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Colostro suplementar e a saúde e desempenho dos

bezerros

Carla Maris Machado Bittar Piracicaba - São Paulo


Prof. Do Depto. de Zootecnia, ESALQ/USP

Recentemente, a indústria pecuária tem sido encorajada a reduzir o uso de


antibióticos na produção animal. É clara a preocupação com o desenvolvimento
de bactérias de origem animal que apresentam resistência aos antibióticos
utilizados na medicina humana. Entretanto, no manejo sanitário pecuário, a
morbidade e mortalidade por doenças infecciosas ainda é uma causa comum de
perdas econômicas para os produtores. Portanto, desenvolver alternativas aos
antibióticos para minimizar as perdas associadas com doenças infecciosas é uma
necessidade evidente da indústria pecuária.

O colostro bovino tem sido utilizado com êxito na medicina humana como uma
terapia alternativa aos antimicrobianos no tratamento de doenças infecciosas do
trato gastrointestinal. Isso se deve às propriedades antibacterianas e antivirais
dos componentes do colostro bovino, tais como a lactoferrina e as citocinas
pró-inflamatórias. Anticorpos específicos contra patógenos infecciosos contidos no
colostro materno fornecem proteção ao bezerro recém-nascido durante os
primeiros meses de vida e são importantes preditores de saúde e desempenho
dos bezerros.

Desta forma, o objetivo da pesquisa conduzida por Chamorro et al. (2017) foi
avaliar os efeito de uma dose suplementar de 150 g de substituto de colostro
fornecido juntamente com o sucedâneo, durante os primeiros 14 dias de vida,
para avaliar a ocorrência de doença, administração de antibiótico e parâmetros de
desempenho de bezerros leiteiros durante o aleitamento com adequada
transferência de imunidade passiva.

Para a pesquisa, foram utilizadas 202 bezerras da raça Holandesa com 1 dia de
idade e todas com adequada transferência de imunidade passiva (IgG sérica >10
g / L). Após a chegada, as bezerras foram distribuídas em 2 tratamentos: Grupo
controle (n= 100), recebendo sucedâneo sem suplementação de substituto de
colostro. Grupo suplementado (n = 102), recebendo sucedâneo + substituto de
colostro em pó (150 g de colostro bovino em pó contendo 32 g de IgG), duas
vezes por dia durante os primeiros 14 dias de vida.

Os parâmetros clínicos avaliados foram: respiração, consistência fecal, depressão,


umbigo e articulações. O tratamento com antibiótico foi realizado quando os
parâmetros clínicos apresentaram-se anormais. Registrou o tipo de antibiótico e o
número total de doses de antibióticos administradas (Tabela 1).

Tabela 1. Estatística descritiva do tratamento de antibiótico de acordo com a


suplementação ou não de colostro.

Sucintamente para o grupo de animais suplementados, as probabilidades de


apresentar escore fecal, respiratório, depressivo e umbilical anormais foram 0,15;
0,46; 0,21; e 0,18 vezes, respectivamente, as probabilidades de bezerras do
grupo controle (Tabela 2). Assim, as bezerras do grupo suplementado
apresentaram menor probabilidade de apresentar escore fecal, respiratório,
depressivo, umbilical e de articulação anormal em comparação com as bezerras
do grupo controle (Tabela 2).

Tabela 2. Índice de Probabilidades para escores fecal, respiratório, depressão,


umbilical e avaliações clínicas conjuntas em bezerros.

¹ n = número de medições (registado a partir de 202 bezerras observados de d 0


a 56)
2IP = Índice de probabilidade
Da mesma forma, a probabilidade de receber tratamento com antibióticos foi de
18,8% para animais suplementados com colostro e de 76,5% para animais do
grupo controle. Para as bezerras suplementadas com colostro, a probabilidade de
receber 1 ou mais doses de antibióticos foi 89% inferior aquela observada para
animais controle.

O fracasso na transferência da imunidade passiva é um dos fatores de risco e


preditores mais importantes da morbidade e mortalidade dos bovinos de leite. As
concentrações séricas de IgG no primeiro dia de vida foi de 23,6 e de 22,8 mg/dL
para animais suplementados e controle, respectivamente (Tabela 3). O nível
médio de IgG sérica na chegada à instalação de criação de bezerros de ambos os
grupos foi maior que os níveis propostos para que a transferência de imunidade
passiva seja considerada "excelente" (15 mg/dL).

Nestas condições de transferência de imunidade passiva bem sucedida, a IgG


sérica média à chegada não teve um efeito significativo na mortalidade, na
apresentação de escores clínicos anormais ou no tratamento com antibióticos. A
mortalidade neste estudo foi baixa (1,48%) possivelmente devido aos altos níveis
de IgG sérica encontrados em todas as bezerras no início do estudo. No entanto,
muitos animais do grupo controle apresentaram diarreias e vários apresentaram
problemas respiratórios. Estes dados sugerem que a imunidade derivada da mãe
nem sempre protege contra os desafios infecciosos na superfície da mucosa do
trato entérico e respiratório.

Tabela 3. Concentração sérica de IgG no primeiro dia de vida e ganho de peso


diário durante período de aleitamento.

O fornecimento de aproximadamente 30% (150 g de pó de IgG a 14%) de um


substituto do colostro duas vezes ao dia durante os primeiros 14 dias de vida
exerceu efeito protetor contra a diarreia (escore fecal anormal), doenças
respiratórias (escore respiratório anormal), aumento das estruturas umbilicais e
tratamento com antibióticos em bezerros leiteiros reduzindo o risco de diarreia,
doença respiratória e aumento umbilical. Adicionalmente, os bezerros
suplementados tiveram um número total reduzido de doses de antibióticos
administradas em comparação com o grupo controle.

Os substitutos de colostro têm sido defendidos como alternativa para evitar falhas
na transferência de imunidade passiva em bezerros quando a disponibilidade de
colostro materno é baixa ou quando a qualidade do colostro materno é
comprometida devido a baixos níveis de IgG ou à presença de patógenos
transmitidos pelo colostro. Com base nos resultados deste estudo, os substitutos
de colostro podem também ser utilizados como suplemento da dieta líquida, seja
no leite ou no sucedâneo para diminuir a ocorrência de doenças e a necessidade
associada de tratamento com antibiótico em bezerros leiteiros em aleitamento,
independentemente do seu status na transferência de imunidade passiva.

Referências bibliográficas

CHAMORRO, M. f.; CERNICCHIARO, N. HAINES, D. M. Evaluation of the effects of


colostrum replacer supplementation of the milk replacer ration on the occurrence
of disease, antibiotic therapy, and performance of pre-weaned dairy calves.
Journal of Dairy Science, v. 100 n. 2, p. 1378–1387. 201.

Comentários

Os benefícios do fornecimento prolongado de colostro para bezerros durante o


aleitamento não é novidade. Vários estudos já haviam mostrado efeitos
interessantes na saúde e consequentemente no desempenho de animais
suplementados com colostro (ou mais especificamente leite de transição) durante
as primeira semanas de vida. Embora os animais não tenham mais a capacidade
de absorver anticorpos, seu fornecimento suplementar auxilia na imunidade local
(intestino), sendo importante para animais que têm as diarreias como principal
causa de morbidade e mortalidade. No entanto, o fornecimento durante por volta
de 14 dias não é comumente realizado por produtores devido a baixa e variável
disponibilidade de colostro e leite de transição nas propriedades. Com a entrada
de vários produtos comerciais no mercado nacional, seja suplemento ou
substituto de colostro, o produtor tem agora tecnologia disponível não só para
adequar problemas na transferência de imunidade passiva, mas também para
fazer fornecimento suplementar. O trabalho mostrou que mesmo em animais com
adequada imunidade, a suplementação pode trazer benefícios reduzindo a
probabilidade do animal apresentar diarreias, assim como a de receber
tratamento com antibióticos.

FONTE:https://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/animais-jovens/colostro-
suplementar-e-a-saude-e-desempenho-dos-bezerros-
105547n.aspx?utm_source=email&utm_medium=newsletter-
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