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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL
DISCIPLINA: TEORIA ANTROPOLÓGICA I
DOCENTE: JOANA APARECIDA FERNANDES
DISCENTE: DEYLANE BARROS

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA


O presente trabalho surge a princípio com base nas orientações teóricas nos estudos
sobre Teoria Antropológica I. Ao estudarmos Antropologia, com o objetivo de desenvolvermos
uma reflexão crítica sobre o seu desenvolvimento, mais especificamente sobre o
desenvolvimento da antropologia norte- americana, britânica e francesa, podemos observar e
compreender que a antropologia passou por um processo de aprimoramento, e desenvolvimento
da teoria antropológica não só como ciência, mas dela mesma como disciplina ao longo do
tempo, e foi nesse ambiente que me familiarizei com os pensamentos e teorias de autores(a)s
como: Ruth Benedict (1887-1948), Bronisław Malinowski(1884-1942), Victor Turner(1920-
1983), Franz Boas (1858-1942) entre outros.

Meu tema proposto para pesquisa dentro do mestrado é estudar a construção da


corporeidade ou corporalidades (termos que ainda não estão tão exclarecidos para mim) dentro
do ritual de iniciação Ruurut do povo Gavião Pýhcop catiji da região do sul do Maranhão, e
como estes rituais se dão em outras comunidades. Dentre os trabalhos etnográficos de autores
que escreveram sobre rituais e que busquei estudar para poder desenvolver melhor meu tema
de pesquisa, o que é para mim ainda um desafio, escolher uma teoria, identificar através de
leituras mais aprofundadas no meio de extensa quantidade de leituras, quais autores podem me
direcionar, achar a chave teórica para sustentar minha pesquisa, essa busca apenas se inicia.
Entretanto, podemos citar Victor Turner (1920-1983) em: “O processo ritual” e “Floresta de
Símbolos”, textos estes nos quais ele faz uma análise sobre rituais. Turner tem duas tendências
interpretativas sobre os rituais, a primeira, discute os ritos de passagem como uma resposta
adaptativa obrigatória, quando os indivíduos são obrigados a mudar de posição dentro de um
sistema, onde os ritos seriam elaborações sociais secundárias, com a função de aparar os
conflitos gerados pela transição da adolescência à maturidade, uma passagem difícil,
problemática e conflituosa segundo ele. Nessa perspectiva, o foco é sempre nos jovens e naquilo
que é percebido como uma arriscada e conflituosa transição dentro da sociedade.
Turner também acredita que os rituais servem para preencher necessidades não
preenchidas no cotidiano, através do equilíbrio entre estrutura e comunidade e concebe os
eventos conflitivos enquanto “drama social”, onde os rituais servem basicamente para resolver
conflitos, diminuir rivalidades. Essa investigação de Turner foi centrada nos rituais Ndembu,
onde ele analisou os rituais de iniciação. Os "dramas sociais", segundo esclarecimentos de
Turner são entendidos como uma unidade constitutiva do processo social, e se caracterizam
por quatro fases: 1) separação ou ruptura; 2) crise e intensificação da crise; 3) ação remediadora;
e 4) reintegração, (desfecho final, que pode ser trágico levar à cisão social ou fortalecer a
estrutura). Acredito que para nós grupos indígenas essa teoria de “drama social” não se aplicaria
completamente, pois diferentemente das tribos africanas onde há fortes conflitos por poder e
hierarquia de líderes, em nossas sociedades indígenas atuais isso não seria tão forte, entretanto
as cisões de comunidades seria um resultado disso. O período de reclusão, de isolamento em
que o jovem deve ficar meio que invisível do restante da comunidade, Turner explica nessa
parte de seu texto um pouco de sua teoria:

De um modo geral, os ritos de iniciação, seja no sentido da maturidade social, seja no


da afiliação religiosa, constituem os melhores exemplos de transição, pois têm fases
marginais ou liminares bem marcadas e prolongadas. Vou-me dedicar brevemente
aos ritos de separação e agregação, pois estes se encontram mais diretamente implicados
na estrutura social do que os ritos de liminaridade. A liminaridade, durante a iniciação,
é, pois, o dado primário deste estudo, embora os outros aspectos do ritual de passagem
venham a merecer atenção sempre que o argumento o exija. Devo afirmar aqui, entre
parênteses, que considero o termo "ritual" mais apropriado às formas do comportamento
religioso associadas com transições sociais, enquanto o termo "cerimônia" tem mais a
ver com o comportamento religioso associado aos estados sociais, em que as instituições
jurídico-políticas têm, igualmente, maior valor. O ritual é transformador; a cerimônia,
confirmatória. (TURNER,p.139)

A construção da pessoa é um tema interessante e que será melhor aprofundado por mim
através de uma perspectiva indígena e com as bases nos estudos de Turner. Para os povos
indígenas a relação do homem com a natureza não tem uma oposição e sim uma relação, os
nossos rituais de iniciação de jovens mostram bem isso, através das ornamentações, através do
cuidado diário do jovem em reclusão após o banho se pintar com o urucum fortalecendo o
corpo, os banhos de ervas medicinais, a ingestão da carne de animais específicos, através da
visitação rotineira dos anciãos que entoam as cantigas falando das características dos animais,
tudo isso no período de reclusão. A produção do corpo no ritual Ruurut muda o estado deste
corpo pois não é mais o mesmo que antes após esse processo de aprendizado, de obediência aos
resguardos e reclusão, saindo desse estado de criança e se tornando para sempre adulto. O que
o pesquisador não indígena faz é uma interpretação da cultura indígena, e o indígena tem uma
outra interpretação de sua cultura, então será esse meu exercício etnográfico durante a pesquisa:
pesquisar nossas epistemologias utilizando a antropologia para pensar sobre o ritual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOAS, Franz. Antropologia cultural. Trad. Celso de Castro. – 6ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2010

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífi co Ocidental. São Paulo: Editora Abril,


1984.

MAUSS, M. 1974 [1923-24]. Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades
arcaicas. In : Sociologia e Antropologia. v. II. São Paulo : Edusp.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989

TURNER, Victor (2008 [1967]). Alguns tipos de ritual (pag. 35a 46) e Betxwixt and between:
o período liminar nos “ritos de passagem”. In: Floresta de símbolos: aspectos do ritual ndembu.
Rio de Janeiro: EdUFF.

TYLOR, Edward B. A ciência da cultura. In: Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor
e Frazer. Trad. Maria Lúcia de Oliveira. – 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009. P. 67-
99

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