de que a terra precipitada caia no mar
vermelho e aí seja engolfada. E, pelo fogo e pelo ar, disseque a água para que haja
de novo terra. Então, digo-te, é que tens todas as coisas em todas as coisas.
Se isso não puderes encontrar, investiga em ti mesmo e considera tudo ao teu
redor, tudo o que existe no mundo. Então encontrarás todas as coisas em todas as
coisas, o que é uma força atrativa de todas as forças metálicas e minerais nascidas
do sal e do enxofre e duas vezes engendradas do mercúrio. Não me convirá, digo-
te, expor desde já o que é tudo em tudo, visto que tudo está compreendido em
tudo.
A estas palavras, ainda ajuntou: Ó homens meus amigos, assim, pela instrução
de minha voz, tendes percebido a ciência, sobre como deveis encontrar a grande
Pedra dos antigos Filósofos, que cura os metais leprosos e imperfeitos, fornece-
lhes uma nova geração, conserva os homens na saúde e condu-los a uma grande
duração. Por sua celestial força e efeito, ela protegeu-me até o presente, de modo
que, cansado desta vida, por minha vontade, desejo morrer.
Deus, por sua graça e sua ciência com as quais há muito me gratificou com
indulgência, deve ser louvado por todos os séculos. Amém.
E, incontinenti, desapareceu a seus olhos. Terminado o discurso, um a um se
retiraram, para os lugares de onde vieram, refletindo e trabalhando dia e noite por
esse intento, segundo o que a bondade natural havia dado a cada um, etc.
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Seguem-se agora as Doze Chaves de Dom Basílio Valentin da Ordem Beneditina
Explicação da Chave I
PRIMEIRA CHAVE
Sabe, meu amigo, que tudo o que é impuro e contaminado não convém à
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nossa obra, para a qual, realmente, sua lepra não será de nenhuma valia; ora, o
bom é impelido pelo impuro.
Todas as mercadorias que se vendem, retiradas das minas, valem cada uma o
seu preço, mas, quando falsificadas, tornam-se impróprias. Estão verdadeiramente
alteradas sob um falso brilho, e não são mais, como antes, convenientes àquela
obra.
E como o médico, por meio de seus medicamentos, purga e limpa o interior do
corpo, donde expulsa as impurezas, assim os nossos corpos devem ser lavados e
purgados de toda sua impureza, a fim de que, em nossa geração, a perfeição possa
ser atingida. Nossos Mestres buscam um corpo puro e sem mancha que não seja
alterado por nenhuma sujeira ou outra mistura: Com efeito, a adição de coisas
estranhas é a lepra de nossos metais.
Que o diadema do rei seja de ouro puro e que a casta noiva a ele se una em
casamento.
Eis porque, se desejas trabalhar por nossos corpos, toma o Lobo cinzento
avidíssimo que, pelo exame de seu nome, está sujeito ao belicoso Marte, mas, por
sua raça de nascença, é filho do velho Saturno que, nos vales e montanhas do
mundo, é presa da mais violenta fome. A esse mesmo Lobo, atira o corpo do Rei, a
fim de que aquele receba sua nutrição, e, quando tiver devorado o Rei, faze um
grande fogo, atirando nele o Lobo, para consumi-lo inteiramente; e então o Rei será
libertado. Quando isto tiver sido feito três vezes, o Leão terá triunfado sobre o Lobo,
e este nada mais encontrará para devorar naquele. E assim nosso corpo está bom
para o início de nossa Obra.
E saibas que esta via é a única direta e real para a purga de nossos corpos. Pois o
Leão se purifica pelo sangue do Lobo e, da tintura desse sangue, contenta-se
surpreendentemente a tintura do Leão, visto que os sangues dos dois são
mutuamente unidos por uma certa afinidade de parentesco.
Saciado o Leão, seu espírito se torna mais - forte do que antes e seus olhos,
equivalentes ao Sol, iluminam com grande fulgor, e sua natureza interior, sobretudo,
é mais forte e útil para tudo o que é pesquisado. E quando estiver assim preparado,
os filhos dos homens, atormentados pela epilepsia e pelas outras mais graves
afecções, render-lhe-ão graças. Os dez homens leprosos o seguem, desejando beber-
lhe o sangue e a alma, e todos os atingidos pela doença são profundamente
reconfortados em seu espírito.
Todo aquele que beber desta fonte de ouro sente a renovação de sua natureza,
a supressão do mal, o reconforto do sangue, o fortalecimento do coração e a
perfeita saúde de todas as partes compreendidas no corpo, seja interior, seja
exteriormente. Ela abre, em verdade, os nervos e os poros, a fim de que a
enfermidade possa ser expulsa e que a saúde, pacificamente a substitua.
Mas, meu amigo, prevê diligentemente; de forma que a fonte da vida seja
encontrada pura e clara. Nenhuma água estranha deve ser misturada à nossa fonte,
sem que se obtenha um aborto e que do, salutar peixe nasça a serpente. Igualmente,
se por qualquer acidez intermediária que se houver adicionado, nosso corpo se tiver
dissolvido, faze com que todo corrosivo seja removido. Nenhuma acidez é útil para
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combater as doenças interiores, pois que penetra com destruição violenta e assim
engendra ainda mais doenças. Que nossa fonte seja sem veneno, embora o veneno
deva ser retirado pelo veneno.
Quando uma árvore dá frutos malsãos e desagradáveis, ela é separada perto do
tronco e sobre este tronco se enxerta outra espécie de fruto. Então o enxerto une-se
ao tronco, de modo que, deste e da raiz, com seu novo ramo, desenvolva-se uma
boa árvore que, seguindo a vontade de seu enxertador, dará frutos sãos e
agradáveis.
O Rei percorre seis cidades no firmamento celeste e fixa sua moradia na sétima,
pois o palácio dos reis, nesse lugar, é ornado de um tapete de ouro.
Se agora compreendes o que digo, então abriste, com esta chave, a primeira
porta e franqueaste o obstáculo do ferrolho. Porque, se ainda não percebes a luz de
minhas palavras, não há óculos de vidro que te discernirão nem olhos naturais que
te auxiliarão, para que encontres no fim o que olvidaste de início. De resto, não mais
falarei sobre esta chave, segundo o que me ensinou Lucius Papirius.
18
Explicação da Chave II
Imagem expressiva da Noiva da Grande Obra, representada por um efebo nu,
com asas e coroado, que é o jovem Mercúrio e o pequeno rei, de acordo com o que
testemunham os dois caducens onde a varinha substitui o cetro soberano. Ele nasce
do sol e da lua dos filósofos, por quem se batem os dois esgrimidores e, graças a
estes aumentam sua beleza e pureza. Perdendo porém em volatilidade com as fezes
heterogêneas. É o que exprimem as asas maiores abandonadas e estendidas no
chão.
SEGUNDA CHAVE
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Explicação da Chave III
TERCEIRA CHAVE
O fogo pode ser extinto e completamente destruído pela água. Se muita água é
derramada sobre um pequeno fogo, então este é constrangido a ceder àquela e a
ceder-lhe a soberania da vitória. Assim nosso enxofre ígneo, pela água preparada
segundo a arte, deve ser sobrepujado e vencido, de modo que, após a separação
da água, a vida ígnea de nosso vapor sulfuroso triunfe e, de novo, alcance a vitória.
Por outro lado, neste desenho, nenhum triunfo pode ser atingido sem que o Rei
22
tenha adicionado, à sua água, sua natureza enérgica e sua força, e sem que lhe
tenha cedido a chave de sua própria cor. A um tal ponto que seja destruído por ela
e se torne invisível; mas por essa transformação, deve tornar sua forma visível,
muito embora com diminuição de sua essência natural e aperfeiçoamento de seu
corpo.
Um pintor pode sobrepor o amarelo ao branco, o vermelho ao amarelo e,
certamente, a cor púrpura, e assim por diante, tantas vezes quantas quiser, até que
sejam reunidas todas as cores e que, não obstante, a última apresente a mais alta
tonalidade. Assim também deve ser em nosso Magistério. E assim que isso for
feito, tens diante dos olhos a luz de toda sabedoria, a qual brilha nas trevas,
embora ela não queime. Pois, nosso enxofre não se consome, porém, ilumina, por
muito tempo e ao longe; e nada colore, a menos que seja preparado e tinto por sua
cor, pela qual em seguida tem a força de tingir os metais fracos e imperfeitos. Ora,
não é permitido a esse enxofre colorir, se esta cor não lhe for dada com a maior
perseverança. Pois o mais fraco não pode exaltar-se, mas o mais forte conserva a
superioridade sobre o mesquinho e o débil é forçado a ceder ao robusto. Por esta
razão e em favor deste discurso, retém o sentido e a conclusão seguinte: que o
pequeno não pode vir em socorro de um outro pequeno nem trazer-lhe assistência
no trabalho. Uma coisa combustível não pode defender outro combustível, sem ser
ela mesma queimada. Se um protetor deve intervir, que traga socorro ao
combustível e o assista, então o próprio protetor terá mais força do que aquele
cuja defesa compreende. Antes de tudo, mostra-se obrigatoriamente
incombustível em sua essência. Ademais, aquele que quiser preparar nosso enxofre
incombustível de todos os sábios que pondere, a fim de que procure nosso enxofre
no próprio enxofre em que se encontra incombustivelmente, isto não pode ser
realizado sem que o mar salgado lhe tenha engolido o corpo e, de novo o tenha
rejeitado de seu seio. Em seguida, eleva esse corpo em graus, a fim que supere em
muito por seu brilho, todas as outras estrelas do céu e para que em sua natureza,
regurgite sangue, assemelhando-se ao pelicano que ao ferir-se no peito não
enfraquece seu corpo, para que, possa, com seu sangue, nutrir e criar numerosos
filhotes. É a Rosa de nossos Mestres, de cor purpúrea e o sangue vermelho do
dragão, descritos por numerosos autores; e alem do mais, o manto de púrpura
extremamente folheado de nossa arte, com o qual a Rainha de saúde se cobre e
com o qual todos os metais pobres, pelo calor, podem ser enriquecidos.
Conserva bem esse manto honorífico, juntamente com o sal astral, que segue
este enxofre celeste. Que nada de funesto lhe ocorra e faça-o voar como o pássaro,
enquanto precisar. Então o galo devorará a raposa, em seguida perderá a
respiração na água e, ressuscitado pelo fogo será por sua vez devorado pela
raposa, a fim de que o semelhante seja restituído ao semelhante.
23
Explicação da Chave IV
Este esqueleto, em pé em cima do esquife e com uma vela acesa ao lado, tem
aqui um significado mais nitidamente alquimista.
O estrume, oriundo de excrementos orgânicos, fornece à terra os elementos
nutritivos indispensáveis ao desenvolvimento e crescimento dos vegetais. Da mesma
forma, o enxofre e o mercúrio, em nossa «agricultura», precisam de substâncias que
lhe proporcionam um auxílio eficaz.
Estes agentes vitais e nutridores, introduzidos pela arte, tendem
necessariamente a impelir as matérias para que entrem em contato com fins à
corrupção, para que se verifique o axioma hermético: Corruptio unius est generatio
alterius. É assim que nosso estrume se forma, pela decomposição dos elementos
procriadores da semeadura, e se manifesta este calor interno ou fogo natural, que
desprende toda fermentação e que simboliza, em nossa chave, a vela acesa.
QUARTA CHAVE
Toda carne nascida da terra será destruída e, de novo, devolvida à terra; como
antes foi terra, agora o sal terrestre dá uma nova geração pelo sopro de vida
celeste. Onde, com efeito, não havia terra previamente, aí não pode seguir-se a
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ressurreição em nossa obra. Pois na terra está o bálsamo da natureza e o sal
daqueles que buscam o conhecimento de todas as coisas.
Em seu último julgamento pelo fogo, o mundo será julgado, para que aquilo
que foi primitivamente feito do nada pelo Mestre, inversamente seja reduzido pelo
fogo a cinza da qual, enfim, a fênix criará seus pequeninos. Analogamente, na cinza
está oculto o tártaro verdadeiro e natural que deve ser dissolvido. Após a dissolução
desse tártaro, a potente fechadura do apartamento do Rei pode ser aberta.
Após a combustão serão formados um novo céu e uma nova terra e um novo
homem aparecerá muito mais brilhante do que qualquer que tenha antes vivido, no
primeiro mundo, e que será glorificado.
Quando a cinza e a areia estão perfeitamente preparadas e purgadas pelo fogo,
então o vidreiro fabrica o vidro que, depois sempre resiste ao fogo e que, também
de cor semelhante à pedra preciosa, não é mais reconhecido como cinza. Isto é,
para o ignorante, um grande mistério, mas não para o sapiente que, pela ciência e
pela reiterada prática, é mestre do processo operatório.
Com pedras e fogo, o artesão também prepara a cal, para que seja adequada
ao trabalho; mas, antes de ser preparada pelo fogo, ela é pedra e, como cal, não
pode ser aplicada ao trabalho. O fogo nutre esta pedra e, pelo fogo, aumenta
consideravelmente seu grau de calor até que se fortaleça e, pelo espírito ígneo da
cal, seja conduzida à sua perfeição, nada havendo que lhe possa ser comparada.
Se algo é reduzido a cinzas e tratado segundo a arte, por si mesmo libera seu
sal. Conquanto na dissecção desse sal, possas guardar separadamente o enxofre e
o mercúrio, e de novo restituí-los a seu sal, consoante a exigência da arte, esse sal
poderá agora voltar, com benefício ao fogo, ao que era antes de sua destruição e
dissecação. Os sábios deste mundo consideram isto insensatez e vaidade,
chamando-o uma nova criação, a que não é vedada ao pecador diante de Deus.
Não compreendem que já havia uma criação anterior a isso e que o artista, pelo
menos, mostrou sua qualidade de mestre, pela semeadura natural e seu
crescimento.
Um artista qualquer que não tenha a cinza, não pode confeccionar o sal por
nossa arte. É que, como o sal, nossa obra corpórea não pode ser elaborada
porque unicamente o sal opera a coagulação de todas as coisas.
Como o sal é o sustentáculo de tudo e a tudo protege contra a putrefação,
assim o sal de nossos Mestres defende os metais para que não sejam inteiramente
aniquilados e destruídos sem que, por meio dele, algo de novo nasça, a menos que
se perca seu potente bálsamo e que carente de corpo, desapareça o espírito do sal
da natureza. Neste caso, o corpo estaria completamente morto e nada poderia
dele ser tirado com proveito, porque os espíritos metálicos teriam desaparecido e
deixado a casa vazia e nua, por sua morte natural, na qual nenhuma vida jamais se
reanimaria.
Também nota, estudante da arte, que o sal extraído da cinza se apresenta
mais forte e encerra numerosas virtudes. Não obstante o sal será inútil, se suas
entranhas mais profundas não forem descobertas e se seu exterior não for
impelido para o centro. Pois o espírito é o único que da as forças e a vida; por
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outro lado o corpo despojado nada fornece. Quando chegares a reconhecer isso,
terás o sal dos Filósofos e o óleo mui verdadeiramente incombustível sobre os
quais antes de mim apareceram tantos livros.
Embora sábios, os mais numerosos
Me houvessem procurado, meticulosos,
Poucos, entretanto, consideraram
Com cuidado, minhas forças secretas.
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Explicação da Chave V
O leão, cuja cabeça está encimada por uma coroa e pelo sol, simboliza o ouro
filosófico e manifesta sua avidez pelo líquido da enorme retorta sustentada por
uma jovem alegre. Ele estende sua pata de unhas abertas em direção ao recipiente,
cujo interior escuro, nos faz entender que seu conteúdo aquoso é recolhido de
noite.
QUINTA CHAVE
A força vivificante da terra produz todas as coisas, que dela nascem; e quem
dissesse que a terra é privada de vida, contraria decididamente a verdade.
Realmente, um corpo morto não pode dar nada a outro que está vivo, pois ele
carece do crescimento, porque o espírito de vida evolou-se. Por esta razão, o espírito
é a vida e a alma da terra, que nela habita e age, no terrestre por força do celeste e
do astral. Pois, todas as árvores, ervas e raízes, assim como todos os metais e
minerais, recebem suas forças, sua nutrição e crescimento do espírito da terra,
porque o espírito, que é a vida, é alimentado pelos astros e em seguida provê seu
alimento a tudo o que vegeta. Como a mãe abriga a criança em seu ventre e o nutre
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de si mesma, assim a terra, por seu espírito recebido do alto, guarda vivos os
minerais enterrados em seu seio.
Não é a terra que dá tais forças por si mesma, mas o espírito vivificante que
existe nela; e, se a terra fosse abandonada por seu espírito, ela seria morta e não
ofereceria alimento, bem como faltaria o seu espírito que, pelo enxofre ou pelo
adubo, conserva a força vivificante e garante todo crescimento pela nutrição.
Dois espíritos opostos podem permanecer reunidos, mas não se harmonizam
facilmente. Efetivamente, quando a pólvora é inflamada, esses dois espíritos, de
que a pólvora se compõe, separam-se com grande fragor e violência e voam pelos
ares de tal forma que ninguém pode distinguir ou dizer para onde foram ou em que
se transformam, exceto se se sabe pela experiência que espíritos eram e em que
matéria se encontravam.
De tais coisas sabes, meu amigo apaixonado pela arte, que a vida é
unicamente verdadeiro espírito e que, por consequência, tudo o que o vulgar
ignorante estima estar morto, em contrapartida deve ser levado a uma vida
incompreensível, visível e espiritual e nesta ser conservado. Destarte, caso a vida
deva trabalhar, esses espíritos se nutrem e desenvolvem pelo céu e são oriundos
de substância celeste, elementar e terrestre, a qual é chamada matéria informe.
Como o ferro tem seu ímã, que o atrai por um amor invisível e maravilhoso,
nosso ouro possui também um ímã que é a matéria prima de nossa grande Pedra;
se me compreendes estas palavras, és rico e feliz em comparação a todos.
Apresentar-te-ei, além disso, um exemplo, neste capítulo, com um homem que
observa, num espelho, a reflexão de sua imagem. Se a ela aproximar as mãos, nada
tocará, senão o espelho no qual se mira. Assim também, desta matéria deve ser
tirado o espírito visível que, no entanto, é inatingível. Este mesmo espírito digo eu,
é a raiz da vida de nossos corpos, e o Mercúrio dos Filósofos, de onde, em nossa
arte, se prepara a água licorosa que de novo deves tornar material em sua
composição e, por certos meios elevar do mais baixo grau ao mais alto, no estado de
perfeitíssima Medicina. Nosso início é um corpo tangível e estável; o meio, um
espírito fugitivo e uma água de ouro isenta de toda transformação, da qual nossos
Mestres recebem sua vida; o fim é a mui fixa Medicina dos corpos humanos e
metálicos, que foi dado conhecer antes aos anjos que aos homens. Pode acontecer
que certos homens adquiram a Medicina desta maneira; obtêm-no certamente de
Deus por eficazes preces do coração e mostram-se reconhecidos a Ele mesmo e aos
pobres.
Como conclusão destas coisas, digo-te, com absoluta certeza, que um trabalho
nasce de um outro. Na verdade, no começo de nossa obra, nossa matéria deve ser
perfeitamente e extremamente purificada, em seguida dissolvida e destruída
intimamente decomposta e reduzida a poeira e cinzas. Quando tudo isso tiver sido
feito, prepara um espírito volátil, branco como a neve e um outro espírito volátil,
vermelho como o sangue, que tenham ambos, em si, um terceiro formando
contudo um só espírito. Estes três espíritos que conservam e incrementam a vida;
une-os, dá-lhes toda alimentação e bebida que lhes sejam naturalmente necessários
e mantém-nos num leito nupcial de calor até o termo do nascimento. Então verás
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e porás à prova o que o Criador e a Natureza te outorgaram. E saibas que, até
agora, eu não havia feito pela palavra, nenhuma divulgação deste gênero e que
Deus colocou mais eficácia e exoticidade na natureza do que milhares de homens
poderiam crer. Ora, quanto a mim, o sinal foi estabelecido, para que outros depois
de mim tenham a força de escrever os milagres naturais suscitados pelo Criador e
que os insensatos julgam antinaturais. O natural toma sua origem no sobrenatural
e, no entanto, todo o conjunto é julgado natural.
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Explicação da Chave VI
O Sol e a Lua dos Sábios são humanizados no Rei e na Rainha da Grande Obra.
O bispo que representa o terceiro princípio frisa a qualidade altamente canônica
de seu casamento. O arco-íris que une os dois astros herméticos, frisa a abundante
aspersão do espírito celeste - intenso bombardeamento fluídico - que participa na
operação química ou, mais exatamente, metalúrgica e lhe confere seu verdadeiro
caráter de alquimia.
SEXTA CHAVE
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Explicação da Chave VII
Eis aqui o fiel paradigma do sal dos filósofos extraído da primeira obra, em
cujo final o alquimista toma o caos primordial de seu microcosmo, a exemplo de
Deus no começo do mundo. É este sal que constituirá a substância da água
filosofal, do vaso de natureza, de forma redonda, encimado pelo selo de Hermes. O
sal dissolve a alma metálica, serve-lhe de corpo e abraça-a tão estreitamente que
doravante lhe será impossível fugir.
O alquimista com a balança numa mão e a espada na outra, chama nossa
atenção sobre o poder de ação do sal. O sal dos filósofos é a água ígnea.
SÉTIMA CHAVE
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Explicação da Chave VIII
OITAVA CHAVE
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Explicação da Chave IX
Singular exercício dos dois princípios masculino e feminino, que fornece o
esquema do globo crucífero, signo astronômico da terra, ao mesmo tempo que dá a
ilusão do movimento próprio no fogo de roda.
Obedecendo à mesma rotação ígnea, os três corações internos, com pescoços
de cisne, evocam o enxofre que está sempre aliado a seu inseparável mercúrio. É no
decurso da cocção que se formam as cores, lembradas nas suas principais, nesta
chave – preto, rabo de pavão, branca e vermelha – os quatro pássaros escolhidos
pela tradição: corvo, pavão, cisne e fênix.
NONA CHAVE
O mais distante dos planetas dos céus chama-se Saturno, que ocupa condição
mui desprezível em nosso Magistério. Não obstante, ele constitui a principal chave
de toda a Arte e, colocado num ínfimo degrau, é tido em mínima estima, embora,
por seu voo rápido ao supremo cume, se eleve acima de todos os luminares.
Contudo, pela supressão de suas asas, deve ser conduzido à menor luz de todos e,
pela corrupção, impelido à perfeição pela qual o negro é mudado em branco e o
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branco, em vermelho; e, pela sucessão de todas as cores do resto do mundo, os
planetas passam, igualmente, até mesmo a característica e soberba cor do Rei
triunfante. E até mesmo digo: Embora, perante todos, Saturno pareça vil, possui
em si grande força e eficácia pois que se sua preciosa essência - a qual consiste
sobretudo numa maneira de frieza insensível - ataca o corpo metálico e ígneo, ela o
traz para si, pode assumir-lhe a vitalidade, torná-lo maneável como o é o próprio
Saturno, mas de maior constância. Esta mudança tem sua origem, seu princípio e
seu fim no mercúrio, enxofre e sal. Isso parecerá a muitos de difícil compreensão
mas, para realizá-lo, com a matéria que é sem valor, é preciso que o espírito seja
exaltado e penetrante, permanecendo as condições desiguais no mundo, a fim de
diferenciar os mestres dos servidores.
De Saturno provêm múltiplas cores que são produzidas pela preparação e pela
arte; assim nascem o negro, o cinza, o branco, o amarelo e o vermelho, com as que
se encontram nele misturadas. Da mesma maneira, a matéria de todos os Sábios
atravessará diferentes cores antes que esta grande Pedra seja exalçada ao seguro
limiar de sua perfectibilidade. Todas as vezes em que uma nova porta de entrada é
aberta ao fogo, outras tantas vezes, simultaneamente, são cedidos como privilégio
uma forma e um gênero de vestimentas, até que a Pedra, ela mesma desprovida,
adquira as riquezas e não precise mais de outras por mútuo intercâmbio.
Quando a nobre Vênus está em seu governo e, seguindo o uso, distribui com
justiça os ofícios da corte real, aparece em grande esplendor e por ela a Música
apresenta um magnífico estandarte de cor vermelha, sobre o qual está pintada a
Caridade, muito bela com verdes vestimentas. Saturno é nomeado mestre de sua
corte e, quando se desincumbe de sua obrigação, para ele a Astronomia desfralda
um estandarte negro, sobre o qual a Fé está figurada e assimilada por seu traje
amarelo e vermelho.
Com seu cetro, Júpiter preenche sua função de Marechal e em sua homenagem
a Retórica ergue uma insígnia de cor cinzenta, sobre a qual a Esperança está pintada
e muito ornamentada de esplêndidas cores.
Marte é entendido nos assuntos da guerra e exerce um certo poder pelo ardor
ígneo; para ele a Geometria estende um véu ensanguentado sobre o qual se nota a
Força vestida de roupas vermelhas. Mercúrio possui os poderes de chanceler, diante
de quem a Aritmética seguia uma bandeira de todas as cores, onde maravilhosas
figuras representam a Temperança.
O Sol é o substituto do Trono e a Gramática o precede com a bandeira amarela,
na qual se vê a Justiça vestida de dourado. Se esse substituto, em seu governo, tem
mais poder, contudo a rainha Vênus notou-o e cegou por seu exuberante esplendor.
Também a Lua aparece enfim e, diante dela a Dialética desdobra um véu de
prata resplandecente, pelo qual a Prudência foi expressa por celestial nuance. E
porque o marido da Lua está morto, tomou seu encargo e não permite que a rainha
Vênus domine. Por esta razão, ordenou que reunisse as contas da economia; então
seu chanceler intervirá para o estabelecimento de um novo governo e para que
ambos juntos dominem sobre a Rainha. Compreende que um planeta deve privar e
expulsar o outro de seu domínio e força, até que os melhores dentre esses planetas
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se apossem da autoridade suprema e, com a excelente e resistentíssima cor
apropriada à sua primeira mãe, por sua natural constância, amor e paternidade,
obtenham a vitória. Pois o antigo mundo passou e o novo tomou posse, e um
planeta consumiu espiritualmente outro, se bem que, pelo menos os mais fortes
continuem nutrindo-se dos outros, e que dois e três, tenham sido sobrepujados por
um único.
Como última conclusão de tudo isso, entende que deves fazer pender a
balança celeste, o carneiro, o touro, o caranguejo, o escorpião e o capricórnio; no
outro lado da balança coloca os gêmeos, o sagitário, o aquário, os peixes e a
virgem; então faze que o leão de ouro se lance ao seio da virgem e, assim, esse
prato da balança terá a vantagem e superará o outro em peso. Em seguida, sem
que os doze signos do céu fiquem em oposição com as Plêiades, após a perfeita
sucessão de todas as cores do mundo, serão enfim realizadas a união e a
conjunção, para que o maior se encontre no menor e o menor no maior.
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Explicação da Chave X
Este símbolo proclama que se trata duma água muito especial, de consistência
oleosa. Neste símbolo se lê: «Nasci de Hermógenes. Hipério me escolheu. Sem
Iamsuph sou obrigado a perecer».
Fulcanelli deu uma explicação prática deste enigma, mas deixou em mistério
Jam suph. Contudo, e este vocábulo que frisa a necessidade de que não faltem
jamais essas águas sobre as quais o espírito de Deus se espalhava, conforme o
Gênese (1,2) diz: Spiritus Deis ferebatur super aquas.
DÉCIMA CHAVE
Em nossa Pedra elaborada por mim e há muito antes de mim, estão contidos
todos os elementos, todas as formas minerais e metálicas, e bem mais, todas as
qualidades e propriedades do universo inteiro, pois nela deve ser encontrado um
grande e fortíssimo calor, visto que, por seu poderoso fogo interior, o corpo frio
de Saturno se aquece e, por sua ação ígnea, é mudado em excelente ouro. Nela
mesma deve ser encontrado também um grandíssimo frio por cuja conjunção seja
temperado o grau mais ardente de Vênus e coagulado o Mercúrio vivo, pela
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mesma razão e por seu endurecimento, convertido em ouro excelente e fixo,
porque todas essas propriedades são dispensadas pela natureza à nossa matéria
da grande Pedra. Estas propriedades, pela marcha do fogo, são cozidas e
amadurecidas, até que tenham atingido a mais alta perfeição, o que não pode ser
feito antes que o monte Etna, na Sicília, tenha seu incêndio extinto e que nenhum
frio seja mais encontrado nas altas montanhas hiperbóreas, que são também um
lugar que pode ser chamado Filicálio.
Todos os frutos das árvores, se colhidos antes da maturidade, são verdes e
impróprios, porque tal não é possível nem normal para eles. Da mesma forma, a
menos que o oleiro os cozinhe em fogo forte, suas obras não serão convenientes à
sua destinação, porque não se mostram suficientemente perfeitas pelo fogo.
Semelhantemente, para nosso Elixir, é preciso refletir bem e cuidar que o tempo
necessário lhe seja dado e não retirado demasiado cedo, por zelo de sua boa
qualidade, e a fim de que não se atribua a enganos nem seja julgado impróprio. Se as
flores são colhidas, é fácil compreender que daí nenhum fruto pode surgir. Eis porque
a precipitação não convém ao nosso Magistério. Com efeito, o que se apressa demais
raramente executa qualquer coisa de bom nesta arte e, apressando-se, mais arruína
do que aperfeiçoa.
Por esta razão, que o pesquisador da verdade não sofra por ser transviado pelo
desejo excessivo de arrancar e colher antes do tempo de força que o fruto não lhe
escape, e que nada lhe seja deixado exceto a cauda. Pois, em verdade, se nossa Pedra
não é suficientemente amadurecida, ela nada poderá fazer amadurecer.
No banho, a matéria é dissolvida e, pela putrefação, unificada; na cinza, ela
produz as flores; pela areia, todas as umidades supérfluas são dissecadas. Mas a
chama viva do fogo traz a perfeita maturidade com a fixidez. Não que do banho-
maria, do esterco de cavalo, da cinza e da areia, sucessivamente, a Obra seja
composta ou faça uso, mas que, conforme esta regra, o grau e o regime do fogo
sejam cumpridos. Que a Pedra esteja no forno vazio, de tripla construção,
solidamente aferrolhada, encerrada, cozida pelo fogo contínuo, até que todas as
nuvens e todos os vapores se dissipem, que a veste honorífica apareça com a maior
magnificência e que, numa região mais inferior do céu, se detenha e seja contida em
seu curso. Quando os braços do Rei já não podem ser erguidos para o alto, o governo
do mundo é atingido. Pois o Rei de eterna fixidez é então constituído e nenhum
perigo o molestará no porvir, pois é tornado invencível. Para esses trabalhos, indico-
te esta prática:
Assim que a terra, em sua água própria, tiver sido dissolvida, disseca a água com
todo o fogo que for necessário, e então o ar insuflará uma vida nova. Assim que esta
vida tiver sido incorporada, terás a matéria que, a bem dizer, só pode constituir a
grande Pedra do mundo, a qual penetra os corpos humanos e metálicos, como um
espírito, e se mostra incontestavelmente uma Medicina universal. Ela expulsa o que é
mau e conserva o que é bom e intervém a fim de que o mau seja corrigido pelo bom.
Sua cor, do vermelho transparente, se estende ao púrpura, do rubi à cor da
granada; e quanto ao peso, é forte e muito pesada.
Qualquer pessoa que tenha encontrado esta Pedra, que agradeça ao supremo
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Autor de toda a Criação, por esse celestial bálsamo, e que o toma para si e para
seu próximo, a fim de que seu uso seja para entreter esta vida perecível, neste
vale de misérias, e goze em seguida da felicidade eterna no outro mundo.
Que Deus, por seu indizível Dom e por sua graça, seja glorificado no mais alto
grau pelos séculos. Amém.
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Explicação da Chave XI
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Explicação da Chave XII
CHAVE XII – Florescência das duas pedras, depois da multiplicação, no fim da grande obra.
Quando o esgrimista não sabe servir-se de sua espada, esta não lhe é útil, porque
não apreendeu exatamente a prática. Incapaz, é inferiorizado por um outro, quando é
provocado ao combate pelo mais hábil no manejo da espada. Mas aquele que se
imbuiu convenientemente do Magistério na escola, possui o prêmio da vitória.
É o que acontece àquele que obteve uma certa tintura pela graça do Deus Todo-
Poderoso e que não sabe dela utilizar-se, pela mesma razão, o mesmo que foi dito do
esgrimista que absolutamente não sabe se servir de sua espada. Mas como esta é a
décima segunda e última de minhas chaves, não apresentarei nova alegoria ou
discurso figurado, para a explicação de meu livro, mas, sem o menor desvio,
47
entregarei esta chave do progresso efetivo e perfeitíssimo da tintura e, para tanto, sê
atento à minha doutrina a fim de que a sigas.
Assim que a Medicina e a Pedra de todos os Sábios está feita e perfeitamente
preparada do real leite da Virgem, toma uma parte, de excelente e puríssimo ouro,
funde-o, purga-o pelo antimônio e reduze-o a finas lâminas, tanto quanto possível, em
três partes. Coloca-os juntos num cadinho comum, usado para a fundição dos metais.
Administra um fogo lento, durante doze horas, e mantém em fusão,
continuadamente, por três dias e três noites. Nesse instante, o ouro purgado e a
Pedra estão constituídos em pura Medicina, de propriedade mui sutil, espiritual e
penetrante. Sem o fermento do ouro, a Pedra não pode operar ou mostrar sua força
de tintura. Com efeito, ela é extremamente sutil e penetrante, mas se, com seu
semelhante fermento, ela é fermentada e conjugada, a tintura preparada recebeu o
poder de entrar e operar em todos os corpos. Continuando, toma uma parte do
fermento preparado por mil partes do metal fundido que quiseres tingir; e então
saibas, por verdade e fé soberanas, que esse metal simples será transmutado em
bom ouro fixo. Um corpo toma outro corpo; mesmo que não lhe seja semelhante, por
sua força e potência essenciais, aquele é constrangido de ser-lhe assimilado, porque o
semelhante tira sua origem do semelhante.
Quem quer que empregue este meio, obterá toda certeza, e as entradas do
palácio têm por fim sua saída; aliás, esta sutileza não deve ser comparada a nenhuma
outra criação. Possuirá tudo em tudo para que, por meio e origem naturais, tudo
possa nascer sob o sol neste mundo.
Ó começo do primeiro começo, considera o fim.
O fim último, examina o começo.
E que o meio vos seja fielmente recomendado; e então o Deus Pai, o Filho e o
Espírito Santo doar-vos-ão tudo o que desejardes para o espírito, a alma e o corpo.
48
A PRIMEIRA MATÉRIA DA PEDRA FILOSÓFICA
49
BREVE APÊNDICE
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De princípio, saibas que o mercúrio vulgar de nada serve, mas que, por arte
espagírica, do melhor metal provém nosso mercúrio puro, sutil, claro, brilhante como
uma pequena fonte transparente como o cristal e sem nenhuma sujidade. Disto faze
água ou óleo incombustível, pois o mercúrio inicialmente, foi água, no que todos os
Sábios, neste particular, se mostram completamente de acordo com minha opinião e
meu ensinamento.
Neste óleo de mercúrio dissolve seu próprio mercúrio do qual aquela mesma
água foi feita e precipita esse mesmo mercúrio com seu próprio óleo; então estás de
posse da dupla substância mercurial. Saibas, por outro lado, que teu ouro, após sua
purificação da primeira chave deve ser antes dissolvido numa certa água expressa
pela minha segunda chave e reduzido em cal sutil, como é mostrado na quarta. Que a
cal seja sublimada pelo espírito de sal, em seguida de novo precipitada e depois
reduzida a fino pó por reverberação. Então seu próprio enxofre poderá entrar
facilmente em sua substância e mostrar-se amigo para com ela. Pois eles se estimam
reciprocamente de admirável maneira. E assim terás duas substâncias em uma, que é
chamada Mercúrio dos sábios, que nada mais é do que o primeiro fermento.
51
AGORA SEGUE A EXPLICAÇÃO DO ENXOFRE
52
DAREI TAMBÉM MEU PARECER SOBRE O SAL DOS FILÓSOFOS
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preparada. O espírito da Lua é apropriado ao espírito do Sol, como o marido e a
mulher, pela cópula e conjunção do espírito do mercúrio ou de seu óleo.
O espírito está encerrado no mercúrio; procura a cor no enxofre e a coagulação
no sal e então tens os três elementos que poderão produzir de novo o que é perfeito;
isto é, que o espírito seja posto em fermentação no ouro, com seu próprio óleo; o
enxofre, que é encontrado abundantemente na qualidade da preciosa Vênus, inflama
o sangue fixo, dele mesmo produzido. O espírito do sal filosófico canta vitória quanto
à dureza, embora muito possam o espírito de tártaro e o espírito de urina junto com
o verdadeiro vinagre. Pois, o espírito do vinagre ·é frio e o espírito da cal viva é
extremamente ardente, e por isso são tidos como naturezas contrárias e procurados
como tais. Já falei demasiado, contrariamente à regra ordinária e filosófica, mas não
mostrarei, por inconveniência, como as portas são fechadas interiormente; e nada
mais comentarei.
Para concluir, lealmente digo-te: Procura tua matéria numa substância metálica.
Faz dela um mercúrio e fermenta-o como um mercúrio; um enxofre que colocas em
fermentação com seu próprio enxofre; e põe em ordem o sal. Destila uma vez. Une
essas coisas segundo seu peso. Então aparecerá um que é também nascido de outro
anterior. Coagula e fixa este mesmo por continuado calor. Em seguida aumenta e
fermenta até três vezes, seguindo a prática de minhas duas últimas chaves; chegarás
ao objetivo e atingirás o termo de teu desejo. A décima segunda chave, sem parábola
e por um desenvolvimento preciso, ensina o uso da tintura.
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E POR FIM
Mas, como apêndice final, sou impelido a revelar-te que, do negro Saturno e do
benfazejo Júpiter, também pode ser tirado um espírito, que se reduz, em seguida,
num óleo deveras suave, como sendo o mais nobre de si mesmo.
Esta medicina poderá, particular e mui vigorosamente, despojar de sua vitalidade
o mercúrio corrente e comum, e purificá-lo como se ensina também em meu livro.
ADENDO
Quando obtiveres a matéria por este meio, depois não te ocupes de outra coisa
senão do fogo e observa seu regime. Aqui é que reside o mais essencial e o objetivo
da Obra. Pois, nosso fogo é o fogo comum, e nosso forno, o forno comum. E se bem
que aqueles que vieram antes de mim tenham deixado escrito que nosso fogo não
seria o comum, no entanto digo-te, em verdade, que esconderam todos os
segredos, a fim de obedecer à sua disciplina. Como a matéria é vil, a Obra,
sumariamente, é unicamente auxiliada e revelada pelo regime do fogo.
O fogo de lâmpada com espírito de vinho é inútil. Esses meios revelam-se
incrivelmente dispendiosos: o esterco de cavalo é a ruína e a matéria só pode ser
libertada pelos graus perfeitos do fogo.
Os fornos numerosos e variados não são úteis. É somente no triplo forno que
os graus do fogo são respeitados proporcionalmente. Que o sofista indiscreto, com
múltiplos fornos, não te lance no erro, visto que o nosso forno é comum, que nossa
matéria é sem valor e que o vidro é tornado semelhante à circunferência da terra.
Não tens necessidade de ensinamento suplementar sobre esse fogo, esse regime e
forno. O que tem a matéria, encontrará o seu forno; o que tem a farinha pode
encontrar também o forno de panificação e não se preocupa muito mais com o
cozimento do pão.
Sobre isto não é necessário escrever livros especiais, bastando que sigas
unicamente o regime do calor, pelo qual saibas distinguir entre o quente e o frio.
Chegando aí, acabaste a Obra e conduziste a arte ao seu fim; pelo que o Criador de
toda a natureza deve ser louvado eternamente.
Amém.
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O Atanor e o bestiário da grande obra
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