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A imagem conceitual
Após a Primeira Guerra Mundial, os designers perce-
beram que a ilustração narrativa tradicional já não
atendia às necessidades da época e reinventaram a
comunicação gráfica para expressar a era da máquina
e ideias visuais mais complexas. Numa busca similar
por novas formas de expressão, as décadas após a
Segunda Guerra Mundial assistiram ao desenvolvi-
mento da imagem conceitual no design gráfico. Essas
imagens transmitiam não a mera informação narra-
tiva, mas ideias e conceitos. As ideias associaram-se
ao conteúdo percebido, que passou a ser tematizado.
O ilustrador que simplesmente interpretava o texto
de um escritor deu lugar a um profissional preocu-
pado com o projeto total do espaço, que trata palavra
e imagem de forma integrada e, sobretudo, cria suas
próprias afirmações.
Na explosiva cultura da informação da segunda
metade do século xx, toda a história das artes visuais
passou a estar disponível ao artista gráfico como uma
biblioteca de formas e imagens potenciais. Uma das
principais fontes de inspiração eram os movimentos
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artísticos do século xx: as configurações espaciais estúdio de design gráfico em sua cidade natal, Turim.
do cubismo; as justaposições, deslocamentos e mu- Suas campanhas publicitárias dos anos 1950 para os
danças de escala do surrealismo; a cor pura, livre pneus Pirelli produziram impacto no pensamento in-
da referência natural graças ao expressionismo e ao ternacional do design gráfico [21.1] . Testa tomou em-
fauvismo; e a reciclagem das imagens dos meios de prestado o vocabulário do surrealismo, combinando
comunicação de massa da arte pop. Os designers ti- a imagem de um pneu com símbolos de identificação
nham maior oportunidade de autoexpressão, criavam imediata. Em seus cartazes e anúncios, a imagem
imagens mais pessoais e exploravam novos estilos e é o meio primordial de comunicação, e ele reduz o
técnicas. Não era mais possível identificar as tradicio- conteúdo verbal a umas poucas palavras ou apenas
nais fronteiras entre as artes plásticas e a comunica- ao nome do produto. Testa usou de modo eficaz des-
ção visual. locamentos mais sutis, como imagens feitas de mate-
A criação de imagens conceituais passou a ser um riais sintéticos [21.2] , causando efeitos inesperados.
enfoque importante do design na Polônia, Estados
21.1 Armando Testa, cartaz Unidos, Alemanha e Cuba. Elas também apareceram
para a Pirelli, 1954. A força de pelo mundo na obra de indivíduos cuja busca por ima- O cartaz polonês
um elefante é conferida ao gens relevantes e eficazes os levava nessa direção. Nos
pneu pela técnica surrealista
trabalhos mais originais do designer gráfico italiano A violência da Segunda Guerra Mundial varreu a Eu-
da combinação de imagens.
Armando Testa (1912-1992), por exemplo, combina- ropa no dia 1.o de setembro de 1939 com a invasão re-
ções metafísicas eram usadas para transmitir verda- lâmpago, sem declarar guerra, da Polônia por Hitler,
des elementares sobre um tema. Testa fora um pintor de norte, sul e oeste. Dezessete dias depois, do leste,
abstrato até depois da guerra, quando montou um tropas soviéticas invadiam o país e seguiu-se um pe-
ríodo de seis anos de devastação. A Polônia saiu da
21.2 Armando Testa, cartaz guerra com enormes perdas humanas, sua indústria
para exposição de borracha e arrasada e a agricultura em ruínas. A capital, Varsó-
plásticos, 1972. A mão feita de via, foi quase inteiramente destruída. A impressão e
material sintético segura uma
o design gráfico, como tantos aspectos da sociedade
bola de plástico numa imagem
e cultura polonesas, praticamente deixaram de exis-
inconfundível e apropriada.
tir. Tributo monumental à resistência do espírito hu-
mano foi o surgimento, em meio a essa devastação,
de uma escola polonesa de renome internacional na
arte do cartaz.
Na sociedade comunista estabelecida na Polônia
após a guerra, os clientes eram instituições e indús-
trias controladas pelo Estado. Designers se associa-
ram a cineastas, escritores e artistas plásticos no
Sindicato Polonês dos Artistas, que definia normas
e fixava honorários. O ingresso no sindicato ocorria
após a conclusão do programa educacional na Acade-
mia de Arte de Varsóvia ou Cracóvia. As normas para
admissão a essas escolas eram rigorosas e o número
de formandos cuidadosamente controlado para cor-
responder à demanda.
O primeiro artista do cartaz polonês a surgir após
a guerra foi Tadeusz Trepkowski (1914-1956). Logo na
primeira década, Trepkowski expressava as lembran-
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tende à escola “lama e sangue” das artes gráficas, e designers como Waldemar Swierzy (n. 1931) chega-
do trabalho de uma série de outros designers gráficos ram a visões pessoais únicas. Abordando o design
poloneses. Jan Lenica (n. 1928-2001) levou a colagem gráfico de um ponto de vista pictórico, Swierzy bus-
a uma comunicação mais ameaçadora e surreal nos cou inspiração na arte popular e nas artes plásticas
cartazes e filmes experimentais de animação. Depois,
em meados dos anos 1960, começou a usar linhas
de contorno fluidas e estilizadas, que ondulam pelo
espaço e o dividem em zonas coloridas que formam
uma imagem [21.9, 21.10] .
Em sua ruptura com a corrente dominante, Lenica
e Starowiejski foram seguidos por vários outros da
nova geração, que percebia que o cartaz polonês es-
tava em risco de fossilizar-se num estilo nacional aca-
dêmico. Essa potencial armadilha foi evitada quando
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trabalhista ilegal Solidariedade, cujo logotipo [21.15] , 21.16 Marian Nowinski, cartaz
concebido por Jerzy Janiszewski, se tornou símbolo político, 1979. Um livro
trazendo o nome do poeta
internacional da luta contra a opressão. Em conse-
chileno Pablo Neruda, cujas
quência da censura do governo durante a agitação
obras foram proibidas e
social na Polônia, os cartazes do país costumavam queimadas pelo regime de
abordar questões que estavam além de suas frontei- Pinochet, é fechado por
ras, em vez das lutas políticas internas, como a pros- grandes pregos de metal.
crição do Solidariedade. Uma questão internacional
é o tema de um cartaz de Marian Nowinski (n. 1944),
lamentando eloquentemente [21.16] a censura ao po-
eta chileno Pablo Neruda. Para muitos espectadores
expressa também a solidariedade com a luta chilena
pela democracia e independência. Imagens vigorosas
21.15 Jerzy Janiszewski,
como essa transcendem seu tema imediato para se
logotipo do Solidariedade, c.
tornarem expressões universais sobre a censura e a
1980. Letras grosseiras evocam
repressão em geral. o grafite e seu caráter
A legalização do Solidariedade e sua vitória es- tumultuado é uma referência
magadora nas eleições de maio de 1989 encerraram ao povo agrupando-se na rua.
o governo comunista de partido único e marcaram o
início de uma nova era na história polonesa. Durante agora, melhorias nos materiais e processos possibili-
meio século, o cartaz polonês se desenvolvera em tavam à fotografia expandir sua gama de recursos de
consequência de uma decisão consciente do governo luz e fidelidade da imagem. A morte da ilustração era
de sancionar e apoiar essa arte como forma maior sombriamente vaticinada à medida que a fotografia
de expressão e comunicação. Os cartazes eram afir- invadia rapidamente os nichos tradicionais da profis-
mações criativas, fazendo circular antes ideias que são, mas, conforme ela roubava a função tradicional
mercadorias. Apesar das mudanças políticas, uma da ilustração, esta ressurgia com um novo enfoque.
tradição de excelência, reforçada pela sólida educa- A abordagem mais conceitual da ilustração come-
ção em design, pôde garantir a continuidade dessa çou com um grupo de jovens artistas gráficos de Nova
forma artística na Polônia. O espírito inventivo con- York. Os estudantes de arte Seymour Chwast (n. 1931),
tinua sendo demonstrado por designers mais jovens Milton Glaser (n. 1929), Reynolds Ruffins (n. 1930) e
que ingressam na profissão. Edward Sorel (n. 1929) se juntaram e passaram a di-
vidir um estúdio. Ao formar-se pela Cooper Union em
1951, Glaser conseguiu uma bolsa de estudos Fulbri-
Imagens conceituais norte-americanas ght para estudar água-forte com Giorgio Morandi na
Itália, e os outros três amigos encontraram emprego
Durante os anos 1950, a era de ouro da ilustração em publicidade e no ramo editorial em Nova York.
norte-americana chegou ao fim. Durante mais de cin- Trabalhos como freelancer eram divulgados por meio
quenta anos, a ilustração narrativa havia comandado de uma publicação conjunta chamada Push Pin Alma-
o design gráfico nos Estados Unidos, mas os avanços nack. Publicada bimestralmente, apresentava material
tecnológicos no papel, na impressão e na fotografia editorial interessante de antigos almanaques ilustra-
rapidamente abreviaram as vantagens do ilustrador dos pelo grupo. Quando Glaser voltou da Europa em
sobre o fotógrafo. Os ilustradores haviam exagerado agosto de 1954, formou-se o Push Pin Studios. Após al-
os contrastes de brilho, intensificado as cores e tor- gum tempo, Ruffins deixou o estúdio e tornou-se um
nado os contornos e detalhes mais nítidos que o real renomado decorador e ilustrador de livros infantis
para criar imagens mais convincentes que a foto. Mas, [21.17] . Em 1958, Sorel começou a trabalhar como au-
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a morte [21.20] . “Dada” atravessa o tampo da mesa 21.19 Milton Glaser, cartaz de
e paira acima de sua cria rebelde, o “surrealismo”. Bob Dylan, 1967.
Como os movimentos artísticos que representa, esse Transcendendo objeto e
função, esta imagem se tornou
desenho desafia a interpretação racional. Glaser
uma cristalização simbólica de
muitas vezes incorpora recursos espaciais e imagens sua época.
do surrealismo para expressar conceitos complexos
[21.21] .
Durante os anos 1980 e 1990, Glaser passou a se
interessar cada vez mais por ilusionismo e tridimen-
sionalidade. Seus desenhos dessa época são apresen-
tados como objetos volumétricos [21.22] . Para Glaser,
formas geométricas, palavras e números não são me-
ros signos abstratos, mas entidades tangíveis com
21.20 Milton Glaser, cartaz de
uma existência própria que permite que sejam inter-
exposição Dada and
pretados como temas, tal como figuras e objetos ina- Surrealism, 1968. A mesa
nimados são interpretados por um artista. Em alguns menor isola a palavra real na
trabalhos, é explorado o diálogo entre a iconografia palavra maior surrealism.
perceptual e a conceitual [21.23] .
Com uma linguagem ao mesmo tempo pessoal e 21.21 Milton Glaser, cartaz da
de comunicação universal, Chwast emprega muitas Poppy Records, 1968. Uma
papoula florescendo de um
vezes a técnica dos desenhos a traço revestidos com
cubo de granito simboliza uma
películas adesivas coloridas, além de uma multiplici-
empresa nova, independente,
dade de meios e substratos com os quais experimenta. rompendo as convenções
Traços de arte infantil, arte primitiva, arte popular, monolíticas da indústria
gravuras expressionistas e histórias em quadrinhos fonográfica.
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se manifestam em suas imaginativas reinvenções tra o logotipo que Chwast desenvolveu para a Artone
do mundo. Sua cor é frontal e intensa. Em contraste Ink; a versão dégradé do Blimp, baseada em antigos
com a profundidade espacial de Glaser, no trabalho tipos de madeira; um tipo geométrico inspirado no
de Chwast normalmente se mantém uma planari- logotipo que Glaser projetou para um estúdio cine-
dade absoluta. A visão inocente de Chwast, o amor
pelas letras vitorianas e figurativas e a capacidade de
integrar informações figurativas e textuais o capaci-
taram a produzir soluções inesperadas. Sua capa de
disco para The Threepenny Opera (A ópera dos três
vinténs) [21.24] demonstra capacidade de sintetizar
diversos recursos – a gravura expressionista alemã,
deslocamentos espaciais surreais e cores dinâmicas
encontradas na arte primitiva – numa expressão ade-
quada do objeto. No anúncio para a Elektra Produc-
tions [21.25] , cada letra da palavra atravessa o espaço,
dotada de forma de transporte própria. Do protesto
21.26 Seymour Chwast, cartaz contra a guerra [21.26] à embalagem de alimentos e
de protesto contra o capas de revistas, Chwast reformulou a arte e a grá-
bombardeio de Hanói, 1968. fica anteriores para expressar novos conceitos em
Um slogan publicitário comum
novos contextos.
ganha vida nova quando
Tanto Chwast como Glaser desenvolveram uma
combinado com uma
xilogravura azul e impressão série de tipos display. Geralmente esses tipos come-
offset de áreas verdes e çaram como letras para trabalhos, depois foram de-
vermelhas. senvolvidos em alfabetos inteiros. A figura 21.27 mos-
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lho de Woody Pirtle (n. 1943), um dos muitos desig- A mania dos cartazes
ners importantes do Texas que nos anos de formação
trabalharam para Richards, sintetiza a originalidade Em contraste com os cartazes poloneses do pós-
das artes gráficas texanas. Seu logotipo para o Mr. guerra, que eram patrocinados pelas agências do
and Mrs. Aubrey Hair [21.41] evidencia uma espiritu- governo como forma cultural do país, a moda dos
osidade inesperada, enquanto seu cartaz da “hot seat” cartazes nos Estados Unidos durante os anos 1960
(cadeira quente) da Knoll [21.42] combina ironica- foi uma atividade de raízes populares fomentada
mente o sóbrio tipo Helvetica e o generoso espaço em por um clima de militância social. O movimento dos
branco do modernismo com a iconografia regional. direitos civis, o protesto público contra a Guerra no
Em 1988, Pirtle ingressou no escritório em Manhat- Vietnã, os primeiros avanços do movimento de libe-
tan do estúdio britânico de design Pentagram. ração das mulheres e uma busca por estilos de vida
Os anos 1980 viram o design gráfico se tornar alternativos figuraram entre as agitações sociais da
uma verdadeira profissão nacional nos Estados Uni- década. Cartazes do período eram pendurados nas
dos. Excelentes profissionais surgiram em todo o paredes dos apartamentos com mais frequência do
país, muitas vezes distantes dos centros tradicionais. que eram afixados nas ruas, e estavam mais voltados
A revista Print, o periódico do design gráfico norte- às declarações de pontos de vista sociais do que à di-
americano fundado em 1940, instituiu um anuário fusão de mensagens comerciais. A primeira onda de
regional em 1981 para acompanhar a emergente dis- cartazes surgiu da subcultura hippie do final dos anos
seminação da disciplina. 1960 centrada no bairro Haight-Ashbury, de San Fran-
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cisco. Como a mídia e o público em geral associavam traduzida nos cartazes pela utilização de formas em
esses cartazes a valores antiestablishment, ao rock e às redemoinho e letras arqueadas e distorcidas até a
drogas psicodélicas, eles eram chamados de cartazes quase ilegibilidade, frequentemente impressas em
psicodélicos [21.43] . cores complementares de valor próximo. Um cartaz
O movimento gráfico que expressava esse clima para o Grateful Dead [21.44] de Robert Wesley “Wes”
cultural se valia de uma série de recursos: as curvas Wilson (n. 1937) contém linhas e letras sinuosas, que
fluidas e sinuosas do art nouveau, a intensa vibração são variantes do art nouveau de Alfred Roller. Wilson
ótica de cores associada ao breve movimento op, po- foi o inovador do estilo cartaz psicodélico e criou mui-
pularizado por uma exposição no Museu de Arte Mo- tas das imagens mais fortes desse estilo. Segundo
derna, e a reciclagem de imagens oriundas da cultura os jornais, empresários respeitáveis e inteligentes
popular mediante a manipulação (como a redução eram incapazes de compreender os letterings desses
de imagens ao alto contraste de preto e branco) que cartazes, embora se comunicassem com desenvol-
vigorava na arte pop. tura suficiente para lotar auditórios de uma geração
Muitos dos artistas iniciais desse movimento eram mais jovem que decifrava, e não apenas lia, a mensa-
autodidatas e seus principais clientes eram os promo- gem. Entre outros membros destacados desse breve
tores de concertos de rock e festas. As festas nos anos movimento estavam o Kelly/Mouse Studios e Victor
1960 eram experiências perceptuais intensas de mú- Moscoso (n. 1936), o único artista importante do mo-
sica barulhenta e espetáculos de luz que dissolviam vimento com educação artística formal [21.45, 21.46] .
o ambiente em campos pulsantes de cores e raios Alguns aspectos do movimento do cartaz psico-
estroboscópicos. Essa experiência era graficamente délico foram usados pelo designer nova-iorquino
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uma direção pessoal e operar como forças criativas 21.47 Peter Max, cartaz “Love”,
independentes, com controle total sobre o trabalho. 1970. A técnica de serigrafia em
Natural do Oregon, Goines teve interesse precoce por íris [várias cores aplicadas em
uma única tela] de Max
caligrafia, que floresceu em um estudo sério e formal
resultou em cores que
na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Aos 19 liricamente se fundem.
anos foi expulso da universidade por sua participa-
ção no movimento pela liberdade de expressão* e foi * O Free speech movement
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radas para transmitir ideias ou sentimentos. Público Lançado em Munique em 1959, o periódico ale- 21.50 Gunther Kieser
e clientes receptivos a essa postura aderiram a suas mão Twen, cujo nome – derivado da palavra inglesa (designer) e Hartmann
capas de livros e discos, projetos de revistas e cartazes twenty (vinte) – indicava a faixa etária de jovens sofis- (fotógrafo), cartaz do Festival
de Jazz de Frankfurt, 1978.
para concertos, televisão e rádio. ticados a quem a revista era dirigida, apresentava ex-
Criações simbólicas são
Um mestre alemão desse movimento é Gunther celente fotografia usada em leiautes dinâmicos pelo disseminadas por meio de
Kieser (n. 1930), que iniciou sua carreira como free diretor de arte Willy Fleckhouse (1925-1983). Com um fotos de objetos esculpidos.
lancer em 1952. Kieser junta imagens ou ideias e esta- dom para cortar imagens e usar tipografia e espaço em
belece uma nova vitalidade, outro arranjo ou síntese branco de maneiras inesperadas, ele fez das páginas 21.53 Gunter Rambow
de objetos díspares. Seu cartaz do concerto Alabama corajosas e desinibidas de Twen um marco no design (designer/fotógrafo) e Michael
Blues combina duas fotos, uma pomba e uma manifes- editorial. Enquanto a tradição de Brodovitch era sem van de Sand (fotógrafo), cartaz
da S. Fischer Verlag, 1976. A
tação pelos direitos civis, com lettering inspirado pelos dúvida um recurso para Fleckhouse, a dinâmica de es-
portabilidade do livro é
tipos de madeira do século xix [21.49] ; esses elemen- cala, espaço e imagens poéticas em Twen compunha traduzida de maneira notável.
tos diversos atuam em harmonia para compor uma uma expressão provocadora e original [21.51, 21.52] .*
poderosa expressão. As afirmações poético-visuais Um dos mais inovadores produtores de imagem 21.54 Gunter Rambow
de Kieser sempre têm uma base racional, que vincula do design do final do século xx é Gunter Rambow (n. (designer/fotógrafo) e Michael
formas expressivas a conteúdo comunicativo. É essa 1938), de Frankfurt, que frequentemente colaborou van de Sand (fotógrafo), cartaz
capacidade que o separa dos profissionais de design com Gerhard Lienemeyer (n. 1936) e Michael van de da S. Fischer-Verlag, 1980. O
livro e o conceito de leitura
que usam a fantasia ou o surrealismo mais como fim Sand (n. 1945). Nos projetos de Rambow, a fotografia
como janela para o mundo
do que como meio. passa por manipulação, maquiagem, montagem e ganham intensidade com a luz
No final dos anos 1970 e início dos 1980, Kieser aerógrafo para converter o comum em extraordinário. solar que se irradia deste
começou a elaborar imagens fantásticas que são con- Imagens cotidianas são combinadas ou deslocadas e volume.
vincentemente reais. Os transeuntes interrompiam o depois impressas como imagens documentais objeti-
trajeto diante dos enormes cartazes com fotos colori- vas, em preto e branco, gerando uma expressão meta-
* A revista Twen é uma das
das, para verificar se não estavam tendo alucinações. física original de poesia e profundidade. Numa série
principais referências da
Num cartaz para o Festival de Jazz de Frankfurt de de cartazes encomendados pela editora de livros de revista brasileira Realidade
1978 [21.50] , Kieser e seu fotógrafo fazem o tronco de Frankfurt S. Fischer-Verlag, para distribuição anual (1966 a 1976), um marco do
uma árvore assumir a forma de um trompete. a partir de 1976 [21.53] , o livro é usado como objeto design editorial no país.
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simbólico, alterado e transformado para compor afir- tora careca) é representado pelas fotos em alto-con-
mações sobre si mesmo: um livro gigante que emerge traste de Henry Cohen [21.59] . Cada personagem tem
da multidão, evocando seu potencial comunicativo; um tipo atribuído a sua fala [21.60] e é identificado
ou a capa de um livro como porta ou janela que se não pelo nome, mas por um pequeno retrato. Mas-
abrem para um mundo de conhecimentos novos sin criou uma tipografia figurativa sem precedentes
[21.54] . Esses anúncios metafísicos e simbólicos não [21.61] , como o arranjo explosivo que retrata uma
carregam informações textuais além da marca e do grande discussão da peça [21.62] , por meio da impres-
nome do cliente, entregando ao público de redatores são tipográfica em lâminas de borracha que eram tor-
e editores antes um fenômeno visual, marcante e pro- cidas e esticadas e finalmente reproduzidas fotografi-
vocativo, que uma mensagem de vendas. camente em alto-contraste. Vitalidade visual, tensão
Rambow muitas vezes impregna fotos conven- e confusão adequadas ao texto são traduzidas grafi-
cionais de um sentido de magia ou mistério [21.55] camente. Em seu projeto para Délire à deux (Delírio
e usa colagem e montagem como meio de criar uma a dois) de Ionesco, as palavras se tornam imagem ex-
realidade gráfica. As imagens são alteradas ou com- pressionista [21.63] . Suas manipulações de tipografia
binadas e então refotografadas. No cartaz de 1980 anteciparam as possibilidades espaciais inerentes à
para a peça Die Hamletmaschine (A máquina de Ham computação gráfica dos anos 1980. Seus muitos anos
let) [21.56] , a foto de uma parede foi colocada sob a de pesquisa sobre as letras e sua história resultaram
foto de um homem em frente dela, depois parte da no importante livro de 1970, La Lettre et l’image (Letra
foto de cima foi rasgada. A imagem final refotogra- e imagem), que explora as propriedades figurativas e
fada apresenta ao espectador uma impossibilidade gráficas do design de alfabetos ao longo dos séculos.
desconcertante. Em outro cartaz, para a peça Othello, Durante os movimentos estudantis de maio de
a imagem parece ser capaz de autodestruição – pa- 1968 em Paris, as ruas foram tomadas por cartazes,
rece possuir a capacidade existencial de negar a si a maioria feita à mão por amadores. Três jovens de-
mesma [21.57] . A força icônica de suas imagens pode signers gráficos, Pierre Bernard (n. 1942), François
ser vista no cartaz de teatro Südafrikanisches Roulette Miehe (n. 1942) e Gerard Paris-Clavel (n. 1943), esta-
(Roleta sul-africana) [21.58] , concebido por Rambow vam profundamente envolvidos na política radical da
e fotografado por ele e Van de Sand. época. Bernard e Paris-Clavel tinham passado um ano
Durante os anos 1960, os escritores e designers na Polônia estudando com Henryk Tomaszewski, que
gráficos do mundo inteiro se assombraram e encan- incentivava a atitude de unir a arte à cidadania. Seu
taram com a tipografia experimental do designer ensino advogava rigor intelectual e lúcida convicção
francês Robert Massin (n. 1925), que projetou edições pessoal sobre o mundo. Esses três jovens designers
de poesia e peças para a editora francesa Gallimard. acreditavam que a publicidade e o design estavam
Quando jovem, Massin foi aprendiz de escultor, gra- voltados para a criação de demandas artificiais a fim
vador e abridor de letras com seu pai. Não buscou ins- de maximizar lucros e, por isso, uniram forças para
trução formal em design gráfico, mas foi aprendiz do dirigir sua atividade mais para fins políticos, sociais
designer tipográfico Pierre Faucheux. Em suas con- e culturais que comerciais. Procurando abordar as
figurações dinâmicas e uso de letras como forma vi- necessidades humanas reais, formaram o estúdio
sual concreta, o trabalho de Massin possui afinidades Grapus em 1970 para realizar essa missão. O Grapus
com a tipografia futurista e dadaísta, mas sua intensi- era um coletivo; um intenso diálogo ocorria sobre
ficação tanto do conteúdo literário narrativo como da o sentido e os meios de cada projeto. Seu ponto de
forma visual numa unidade coesa é única. partida para a solução de problemas era uma análise
Os projetos de Massin para as peças de Ionesco meticulosa e discussão prolongada sobre conteúdo
combinam as convenções figurativas da história em e mensagem. Os aspectos mais significativos do pro-
quadrinhos com o sequenciamento e o fluxo visual blema e o cerne da mensagem eram determinados
do cinema. O drama de La Cantatrice chauve (A can- e em seguida se buscava sua expressão gráfica. (Na-
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quele tempo, os radicais franceses de esquerda eram de ícones culturais: o onipresente rosto amarelo sor-
chamados crapules staliniennes [crápulas stalinistas]. ridente, as orelhas do camundongo Mickey, o cabelo
Essa expressão foi fundida com a palavra gráfico para e o bigode de Hitler. Um olho traz a foice e o martelo,
produzir o nome do grupo.) símbolos que remetem ao comunismo; o outro tem
O Grapus preferia os símbolos universais com sen- as três cores da França, e uma pequena antena de te-
tidos facilmente compreensíveis: mãos, asas, sol, lua, levisão brota do topo de sua cabeça. O Grapus gerou
terra, fogos de artifício, sangue e bandeiras. O refina- muitos imitadores. A verve chocante de suas formula-
mento tipográfico e o acabamento técnico cediam ções, especialmente a informalidade dinâmica de sua
lugar a títulos escritos à mão e rabiscos, criando uma organização espacial e lettering casual, semelhante ao
vitalidade e energia cruas. Muitas vezes, uma paleta das pixações, foi copiada pela publicidade da época.
de cores primárias era escolhida por seu intenso po-
der gráfico.
O cartaz nos países do Terceiro Mundo
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tém a consciência pública da revolução por meio da pop, o cartaz psicodélico e o Push Pin Studios – e o
promoção de efemérides [21.66] e líderes do passado. cartaz polonês são inspirações importantes. Evita-se
As agências e os institutos são responsáveis pelo a escola do “trabalhador heroico” do realismo roman-
cinema, eventos musicais e teatrais, publicações e tizado, dominante na antiga União Soviética e China.
programas de exposições, e usam as artes gráficas Ícone, ideograma e mensagem telegráfica são muito
para promover esses eventos culturais. A ênfase está mais eficazes nas nações em desenvolvimento. Mito
na extensão do serviço social – ao contrário do que e realidade foram unificados em um símbolo gráfico
ocorre em muitos países, onde os programas cultu- poderoso baseado na imagem de Ernesto (“Che”)
rais são disponíveis apenas para a população urbana, Guevara. Um dos líderes da Revolução Cubana, Gue-
em Cuba há uma tentativa séria de alcançar as áreas vara deixou Cuba em meados dos anos 1960 para li-
rurais. Os cartazes de filmes são temas animados e derar guerrilhas na Bolívia, e no dia 9 de outubro de
alegres, impressos por serigrafia numa paleta desini- 1967 foi morto em um tiroteio na aldeia de Higuera,
bida de cores vivas. em plena selva. Os designers gráficos converteram a
Os cartazes e folhetos para exportação por todo imagem de Che, uma das mais reproduzidas do final
o Terceiro Mundo são produzidos pela Organização do século xx, em ícone [21.67] , simbolizando a luta
de Solidariedade com a Ásia, África e América Latina contra a opressão em todo o Terceiro Mundo. Dese-
(ospaaal) com o objetivo de apoiar a atividade revolu- nhado em planos de luz e sombra como fotografia em
cionária e formar consciência política. Os cartazes da alto-contraste, o guerrilheiro usa uma barba e uma
ospaaal são impressos em offset e utilizam imagens boina com uma estrela; sua cabeça se inclina ligeira-
simbólicas elementares, prontamente entendidas mente para cima. Ernesto Guevara foi, assim, conver-
por pessoas de diversas nacionalidades, línguas e for- tido no herói ou salvador mítico, que sacrificou sua
mações culturais. O governo de Fidel Castro se consi- vida pelos oprimidos.
dera envolvido numa guerra ideológica contra o “im- A importância de imagens conceituais na segunda
perialismo ianque” pelos corações e pelas mentes das metade do século xx desenvolveu-se em resposta a
pessoas nos países emergentes do Terceiro Mundo. O muitos fatores, e as ideias e formas de arte moderna se
olho do observador é atormentado enquanto a cons- mesclaram às culturas populares. Ao usurparem das
ciência revolucionária é formada pela reiterada expo- artes gráficas sua função documental , a fotografia e o
sição. A distribuição internacional de material gráfico vídeo reposicionaram a ilustração gráfica rumo a um
da ospaaal é evidenciada pela presença de textos ára- papel mais expressivo e simbólico. A complexidade das
bes, ingleses, franceses e espanhóis em cada cartaz. ideias políticas, sociais e culturais e as emoções que os
Carentes de tradições artísticas, os designers grá- artistas gráficos precisam comunicar podem, muitas
ficos cubanos assimilaram uma multiplicidade de re- vezes, ser apresentadas com mais eficácia por imagens
cursos. Referências norte-americanas – como a arte icônicas e simbólicas do que por imagens narrativas.
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