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1 – O principal propósito de se indagar sobre algo é saber sobre o quê será indagado. Qual
será o objeto de análise. Dentro do conceito de arte pré-histórica, existem uma infinidade
de conceitos que quase nunca ajudam a responder as indagações. A Teoria da Arte é um
caminho para estruturar soluções e definições acerca do tema;
2 – O registro arqueológico das sociedades pré-históricas, enquanto fonte histórica, nos
demonstra uma parcela da cultura material delas; os principais pontos de questionamento
levantados pelos achados são: quais podem ser interpretados como artísticos, quando o
homem teve a intenção de os usar como forma de expressão, e qual a espécie humana
teve a capacidade de comunicar o seu pensamento (plástica e graficamente) e porque o
fez. A partir daí, pode ser considerado arte as peças decorativas, sinais, signos, executados
sobre os mais variados suportes, de modo a passar uma mensagem simbólica;
3 – A produção de arte traz consigo um caráter comunicativo, podendo ilustrar um
processo intelectual completo, sujeito a mecanismos físico-químicos relevantes;
4 – Os primeiros vestígios artísticos dos humanos, segundo alguns autores, é denominado
“paleoarte” ou “pré arte”. Por exemplo, para DAVIDSON (1997), os vestígios artísticos
dos humanos estão ligados a pinturas, gravuras, desenhos e ilustrações, pois são um
conjunto de marcas e imagens representativas de alguma causa histórica;
5 – Aprofundando no conceito da origem da arte, alguns itens do registro arqueológico
permitem deduzir as primeiras manifestações artísticas, transmissões de pensamento, de
capacidade ou simplesmente, comunicação. Estes itens estão relacionados as formas de
construção destas manifestações (marcas, incisões, perfurações) e a intencionalidade
deles, seja de caráter religioso, reflexivo, decorativo, etc.;
6 – Ossos com pedras e incisões: estes artefatos procedem do Pleistoceno Médio e foram
confeccionados possivelmente pelo Homo Erectus (Ergaster, Neandertalensis, Sapiens) e
se baseavam na utilização de restos ósseos e de rochas;
7 – Além dos ossos com incisões, vários estudos apontam para uma qualificação dos
artefatos em “protoesculturas”, que na maioria dos casos representava uma figura
feminina, talhada por incisões para definição de sua imagem;
8 – Por outro lado, mantém-se a questão estética e a preocupação, pelo homem pré-
histórico (Homo Erectus), com a simetria das obras; isso repercute na tendência
geométrica dos machados bifaces, importantes para o uso cotidiano;
9 – Na etapa seguinte (Pleistoceno Superior) várias indústrias líticas são atribuídas aos
neandertais, graças aos estudos realizados;
10 – Os suportes de pedra com sinais e marcas integram características do período;
11 – Alguns suportes pétreos documentados não deixam dúvida quanto a origem humana,
porém não ilustram o real autor, se neandertais ou sapiens;
12 – Diante do exposto, podemos presumir que os suportes ósseos e pétreos se repetem,
sendo atribuídos aos sapiens e neandertais. A dúvida é se houve uma origem natural ou
intencional, no caso das marcas nos ossos terem sido provocadas por raspagem. Sem
dúvida, estas primeiras manifestações artísticas foram mais abstratas do que figurativas;
13 – O que se sabe é que alguns H. Erectus armazenavam matéria-prima (ossos, pedras
raras, cristais, etc.), indicando um certo grau de curiosidade em colecionar tais materiais
para serem trabalhados mais tarde;
14 – Objetos Perfurados: Tinham a função de adorno corporal, onde o seu portador
demonstrava um certo grau de distinção no seu grupo social (religioso, de chefia, por
exemplo). As análises tecnológicas demonstram que houve uma certa técnica para a
elaboração destes artefatos;
15 – Estes objetos podem ser encontrados em contextos materiais variados (várias
culturas), podendo representar um certo “empréstimo” de técnicas de fabrico dos sapiens
para os neandertais;
16 – Colorantes: O uso de substâncias colorantes nos depósitos pré-históricos permite
inferir que os nossos antepassados tinham um certo discernimento de cores e tons, onde
podiam traçar sinais nas rochas ou em outros locais (no corpo), por exemplo. O ocre já
era conhecido desde o Médio Pleistoceno e era utilizado em larga escala, além do carvão
vegetal;
17 – Uma questão levantada é como investigar a função destes colorantes, se era somente
estética (adorno corporal) ou tinha algum outro uso, além dos já conhecidos, pois o ocre
tinha várias facetas funcionais;
18 – Enterramentos: As questões espirituais se materializam no período no estudo dos
enterramentos antigos, de acordo com a análise sedimentar, que permite investigar a
possível preocupação dos pré-históricos e o seu sentido. O que pode se visualizar é o
surgimento dessa preocupação, em bem enterrar os seus mortos, com os neandertais do
Pleistoceno Superior e os anteriores a eles não desempenhavam tal prática;
19 – A maior parte dos enterramentos neandertais foram escavados e hoje, questiona-se
sua interpretação como tal propósito, pois a deposição do morto poderia ter um simples
caráter higiênico. Sendo que a utilização de oferendas em conjunto com a deposição
poderia ter um simples caráter de enchimento corporal, além do uso do ocre como
desinfetante. Porém, existem exemplos de enterramentos neandertais inquestionáveis no
tocante a ritualidade, necessitando de uma análise mítica mais profunda;
20 – Canibalismo: Uma outra prática ligada ao mundo ideológico-mítico-simbólico é a
antropofagia. Os vestígios desta prática são verificados em algumas porções esqueléticas,
e entre os neandertais, podia ocorrer de várias formas. Atualmente, já é debatido e é
evidente que houve tal fato, mas ele pode ter ocorrido por vários fatores, desde religiosos
até alimentícios, sem falar na possível hipótese de os próprios sapiens serem os canibais
dos neandertais;
21 – Zoolatria: Até bem pouco tempo, existiam dois indícios desta prática pelos
neandertais, sendo o mais conhecido “o culto ao osso”, onde aparentemente, os humanos
construíram valas, com rochas cobrindo os restos esqueléticos de ursos. Entretanto, nesta
análise existem imprecisões, e tudo não passava de um fato natural;
22 – Datações: Dentro da busca pelas datas precisas que permitam descobrir as origens
da arte pré-histórica, as datações numéricas obtidas com as análises das manifestações
artísticas (rupestre e móvel) atestam uma certa antiguidade nelas, além de ilustrar uma
grande difusão dela, no mais tardar do Pleistoceno;
23 – Em relação a arte rupestre, foram realizadas várias datações, correspondentes a
abrigos, utensílios, e pinturas, utilizando técnicas de datação, cronologias e análise de
estratos arqueológicos;
24 – A criação artística é identificada no final do Pleistoceno e não é exclusivamente
européia, estende-se por todo o mundo e mantendo datas alinhadas com a “colonização”
de novos territórios pelo Homo Sapiens, que protagonizou tal desenrolar artístico;
25 – Segundo MITHEN (1998), a psicologia cognitiva é parte fundamental deste processo
expansional artístico, com os seus quatro estados de inteligência: a técnica (fabricação de
utensílios seguindo modelos), a histórica natural (conhecimento de recursos alimentares
e vegetais), social (interação/identificação grupal) e linguística, com a articulação de uma
linguagem. De todas as espécies que passaram pelo planeta, só a sapiens perambulou mais
e pode organizar estes quatro estados de inteligência, para o seu desenvolvimento e
adaptação ao meio;
26 – A comunicação verbal como forma de transmissão cultural e estabelecimento de
identidade grupal atuou como força motriz nas diferentes espécies humanas que existiram
antes do Pleistoceno Superior. Muitos autores consideram que o Homo Sapiens atuou em
nível biológico superior, utilizando-a para coordenar o seu comportamento social;
27 – Seja como for, o Homo Sapiens trouxe uma revolução consigo para a Europa, no
tocante a tecnologia lítica, além de organização da matéria-prima e utensílios, com a
fabricação de outros artefatos a partir de anteriores. Some-se a isso o ampliado campo de
visão, baseado na arte de mobiliar;
28 – Com isso, os adornos pessoais e elementos perfurados surgem, nas primeiras
indústrias do Paleolítico Superior Inicial (na Europa e no Oriente Próximo e na Austrália).
Segundo DAVIDSON (1997), a decoração pessoal é identificada, juntamente com a
expansão territorial, na busca por mais matérias primas “estranhas e exóticas”. Também
ocorre a transposição da imagem para a parede, deixando a mostra um novo mundo;
29 – Finalmente, a explosão criativa da arte é identificada na transição do Paleolítico
Médio para o Superior, com a expansão populacional do gênero sapiens, substituindo o
neandertalensis, por meio de uma arte-simbologia (adornos corporais, objetos mobiliares,
imagens rupestres, enterramentos), integração social e uso de novas tecnologias líticas
que permitiram subjugar os gêneros anteriores e expandir sua presença pelo globo.