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PROCESSO Nº 0000124-18.2019.5.07.

0027
RECLAMANTE: ROSINALDO RODRIGUES GOMES
RECLAMADO: ITAPUI BARBALHENSE INDÚSTRIA DE CIMENTOS S/A

SENTENÇA

1. RELATÓRIO
Dispensado, nos termos do artigo 852-I da CLT (Lei nº 9.957/2000).

2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. DA JUSTIÇA GRATUITA
Defiro o benefício da justiça gratuita ao autor, nos termos do art. 790, § 3°, da CLT,
salientando que o último salário por ele percebido foi inferior a 40% do limite máximo dos
benefícios da Previdência Social.
2.2. DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA
No processo do trabalho o valor da causa tem dupla finalidade: fixar alçada e servir de base
para cálculo das custas judiciais, não vinculando o Magistrado no momento de eventual
condenação. Considerando o teor dos pedidos formulados pelo autor, tenho que o importe dado à
causa não parece excessivo. Ademais, não se há de confundir o valor dado a causa (montante
patrimonial perseguido pelo obreiro) com a prosperidade dele, esta sem índole preliminar, mas
eminentemente meritória. Rejeito.
2.3. DO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
O autor assevera que laborou para a reclamada no período de 14/08/03 a 08/06/18,
exercendo última função de ajudante de operação; que trabalhava em ambiente nocivo à sua saúde
(ruído; calor exaustivo; poeiras de cimento, gesso, tufo, calcário, carvão mineral e de argila;
vibrações acima do normal; iluminação insuficiente), cuja insalubridade restou constatada por
meio de perícia realizada nos autos de ação coletiva aforada pelo Sindicato da categoria, processo
nº 0000472-17.2011.5.0.0027.
Esclareceu ainda o acionante que “Durante o período laboral na função de Ajudante
Operação, o reclamante não percebeu adicional de insalubridade em grau máximo, mas por
equívoco na ação coletiva autuada sob o nº 0000472-17.2011.5.07.0027, que tramitou na 1ª Vara
do Trabalho da Região do Cariri, não foi inserido no rol de substituídos beneficiados com a ação
coletiva.”
Postula pagamento de “diferença do Adicional de Insalubridade grau máximo 40% de
06/2018 – 02/2017” e reflexos, tendo ainda o autor apresentado manifestação por ocasião da
audiência(ata ID 43f4e08) realizada perante este Juízo para informar que“a função "ajudante de
operação" que consta na CTPS é a mesma função de "ajudante de produção" constante no laudo
pericial. Diante do exposto requer o reconhecimento judicial do direito a insalubridade postulada
na inicial.”
A reclamada pugna pela improcedência do pleito aduzindo haver “manifestos erros
constantes no laudo pericial utilizado como prova emprestada no presente feito, posto que
diferentemente do aduzido no referido laudo, o Reclamante ecebeu os EPI`s, fichas ora acostados,
necessários para exclusão dos efeitos dos agentes insalubres de acordo com PPRA`s, em anexo,
conforme será amplamente demonstrado nas razões da presente defesa.”
Acerca da prova emprestada, consubstanciada na perícia técnica realizada para avaliar as
condições e meio ambiente laboral dos substituídos no processo 0000472-17.2011.5.0.0027, resta
certo que a reclamada Itapuí Barbalhense Indústria de Cimento S/A (1ª reclamada naquele feito)
foi condenada a pagamento de diferenças do adicional de insalubridade tendo o perito nomeado, o
Engenheiro Civil e de Segurança do Trabalho, Daniel Walker Almeida Marques Junior, CREA/CE
nº 14.378 – D, realizado inspeção nas dependências da reclamada por setores, assim justificando o
expert:
“Com o objetivo de facilitar a aplicação dos conceitos para elaboração desse Laudo no
que diz tange às diferentes atividades existentes nas empresas, os cargos foram divididos
em Grupo Homogêneo de Exposição (GHE), que poderão conter na sua composição um
único cargo ou mais de um, desde que expostos aos mesmos agentes agressivos. Os locais
avaliados encontram-se todos localizados nas dependências da 1ª e 2ª Reclamadas e são
compostos pelos seguintes ambientes”.

Infiro da prova documental coligida aos autos e materializada pelo contrato de trabalho,
demonstrativos de pagamentos, ficha funcional do obreiro, cartões de ponto e CTPS obreira que o
demandante foi inicialmente contratado como ajudante geral (com atuação nas áreas administrativa
e manutenção/civil), tendo sido promovido em 01/02/17 para ajudante de operação, com atuação
no setor de clínquer – moagem de cru.
Acerca da insalubridade verificada no setor acima mencionado, o senhor perito assim se
pronunciou (ID 5db1d05 - fls. 88/90):
CLÍNQUER/MOAGEM DE CRU
DESCRIÇÃO DO AMBIENTE DE TRABALHO:
A área de Moagem de Cru está sediada em um edifício, dotado de piso cimentado, teto de laje e
paredes em alvenaria. Há iluminação natural, através de aberturas, complementada por iluminação
artificial, através de lâmpadas fluorescentes, inadequadamente espaçadas. A ventilação é natural
através de aberturas e artificial, por ventilador (somente na Sala de Comando) e exaustores, em
estado precário de funcionamento. Possui acesso a corredores, na sua grande maioria, estreitos e
inadequadamente sinalizados, para realização de atividades de operação e manutenção. O prédio é
equipado com sistema de combate a incêndio (extintores).
DESCRIÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO:
Após processo de homogeneização de matérias-primas, intituladas de “cru”, alimentam um
Moinho de Bolas, onde são submetidos a uma operação de secagem e transformadas em farinha.
Nesse processo há emanação de poeiras e gases de exaustão que passam por filtros-de-manga,
constituído por tecido que promovem a separação dessas duas partículas (poeira dos gases de
exaustão). Esse sistema é ineficiente e, em inúmeras ocasiões, é interrompido seu funcionamento
para realização de manutenção corretiva.
GHE (GRUPO HOMOGÊNEO DE EXPOSIÇÃO)
Operador de Moinho Cru
Operar, monitorar e controlar equipamentos de moagem; Realizar serviços básicos de manutenção
mecânica e lubrificação na moagem; Avaliar estado de conservação da carga moedora.
Ajudante de Produção
Verificar o nível de material nas moegas, operar painéis de comando das moegas de calcário,
argila, coque e carvão, registrando a entrada de materiais e informações relacionadas aos processos
de moagem.

E concluiu:
Considerando-se a função, local e condições de trabalho, as atividades desenvolvidas, pelo(s)
ocupante(s) desse GHE, estão enquadradas como INSALUBRES EM GRAU MÁXIMO, nos
termos da legislação em vigor, pela exposição à POEIRA MINERAL.

Quanto ao conteúdo da perícia realizada, é importante destacar algumas respostas ofertadas


pelo Sr. Perito à quesitação formulada, senão vejamos:
“10. RESPOSTA AOS QUESITOS FORMULADOS PELOS RECLAMANTES
(...)
5º) Os locais periciados onde os empregados trabalham nas reclamadas são insalubres?
I-Em caso positivo:
a)são todos os setores ?
b) Quais os setores mais afetados?
c) Qual o grau devido do respectivo adicional?
d)Quais as técnicas utilizadas pelo Sr. Perito para chegar a tal conclusão?
Resposta: Sim, alguns empregados estão submetidos a condições insalubres, de cunhos
diversos.
a) Não.
b) Respondido nos itens 8 e 9 do presente Laudo.
c) Ver item 15 do Laudo”

Ainda em resposta à quesitação formulada pela reclamada Itapuí Barbalhense Industria de


Cimento S/A afirmou:
“11. RESPOSTA AOS QUESITOS FORMULADOS PELA 1ª RECLAMADA
1. Quais os cargos avaliados?
Resposta: Operador de Moinho; Operador de Moinho Cru; Ajudante de Produção;
Encarregado Geral de Produção; Operador de Forno; Operador de Britador; Operador
de Máquinas Pesadas; Mecânico Automotivo; Mecânico Automotivo Especializado;
Encarregado de Manutenção de Veículos; Operador de Ponte Rolante; Operador de
Ensacadeira; Carregador; Instrumentista; Instrumentista Meio Oficial; Instrumentista
Líder; Soldador; Soldador Especializado; Ajudante de Manutenção Industrial; Mecânico,
Mecânico Meio Oficial, Mecânico Especializado, Encarregado Geral de Manutenção
Mecânica, Controlador de Manutenção Industrial, Lubrificador Industrial, Torneiro
Mecânico Especializado, Eletricista, Eletricista Meio Oficial, Eletricista Especializado,
Eletricista Líder, Analista de Laboratório e Encarregado Geral de Laboratório.”

Infere-se, a partir de tais respostas, que não são todos os setores, nem todas as funções
submetidas a condições insalubres, ressaltando que a divisão por grupo homogêneo de exposição
realizada pelo expert em muito se assemelha ao PPRA da reclamada, porém não é idêntica.

Tais observações mostram-se relevantes para se averiguar acerca da identidade de funções


de ajudante de operação e ajudante de produção. É que o ajudante de operação, conquanto não
referido no laudo pericial, recebia adicional de insalubridade em grau mínimo (10%), enquanto o
ajudante de produção avaliado pelo profissional teve reconhecida insalubridade em grau máximo
(40%).
Cotejando-se as atribuições da função de Ajudante de Produção constante do laudo
pericial (verificar o nível de material nas moegas, operar painéis de comando das moegas de
calcário, argila, coque e carvão, registrando a entrada de materiais e informações relacionadas
aos processos de moagem) com a descrição de Ajudante de Operação fornecida pela reclamada
por meio do documento ID 4580b59/fls. 812 (apoiar na operação, monitoração e controle do
sistema de moagem; realizar serviços básicos de lubrificação, manutenção mecânica do sistema de
moagem) não se verifica identidade de afazeres.
Ainda que tenha se mostrado incontroverso que o autor laborava no setor de
clinquer/moagem de cru, tal fato não é suficiente para autorizar pagamento de insalubridade em
grau máximo em seu favor, máxime diante da afirmação do perito de que apenas alguns dos
empregados da reclamada eramo submetidos a condições insalubres, descrevendo, de forma
minuciosa, as funções desempenhadas em tais condições.
Ressalte-se que as possíveis irregularidades quanto à nomenclatura das funções constantes
do laudo pericial deveriam ter sido objeto de impugnação no momento próprio e no processo em
que a prova foi produzida, sendo vedado a este Juízo incursionar em questionamentos a tal respeito.
Ora, por ser fato constitutivo do direito do autor, competia-lhe demonstrar, de forma
concreta, a identidade de funções a fim de justificar o pagamento de adicional de insalubridade no
patamar requerido, sendo relevante anotar que o próprio acionante descurou-se da produção de
prova oral, não havendo como inferir dos elementos de prova constante dos autos que a função de
ajudante de operação seja a mesma de ajudante de produção.
Desta feita, não tendo o acionante se desincumbindo de seu encargo probatório posto que
não comprovada identidade entre as funções de ajudante de operação e ajudante de produção, não
há como acolher o pleito de diferenças de insalubridade entre o grau máximo-mínimo na forma
postulada na inicial, impondo-se a rejeição dos pleitos formulados na inicial.

2.4. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - APLICAÇÃO DA LEI 13.467/2017


Em face da sucumbência integral do autor e considerando que a presente ação foi ajuizada já
na vigência da lei n° 13.467/17, forçoso é condená-lo a pagar ao advogado da parte reclamada
honorários advocatícios sucumbenciais, fixados no percentual de 5% do valor da causa, o que
decorre automaticamente da sucumbência da parte, prescindindo de requerimento expresso da parte
adversa.
Sendo o autor beneficiário da justiça gratuita, a exigibilidade do pagamento fica suspensa e
somente será executada se o advogado defensivo, no prazo de 02 anos contados do trânsito em
julgado desta sentença, comprovar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos. Não
havendo tal comprovação, ficara automaticamente extinta a obrigação de pagar honorários
advocatícios (art. 791-A, § 4º, da CLT).
3. DISPOSITIVO
Ex positis, decide este Juízo CONCEDER o benefício da justiça gratuita ao autor;
REJEITAR a impugnação ao valor da causa; e JULGAR IMPROCEDENTES os pedidos
formulados por ROSINALDO RODRIGUES GOMES contra ITAPUI BARBALHENSE
INDUSTRIA DE CIMENTOS S/A, nos termos da fundamentação supra, que passa a integrar este
decisum, extinguindo o processo, com resolução de mérito, nos termos do artigo 487, I, do CPC/15.
Fixo, em favor do(a) advogado(a) da parte reclamada, os honorários sucumbenciais de 5%
sobre o valor atualizado da causa, observado os critérios elencados no § 2º do art. 791-A da CLT.
Em sendo o autor beneficiário da justiça gratuita, os honorários advocatícios ora fixados
permanecerão sob condição suspensiva de exigibilidade, no prazo e forma discriminados no art.
791-A, § 4º, da CLT.
Custas processuais pelo reclamante, no valor de R$180,67, dispensadas.
Notifiquem-se as partes.

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