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Surgiram assim as comissões econômicas regionais das Nações Unidas, das quais a mais
atuante foi a da América Latina. A Cepal estabeleceu um esquema explicativo para o
subdesenvolvimento que, fiel ao padrão proporcionado pela ONU, o considerava como uma
etapa prévia ao desenvolvimento econômico pleno e (no que ia além do que pretendia a
ONU) um resultado das transferências de valor realizadas no plano das relações econômicas
internacionais.
Reinando absoluta nos anos 50, a teoria desenvolvimentista da Cepal foi posta em xeque
quando, a princípios dos 60 e após um grande esforço de industrialização, os países latino-
americanos mergulharam em uma grave crise econômica, que não tardou em dar lugar a
perturbações políticas. Foi nesse contexto que surgiram as ditaduras militares, que se davam
como objetivo resolver os problemas econômicos à custa das liberdades políticas. E foi
também quando, insistindo sobretudo nos problemas financeiros e tecnológicos criados pela
desnacionalização de nossas economias, se constituiu a teoria da dependência.
Há, por trás disso, realidades objetivas. Os bens de menor valor agregado, consistentes em
produtos agrícolas ou minerais, que foram tradicionalmente os pontos fortes da América
Latina, representam hoje cerca de um quarto do valor das transações comerciais
internacionais. As técnicas de produção manufatureira que imperavam no mundo até a
década de 1970 e às quais começávamos a aceder se modificaram drasticamente.
Nossa dependência nos tem, porém, obrigado a seguir caminho inverso. Em dez anos, entre
1982 e 1991, por força da nossa dívida externa, realizamos uma transferência líquida de
recursos ao exterior da ordem de 275 bilhões de dólares. Nossas exportações aumentaram
em um terço, nesse período, mas —seja porque nossos produtos se vendem mal, seja
porque as divisas angariadas foram usadas para transferir recursos ao exterior— nossa
capacidade para importar, em termos per cápita, se reduziu em 40%.
É necessário um grande esforço para reverter essa situação. Ele passa pela reunião de
forças, a fim de se ter o peso suficiente para influir nas decisões internacionais. A integração
regional, como base para o relacionamento com os blocos econômicos em formação e com
os organismos internacionais, é por isso fundamental. No contexto da economia mundial
contemporânea, os projetos estritamente nacionais parecem já não ter cabida, sendo mister
buscar a constituição de entidades mais poderosas.
Mas não se pode fazer isso ingenuamente. A verdadeira integração econômica só será
possível com a delegação de atribuiçõs estatais a órgãos supra-nacionais, em maior ou
menor grau, desde a política tarifária, monetária e fiscal, até as que se referem às questões
laborais, educacionais e culturais.