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BRASIL
2014
BAURU-SÃO PAULO
21 A 24 DE OUTUBRO DE 2014
www.cicop2014.com.br
Campus UNESP
ROSIO FERNÁNDEZ BACA SALCEDO
SAMIR HERNANDES TENÓRIO GOMES
VLADIMIR BENINCASA
1ª Edição
Bauru
UNESP - FAAC
2014
Editor: FAAC-Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicações-UNESP
1ª edição
ISBN 978-85-99679-62-3
www.cicop.com
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RESUMO
Este artigo trata de u àdosàdesdo a e tosàdaàpes uisaàdeàdouto adoà á uitetu aà˃eligiosaà oàEstadoàdeà“ oà
Paulo (1600- ,à a alisa doà uma característica peculiar dos templos do Estado de São Paulo construídos no
período: a decoração parietal executada em parte dessas igrejas no período eclético. Observa que fatalmente uma
parte das antigas igrejas barrocas ou rococós que se mantiveram, foi adaptada ao novo gosto eclético no início do
século XX, período em que um terço dos exemplares paulistas do período recebeu pinturas decorativas com
técnica estêncil em suas paredes. Trata, por fim, de intervenções de restauro em alguns desses exemplares e
questiona as opções por se manter a pintura eclética ou por suprimi-la, geralmente visando uma maior unidade do
estilo, confrontando essas posturas às cartas patrimoniais. O trabalho ressalta ainda a importância de se
aprofundar os estudos desses templos para ampliar o entendimento e garantir a preservação de tais bens.
PALAVRAS CHAVE: Igreja; Arquitetura Religiosa; São Paulo (Estado); Barroco; Ecletismo.
INTRODUÇÃO
Para se ter a completa compreensão de toda a arquitetura barroca e rococó produzida pelos paulistas, seria
necessário se estudar tudo que foi por eles construído durante o período em que esses padrões artísticos
vigoraram em nossas construções. Isso significa, em termos temporais, de levantar a edilícia feita em
praticamente 250 anos: desde o século XVII até meados do século XIX, e, em termos de território, de abranger
toda a área que até o início do século XVIII fazia parte da primitiva Capitania de São Paulo, o que inclui vários
estados brasileiros.
Dessa maneira a pesquisa se tornaria demasiado ampla, dado o número de edificações que seriam analisadas. Por
esse motivo, restringimos o recorte espacial dentro das divisas atuais do Estado de São Paulo e nos limitamos à
arquitetura religiosa urbana remanescente no Estado de São Paulo, edificada entre 1600 e 1870. Em levantamento
realizado em livros, guias turísticos e sites religiosos e dos municípios paulistas, foi-nos possível identificar 82
igrejas remanescentes e que não sofreram descaracterizações, localizadas em 57 municípios. Nessas localidades se
encontram os exemplares que representam o que os estudiosos, como Germain Bazin (1955), chamaram de
Ba o oà Paulista ,à e o aà oà te oà oà te haà sidoà uitoà e à a eitoà e à estudosà poste io esà ET)EL,à ;à
TIRAPELI, 2003), por não se tratar de uma escola que criou um estilo próprio, mas sim de uma classificação
estritamente toponímica que os agregou.
Ainda assim, a arquitetura religiosa pré-republicana no Estado de São Paulo possui algumas características
peculiares e únicas, uma delas, a que vamos destacar neste breve estudo, é a pintura parietal decorativa presente
em várias de suas igrejas, característica presente quase que exclusivamente neste Estado e que não está atrelada
ao barroco nem ao rococó, mas ao ecletismo, movimento arquitetônico que teve muita força nas terras paulistas.
As igrejas do período analisado, de um modo geral, apresentavam pinturas, mas sempre aplicadas na talha e nos
elementos de madeira. Em raríssimos exemplares encontramos policromia parietal e, quando ela ocorre, é sobre
madeira, e não sobre reboco. Desse modo, as igrejas do período apresentam-se, via de regra, com seus interiores
brancos e com altares, púlpitos e forros, coloridos. A peculiaridade de São Paulo reside nas pinturas em estêncil
aplicadas nas paredes de parte de seus templos, nos marmorizados (faux marble) e amadeirados utilizando cores
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em tons mais queimados e em padrões tono sul tono, bastante diferente das intervenções pictóricas barrocas, de
fortes contrastes e cores vivas, quase sempre dominadas pelas primárias.
As pinturas murais que tratamos em São Paulo foram executadas entre 1890 e 1940, não são barrocas, mas
modificaram os ambientes em que se inseriram e já foram assimiladas como parte das igrejas em que se
encontram, tornando-se uma característica a mais a ser considerada na análise dos templos paulistas. O intuito
deste texto é rever posturas de intervenção e avaliar se não é legítimo manter tais ornamentações pictóricas,
incorporadas aos interiores dos templos há setenta, cem anos.
Nos dois últimos exemplos, ainda, na Igreja do Carmo de Itu e na Ordem Terceira de São Francisco de São Paulo,
foram feitas intervenções no século XX e aos painéis rococós das mesmas se somaram planos marmorizados,
falsas madeiras e pedras fingidas nas paredes.
É provável que o número de igrejas com pinturas decorativas realizadas no século XX seja ainda maior, pois muitas
repinturas podem ter escondido as camadas precedentes. O que se observa é que, como esses edifícios
permanecem em constante uso, recebem mais manutenção e são, com isso, modificados aos poucos. Com o
passar dos anos, muitas das pinturas desses templos, que já foram executadas a, no mínimo, setenta anos
(algumas são mais que centenárias), passaram a apresentar sinais de desgaste, conferindo aos espaços um
aspecto desagradável. Na tentativa de manter ou renovar esse aspecto, algumas igrejas passaram por processos
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de restauração ou de repintura, apagando parte de suas decorações pictóricas do período do ecletismo. Isso foi
uitoà o u à eà à u à fatoà ueà o ti uaà o o e do.à “eà o se a osàosà e e pla esà et atadosà oà li oà Ig ejasà
Paulistas: Barroco e ˃o o ,àdeàPe i alàTi apelià ,àoà aio àle a ta e toàfeitoàat àhojeà oàEstado,à e e osà
que, transcorridos 11 anos desde a publicação, pelo menos três daquelas igrejas já sofreram supressão de pinturas
ecléticas.
Tal fato decorre de três motivos principais. O primeiro é a falta de conhecimento das comunidades e párocos
sobre a possibilidade do restauro do bem que, sem acompanhamento técnico, acarreta na simples repintura do
mesmo, cobrindo desenhos até então existentes. O segundo é a falta de recursos das comunidades para
recuperar/reconstituir as pinturas. E o terceiro e mais preocupante é o da opção de equipes de restauro, com
pessoal especializado, em tentar retornar a decoração do templo em sua composição mais antiga ou buscar uma
unidade de estilo, geralmente visando o original, barroco, e muitas vezes removendo camadas pictóricas
decorativas que, assim, não poderão mais ser recuperadas.
Um resultado destas ações é a descaracterização das igrejas, alteradas em seu aspecto interno e, em casos como
esses, empobrecidas em sua decoração, em boa parte das vezes, em detrimento de uma unidade estilística que
talvez esses templos nunca tenham tido.
Há tempos que a disciplina de restauro dedica-se a evidenciar as marcas que contam a história dos edifícios e não
apenas fazê-lo voltar ao seu aspecto original. Segundo Cesare Brandi (1906-1988), cuja abordagem do restauro é
uma das mais seguidas até os dias de hoje, mais do que analisar a obra e seu contexto, o restaurador deve fazer a
análise crítica da mesma, o que significa compreendê-la profundamente e interpretá-la para, apenas depois disso,
intervir. Para ele:
O restauro é um ato crítico, dirigido ao reconhecimento da obra de arte (sem o que a restauração
não é o que deve ser); voltado à reconstituição do te toà aut ti oà daà o a;à ate toà aoà juízoà deà
alo à e ess ioà pa aà supe a ,à f e teà aoà p o le aà espe ífi oà dasà adiç es,à aà dial ti aà dasà duasà
instâncias, a histórica e a estética (CARBONARA, 2004, p. 12).
Note-se que a forma de conhecimento do bem histórico a que Brandi se refere distancia-se bastante da
compreensão imaginada quase uma centena de anos antes por Viollet-le-Duc (1814-1879), um dos primeiros
pensadores na área. Este último procurava perceber todos os traços do estilo para complementar a obra da forma
que mais se aproximasse da sua concepção original. Ao contrário, o primeiro busca um conhecimento mais
profundo, de entender a essência da obra artística (e arquitetônica, por conseguinte) e contextualizá-la no
ambiente em que ela se insere, resultando em uma postura crítica do restaurador e embasada em questões mais
filosóficas de autenticidade, ambiência e valor estético, em que o aspecto original do bem não tem
necessariamente papel primordial.
Ao mesmo tempo em que propõe uma ação intervencionista, Brandi prega que se respeite a história do
monumento e as características da obra, propondo um uso racional e adequado para as necessidades
contemporâneas. No caso de edificações, o estudo da documentação sobre a edificação e a análise da própria
matéria da construção são elementos que auxiliam na intervenção.
No entanto, a técnica de se realizar a estratigrafia das paredes leva o restaurador a conhecer todas as pinturas que
ela recebeu e a ter a tentação de recuperar a cor original, esquecendo-se que outras colorações que pintaram as
paredes da edificação podem possuir valor histórico e artístico superior a ela. Afinal, fazer prospecções para
e o he e à pote iaisà o esà o igi ais à o igi alà e à elaç oà aà u ?à aà ua do? à deà a ie tesà ouà fa hadasà deà
edifícios antigos? É oportuno refletir um pouco sobre essa questão (TIRELLO, 2006-07, p. 149).
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O costume de se restaurar para que tudo volte a ser igual ao original ainda é muito arraigado em nossa cultura.
Mas corre-se o risco de se fazer um restauro pictórico seguindo os preceitos de Viollet-le-Duc, descartando toda a
discussão posterior ocorrida no campo do restauro e até mesmo as recomendações expressas nas cartas
patrimoniais: As contribuições válidas de todas as épocas para a edificação do monumento devem ser respeitadas,
visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração (ICOMOS, 1964, artigo
11º). Ainda assim, o retorno ao padrão original é indicado nas cartilhas dos órgãos oficiais de preservação do
patrimônio, como o IPHAN e o Condephaat (KÜHL in IAU, 2011, palestra, apresentação oral), como forma de se
atingir uma melhor unidade de estilo.
2. ESTUDOS DE CASO: REPINTURAS DE IGREJAS BARROCAS PAULISTAS
Vê-se que as regras de restauro deveriam, em tese, ser aplicadas em toda e qualquer obra arquitetônica, fosse ela
moderna ou antiga, mas o que se vê, em geral, é que muitas restaurações são feitas sem o acompanhamento de
profissionais habilitados e sem a devida análise do bem para que sejam tomadas decisões mais acertadas de
repintura ou restauração.
Analisaremos aqui, brevemente, o caso de três igrejas barrocas, alvo de nossa pesquisa de doutorado (Arquitetura
Religiosa Barroca Paulista, iniciada em 2011), que sofreram intervenções que alteraram seu aspecto pictórico
interno.
2.1. Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em ItuA igreja ituana de Nossa Senhora do Carmo é um dos exemplares
mais extraordinários da pintura colonial paulista, com o belíssimo teto da capela-mor de autoria do Padre Jesuíno
do Monte Carmelo e um medalhão do Menino Jesus de Praga do mesmo autor.
Foi construída em 1776-1782 e poucos anos após a inauguração recebeu as pinturas em todo o seu interior.
Originalmente, os painéis do Padre Jesuíno revestiam todos os tetos e paredes da capela mor e da nave
(ANDRADE, 1963, p. 131). O templo foi reformado em 1861, 1902, 1917-1918 e outra vez em 1947. As pinturas
jesuínicas, parietais e de forro, eram feitas sobre tábuas que revestiam inclusive as paredes e que, danificadas,
foram removidas e descartadas. Com isso, a maior parte da obra artística se perdeu, provavelmente na reforma de
1918.
Fig.02: Interior da Igreja do Carmo ituana na década de 1920, logo após receber a pintura de Adelmo Perdiza, e atualmente, com
as paredes pintadas de branco. Fotos: Acervo do Arquivo Central da Província Carmelitana de santo Elias, c. 1920 / Mateus
Rosada, 2013.
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Quatro anos mais tarde, a igreja recebeu nova pintura decorativa nas paredes e retábulos, feita por Adelmo
Perdiza, que é a que se pode ver na fig.02, com imitação madeira nos retábulos, fingimento de alvenaria de pedra
nas paredes, um barrado decorado e alguns medalhões com imagens na capela-mor. Posteriormente, em outra
reforma, essa pintura foi recoberta por uma camada totalmente branca. Não sabemos o motivo da supressão
dessa segunda decoração. É possível, inclusive, que tenha sido realizada por orientação do Condephaat, uma vez
que não havia como recuperar as pinturas de Jesuíno do Monte Carmelo e a composição elaborada por Perdiza
fosse de um estilo diferente do original.
3.2. Matriz Basílica de Nossa Senhora Aparecida (Basílica Velha), em Aparecida.
A Basílica Velha de Aparecida é, segundo Percival Tirapelli (2003), o exemplar mais tardio do barroco no Estado de
São Paulo: suas obras iniciaram-se em 1780, e houve reformas em 1845-52, 1878-80 e a última em 1882-88,
quando se instalou o último altar (TIRAPELLI, 2003, p. 292-5). Sabe-se que a Basílica possui pelo menos três
camadas pictóricas decorativas, uma de fins do século XIX, outra de 1904 (MELLO, 1904, s.p) e outra posterior a
essa.
Fig.03: Aspecto da nave da Basílica Velha de Aparecida antes e depois da restauração. Fotos: Percival Tirapeli, 2003 / Mateus
Rosada, 2014.
Em 2004, iniciou-se o processo de restauração da Basílica, que optou por recuperar os barrados imitando madeira
da pintura de uma camada anterior, mas remover toda a pintura mural verde da nave, acima desse barrado, e
provavelmente do mesmo período:
No texto, a repórter deixa claro o senso comum de que a restauração deve sempre recuperar o original,
desconsiderando o fato de que o padrão esverdeado das paredes da nave já estivesse incorporado à memória dos
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fiéis que visitam periodicamente a igreja. Tal postura pode ter sido uma opção da equipe de restauro, uma
orientação do Condephaat, que vistoria as obras, ou mesmo uma imposição da reitoria do Santuário. Isso alterou
consideravelmente o aspecto interior do templo e encobriu desenhos artísticos das paredes. É muito difícil saber
qual foi a recepção dessa mudança pelos frequentadores, pois a cidade tem um fluxo muito sazonal de pessoas e
os fiéis não vivem em Aparecida, apenas a visitam algumas vezes na vida.
Fig.04: Igreja de São Gonçalo ostentando os painéis parietais com representações de cenas bíblicas em 1971 e atualmente, após
a supressão das pinturas. Fotos: CONDEPHAAT, 1971 / Mateus Rosada, 2013.
No século XX, dentre as modificações, a São Gonçalo teve suas paredes internas decoradas com pinturas. Na
capela-mor, fotos antigas (sem data) registram as pinturas acadêmicas de traço bastante elegante com
ep ese taç esàdeà Jesusà o àasàC ia ças àeà daà“a taàCeia .àE à àfoiàto adaàpeloàPat i ioàNa io al,à asà
em 1953, após uma vistoria do IPHAN, foi removida do Livro de Tombo Nacional, segundo parecer de José Wasth
Rodrigues:
Submetida [a Igreja de são Gonçalo] posteriormente a obras, aplicaram-lhe no interior da nave
pilastras, altares laterais e ornatos nas janelas e sôbre o côrpo do altar-mór construíram a cúpola
para efeito de iluminação. Há poucos anos, antes de ser tombada, reformaram-lhe a fachada com
nôvo frontão e torre, e a face lateral com platibanda. Numerosas imagens, grandes e pequenas,
cada uma com seu docel (sic), apoiam-seà âsà pilast asà ouà e t eà osà alta es,à u asà deà a aç o ,à
outras imitando pedra (...). Tôda superfície lisa está decorada com pinturas nos mais variados
estilos, que se entrechocam: ornatos, frisos, marmorizados, símbolos, painéis com cenas religiosas,
etc. Tudo isso dá a igreja um aspecto caótico e de mau-gosto lamentáveis. (...) Não sendo a igreja
notável pela antiguidade nem de significação histórica nem de valor artístico, voto pelo
cancelamento de seu tombamento (1953, p. 42-3).
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Em 1971, a possibilidade da venda para uma empreiteira que a demoliria para fazer um edifício sensibilizou a
população local, que solicitou seu tombamento ao CONDEPHAAT. Foi tombada em esfera estadual no ano
seguinte.
Como se pode ver na fala de José Wasth Rodrigues, por muito tempo o Serviço de Patrimônio Histórico cultivou
como ideal de bem histórico aquele que mantinha suas características originais, vendo como menores os
acréscimos e as obras artísticas posteriores ou que não mantivessem o mesmo estilo. Essa visão pejorativa ante as
obras do ecletismo perdurou por anos e provavelmente esse sentimento foi responsável para que intervenções
posteriores aos anos 1970 (e ao tombamento da igreja) apagassem as pinturas decorativas, para valorar os
retábulos coloniais.
CONSIDERAÇÕES
Em todas as épocas, desde o século XVII até o século XX, as igrejas passaram por transformações que as alteraram
ou mesmo que as reconstruíram: as maneiristas passaram a barrocas, muitas barrocas sofreram reformas para se
tornarem rococó. O homem sempre buscou manter a casa de Deus com o melhor que poderia dar e tentou
atualizar o templo que frequentava. Não foi diferente no século XX: ao mesmo tempo em que velhas igrejas eram
postas no chão para dar lugar a novos templos, outras recebiam um novo tratamento estilístico para se
adequarem aos gostos vigentes, muitas delas seriam apenas repintadas, mas agora com motivos artísticos, florais,
coloridos, e com painéis e telas, como era de bom grado no período eclético. Longe de ser uma intervenção que
descaracterizou os antigos templos barrocos, a pintura decorativa do período eclético buscou realçá-los e conferir-
lhes um maior refinamento.
Infelizmente, essa forma de decoração que se utiliza de moldes vazados não foi e não é vista por uma parte dos
estudiosos como arte e por isso não se fizeram levantamentos, pois pouco interessava saber quem foram os
artistas que adornaram o interior das igrejas no ecletismo. Desse modo, sabemos muito pouco atualmente sobre
esses profissionais: quem foram, onde trabalharam e quais foram suas influências.
Mas (poucos) estudos recentes têm resgatado as pinturas ecléticas, reconhecido seu status de arte e a
necessidade de haver um aprofundamento das pesquisas nesse tema. Essas intervenções decorativas modificaram
e enriqueceram os espaços litúrgicos e conferiu novas características a eles, característica essa, digamos,
eminentemente paulista, pois fora do Estado de São Paulo há pouquíssimos exemplares de templos coloniais
reconfigurados por pinturas do século XX. Assim, não se pode negar a importância dessas pinturas que são parte
do saber dos paulistas e são intrínsecas às suas igrejas.
Dos templos mencionados neste estudo, três deles já não possuem mais a mesma configuração pictórica:
perderam sua decoração na nessa primeira década do século XXI, o que nos leva a crer que mais igrejas do
período barroco tenham ostentado uma decoração parietal eclética no século passado, mas que devem ter sido
apagadas por conta do desconhecimento de formas de recuperá-las ou por restauros que se preocuparam em
tentar voltar à forma original o bem intervencionado, ao invés de respeitar todas as fases do edifício, como já
apregoam as cartas patrimoniais desde Veneza, há cinquenta anos.
Novos estudos devem ser feitos para que conheçamos e compreendamos que bens que possuímos, se fazem
parte de um conjunto maior, e percebermos que são, sim, partes de um todo imenso, de um grande contexto
histórico, e não apenas exemplares isolados. A preservação dessas igrejas, de suas pinturas, de sua arte, depende
de conhecermos profundamente esses bens.
REFERÊNCIAS
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ICOMOS. Conselho Internacional de Monumentos e Sítios Históricos. Carta de Veneza. II Congresso Internacional
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SÃO PAULO (ESTADO). Secretaria de Estado da Cultura. Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico,
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TIRAPELI, Percival. Igrejas Paulistas: Barroco e Rococó. São Paulo: Imprensa Oficial, Edunesp, 2003.
TIRELLO, Regina Andrade. A Arqueologia da Arquitetura: Um Modo de Entender e Conservar Edifícios Históricos.
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