Você está na página 1de 30

LARYSSA NEVES

INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA – LEI 9.296/96


• “É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal (artigo 5º, XII,
CF/88).”

A norma sobre a qual o texto constitucional faz referência é a Lei


9.296/96, editada com o fim de regulamentar o instituto da interceptação
de comunicações telefônicas.
• Objeto da lei

A lei tratou da competência para a decretação da interceptação telefônica,


das hipóteses de incidência e de não incidência, dos requisitos autorizadores
para a decretação da interceptação, do tempo de sua duração, do
procedimento a ser seguido, do destino objeto dessa prova, e por fim, puniu
a conduta de realizar interceptação telefônica fora dos moldes previstos na
lei.
• Conceito

Entende-se por interceptação telefônica o ato de interromper, realizar


uma interferência no fluxo de comunicação telefônica entre duas
pessoas diferentes do interceptor, sem o conhecimento dos
interlocutores. O interceptor capta o fluxo da comunicação entre duas
pessoas estranhas a ele.
Interceptação Quebra de sigilo de
Escuta Telefônica Gravação Telefônica
Telefônica dados telefônicos
É o ato pelo qual
Interferência no fluxo Captação de conversa ocorre a captação de Acesso à relação de
de comunicação de duas pessoas, conversa telefônica números de
telefônica entre duas realizada por um levada a efeito por telefones que foram
pessoas diferentes do terceiro, porém com um dos objetos de ligações,
interceptador, sem o conhecimento de comunicadores, sem oriundas e recebidas
que os interlocutores um dos que o outro por determinada
saibam. interlocutores. comunicador tenha linha telefônica.
ciência.
Necessita de
autorização judicial
Lei 9.296/96 (STF)
NÃO necessita de Necessita de
NECESSITA de NÃO necessita de
autorização judicial autorização judicial
autorização judicial autorização judicial
(STJ)
• Necessidade de autorização judicial
Apenas o juiz competente (teoria do juízo aparente) poderá autorizar motivadamente a
utilização da interceptação telefônica como meio de prova.
A ausência de autorização judicial para a captação de conversas enseja a declaração de
nulidade da prova obtida, pois constitui vício insanável.
Essa condicionante também alcança as mensagens armazenadas em aparelhos celulares,
ainda que seja dispensável ordem judicial para a apreensão do aparelho.

• STJ: “Não é válida a interceptação telefônica realizada sem prévia autorização judicial,
ainda que haja posterior consentimento de um dos interlocutores para ser tratada
como escuta telefônica e utilizada como prova em processo penal.” (STJ, HC
161.053/SP).
• Whatssap

“Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por
meio da extração de dados e de conversas registradas no Whatsapp
presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho
tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante.
Assim, é ilícita a devassa de dados, bem como das conversas de Whatsapp,
obtidos diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante, sem
prévia autorização judicial.”
(STJ 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016
(Info 583).
• Modificação superveniente de competência

Casa haja posteriormente a modificação da competência para processar e


julgar o delito, a interceptação telefônica já realizada não se torna prova
ilícita.

STJ: “ ... as interceptações telefônicas eventualmente determinadas por


autoridade absolutamente incompetente permanecem válidas e podem ser
plenamente ratificadas.” (Apn 539/BA)
• Encontro fortuito de provas ou serendipidade

Ocorre quando a prova de uma infração penal é descoberta a partir da


investigação de outra infração penal.
Serendipidade de 1º grau: consiste na descoberta de provas de
outra infração penal que tenha conexão ou continência com a infração
penal investigada
Serendipidade de 2º grau: dá-se quando não há essa relação de
conexão ou continência entre a infração investigada e a infração
encontrada
Serendipidade objetiva: surgimento de novos crimes
Serendipidade subjetiva: surgimento de outras pessoas que não
estavam sendo inicialmente investigadas
• Artigo 2°: Não será admitida a interceptação de comunicações
telefônicas quando ocorrer qualquer das seguintes hipóteses:
I - não houver indícios razoáveis da autoria ou participação em
infração penal;
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
III - o fato investigado constituir infração penal punida, no máximo,
com pena de detenção.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese deve ser descrita com
clareza a situação objeto da investigação, inclusive com a indicação
e qualificação dos investigados, salvo impossibilidade manifesta,
devidamente justificada.
• Hipóteses de não cabimento da interceptação telefônica

I – Ausência de indícios razoáveis da autoria e participação em infração


penal
A medida de interceptação telefônica depende de indícios pré-existentes de
autoria ou participação do agente no delito a ser investigado.
Interceptação telefônica de prospecção: é aquela desconectada de uma
infração penal específica, sobre a qual ainda não recaem indícios razoáveis de
autoria.
Neste contexto, só é admissível interceptação telefônica pós crime, sobre
fatos já investigados, sendo vedado, todavia, a interceptação para descobrir
se o investigado está ou não delinquindo.
II – Subsidiariedade da medida

Tendo em vista que a medida de interceptação telefônica viola o direito


fundamental à intimidade e ao sigilo das comunicações telegráficas de
dados e das comunicações telefônicas, o legislador conferiu à essa
medida caráter subsidiário, de forma que ela tem que ser o único meio
de prova disponível para a investigação de determinado delito.
III – Infração punida com pena de detenção

A contraio sensu, a interceptação telefônica somente é cabível nas


infrações penais punidas com reclusão.
Também não é possível sua decretação para as contravenções penais,
que são punidas com prisão simples e multa.

Conexão com infração penal punida com detenção: caso o delito


apenado com detenção seja praticado em conexão com outro delito
apenado com reclusão, é cabível a interceptação telefônica para sua
investigação.
• Artigo 3°: A interceptação das comunicações telefônicas poderá ser
determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento:
I - da autoridade policial, na investigação criminal;
II - do representante do Ministério Público, na investigação criminal e
na instrução processual penal.
• Determinação de ofício pelo juiz
Sem provocação do Delegado de Polícia ou do Ministério Publico
Violação do sistema acusatório?
*Posição do CESPE

• Representação do Delegado de Polícia


É quem preside o Inquérito Policial, e tem condições de avaliar os meios
de obtenção de provas para a investigação. Representa diretamente para o
Juiz. Somente durante o Inquérito Policial.

• Requerimento do Ministério Público


Como titular da ação penal, o MP tem legitimidade para requerer tanto na
fase da investigação criminal, quanto na fase da instrução processual.
• Artigo 4°: O pedido de interceptação de comunicação telefônica
conterá a demonstração de que a sua realização é necessária à
apuração de infração penal, com indicação dos meios a serem
empregados.
§ 1° Excepcionalmente, o juiz poderá admitir que o pedido seja
formulado verbalmente, desde que estejam presentes os pressupostos
que autorizem a interceptação, caso em que a concessão será
condicionada à sua redução a termo.
§ 2° O juiz, no prazo máximo de vinte e quatro horas, decidirá sobre o
pedido.
• Requisitos do requerimento
Obrigatoriedade de demonstrar a necessidade da medida para a
apuração da infração penal, bem como dos meios a serem
empregados.

• §1º Requerimento verbal


O legislador autorizou o requerimento verbal. Porém, a sua concessão
será condicionada à sua redução a termo.

• §2º Prazo para o juiz decidir


O juiz tem o prazo de 24 horas para decidir sobre a sua concessão ou
não.
• Artigo 5°: A decisão será fundamentada, sob pena de nulidade,
indicando também a forma de execução da diligência, que não poderá
exceder o prazo de quinze dias, renovável por igual tempo uma vez
comprovada a indispensabilidade do meio de prova.
• Necessidade de decisão fundamentada
Princípio constitucional da motivação das decisões judiciais (art. 93, IX
da CF/88)
• Termo inicial da interceptação telefônica
É o dia em que a interceptação é efetivada, e não o dia da autorização
judicial, devendo os 15 dias serem contados a partir do efetivo início da
interceptação
• Prazo máximo
Prazo máximo de 15 dias
• Renovação da interceptação telefônica
Vencidos os 15 dias de duração máxima da interceptação telefônica,
deverá ser realizado um novo pedido de interceptação, mediante
demonstração de indispensabilidade da medida

• Renovações sucessivas
São possíveis as renovações sucessivas da interceptação telefônica sem
que haja limite de vezes, desde que sejam indispensáveis para a
colheita de prova
• Artigo 6°: Deferido o pedido, a autoridade policial conduzirá os
procedimentos de interceptação, dando ciência ao Ministério Público,
que poderá acompanhar a sua realização.
§ 1° No caso de a diligência possibilitar a gravação da comunicação
interceptada, será determinada a sua transcrição.
§ 2° Cumprida a diligência, a autoridade policial encaminhará o resultado
da interceptação ao juiz, acompanhado de auto circunstanciado, que
deverá conter o resumo das operações realizadas.
• O STJ já se pronunciou a respeito da necessidade da transcrição
integral da conversa interceptada (degravação). Para a corte, não é
razoável exigir a degravação integral das escutas telefônicas, “haja
vista o prazo de duração da interceptação e o tempo razoável para
dar-se início à instrução criminal, porquanto há diversos casos em
que, ante a complexidade dos fatos investigados, existem mais de mil
horas de gravações (HC 278.794)”.

• É necessário que sejam transcritos os trechos que serviram de base


para o oferecimento da denúncia e que se permita às partes o acesso
aos diálogos captados.
• Artigo 10: Constitui crime realizar interceptação de comunicações
telefônicas, de informática ou telemática, ou quebrar segredo da
Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em
lei.
Pena: reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

O delito consiste na realização de interceptação telefônica fora dos


moldes preconizados pela lei, violando a intimidade do indivíduo, bem
como do sigilo das comunicações telefônicas.
RESUMO INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

1) Dependerá de ordem do Juiz da ação principal, sob segredo de justiça;

2) Não cabe:
a) se não houver indícios razoáveis de autoria ou participação em infração penal;
b) a prova puder ser feita por outro meios;
c) o fato constituir no máximo pena de detenção.

3) Pode ser decretada de ofício pelo Juiz (no processo*), a requerimento do MP (no I.P e/ou Processo) e

do Delegado de Polícia (no I.P.);

4) Excepcionalmente o juiz pode admitir pedido verbal, mas sua concessão estará condicionada à redução

a termo;

5) Juiz terá o prazo máximo de 24 horas para decidir sob o deferimento ou não da interceptação;
6) Não poderá exceder o prazo de 15 dias, renovável por igual período, comprovada indispensabilidade da
prova (poderá ser renovada várias vezes, mas sempre de 15 em 15 dias. Esse prazo de 15 dias começa a
contar a partir do momento da primeira escuta e não da autorização judicial);

7) Autos apartados, para sigilo;

8) Gravação que não interessar para o processo, poderá ser inutilizada por decisão do Juiz, em qualquer
fase, inclusive após a sentença, diante do requerimento do MP ou da parte interessada;

9) É crime realizar interceptação sem autorização judicial, ou com objetivos não autorizados em lei, ou
quebrar segredo de justiça (Reclusão de 2 a 4 anos e multa).
QUESTÕES DE PROVAS

Ano: 2018 Banca: CESPE Órgão: Polícia Federal Prova: CESPE - 2018 - Polícia
Federal - Delegado de Polícia Federal

A interceptação da comunicação telefônica poderá ser realizada de


ofício pela autoridade policial desde que o IP tenha como objetivo
investigar crime hediondo, organização criminosa ou tráfico ilícito de
entorpecentes.
Ano: 2016 Banca: MPE-SC Órgão: MPE-SC Prova: MPE-SC - 2016 - MPE-SC -
Promotor de Justiça - Matutina

A Lei n. 9.296/96 (Interceptação Telefônica), que expressamente


regulamenta o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal,
prevê pena de reclusão e multa, na realização de interceptação telefônica
de comunicação, de informática ou telemática, ou quebrar segredo de
Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Ano: 2018 Banca: MPE-BA Órgão: MPE-BA Prova: MPE-BA - 2018 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto

( ) Não há distinção entre a interceptação das comunicações telefônicas e a quebra de sigilo de dados
telefônicos, uma vez que a última (quebra de sigilo de dados telefônicos) diz respeito a algo que está
acontecendo.

( ) A quebra do sigilo dos dados telefônicos, contendo os dias, os horários, a duração e os números das linhas
chamadas e recebidas se submete à Lei nº 9.296/1996, referente às interceptações telefônicas.

( ) Ainda que se trate de e-mail corporativo, compreendido como forma de comunicação eletrônica disponibilizada ao
empregado para fins estritamente profissionais, o empregador não pode monitorar e rastrear a atividade do empregado no
âmbito de trabalho, sendo, por esse motivo, considerada ilícita a prova obtida.
( ) A escuta telefônica consiste na captação da comunicação telefônica por terceiro com o conhecimento de um dos
comunicadores e desconhecimento do outro. Já a escuta ambiental caracteriza-se pela captação de uma comunicação no
ambiente dela, feita por terceiro, com o consentimento de um dos comunicadores.

Você também pode gostar