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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA
Professora: Daniela Cisneiros
Aluno: Anderson Luiz

SANCHIDRÍAN, J.L. Manual de Arte Prehistórico. Ariel Prehistoria: Barcelona, 2014.

Fichamentos dos capítulos 1 (Nociones, princípios y conceptos fundamentales) e 3 (Arte


rupestre de los grupos depredadores).

Capítulo 1 – Noções, Princípios e Conceitos Fundamentais

1 – A história da vida na Terra soma 4 bilhões de anos, aproximadamente. Para facilitar


o estudo, faz-se uma divisão por eras e subdivisões em “sub eras”, de acordo com fases
biogeoecológicas, onde cada era é marcada pelo aparecimento/desaparecimento de um
grupo animal dominante. Os vestígios desse grupo animal podem ser denominados de
“fósseis guias”;
2 – O Quaternário é a era marcada pelo surgimento do gênero Homo, bípede e com
capacidade de fabricação de utensílios, baseados em matéria-prima na natureza e
favorecido pela inversão paleomagnética das calotas polares, que influiu de maneira
significativa no clima do planeta Terra;
3 – O estudo do desenvolvimento do homem sobre o planeta também se baseia nas
divisões em etapas “fictícias”, onde a última, Pré-História é a que vai interessar, pois é a
que teoricamente não se encontram registros escritos, mas existem registros da sua
passagem;
4 – Para o autor, a Pré-História compreende tudo o que é denominado de História, pois
uma grande parte espaço-temporal, sem registros escritos, é encontrada entre o
surgimento da escrita cuneiforme (Suméria) e hieroglífica (Egito), deixando “a margem”
uma enorme quantidade de tempo;
5 – Com o Quaternário, pode se fazer uma divisão em dois períodos, de acordo com
diversos acontecimentos climáticos e geológicos: estes dois subperíodos são chamados
de Holoceno e Pleistoceno;
6 – O Holoceno seria uma fase final do Quaternário, que se estende até os dias atuais e é
caracterizada por um clima temperado, com pouca variação na temperatura;
7 – Diante deste fato, o Pleistoceno é recortado em demarcadores cronológicos, a fim de
examinar a difusão/dispersão da dinâmica cultural humana. Para que sejam delimitados,
investigam-se vestígios globais através de caracteres biogeológicos, como por exemplo
fatores climáticos que provocaram as glaciações;
8 – As subdivisões clássicas das eras são baseadas em estudos geológicos de sedimentos
na Europa. A partir daí quatro processos glaciares quaternários foram identificados e
demarcados: Günz, Mindel, Riss e Würm, além de outro, Donau, no fim do Terciário.
Entre estes processos, encontram-se três etapas de menor rigor climático: Günz-Mindel,
Mindel-Riss e Riss-Würm, de onde se conclui que o Holoceno era um período
interglacial;
9 – Partindo destes marcos divisórios de subdivisão do Pleistoceno, existe uma ordem
tripartite, baseada em seriações acadêmicas: Inferior, que abarca a glaciação Günz,
Médio, com o interglacial Günz-Mindel e Superior, correspondendo a interglaciação
Riss-Würm e a glaciação Würm. Por outro lado, os depósitos sedimentares são baseados
no avanço/retrocesso glacial, responsável por episódios quentes e frios. Dessa maneira, a
boa conservação do registro geológico permitiu alocar dentro das glaciações principais
três estados, que oscilavam de etapas frias a atemperadas;
10 – Mesmo assim, as datas e períodos não estavam bem definidos, pois era necessário
traçar marcos divisórios. Para isso, contou-se com a técnica paleomagnética, que estuda
o campo magnético terrestre. Assim, foram verificados dois grandes eventos separados
por atividades magnéticas distintas. Um, temporalmente negativo, no início do
Quaternário, chamado de Matuyama e outro, positivo, Bruhnes. O Pleistoceno Inferior
engloba todo o período negativo e o Pleistoceno Médio-Superior, o positivo;
11 – Os métodos de datação radiométrica (por C14, por exemplo), a análise polínica
(pólens) e paleontológicas (estudo de esqueletos animais) possibilitaram uma grande
eficácia no estudo dos eventos e forneceram vários dados significativos;
12 – Os registros geológicos não são uniformes, além de serem desiguais
qualitativamente/quantitativamente. Por este motivo, se faz necessário investigar outros
processos que permitam investigar a fundo as divisões do Pleistoceno. Hoje em dia, é
utilizada também a análise dos depósitos marinhos e a escala isotrópica de Oxigênio (O16,
O18);
13 – A análise de Oxigênio se baseia no estudo da cadeia trófica marinha, com análises
do plâncton e fitoplâncton e a relação deles com as condições ambientais, com a
quantidade de gelo e água do mar e com as temperaturas, estabelecendo parâmetros
ecológicos de desenvolvimento das espécies estudadas;
14 – Graças a análise estratigráfica marinha por sondas, podemos desenvolver marcos
cronológicos para estudos palinológicos e sedimentares;
15 – Graças a extensa documentação e numeração dos estados pleistocênicos, entende-se
que a cada estado ímpar corresponde a um ambiente atemperado e outro, par, com outros
estados, frios e menos áridos;
16 – O Pleistoceno Superior é um dos momentos mais quentes da série quaternária;
17 – Uma outra denominação para o Pleistoceno Superior é a Tardiglaciar, onde neste
período, houve um aumento na temperatura no Hemisfério Norte, responsável por
fenômenos erosivos e deslocamento populacional pelo estreito de Bering, da Europa para
o continente americano;
18 – Entre o Würm, existe o Laugerie, período que possui datações e vestígios de
pulsações frias e menos gélidas do clima;
19 – O que se pode pontuar é que todas essas características podem ser consideradas
marcos globais, com processos particulares regionais que provocaram diversos fatores
climáticos, em função das posições latitudinais/longitudinais e influência da
continentalidade/litoralidade;
20 – Quando se refere ao Holoceno, prosseguem-se as subdivisões habituais, com um
aumento gradativo e variações nos volumes de aridez/umidade, além do degelo boreal e
elevação da temperatura, com menor umidade e o clima atual, com um leve esfriamento,
conhecido como pequena idade do gelo;
21 – Com o passar dos anos, outros estudos vão sendo desenvolvidos, de maneira a
pontuar estas compartimentações cronológicas, de acordo com as mudanças ambientais
ocorridas no Pleistoceno Superior recente.

Dinâmica Cultural do Pleistoceno Superior e Princípios do Holoceno

22 – No quadro temporal anterior, foram expostas as diferentes etapas cronológicas sem


grafia, ou seja, o tempo em que as sociedades humanas não “necessitavam” de escritura
e o sistema de comunicação gráfica não estava consolidado. Porém, não se deve deixar
de perceber que as mudanças ambientais no Pleistoceno (alternância de períodos frios e
áridos, modificação de paisagens, degelo, aumento/retração marinha, etc.) tiveram forte
impacto na índole, na economia e no modo de vida dos grupos humanos;
23 – Diante disso, no Pleistoceno Inferior e Médio, vemos o surgimento/extinção de
várias espécies de hominídeos (primatas bípedes) e homens (que fabricam utensílios) que
tinham sua subsistência baseada na coleta e caça. A tecnologia produtiva dos homens e
mulheres do período demonstra que eles produziam artefatos precários de uso imediato.
No Pleistoceno Médio, o Homo Erectus passou a criar utensílios líticos adaptados a suas
necessidades diárias, por conta da expansão territorial. Estes novos instrumentos serviam
para os mais variados usos, com as mais variadas formas geométricas, enquadrados na
cultura Acheuliense;
24 – De acordo com as abordagens mais aceitas atualmente, no Pleistoceno Superior
europeu surge/desaparece uma nova espécie humana, o Homo Neandertalensis. Junto
com ele, há o desenvolvimento de uma extensa cultura material denominada Musteriense
(Paleolítico Médio). Também ao mesmo tempo, há o aparecimento dos homens
anatomicamente modernos, Homo Sapiens, com sua grande variedade cultural e resultado
de uma adaptabilidade ao meio;
25 – No término do Tardiglaciar, ocorre outra mudança socioeconômica, que repercute
na atualidade, que é a produção de alimentos e a domesticação de animais, pois no
Pleistoceno Superior ocorre uma série de acontecimentos que culminam na extinção de
todas as espécies humanas conhecidas, exceto a atual, sapiens;
26 – A tecnologia neandertal se desenvolve ao lardo da metade do Pleistoceno Superior,
no clássico Würm, compreendida no Paleolítico Médio. Já as características anatômicas
do homem moderno surgem também no Würm, no Paleolítico Superior;
27 – Ambas as espécies humanas, sapiens e neandertalensis, distintas geneticamente (e
sem procriação entre si), desenvolvem o modo caçador-coletor, consumindo os recursos
do entorno e se movendo por territórios em busca de recursos e abrigo. Com o passar do
tempo, o Homo Sapiens desenvolveu e aperfeiçoou ainda mais as armas de caça, a fim de
se prover. Com isso, há um aumento da representação artística cultural, favorecendo a
interação social. Neste período (segunda metade do Pleistoceno Superior), há o choque
entre as espécies, por conta da disputa por proventos, recursos e afins;
28 – No fim do Pleistoceno, devemos prestar atenção nas respostas culturais
demonstradas pelos sapiens e neandertais. O que deve ser ressaltado é que a criação das
manifestações artísticas generalizadas é exclusividade do Homo Sapiens, de acordo com
as evidências industriais do Aurignacense. Sendo que os neandertais não precisaram de
grafia ou representação para demonstrar sua cultura, e mesmo assim, viveram um longo
período. Por conta disso, os objetos líticos musterienses do Paleolítico Médio foram
utilizados no seu cotidiano;
29 – Por volta de 40 mil anos atrás, adentrou no território neandertal (Europa) uma outra
espécie humana: o Homo Sapiens moderno, originário da África. Trazendo um complexo
tecnológico próprio (roupas, artefatos líticos e ósseos próprios, adornos, etc.), que
propiciavam uma melhor resposta ao meio ambiente e a caça, iniciam o Paleolítico
Superior europeu. Isso provocou um intenso deslocamento dos neandertais, que foram
deslocados e forçados a buscar novos territórios. Mas nem sempre foi conflituosa a
interação entre os neandertais e os sapiens: em alguns locais da Europa, há uma interação
cultural entre eles, onde os primeiros copiam técnicas dos recém-chegados, nascendo
assim as indústrias Chatelperroniense (França), Ulluziense (Itália), Szeletiense (Europa
ocidental) e Olcheviense (Croácia-Eslovênia);
30 – Segundo a teoria, durante o extermínio dos neandertais pelos homens modernos,
estes continuam com um sistema de subsistência baseado em coleta/caça oportunista,
aquela em que não há uma seletividade e é propiciado por um nomadismo e mobilidade
baixos, dentro de um território e pouca população. Tudo isso amparado por
acampamentos efêmeros em locais específicos;
31 – Sobreviver neste sistema requeria estabelecer alianças, estabelecendo contato com
grupos sociais similares, procurando estabelecer casais, eliminar a endogamia, transmitir
conhecimentos sobre o meio e os recursos e principalmente, garantir estoques de
alimentos para serem usados em momentos de “penúria”;
32 – No Paleolítico Superior Inicial, os bens coletados e caçados representavam um
abastecimento a curto prazo; por conta disso, a mobilidade territorial era fundamental
para transmitir o conhecimento cultural e simbólico, tendo como base as representações
artísticas;
33 – No Paleolítico Superior recente, nota-se um grande avanço nas técnicas de conserva
e coleta de recursos alimentares, além de uma maior depredação do meio. Isso repercute
no surgimento de uma nova indústria cultural, a Solustrense, baseada em pontas arrojadas
e o invento do arco e flecha. A maior experiência na caça gerou um aumento populacional
significativo no continente europeu, que migrou das áreas mais frias para as mais
temperadas;
33 – Graças a esta série de eventos (redução da mobilidade terrestre, fixação,
armazenamento, etc), os territórios ocupados diminuem de tamanho, além de adquirir um
caráter cíclico, no qual a organização é baseada de acordo com a disponibilidade de
recursos, de modo a demandar do trabalho coletivo para obter maiores rendimentos, com
festas simbólicas de agradecimento, de acordo com algumas cavernas pintadas;
34 – Porém, apesar de toda essa especialização do caçador/coletor, verifica-se uma
característica: a presença de uma regionalização cultural local, onde a apropriação dos
recursos naturais se torna mais precisa. Também as zonas mais setentrionais da Europa
são povoadas, graças ao degelo das calotas polares;
35 – Com os episódios de degelo no pós Holoceno, as sociedades se desenvolvem ainda
mais, com sistemas econômicos baseados na caça e re-coleta, além de empreender novas
estratégias tecnológicas, a fim de se adaptar a mudança climática. Este fato aumenta mais
a regionalização e fragmentação cultural, ocasionando um desenvolvimento de várias
indústrias culturais locais, adaptadas as suas próprias demandas. Ao mesmo tempo deste
desenvolvimento, há uma certa ruína na arte rupestre e decorativa do Paleolítico Superior,
pois perde-se o caráter de coesão por conta das grandes distâncias e os mecanismos
socioeconômicos são outros, pois as expressões artísticas se reduzem a elementos
geométricos sobre mobílias;
36 – No Oriente Próximo, ocorre um fenômeno análogo a Europa, com o avanço do
Neolítico (criação de animais domésticos, domesticação e agricultura), sendo
denominados de mesolíticos;
37 – Quando se fala em produção alimentar, deve se ter em mente que se fala do processo
de “neolitização”, que foi significado de grandes mudanças econômico-sociais, que
culminaram na sedentarização e desenvolvimento de artefatos voltados para as atividades
econômicas (cerâmica, pedra polida, etc.);
38 – Por fim, só a partir do terceiro milênio A.C. é que se percebem as primeiras
sociedades metalúrgicas, nas idades do Cobre e Bronze. Alinhado a este desenvolvimento
material, a economia e sociedade crescem vertiginosamente, constroem-se grandes
monumentos e se estrutura uma estruturação social.

Capítulo 3 - Arte Rupestre Dos Grupos Predadores

1 – O principal propósito de se indagar sobre algo é saber sobre o quê será indagado. Qual
será o objeto de análise. Dentro do conceito de arte pré-histórica, existem uma infinidade
de conceitos que quase nunca ajudam a responder as indagações. A Teoria da Arte é um
caminho para estruturar soluções e definições acerca do tema;
2 – O registro arqueológico das sociedades pré-históricas, enquanto fonte histórica, nos
demonstra uma parcela da cultura material delas; os principais pontos de questionamento
levantados pelos achados são: quais podem ser interpretados como artísticos, quando o
homem teve a intenção de os usar como forma de expressão, e qual a espécie humana
teve a capacidade de comunicar o seu pensamento (plástica e graficamente) e porque o
fez. A partir daí, pode ser considerado arte as peças decorativas, sinais, signos, executados
sobre os mais variados suportes, de modo a passar uma mensagem simbólica;
3 – A produção de arte traz consigo um caráter comunicativo, podendo ilustrar um
processo intelectual completo, sujeito a mecanismos físico-químicos relevantes;
4 – Os primeiros vestígios artísticos dos humanos, segundo alguns autores, é denominado
“paleoarte” ou “pré arte”. Por exemplo, para DAVIDSON (1997), os vestígios artísticos
dos humanos estão ligados a pinturas, gravuras, desenhos e ilustrações, pois são um
conjunto de marcas e imagens representativas de alguma causa histórica;
5 – Aprofundando no conceito da origem da arte, alguns itens do registro arqueológico
permitem deduzir as primeiras manifestações artísticas, transmissões de pensamento, de
capacidade ou simplesmente, comunicação. Estes itens estão relacionados as formas de
construção destas manifestações (marcas, incisões, perfurações) e a intencionalidade
deles, seja de caráter religioso, reflexivo, decorativo, etc.;
6 – Ossos com pedras e incisões: estes artefatos procedem do Pleistoceno Médio e foram
confeccionados possivelmente pelo Homo Erectus (Ergaster, Neandertalensis, Sapiens) e
se baseavam na utilização de restos ósseos e de rochas;
7 – Além dos ossos com incisões, vários estudos apontam para uma qualificação dos
artefatos em “protoesculturas”, que na maioria dos casos representava uma figura
feminina, talhada por incisões para definição de sua imagem;
8 – Por outro lado, mantém-se a questão estética e a preocupação, pelo homem pré-
histórico (Homo Erectus), com a simetria das obras; isso repercute na tendência
geométrica dos machados bifaces, importantes para o uso cotidiano;
9 – Na etapa seguinte (Pleistoceno Superior) várias indústrias líticas são atribuídas aos
neandertais, graças aos estudos realizados;
10 – Os suportes de pedra com sinais e marcas integram características do período;
11 – Alguns suportes pétreos documentados não deixam dúvida quanto a origem humana,
porém não ilustram o real autor, se neandertais ou sapiens;
12 – Diante do exposto, podemos presumir que os suportes ósseos e pétreos se repetem,
sendo atribuídos aos sapiens e neandertais. A dúvida é se houve uma origem natural ou
intencional, no caso das marcas nos ossos terem sido provocadas por raspagem. Sem
dúvida, estas primeiras manifestações artísticas foram mais abstratas do que figurativas;
13 – O que se sabe é que alguns H. Erectus armazenavam matéria-prima (ossos, pedras
raras, cristais, etc.), indicando um certo grau de curiosidade em colecionar tais materiais
para serem trabalhados mais tarde;
14 – Objetos Perfurados: Tinham a função de adorno corporal, onde o seu portador
demonstrava um certo grau de distinção no seu grupo social (religioso, de chefia, por
exemplo). As análises tecnológicas demonstram que houve uma certa técnica para a
elaboração destes artefatos;
15 – Estes objetos podem ser encontrados em contextos materiais variados (várias
culturas), podendo representar um certo “empréstimo” de técnicas de fabrico dos sapiens
para os neandertais;
16 – Colorantes: O uso de substâncias colorantes nos depósitos pré-históricos permite
inferir que os nossos antepassados tinham um certo discernimento de cores e tons, onde
podiam traçar sinais nas rochas ou em outros locais (no corpo), por exemplo. O ocre já
era conhecido desde o Médio Pleistoceno e era utilizado em larga escala, além do carvão
vegetal;
17 – Uma questão levantada é como investigar a função destes colorantes, se era somente
estética (adorno corporal) ou tinha algum outro uso, além dos já conhecidos, pois o ocre
tinha várias facetas funcionais;
18 – Enterramentos: As questões espirituais se materializam no período no estudo dos
enterramentos antigos, de acordo com a análise sedimentar, que permite investigar a
possível preocupação dos pré-históricos e o seu sentido. O que pode se visualizar é o
surgimento dessa preocupação, em bem enterrar os seus mortos, com os neandertais do
Pleistoceno Superior e os anteriores a eles não desempenhavam tal prática;
19 – A maior parte dos enterramentos neandertais foram escavados e hoje, questiona-se
sua interpretação como tal propósito, pois a deposição do morto poderia ter um simples
caráter higiênico. Sendo que a utilização de oferendas em conjunto com a deposição
poderia ter um simples caráter de enchimento corporal, além do uso do ocre como
desinfetante. Porém, existem exemplos de enterramentos neandertais inquestionáveis no
tocante a ritualidade, necessitando de uma análise mítica mais profunda;
20 – Canibalismo: Uma outra prática ligada ao mundo ideológico-mítico-simbólico é a
antropofagia. Os vestígios desta prática são verificados em algumas porções esqueléticas,
e entre os neandertais, podia ocorrer de várias formas. Atualmente, já é debatido e é
evidente que houve tal fato, mas ele pode ter ocorrido por vários fatores, desde religiosos
até alimentícios, sem falar na possível hipótese de os próprios sapiens serem os canibais
dos neandertais;
21 – Zoolatria: Até bem pouco tempo, existiam dois indícios desta prática pelos
neandertais, sendo o mais conhecido “o culto ao osso”, onde aparentemente, os humanos
construíram valas, com rochas cobrindo os restos esqueléticos de ursos. Entretanto, nesta
análise existem imprecisões, e tudo não passava de um fato natural;
22 – Datações: Dentro da busca pelas datas precisas que permitam descobrir as origens
da arte pré-histórica, as datações numéricas obtidas com as análises das manifestações
artísticas (rupestre e móvel) atestam uma certa antiguidade nelas, além de ilustrar uma
grande difusão dela, no mais tardar do Pleistoceno;
23 – Em relação a arte rupestre, foram realizadas várias datações, correspondentes a
abrigos, utensílios, e pinturas, utilizando técnicas de datação, cronologias e análise de
estratos arqueológicos;
24 – A criação artística é identificada no final do Pleistoceno e não é exclusivamente
européia, estende-se por todo o mundo e mantendo datas alinhadas com a “colonização”
de novos territórios pelo Homo Sapiens, que protagonizou tal desenrolar artístico;
25 – Segundo MITHEN (1998), a psicologia cognitiva é parte fundamental deste processo
expansional artístico, com os seus quatro estados de inteligência: a técnica (fabricação de
utensílios seguindo modelos), a histórica natural (conhecimento de recursos alimentares
e vegetais), social (interação/identificação grupal) e linguística, com a articulação de uma
linguagem. De todas as espécies que passaram pelo planeta, só a sapiens perambulou mais
e pode organizar estes quatro estados de inteligência, para o seu desenvolvimento e
adaptação ao meio;
26 – A comunicação verbal como forma de transmissão cultural e estabelecimento de
identidade grupal atuou como força motriz nas diferentes espécies humanas que existiram
antes do Pleistoceno Superior. Muitos autores consideram que o Homo Sapiens atuou em
nível biológico superior, utilizando-a para coordenar o seu comportamento social;
27 – Seja como for, o Homo Sapiens trouxe uma revolução consigo para a Europa, no
tocante a tecnologia lítica, além de organização da matéria-prima e utensílios, com a
fabricação de outros artefatos a partir de anteriores. Some-se a isso o ampliado campo de
visão, baseado na arte de mobiliar;
28 – Com isso, os adornos pessoais e elementos perfurados surgem, nas primeiras
indústrias do Paleolítico Superior Inicial (na Europa e no Oriente Próximo e na Austrália).
Segundo DAVIDSON (1997), a decoração pessoal é identificada, juntamente com a
expansão territorial, na busca por mais matérias primas “estranhas e exóticas”. Também
ocorre a transposição da imagem para a parede, deixando a mostra um novo mundo;
29 – Finalmente, a explosão criativa da arte é identificada na transição do Paleolítico
Médio para o Superior, com a expansão populacional do gênero sapiens, substituindo o
neandertalensis, por meio de uma arte-simbologia (adornos corporais, objetos mobiliares,
imagens rupestres, enterramentos), integração social e uso de novas tecnologias líticas
que permitiram subjugar os gêneros anteriores e expandir sua presença pelo globo.

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