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A Primeira Guerra Mundial Sob Uma Ótica Brasileira: Analise Das Charges

De J. Carlos Publicadas No Periódico A Careta


Autor: Jeverson Maschio Kinceler
Orientador: Osvaldo Siqueira Mesa

INTRODUÇÃO outro fator essencial é a presença de características opinativas, fazendo


deste um desenho que além de ser engraçado, possui uma mensagem
Esse trabalho se propõe a analisar as charges do periódico A importante a ser transmitida.
Careta, produzidas pelo cartunista carioca J. Carlos do início do As charges sempre buscaram explorar a linguagem opinativa, isto é,
século XX entre o período de 1914 e 1918 e que abordam como tema a que deixa transparecer um ponto de vista pessoal sobre determinado
a Primeira Guerra Mundial, com a finalidade de compreender como assunto, essa forma de linguagem sempre busca nos impulsionar a
tais publicações representam a Grande Guerra, ou seja, como essas algo, seja contra a administração pública, política social, ou a própria
charges foram dadas a ler? Quais as informações que elas carregam e imprensa, ou seja, qualquer pessoa ou causa que mereça sua atenção.
que foram oferecidas a população de classe média carioca, o público Uma das formas é a utilização de argumentos irônicos que possam
alvo dessas publicações, para que construíssem suas opiniões acerca convencer o leitor, outra é explorar a crítica, a provocação de ironia e
desse acontecimento? Isto é, como elas foram representadas e dadas deboche, que são usados como recursos para criar vínculo com o leitor
à interpretação? e persuadi-lo a aceitar as ideias do discurso. Ela tem uma comunicação
A charge tem como uma de suas principais característica a crítica rápida e atinge um público bem maior, justamente pela facilidade de
social a assuntos contemporâneos a sua criação, nesse sentido essa interatividade e de clareza, diferente da linguagem articulada por letras
forma de produção imagética nos fornece um olhar crítico do seu ou códigos dos outros gêneros jornalísticos.
período, metaforicamente ela nos permite ver através do tempo. É Procurou-se desenvolver ao longo desse trabalho, fundamentações
essa característica que faz dessa forma de desenho um conteúdo teóricas que deem suporte a interpretação da charge assim como a
jornalístico de forte persuasão aos seus leitores, e o diferencia de outras compreensão das dimensões que a mesma desempenha na opinião
formas de desenhos profissionais. As charges são desenhos capazes pública, e que desempenhava ainda com mais força no início do
de passar não apenas o que está explícito, mas também aquilo que século XX.
não se explicita na superfície da imagem, pois possuem façanhas de Assim no primeiro capítulo, foi analisado, primeiramente, como a
duplos sentidos e interpretações dinâmicas, da realidade política/social, historiografia passou a validar a utilização desse tipo de fonte em uma

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pesquisa de caráter histórico, visto que até certo momento eram aceitos foi durante muito tempo o editor chefe desse periódico, portanto sua
como fontes somente os documentos oficias, isto é, aqueles produzidos opinião não está presente somente nas charges, mas também na
pelos órgãos públicos, ou seja, neste primeiro capitulo se analisa como seleção editorial do que era apresentado ao leitor, para Baczko os
ocorreu essa transformação na ótica tradicional da história. Também meios de comunicação, entre outros a impressa periódica, possibilita
se fez necessário uma breve definição sobre o conceito de charge a uma única pessoa, detentora de tais meios, a difusão de ideias,
e suas diferenciações com outras formas de desenhos semelhantes, a formação do que se denomina “cultura de massa”3, dessa forma
como a caricatura e o cartum, além é claro de uma explicação sobre podemos interpretar como uma realidade social acerca da primeira
algumas técnicas básicas de desenhos empregado na charge, a qual guerra mundial foi construída por J. Carlos e transmitida para os
facilita a interpretação crítica. leitores.
Outro assunto debatido ainda no primeiro capítulo são as renovações nos As charges analisadas foram publicadas no periódico A Careta
conceitos de humor que ocorrem no período estudado, são levantados e estão disponível no acervo digital da Biblioteca Nacional Digital,
alguns pontos sobre as teorias de Henri Bérgson (1899) e de Sigmund entretanto essas mesmas charges foram reunidas em um livro chamado
Freud (1905) que rompem com os paradigmas tradicionais do humor “J. Carlos contra a guerra – As grandes tragédias do século XX na
e passam a ver o humor como possuidor de uma função social1, visão de uma caricaturista brasileiro” com texto de Arthur Dapieve
demonstrando que toda produção humorística é historicamente e organização de Cassio Loredano, a opção foi utilizar, em grande
mutáveis e culturalmente inventadas, já que cada sociedade crias suas parte do trabalho, as charges desse livro devido a qualidade das
próprias representações e transgressões como afirma o conceito de imagens, nele as charges encontram-se coloridas e nítidas diferente
imaginário social .2
das disponíveis no acervo digital.
O segundo capítulo compreende a análise da charge em si, mas A contribuição desse trabalho é identificar em um tema tão
antes foi necessário uma contextualização sobre a história do artista trabalhado na história, como é a Primeira Guerra Mundial, uma visão
dessas charges, o J. Carlos. Veremos um pouco da vida desse artista, historiográfica diferente das contidas nos documentos emitidos por
e sua contribuição na mídia impressa brasileira, assim como veremos órgãos governamentais, é relatar a historia como ela era lida pela
a história do veículo de comunicação dessas obras, a revista A Careta, população da época. As fontes analisadas tinham grande circulação
a qual publicou as charges que foram analisadas nesse trabalho. em meio à população carioca, e varias vezes chegaram até mesmo
J. Carlos não foi somente o autor dessas charges, como também ser reproduzidas fora do país, e por se tratar de uma fonte imagética,
atingia os mais variados públicos, até mesmo a população não
1 SALIBA, Elias Thomé. Raízes do Riso. A representação humorística na história
brasileira: da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Companhia letrada. Dessa forma a analise dessas fontes nos trás uma perspectiva
das letras, 2002. p. 22
2 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos- 3 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos-
Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985. Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 312-313

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da historia mais próxima da população, uma história que era dada a tradicionais e acaba influenciando uma serie de publicações posteriores.
ler na época, conhecida por que vivenciou o período. Peter Burke um dos influenciados por essas perspectivas caracteriza
algumas das críticas trazidas por esse movimento: A história passa a se
1 IMPRENSA E HISTÓRIA interessar por toda atividade humana e não somente a política como
de acordo com os paradigmas tradicionais; diferente da historiografia
1.1 A NOVA HISTÓRIA CULTURAL
tradicional a história deixa de ser vista como uma narrativa dos
acontecimentos e passa a se preocupar com uma análise de estruturas;
Antes de nos aprofundarmos no estudo das charges de J. Carlos passa também a dar ênfase na “história vista de baixo”, ou seja, as
durante o período da Primeira Guerra Mundial faz se necessário pessoas comuns e não mais somente aos grandes homens ou grandes
compreendermos como a análise desse tipo de fonte passou a ser datas; outra grande modificação, já citada, é que a história não deveria
aceita na historiografia. se basear somente em documentos oficiais, por que sob a perspectiva
A caricatura junto a outras tantas fontes como: a fotografia, os de uma “história vista de baixo” essa tipologia documental tende a
quadrinhos, as artes e o cinema, passaram a ser aceitas segundo Círio expressar o ponto de vista do Estado, sendo que para reconstruir uma
Flamarion Cardoso e Ana Maria Mauá devido: história das pessoas comuns tais documentos devem ser suplementados
por outro tipo de fonte, como as charges aqui analisadas; além disso,
Uma total transformação da ótica tradicional da história. Não mais uma
história do individual, das singularidades de uma época, sintetizada na a história deixa de ser vista como objetiva e passa a ser compreendido
ideia de uma narrativa dos grandes fatos e dos grandes vultos [...] De que ela está sujeita a referenciais sociais e culturais de um período.
lá para cá, tanto a noção de documento quanto a de texto continuam
Mas não pode se atribuir a origem dessas discussões somente à
a ampliar-se. Agora, todos os vestígios do passado são considerados
matéria para o historiador. Desta forma, novos textos, tais como a publicação de Le Goff, e o próprio Burke procura identificar as origens
pintura, o cinema, a fotografia etc., foram incluídos no elenco de fontes dessa nova história cultural. Se distanciando da historiografia francesa
dignas de fazer parte da história e passíveis de leitura por parte do ele recorre às origens dos motivos culturais na Europa, ainda com
historiador.4
os humanistas do Renascimento, estudando a língua e a literatura, à
Essa transformação ocorre com o movimento historiográfico história da música e das artes.5 Assim concebe quatro fases para esse
chamado: “Nova história”. movimento historiográfico: a fase clássica, durante os Oitocentos; a
história social da arte na década de 1930; a história da cultura popular
Em meados dos anos setenta durante a terceira geração da Escola
nos anos 1960; e essa nova história cultural posterior aos anos 1970,
dos Annales, Le Goff publica uma coletânea de obras chamada A nova
essa sim vinculada a tais publicações6.
história, essas obras oferecem novas perspectivas para historiografia,
5 BURKE, Peter. Apud LANGER, Johnni. A Nova História Cultural: Origens,
através de abordagens culturais em contraponto aos paradigmas Conceitos e críticas. In: História e-história. ISSN 1807-1783 Disponível em:
4 VAINFAS Ronaldo (org.) Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997. <http://www.historiaehistoria.com.br.> Acesso em: 01 fev. 2014. p. irreg.
p. 401 6 BURKE, Peter Apud LANGER, Johnni. A Nova História Cultural: Origens,

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Já com um estudo restrito à historiografia francesa, autores como ou essa nova abordagem historiográfica abre um leque de novas
Ronaldo Vainfas e Roger Chartier, vinculam o surgimento da nova história possibilidades, principalmente por aceitar outros tipos de fontes, até
cultural como resposta e continuidade à história das mentalidades. então marginalizadas como é o caso das charges que aqui serão
analisadas, ou até mesmo fazer uma análise diferente das fontes oficiais
Esse movimento recusaria o conceito de mentalidades, o considerando
muito fluido, ambíguo e pouco preciso, sem articulações entre o que até então eram estudadas.
psicológico e o social. Mas não negam o mental, nem os vínculos com a Portanto são essas novas abordagens que permitem a exploração
antropologia e a longa duração: É lícito afirmar, portanto, que a história das charges de J. Carlos, uma vez que essas publicações circulavam em
cultural é, neste sentido, outro nome para aquilo que, nos anos 1970,
era chamado de história das mentalidades7. meio à população de classe média, nos é permitindo analisar como as
informações da guerra chegavam a essas pessoas, e como são dadas
Chartier aponta que o desafio lançado à história nos anos oitenta é o a ler por elas.
afastamento a analise estrutural proposta pela história das mentalidades Peter Burke afirma que a imagem é o relato de uma testemunha
é o que ele denomina como deslocamento em forma de renúncia8 é o ocular de uma época, e assim como o texto ou um relato oral constitui
aprimoramento de novos métodos e a renúncia de algumas práticas que até uma forma importante de evidencia histórica11. Assim a análise dessas
então eram vistos como essências: Primeiramente a renúncia ao projeto de imagens é tão informativa como relatos escritos do mesmo período.
história total, ao estilo braudeliano9 que não dava primazia a um conjunto Mas é claro que essas novas fontes não falam sozinhas, assim
particular; segundo a definição territorial de pesquisa que para Chartier como os documentos oficiais, essas fontes precisam ser analisadas e
tornava a disciplina um procedimento de inventario; e terceiro a renúncia interpretadas, é necessário buscar saber qual mensagem elas tentavam
aos recortes sociais que não davam conta, e até mesmo impediam, as expressar.
abordagens culturais que a disciplina pode abordar. Para Chartier, o objetivo da história cultural é “identificar o modo
É a partir daí que o foco da história passa a ser a história das como em diferentes lugares e momentos uma realidade social é
diferenças das identidades, dos laços sociais e não se fala mais em construída, pensada, dada a ler”12, ou seja, como ela é representada
estrutura, mas sim em estruturação10. Dessa forma essa nova história, e dada a interpretação. Partindo desse pressuposto podemos afirmar
Conceitos e críticas. In: História e-história. ISSN 1807-1783 Disponível em:
que essa realidade social foi representada nas charges, devida também
<http://www.historiaehistoria.com.br.> Acesso em: 01 fev. 2014. p. irreg.
7 VAINFAS Ronaldo (org.) Apud LANGER, Johnni. A Nova História Cultural: a importância que as mesmas assumiam em seu período, fazendo se
Origens, Conceitos e críticas. In: História e-história. ISSN 1807-1783 Disponível assim necessário uma análise dessas charges para saber como ela foi
em: <http://www.historiaehistoria.com.br.> Acesso em: 01 fev. 2014. p. irreg.
8 CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos avançados elaborada e dada a ler.
vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p.173
9 11 BURKE, Peter.  Testemunha ocular: história e imagem. Bauru:  EDUSC. 2004.
10 GUARATO, Rafael. Por uma compreensão do conceito de representação In: p.17-18
História e-história. ISSN 1807-1783 Disponível em: <http://www.historiaehistoria. 12 CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa/
com.br.> Acesso em: 01 fev. 2014. p. irreg. Rio de Janeiro: Difel, 1990, p. 16

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Segundo ele, pode-se pensar uma história cultural que “tome por Ou seja, em um dos sentidos ocorre a presentificação do ausente,
objetivo a compreensão das representações do mundo social, que o e em outro o intangível toma forma. Chartier afirma que são essas
descrevem como pensam que ele é ou como gostariam que fosse”.13 as modalidades que permite discriminar diferentes categorias de
Essa afirmação reforça o fato que a informação contida na charge não signos, entretanto faz se necessários para que a relação seja inteligível
é a realidade social em si, e sim a forma que seu autor a interpreta, o conhecimento do signo por ele próprio, desvinculado ao que se
sendo então que o objetivo é a compreensão dessas representações está representando, a possíveis incompreensões da representação
que moldam a forma que a própria sociedade identifica e interpreta o só é possivel, seja por falta de “preparação” do leitor, seja pelo
mundo social a sua volta, assim sendo não se pode pensar a história fato da “extravagância” de uma relação arbitrária entre o signo e o
social naqueles recortes previamente construídos, como elite e povo, significado.16
dominante e dominado pois elas não estão forçosamente organizadas Chartier ainda afirma que a representação pode ser usada como
em uma grade única, a perspectiva deve focar nas áreas sociais, onde uma “máquina de fabricar respeito e submissão” uma vez que a
circula o curpus texto, ou seja, focar nos códigos e não nos grupos14, os representação pode fazer com que alguma coisa só tenha existência na
códigos neste caso são as representações contidas nas charges. própria imagem que exibe, ele exemplifica essa ideia com o seguinte
A noção de representação como instrumento de analise cultural texto:
é um dos instrumentos centrais para compreender a sociedade, é um
conceito para tornar a sociedade inteligível. Recorrendo ao dicionário Os nossos magistrados conheceram bem esse mistério. As suas togas
vermelhas, seus arminhos com que se enfaixam como gatos peludos, os
universal de Furetiere, Chartier demonstra que a palavra representação
palácios em que julgam, as flores-de-lis, todo esse aparato augusto era
apresenta dois sentidos: muito necessário: e, se os médicos não tivessem sotainas e galochas,
e os doutores não usassem borla e capelo e túnicas muito amplas de
Por um lado, a representação faz ver uma ausência, o que supõe uma quatro partes, nunca teriam enganado o mundo, que não pode resistir
distinção clara entre o que representa e o que é representado; de a essa vitrina tão autêntica. Se possuíssem a verdadeira justiça e se
outro, é a apresentação de uma presença, a apresentação pública de os médicos fossem senhores da verdadeira arte de curar, não teriam
uma coisa ou de uma pessoa. Na primeira acepção, a representação
o que fazer da borla e do capelo; a majestade destas ciências seria
é o instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objeto
bastante venerável por si própria. Como, porém, possuem apenas
ausente substituindo-lhe uma “imagem” capaz de repô-lo em memória
ciências imaginárias, precisam tomar esses instrumentos vãos que
e de “pintá-lo” tal como é... [Na segunda acepção] Outras imagens
funcionam num registro diferente: o da relação simbólica que, para impressionam as imaginações com que lidam; e destarte, com efeito,
Furetière, é “a representação de algo de moral pelas imagens ou pelas atraem o respeito.17
propriedades das coisas naturais (...). O leão é o símbolo do valor, a
bolha o da inconstância, o pelicano o do amor materno”. 15
vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p. 180
13 id. ibid. p.19 16 CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos avançados
14 CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos avançados vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p. 180
vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p. 180 17 PASCAL apud CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos
15 CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos avançados avançados vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p. 180

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Ou seja, as representações não são neutras, elas são determinadas moldou seu imaginário social frente às questões aqui analisadas, que
pelos interesses dos que a forjaram, e por consequência produzem é a Primeira Guerra Mundial, como ela formou uma identidade frente
práticas de dominação simbólica. Essa ideia é a chave para interpretação a esse problema.
que proponho na análise das charges, é identificar de que forma essa Baczko ainda afirma que determinar uma identidade coletiva propõe
dominação simbólica estava presente e qual os valores ideais que elas determinar um território, uma relação com o meio em que vivem e com
propunham. os “outros”, ou seja, aqueles que não fazem parte do mesmo grupo.
Bronislaw Baczko, por sua vez, também valida essa mesma ideia Em suas palavras:
de dominação simbólica em seu conceito de imaginação social, para
Porém, designar a identidade coletiva corresponde do mesmo passo,
entender melhor explanaremos aqui sobre tal conceito. a delimitar o seu ‘território’ e as suas relações com o meio ambiente
Para Baczko cada geração traz consigo uma definição própria de e, designadamente, com os ‘outros’; e corresponde ainda a formar as
imagens dos inimigos e dos amigos, rivais e aliados, etc.[...] Todas as
homem, que ocorre por transformações históricas de cada período,
coletividade tem os seus modos de funcionamento específicos a este tipo
assim sendo em cada geração possui formas próprias de moldar de representações. Nomeadamente, elaboram os meios da sua difusão
uma determinada ideia, daquilo que ela é ou daquilo que deveria ser, e formam os seus guardiões e gestores, em suma, o seu ‘pessoal’”. 20
assim imaginação social é a produção de representações da “ordem
Isso explica, por exemplo, a diferença existente nos discursos das
social”, dos atores sociais e das suas relações (hierarquia, dominação,
charges publicadas no Brasil, e nas charges publicadas nos Estados
obediência, conflito, etc.) 18
unidos, cada qual apresenta ideias, valores e significações diferentes
Sendo assim definido por Bronislaw Baczko:
para a guerra, pois as identidades desses dois povos não são a mesma.
Trata-se, sim, de um aspecto da vida social [...] É assim que, através dos Assim o autor afirma que o imaginário social não somente limita os
seus imaginários sociais, uma coletividade designa a sua identidade;
elabora uma certa representação de si; estabelece a distribuição dos
indivíduos que pertencem a uma mesma sociedade como também
papéis e das posições sociais; exprime e impõe crenças comuns; constrói define, mais ou menos, os meios inteligíveis das relações com ela. E
uma espécie de código de “bom comportamento”, designadamente é para além disso um dos mecanismos que regulam a vida coletiva e
através da instalação de modelos formadores tais como o do “chefe”, o
“bom súbdito”, o “guerreiro corajoso”, etc.19
em especial o exercício da autoridade e do poder. Logo o imaginário
social é uma forma eficiente de controle da coletividade e também um
Dessa forma, identificar os valores ideais que essas representações meio para a legitimação do poder dos indivíduos, retornando assim a
propunham, também é de certo modo entender como essa sociedade discussão anterior acerca das dominações simbólicas. Segundo o autor
nenhum poder e deduzido de princípios universais-físicos, ou seja, toda
18 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii.
Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 309 forma de poder tem que se impor como legítimo e assim sendo de
19 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. 20 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii.
Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 309 Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 309

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pouco importa os acontecimentos de sua origem, pois são as relações portanto o efeito final desse tipo de imagem é sempre simbólico, isto é,
de força e poder que o imaginário social comporta que validam as ela não é a própria realidade mas sim uma visão da mesma.
relações de sentido21, graças a essa estrutura complexa o imaginário Para Baczko a influência do imaginário sobre a as mentalidades
social intervêm em vários níveis da vida coletiva, criando redes de depende da difusão dessas ideias, ou seja, a maneira pela qual elas
significações como legitimar/invalidar; justificar/acusar; tranquilizar/ se tornam inteligíveis, isto é, pela produção de discursos, maneira
perturbar; mobilizar/desencorajar; incluir/excluir, etc.22 pela qual reúne as representações coletivas em uma linguagem e
Pouco importa nessa analise como realmente ocorreu a Guerra, o por consequências os meios que difundem tais ideias, Segundo ele
que nos cabe é como ela foi representada e como as representações existiram duas grandes rupturas significativas nesse meio, primeiro a
moldaram o imaginário social e validaram as relações de sentido. passagem da cultura oral para a escrita, graças a tipografia e também
Santaella propõe que existe 3 paradigmas no processo evolutivo da a alfabetização; e segundo os meios de comunicação em massa, esse
produção de imagem23sendo eles: Pré-fotográfico, fotográfico e pós- último sendo, entre outros, a impressa periódica, o meio de difusão
fotográfico, do qual nos interessa somente o primeiro paradigma, pois das charges que serão analisadas, que possibilita a uma única pessoa,
é o que contempla as imagens que são produzidas artesanalmente, detentora de tais meios a difusão de ideias, a formação do que se
antes da invenção da fotografia como o nome sugere. A diferença denomina “cultura de massa”25
fundamental nesta classificação de imagem é a sua produção manual, Com esses pressupostos em evidencia é possível através da análise
os meios que o artista utiliza para a criação dessa imagem, seja ela dessas fontes, interpretar como uma realidade social acerca da primeira
um desenho, uma pintura ou mesmo uma charge, é o que torna ela guerra mundial foi construída e transmitida para os leitores.
um objeto único. Para a autora nesta imagem funde-se o sujeito que
a cria, o objeto criado, e a fonte de criação. Desta forma a imagem 1.2 CHARGES CARICATURAS E CARTUM: BREVE DEFINIÇÃO
pré-fotográfica, funciona como uma metáfora,24 ela é uma janela
para o mundo, uma vez que o real é primeiro imaginado e depois A caricatura tem suas origens em um passado distante, muito antes
representado, através de um sistema de codificação ilusionista, pois por da invenção da impressa por Gutenberg. Podemos voltar ao antigo Egito,
mais figurativa que possa ser a imagem, é sempre evocativa, ou seja, por exemplo, para recordar os primeiros relatos de caricaturas, onde
ela alude a um mundo que não existe se não na mente de quem a cria, foram encontrados dois papiros com descrições cômicas que denotam
21 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos- sátiras contra poderosos reis, imperadores e sacerdotes da época ou
Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 309 - 310 até mesmo buscar na antiga cidade grega de Tebas, lugar que também
22 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii.
Anthropos-Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 312 encontraram pinturas de caráter semelhante, contendo sátiras a figuras
23 SANTAELLA, Lucia.; NÖTH, Winfriend. Imagem, cognição, semiótica, mídia.
São Paulo: Iluminuras, 2010. p. 163. 25 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos-
24 id. ibid. p. 172 Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985. p. 312 - 313

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renomadas do período26, entretanto sua origem é imprecisa. O que Herman Lima destaca que a caricatura nem sempre provoca o riso, sua
cabe aqui é que a caricatura, como já vimos, assume ao longo do intenção é caracterizar, utilizando para isso um poder de síntese seja
tempo um papel particular dentro do contexto social, sendo valorizados pessoal, social, ou político28entretanto como já pontuado ela acentua
para além do aspecto artísticos, mas também em seu aspecto históricos, os aspectos ridículos do representado podendo dessa forma provocar
o riso.
principalmente depois da invenção da imprensa, e ao que se refere ao
Camilo Riani nos seus estudos sobre os salões de humor de
Brasil o início do século XX, período em que essa expressão artística
Piracicaba acrescenta que tais retratos revelam também, implícita ou
começou a circular em grande escala.
explicitamente, traços e personalidade29 é isso que torna possível a
Entretanto para analisar historicamente as charges e caricaturas identificação de uma pessoa caricaturada.
teremos que diferenciá-las. Até o presente momento tratamos de As imagens abaixo apresentam J. Carlos de dois modos diferentes,
charges e caricatura como a mesma coisa, sem melhor defini-las. O a figura 1 um contém uma fotografia do caricaturista, portanto uma
que proponho aqui é discutir brevemente acerca da definição de ambos imagem real de sua fisionomia, a figura 2, entretanto, o mesmo aparece
os conceitos para melhor compreendermos e por consequência facilitar caricaturado e pouco se pode associar as duas figuras, isso ocorre por
a análise. não termos maior conhecimento sobre a fisionomia e a personalidade
A palavra caricatura vem do verbo italiano caricare, que significa da pessoa que está em evidencia.
carregar, exagerar e também pode ter sido influenciada pela palavra
carettere que significa caráter em italiano.
A caricatura segundo Fonseca é:

A representação plástica ou gráfica de uma pessoa, tipo, ação ou ideia


interpretada voluntariamente de forma distorcida sob seu aspecto ridículo
ou grotesco. É um desenho que, pelo traço, pela seleção criteriosa de
detalhes, acentua ou revela certos aspectos ridículos de uma pessoa ou
de um fato. Na maioria das vezes uma característica saliente é apanhada
ou exagerada. 27

Ou seja, é a retratação de uma pessoa contendo uma desfiguração


física, exaltando certos traços estéticos, com finalidades humorísticas. FIGURA 1 - FOTOGRAFIA J. CARLOS
Disponível em: <http:// www.memoriaviva.com.br.> Acesso em: 10 fev. 2014.
26 BUSO, Mariane Cristina; BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. Boletim casa Romário
Martins, Factos da Actualidade charges e caricaturas em Curitiba, 1900-1950. 28 LIMA, H. A História da Caricatura no Brasil. Rio de Janeiro, José Olympio
v.33, n.142. Curitiba: Fundação cultural de Curitiba. 2009 p. 11-13 Editores, 1956. p.29
27 FONSECA, J. Caricatura. A Imagem Gráfica do Humor. Porto Alegre: Artes e. 29 RIANI, Camilo. Ta rindo de que? (Um mergulho nos salões de humor de
Ofícios, 1999. p.17 Piracicaba), Piracicaba: UNIMEP, 2002. p.25

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FIGURA 3 - CARICATURA DILMA ROUSSEFF
FIGURA 2 - CARICATURA J. CARLOS Disponível em:<http:// www.acaricaturadobrasil.com> Acesso em:10 fev. 2014.
Disponível em: <http:// www.josecarlosdebritoecunha.wordpress.com.> Acesso em: 10 fev. 2014.

Diferente situação ocorre com a figura 3 que mesmo antes de De acordo com Pedro Lago a palavra charge vem da palavra
nomear e sem nem ao menos mostrar uma fotografia torna-se claro que francesa que significa carga32, tendo significado semelhante à caricatura,
se trata da presidente da república Dilma Rousseff, pois o observador, entretanto se a caricatura apresenta um indivíduo satirizando sua
já conhecendo a fisionomia e até mesmo um pouco da personalidade aparência física, a charge satiriza não só a fisionomia como também o
da pessoa caricaturada, consegue reconhece-lá através dos traços acontecimento, seja ele político, social, econômico etc.
exagerados da caricatura. Portanto, podemos interpretar as charges como ações caricaturadas
Vale aqui ressaltar que a caricatura segundo Teixeira busca a de um fato temporal ocorrido em âmbito público. Desta forma temos
imagem na pessoa real para recriá-la em um sujeito fictício, porem que considerar as observações feitas por Liebel, que enquanto a
exagerando nas características marcantes, e, além disso, a caricatura é caricatura refere-se a apenas a um indivíduo, a charge se utiliza da
despolitizada, ao contrário da charge, na caricatura não há narrativa e caricatura para melhor representar seu real foco de humor ao tratar
não há ação há apenas ilustração.30 de uma situação política, ou social. Segundo o autor isso ainda nos
Já a charge é mais complexa, segundo Riani é um “desenho leva a outra discussão: o observador da charge deve ter conhecimento
humorístico sobre fato real ocorrido recentemente na política, economia, da conjuntura na qual a charge foi produzida, do fato que ela está
sociedade, esportes etc. Caracteriza-se pelo aspecto temporal (atual) e satirizando e criticando e até mesmo dos personagens retratados nos
crítico”31 desenhos, para que essa possa ter sentido33.
30 RAMOS, Paulo Eduardo apud TEIXEIRA,  Luiz Guilherme Sodré.  Sentidos do humor, 32 LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros: 1836-1999. Rio de Janeiro:
trapaças da razão: a charge. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2005 p.92 Sextante Artes, 1999. p. 10
31 RIANI. op. cit. p.26 33 LIEBEL, Vinícius. Humor gráfico: Apontamentos sobre a análise das charges

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 213 | História | 2015


Na figura 4 vemos uma charge da presidente Dilma que foi publicada ou registro em desenho[...] Assim, justifica-se a utilização das charges
como uma fonte legítima de análises históricas, no mesmo grau em que
no site de notícias da UOL, nela a presidente Dilma está apresentando à
uma matéria jornalística também o é.34
previsão do tempo, entretanto a previsão esta satirizando as manifestações
populares que estavam ocorrendo no Brasil. Assim a charge faz uma Além da caricatura e da charge creio ser necessário pontuar mais
crítica direta ao despreparo da polícia que estava utilizando de violência um gênero: o Cartum. Fonseca diz que a palavra cartum vem do italiano
contra manifestantes pacíficos, e ainda faz menção especifica ao vinagre cartone que significa cartão e foi usada pela primeira vez na revista
que durante as manifestações estavam sendo proibidos pois segundo Punch na Inglaterra em 1841 em que se parodiou a corte inglesa.35
a policia, o vinagre anularia o efeito do gás lacrimogêneo. Ou seja, Esse, diferente da charge, não se refere ao um fato político ou
a charge só é totalmente compreendida por um leitor que está bem social, ele simplesmente narra uma ação através de um desenho
informado a respeito da situação satirizada, de outra forma ela não surte humorístico. Riani define como: “desenho humorístico sem relação
o efeito esperado que é o humor. Nas palavras de Liebel: necessária com qualquer fato real ocorrido ou personalidade pública
A charge é uma representação artística que faz um corte transversal específica. Privilegia, geralmente, a crítica de costumes, satirizando
no tempo ao expor elementos que provocaram alguma ruptura na comportamentos e o cotidiano”36, ou seja, ele é atemporal, uma vez
normalidade histórica e, por isso, mereceram alguma espécie de crítica
que não está diretamente ligado a uma notícia ou fato especifico, e nem
a um personagem distinto.
No primeiro quadro da figura 5 percebemos um cadeirante
fazendo uma pergunta à outra pessoa “Por favor, o senhor poderia
me dar uma...” e antes que ele complete a frase, o senhor lhe dá uma
esmola, sentindo-se muito bonzinho. Entretanto no quadro dois vemos
o cadeirante, indignado, que completa sua frase: “... informação!”.
Essa imagem difere da charge, pois sua crítica não se volta a um
acontecimento especifico, como na figura 4, mas sim a um problema
amplo sem especificar um personagem, um lugar ou um acontecimento
especifico.

FIGURA 4 - CHARGE MANIFESTAÇÕES 34 LIEBEL, Vinícius. Humor gráfico: Apontamentos sobre a análise das charges
Disponível em:<http// fotos.noticias.bol.uol.com.br > Acesso em:10 fev. 2014. na História. In: Simpósio nacional de história, 23, 2005, Londrina. Anais do XXIII
Simpósio Nacional de História – História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005.
na História. In: Simpósio nacional de história, 23, 2005, Londrina. Anais do XXIII Disponível em: < http://anpuh.org/anais.> Acesso em: 01 mar. 2014. p. irreg.
Simpósio Nacional de História – História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005. 35 FONSECA, J. op. cit. p.26
Disponível em: < http://anpuh.org/anais.> Acesso em: 01 mar. 2014. p. irreg. 36 RIANI, Camilo. op. cit. p.26

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dúvida o principal fator de uma charge, “pois é no reconhecimento
do personagem da sátira que se verifica a interação do público com a
mensagem, principalmente no caso das charges políticas.”37 Entretanto
é aqui que o autor da charge encontra um desafio, para que o
personagem seja reconhecido pelos leitores, o autor busca destacar\
exagerar características especificas da pessoa que será retratada, mas
além disso é necessário “dar vida” ao personagem, representar as
emoções que ele desempenha na ação retratada na charge. Para isso
o autor modifica alguns traços na fisionomia do caricaturado, seja o
FIGURA 5 - CARTUM O CADEIRANTE posicionamento das sobrancelhas ou dos olhos, ou até mesmo o franzir
Disponível em: < http // www.cvi.org.br > Acesso em:10 fev. 2014.
da testa, porém não modifica a estrutura da fisionomia, de forma que
Sobre ao que se refere à charge, são necessários alguns o leitor consiga identificar o personagem, mas também suas variações
apontamentos sobre as técnicas de sua produção. Primeiro devemos de humor. Somado as expressões faciais temos a linguagem corporal
considerar que nada em uma charge está ali por acaso, todos os que quando bem representada nos fornecem elementos sobre o humor
elementos contidos na charge, inclusive pequenos detalhes contidos no do caricaturado, os gestos feitos com as mãos ou até mesmo a postura
plano de fundo, representam alguma ideia, que pode ser individual ou do caricaturado nos permite identificar variações de sentimento como:
diretamente relacionada com a ideia principal da charge, sendo assim raiva, medo, alegria e etc.; assim como o posicionamento nas relações
nenhum detalhe deve ser menosprezado. de poder: ameaçador, subjugado e etc.
As técnicas de desenho como cores e iluminação, que muitas
vezes enfocam ou desfocam determinado personagem, permite que 1.3 A INFORMAÇÃO NO BRASIL NO FIM DO SECULO XIX INICIO DO
percebamos qual a ideia central do autor, a principal crítica da charge SÉCULO XX
sempre estará em destaque seja pela cor ou iluminação, e o que estiver
à margem, fora do foco central, recebera menos destaque, para que A imprensa tem seus primórdios em 1438 com a invenção da
o leitor primeiro compreenda a ideia central e então acrescente os tipografia, por Gutenberg, no entanto mais um século e meio foi
elementos secundários, que reforçam a crítica principal ou pontuam necessário para o surgimento da imprensa periódica38 e levou ainda mais
críticas secundarias de menor importância. 37 LIEBEL, Vinícius. Humor gráfico: Apontamentos sobre a análise das charges
na História. In: Simpósio nacional de história, 23, 2005, Londrina. Anais do XXIII
A estruturação do plano de fundo de uma charge é essencial, pois
Simpósio Nacional de História – História: guerra e paz. Londrina: ANPUH, 2005.
permite que o leitor contextualize o que está sendo satirizado, mas Disponível em: < http://anpuh.org/anais.> Acesso em: 01 mar. 2014. p. irreg.
como aponta Liebel à fisionomia do personagem caricaturado é sem 38 ALBERT, Pierre.; TERROU, Fernand. História da imprensa. São Paulo: Martins
Fontes, 1990. p.04

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para ela chegar ao Brasil com “A gazeta do Rio de Janeiro” a qual foi viável de representação imagética, pois mesmo, que de forma precária
o primeiro periódico oficial brasileiro em 1808, que só foi possível com já se utilizasse da fotografia, ilustrar era a única forma acessível para
a vinda de dom João VI para a colônia e com a fundação da imprensa reprodução imagética de uma determinada informação, basta pensar
regia, pois até então era proibido publicações na colônia portuguesa. que a imprensa não possuía uma equipe de repórteres posicionados pelo
Ainda assim somente em 1831 foram publicadas as primeiras caricaturas mundo para cobrir e fotografar os acontecimentos em tempo real como
brasileiras, no entanto, os periódicos que continham tais publicações ocorre hoje em dia.
não atingiram grandes proporções, que só serão atingidas em 1844 no Desta forma permitindo a representação imagética de um acontecimento
periódico a lanterna mágica39. Portanto desde a metade do século XIX mesmo que esse não tenha sido presenciado por algum repórter, as charges
os periódicos brasileiros contem publicações desse tipo, Herman Lima, vão assumindo o seu papel informativo nesse período, conquistando seu
entretanto cita que segundo estudos a charge só veio ter importância lugar nas revistas ilustradas que surgem por todo o mundo. Mas para além
nos periódicos brasileiros em 1855 com o periódico Brasil ilustrado, e da informação outra função lhe cabe bem: sempre acrescidas de sátiras
ainda aponta inúmeras discussões sobre periódicos anteriores que já humorísticas, elas apresentam além de uma presentificação do ausente,
utilizavam tal recurso40. Mas o que cabe aqui é compreender, para além função desempenhada pela fotografia de forma muito mais eficaz, a
das datas, a importância que essas charges representam nos periódicos charge traz a informação em forma de crítica.
do final do século XIX e no início do XX. O período analisado é marcado pela inovação, a urbanização,
Estamos em pleno século XXI, a era da informação, um período em o surgimento do samba, do telefone, do bonde elétrico e do avião,
que tudo que se precisa saber está a um click de distância, todos os dias novidades que permearam os imaginários da época e que se tornaram
somos bombardeados de informações por todos os lados, isso está tão notórios através das charges e caricaturas nas revistas ilustradas, tais
próximo e enraizado em nossas mentalidades que muitas vezes não nos dimensões da charge podem ser compreendidas ao analisar o número
damos conta do processo que permite que essas informações cheguem de revistas ilustradas que surgem nesse período por todo o Brasil deixando
até nos, entretanto com a tecnologia existente hoje é obvio afirmar que clara a devida importância da produção caricaturista. São inúmeros os
trazer à tona as notícias nos tempos atuais é muito mais simples que títulos e os assuntos, entretanto sempre contando com a caricatura em suas
no início do século XX. As fotografias de alta resolução ilustram as mais representações.
diversas publicações que se pode imaginar, apenas em um tempo que a O surgimento de tantas revistas ilustradas nesse período pode ser
maioria possui uma câmera nos bolsos isso se torna possível, entretanto justificado pelo avanço tecnológico na área de impressão que ocorreu nas
o período que decorre entre a segunda metade do século XIX até início últimas décadas do século XIX
do século XX foi um período em que as ilustrações eram a forma mais
O século XIX foi aquele que viu nascer as revistas humorísticas,
estimuladas pelos avanços nas técnicas de impressão e reprodução que
39 LIMA, H. op. cit. 1956 p.69
possibilitaram o aumento das tiragens e o consequente aumento do
40 id. ibid. p.70

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 216 | História | 2015


público leitor. Esta associação entre humor e imprensa, especialmente Para esta pesquisa a importância deste movimento é que neste
destacada nos países europeus, também ocorreu nos principais centros
momento que as definições de humor são renovadas. Saliba nos indica
urbanos brasileiros, embora tenha sido um pouco mais tardia, já que
os processos de modernização da imprensa no Brasil foram lentos e que ao longo da história existiram muitas tentativas de conceituar o
concentraram-se nas três últimas décadas do século XIX.41 humor, entretanto as definições são imprecisas podendo somente afirmar
que o mesmo é uma experiência humana imprecisa a qual caberia quase
Não somente as revistas se tornam notáveis como também seus
tudo. Em 1621 em um tratado denominado Anatomia da melancolia
caricaturistas, artista que se consagraram com o tempo devido às
Robert Burton define alguns limites e regras para o humor, e a partir daí
dimensões que algumas de suas produções encontraram. Dentre os
a cultura ocidental define alguns paradigmas para dois tipos de risos: o
caricaturistas mais conhecidos e mais tarde bem renomados do início do
riso bom, que consiste na expressão de alegria licita, e o mau riso que
século XX estão: J. Carlos, K. Lixto, e Raul Perneiras figuras que traçaram
consiste pelo “rir de...” ou o “rir contra...”. Outro paradigma também
as diretrizes da caricatura nacional, suas charges eram tão expressivas e
construído nesse período e o da teoria da superioridade que define o riso
bem representadas que as representações da primeira guerra mundial,
como a transformação de uma expectativa tensa em nada.
descrita por J. Carlos, por exemplo, tiveram um alcance internacional e
Esses paradigmas são vistos como uma concepção clássica do humor
frequentemente foram reproduzidas na Europa nas melhores revistas42,
que é rompida na Belle Époque, ou seja, a Belle Époque é o período de
não é por menos que as caricaturas desses artistas vão permear os
crise nas articulações clássicas do humor, o que possibilita a exploração
periódicos brasileiros por mais de cinco décadas, e também é a fonte
dessa forma de comicidade que é a charge.
para essa pesquisa.
É nesse momento que é produzido as mais notadas reflexões sobre
Outro fator fundamental para entendermos como a charge tomou
humor: a de Bérgson (1899) a de Freud (1905).
essas proporções é a respeito das renovações de humor que estavam
A teoria de Bérgson afirma que o cômico existe no contraponto entre
ocorrendo nessa época. O período que decorreu na Europa entre 1890 e
elementos mecânicos e elementos vivos, para exemplificar podemos
1914, ano em que começou a Primeira Guerra Mundial, ficou conhecido
pensar em uma pessoa que desempenha suas atividades cotidianas
como Belle Époque. Essa expressão, contudo, só surgiu depois do conflito
com uma regularidade mecânica, cujos objetos foram embaralhados ou
armado para designar um período considerado de expansão e progressão.
trocados de lugar, como colocar a pena no tinteiro e sair cola, sentar em
Tanto em nível intelectual como artístico, dado pelas inovações da época.
uma cadeira solida e cair no chão, para ele o cômico nascia quando
Já no Brasil se vivenciou um período entre 1889 com a proclamação
um aspecto mecânico era colocado sobre o vivo, dessa forma o riso não
da república a 1922 com a semana da arte moderna, que conhecido
existe fora do que é propriamente humano, e deve ser associado a uma
como Belle Époque Tropical, e assim como na Europa esse movimento se
função social, se não o riso se torna algo a parte, sem relação com o
consagrou pelas inovações artísticas e intelectuais.
resto da atividade humana.”43
41 SALIBA, Elias Thomé. op. cit. p. 38
42 LIMA, H. op. cit. p.143 43 SALIBA, Elias Thomé. op. cit.. p. 22

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Para compreender o riso, impõe-se colocá-lo no seu ambiente natural sociedade crias suas próprias representações e transgressões como
que é a sociedade; impõe-se, sobretudo determinar-lhe a função útil,
afirma o conceito de imaginário social.
que é uma função social. O riso deve corresponder a certas exigências
da vida em comum. O riso deve ter uma significação social.44
2 A GUERRA REPRESENTADA NAS CHARGES DE
Não se trata mais como nos paradigmas clássicos do humor, J. CARLOS
descobrir a essência do risível, pois uma vez que o riso é uma função
2.1 J. CARLOS E A CARETA: INFORMAÇÕES GERAIS
social, é na sociedade que se acha a resposta, dentro dessa perspectiva
a charge política se encaixa muito bem, pois junto ao riso trás a crítica
José Carlos de Brito e Cunha popularmente conhecido como J.
social.
Carlos juntamente com Raul (pseudônimo de Raul Pederneiras) e K.
Para Freud o riso funciona como libertador das emoções reprimidas
Lixto (pseudônimo de Calixto) formavam a grande tríade da caricatura
é uma válvula de escape perante as proibições da sociedade, o riso
brasileira, desenharam todos os grandes acontecimentos da primeira
compensa o continuo gasto de energia para manter as proibições que
metade do século XX, além de representar o dia a dia brasileiro para
a sociedade impõe. 45

muito além dos conflitos políticos.


Freud define que o riso acontece se duas pessoas no geral for
Dentre eles destaco J. Carlos, pois foi esse o autor da maioria e das
envolvida, além do Eu (observador), é necessário outra pessoa (objeto)
mais representativas charges sobre a primeira guerra mundial.
em que é constatado algo cômico ou seja o cômico ocorre na relação
46

Carioca nascido em 18 de junho de 1884 e falecido em 2 de outubro


entre o “eu” e o “objeto” sem necessitar de uma terceira pessoa,
1950, J. Carlos estreou em O tagarela em 1902, ao lado dos outros dois
essa reflexão pode ser empregado no cômico contido na caricatura
integrantes da tríade que dirigiam essa revista, e de lá até os anos 50
uma vez que o leitor (eu) identifica o cômico na imagem do outro
produziu inúmeras charges abordando os mais variados assuntos,
(objeto), mesmo que esse outro seja uma representação caricaturada.
Novamente afirmando que o riso é um processo social, pois ele nunca Seus desenhos testemunham o surgimento do telefone, da fotografia,
do chope, do samba, do bonde elétrico, do automóvel, do cinema, do
ocorre sozinho necessitando do outro, uma vez que ele se manifesta nas
rádio, do avião, da cultura do futebol, da praia e do carnaval, e no
relações sociais humanas. campo político, a República Velha, a Revolução de 30, o Estado Novo
O que se pretende neste trabalho e analisar o cômico contido nas e as duas Guerras Mundiais. Sua crônica visual não deixa escapar a
modernização segregadora do projeto urbanístico de Pereira Passos
charges como o possuidor de uma função social como afirma essas e neste sentido retrata tanto os hábitos afrancesados das classes mais
teorias, e alem disso demonstrar que todas as produções humorísticas favorecidas - com seu footing e chás da tarde na Confeitaria Colombo -
como o nascimento da cultura do morro, a disseminação das favelas e a
são historicamente mutáveis e culturalmente inventadas, já que cada sobrevivência da cultura carioca do Rio antigo no bairro da Lapa.”
47
44 id. ibid .p. 22
45 id. ibid. p. 23 47ENCICLOPÉDIA Itaú cultural. Disponível em: < http:// www.itaucultural.org.
46 id. ibid. p. 26 br.> Acesso em: 05 mar. 2014. p. irreg.

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Na visão de Lima48 não ha em nosso país exemplo de autoditatismo fim [...] Não sendo menos digno de nota que manteve também, por mais
de dez anos, um ateliê de publicidade, donde saíram alguns dos nossos
melhor que o de J. Carlos, artista cujas obras se destacavam justamente
mais belos cartazes de propaganda, além da ilustração de vários livros.
pela perfeição do desenho e pelo equilíbrio da composição, sendo
o único entre quatro irmãos (um médico, outro almirante e outra Com um histórico inquestionável, pode se considerar J. Carlos o
professora do instituto nacional de música) que não estudou desenho, maior caricaturista do início do século XX. Assim como afirma Herman
abandonou o curso ginasial do colégio São Bento para se dedicar Lima:
inteiramente a arte a qual haveria de imortalizar.
Ninguém exerceu com maior dignidade profissional a sua arte do que
Difícil de imaginar que estreando nesta carreira em 1902 pudesse esse incomparável desenhista, cujas criações, da mais bela e escorreita
em tão pouco tempo ter sob seu nome artístico a direção da revista A execução e do mais fino gosto, aliados à graça do motivo e à elegância
Careta. Em 1908 ele ingressou na revista A Careta, ficando até 1921 do traço, encheram durante quase meio século as páginas das nossas
melhores revistas ilustradas.50
períodos que se afasta da revista, para tornar-se diretor das publicações
da revista O Malho, retornando somente em 1935 e fica até o final de Elogios como estes são comuns ao descrever o trabalho de J. Carlos,
sua vida. Mas não foi somente nesta revista que sua arte foi divulgada, mas para além dos elogios seu talento está explicito nas suas milhares
muitas outras também levaram seus traços, segundo Lima49 é possível de composições de todos os gêneros, especialmente nas series vindas
dizer sem exagero que depois de seu aparecimento não houve da A Careta como: As aventuras de Brocoió que funcionava como um
publicações ilustradas alheias ao seu lápis. espelho semanal da vida de uma grande capital; Almanaque das glorias,
Com a precisão de seus informes cita Rubens Gill as seguintes: O onde desfilavam centenas de figurões da época, das ciências, das letras
Tagarela, de 1902 a 1903. A Avenida, de 1903 a 1904. O Malho, século e da política tanto brasileira quanto internacional; Arca de Noé, com
XX, de Mas Fleiuss, Leitura Para Todos, O Tico-Tico, almanaques d’O
dúzias de representantes internacionais; como também as charges das
Malho e d’O Tico-Tico, de 1905 a 1907. Fon-Fon!, de 1907 a 1908. A
Careta dessa data a 1921 e de 1935 a 1950. O Filhote da Careta, de duas guerras mundiais que de tamanha qualidade chegaram a ser
1910 a 1911. O Juquinha, de 1912 a 1913. D. Quixote, de Bastos Tigre; reproduzidas, muitas vezes, na imprensa estrangeira. Lima ainda afirma
A cigarra e A Vida Moderna, de São Paulo; Revista Nacional, Eu Sei Tudo,
Revista da Semana, de 1918 a 1921. De 1922 a 1930, dirigiu a parte que muitos dos cidadãos de influência da época, em particular o Barão
artística das publicações da empresa de d’O Malho, Ilustrando Para do Rio Branco, Marechal Hermes da Fonseca, Pinheiro Machado, Nilo
Todos..., Ilustração Brasileira, O malho, O Tico-Teco, Cinearte e Leitura
Para Todos além dos Almanaques d’O malho e d’O Tico-Teco e do álbum Peçanha, Epitácio Pessoas, estão mais vivos nas charges de J. Carlos
de Cinearte. De 1931 a 1934 fez grande número de capas e ilustrações do que em qualquer biografia, pois segundo ele a caricatura apresenta
para O Cruzeiro e Fon-Fon!, Quando atingiu talvez o ponto mais alto de
a opinião do homem da rua, a voz da crítica contemporânea.51 Daí a
sua carreira artística, tendo então voltado A Careta, que foi assim, com
aquele intervalo de 1922 até 1935, a “sua” revista, onde trabalhou até o importância que suas obras desempenham no estudo histórico.

48 LIMA, H. op. cit.. p. 1072 50 LIMA, H. op. cit. p. 1072


49 LIMA, H. op. cit.. p.1074 51 id. Ibid. p. 1078.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 219 | História | 2015


J. Carlos criou vários personagens que eram admirados por O caminho traçado por J. Carlos caminha paralelo com a história
todos, desde as crianças com suas histórias infantis como as aventuras da própria revista A careta, pois foi nela que passou a maior parte de
de jujuba, do Juquinha do carrapicho e da lamparina, assim como sua carreira, e por consequência publicou a maioria de seus trabalhos.
personagens adultos que representavam a vida carioca, que é o caso A revista A Careta foi lançada em 1908 por Jorge Schimit, no Rio
da melindrosa e do vagabundo. Ao deixar a Careta em 1922 o seu de Janeiro mesmo no princípio de suas publicações já contava com
colega Alvaro Moreyra escreveu em um texto intitulado “O inventor da grandes nomes além de J. Carlos como K. Lixto, Olavo Bilac, Martins
Melindrosa”: Fontes, Lima Barreto e Olegário Mariano54. Assim como o nome sugere
A careta continha sátiras à sociedade carioca, sendo suas “caretas”
Um dia, decerto, no começo do próximo século, o rio de janeiro não
possuirá mais a carioca: as raparigas das margens da Guanabara não representadas nas charges, a maioria delas feitas por J. Carlos. A
se distinguirão das raparigas das margens do resto do planeta: idênticas Careta não media palavras para demonstrar o seu humor e ousadia,
preocupações, atitudes iguais, o mesmo modo de vestir, gravidade,
isso fica visível no seu editorial de abertura:
pessimismo... Neste dia um curioso de coisas do passado encontrará,
nas páginas de uma revista, as figuras de J. Carlos; Encontrará a Aí vai a nossa Careta. Lançando à publicidade este semanário, é
melindrosa, que ele inventou e que constituiu o lindo modelo de nossas preciso confessar, e contritamente o fazemos, que a Careta é feita para
contemporâneas... O ente que olhar, daqui a cem anos, as obras primas o Público, o grande e respeitável público, com P grande! Se tomamos
de J. Carlos poderá viver a vida que estamos vivendo...52 essa liberdade foi porque sabíamos perfeitamente que ele não morre
de caretas. Longe vai o tempo em que isso acontecia. Todavia, a
Ao que se refere aos desenhos infantis, cabe também ressaltar nossa esperança é justamente que o público morra pela Careta, a
que o criador de Mickey Mouse, Walt Disney em sua visita ao Brasil, fim de que ela viva. E, feita cinicamente essa confissão egoística (nós
estamos no século XX) digamos logo que o nosso programa cifra-se
demonstrou sua admiração pelo artista brasileiro e chegou a convida-lo unicamente em fazer caretas. [...] Se ao ver a Careta, gentil senhorita,
para trabalhar com ele nos Estados Unidos.53 apreciadora entusiasta das seções galantes do jornalismo smart, franzir
Lima também aponta outro fator importante nas obras de J. Carlos, graciosamente as graciosas sobrancelhas, na boquita rubra estalando
um desprezador muxoxo, nós já temos meia vingança: o muxoxo é meia
as legendas, que sempre possuíam um toque finamente sugestivo, careta, pelo menos. [...] Com um programa tão vasto, tão sedutor, tão
acrescido de malicia e um permanente toque de graça. Assim suas (como diremos?) característico, esperamos da simpatia do público o
obras possuem um toque de sutileza, nas palavras de Lima: franco acolhimento que lhe não merecem tantas caretas por aí, bem
conhecidas[...]” 55
Capaz de fixar com mais admirável propriedade o lado risível do homem,
não tem essa ferocidade, essa vindicativa revolta de quem precise tratar Na explicação de Clara Nogueira a interpretação do título da revista
de seus tipo, como se, em vez de lápis, manejasse o chicote, e, em vez diz respeito ao trocadilho proposto no texto entre o jogo semântico e
de certos retoques sugestivos, distribuísse bofetadas.
visual criado entre Careta (o título da revista) versus careta (contração
52 LIMA, H. op. cit. p.1084 54 A CARETA n.1. Rio de Janeiro: [ s. n. ] 06/06/1908 p.2
53 id. Ibid. p. 1099. 55 A CARETA n.1. Rio de Janeiro: [ s. n. ] 06/06/1908 p.3

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 220 | História | 2015


do rosto ou trejeito cômico da face, expressão facial caricata) que acontecimentos da primeira metade do século XX foram registrados não
levaria o leitor a perceber a estratégia do discurso da revista: provocar o só em letras, mas em imagem que nos trazem humor até mesmo das
cômico, fazer rir, propor a crítica irreverente, através do uso abundante maiores atrocidades humanas como foram às guerras mundiais.
do desenho caricaturado.56 O uso das caretas, ou melhor, dizendo das
charges humorísticas, em quantidades abundantes nesse período não 2.2 AS REPRESENTAÇÕES DA GUERRA
é exclusividade desse periódico, isso deve ser sobretudo a dois fatores:
primeiramente como já vimos as grandes transformações do século XX, Ao explorar as charges de J. Carlos podemos traçar um quadro
que exigiam um meio de retratar os acontecimentos de forma pratica, das ideias e opiniões do autor sobre a Primeira Guerra Mundial, assim
trazendo ao leitor uma imagem alegórica do que estava acontecendo; como identificar a mensagem que circulava na mídia brasileira e que
e as novas técnicas do jornalismo nacional como aponta Nicolau povoava o imaginário da sociedade carioca desse período.
Sevcenko: Outro fator preponderante na análise é o contexto do período de
guerra e a posição brasileira perante tal conflito.
Novas técnicas de impressão e edição permitem o barateamento extremo
da imprensa. O acabamento mais apurado e o tratamento literário e A intensa disputa entre as potencias econômicas pela posse do
simples da matéria tendem a tornar obrigatório o seu consumo cotidiano mercado mundial acabou por deflagrar a Primeira Guerra Mundial, O
pelas camadas alfabetizadas da cidade. Esse “novo jornalismo”, de par
conflito ocorreu entre 28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918,
com as revistas mundanas, intensamente ilustradas e que são o seu
produto mais refinado, torna-se mesmo a coqueluche da nova burguesia evento que custou a vida de muitas pessoas. Estima-se que a Europa teve
urbana, significando o seu consumo, sob todas as formas, um sinal de nesse período a população reduzida a 13 milhões de habitantes.58
bom-tom sob a atmosfera da Regeneração.57
Tendo em seu início de um lado a Tríplice Entende (Reino Unido,
França e Império Russo) e do outro a Tríplice Aliança (Império Alemão,
É dessa forma que A Careta junto a J. Carlos assume o grande
Áustria-Hungria e Itália) iniciou-se a primeira Guerra Mundial, entre
papel que hoje dispõem na história da imprensa brasileira, nas suas
tanto logo essas alianças se reorganizaram, e a Itália lutou junto à
páginas escreveu-se a história em tempo real, através do senso
Tríplice Entende. Junto a essas, várias outras nações entraram na guerra,
crítico e habilidades artísticas do caricaturista J. Carlos, os principais
como é o caso dos Estados Unidos, que em abril de 1917 juntou-se
56 NOGUEIRA, Clara. Revista careta (1908-1922): símbolo da modernização da
a Entende, motivados pela guerra submarina alemã que ameaçava
imprensa no século xx. Revista de Pós-Graduação em Letras UNESP – Campus de
Assis ISSN: 1984-2899 Miscelânea, Assis, vol.8, jul./dez. 2010 Disponível em: < paralisar suas exportações e a intenção germânica de atrair o México,
http:// www.assis.unesp.br.> Acesso em: 05 mar. 2014. p. 76 prometendo-lhes ajuda a conquista do território anteriormente perdidos
57SEVCENKO, Nicolau. Apud NOGUEIRA, Clara. Revista careta (1908-1922):
símbolo da modernização da imprensa no século xx. Revista de Pós-Graduação para os estadunidenses59
em Letras UNESP – Campus de Assis ISSN: 1984-2899 Miscelânea, Assis, vol.8, 58 MARANHÃO, Ricardo;  JUNIOR, Antônio. Brasil História - Texto e Consulta
jul./dez. 2010. Disponível em: < http:// www.assis.unesp.br.> Acesso em: 05 volume 3: República Velha. São Paulo: Brasiliense, 1979 p. 239
mar. 2014. p. 65 59 PAZZINATO, Alceu Luiz: SENISE, Maria H. Valente. História Moderna e

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O Brasil também entrou na guerra somente em 1917. Permaneceu
neutro até esse período, tendo essa situação modificada graças a
um ataque alemão a um navio brasileiro que navegava em águas
francesas. A declaração brasileira de guerra veio em 1 de junho de
1917, contudo o Brasil nunca enviou soldados a frente de batalha,
participou enviando medicamentos e equipe medicas para ajudar
a Tríplice Entende e também realizando patrulhamentos no oceano
Atlântico com embarcações militares.
Mesmo não tendo uma participação direta na guerra, as mídias
brasileiras mantinham uma cobertura dos acontecimentos da guerra.
Um exemplo, disso é a coluna denominada “Notas de Guerra”, dedicada
somente a cobertura da guerra, publicada na revista Fon-Fon! entre o
período de 1914 e 1918. Como já vimos, as charges de J. Carlos foram
realmente representativas durante esse período, suas charges sobre a
guerra abordam os mais diversos assuntos desde os problemas gerados
na economia, até a violência que a guerra representava, mas sempre
com muito humor. FIGURA 6 GREGOS E TROYANOS
Para dar conta de representar o vasto cenário da primeira guerra DA ESQUERDA PARA DIREITA: Pedro da Sérvia; Alexandre da Sérvia; Alberto da Bélgica;
Joseph Joffre; Paul Von Hindenburg; Francisco José; Jorge V; Woodrow Wilson.
J. Carlos identificou cada país pelos seus governantes em um processo FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do
século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000 p. 16.
de transnominação, ou seja, identificando um pelo outro. A facilidade
de reconhecimento dessas figuras ocorre principalmente nas feições dos
desfrutavam de sua antipatia, como o imperador da Áustria Francisco
trajes característicos, além de que muitos desses personagens haviam
Josè, descrito como uma alma boa de coração sensível vivendo a mercê
sido apresentados no decorrer da guerra, numa seção da revista A
da fatalidade60.
Careta denominada de “Arca de Noé”, mais tarde renomeada “Gregos
Mas sem sombra de dúvida a figura mais caricaturada por J. Carlos
e Troyanos” (Figura 06). Nesta coluna J. Carlos aproveitava para expor
durante a guerra é o Kaiser Guilherme II. Poucas semanas após o início
suas simpatias e antipatias sobre tais figuras, Dapieve afirma que os
da guerra é desta forma que J. Carlos representava o Kaiser:
generais e políticos ingleses e franceses foram quase canonizados
por J. Carlos como é o caso do rei sérvio Pedro, assim como outros 60 LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do
século XX na visão de um caricaturista brasileiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra,
Contemporânea.. São Paulo: Ática, 1995 p.222 2000 p.15

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como momento de loucura que Dapieve aponta é muito expressada pelo
autor, em todas as charges que aqui serão analisadas esse elemento
fica visível.

A entrada do Brasil na guerra foi tardia, apesar disso vários jornais


estadunidenses saudaram a participação brasileira. Na edição da
careta de 12 de janeiro de 1918 foi publicado algumas dessas charges
(Figura 08).

FIGURA 7 OPERAÇÃO CESARIANA


LEGENDA: O Kaiser – A minha acção é toda scientifica. eu quero ver como são as entranhas da terra.

Sob o título de “Operação Cesariana” é mostrado o Kaiser com a


espada em uma mão e a lira na outra, vestindo trajes romanos, nesta
charge (figura 07) J. Carlos buscou fazer um trocadilho entre “César”,
título dado ao imperador romano o qual é a origem epistemológica
da palavra Kaiser, e a técnica cirúrgica “cesariana”, operação realizada
para retirar um feto de dentro do útero. O trocadilho, e junto com ele o
humor, se completa com a legenda onde o Kaiser diz: “A minha acção é FIGURA 8 A ENTRADA DO BRASIL NA GUERRA
toda scientifica. Eu quero ver como são as entranhas da terra.” Dapieve LEGENDAS DA ESQUERDA PARA DIREITA: Do Evening Etar, Washington. Parabens e
benvindo sejas no combate em prol da democracia mundial; Do New York Herald. No combate
afirma que a intenção do autor era representar o Kaiser como um Nero mundial em prol da liberdade; Philadelphia record. O anniversario da Republica do Brasil – Um
redivivo, atribuir-lhe assim um caráter de louco, “estava já posto um novo defensor da democracia; Do culumbus Evining Dispatch. Lado a lado pela liberdade.
tema J. Carliano por excelência, o da guerra como um momento de FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do
loucura, inicialmente individual, depois coletivo”61. Essa visão da guerra século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000 p. 18

61 LOREDANO. Cássio, (org.) op. cit. p.15

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É possível perceber nessas publicações o reconhecimento do Essa visão heroica de guerra não faz juízo as publicações do J.
heroísmo daquele que luta na guerra, por exemplo, na charge do Carlos, que como já foi dito, vê a guerra como um ato de loucura e isso
Evening Star de Washington vemos o Estados Unidos, representado pelo é bem expressivo nas suas obras.
Tio Sam, parabenizando o Brasil pela entrada na luta pela democracia Ao se referir ao Estados Unidos é perceptível que J. Carlos sempre
mundial. A do New York Herald mostra um soldado brasileiro ostentando o representa com desconfiança, e não como aliados como visto nas
a bandeira brasileira com orgulho, atrás vemos o brasão das armas charges acima, mostrando o Estados Unidos como um aproveitador e
do Brasil, símbolo republicano brasileiro que nos remete a uma ideia imperialista.
de democracia, de direito á liberdade, essa ideia se completa com a
legenda “no combate mundial em prol da liberdade”. Nas outras duas
charges a da Philadelphia Record e a do Columbus Evening Dispatch
as mesmas ideias estão presentes, primeiro a da justificativa da guerra
em prol da liberdade e em segundo plano a amizade brasileira com
os estadunidenses e seus aliados, como pode ser observado na última
charge, do Culumbus Evening, o fato do planeta terra, em que se vê escrito
”América”, está retratado de lado, deixando Estados Unidos e Brasil no
mesmo nível, diferente da representação comum do globo em que os
Estados Unidos se localiza ao norte do Brasil, ou seja, uma tentativa de
demonstrar parceria entre os dois países.
A representação do heroísmo é uma tentativa de justificar os atos de
guerra. Said discuti como a dominação socio-politica-economica funciona
junto a uma teorização intelectual que representa o caráter civilizatório do
imperialismo, ele denomina isso de “estrutura de atitude e referencia”62,
ou seja, através das ideias de levar a cultura, a civilização e etc. a povos
desfavorecidos dessas noções, molda-se o imaginário coletivo de forma
a justificar qualquer forma de violência ou desrespeito a culturas alheias,
são essas noções que as charges da figura 08 procuram transmitir
FIGURA 9 O OVO DE COLOMBO
proclamando o heroísmo na busca da democracia e da liberdade.
LEGENDA: O Allemão – Era isso mesmo que nós pretendíamos fazer. Wilson – mas não fizeram.
FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do
62 SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000 p. 19.
1995.p 99.

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Em uma das charges de capa da careta denominada O ovo de influencia estadunidense pelo mundo de maneira a favorecer seus
(Figura 09) Wilson, o então presidente dos Estados Unidos, embrulha o próprios interesses econômicos, políticos e estratégicos.
globo, que representa a própria terra, em uma bandeira estadunidense Definido por Said, imperialismo é a pratica, a teoria, e as atitudes
quando é abordado por um pequeno alemão que diz: “era isso mesmo de um centro dominante governando um território distante. Na
que nós pretendíamos fazer”; e o presidente retruca: “mas não fizeram” realidade desde o século XIX medidas imperialistas começaram a
ainda ao fundo da imagem é possível ver os representantes inglês e ser empregada pelas grandes nações, neste período se criou uma
francês da conferência de paz de Paris, David Lloyd George, Georges política expansionista das principais nações europeias, que tinha por
Clemenceau, que também obtiveram seus llucros com a conferência da objetivo a busca de mercado consumidor, de mão de obra barata e de
paz e o tratado de Versalhes.63 matérias-primas para o desenvolvimento das indústrias. Esse processo
A crítica levantada nesta charge publicada no pós guerra refere se de expansão foi marcado por várias tensões. A África, por exemplo,
as praticas imperialistas estadunidense, essa pratica já era conhecida teve seu território divido nesta época entre as nações europeias, num
por varias medidas anteriores como a doutrina Monroe e a doutrina
frase “america para americanos” estava baseada em três princípios básicos: a
do “Big Stick”e o Corolário Roosevelt64 que buscavam aumentar a impossibilidade de criação de novas colônias ao longo do continente, intolerância
63 A  Conferência de Paz de Paris:  foi aberta em  18 de janeiro  de  1919  com à interferência de nações europeias em questões internas e a não participação
representantes de 69 países, mas as principais decisões ficaram sob as figuras norte-americana em conflitos envolvendo países europeus. O que motivou tal
de  Woodrow Wilson  presidente dos Estados Unidos,  Lloyd George  Primeiro doutrina foi a ameaça por parte da Santa Aliança (composta por países europeus
Ministro do Reino Unido e Georges Clemenceau Primeiro Ministro da França. Ponto como Áustria, Rússia, e França) de voltar a colonizar os países americanos. A
chave da Conferência foram as condições que seriam estabelecidas aos países ideologia, ou ainda diplomacia ou política do Big Stick (em português, “grande
derrotados da I Guerra Mundial, o presidente Wilson tinha por intuito impedir porrete”) é o nome com que frequentemente se faz referência à política externa
que a reunião decidisse por um desmembramento do estado alemão, como era dos Estados Unidos sob a presidência de Theodore Roosevelt (1901-1909)
da vontade do Estado-Maior francês, e evitar se possível uma indenização de O presidente criaria ainda o Corolário Roosevelt, no qual apoiava a  Doutrina
guerra aos países vencedores. O Primeiro Ministro do Reino Unido Lloyd George Monroe e procurava estendê-la sob um ponto de vista que favorecesse os EUA.
temia um fortalecimento da França na política continental em virtude da derrota Para isso, transformou as Américas em uma esfera de influência exclusivamente
alem, obviamente por conta disso também era contra o desmembramento da norte-americana. O Corolário Roosevelt foi expresso na  Mensagem Anual do
Alemanha, via na permanência da unificação alemã a manutenção de um grande Presidente ao Congresso dos EUA de 1904. Na Mensagem, Roosevelt expressou
mercado comprador de seus produtos, era também intuito dos ingleses conseguir sua convicção de que uma nação que consegue manter a ordem e cumprir com
na Conferência a anexação das colônias alemãs, no pacífico e na África. Já o suas obrigações não precisa temer a interferência dos Estados Unidos. No entanto,
Primeiro Ministro George Clemenceau tinha um posicionamento revanchista, com uma “nação  civilizada” como os Estados Unidos teria que assumir o papel de
exigências de indenizações, o retorno da Alsácia-Lorena, além de fortes intenções “polícia do mundo”, e ser obrigada a intervir, no caso de um enfraquecimento dos
de conseguir a anexação de toda a margem esquerda do rio Reno. O principal laços da sociedade civilizada em outros países. Aparentemente, os Estados Unidos
documento produzido pela conferência foi o Tratado de Versalhes, assinado em 28 estavam fazendo frente à Europa para defender os países latinos, no entanto, o
de junho de 1919, que definia os termos da paz com as nações derrotadas. Para que estava sendo defendido eram somente os interesses estadunidenses. Dessa
maiores informações ver: MACMILLAN, Margaret Olwen. Paz em Paris, 1919: a forma a frase da doutrina Monroe denota mais sentido como “America para
Conferência de Paris e seu mister de encerrar a Grande Guerra.  Rio de Janeiro, os norte-americanos” Para maiores informações ver: BONAFÉ, Luigi Corolário
RJ: Nova Fronteira, 2004. roosevelt à doutrina Monroe. FGV. Disponível em: < http://cpdoc.fgv.br/> Acesso
64 A Doutrina Monroe proferida pelo presidente James Monroe e resumida na em: 05 mar. 2014.

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evento denominado Conferência de Berlim, em 1884. Essa divisão Segundo Dapieve a desconfiança que J. Carlos tinha em relação
se caracterizou pelos seus vários abusos, como tribos africanas aos propósitos estadunidenses chegaria à segunda guerra mundial:
inteiras que foram separadas com a divisão, enquanto outras foram
Num desenho publicado a 16 de abril de 1938, o Tio San, de costa
agrupadas com suas rivais65. De certo modo podemos até mesmo para o leitor, observa a correria dos governantes europeu ao fundo e
identificar nessas praticas imperialistas o inicio dos conflitos que monologa:” incêndio lá para os lados da Europa! Lá vão elles apagar
o fogo com archotes. Parece que eu vou ganhar muito dinheiro...”.
levaram a Grande Guerra. Acontece que até o finalzinho do século
Cabe lembrar que os Estados Unidos só meteria a sua colher no, para
XIX Alemanha não era um Estado unificado, era uma região formada usar a expressão constante noutro trabalho, “angu Europeu”, em 7 de
por povos semelhantes e dividida, enquanto outras nações como a dezembro de 1941, depois de ter a base aeronaval de Pearl Harbor...
bombardeada pelos japoneses aliados dos alemães e dos italianos. J.
Inglaterra possuíam colônias que garantiam sua industrialização, seu 67
Carlos, mas uma vez, estava à frente de seu tempo.
desenvolvimento. Alem da chegada tardia da Alemanha nesta corrida
imperialista, a mesma ainda se saiu pouco favorecida na partilha da E nítida a diferença entre a participação brasileira e a estadunidense,
áfrica em 1884, isso favoreceu a construção de um cenário para a que não somente participou da frente de batalha como interferiu
primeira guerra. diretamente na conclusão desse conflito, mas para além das diferenças
Said afirma que o século XIX foi o apogeu da ascensão do diretas da batalha outra diferença importante se faz presente, o
ocidente, que estendeu seu domínio por varias regiões, em 1914, imaginário social em torno da guerra que pode ser percebido por meio
85% do mundo estava sob forma de colônias, protetorados e etc. é das publicações da época. Nas publicações estadunidenses e facilmente
somente após 1945, com o desmantelamento das estruturas coloniais identificáveis a visão que eles tem da guerra, a clássica propaganda do
que essa “Era dos Impérios” chega ao fim, mas como Said afirma Tio Sam convocando os seus jovem a servir, demonstra o interesse de
a luta pela geografia não se “restringe a soldados e canhões”66 ela fazer as pessoas, principalmente os jovem, se verem a favor da guerra,
abrange ideias, imagens e representações e nesse quesito os EUA o que contradiz com publicações que são vistas no Brasil, as charges
continua a exercer uma influencia considerável no presente. do J. Carlos não somente satirizam a guerra com o seu humor, como
Portanto neste ato de enrolar o mundo sob sua bandeira, J. Carlos também demonstra a insanidade presente no conflito.
deixa claro como o mundo ficou sob a influência estadunidense. Através de representações de elementos tensos como a morte, a
Afinal com os autos custos da guerra as grandes nações ficaram fome, a peste, a miséria entre outros J. Carlos, motiva em seus leitores
praticamente falidas e os Estados Unidos com seu apoio econômico a percepção das tragédias contidas na guerra. Como na figura 10 ao
obtiveram grandes lucros. lado.
65 ATA GERAL da Conferência de Berlim. 1884. Disponível em: < http: www. Essa datada de agosto de 1914, logo no início do conflito, é
casadehistoria.com.br.> Acesso em: 05 mar. 2014. denominada “A beira do abysmo.” Demonstra a guerra, essa
66 SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.p 38 67 LOREDANO. Cássio, (org.) op. cit. p.19

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guerra representa ao mundo. Lembrando que as representações
não possuem neutralidade, pode-se afirmar que J. Carlos utiliza
desses elementos para criar em seus leitores uma espécie de repulsa
contra a guerra, O que nos leva a pensar as formas de dominações
simbólicas existente nessas publicações, novamente vinculada ao
conceito de imaginário social presente em Baczko e Chartier. Isto
é, as produções desses discursos legitimam, ou invalidam como é o
caso desta imagem, o próprio acontecimento.
Como já discutido no capítulo anterior para Baczko a influência
do imaginário sobre a as mentalidades depende da difusão
dessas ideias, pela produção de discursos, maneira qual reúne as
representações coletivas em uma linguagem e por consequências os
meios que difundem, sendo assim essas charges são responsáveis
por essa influência nas mentalidades68.
Segundo Chartier as representações são “máquina de fabricar
respeito e submissão”69 mas como vemos também podem ser usadas
de maneira inversa, como nas charges acima, para criar desapreço
FIGURA 10 A BEIRA DO ABYSMO
LEGENDA: A fome e a peste aguardando o grande banquete que lhes prepara a guerra.
e revolta.
FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do Charges como essas são comuns durante as publicações sobre a
século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000 58.
guerra, uma bem semelhante foi publicada em 29 de julho de 1916,
representada por um soldado, esse retratado com cores fortes para com o nome de “Dia de annos” (Figura 11) referindo-se ao fato da
simbolizar a agressividade da guerra e também com uma feição guerra está completando dois anos.
nada amigável transmitindo uma ideia de impiedade e selvajaria, Nela é possível ver a guerra, agora representada como um
jogando o planeta terra em um abismo, de encontro a fome e a jovem soldado, pelo fato da guerra estar completando dois anos,
peste, ambas representadas por figuras cadavéricas que nos remete recebendo com um aperto de mão as figuras que representam a
a ideia de morte, representadas assim na intenção de dar forma miséria, a peste, e a fome, sendo essas mostradas como três velhas
ao intangível. Seguida da legenda onde diz “A fome e a peste 68 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos-
aguardando o grande banquete que lhes prepara a guerra”, ou Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 312-313
69 CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos avançados
seja, de forma direta, J. Carlos demonstra sua opinião do que a vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p. 184

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Essa “máquina de criar desapreço e revolta”, ou seja, a produção
de discursos negativos sobre o fato, pode ser identificada em várias
outras charges, talvez a que mais chama atenção seja uma publicada
no dia de finados de 1916 (Figura 12).
Nela aparece uma grande sepultura coletiva e em sua beira o
representante de cada pais segurando uma coroa de flores, ali pode se

FIGURA 11 DIA DE ANOS


LEGENDA: A guerra recebe as felicitações de suas amigas.

senhoras vestida em trapos. A imagem se completa com o plano de


fundo que mostra o que parece ser o local de uma batalha devido a
quantidade de fumaça que está sobre o local. Seguida da legenda
“A guerra recebe as felicitações de suas amigas” reforçando mais FIGURA 12 O MAIOR DIA DE FINADOS
uma vez a ideia de que a calamidade está diretamente ligada à LEGENDA: Paz aos mortos – O maior dia de Finados.
FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do
guerra. século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000 p.63.

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FIGURA 13 FORA DE COMBATE FIGURA 14 DEPOIS DO BOMBARDEIO FIGURA 15 NA RUSSIA ORIENTAL
LEGENDA: “O kaiser: – é preciso inventar uma LEGENDA: O kronprinz – morreu muita gente? LEGENDA: O russo – Oh Fritz. Para que foi que
punição para esses desertores que abandonam a O kamarada – Sim, Imperial senhor. morremos?
pátria antes do tempo” O kronprinz – como se chamam os mortos?
O kamarada – chamam-se defuntos.

FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000. p.72, 73, 80

ver o turco, o búlgaro, o russo, o sérvio, o italiano, o austro-húngaro, entre os mortos de cada nação, passando a ideia de que após a morte
o Frances, o inglês e o alemão entre outros, todos com feições tristes pouco importa a que nação o soldado servia, pois seus destinos serão
pela mesma causa: a morte. Na legenda se diz: “paz aos mortos – o o mesmo: A terra.
maior dia de finados”. Reparem na expressão fácil que J. Carlos utiliza, Essa sensibilidade pela morte de soldados, que traz com ela a
assim como também a preparação do plano de fundo que nada lembra repulsa pela violência da guerra, está presente em outras charges.
um cenário de guerra e sim um lugar mais sereno, tudo isso para criar Na Figura 13 vemos o Kaiser e um dos seus oficiais, observando
uma sensibilidade em torno desse fato. Outro detalhe que pode ser o cadáver de um soldado, então o Kaiser comenta: “é preciso inventar
discutido é o fato da sepultura ser coletiva, ou seja, não se faz distinção uma pena para punir esses desertores que abandonam a pátria antes

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do tempo”, comparando dessa forma o soldado morto a um desertor, Nas três charges vistas temos uma mesma abordagem, o
entretanto se nos atentarmos a detalhes da imagem percebemos que desapego à vida e a falta de reconhecimento da luta dos soldados.
mesmo depois de morto o soldado continua segurando sua arma, J. Carlos se mostra sensível em suas charges aos autos custos
o que passa a impressão que ele morreu lutando, ou seja, além da humanos para todos os países não importando em qual lado da luta
banalização da morte, outro assunto revoltante é abordado, a falta de se encontravam.
reconhecimento do papel do soldado. Já na Figura 14 vemos Frederico Além das charges que tratam diretamente da morte, como é o
Guilherme, o Kronprinz ou príncipe herdeiro da Alemanha, conversando caso das charges analisadas acima, J. Carlos representa de diversas
com um de seus oficiais, que de forma hilária responde que todos os outras maneiras a violência presente na guerra, uma que merece
mortos chamam-se defunto, satirizando o fato dos mortos não serem destaque chama-se “O Natal Europeu” (Figura16).
nem ao menos diferenciados. Na Figura 15 a caveira de um soldado Nesta vemos papai Noel segurando uma espada que ao que
russo indaga para a caveira de um soldado alemão: “Oh, Fritz!... Para tudo indica está suja de sangue, julgando pelo capacete em sua
que foi que nós morremos?”, demonstrando que os mais atingidos com cabeça, ele está representando o exército alemão. Logo a sua frente
a guerra, que são os próprios soldados, muitas vezes são ignorantes a é possível ver um pacote de presente repleto de bombas. A legenda
causa, e sacrificam a própria vida cumprindo ordens. sutil, completa o sentido da charge: “Papai Noel e seus bombons”,
mostrando que no natal europeu ao invés de presentes o que seria
distribuído eram as bombas. Essa foi publicada durante o natal
de 1917, mas durante todos os anos da guerra J. Carlos publicou
charges como essas no período de natal, muito provavelmente na
tentativa de demonstrar que não é somente os que lutam a guerra
que sofrem com ela, e sim toda uma sociedade repleta de gente
inocente que pouco sabem sobre os motivos da guerra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Creio que ao longo das análises feitas no desenvolver do trabalho,


tenha ficado claro as dimensões críticas referente aos assuntos políticos/
sociais que as charges atingiram no início do século XX, principalmente
FIGURA 16 O NATAL EUROPEU nos grandes acontecimentos históricos como é o caso da Primeira
LEGENDA: Papai Noel e seus bonbons.
FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do Guerra Mundial.
século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000. p.78.

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A charge além de crítica se difere de outros tipos de fontes por como a banalidade da vida, o pouco reconhecimento dos soldados, o
que traz uma história mais próxima do indivíduo, uma vez em que sofrimento da sociedade civil que pouco sabia das questões políticas da
seu discurso não passa a visão dos documentos governamentais e sim guerra e mesmo assim eram os principais prejudicados.
a visão do J. Carlos que foi autor das charges e editor da revista A Na figura 17: Denominada “O amigo das crianças na Europa”
Careta. Portanto ele representou a guerra de seu ponto de vista, dessa produzida durante o natal de 1916 mostra o Papai Noel com feições
forma seu principal foco não era as relações políticas da guerra, ou os tristes, olhando o corpo de uma criança morta e indagando: O que
acontecimentos factuais: As batalhas as vitorias ou as derrotas. Ele até teria feito esse pequeno? A resposta a essa indagação provavelmente
dedicou alguns de seus trabalhos a essas questões, mas em geral a sua é: Nada, esse foi somente mais uma vítima da guerra.
crítica era mais no âmbito social, como percebemos no último item do Essas críticas sociais estavam presentes na charge, portanto eram
segundo capitulo em que é facilmente perceptível a crítica às questões lidas pela classe média carioca, se segundo Chartier não se pode
pensar uma sociedade com recortes sociais pré-definidos pois o que
molda a forma que a sociedade identifica e interpreta o mundo é o que
circula no corpus textos70, ou seja nas publicações que dadas a ler por
essa sociedade, são essas críticas contidas na charge que formaram
o pensamento crítico da sociedade em relação a esse acontecimento,
agora se considerarmos o fato que as representações contidas nas
charges não são neutras, que elas são determinadas pelos interesses dos
que a forjaram, e por consequência produzem práticas de dominação
simbólica, podemos afirmar que elas manipulam a forma em que a
sociedade interpretou esse conflito.
Assim se o J. Carlos buscou sempre transmitir a guerra como um
ato de insanidade, dado o modo que ele a representava, foi essa a
visão que a sociedade carioca teve da guerra. Se segundo Baczko toda
forma de poder tem que se impor como legitimo, pois o poder não
e deduzido dos princípios universais-físicos71, e desse modo pouca
importa o acontecimento em sua origem, pois são as relações de força
FIGURA 17 O AMIGO DAS CRIANÇAS NA EUROPA
70 CHARTIER, Roger. O mundo como representação In: Estudos avançados
LEGENDA: – O que teria feito este pequeno?
FONTE: LOREDANO. Cássio, (org.) J. Carlos contra a Guerra. As grandes tragédias do vol.5 n.11 Jan./Abr. São Paulo: FGV,1991 p. 180.
século XX na visão de um caricaturista brasileiro. 2000. p.79 71 BACZKO, Bronislaw. “A imaginação social” In: Leach, Edmund et Alii. Anthropos-
Homem. Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1985 p. 309 - 310

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 231 | História | 2015


e poder que o imaginário social comporta que validam as relações como o apresentado na próxima figura 18 não são identificados na
de sentido, sendo assim, para interpretação da sociedade carioca, sociedade estadunidense.
pouco importa se a guerra foi do jeito que J. Carlos a representou, Neste cartum denominado “Os grandes patriotas”, vemos uma
indiferente se foi ou não, são essas representações que vão definir o cena que provavelmente representa a sociedade carioca como um
imaginário social da época sobre a guerra. todo. Estão presentes dois homens conversando, percebam que o que
Daí a discussão sobre a diferença, por exemplo, do modo que está sentado não utiliza sapatos, porém não é que não tem condições
os cartunistas estadunidenses representavam a guerra em suas financeiras para isso, considerando o fato que ele está na mesa de
charges, pois se para eles a guerra era um ato de heroísmo pela algum estabelecimento e o que tudo indica está desempenhando o
liberdade, foi assim que a guerra foi entendida por sua sociedade. papel de cliente, eles afirma para o outro homem que está em pé, e
Tais diferenças se apresentam, por exemplo, no espírito nacionalista que ao que tudo indica é o dono ou funcionário do estabelecimento,
que cada população tem sobre sua nação, se os estadunidenses que acha que todo cidadão deve se alistar para defender a pátria!
aceitam a guerra dentro de sua justificativa por liberdade fatos Analisando o posicionamento das mãos assim como a expressão
facial do personagem que está sentado se pode pensar que o mesmo
está insinuando ao outro que ele deveria se alistar. O homem em
pé então rapidamente se defende questionando por que ele mesmo
não se apresenta para servir, o homem sentado então de imediato
justifica, “Não aceitam descalços!!!”. Para além do cômico, essa
charge demonstra que mesmo que o brasileiro, mais especificamente o
carioca, tivesse a consciência da importância do alistamento, ninguém
queria isso para si, dado a maneira que esses reconheciam a guerra.
Outro fato relevante a ser pontuado é a capacidade de J. Carlos
em identificar situações críticas a serem representadas, chegando
algumas vezes até mesmo a prever situações que ainda não haviam
ocorrido, como é o caso da figura 19.
Essa diferente das demais charges analisada, foi publicado no
pós-guerra, mais precisamente no dia 14 de junho de 1919. Nela
FIGURA 18 OS GRANDES PATRIOTAS vemos uma mulher em prantos, amarrada a um tronco, representando
LEGENDA: – Acho que todo o cidadão deve se alistar para defender a pátria!– Então, porque
ainda não te apresentaste?– Não aceitam descalços!!! a Alemanha derrotada, mas dela ergue-se um espírito, essa descrita
FONTE: A CARETA n.492. Rio de Janeiro: [ s. n. ] 24/11/1917 p.15. como a alma germânica, que de cabeça erguida e espada na mão

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 232 | História | 2015


FONTES
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