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ano 2017 - vo lu me 16 - n úm e r o 1 ISSN 16778510

Revista Brasileira de

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

SUPLEMENTOS 18 anos
• Suplementação de fosfato de
sódio em ciclistas de elite

FISIOLOGIA
• Alterações posturais por região
corporal em jovens atletas de
alto rendimento
• Alteração do VO2 máximo e da
porcentagem de gordura de
atletas de futebol
• Mecanismos moleculares
associados à hipertrofia e
hipotrofia muscular
• Força e resistência muscular
de membro dominante
e não dominante
• Alterações morfofuncionais
decorrentes de treinamento
de força
• Treinamento resistido aplicado
ao processo de emagrecimento

TERCEIRA IDADE
• Plataforma vibratória na
melhora do equilíbrio e
prevenção de quedas
• Hidroginástica/hidroterapia no
equilíbrio postural em idosos
• Como treinar força com
segurança na terceira idade

www.atlanticaeditora.com.br
Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Índice
ano 2017 - volume 16 número 2

EDITORIAL
Envelhecimento ativo e prevenção de quedas, Angelica Castilho Alonso ....................................... 3
ARTIGOS ORIGINAIS
Força e resistência muscular de membro superior dominante e não dominante no exercício
de flexão unilateral de antebraço: comparação entre os sexos, Rodrigo Alves Coelho,
Hugo Ribeiro Zanetti, Lucas Gonçalves da Cruz, Marco Aurélio Ferreira de Jesus,
Eduardo Gaspareto Haddad.............................................................................................................. 5
Alterações morfofuncionais decorrentes de dois métodos de treinamento de força,
Allan Lucas Jacques, Marcelle Modolin Vidigal, Rodrigo Pereira, Cláudio Scorcine,
Fabrício Madureira, Dilmar Pinto Guedes Junior............................................................................ 11
Alteração do VO2 máximo e da porcentagem de gordura de atletas de futebol profissional,
Eduardo Hippolyto Latsch Cherem, Fernando Petrocelli de Azeredo,
Leonardo Chrysostomo dos Santos.................................................................................................. 16
RELATOS DE CASO
Monitoramento das alterações posturais por região corporal ocorridas em jovens
atletas de alto rendimento no período de três anos de treinamento, Josenei Braga dos Santos,
Evelise de Toledo, Maurício Dubard, Luiz Fernando Silva, Messias dos Santos,
Pedro Ferreira Reis, Antônio Renato Pereira Moro, Antônio Carlos Gomes .................................... 24
A influência da plataforma vibratória na melhora do equilíbrio e prevenção de quedas
de uma mulher pós-menopáusica com osteopenia, Alexandre de Souza e Silva,
Ferdinando Tadeu Gomes Moreira, Anna Gabriela Silva Vilela Ribeiro, Fábio Vieira Lacerda,
Ronaldo Júlio Baganha, Luís Henrique Sales Oliveira...................................................................... 33
REVISÕES
Efeitos da suplementação de fosfato de sódio em ciclistas de elite,
Deise Jaqueline Alves Faleiro, Rodrigo Rodrigues............................................................................ 40
Treinamento resistido aplicado ao processo de emagrecimento, Bruno Macedo de Andrade, Caro-
lina Francci de Alencar, Paulo Costa Amaral, Henrique Stelzer Nogueira,
Leonardo Emmanuel Medeiros Lima............................................................................................... 46
A influência da hidroginástica/hidroterapia no equilíbrio postural em idosos,
Daniella Oliveira Sousa, Ana Lúcia Rodrigues de Souza, Alexandra Carolina Canonica,
Angelica Castilho Alonso................................................................................................................. 55
Mecanismos moleculares associados à hipertrofia e hipotrofia muscular:
relação com a prática do exercício físico, Waldecir Paula Lima..................................................... 64
Como treinar força com segurança na terceira idade,
Marcus Vinicius Grecco, Rodrigo Juliano Dini................................................................................ 81
NORMAS DE PUBLICAÇÃO............................................................................................ 90
EVENTOS.............................................................................................................................. 92
Re v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

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Pedro Paulo da Silva Soares

Editor Associado
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Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP)
Emerson Silami Garcia (MG) Steven Fleck (EUA)
Francisco Martins (PB) Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Navarro (SP) Valquíria Aparecida de Lima (FMU)
Luiz Carnevali (SP) Vilmar Baldissera (SP)
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Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum,
Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 3

Editorial

Envelhecimento ativo e prevenção


de quedas
Angelica Castilho Alonso*

Uma das maiores conquistas culturais de corpo. Vários ensaios clínicos têm demonstrado
um povo em seu processo de humanização é o redução significativa nas quedas em idosos que se
envelhecimento de sua população, refletido em exercitam regularmente [1,5-12].
uma melhoria das condições de vida. Estima-se O modo de exercício deve ser aceitável para a
que em 2025 o Brasil será o sexto país do mundo população-alvo, ou seja, os participantes devem
em número de idosos, com aproximadamente encontrar uma atividade agradável e também
32 milhões de indivíduos acima de 60 anos [1]. serem capazes de participar regularmente dos
Uma importante questão em saúde pública é programas de exercício [5].
o aumento da frequência de quedas com o avanço Especificamente a dança tem sido uma ati-
da idade. Embora elas não sejam consequências vidade bastante procurada pelos idosos. Dentre
inevitáveis do envelhecimento, quando ocorrem seus benefícios podemos citar aumento do con-
sinalizam o início de fragilidade ou anunciam uma dicionamento físico, do ritmo, da flexibilidade,
doença aguda, causam graves complicações para a da força e da leveza, além de ser extremamente
saúde, altos custos assistenciais, além de causarem prazerosa e bem aceita por este público [1,5-12].
incapacidades e até mesmo a morte [2]. Outra modalidade é a água como boa opção
A meta da Organização Mundial da Saúde para a prática de exercício físico e é certamente
(OMS) preconiza a participação da saúde e se- um meio diferenciado e bastante apropriado para
gurança como fatores que devem ser observados pessoas idosas, permitindo o atendimento em
para que os idosos participem da sociedade, de grupos, a socialização e melhora significante da
acordo com suas necessidades, desejos e capacida- funcionalidade [13-14].
des. Portanto estas mudanças remetem a debates Portanto o grande desafio para clínicos e aca-
e reflexões tanto na população em geral quanto dêmicos é desenvolver estratégias que reduzam o
no meio acadêmico, principalmente quanto à risco de quedas no envelhecimento, melhorando o
forma de proporcionar qualidade de vida a essa equilíbrio e aumentando o leque de possibilidades
população [3]. para que se tenha um envelhecimento ativo.
A produção científica na área de gerontologia
tem crescido consideravelmente e deixa clara a Referências
importância de envolver os idosos em programas
de exercícios e/ou atividades físicas regulares 1. Serra MM, Alonso AC, Peterson M, Mo-
para a prevenção de várias doenças, bem como chizuki L, Greve JMD’Andra, Garcez-Leme
LE. Balance and muscle strength in elderly
para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida
women who dance samba. PLoS ONE
[4]. Existe uma variedade de possibilidades de 2016;11(12): e0166105. doi:10.1371/journal.
atividades voltadas para o envelhecimento da po- pone.0166105.
pulação que podem melhorar claramente a força, 2. Alonso AC, Luna NM, Dionısio FN, Speciali
resistência, equilíbrio postural e biomecânica do DS, Garcez-Leme LE, Greve JMD. Functional

*Pós-doutora em Ciência da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP),
Professora do programa de pós-graduação em Ciências do Envelhecimento da Universidade São Judas Tadeu, SP
Correspondência: angelicacastilho@msn.com
4 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

balance assessment: review. Medicalexpress formance in recently aged adults after 6 weeks
2014;1(6):298-301. traditional Thai dance: a randomized controlled
3. Queiroz ZPV, Ruiz, CR, Ferreira, VM. Refle- trial. Clin Interv Aging 2013;8:855-9.
xões sobre o envelhecimento humano e o futu- 10. Kattenstroth JA, Kalisch T, Kolankowska
ro: questões de ética, comunicação e educação. I, Dinse HR. Superior sensory, motor, and
Revista Kairós 2009;12(1):21-37. cognitive performance in elderly individuals
4. Witter C, Buriti MA, Silva GB, Nogueira, RS, with multi-year dancing activities. Front
Gama, EF. Envelhecimento e dança: análise da Aging Neurosci  2010;2:31. doi: 10.3389/
produção científica na Biblioteca Virtual de fnagi.2010.00031
Saúde. Rev Bras Ger Gerontol 2013;16(1):191- 11. Kattenstroth JA, Kalisch T, Kolankowska I,
9. Dinse HR. Balance, sensorimotor, and cog-
5. Eyigor S, Karapolat H, Durmaz B, Ibisoglu nitive performance in long-year expert senior
U, Cakir S. A randomized controlled trial of ballroom dancers. J Aging Res 2011:1-10. doi:
Turkish folklore dance on the physical per- 10.4061/2011/176709.
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2009;48:84-8. intervention enhances postural, sensorimotor,
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Coubard OA. Practice of contemporary dance affecting cardio-respiratory functions. Front
promotes stochastic postural control in aging. Aging Neurosci 2013;5(5):1-16.
Front Hum Neurosci 2011;5(169):1-12. 13. Cunha MCB, Alonso AC, Silva TM, Raphael
7. Granacher U, Muehlbauer T, Bridenbaugh SA, ACB, Mota CF. Ai Chi: efeitos do relaxa-
Wolf M, Roth R, Gschwind Y et al. Effects of mento aquático no desempenho funcional
a salsa dance training on balance and strength e qualidade de vida em idosos. Fisioter Mov
performance in older adults. Gerontology 2010;23(3):409-17.
2012;58(4):305-12. 14. Avelar NCP, Bastone AC, Alcântara MA,
8. Hui E, Chui BT, Woo J. Effects of dance on Gomes WF. Effectiveness of aquatic and non-
physical and psychological well-being in older -aquatic lower limb muscles endurance training
persons. Arch Gerontol Geriatr 2009;49:45-50. in the static and dynamic balance of elderly
9. Janyacharoen T, Laophosri M, Kanpittaya J, people. Rev Bras Fisioter 2010;14(3):229-36.
Auvichayapat P, Sawanyawisuth K. Physical per-
ARTIGO ORIGINAL

Força e resistência muscular de membro


superior dominante e não dominante no
exercício de flexão unilateral de antebraço:
comparação entre os sexos
Muscular strength and endurance of dominant and not
dominant upper limb in the exercise of forearm unilateral
flexion: comparison between sexes

Rodrigo Alves Coelho*, Hugo Ribeiro Zanetti**, Lucas Gonçalves da Cruz**, Marco Aurélio Ferreira
de Jesus***, Eduardo Gaspareto Haddad****

*Especialista em Fisiologia do Exercício - Instituto Passo 1 – Uberlândia/MG, **Discente do Programa


de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba/
MG, ***Graduado em Educação Física, Universidade Federal do Triângulo Mineiro Uberaba/MG,
****Especialista em Gerontologia, Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos, Araguari/MG

Resumo MSND no mesmo gênero. Entretanto houve diferença


Objetivo: Comparar a força e o desempenho motor quando se comparou as cargas máximas tanto em MSD
unilateral de membro superior dominante (MSD) (22,6 ± 3,9 vs. 8,72 ± 1,5) quanto MSND (22,9 ± 3,9
e membro superior não dominante (MSND) entre vs. 8,6 ± 1,6) entre homens e mulheres. Em relação
homens e mulheres no exercício de flexão de cotovelo ao número máximo de repetições a 50% de 1RM,
a 50% de 1 repetição máxima (1RM). Métodos: A observou-se que o gênero feminino realizou mais
amostra foi composta por 26 indivíduos de ambos os repetições tanto em MSD (27,38 ± 9,06 vs. 18,15 ±
sexos, com experiência prévia em exercício resistido. 2,30) quanto MSND (27,15 ± 6,81 vs. 17,84 ± 2,07)
Todos os participantes foram submetidos a três testes: quando comparado ao gênero masculino. Conclusão:
um teste de 1RM a fim de determinar a carga dos testes, O gênero masculino apresenta maior capacidade de
e dois testes com carga de 50% de 1RM, no qual foi geração de força, entretanto o gênero feminino é mais
registrado o maior número de repetições possíveis em resistente à fadiga com carga a 50% 1RM.
MSD e MSND. Resultados: Não foram encontradas Palavras-chave: resistência muscular localizada, força
diferenças significativas na carga absoluta em MSD e muscular, exercício unilateral.

Artigo recebido em 12 de dezembro de 2015; aceito em 27 de dezembro de 2015.


Endereço para correspondência: Hugo Ribeiro Zanetti, Avenida Tutunas, 490, Uberaba MG, E-mail: hugo.
zanetti@hotmail.com; Rodrigo Alves Coelho: rcpersonaltrainner@yahoo.com.br; Lucas Gonçalves da Cruz:
lucas_gcruz@hotmail.com; Marco Aurélio Ferreira de Jesus: marcoferreiraleite@hotmail.com; Eduardo
Gaspareto Haddad: haddadtreinamento@gmail.com
6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Abstract NDUL in the same genre. However there was diffe-


Aim: To compare the strength and unilateral motor rence when comparing these maximum loads in both
performance in the dominant upper limb (DUL) and DUL (22.6 ± 3.9 vs. 8.72 ± 1.5) as NDUL (22.9 ± 3.9
non-dominant upper limb (NDUL) between men vs. 8.6 ± 1.6) between men and women. Regarding the
and women in the exercise of elbow flexion at 50% of maximum number of repetitions at 50% 1RM, it was
1 repetition maximum (1RM). Methods: The sample observed that females performed more repetitions in
consisted of 26 subjects of both sexes, with previous both DUL (27.38 ± 9.06 vs. 18.15 ± 2.30) as NDUL
experience in resistance exercise. All participants un- (27.15 ± 6.81 vs. 17.84 ± 2.07) compared to males.
derwent three tests: a test of 1RM in order to determine Conclusion: The male has a greater capacity to generate
the load test, and two tests with a load of 50% 1RM, force; however females are more resistant to fatigue
which registered the highest number of possible du- loading at 50% 1RM.
plicates on DUL and NDUL. Results: No significant Key-words: localized muscular resistance, muscular
differences were found in absolute load on DUL and strength, unilateral exercise.

Introdução Entre as variáveis implicadas nesse tipo de trei-


namento destacam-se o número de exercícios,
O conceito de exercício físico tem abrangência ordem de execução, número de séries e repetições,
na prerrogativa de que há o controle do volume e velocidade de execução, intervalos de recupera-
da intensidade da atividade física que está aconte- ção entre as séries e os exercícios como também
cendo. Existem vários tipos de exercícios que com- frequência semanal que, por sua vez, produzem
põem um treinamento físico, dentre eles o treino respostas diferentes a partir do estimulo específico
resistido (TR) se caracteriza como método que do treino [6].
envolve conjuntos de exercícios que produzem A realização do TR pode ocorrer de forma
as ações voluntárias dos músculos esqueléticos unilateral ou bilateral, sendo esta uma das pos-
contra alguma forma externa de resistência, que sibilidades de variação de execução. A principal
pode ser provida pela própria resistência do corpo, diferença entre eles reside no fato de a execução
pesos livres ou máquinas [1]. unilateral apresentar sinal eletromiográfico maior
Os benefícios acarretados pela prática deste quando comparado a forma bilateral [7,8]. Há
tipo de exercício são variados, como a hipertrofia, evidencias de que a força desenvolvida, durante
gerando aumento da força, potência e resistência ações bilaterais, normalmente são menores do que
musculares e redução de gordura corporal [2]. a soma da força desenvolvida por cada membro
Existem dois processos primordiais para o au- [9]. Denominamos tal fenômeno de déficit bila-
mento da força de resistência muscular, que são teral [8-10].
relacionados aos aspectos neurais e hipertróficos Ainda, é relevante destacar a magnitude
[3,4]. As adaptações neurais predominam durante das respostas ao TR implicadas pela diferença
curtos períodos de treinamento. Concomitante- do gênero, sendo denotados em vários estudos
mente às adaptações neuromusculares, a hipertro- que as mulheres apresentam menores valores
fia muscular inicia-se nas primeiras seis semanas de força musculares absolutas do que os ho-
de treinamento de força por meio da mudança na mens, tanto em membros superiores quanto
quantidade e qualidades de proteínas contrateis em membros inferiores [11,12]. Entretanto
da estrutura muscular estriada esquelética [3,4]. as mulheres apresentam maior capacidade de
Existe ainda, uma inter-relação entre as adapta- resistência à fadiga quando os exercícios são
ções neurais e hipertrofia na expressão de força e realizados com carga de intensidade leve a
resistência muscular [5]. moderado [13].
Entretanto, existem diversas vertentes relacio- Assim o objetivo do estudo foi comparar
nadas com o volume e intensidades que podem a força e o desempenho motor unilateral de
ser usadas na estruturação de programas de TR. membro superior dominante (MSD) e mem-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 7

bro superior não dominante (MSND) entre Protocolo do teste


homens e mulheres no exercício de flexão de
cotovelo à 50% de 1 repetição máxima (1RM). Todos os testes foram realizados em local reser-
vado (sala de avaliação) sempre com um avaliado
(voluntário) e dois avaliadores experientes. Os
Material e métodos voluntários foram instruídos dias antes do teste
sobre técnicas de execução e postura realizadas
Amostra em um estudo Piloto, a fim de reduzir margens
de erro dos testes. Ainda, os voluntários foram
A amostra do estudo foi composta por 26 instruídos a manter a dieta diária e alimentar-se
voluntários de ambos os gêneros (13 homens cerca de uma hora de antecedência do horário
e 13 mulheres), e as características dos volun- predeterminado para os testes.
tários estão denotados na tabela I. O estudo Ficou pré-estabelecido que os testes iniciariam
seguiu as normas éticas de estudo envolvendo com MSD seguido do MSND com intervalo mí-
seres humanos, conforme lei nº 196/96. Além nimo de 3 minutos de um membro para o outro.
disso, todos os voluntários assinaram um ter-
mo de consentimento livre e esclarecido, sobre Teste de Força Máxima (1RM)
todos os procedimentos a serem realizados.
Os critérios para seleção e inclusão dos Para avaliação da força máxima, os voluntários
voluntários foram ausências de doenças que obedeceram a um descanso de 72 horas isentos
ofertassem riscos para a saúde dos participantes, de exercícios que envolvessem a musculatura a
sendo de origem: cardiovascular (hipertensão ser exigida no teste com o objetivo de restaurar
arterial, palpitações ocasionais e cardiopatias), as condições neurais, metabólicas, morfológicas
respiratória (asma brônquica e doença pulmo- e psíquicas.
nar obstrutiva crônica), articular (artrite ou Na avaliação da força máxima do MSD e
artrose), muscular (lesões musculares), reti- MSND foi utilizado o teste de uma repetição
nopatias (deslocamento de retina) e gestantes. máxima (1RM) no exercício de flexão de cotovelo
Além disso, prática de exercício físico regular de unilateral sentado, com o voluntário sentado no
no mínimo 40 minutos/dia, 3 vezes por semana, banco com as costas e quadril apoiados.
por pelo menos 6 meses e também deveriam Antes do teste os voluntários realizaram um
estar familiarizados com o TR. aquecimento localizado visando preparar a mus-
Todos os voluntários selecionados assina- culatura envolvida no exercício. O movimento
ram um termo de consentimento informando iniciou-se com o antebraço em total extensão,
sobre a proposta e procedimentos do estudo partindo assim para a flexão máxima do ante-
e responderam negativamente aos itens do braço (fase concêntrica do movimento). Foram
questionário PAR-Q(14) visando identificar executadas até 5 tentativas realizando incrementos
prováveis restrições e limitações quanto à progressivos de cargas com 5 minutos de descanso
prática de exercícios. para uma nova tentativa no mesmo braço. Os
avaliados foram encorajados verbalmente com
a finalidade de incentivá-los a atingir sua força

Tabela I - Medidas descritivas da amostra.


Homens (n = 13) Mulheres (n = 13)
Características
Média ± DP Média ± DP
Idade (anos) 32,71 ± 7,67 33,57 ± 9,63
Estatura (cm) 174,21 ± 3,18 158,50 ± 5,14
MC (kg) 78,23 ± 2,30 57,43 ± 6,87
MC: massa corporal.
8 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Figura 1 - Carga absoluta de MSD e MSND em


máxima. O teste era interrompido quando não
homens e mulheres.
se conseguia mais realizar o movimento da forma
previamente estabelecida.

Resistência Muscular Localiza (RML)

A carga utilizada no teste de RML compreen-


deu 50% de 1RM e utilizou-se os mesmos padrões
de postura execução do teste de 1RM. Durante
toda a amplitude de movimento, a velocidade foi
controlada, usando-se 1,5 segundos na flexão do 1RM = uma repetição máxima; MSD = membro superior
antebraço e 1,5 segundos para a extensão do an- dominante; MSND = membro supeior não dominante;
tebraço. Durante a execução, os cotovelos perma- *Denota diferença significativa entre sexos (p < 0,05).
neceram apontados para o solo, sem que fossem
projetados à frente e o tronco manteve-se apoiado
no banco. O ritmo do movimento foi ditado por Denota-se que não houve diferença significa-
um metrônomo virtual da marca Dirk’s analógico tiva (p < 0,05) entre a carga máxima no mesmo
instalado em um Laptop ajustado para 40 bpm. gênero, entretanto houve diferença entre a cargas
Os avaliados foram encorajados verbalmente para máximas tanto em MSD (22,6 ± 3,9 vs 8,72 ± 1,5)
atingir o maior número de repetições. como MSND (22,9 ± 3,9 vs 8,6 ± 1,6) entre os
O número de repetições alcançadas foi re- gêneros masculino e femininos, respectivamente.
gistrado na fadiga e/ou exaustão (momento em A figura 2 representa a quantidade de repeti-
que o avaliado não conseguia manter o ritmo do ções máximas realizadas a 50% de 1RM em MSD
metrônomo, ou o cotovelo era projetado a frente e MSND em ambos os generos.
ou ocorriam oscilações posturais).
Figura 2 - Número de repetições realizadas até a fadiga
Estatística com 50% de 1RM.

Realizou-se inicialmente análise descritiva dos


dados (média e desvio-padrão), posteriormente o
teste de Shapiro-Wilk foi realizado para verificar
normalidade entre os dados. Em seguida o teste t
de Student foi utilizado para comparação das car-
gas do teste de 1RM e o pós-teste de comparações
múltiplas de Tukey foi realizado para identificar
possíveis diferenças entre as médias. O risco alfa
assumido foi de 5% (p < 0,05). O registro e ar-
mazenamento dos dados foram realizados com o 1RM = uma repetição máxima; MSD = membro superior
software Microsoft Office Excel 2010 (Microsoft dominante; MSND = membro supeior não dominante;
Corp, Redmond, WA®) e as análises no programa *Denota diferença significativa (p < 0,05) intergrupo.
GraphPad Prism Software® 6.0.

Houve diferença significativa quando com-


Resultados parou-se o número de repetições até a fadiga de
MSD entre mulheres e homens (27,38 ± 9,06 vs.
Na figura 1 estam representados os dados 18,15 ± 2,30), respectivamente. Tal fato também
referentes as cargas de 1RM de MSD e MSND foi observado quando comparou-se o desempenho
de ambos os generos. do MSND (27,15 ± 6,81 vs 17,84 ± 2,07). Não
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 9

houve diferença entre o número de repetições dominante em homens, que possui característica
dentro do mesmo gênero. anabólica, atuando principalmente sobre as zonas
de crescimento dos ossos e músculos, além de
influenciar o desenvolvimento de praticamente
Discussão todos os órgãos do corpo humano [21].
Outro achado do nosso estudo foi que as
O objetivo do estudo foi comparar a força e o mulheres realizaram uma maior quantidade de
desempenho motor unilateral de membro supe- repetições até a fadiga com carga de 50% de
rior dominante (MSD) e membro superior não 1RM. Nosso estudo corrobora alguns achados da
dominante (MSND) entre homens e mulheres literatura, demonstrando que o gênero feminino
no exercício de flexão de cotovelo a 50% de 1 apresenta maior resistência à fadiga com cargas
repetição máxima. inferiores a 70% de 1RM [20,22].
O presente estudo foi realizado com indivídu- Uma possível explicação para estes achados
os treinados em exercícios resistidos, justificando a tange à composição muscular das mulheres, que
ausência de uma diferença significativa na variável reside na maior prevalência de fibras do tipo I
força entre os MSD e MSND do mesmo gênero. sobre as fibras do tipo II [12]. As fibras tipo I
Especula-se que este tipo de treinamento acar- possuem menor diâmetro, menor velocidade de
reta em aumento da sincronização das unidades contração e são mais resistentes à fadiga [23].
motoras (UMs) agregando maior coordenação No gênero masculino possui maior tendência de
intramuscular, que por sua vez desenvolve maiores apresentar maior porcentagem de fibras rápidas,
ativações das fibras por um mesmo motoneu- que possuem maior diâmetro, maior velocidade
rônio [7,15,16]. Essa adaptação proporciona de contração e menor resistencia à fadiga [24].
incrementos de força coordenada, ou seja, um Outro ponto referente à diferença entre os
maior número de fibras musculares se contraem gêneros pode ser explicada pelo tamanho da massa
ao mesmo tempo, com menor frequência de estí- muscular envolvida no exercício, a utilização de
mulos, consequentemente, produzindo acréscimo diferentes substratos energéticos durante a con-
na produção de força muscular [17]. tração musucular e a ativação neural [22]. Além
Para aplicação do teste, deve-se ter em vista o disso, pode-se observar diferença na motivação, na
déficit bilateral, que se refere à diferença na capa- habilidade para sustentar o drive central, diferença
cidade de geração de força dos músculos quando do suprimento de sangue para a musculatura ativa
contraídos isoladamete ou de forma bilateral além das características que levam a fadiga devido à
[7,15]. A carga desenvolvida durante ações bila- diferença nas quantidades de fibras musculares [12].
terais parece ser menor do que a soma das cargas
desenvolvidas por cada membro. Esta diferença
está relacionada com a estimulação reduzida de Conclusão
unidades motoras, que poderia ser causada pela
inibição dos mecanismos protetores, resultando Conclui-se que os homens são capazes de
em uma menor produção de força [15,18]. desenvolver maior força máxima que as mulheres.
Foi encontrada uma diferença significativa da No entanto, as mulheres realizaram maior quan-
força no teste de 1RM entre os gêneros, isto pode tidade de repetições máximas com carga referente
ser justificado pelo fato do homem apresentar a 50% de 1RM.
uma maior proporção de fibras metabolicamente
e funcionalmente mais rápidas (fibras IIx), devido
a uma maior expressão gênica do músculo esque- Referências
lético e na interação com hormônios específicos
do gênero masculino comparado com o feminino 1. Winett RA, Carpinelli RN. Potential health-
[19,20]. Enfoque seja dado ao papel do hormônio -related benefits of resistance training. Preventive
testosterona, que é encontrado de maneira pre- Medicine 2001;33(5):503-13.
10 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

2. Lee YS, Ha MS, Lee YJ. The effects of various 13. Russ DW, Towse TF, Wigmore DM, Lanza IR,
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ARTIGO ORIGINAL

Alterações morfofuncionais decorrentes


de dois métodos de treinamento de força
Morphofunctional alterations deriving from
two methods of strength training

Allan Lucas Jacques*, Marcelle Modolin Vidigal*, Rodrigo Pereira**, Cláudio Scorcine***,
Fabrício Madureira***, Dilmar Pinto Guedes Junior****

*Graduado no curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES),
**Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES),
Professor da Faculdade da Praia Grande (FPG), Professor da Faculdade de Educação de Educação Física
e Esporte (FEFESP/UNISANTA), ***Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de Educação
Física de Santos (FEFIS/UNIMES), ****Professor do curso de Educação Física pela Faculdade de
Educação Física de Santos (FEFIS/UNIMES), Membro do Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício e
Treinamento - CEFIT

Resumo piramidal crescente foram eficientes para o aumento


O objetivo do presente estudo é comparar as alte- da força nos testes aplicados entre os momentos pré
rações morfofuncionais decorrentes de dois métodos e pós-treinamento. Para composição corporal ocorre-
de treinamento de força: repetições fixas e piramidal ram diferenças significativas entre pré e pós na massa
crescente. Foram avaliados 20 voluntários com idades magra corporal (MMC). Os resultados demonstram
entre 18 e 40 anos iniciantes em treinamento de força. a eficiência de ambos os métodos de treinamento nos
O programa teve a duração de 10 semanas e foram uti- ganhos de força máxima e melhoria da composição
lizados nos momentos pré e pós-treinamento o teste de corporal (aumento de massa muscular e diminuição
1 repetição máxima (1RM) e a avaliação da composição da porcentagem de gordura corporal) para ambos os
corporal por meio da bioimpedância. Nas avaliações grupos, não havendo diferença entre grupos.
de cargas máximas, os métodos de repetições fixas e Palavras-chave: treinamento, força, métodos,
composição corporal.

Recebido em 22 de março de 2017; aceito em 18 de abril de 2017.


Endereço para correspondência: Allan Lucas Jacques, Rua Torres Homem, 307/21, Embaré, 11025-021
Santos SP, E-mail: allanlucas_@hotmail.com
12 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Abstract were effective for increasing strength tests applied


The purpose of this study was to compare the between pre and post training. For body composition
morphological changes deriving from two methods were significant differences between pre and post total
of strength training: fixed and pyramidal growing body mass. The results demonstrate the efficiency of
repetitions. Twenty volunteers 18 to 40 years old, both methods of training in the gains of maximum
beginners in strength training, were evaluated. The strength and improving body composition (increased
program had the duration of 10 weeks, pre and post muscle mass and decreased body fat percentage) in
training was used for the 1 repetition maximum (1RM) both groups.
and the body composition was assessed by bioelectrical Key-words: training, strength, methods, body
impedance test. In evaluations of maximum loads, composition.
methods of fixed and growing pyramidal repetitions

Introdução mento em públicos e objetivos distintos, como,


por exemplo, comparar os métodos piramidal
O treinamento de força (TF) tem papel funda- crescente e decrescente no aumento da força
mental nos programas de exercícios físicos e tem muscular [10], no número de repetições [8], e
sido recomendado por várias organizações com em mulheres [9]. São encontrados autores que
a finalidade de melhorar a saúde geral e condi- comparam vários métodos no mesmo estudo, em
cionamento físico [1]. Entre os objetivos do TF parâmetros morfológicos [11], na composição
destacam-se na literatura o aumento da força [2] corporal [12] e ainda a comparação de periodi-
e hipertrofia muscular [3], além da diminuição zações distintas [13].
do percentual de gordura [4], para fins atléticos Poucos estudos compararam o aumento da
[5], estéticos [6] ou de saúde [7]. Em virtude de força muscular e composição corporal entre
todas as adaptações e benefícios proporcionados os métodos citados anteriormente. O objetivo
pelo TF, vários protocolos, métodos e sistemas do presente estudo é de comparar as alterações
de treinamento foram criados para otimizar o morfofuncionais decorrentes de dois métodos de
processo de hipertrofia, por meio da manipulação treinamento de força, repetição fixa e piramidal
e combinação das variáveis de treinamento como crescente.
número de repetições, carga, número de séries,
intervalo de recuperação, entre outros [8,9].
Alguns autores [8] sugerem que os métodos Material e métodos
de TF foram originalmente planejados por levan-
tadores olímpicos de peso ou fisiculturistas, entre Após ser assinado o Termo de Consentimento
eles, podemos citar dois métodos, o de repetição Livre e Esclarecido, iniciou-se o projeto com 36
fixa (RF) e o piramidal crescente (PC). Um méto- participantes, entretanto devido à falta de dis-
do que tem sido bastante utilizado como estratégia ponibilidades para os horários de treinos, faltas
para o aumento da força e hipertrofia é o PC, continuas e desistência do programa de treina-
que se fundamenta na correlação volume versus mento foram avaliados 20 indivíduos divididos
intensidade de treinamento, quando a cada grupo igualmente em dois grupos: treinamento de repe-
de determinado exercício ocorre a diminuição ou tição fixa (RF) e treinamento piramidal crescente
o aumento do número de repetições realizadas e o (PC). Os sujeitos foram recrutados através de
simultâneo aumento ou diminuição do peso. Sua difusão em rede social e como critério de inclusão
aplicação se dá na manipulação da carga de forma deveriam estar pelo menos seis meses sem praticar
crescente ou decrescente em relação à intensidade. musculação. Estes indivíduos foram classifica-
Como consequência ocorrem modificações no dos como de baixo risco, por não apresentarem
número de repetições realizadas [10]. qualquer sinal ou sintoma insinuante de doença
Alguns estudos são encontrados na literatura arterial coronariana de doença cardiopulmonar ou
investigando os efeitos dos métodos de treina- metabólica, avaliada pelo questionário Physical
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 13

Activity Readiness Questionnarie (PAR-Q) e por Quadro 3 - 2ª a 8ª semana - treinamento masculino.


anamnese clínica. Treino A Treino B
O programa foi realizado em 10 semanas. Na Supino reto Puxador frente
primeira semana e na última foram realizadas as Supino inclinado com Remada maquina
avaliações de: 1RM, nos exercícios supino reto, halteres unilateral
puxador frente e leg press 45° e a composição Rosca alternada hal-
Tríceps corda
corporal por meio da bioimpedância da marca teres
Inbody 250. A segunda semana serviu para fami- Desenvolvimento
Encolhimento
liarizar os sujeitos com o método de treinamento. maquina
A partir da terceira semana até a oitava os grupos Cadeira extensora Cama flexora
foram divididos em RF realizando 4 séries de 12 Leg 45° Cadeira abdutora
repetições e PC executando 12/10/8/6 repetições, Abdominal Lombar
ambos com pausa de 1 minuto entre séries e 2
minutos entre exercícios. Os exercícios foram Quadro 4 - 2ª a 8ª semana - treinamento feminino.
divididos de acordo com os segmentos corporais Treino A Treino B
em posterior e anterior e por gêneros (Quadros Cama extensora Cama flexora
1, 2, 3 e 4). Leg 45° Agachamento completo
Cadeira adutora Glúteo coice
Quadro 1 - 1ª semana - treinamento masculino. Supino maquina Puxador frente
Treino A Treino B Rosca martelo unilateral Tríceps francês
Supino reto Puxador frente Desenvolvimento com
Crucifixo inverso
Supino com halteres halteres
Puxador triângulo
inclinados Abdominal Lombar
Remada aberta apa-
Crucifixo reto
relho Foi realizada uma análise descritiva dos dados
Rosca alternada mar- usando média e desvio padrão. Em seguida utili-
Tríceps polia
telo zamos o Test T de Student para amostras depen-
Rosca direita barra reta Tríceps francês dentes e independentes. O nível de significância
Elevação lateral Remada alta aceito foi p ≤ 0,05.
Cadeira extensora Stiff
Cama flexora/pantur-
Leg 45
rilha Resultados
Abdominal Lombar
Nas avaliações de cargas máximas, os métodos
Quadro 2 - 1ª semana - treinamento feminino. de RF e PC foram eficientes para o aumento da
Treino A Treino B força nos testes aplicados entre os momentos pré
Cadeira extensora Cama flexora e pós-treinamento (ver tabela I). Para composição
Agachamento livre Agachamento sumo corporal ocorreram diferenças significativas entre
Cadeira adutora Stiff pré e pós na MMC (Tabela II).
Avanço com halteres 3 apoios abdução
Hack 3 apoios pendulo
Cadeira extensora Glúteo graviton/pan- Discussão
unilateral turrilha
Supino com halteres Puxador triângulo O presente estudo avaliou o efeito de dois
Rosca direta barra Tríceps polia métodos de treinamento, RF e PC ao longo de
Elevação combinada Remada alta oito semanas de treinamento no desenvolvimento
Abdominal Lombar da força muscular máxima, na qual não se registrou
diferença significativa (p = 0,05) entre os métodos
14 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Tabela I - Avaliações de 1RM no supino, leg press e puxador frente nos grupos de repetições fixas e piramidal crescente.
SR Pré SR Pós % LP Pré LP Pós % PF Pré PF Pós %
RF 26,6 ± 7,1 30,8 ± 6,7* 16 122 ± 37,9 161 ± 41,2* 32 35 ± 8,5 43,5 ± 7,1* 24
PC 48,6 ± 20,6# 55,4 ± 22,7* 14 169 ± 72,3 211 ± 76,8* 25 62 ± 20,8 67,5 ± 21,8* 9
Os dados estão em kg em forma de média ± desvio padrão; SR = Supino Reto; PF = Puxador Frente; *= diferença esta-
tística significativa entre os momentos e #entre grupos; p ≤ 0,05.

Tabela II - Analise do peso corporal total e composição corporal nos grupos de repetições fixas e piramidal crescente.
Peso Pré Peso Pós MMG Pré MMG Pós MGC Pré MGC Pós PGC Pré PGC Pós
RF 60,3 ± 11,3 60,9 ± 11,5 22 ± 3,2 22,49 ± 3,5* 19,7 ± 6,8 19,6 ± 6,6 31,8 ± 5,6 4315 ± 5,3
PC 75,7 ± 16,5 75,5 ± 16,0 29,5 ± 6,7 30,1 ± 6,7* 22,6 ± 8,3 21,6 ± 8,6 29,3 ± 7,2 28,8 ± 7,1
Os dados estão em forma de média ± desvio padrão; MMG = Massa magra Corporal; MGC = Massa Gorda Corporal;
PGC = Porcentagem de gordura corporal; *= diferença estatística significativa entre os momentos; p ≤ 0,05.

analisados, porém registrou diferença entre pré trabalho de Manzini Filho et al. [10], que reali-
e pós-treinamento nos exercícios supino reto, zaram um experimento durante 8 semanas com
puxador frente e no leg press. Na composição o objetivo de comparar os métodos piramidal
corporal não foram encontradas diferenças entre crescente e decrescente. No exercício supino
os grupos, entretanto observou-se aumento da reto não foi encontrada diferença estatística, não
massa magra corporal entre os momentos para indo ao encontro com os resultados do presente
os dois métodos avaliados. estudo. Vale ressaltar que, no estudo citado, os
No estudo que compara em dezoito volun- indivíduos eram ativos fisicamente. Já o estudo
tários do sexo masculino, selecionados aleatoria- de Carvalho et al. [12] encontrou resultados
mente, o efeito de oito semanas de treinamento estatisticamente significativos no aumento de
sobre o número de repetições máximas dos mé- força utilizando o método Drop Set nos exer-
todos PC e piramidal decrescente, não ocorreu cícios supino reto e leg press, corroborando os
diferença significativa entre os métodos ou pré e nossos achados.
pós-treinamento [8]. Em outro experimento que Nas modificações da composição corporal, os
comparou os métodos de RF e PC em dezoito in- métodos PC e RF foram eficientes para aumen-
divíduos experientes em treino de força muscular tar a massa magra corporal. Em um estudo que
ao longo de oito semanas de treinamento sobre avaliou 9 indivíduos ativos por 4 semanas, não
o desenvolvimento da força muscular máxima, foram observadas modificações corporais [12].
não foram encontradas diferenças significativas Em uma periodização que comparou os efeitos
entre os métodos e nem entre os momentos pré do treinamento de força com pesos e no meio
e pós-treino [14]. líquido, ambas as metodologias foram eficientes
No trabalho que teve o objetivo de comparar para potencializar a massa magra corporal nos
o impacto de dois métodos, RF e PC na força universitários avaliados durante 6 meses [16].
muscular de dezenove homens adultos treinados, Em todos corroboram o presente estudo na
o programa de treinamento com pesos foi rea- variável nutricional, ou seja, não houve controle
lizado em seis semanas e não foram observadas da alimentação dos voluntários.
diferenças significativas na força muscular, entre As limitações do estudo foram em relação
os momentos pré e pós-treino e nem entre grupos aos grupos que no momento pré estavam com
[15]. Os resultados confirmam em parte os en- diferenças significativas no exercício supino reto.
contrados no presente estudo, porém os sujeitos Quando foram distribuídos os participantes nos
do artigo citado eram treinados. grupos não foram observadas diferenças, após a
Os exercícios utilizados apontaram diferenças desistência de alguns voluntários ficaram com
significativas no aumento da força muscular no diferenças estatisticamente significativa.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 15

Conclusão 7. Fuentes Bravo M, Zuniga Paredes F, Rodriguez-Ro-


driguez FJ, Cristi-Montero C. Occupational physical
Os resultados sugerem a eficiência de ambos os activity and body composition in adult women; pilot
métodos de treinamento nos ganhos de força máxi- study. Nutricion Hospitalaria 2013;28(4):1060-4.
ma e melhoria da composição corporal (aumento de 8. Salles B, Silva JPM, Oliveira D, Ribeiro FM, Simão
massa muscular) para ambos os grupos. No entanto, R. Efeito dos métodos pirâmide crescente e pirâmide
não houve diferença estatisticamente significativa decrescente no número de repetições do treinamento
entre grupos. A magnitude das variáveis escolhidas de força. Arquivos em Movimento 2010;4(1):23-32.
nos protocolos de treinamento (repetições, pausa, 9. Assunção LV, Júnior JFCR, Nunes IF, Orsano VSM.
exercícios, séries, população) pode interferir nos Efeitos dos métodos pirâmide crescente e decrescente
resultados. São necessários mais estudos para que no número de repetições do treinamento de força
sejam estabelecidas conclusões mais concretas. em mulheres jovens. Revista Contexto & Saúde
2016;16(31):186-95.
10. Mazini Filho ML, Rodrigues BM, Moreira OC,
Agradecimentos Matos DG, Rabelo CM, Aidar FJ, et al. Comparação
dos métodos pirâmide crescente e decrescente no
Agradecimentos a Clínica Abbud pela parceria aumento da força muscular. Revista Brasileira de Pres-
no presente estudo, realizando as avaliações da crição e Fisiologia do Exercício 2015;9(53):240-9.
composição corporal dos voluntários e a academia 11. Oliveira DL. Efeitos de diferentes métodos de treina-
Praxis pela realização das avaliações de 1RM e pelos mento de força sobre parâmetros morfológicos e força
treinamentos realizados durante 2 meses. máxima [Dissertação]. Trás-os Montes: Universidade
de Trás-os Montes e Alto Douro; 2014.
12. Carvalho ML, Brun G, Chupel MU, Souza WC,
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seus benefícios. Seminário de Iniciação Científica, dade de Trás-os Montes e Alto Douro; 2016.
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em alunos fisicamente ativos de academia. Revista
Brasileira de Fisiologia do Exercício 2016;15(2).
ARTIGO ORIGINAL

Alteração do VO2máx e da porcentagem de


gordura de atletas de futebol profissional em
função do treinamento de pré-temporada
Alterations in VO2 max and body fat percentage in professional
soccer players

Eduardo Hippolyto Latsch Cherem*, Fernando Petrocelli de Azeredo**,


Leonardo Chrysostomo dos Santos**

*Escola Municipal Ginásio Medalhista Olímpico Thiago Braz da Silva, **Laboratório de Fisiologia do
Exercício da Universidade Estácio de Sá, LAFIEX, nos campi Nova Iguaçu e Petrópolis II – RJ

Resumo do como significativo um p ≤ 0,05. O condicionamen-


Futebol é um esporte de extrema competitividade, to aeróbio medido pelo VO2máx não apresentou melhora
por isso a necessidade de maior condicionamento físico significativa (52,62 ± 2,28 ml/kg/min, antes e 53,48 ±
por parte de seus competidores. Este ponto pode ser 3,25 ml/kg/min após a pré-temporada, p = ns) e apesar
observado na pré-temporada, quando, em pouco tem- de não ter havido diferença na massa corporal total
po, deve haver um aumento do condicionamento físico dos atletas, (65,13 ± 3,64 kg, antes e 65,30 ± 3,58 kg
e alteração da composição corporal. O objetivo deste após a pré-temporada, p = ns) os atletas apresentaram
estudo foi observar a alteração do condicionamento uma discreta, mas significativa alteração da composição
aeróbio de atletas profissionais de futebol durante a corporal medida pelo percentual de gordura (10,58 ±
pré-temporada de 2007. A amostra limitou-se a 11 3,62%, antes e 9,50 ± 2,81%) após a pré-temporada,
homens, atletas de futebol profissional. Coletaram-se p < 0,05). Conclui-se que o treinamento aplicado na
dados de composição corporal e do condicionamento pré-temporada, não foi suficiente para causar melhora
aeróbio antes e após a pré-temporada, que teve duração da capacidade aeróbia no grupo como um todo.
de 30 dias. Os resultados estão descritos como média ± Palavras-chave: VO2máx, porcentagem de gordura,
desvio padrão. Utilizou-se teste “t” de Student, aceitan- preparação física.

Recebido em 3 de novembro de 2016; aceito em 23 de fevereiro de 2017.


Endereço para correspondência: Eduardo Hippolyto Latsch Cherem, Avenida Cesário de Melo, S/N, Santa
Cruz, 23595-040 Rio de Janeiro RJ, E-mail: cheremehl@gmail.com; Fernando Petrocelli de Azeredo: fpetrocelli@
uol.com.br; Leonardo Chrysostomo dos Santos: leochrysostomo@terra.com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 17

Abstract used, with a p ≤ 0.05 considered as significant. The


Soccer is an extreme competitive sport. Therefore, aerobic conditioning measured by VO2máx not showed a
it is necessary to do high amounts of physical activities. significant improvement (52,62 ± 2,28 ml/kg/min, be-
It can be observed in pre-season, when athletes need fore and 53,48 ± 3,25 28 ml/kg/min after pre-season,
to improve their endurance and change their body p = ns) and, despite the body weight did not show any
composition in a short period of time. The aim of alteration (65,13 ± 3,64, before and 65,30 ± 3,58
this study was to observe the alteration of endurance after pre-season, p = ns) the body fat percentage have
conditioning of professional soccer players in the 2007 a discrete, but significantly alteration (10,58 ± 3,62,
pre-season, 30 days longer. The sample consisted of before and 9,50 ± 2,81 after pre-season, p < 0,05).
eleven men, who were professional soccer players. We It is concluded that the physical training program
collected body composition and aerobic conditioning in pre-season was not enough to improve the group
data before and after pre-season. The results are shown endurance conditioning.
as mean ± standard deviation. Student’s “t” test was Key-words: VO2máx, body fat percentage, soccer of
field.

Introdução termos absolutos (l/mim) ou relativos à superfície


corpórea (ml/kg/min).
O futebol é o esporte mais difundido na Segundo Garcia et al. [7], os testes físicos
maioria dos países, especialmente nos latino- auxiliam no conhecimento da evolução dos joga-
-americanos e europeus [1-3]. dores, na seleção de testes para cada posição, no
A evolução médica-tecnológica ocorrida nas descobrimento de novos talentos e na reavaliação
últimas décadas teve impacto no esporte, com do trabalho.
um importante avanço na preparação física dos Na literatura, verifica-se que o padrão de VO-
atletas e consequente exigência de máximo de- 2Máx
de futebolistas é de aproximadamente 55-60
sempenho [4]. ml/kg/min. O mesmo resultado foi encontrado
Cunha [5] relata que estudos realizados com- nos futebolistas da seleção sueca, resultados de
provam que, durante a década de 1970, existia 56,5 ml/kg/min. Na equipe do Aberdeen F.C.,
interesse com a investigação científica no futebol da Escócia (Campeonato Europeu) foi observado
com o intuito de auxiliar a preparação física dos 57,8 ml/kg/min. E para os primeiro, segundo,
atletas, determinando os sistemas energéticos que terceiro e quarto colocados do campeonato de
predominavam no esporte, através de uma análise futebol húngaro, valores de 66,6; 64,3; 63,3 e
de movimento realizada durante as partidas de 58,1 ml/kg/min, respectivamente [8-10].
futebol. Testes estes aplicados no início da pré-tem-
Durante as partidas, os futebolistas realizam porada de treinamento permitem uma avaliação
esforços curtos, intensos e decisivos caracterizados precisa de várias qualidades dos atletas. Sendo
predominantemente por anaeróbios aláticos com assim Rinaldi e Arruda [11] dizem que a avaliação
uma concentração lática entre 4 a 9 mMol, sendo física dos jogadores de futebol tem se mostrado
o metabolismo aeróbio requerido principalmente importante no sentido de oferecer parâmetros
nos momentos de recuperação entre esses esforços. mais exatos para um programa de treinamento.
O consumo máximo de oxigênio (VO2Máx) A variabilidade dos valores de VO2 (ml/kg/
é a variável fisiológica que melhor descreve a min) em futebolistas é grande, não somente pelas
capacidade dos sistemas cardiovasculares e respi- características individuais, mas em virtude dos
ratórios. É aceito como índice que representa a diferentes modelos e metodologias utilizadas nos
capacidade máxima de integração do organismo treinamentos e, também, pelos diferentes tipos de
em captar, transportar e utilizar o oxigênio para os ergômetros e protocolos utilizados na avaliação,
processos aeróbios de produção de energia durante como bicicleta ou esteira em testes máximos ou
a contração muscular [6]. Pode ser expresso em submáximos, e ainda a utilização de medidas
18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

diretas ou indiretas. É sabido que valores de VO- Material e métodos


2Máx
obtido nos protocolos realizados em bicicleta
ergométrica são em média 5% a 20% inferiores Amostra
àqueles observados em esteira [12], devendo-se
relativizar as conclusões dos estudos comparativos A amostra do estudo foi composta por 11
realizados com diferentes ergômetros e diferentes atletas, do sexo masculino, profissionais de Fu-
protocolos. tebol de Campo, do time Estácio de Sá Futebol
Da mesma forma como a capacidade aeró- Clube, realizada durante a pré-temporada do ano
bia é substancialmente alterada em função de de 2007.
programas vigorosos de treinamento físico, a Todos os indivíduos leram e concordaram
composição corporal também o é. No entanto, em assinar um termo de consentimento livre
ao invés de aumentar o seu valor, quando nos e esclarecido, de acordo com as Normas para
referimos à porcentagem de gordura corporal, a Realização de Pesquisa em Seres Humanos,
percebemos um decréscimo desta em função do estabelecidas através da Resolução 196/96, do
aumento do trabalho físico, como acontece nos Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996.
sistemas de preparação atlética, mesmo que de É notório que a resolução supracitada segue a
pré-temporada [13-16]. Não obstante, mesmo declaração de Helsinque de 1975 [17].
com o aumento na taxa de trabalho físico, tam-
bém é necessário um controle da ingesta calórica Antropometria
para que se observem reduções no componente
de gordura corporal [8,14]. Para obter a porcentagem de gordura corporal
Hoje o aspecto científico do treinamento físico foi realizada a avaliação das dobras cutâneas pelo
está muito desenvolvido. Os profissionais se espe- protocolo de 3 dobras cutâneas) de Jackson e
cializam cada vez mais utilizando computadores e Pollock (tríceps, suprailíaca e coxa [18,19].
os mais variados aparelhos eletrônicos possíveis, A massa corporal foi medida em uma balança
para determinar o nível de condicionamento e com precisão de 0,1 kg (Filizola, São Paulo, Bra-
evolução dos atletas. Portanto, percebe-se que a sil). A estatura foi medida em um estadiômetro
preparação física evoluiu de tal maneira que seria localizado na própria balança, com precisão de
impensável a falta de um profissional especializa- 0,5 cm (adipômetro da marca Lange).
do em treinamento físico integrando a comissão As medidas foram aferidas antes e após o
técnica de uma equipe. período de treinamento.
No futebol dos últimos tempos, tudo que
for considerado como método auxiliar, (Jump Treinamento
system, Foto Célula, Lactímetro e outros), passa
a ser importante e altamente utilizado no campo Para prescrição da zona alvo de treinamento,
de jogo, pois nos detalhes são buscados vários foi aplicada a fórmula de Karvonen (1957) citada
anos que pesquisados são muito importante para por Haddad et al. [20], utilizando a equação a
o alto rendimento dos atletas e de toda sua equipe. seguir: 220 – idade. Foi utilizado para o limite
O objetivo deste estudo é comparar a evolução inferior 80% da FC máxima e para o limite su-
do consumo de oxigênio máximo (VO2Máx) e da perior 85% da FC máxima. Materiais utilizados:
porcentagem de gordura no início e no fim da calculadora, monitor de frequência cardíaca.
preparação básica (pré-temporada), levando em Para determinar o consumo máximo de
consideração os métodos de treinamento utili- oxigênio (VO2Máx) foi utilizado o teste do Yo-Yo
zados nos atletas profissionais da equipe Estácio Endurance Test [21], o que contou com motivação.
de Sá durante a fase de pré-temporada no ano Após a coleta das variáveis percentual de
de 2007. gordura, massa corporal e estatura, frequência
cardíaca e VO2Máx, os atletas foram submetidos
a doze semanas de treinamento. Nas primeiras
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 19

quatro semanas, o objetivo principal foi à resis- utilizado o programa Statistical Package for the
tência aeróbia, porém a partir da segunda semana Social Sciences (SPSS), versão 15.0.
foi acrescido ao treinamento um aumento de 4%
no volume do mesmo. Vale ressaltar que apesar
desse aumento no volume total, nas primeiras 3 Resultados
semanas a ênfase foi na resistência aeróbia, nas
semanas seguintes, 5% do valor total foi destinado Os dados descritivos da idade, peso (kg),
ao trabalho de resistência anaeróbia. estatura (m) e frequência cardíaca máxima estão
Nas primeiras semanas, três dias de cada, os representados como a média, desvio padrão (DP)
atletas eram submetidos a corridas de 7 km dentro e curtose, na tabela I.
da frequência cardíaca determinada pelo escore Os atletas apesar de terem reduzido significa-
obtido no teste de VO2Máx, o que variou entre 80 a tivamente suas porcentagens de gordura (antes
85%. Após estas corridas os atletas eram submeti- do treinamento: 10,58 ± 3,62 para 9,5 ± 2,81,
dos a um trabalho de força na sala de musculação depois da pré-temporada. P < 0,05), isso não foi
do clube (4 séries de 12 a 15 repetições). suficiente para causar impacto no peso total (antes
Por ser início do trabalho, o professor optou do treinamento: 65,13 ± 3,64 kg para 65,3 ± 3,58
em não fazer o teste de 1RM, passando então kg, depois da pré-temporada. P = ns) (tabela II).
para os atletas que o aumento da carga seria pro- Ainda que se tenha observado uma melhora
gressivo conforme a melhora dos mesmos nesta no VO2max dos atletas, esta melhora, assim como
valência. Em relação ao acréscimo progressivo no para a variável massa corporal total, não foi sig-
volume total de treinamento, quando as corridas nificativa (52,62 ± 2,28 e 53,48 ± 3,25 ml/kg/
alcançaram 9.780 m, estes acréscimos passaram a min, para antes e após o período de treinamento,
não existir, dando uma ênfase maior ao trabalho respectivamente. P = ns) (tabela II).
anaeróbio. É importante destacarmos que apenas 3
indivíduos apresentaram reduções no condicio-
Análise estatística namento aeróbico, ao comparar-se o período pré
e pós-treinamento de pré-temporada. Estes indi-
No presente trabalho foi utilizado o tratamen- víduos estão destacados (em negrito) no quadro
to estatístico descritivo através de média, desvio abaixo (quadro 1).
padrão e também técnicas de estatística inferencial A explicitação destes dados é importante para
com o Test t de Student utilizando o nível de signi- que se possa discutir, mais adiante, os efeitos do
ficância de 95% (p < 0.05). Foi utilizada a curtose treinamento de pré-temporada sobre esta valência
para análise da homogeneidade da amostra. Foi física, o condicionamento cardiorrespiratório,

Tabela I - Variáveis descritivas: idade, peso, estatura e frequência cardíaca máxima.


idade (anos) MCT (kg) estatura (cm) FC máx (bpm)
Média 24,50 65,13 178,17 166,26
D.P. 3,95 3,64 6,51 5,89
Curtose 0,09 - 0,24 - 0,37 - 0,70
MTC = Massa Corporal Total; FCmáx = Frequência Cardíaca Máxima.

Tabela II - Variáveis experimentais: peso, percentual de gordura e VO2 Máximo.


MCT (kg) %G VO2 (ml/kg/min)
Antes Após Antes Após Antes Após
Média 65,13 65,30 10,58 9,50 52,62 53,48
D.P. 3,64 3,58 3,62 2,81 2,28 3,25
p ns < 0,05 ns
MTC = Massa Corporal Total; %G = porcentagem de gordura corporal
20 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

representado pelos escores do teste de VO2máx pode ser baixa, de até 2% - 3% para aqueles que
utilizado por nós (Yo-Yo Endurance Test). começaram o treinamento com valores altos. Já
A porcentagem de gordura corporal apresen- que o VO2Máx é a captação máxima de oxigênio
tou uma significativa redução ao se comparar os que um indivíduo consegue extrair do ar alveolar
dados do início da pré-temporada com os valores e transportar até os tecidos através do sistema
encontrados ao final da pré-temporada (de 10,6 cardiovascular e usar para a produção de energia
± 3,62% no início, para 9,5 ± 2,81% no final [14,16,22,23].
da pré-temporada, p < 0,05), como descrito na Apesar de os resultados não demonstrarem di-
tabela III. ferença significativa, a faixa de melhora do grupo
se aproximou muito da faixa de melhora esperada
para indivíduos já bem condicionados (1,34%).
Discussão Cabe destacar que três indivíduos apresenta-
ram marcante decréscimo de suas capacidades ae-
Os resultados apresentados neste trabalho róbias (-2, 22, 4,49 e 6,46 ml/kg/min) o que, por
demonstraram que não houve melhora nos escores motivos individuais (individualidade biológica e/
de VO2Máx dos atletas avaliados, uma vez que os ou lesões na pré-temporada e/ou especificidade
resultados do início, quando comparados ao do da posição) podem ter mascarado a melhora no
final da pré-temporada (52,62 ± 2,28 e 53,48 ± VO2Máx.
3,25 ml/kg/min) respectivamente, não demons- Essa afirmação parece ser especialmente
traram diferença significativa (p = 0,29). interveniente na análise dos resultados, pois ao
Uma possível explicação para a não melhora retirarmos os escores dos três indivíduos que
do VO2Máx, pode ser devido ao fato de que, segun- tiveram uma redução acentuada no treinamen-
do Powers & Howey [22], apesar de os programas to, observamos outro fenômeno em relação ao
de treinamento de resistência provocarem um treinamento pré-temporada e melhora do con-
aumento no VO2Máx em cerca de 15%, a faixa dicionamento físico.
de aumento pode ser elevada, 30% - 50%, para Mas ao retirarmos os resultados para os
aqueles com valores iniciais bem baixos, mas indivíduos que tiveram marcante redução do

Tabela III - Valores da porcentagem de gordura antes e após a pré-temporada.


  Antes Após Melhora %
Média 10,6 9,5 -7,3
D.P. 3,8 2,9 14,7
p < 0,05

Quadro 1 - Variáveis descritivas com resultado final: VO Máx Inicial, VO Máx Final.
2 2
Jogadores REF VO2Máx VO2Máx Inicial VO2Máx Final
A 65,0/68,2 56,30 56,00
B 65,0/68,2 50,50 54,90
C 65,0/68,2 50,50 54,80
D 65,0/68,2 54,70 56,60
E 65,0/68,2 55,50 55,20
F 65,0/68,2 49,60 48,50
G 65,0/68,2 55,50 55,80
H 65,0/68,2 53,40 58,70
I 65,0/68,2 50,20 51,20
J 65,0/68,2 52,60 49,20
L 65,0/68,2 51,20 48,90
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 21

condicionamento, achamos uma ótima e signi- 3,62% no início, para 9,5 ± 2,81% no final da
ficativa melhora, se levarmos em conta que os pré-temporada, p = 0,04). Se observarmos mais
indivíduos já eram bem treinados, que foi da especificamente a melhora, vamos encontrar ín-
ordem de 2,56% (1,91 ml/kg/min, p = 0,03), o dices ainda mais interessantes, se compararmos
que, segundo Powers & Howey é uma melhora a porcentagem de melhora total da gordura,
esperada para essa classe de indivíduos (bem não em relação à massa corporal total, mas sim
treinados) [9,10,16,22]. tendo como referência o próprio conteúdo de
Outro fato que suporta a ideia de que o gordura (adotando a porcentagem de gordura
treinamento teria sido eficaz, mas mascarado inicial como sendo 100% de gordura que o
ao se analisar todo o grupo para a qualidade indivíduo apresenta na pré-temporada), obser-
física VO2Máx, incluindo os três indivíduos já vamos uma redução de 7,3%.
mencionados, está na alteração da porcentagem Os programas de treinamento planejados
de gordura corporal entre o início e fim da pré- para o período de pré-temporada são desenvol-
-temporada. vidos com o intuito maior de provocar positivas
As informações sobre a densidade corporal adaptações sobre vários componentes que estão
podem ser convertidas em porcentagens de relacionados com o condicionamento físico,
gordura corporal, que podem ser utilizadas melhorando-os e aperfeiçoando o rendimento
no julgamento sobre a condição física de um desportivo de atletas e equipes. Dentro deste
indivíduo. Vários autores recomendam uma parâmetro, apresentam-se vários objetivos espe-
faixa entre 10 e 15%. Evidências epidemioló- cíficos, dentre eles temos o aumento do VO2Máx
gicas sugerem uma associação inversa entre a e a redução do conteúdo de gordura corporal,
atividade física e o peso corporal, com a gordura temas abordados neste trabalho [12,24,25].
corporal estando, muitas das vezes e como é o É importante para a análise do rendimento
caso em atletas, como conteúdo de massa a ser do grupo ter em mente que dentro de um grupo
mantido-reduzido [8,13-15]. temos uma variedade de expressões biológicas,
Para o percentual de gordura, tal qual para o que irão responder de forma tão diferenciada
VO2Máx, temos uma adaptação mais rápida nos quanto possível ao mesmo programa de trei-
indivíduos destreinados e com índices iniciais namento, a este fenômeno damos o nome de
bem desfavoráveis, em relação a indivíduos individualidade biológica [16,22,24,26].
previamente treinados e com baixos conteú- No presente estudo observa-se como a
dos de gordura corporal. Apesar de se ter uma interferência biológica pode causar alterações
resposta mais intensa no primeiro grupo de significativas no resultado de um grupo e que
indivíduos, sua redução irá ocorrer em ambos os a não discriminação pormenorizada dos escores
grupos, evidentemente com magnitude também individuais podem levar a conclusões impre-
diferente. Logo, a redução da gordura corporal cisas. O que se observa aqui, quando levado
pode ser utilizada para se observar o impacto de em conta todo o grupo, foi uma metodologia
determinado treinamento físico em um grupo de trabalho que surtiu efeito em melhorar o
de indivíduos, especialmente quando a ingesta VO2Máx do grupo, mas que foi capaz de reduzir
energética se mantém constante durante o a porcentagem de gordura total dos indivíduos.
período de treinamento [14,15]. No entanto, ao se excluir possíveis exceções de
De fato, percebemos que todos os atletas já individualidade biológica (3 em 11), obser-
apresentavam uma porcentagem de gordura bai- vamos que o treinamento foi adequado para
xa no início da pré-temporada (10,6 ± 3,62%), adaptar a qualidade física em questão (VO2Máx).
mesmo assim, no relativo curto período de
treinamento da pré-temporada, observa-se um
positivo e significativo impacto do treinamento Conclusão
sobre a massa corporal total, com redução de
1,1% na porcentagem de gordura (de 10,6 ± Os resultados demonstraram que o progra-
22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

ma de treinamento físico proposto para a pré- em URL: http://www.mesquitaonline.com.br/


-temporada da equipe de futebol profissional artigos_mostrar.php?cod=90
Estácio de Sá não surtiu efeito em melhorar o 6. Denadai BS, Ortiz MJ, Mello MT. Índices
VO2Máx do grupo como um todo, mas foi eficaz fisiológicos associados com a “performance”
em alterar a composição corporal, reduzindo aeróbia em corredores de “endurance”: efeitos
a gordura corporal de todo o grupo e mais, se da duração da prova. Rev Bras Med Esporte
guardada as particularidades biológicas de três 2004;10(5):401-4.
dos 11 indivíduos avaliados, também observare- 7. Garcia CM, Muiño E, Telena AP. La preparación
mos que o treinamento surtiu o efeito esperado física en el fútbol. Madrid: [s.n]; 1977.
sobre o VO2Máx, aumentando a capacidade ae- 8. Barbosa AR, Santarém JM, Jacob Filho W, Ma-
róbia da maior parte dos indivíduos da equipe. rucci MFN. Composição corporal e consumo
Isso quer dizer que ao se analisar e pres- alimentar de idosas submetidas a treinamento
crever atividades de condicionamento para contra resistência. Rev Nutr 2001;14(3):177-83.
atletas deve-se ter o devido cuidado de avaliar 9. Aoki MS. Fisiologia, treinamento e nutrição
continuamente a adaptação de cada indiví- aplicados ao futebol. Jundiaí: Fontoura; 2002.
duo do grupo, para que o planejamento seja 10. Barros LT, Lotufo RFM, Tebexreni AS, Zogaib
readequado para aqueles indivíduos que não PSM, Freire E, Neves RJ, et al. Padrão de re-
responderem de forma efetiva ao treinamento. ferência de jogadores de futebol profissional –
Outros estudos devem ser feitos, nos quais a aptidão física cardiorrespiratória. Soc Paulista
utilização de um maior número amostral, bem Cardiol, SOCESP, (S.N.); 1998.
como o emprego de uma variada metodologia 11. Rinaldi WE, Arruda M. Teste de campo para
de treinamento em diferentes períodos da avaliação de VO2Máx para jogadores de futebol
temporada, associados a diferentes avaliações se juvenil. In: Rio Claro. Resumos do II Congresso
fazem necessários, para a observação de como Internacional de Educação Física e Motricidade
diferentes metodologias de treinamento podem Humana e VIII Simpósio Paulista De Educação
interagir com diferentes indivíduos em diferen- Física, Rio Claro. Revista Motriz, Departamento
tes fases do planejamento anual de treinamento. de Educação Física do Instituto de Biociência da
Universidade Estadual Paulista 2001;7(1):187
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Janeiro: Shape; 2003.

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RELATO DE CASO

Monitoramento das alterações posturais por


região corporal ocorridas em jovens atletas
de alto rendimento no período de três anos
de treinamento
Monitoring of postural alterations per body region found in
high-performance young athletes over three years of training

Josenei Braga dos Santos*, Evelise de Toledo**, Maurício Dubard***, Luiz Fernando Silva***,
Messias dos Santos****, Pedro Ferreira Reis*****, Antônio Renato Pereira Moro******,
Antônio Carlos Gomes*******

*Coordenador da Rede de Estudo da Postura Humana (REPH), **Especialista em Medicina do


Esporte e Atividade Física (ES), ***Treinador Nível I da Confederação Brasileira de Atletismo
(CBAt), ****Treinador Nível II da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Instituto de Ensino
Superior – IESFI – FEFFI, ******Coordenador do Laboratório de Biomecânica – BIOMEC/UFSC,
*******Superintendente de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt)

Resumo Wilcoxon sendo adotado nível de significância p <


O objetivo deste estudo de caso foi monitorar 0,05. Os resultados mostraram que na postura houve
as alterações posturais por região corporal de jovens uma variação percentual significativa entre gênero e
atletas nas modalidades de atletismo e voleibol durante ano pelo ICP: a) feminino 2011 (90,9% ± 2,1), 2012
um período de três anos. Participaram da amostra 14 (85,0% ± 3,8) e 2013 (83,6% ± 2,4); e b) masculino
jovens atletas (7 sexo feminino e 7 masculino) com 2011 (88,2% ± 5,9), 2012 (85,1% ± 2,1) e 2013
idade média de 16,4 (± 1,3) anos que treinavam cinco (79,4% ± 4,3). Quanto à região corporal, o abdômen/
vezes/semana 4 horas/dia. Para a avaliação postural, quadril, em ambos os sexos, obteve (93,0% ± 5,1) e em
utilizou-se o protocolo preconizado pela Portland State 2013 os membros inferiores, somente no masculino,
University (PSU), cujo índice de correção postural apresentaram-se abaixo da normalidade (74,3% ± 7,9).
(ICP) normal para jovens é de ≥ 75% e para análise No que se referiu às alterações posturais, (100,0% ±
das imagens adotou-se procedimentos da biofotogra- 0,0) indicou hiperextensão em ambos os sexos e (95,2%
metria. Com relação à análise estatística utilizou-se o ± 8,3) no feminino e (100,0% ± 0,0) no masculino,
programa SPSS versão 19.0 sendo os valores percen- identificou-se escoliose torácica direita. Pode-se con-
tuais expressos em forma de média e desvio padrão. cluir que monitorar a postura de jovens atletas a longo
Para análise inferencial utilizou-se teste de Friedman prazo é uma excelente estratégia diagnóstica.
entre os escores de avaliação postural e para escores Palavras-chave: postura, adolescentes, esporte.
entre anos, par a par e gênero utilizou-se o teste de

Recebido em 28 de março de 2017; aceito em 4 de abril de 2017.


Endereço para correspondência: Josenei Braga dos Santos, Rua Nelson Carline, 148, Jardim Primavera,
12916-083 Bragança Paulista SP, E-mail: jopostura@gmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 25

Abstract between different ages and gender. Results regarding


This case study aimed to monitor postural altera- posture have showed that, based on the PCI, there has
tions per body region found in young track and field been a significant variation in terms of the percentages
athletes and volleyball players over a three-year pe- obtained between male and female athletes and the
riod. Fourteen young athletes (7 female and 7 male), years: a) females 2011 (90,9% ± 2,1), 2012 (85,0% ±
with a mean age of 16.4 (± 1.3) years participated in 3,8) and 2013 (83,6% ± 2,4); b) males 2011 (88,2% ±
this study. They trained four hours a day five days a 5,9), 2012 (85,1% ± 2,1) and 2013 (79,4% ± 4,3). The
week. The Portland State University (PSU) protocol percentage obtained for the abdominal region and hip
for postural assessment was used, which establishes a for males and females was 93.0% ± 5. In 2013 only the
normal posture correction index (PCI) of ≥ 75% for lower limbs of males produced results considered below
young people. The study images were analyzed through the normal ranges (74.3% ± 7.9). Results of postural
biophotogrammetry. Statistical analysis was performed alterations indicated hyperextension for both genders
with the SPSS software version 19.0 and the percent- (100.0% ± 0.0) and right thoracic scoliosis for females
ages were expressed as media and standard deviation. (95.2% ± 8.3) and for males (100.0% ± 0.0). It can
For the inferential statistical analysis, the Friedman be concluded that long-term monitoring of posture
test was performed on the scores of the posture as- of young athletes is an excellent diagnostic strategy.
sessments and the Wilcoxon test, with a significance Key-words: posture, adolescents, sports.
level of p < 0.05, compared the scores pair by pair and

Introdução motores e auxilia na prevenção de problemas mus-


culoesqueléticos. Entretanto, para estes autores,
À medida que os jovens atletas evoluem na sua ainda são escassos os estudos que focam neste
carreira esportiva, o volume e a intensidade dos contexto no Brasil, ou seja, que identificam as
treinamentos aumentam o que faz com que estes alterações posturais, seguindo uma padronização
estejam sujeitos a diversas alterações posturais nos registros de informações de forma sistemati-
durante sua prática. zada para possibilitar uma discussão aprofundada
Após certo período de treinamento em uma e criar possibilidades de comparação com outras
modalidade esportiva, a comissão técnica men- pesquisas.
ciona que algumas alterações posturais sempre Segundo Veiga, Daher, Morais [6] e Signoreti
podem ocorrer e serem instaladas, devido à e Parolina [7], qualquer alteração postural causa
quantidade de gestos motores treinados repetida- retração e desorganização das cadeias musculares
mente de forma unilateral, o que contribui para e vice-versa, gerando alteração no desalinhamen-
o aumento do desequilíbrio muscular e articular, to articular, porque o treinamento desportivo
auxiliando nas modificações do alinhamento baseia-se na repetição constante de determinados
postural dificultando sua correção. movimentos, que podem levar a diminuição da
De acordo Fronza e Teixeira [1], Bastos et al. força muscular, flexibilidade, equilíbrio e coorde-
[2] e Santos et al. [3] se aplicarmos avaliações nação motora, o que possibilita o surgimento de
diagnósticas constantes e realizarmos exercícios alterações posturais.
compensatórios, ao longo da prática esportiva, Neste sentido, a avaliação postural é con-
poderemos minimizar determinadas alterações siderada como uma estratégia de mensuração
posturais. para registro e controle e se faz necessária ser
De acordo com Bastos et al. [2], Pastre et realizada de forma periódica e detalhada, durante
al. [4] e Neto Júnior et al. [5], a efetividade na a periodização estruturada pela comissão técnica
realização de diagnósticos precoces e adoção de buscando minimizar problemas musculoesque-
medidas profiláticas para cuidar da integridade léticos futuros. De acordo com Bastos et al. [2],
física e mental do atleta contribuem para melhora ela contribui na investigação de padrões posturais
do desempenho esportivo, qualidade dos gestos nos diferentes esportes, sobretudo na adolescên-
26 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

cia, bem como traçar o perfil e as características Critério de inclusão e exclusão


do aparelho locomotor. Na visão de Signoreti e
Parolina [7], Kendal et al. [8], Magge [9], Vilas Como critério de inclusão adotou-se ser atleta
Boas e Rosa [10] ter boa postura e equilíbrio da equipe por um período mínimo de seis meses
muscular leva a um bom alinhamento postural e estar participando dos treinamentos durante os
e se baseiam em um equilíbrio entre a força da três anos de estudo. Já como critério de exclusão
gravidade, suporte corpóreo e a contração mus- adotou-se não ter nenhuma indicação médica de
cular, na qual o mínimo de estresse é causado nas problemas de saúde, musculoesqueléticos (lesões,
articulações, porque quando ele deixa de existir entorses, contraturas e cirurgias recentes) ou sem
em determinado segmento corporal, os outros treinar durante o período das coletas.
segmentos, numa tentativa de ajustar-se, adotam
uma posição incorreta sobrecarregando o sistema Procedimentos de coleta de dados
musculoesquelético.
Tomando-se como referência estes aponta- Para aquisição das informações referentes aos
mentos, objetivou-se neste estudo de caso: a) mo- atletas, aplicou-se um questionário estruturado
nitorar as alterações posturais por região corporal com perguntas abertas desenvolvido em uma
ocorridas em jovens atletas de alto rendimento no planilha eletrônica do Programa Microsoft Office
período de três anos de treinamento e b) verificar Excel 2010, com informações referentes ao gênero,
quais as alterações mais acometidas. idade (em anos completos), local de nascimento,
diagnóstico médico para saber se estes atletas
possuíam ou já tinham sido diagnosticados com
Material e métodos algum problema de saúde (ex: cirurgia, entorses,
dores musculares, etc.), anos de estudo (AE), anos
Tipo de pesquisa de prática na modalidade (APM), melhor resul-
tado em competições, massa corporal e estatura.
Esta pesquisa caracteriza-se como sendo uma No que se referiu à vestimenta utilizada para
pesquisa descritiva, do tipo estudo de caso, na qual avaliação, as do gênero feminino estavam trajando
o pesquisador esforça-se por uma compreensão bermuda de cotton e top e os do gênero masculino
em profundidade de uma única situação ou fe- shorts esportivo. Com relação aos que tinham
nômeno, sendo considerada de caráter descritivo cabelos compridos, solicitou-se que fossem
exploratório conforme Thomas e Nelson [11]. presos no momento da avaliação, para facilitar
Amostra a observação postural, mais especificamente na
Para coleta de dados, utilizou-se uma amos- região do pescoço.
tra constituída de 14 jovens atletas (7 sexo
feminino e 7 masculino) com idade média de Método PSU
16,4 (± 1,3) anos nas modalidades de atletismo
e voleibol, que treinavam no estado de São Pau- Como instrumento de avaliação, adotou-se o
lo, cinco vezes por semana, em dois períodos, método proposto pela Portland State University
com carga horária de 4 horas/dia, preparação (PSU) [12,13], conforme descrito por Santos et
física (treinamento resistido e funcionais), al. [14], que é um instrumento que usa os sentidos
parte técnica e eram filiados a suas respectivas visuais (observação), dentro de uma perspectiva
federações no estado. subjetiva.
Toda pesquisa foi desenvolvida durante Seu principal objetivo é detectar as simetrias
um período de três anos (2011-2013), sendo as e assimetrias e os possíveis desvios e/ou altera-
avaliações sempre realizadas a cada ano na fase ções posturais entre os segmentos corporais e
pré-competitiva (mês de maio). regiões, em duas posições (posterior e lateral), o
que permite ao avaliador quantificar o Índice de
Correção Postural (ICP) do avaliado em valores
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 27

percentuais (%), obtido por meio de equações estatística descritiva e os valores foram expressos
matemáticas estipuladas pelo escore diagnóstico. em forma de médias e desvios padrão (dp).
Para obtenção do ICP total e por regiões, este mé- Previamente à análise inferencial, os escores
todo adota como critério de avaliação três escalas: de avaliação postural foram testados quanto ao
a) 5 – sem desvio; b) 3 – ligeiro desvio lateral; e pressuposto de normalidade dos resíduos (por
c) 1 – acentuado desvio lateral. visualização dos histogramas), que não foi con-
No que se refere à classificação da postura sistentemente atendido. Sendo assim, realizou-
corporal, este método utiliza como critério de boa -se o teste de Friedman. Ao se observar valor
postura valor ≥ 75% para adolescentes. estatisticamente significativo, compararam-se
os escores entre os anos, par a par, por meio do
Aquisição e análise das imagens teste de Wilcoxon. As análises foram realizadas
para a amostra estratificada por gênero. O nível
No que se referiu à aquisição das imagens, de significância adotado foi de 5%.
utilizou-se uma câmera fotográfica digital Sony
Cyber-Shot Sony 8.1 Mega pixels e um tripé
FT – 361A, que foi posicionada a 3 metros de Resultados
distância do avaliado (atleta) e a uma altura de
1,07 metros do chão. Na Tabela I apresentam-se os valores obtidos
Já com relação à análise das imagens, utiliza- (média e desvio padrão), referentes ao perfil físico
ram-se recursos de computação gráfica do software dos jovens atletas separados por gênero e ano de
Corel Draw6® (2014), que é um software de edição monitoramento.
de imagens, assim como adotou-se a biofotogra- Na Tabela II, comparam-se os valores per-
metria (bios – vida; fotogrametria – aplicação centuais por região e o ICP dos jovens atletas
métrica a imagens fotográficas), que é um recurso por gênero e ano durante o período de monito-
que remete à aplicação métrica em fotogramas de ramento.
registro de movimentos corporais, permitindo Na Tabela III, apresentam-se as alterações
detectar simetrias, assimetrias e os desvios e/ou posturais mais acometidas, por gênero e ano.
alterações posturais entre os segmentos corporais,
assegurando acurácia, confiabilidade e reproduti-
bilidade [15,16]. Discussão

Consentimento da pesquisa Após um período de treinamento e compe-


tições, espera-se que alterações posturais possam
Com relação ao consentimento da pesquisa, surgir nos jovens atletas devido ao aumento da
os atletas assinaram o Termo de Consentimento carga de treinamento que foram aplicados, bem
Livre e Esclarecido (TCLE), mostrando que como das mudanças maturacionais que ocorrem
estavam cientes da pesquisa, assim como os res- nesta fase. Como pode ser observado na Tabela
ponsáveis pela comissão técnica também, pelo II, constatou-se que ocorrem diversas variações
fato dos atletas serem menores de idade. Todo na postura dos atletas de forma significativas,
procedimento tomou como base a resolução es- em ambos os gêneros e anos de monitoramento,
pecífica do Conselho Nacional de Saúde (CNS) identificados pelo ICP, onde a RAQ obteve maior
(Resolução 196/96) [17]. valor e a RMI menor.
Na RAQ, esta classificação está associada aos
Análise estatística diversos tipos de exercícios de fortalecimento
de core, que são aplicados constantemente na
Todos os dados da pesquisa foram analisados preparação física e nos movimentos cíclicos e
com o uso do pacote estatístico SPSS, versão 19.0 acíclicos coordenados entre membros superiores e
(IBM Company, EUA) [18], na qual se adotou a inferiores, o que desenvolve muita força muscular
28 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Tabela I - Perfil físico dos jovens atletas por ano de monitoramento.


Feminino (n = 7) Masculino (n = 7)
Perfil 2011 2012 2013 2011 2012 2013
(dp) (dp) (dp) (dp) (dp) (dp)
Idade 16,6 (1,1) 17,4 (1,0) 18,4 (1,0) 16,3 (1,6) 17,6 (1,4) 18,4 (1,4)
APM 5,1 (3,0) 6,1 (3,0) 7,1 (3,0) 2,4 (1,9) 3,4 (1,9) 4,4 (1,9)
MC (kg) 64,6 (6,7) 64,3 (6,8) 64,0 (5,5) 74,5 (16,2) 76,6 (16,3) 77,1 (13,9)
Estatura (m) 1,74 (0,08) 1,75 (0,08) 1,75 (0,08) 1,78 (0,08) 1,81 (0,07) 1,81 (0,08)
APM – Anos de Pratica na Modalidade; MC – Massa Corporal.

Tabela II - Percentual (%) das regiões corporais e ICP dos jovens atletas por gênero e ano.
Regiões Feminino (n = 7) Masculino (n = 7)
corpo- 2011 2012 2013 2011 2012 2013
rais (dp) (dp) (dp) p (dp) (dp) (dp) p
86,3 (10,0)
RCP 87,4 (9,1) 81,7 (3,9) 79,4 (6,3) 0,12 87,4 (4,3)a 78,3 (6,0)b 0,04
a
RCDL 98,1 (5,0)a 87,6 (6,0)b 92,4 (7,1)a,b 0,02 92,4 (10,5) 86,7 (0,0) 81,0 (7,1) 0,09
RAQ* 98,1 (5,0)a 94,3 (10,5)a 86,7 (7,7)b 0,009 90,5 (6,5) 98,1 (5,0) 90,5 (10,1) 0,19
RMI** 84,3 (5,3) 77,1 (9,5) 75,7 (5,3) 0,07 81,4 (17,7) 75,7 (7,9) 74,3 (7,9) 0,83
ICP 90,9 (2,1)a 85,0 (3,8)b 83,6 (2,4)b 0,006 88,2 (5,9)a 85,1 (2,1)a 79,4 (4,3)b 0,003
Nota: Médias com letras diferentes são estatisticamente diferentes entre si (p<0,05; teste de Wilcoxon par a par)
RCP – Região da Cabeça e do Pescoço; RCDL – Região da Coluna Dorsal e Lombar; RAQ – Região do Abdômen e Qua-
dril; RMI – Região dos Membros Inferiores; ICP – Índice de Correção Postural; *Maior valor; Menor valor **.

Tabela III - Percentual (%) de alterações posturais por gênero e ano.


Feminino (n = 7) Masculino (n = 7)
Alterações
2011 2012 2013 2011 2012 2013
posturais
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
PP 6 (85,7) 7 (100,0) 7 (100,0) 5 (71,4) 5 (71,4) 7 (100,0)
ETD 7 (100,0) 6 (85,7) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0)
ETE** 0 (0,0) 0 (00,0) 0(00,0) 0 (00,0) 0 (00,0) 0 (00,0)
Hipercif 4 (57,1) 6 (85,7) 5 (71,4) 5 (71,4) 6 (85,7) 6 (85,7)
Hiperlor 4 (57,1) 3 (42,9) 3 (42,9) 4 (57,1) 4 (57,1) 4 (57,1)
Hiperext* 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0) 7 (100,0)
PP – Protusão de Pescoço; ETD – Escoliose Torácica Direita; ETE – Escoliose Torácica Esquerda; Hipercif – Hipercifose;
Hiperlor – Hiperlordose; Hiperext - Hiperextensão; * Maior Frequência; ** Menor Frequência.

nesta região e contribui para a manutenção da boa Já na RMI apresenta-se como a de menor valor
postura. Para Domingues-Filho [19], esta região em todos os anos, em ambos os gêneros, porém
é responsável por boa parte dos movimentos, no masculino, notou-se que, no terceiro ano, esta
estabilidade e manutenção da postura por meio região ficou abaixo dos padrões de normalidade,
da coluna vertebral no ser humano, porque o podendo ser considerada como uma situação
conjunto dos músculos abdominais, glúteos, crítica e que merece observação clínica.
isquiotibiais, flexores do quadril e extensores, Quanto às alterações, diversos fatores podem
trazem inúmeros benefícios para a saúde de seu estar interligados. No atletismo, os locais de treino
praticante, principalmente para o equilíbrio pos- e competições serem distintos, calendário de com-
tural e rendimento esportivo. petições, quantidades de movimentos, situação
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 29

de amortecimento na execução de movimentos, em ambos os gêneros e as alterações ficando mais


paradas bruscas, altos impactos em aceleração, evidentes, ou seja, em média -9,0% entre elas, de-
repetidas vezes, curvas da pista e uma força maior monstrando que devido ao aumento do volume,
da perna dominante. Santos et al. [3], quando da intensidade e dos gestos motores unilaterais
avaliaram jovens atletas de atletismo, também nos treinamentos e competições, desequilíbrios
identificaram as mesmas classificações para a RMI. musculares, articulares e alterações posturais,
Já Bastos et al. [2], em seu estudo com jovens foram surgindo o que aponta a necessidade de
atletas de atletismo em diversas provas, acharam uma reprogramação da periodização anual, onde
resultados contrários, mostrando que esta região se deva buscar enfatizar um trabalho com exer-
estava dentro dos padrões de normalidade. cícios compensatórios durante os períodos de
Com relação ao voleibol podem ser explici- treinamentos e após competições.
tados: os locais de treino e competições serem Estes achados nos mostram o quanto a ava-
distintos, calendários de competição e a quan- liação postural é importante e que deve constar
tidade de saltos verticais parados e em desloca- no planejamento da periodização anual de trei-
mento. Nesta modalidade, o principal fator é o namentos, porque com ela se consegue monitorar
salto vertical que exige uma grande demanda da quais regiões corporais estão comprometidas e,
capacidade de geração de força e trabalho da mus- principalmente, os tipos de alterações posturais
culatura envolvida, principalmente do músculo mais comuns, conseguindo-se, assim, definir qual
do quadríceps, o que pode causar desequilíbrios a intervenção de compensação mais apropriada
entre os músculos extensores e flexores, levando para a prevenção destas situações.
à sobrecarga das estruturas musculotendíneas da Verderi [23] quando fala deste assunto orienta
articulação do joelho [20]. exercícios de alongamento e fortalecimento das
Desta forma, percebe-se que ambas às moda- cadeias musculares, por meio de exercícios iso-
lidades contribuem para o aumento de entorses, métricos e isotônicos (concêntrico e excêntrico).
luxações, contraturas e lesões, como qualquer Mattos [24] aponta a musculação terapêutica
outro esporte de pista, campo ou quadra, crian- como sendo uma estratégia de intervenção a ser
do execuções de movimentos que tracionam utilizada, devendo ser direcionada para ações
bruscamente estas regiões anterior e posterior em musculares dinâmicas, com exercícios isométricos
inúmeras situações. para músculos posturais.
Macnicol [21] aponta que estas alterações são Kendall et al. [8] mostram que os exercícios
decorrentes da realização de movimentos rápidos terapêuticos que visam fortalecer músculos fracos
e complexos ao mesmo tempo e, geralmente, tem e alongar músculos contraídos são os principais
suas tarefas dificultadas pela massa corporal devido meios para que o equilíbrio muscular seja res-
à necessidade de velocidade e força, o que faz com taurado.
que o atleta aplique tensões na articulação e oca- Mendonça [25] foca numa intervenção volta-
sione diversas repetições, tensões e/ou até mesmo da para exercícios de alongamento e flexibilidade
cargas consideráveis, o que pode levar ao estado de que visem explorar os limites corporais, utilizando
fadiga, não apenas dos tecidos moles, mas também os mecanismos proprioceptivos para melhora da
das estruturas ósseas do fêmur, da tíbia e da patela. consciência corporal.
Daneshmandi et al. [22] salientam que estudar Souchard [26] salienta para a importância das
o alinhamento dos membros inferiores é de suma auto-posturas baseadas nos exercícios de flexibili-
importância tanto para o esporte como para a dade focando na melhora das cadeias musculares.
saúde, pois diversas pesquisas tem mostrado que Já Kolyniak, Cavalcanti e Aoki [27], quando
ele pode ser considerado como um fator de risco falam do método Pilates, explicam que ele inclui
para prevenção lesões agudas e crônicas. um programa básico de exercícios que fortalecem
Outra informação importante encontrada a musculatura abdominal e paravertebral, bem
nesta Tabela II foi que os valores percentuais por como exercícios de flexibilidade da coluna e para
região foram diminuindo com o passar dos anos, o corpo todo.
30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Com relação à variação dos valores percentuais elho com o passar do tempo. Conforme Peterson
das regiões corporais, de gênero para gênero e ano e Renström [34], Weber e Ware [35] a articulação
para ano, quando comparadas entre si, nota-se do joelho é a que mais sofre lesão constantemente
que no feminino a região de maior valor inicia- em indivíduos que praticam esportes. Bertolini et
-se da RAQ para a RMI e no masculino inicia-se al. [36] explicam que ela tem pouca estabilidade
da RCDL para a RMI. No feminino um detalhe devido a incongruência condilar e recebe muita
importante a ser considerado é que seis atletas sobrecarga, sendo necessário criar uma estabili-
eram do voleibol, já no masculino quatro eram zação adicional para manter a integridade desta
lançadores, o que mostra uma relação do esporte articulação, e Schulz [37] afirma que ela depende
praticado com as alterações posturais. de um equilíbrio excelente entre estabilizadores
Estes achados podem ser explicados pelo fato dinâmicos e estáticos, dos tecidos moles e os
destes jovens atletas estarem em fase de maturação componentes ósseos e cartilagionosos.
biológica final que, segundo Lemos, Santos e Gaya No caso da escoliose (D) o principal fator é a
[28], Fisberg et al. [29], Guedes e Guedes [30], dominância devido à maioria dos gestos motores
Weineck [31] e Galahue e Ozmun [32] é muito serem treinados unilateralmente e utilizados em
comum, pois é nesta fase que se inicia o estágio competição repetidas vezes neste mesmo lado.
de desenvolvimento do treinamento especializa- De acordo com Matos [24] e Verderi [23] esta
do e ocorre à aceleração do crescimento. Isso faz alteração ocorre por haver uma inclinação lateral
com que a postura sofra variações e predisponha da coluna com um componente rotacional de
ao aparecimento de alterações posturais, assim vértebras que é causada pela contratura dos mús-
como ocorrem os períodos críticos, extremamen- culos profundos do tronco. Outra característica
te importantes, não sendo apenas um período desta alteração é que ela surge na maioria das
de rápidas alterações fisiológicas, mas também vezes, durante a fase de aceleração do crescimento
uma fase crítica de transição social e psicológica. vertebral, o que torna crianças e adolescentes mais
Mudanças estas observadas e identificadas em susceptíveis a desenvolvê-las [38].
conversas informais nos treinos, competições e Já no caso da hiperlordose observa-se uma
convívio social com a comissão técnica e com os curvatura na região lombar que está associada a
jovens atletas. uma anteversão da pelve, que possivelmente, foi
Na PP e hipercifose elas estão relacionadas oriunda da prática de exercícios de musculação
com a fase final da adolescência devido à fase de com ênfase nos músculos paravertebrais tais
estado maturacional, fatores emocionais (intros- como, arranque, arremesso, encaixe, puxada e
pecção, vergonha, etc.), assim como associada à pullover que sobrecarregam os eretores da coluna.
postura sentada por longas horas na utilização Um dos métodos utilizados no tratamento
de equipamentos eletrônicos (celulares, horas na dessa alteração são as posturas estáticas de alon-
frente da televisão, computador, jogos, etc.) em gamento, baseadas no alongamento isotônico
média três horas por dia (navegação na internet, excêntrico [39].
e-mails, msn, twitter, facebook, etc.). Informa-
ções estas obtidas pela comissão técnica e pelos
próprios jovens atletas. De acordo com Marques, Conclusão
Hallal e Gonçalves [33], a manutenção prolonga-
da na posição sentada ocasiona o desenvolvimento Observou-se neste estudo de caso que os
de posturas inadequadas e sobrecarrega as estru- jovens atletas possuem uma boa postura em
turas do sistema musculoesquelético. ambos os sexos, e a região corporal que obteve
No genu recurvatum observa-se que existe um maior destaque foi a RAQ e que a de menor foi
desequilíbrio muscular, ou seja, fortalecimento a RMI, sendo a hiperextensão a alteração postural
com encurtamento da musculatura posterior e mais prevalente e a escoliose torácica esquerda a
fraqueza da musculatura anterior, que em nossa menos prevalente durante todo este período de
opinião, podem comprometer a articulação do jo- monitoramento.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 31

Constatou-se que houve variações significati- 6. Veiga PHA, Daher CRM, Morais MFF. Alterações
vas tanto na postura como nas alterações posturais posturais e flexibilidade da cadeia posterior nas
entre os anos, percebendo que monitorar jovens lesões em atletas de futebol de campo. Rev Bras
atletas é uma excelente estratégia de avaliação Ciênc Esporte 2011;33:235-48.
diagnóstica (screening) no contexto esportivo, pois 7. Signoreti MM, Parolina EC. Análise postural
auxilia no processo de entendimento desta fase do em capoeiristas da cidade de São Paulo. Aspectos
desenvolvimento motor. fisiológicos e biomecânicos. Revista da Faculdade
Recomenda-se a organização de uma metodo- de Ciências da Saúde 2009;6:462-470.
logia de exercícios corretivos e preventivos, que 8. Kendal FP, McCreary EK, Provance PG, Rodgers
possam minimizar as alterações posturais durante MM, Romani WA. Músculos provas e funções. 5ª
e, principalmente, nesta fase do desenvolvimento ed. São Paulo: Manole; 2007.
motor, promovendo qualidade de saúde para o 9. Magee D. Avaliação musculoesquelética. 5a.ed.
jovem o atleta. Barueri: Manole; 2005.
10. Vilas Boas LR, Rosa VC. A influência da natação
nos desvios posturais. Batatais; 2005.
Agradecimentos 11. Thomas JR, Nelson JK. Métodos de pesquisa
em atividade física. 3a ed. Porto Alegre: Artmed;
A comissão técnica das equipes e aos atletas 2002. p. 294-26.
pelo respeito, confiança e disponibilidade para 12. Althoff SA, Heyden SM, Robertson D. Back to
realização deste trabalho durante este período the basics - whatever happened to posture? Jour-
de três anos. nal of Physical Education, Recreation & Dance
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RELATO DE CASO

A influência da plataforma vibratória


na melhora do equilíbrio e prevenção
de quedas de uma mulher pós-menopáusica
com osteopenia
The influence of the vibration platform in improving
balance and preventing falls in a postmenopausal
woman with osteopenia

Alexandre de Souza e Silva, D.Sc.*, Ferdinando Tadeu Gomes Moreira**,


Anna Gabriela Silva Vilela Ribeiro**, Fábio Vieira Lacerda, M.Sc.*, Ronaldo Júlio Baganha, M.Sc.*,
Luís Henrique Sales Oliveira, D.Sc.*

*Professor do Centro Universitário de Itajubá (FEPI), **Graduados em Educação Física Centro


Universitário de Itajubá (FEPI)

Resumo
Osteporose e osteopenia são doenças que reduzem idade. Foram realizados testes de equilíbrio funcional
a densidade dos ossos, deixando-os mais propensos a através da Berg Balance Scale (BBS). O protocolo
fraturas. A aplicação de exercícios de equilíbrio estático consistia em uma rotina de treino de 6 semanas, va-
pode melhorar a capacidade funcional e o equilíbrio em riando a intensidade de frequência na plataforma. O
idosos. Além disso, os exercícios melhoram a qualidade resultado observado foi a melhora de equilíbrio após
de vida e previnem quedas. O objetivo deste estudo a intervenção. Conclui-se que a plataforma vibratória
foi analisar a influência da plataforma vibratória na pode colaborar na prevenção de quedas em mulheres
melhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em pós-menopáusicas com osteopenia.
uma mulher pós-menopáusica com osteopenia. Foi Palavras-chave: educação física e treinamento,
recrutada para a pesquisa uma mulher com 84 anos de doenças ósseas metabólicas, equilíbrio postural.

Recebido em 26 de dezembro de 2015; aceito em 30 de dezembro de 2015.


Endereço de correspondência: Alexandre de Souza e Silva, Av. Dr. Antônio Braga Filho, 687 Bairro Varginha
37501-002 Itajubá MG, E-mail: alexprofms@yahoo.com.br, ferdicampos@gmail.com; Ferdinando Tadeu Gomes
Moreira: nellfit.academia@bol.com.br; Anna Gabriela Silva Vilela Ribeiro: annagsvr@hotmail.com; Fábio
Vieira Lacerda: doc_fabio2004@yahoo.com.br; Ronaldo Júlio Baganha: ronaldobaganha@yahoo.com.br; Luís
Henrique Sales Oliveira: lhfisio@yahoo.com.br
34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Abstract recruited to this research. Tests of functional balance


Osteporose and osteopenia are diseases that reduce using the Berg Balance Scale (BBS) were carried out.
the density of bones, making them more prone to The protocol consisted of a 6-week training routine by
fractures. The application of static balance exercises varying degrees of frequency intensity in the platform.
can improve functional capacity and balance in the We observed improvement in balance after interven-
elderly. In addition, exercise improves quality of life tion. We concluded that the vibrating platform can
and prevents falls. The aim of this study was to analyze help to prevent falls in post-menopausal women with
the influence of the vibration platform in improving osteopenia.
balance and preventing falls in a postmenopausal Key-words: physical education and training, bone
woman with osteopenia. An 84-year old woman was diseases, metabolic, postural balance.

Introdução podem impedir o aparecimento de sarcopenia


e osteoporose, podem estimular a produção dos
A população idosa vem aumentando a cada hormônios anabólicos, que promovem o aumento
ano. Esse fenômeno é comum em todo o mundo, da força e da massa muscular, além de melhorar
inclusive no Brasil. Ao envelhecer, o indivíduo está a coordenação neuromuscular [11].
exposto a quedas e, consequentemente, à perda O efeito do exercício na plataforma vibratória
da funcionalidade. Em função disso, é importante pode estimular a formação óssea, pelo fato da
reduzir a perda da massa óssea, diminuindo, as- mesma oferecer uma tensão mecânica ao indi-
sim, os riscos inerentes à idade [1,2]. víduo que fica sobre a superfície oscilante, assim
Osteoporose e osteopenia são diagnosticadas há evidências que esse método contribua para o
pela perda da massa óssea. São doenças crônicas aumento da densidade óssea, força muscular e o
que muitas vezes não possuem sintomas, que equilíbrio em idosos, e poderia ser uma alternativa
podem levar a fraturas, prejudicando o dia-a-dia para aqueles indivíduos que não apresentam con-
do idoso [3]. As mulheres na pós-menopausa dições físicas para suportar exercícios vigorosos e
são acometidas com mais frequência [4-5], pois de resistência [12], sendo a plataforma vibratória
o sistema reprodutor feminino desempenha um menos exaustiva e estressante quando compara-
papel importante na formação e reformulação mos com outros programas de treinamento [13].
do esqueleto [6]. Com a chegada da menopausa, O equilíbrio é um agravante ao risco de
a secreção principalmente do estrógeno diminui quedas em idosos, principalmente aqueles com
e, como consequência, temos uma rápida perda osteoporose devido à regulação e a adaptação do
óssea em decorrência também da falta de vitamina centro de gravidade [14,15]. O ganho de massa
D [7]. Porém, aspectos genéticos, intrínsecos e muscular e o aumento da força reduz a perda
ambientais também influenciam no metabolismo óssea e contribuem para a diminuição dos índices
ósseo, e um dos fatores não farmacológicos que de queda [16,17]. Evidências demonstram os
mais contribuem para a manutenção e desenvol- efeitos dos programas de treinamento de força
vimento ósseo são os exercícios físicos [8]. na melhora da capacidade funcional [5,18,19].
A prática constante de exercício físico de força Um programa de treinamento com a plataforma
e/ou de equilíbrio traz benefícios efetivos para a vibratória pode melhorar a força e o equilíbrio, o
qualidade de vida de mulheres pós-menopausa que reduz os fatores de riscos, no entanto temos
com osteoporose, podendo ser um meio para poucos estudos que analisam os efeitos da plata-
prevenção de quedas [9]. forma vibratória no equilíbrio e na diminuição do
O exercício na plataforma oscilante e vibra- risco de quedas. O objetivo do estudo foi analisar
tória vem sendo utilizado para a prevenção de a influência da plataforma vibratória na melhora
fraturas e osteoporose [10]. O programa de trei- do equilíbrio e na prevenção de quedas em uma
namento, por meio das plataformas vibratórias mulher pós-menopáusica com osteopenia.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 35

Material e métodos métrica metálica da marca Cescorf® (Brasil) [21].


O teste de densitometria óssea foi realizado
Seleção da amostra na Clínica Sul Mineira Tomosul. O estudo den-
sitométrico foi realizado em um densitômetro
Foi recrutada para o estudo, uma pessoa do modelo Dexa-Lunar Expert® (USA). A tecnologia
gênero feminino, pós-menopausa com osteopenia DEXA faz uma varredura do sítio em análise e
na coluna lombar e no fêmur direito. As carac- registra, por meio de um sensor de estado sólido, a
terísticas estão descritas na tabela I. Para iniciar potência do feixe de raios-x com componentes de
o programa, o indivíduo não poderia apresentar duas quilovoltagens, captando a radiação e trans-
trombose aguda, doenças sistêmicas, úlceras, mitindo o valor digital para o computador. Um
prótese articular ou de membro inferior, fino ou sistema algébrico linear soluciona as duas densida-
parafuso, hérnia, discopatia ou espondilose grave, des, tecidos moles e constituintes minerais ósseos
epilepsia, e neoplasia. Deveria estar sedentária no e determina a área em cada ponto da matriz. A
mínimo há 6 meses e apta a participar de um pro- densitometria mineral óssea resulta da integração
grama de treinamento. O programa de 6 semanas do constituinte mineral ósseo, seguida da divisão
foi realizado numa cidade do Sul de Minas Gerais. do valor integrado pela área total [23,24].
O indivíduo assinou o termo de consentimento
que foi lido, esclarecendo todos os riscos e bene- Procedimentos
fícios a que estaria exposto durante a pesquisa. O
projeto nº151 foi aprovado pelo Comitê de Ética A paciente selecionada para a pesquisa passou
e Pesquisa do Centro Universitário de Itajubá - por uma avaliação de equilíbrio funcional no iní-
FEPI e está de acordo com a Resolução nº 196/96 cio e no término da pesquisa por um profissional
do Conselho Nacional de Saúde. de Educação Física. O método aplicado foi o
Berg Balance Scale (BBS), usado para avaliar as
Instrumentos habilidades de equilíbrio. Esse método consiste
em realizar tarefas, posições e movimentos si-
Utilizou-se uma plataforma vibratória da milares ao da vida cotidiana. Cada tarefa possui
marca Nova Plate® (Brasil), medindo 75 x 75 cm uma escala ordinal de cinco alternativas que
[20]. A massa corporal e a estatura foram medidas variam entre 0 a 4 pontos e a pontuação máxima
por uma balança e um estadiômetro da marca que pode ser alcançada é de 5 pontos. A escala é
Filizola® (Brasil), modelo W 300 com classe de usada para analisar o progresso clínico e a eficácia
exatidão ΙΙΙ. O percentual de gordura corporal da intervenção, sendo um teste de fácil e rápida
foi analisado por meio das dobras cutâneas, cole- aplicação [25].
tadas utilizando um compasso científico da marca A composição corporal foi avaliada pelo teste
Cescorf® (Brasil) com pressão constante de 10G/ IMC [26], e para verificar a RCQ utilizou-se a
mm² e precisão de leitura de 0,1 mm [21,22]. Para circunferência da cintura, que foi medida colo-
avaliação antropométrica, foi utilizada uma fita cando uma trena abaixo das últimas costelas e

Tabela I - Características gerais do indivíduo da pesquisa antes e após o programa de treinamento na plataforma
vibratória
Variáveis Pré-teste Pós-teste Diferença %
Idade (anos) 84 84 -
Altura (cm) 150,0 150,0 -
Massa (kg) 65,6 67,4 2,74%
Índice Massa Corporal (IMC) 29,16 29,95 2,70%
Relação Cintura Quadril (RCQ) 0,85 0,81 - 4,70%
Pressão Arterial Sistólica (mmHg) 150 150 -
Pressão Arterial Diastólica (mmHg) 90 90 -
36 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

acima da cicatriz umbilical. Para a medida do ral, IMC, RCQ, idade e o teste de equilíbrio. As
quadril, posicionou-se a trena na área de maior diferenças nos dados antropométricos e no risco
protuberância glútea e dividiu-se a circunferência de queda foram analisadas por percentual.
da cintura pela circunferência do quadril [27].
Foi realizada uma avaliação antropométrica e Resultados
o protocolo utilizado para verificar o percentual
de gordura foi o de Pollock e Jackson, com três Após o treinamento de 6 semanas na plata-
dobras cutâneas (tricipital, supra-íliaca e coxa) forma vibratória, a paciente diminuiu o risco de
[21,22,28]. quedas de 32% para 4%, conforme figura 2. Os
O protocolo de treinamento consistiu em uma valores identificados pela escala de equilíbrio de
rotina de atividades na plataforma vibratória. Nas Berg e o percentual de diferença são apresentados
duas primeiras semanas, durante 5 minutos, a na tabela II. O risco de queda apresentou uma
plataforma vibratória foi colocada na intensidade melhora de 87,5%. A paciente aumentou a massa
de frequência 10 Hz (medida em Hz, a taxa de magra em 5,30% e diminuiu a gordura corporal
repetição das oscilações). A partir do 5° min, em 4,60%. Os resultados das diferenças de per-
aumentou-se a frequência para 20 Hz, até com- centual das características antropométricas estão
pletar 10 minutos. Da terceira até a quarta semana demonstrados na tabela III.
iniciou-se a atividade de plataforma vibratória na
frequência de 15 Hz, por 5 minutos. A partir do 5° Figura 2 - Redução do risco de quedas após 6 semanas
minuto, aumentou-se a frequência para 20 Hz até de programa de treinamento na plataforma vibratória.
completar 10 minutos e depois mais 5 minutos na
frequência 25 Hz. Da quinta até a sexta semana,
iniciou-se a atividade de plataforma vibratória
na frequência 20 Hz, por 5 minutos. A partir
do 5° minuto, aumentou-se a frequência para 25
Hz até completar 10 minutos. Em seguida, ficou
mais 5 minutos na frequência 30 Hz, conforme
figura 1 [20].

Figura 1 - Descrição do protocolo de treinamento.


30

25

20
0á5 min Discussão
15
5á10 min
10 10á15 min

5 O estudo analisou a influência da plataforma


0
1ªe2ª semana 3ªe4ª Semana 5ªe6ª Semana
vibratória na melhora do equilíbrio e na prevenção
de quedas em uma mulher pós-menopáusica com
osteopenia. Observou-se uma diminuição no risco
Análise dos dados de quedas após 6 semanas de treinamento. Os
resultados são semelhantes ao estudo de Teixeira et
O delineamento da pesquisa pretende deter- al. [5], que apresentou, após 18 semanas de treina-
minar a influência da plataforma vibratória na me- mento com exercícios funcionais (propriocepção
lhora do equilíbrio e na prevenção de quedas em e equilíbrio) e fortalecimento do quadríceps,
uma mulher pós-menopáusica com osteopenia. melhora do equilíbrio estático e dinâmico e ganho
Os dados da pesquisa foram analisados quan- de força no músculo do quadríceps. Essa melhora
titativamente, e os resultados das características contribuiu para diminuir o risco de quedas em
antropométricas da voluntária foram calculados mulheres com osteoporose pós-menopausa. O
com a massa corporal, altura, perimetria corpo- estudo de Madureira et al. [29] com 66 mulheres
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 37

Tabela II - Diferença em percentual dos resultados antes e após programa de treinamento na plataforma vibratória
Variável Pré-teste Pós-teste Diferença %
Risco de quedas 32% 4% - 87,5%
Gordura % 34,99 % 33,38% - 4,60%
Gordura (kg) 22,95 kg 22,49 kg - 2,00%
Massa magra (kg) 42,64 kg 44,90 kg 5,30%

Tabela III - Características antropométricas antes e após programa de treinamento na plataforma vibratória
Variável Pré-teste Pós-teste Diferença %
Tórax inspirado (cm) 90 89 -1,11%
Cintura (cm) 89 86 -3,37%
Abdômen (cm) 94 95,5 1,59%
Quadril (cm) 104 105 0,96%
Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo
Braço contraído (cm) 31 31 31,5 31,5 1,61% 1,61%
Antebraço (cm) 24 24 25,5 25,5 6,25% 6,25%
Coxa medial (cm) 48 47 50,5 50,5 5,20% 7,44%
Perna (cm) 36,5 36 37,5 37 2,73% 2,77%

com osteoporose pós-menopausa submetidas a um tidos ao treinamento pela plataforma vibratória.


treinamento de equilíbrio de 12 meses, uma vez Weber-Rajek et al. [11], no seu estudo de
por semana, apresentou efeitos que evidenciaram revisão da literatura sobre os efeitos dos exercí-
melhoras significativas no equilíbrio e mobilidade, cios na plataforma vibratória em indivíduos com
levando a uma redução de quedas e melhorando a osteoporose pós-menopausa, constataram que a
qualidade de vida. Os resultados demonstram os maioria dos artigos selecionados para análise obti-
benefícios que os exercícios de equilíbrio e força veram resultados positivos quanto a esse método,
proporcionam no risco de queda. no entanto, quando esse tipo de treinamento é
O estudo de Gusi, Raimundo e Leal [10] de- comparado com algum tipo de exercício físico,
monstrou que o método de plataforma vibratória, a plataforma vibratória é contestada, já que não
que contemplou 3 sessões por semana durante 8 apresenta marcadores diferenciais de renovação
meses, com 6 séries de 1 minuto, com frequência óssea do que o encontrado em um exercício físico.
de 12,6Hz e 3 cm de amplitude com 60° de flexão Porém sugere-se que treinamentos por esse
de joelho, com 1 minuto de intervalo foi mais meio seja encorajado, já que tem uma característi-
efetivo para melhorar a densidade mineral óssea ca não exaustiva e que não gera tanto estresse para
(DMO) do quadril e equilíbrio quando compa- o organismo em relação aos demais treinamentos
rado com 55 minutos de caminhada e 5 minutos de condição física tradicionais, mesmo com essa
de alongamento pelo mesmo período de treina- sugestão são necessários maiores esclarecimentos,
mento. O estudo de Lai et al. [30] encontrou, para se comprovar que o ganho encontrado é
em um período de 6 meses, realizando exercícios suficiente para melhora constante da qualidade
na plataforma vibratória, com alta frequência e de vida [13].
magnitude, efeitos significativamente positivos Após o treinamento, a paciente também apresen-
para a densidade mineral óssea da coluna lombar tou ganho de massa muscular e reduziu a gordura
em mulheres pós-menopausa. corporal, que alteraram as medidas antropométricas,
No estudo de Bogaerts et al. [13], observou-se aumentando a circunferência dos membros infe-
uma melhora não só da força muscular mas tam- riores e superiores. Batista et al. [20] analisaram os
bém da capacidade cardiorrespiratória em idosos efeitos do treinamento com plataformas vibratórias
que passaram por um período de um ano subme- e observaram a relação da diminuição da gordura
38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

corporal, que se dá pelo gasto calórico gerado pelas 7. Clarke BL, Khosla S. Female reproductive system
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vibratória durante 6 semanas pode melhorar 10. Gusi N, Raimundo A, Leal A. Low-frequency
o equilíbrio e aumentar a força, o que leva à vibratory exercise reduces the risk of bone fracture
diminuição dos riscos de quedas em mulheres more than walking: a randomized controlled trial.
pós-menopáusicas. O programa pode diminuir BMC Musculoskelet Disord 2006;7:92.
a gordura corporal e aumentar a massa muscular. 11. Weber-Rajek M, Mieszkowski J, Niespodzinski B,
Sugerem-se estudos com uma amostra maior e um Ciechanowska K. Whole-body vibration exercise
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REVISÃO

Efeitos da suplementação de fosfato de sódio


em ciclistas de elite
Effects of sodium phosphate supplement in elite of cyclists

Deise Jaqueline Alves Faleiro*, Rodrigo Rodrigues, M.Sc.**

*Nutricionista Esportiva, **Educador Físico

Resumo
Introdução: O uso de recursos ergogênicos tem
sido utilizado na melhoria do desempenho em várias desempenho dos ciclistas foi medido por amostras
modalidades, em especial atletas de endurance. Várias sanguíneas de fosfato sérico, lactato e 2,3-DPG (antes
pesquisas têm sido realizadas com o intuito de inves- e depois das provas) e teste progressivo de tempo de
tigar a eficácia da suplementação de fosfato de sódio. prova (até exaustão voluntária), com medição do VO2
O fosfato de sódio é conhecido por seu importante máximo (através do ergoespirômetro), frequência car-
papel no tamponamento do ácido láctico produzido díaca e índice de esforço percebido (escala de Borg).
em exercícios de endurance, com potencial na melhora Resultados: Foram identificados 1379 estudos nas bases
da fadiga, com consequente melhora do desempenho. de dados utilizadas. Após filtragem por título e resumo
Objetivo: Verificar o efeito da suplementação de fosfato restaram 37 estudos. Destes, 31 foram excluídos por
de sódio sobre o desempenho em atletas de ciclismo não apresentarem os critérios de elegibilidade adota-
por meio de uma revisão de literatura. Métodos: Fo- dos, restando 6 estudos incluídos nesta revisão. Dois
ram incluídos ensaios clínicos randomizados ou não, estudos não observaram benefícios da suplementação
avaliando os efeitos da suplementação de fosfato de ao passo que quatro observaram melhora significativa
sódio como recurso ergogênico sobre o desempenho em consumo de oxigênio, aumento do 2,3-DPG e
de ciclistas treinados. A busca foi realizada utilizando desempenho. Conclusão: Observamos que os resultados
as bases de dados Pubmed, Lilacs, Capes e Scielo. Os encontrados são divergentes devido às diferenças entre
artigos foram identificados entre os meses de janeiro as provas avaliadas, estratégias de suplementação e tipo
e agosto de 2015 e utilizaram-se os seguintes termos: de população estudada.
fosfato, fosfato de sódio, suplementação de fosfato Palavras-chave: fosfato, ciclismo, suplementação,
de sódio, em suas versões em português e inglês. O recursos ergogênicos.

Recebido em 20 de dezembro de 2015; aceito em 29 de dezembro de 2015.


Endereço para correspondência: Deise Jaqueline Alves Faleiro, Rua Dr. Hillebrand, 1084, Rio dos Sinos,
93110-100 São Leopoldo RS, E-mail: deise-faleiro@hotmail.com, rodrigo.esef@gmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 41

Abstract supplementation in their versions in Portuguese and


The use of ergogenic resources have been used to English. The performance of cyclists was measured by
improve performance in various ways, especially endu- blood samples of serum phosphate, lactate and 2.3-
rance athletes. Several studies have been conducted in DPG (before and after the tests) and progressive test
order to investigate the efficacy of sodium phosphate of time (up to voluntary exhaustion), with maximum
supplementation. Sodium phosphate is known for its VO2 measurement (via ergospirometer), heart rate and
important role in buffering the lactic acid produced in perceived exertion index (Borg scale). Results: 1379
endurance exercise, with potential for improvement in studies were identified in databases used. After filtering
fatigue, resulting in improved performance. Objective: by title and abstract remaining 37 studies. Of these,
To investigate the effect of sodium phosphate supple- 31 were excluded for not having adopted the eligibility
mentation on performance in cycling athletes through criteria, leaving six studies included in this review. Two
a literature review. Methods: Randomised controlled studies found no benefit of supplementation while
trials were included or not, evaluating the effects of four showed a significant improvement in oxygen
sodium phosphate supplementation as an ergogenic aid consumption, increased 2.3-DPG and performance.
on the performance of trained cyclists. The study was Conclusion: We observed that our results are different
performed using the Pubmed database, Lilacs, Capes due to differences between the evidence evaluated sup-
and Scielo. Articles were identified between January plementation strategies and type of population studied.
and August 2015 and included the following terms: Key-words: phosphate, cycling, supplementation,
phosphate, sodium phosphate, sodium phosphate ergogenic resources.

Introdução discutida no que se refere ao aumento do desem-


penho por atletas de endurance [8]. O fosfato é
Atualmente a vida agitada, o excesso de treina- um micronutriente essencial, com aproximada-
mentos e a falta de tempo para realizações das re- mente 11-14g de fósforo por kg de massa livre
feições têm sido os principais motivos pelos quais de gordura, armazenada no corpo humano,
atletas de alta performance buscam a utilização 85% localiza-se no sistema esquelético, 14% nos
de recursos ergogênicos com intuito de melhorar compostos orgânicos do tecido e 1% no sangue
seu desempenho, já que não conseguem ingerir e fluídos corporais [9]. A recomendação diária
uma alimentação adequada às suas necessidades mínima de fosfato em adultos é de 700 mg/dia,
diárias [1-3]. Segundo Bernstein et al. [2], recurso porém o consumo mundial de fósforo está em
ergogênico pode ser considerado como qualquer torno de 1.000 mg/dia. Encontramos fosfato
forma de melhora/utilização da energia/desem- em carnes vermelhas, aves, peixe, ovos e lácteos
penho. O termo “ergogênico” deriva do grego (apresentam uma melhor absorção), bem como
“ergon” e “genes”, que significam “trabalho” e em cereais, grãos, nozes, legumes [10]. Em torno
“produção/criação de”, respectivamente. de 60-70% do fosfato ingerido é absorvido no
Dentre os recursos ergogênicos utilizados na intestino delgado [9].
melhora do desempenho, principalmente em A suplementação de fosfato, principalmente o
atividades aeróbicas, estão os suplementos ali- de sódio, tem sido bastante discutida no sentido
mentares: cafeína, DMAA, carnitina, arginina, de potencializar o desempenho em atletas de
B-alanina, taurina, bicarbonato de sódio, citrato, provas de longa duração por ser uma substância
lactato, cloreto de sódio, bem como a classe dos tampão do ácido láctico, produzido durante o
fosfatos (fosfato de sódio, fosfato de potássio e esforço físico, promovendo maior capacidade de
creatina fosfato) [1,3-7]. Atualmente, observa- resistência à fadiga, bem como gerando alterações
mos que os atletas de endurance são uma classe do metabolismo energético ou das respostas do
que faz grande uso de suplementos nutricionais, sistema nervoso central [8], melhorando assim a
utilizando-se ainda de técnicas para aumento de capacidade aeróbica tendo em vista o aumento
desempenho [1]. causado na captação de oxigênio [3,11-13], ge-
Dentre os tipos de suplementos nutricionais, rando benefícios em provas de caráter aeróbio [4].
a suplementação de fosfato tem sido bastante Nesta perspectiva, pelo fato de ciclistas de longa
42 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

duração realizarem atividades de alta intensidade, agosto de 2015 e utilizados os seguintes termos:
a produção de energia por glicólise anaeróbica é fosfato, fosfato de sódio, suplementação de
acompanhada por um aumento da acidez intra- fosfato de sódio, em suas versões em português
muscular, contribuindo para a fadiga, motivo pelo e inglês. Foram considerados os artigos escritos
qual atletas têm utilizado cada vez mais recursos nas línguas inglesa e portuguesa, publicados nos
ergogênicos como fosfato de sódio, bicarbonato últimos quinze anos como fonte primária de
de sódio, citrato de sódio e creatina fosfato, redu- pesquisa, bem como livros e capítulos de livros
zindo a acidez e retardando a fadiga [14]. para referencial teórico.
Embora alguns estudos encontrem melhora
no desempenho decorrente da suplementação de Resultados
fosfato de sódio, os resultados são controversos,
podendo ser justificados pelas diferenças entre as Foram identificados 1379 estudos nas bases de
provas avaliadas, quantidades fornecidas e tipo de dados utilizadas. Após filtragem por título e resu-
população estudada [8]. Assim, o objetivo desta mo, foram excluídos 1342, restando 37 estudos.
revisão é verificar o efeito da suplementação de Destes, 30 foram excluídos por não apresentarem
fosfato de sódio sobre o desempenho em atletas os critérios de elegibilidade adotados, restando
de ciclismo. 7 estudos incluídos nesta revisão. Ao avaliar os
estudos, mais um estudo acabou sendo excluído
por ausência de informações quanto ao tipo de
Material e métodos avaliação, totalizando 5 estudos incluídos. Quan-
to aos resultados, dois estudos não observaram
benefícios da suplementação [6,7], no entanto
Critérios de elegibilidade três observaram melhora significativa nas variáveis
consumo de oxigênio [3,4,13], aumento do 2,3-
Foram incluídos ensaios clínicos randomiza- DPG e desempenho [4,13] (Tabela I).
dos ou não, avaliando os efeitos da suplementação
de fosfato de sódio como recurso ergogênico Discussão
sobre o desempenho de ciclistas treinados. Fo-
ram excluídos estudos com animais, e que não Suplementação de fosfato de sódio e desempenho
atendessem os critérios de inclusão previamente em ciclismo
determinados.
A suplementação dos estudos incluídos O fosfato de sódio tem sido relatado como um
não tinha limite de tempo de ingestão antes da suplemento nutricional capaz de proporcionar
prova, nem doses pré-determinadas (geralmente benefícios significativos no desempenho de atletas
eram fracionados em 4 doses diárias, com inter- [6,7]. Segundo Czuba et al. [3], sais de fosfato
valo de 4 horas, com doses que variavam de 25 em formas inorgânicas e orgânicas têm papel
mg/kg a 75 mg/kg, por 6 dias ou 3-4g/dia, por fundamental no metabolismo humano, no que
3-6 dias). se refere ao desempenho no esporte.
O desempenho dos ciclistas foi medido As principais alterações que ocorrem com a
por amostras sanguíneas de fosfato sérico, lactato suplementação de fosfato de sódio são: aumento
e 2,3 DPG (antes e depois das provas) e teste da capacidade aeróbica, da potência de pico, do
progressivo de tempo de prova (até exaustão vo- limiar anaeróbico, melhora do miocárdio e das
luntária), com medição do VO2 máximo (através respostas cardiovasculares ao exercício, desem-
do ergoespirômetro), frequência cardíaca, e índice penho de resistência e maior síntese de ATP [8].
de esforço percebido (escala de Borg). Buck et al. [7], em um estudo randomizado,
A busca foi realizada utilizando as bases de duplo cego, analisou a suplementação de 25 mg,
dados Pubmed, Lilacs, Capes e Scielo. Os artigos 50 mg e 75 mg/kg de fosfato de sódio, bem como
foram identificados entre os meses de janeiro e placebo, em 13 ciclistas do sexo feminino, por 6
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 43

Tabela I - Caracterização dos estudos incluídos.


Estudo Amostra Tipo de avalia- Suplementação Resultados
ção
Folland 6 ciclistas – M Teste contra- 1g/4x/dia por 6 dias
Melhorou o desempe-
et al. [4] Idade: 23 ± 4 anos -relógio de 16,1 Placebo (lactose)
nho (tempo e potência
Experiência: 8±4 anos km. Medidas de durante o teste). Melhora
Treinamento: 6.44km FC; potência e captação de O2 em
(4 milhas) e 14.48 km lactato 6-12%
(9 milhas) Sem diferença na FC e
lactato.
Czuba 19 ciclistas – M Amostras de 50 mg/kg (6 dias) + Melhorou o VO2máx.,
et al. [3] Idade: 25 ± 1,29 anos sangue e Teste de 3 semanas de 25 mg/ reduziu a FC. Sem dife-
Experiência:> 5 anos consumo máximo kg (divididas em 4 rença em lactato.
Treinamento: teste de oxigênio porções).
bicicleta ergométrica Placebo (2g/
35-40 min glicose/4x/dia)
Brewer 09 ciclistas – M Teste de esforço 50mg/Kg por 6 dias Possível efeito aditivo
et al. [13] Idade: 32.6 ± 7.4 anos progressivo Placebo sobre o VO2 pico e
Experiência: 6,9 ± 3,8 possivelmente sobre o
anos desempenho.
Treinamento: (testes de
55,3-56,5 min)
Brewer 21 ciclistas – M 50 mg/kg dividida em Não melhorou o desem-
et al. [6] 4 doses por 6 dias penho.
Placebo (glicose + sal
na proporção de 9/1)
Buck 13 ciclistas – F Teste de consu- 4 doses/dia por 6 dias Não encontrou benefí-
et al. [7] Idade: 25.5 ± 4.4 anos mo máximo de 25 mg/kg/ cios
Treinamento: (3,6 h ± oxigênio 50 mg/kg/
2,1 por semana) 75 mg/kg/
Placebo
VO2 = volume de oxigênio; DPG = bisfosfoglicerato; M = masculino; FC = frequência cardíaca; F = feminino.

dias, com 4 doses diárias, com treino realizado em possibilitar um melhor efeito ergogênico sobre o
bicicleta ergométrica. Foram coletadas amostras desempenho de resistência.
de sangue de fosfato sérico (antes e depois de cada Folland et al. [4], em um estudo randomizado,
carreamento). Não houve diferenças significativas duplo-cego cruzado, analisaram a relação entre a
no tempo de desempenho e potência de pico. carga de fosfato de sódio e o aumento máximo
Notou-se que quatro participantes registraram na captação de oxigênio (desempenho com resis-
seu maior desempenho de tempo e potência de tência), em 6 ciclistas treinados masculinos (um
pico, após suplementação de fosfato de sódio de ciclista desistiu por problemas gastrointestinais).
50 mg/kg. Acredita-se que os resultados divergem Havia um grupo experimental (suplementação
de outros estudos, tendo em vista diferenças entre de 1 g de fosfato de sódio) e um placebo (lacto-
o metabolismo de homens e mulheres, tais como: se), administrado com 300 ml de fluído. Foram
afinidade de oxigênio, concentrações hormonais e suplementados por 6 dias, com 4 doses diárias,
funções cardíacas. Possivelmente seria necessária antes de efetuar 16,1 km (10 milhas) em ciclismo
uma dose mais elevada para mulheres, a fim de no laboratório. Foram coletados amostras de ar
44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

expirado e sangue capilar. A suplementação de afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, facilitan-


fosfato de sódio melhorou o desempenho de do a liberação de oxigênio para o tecido muscular
ciclistas treinados, com aumentos funcionais no durante o exercício; 2) melhora na eficiência do
consumo de oxigênio. Neste estudo, considerou- miocárdio; 3) melhora na capacidade do tampo-
-se o fosfato de sódio como um ótimo recurso namento e síntese de ATP [15,8]; 4) aumento do
ergogênico, capaz de melhorar a captação de débito cardíaco em repouso e durante o exercício;
oxigênio de 6-12%. 5) redução da frequência cardíaca de exercício de
De acordo com Czuba et al. [3], embora os resistência contínua [3]; 6) melhora na capacidade
estudos sejam inconclusivos, existe a ideia de da síntese de ATP.
que a suplementação de fosfato de sódio pode Esta revisão de literatura foi realizada com
melhorar a capacidade funcional do sistema de o intuito de auxiliar profissionais esportivos à
energia aeróbica, indicando que a melhora no prescrição de suplementação de fosfato de sódio
metabolismo aeróbico é causada por um au- na melhoria da performance de ciclistas de elite,
mento de 2,3-DPG, no eritrócito, que diminui comparando vários exemplos de dosagens e pos-
a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, o síveis efeitos colaterais. Entretanto, a variedade
que facilita a liberação de oxigênio para o tecido de protocolos de carreamento de fosfato de só-
muscular durante o exercício. Neste estudo sobre dio utilizados, tornam os estudos conflitantes e
os efeitos da suplementação de fosfato de sódio controversos, necessitando a realização de novos
em ciclistas de elite, os pesquisadores avaliaram estudos.
os efeitos de carga de fosfato em curto prazo (6
dias), bem como a longo prazo (21 dias), na ca- Aplicações práticas
pacidade aeróbica de ciclistas. Foram selecionados
19 ciclistas treinados, divididos aleatoriamente, Analisando os estudos sobre os efeitos da
em grupo suplementação, que recebeu 6 dias de suplementação de fosfato de sódio em ciclistas
suplementação com doses de 50 mg/kg/dia, mais de elite, observa-se que existe um consenso com
3 semanas de 25 mg/kg/dia, divididos em 4 doses o que habitualmente é recomendado na prática
e o grupo controle/placebo, recebeu 2g de glicose, clínica.
4 doses por dia. As discrepâncias podem se dar Referindo-se às dosagens geralmente utiliza-
pelas individualidades biológicas. Segundo Cade das, observa-se dosagens por volta de 50 mg/kg,
et al. [11], a ingestão de fosfato de sódio reduz por 6 dias, geralmente fracionadas em 4 doses
a concentração de lactato durante o exercício de diárias, com intervalo de 4 horas, apresentando-se
intensidade submáxima. como recomendação mais segura, evitando-se efei-
Brewer et al. [6] analisaram 19 ciclistas mascu- tos colaterais, como os gastrointestinais (diarréias
linos, de competição, em um estudo duplo-cego, e constipação).
em que foram suplementados ao longo de 3 O uso prolongado de fosfato de sódio pode
meses, e cada fase envolveu seis dias de suplemen- desregular o equilíbrio eletrolítico, devendo ser
tação de fosfato de sódio ou placebo, em quatro evitado em indivíduos com problemas renais, bem
doses diárias. Não houve alterações na frequência como pessoas propensas a cálculo renal.
cardíaca, nem no lactato sanguíneo. Os autores
acreditam que a suplementação de fosfato de sódio
deve ser testada em ciclistas que executem provas Conclusão
com mais de 30 minutos de duração, para verificar
se a suplementação pode ter resultado benéfico. A partir do nosso estudo, observamos que
As principais justificativas sobre o efeito bené- os resultados sobre a suplementação de fosfato
fico da suplementação de fosfato de sódio sobre de sódio e o desempenho em ciclistas são confli-
o desempenho de ciclistas estão no fato desta tantes, possivelmente pela falta de padronização
estratégia causar: 1) aumento das concentrações dos estudos, como por exemplo: tipo de exer-
de 2,3 – DPG (bisfosfoglicerato), que diminui a cício realizado, intensidade do exercício, sexo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 45

dos participantes, tempo de administração da cycling time trial performance and VO2 1 and 8
suplementação, dosagem/tipo do suplemento days post loading. J Sports Sci Med 2014;13:529-
administrado, controle da ingestão dietética, 34.
variações biológicas, duração do período de 7. Buck CL, Dawson B, Guelfi KJ, McNaughton L,
carga, nível de aptidão dos indivíduos incluídos Wallman KE. Sodium phosphate supplementation
na pesquisa, clima, técnicas de coleta de sangue and time trial performance in female cyclists. J
e parâmetros gerais de avaliação. Assim, estudos Sports Sci Med 2014;13:469-75.
futuros devem atentar a estas informações e 8. Buck CL, Wallman KE, Dawson B, Guelfi KJ.
cuidados para a reprodutibilidade dos resultados Sodium phosphate as an ergogenic AID. Sports
no contexto científico e de desempenho nesta Med 2013;43:425-35.
modalidade esportiva. 9. Kreider RB. Phosphate supplementation in exer-
cise and sport. In: Driskell JA, Wolinsky I, eds.
Macroelements, water and electrolytes in sport
Referências nutrition. Boca Raton: Nutrition in Exercise &
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Exerc 2001; 33(10):1667-73. Lunne D. Effects of phosphate loading on 2-3-di-
2. Bernstein A, Safirstein J, Rosen JE. Athletic ergo- phosphoglycerate and maximal oxygen uptake.
genic AID. Bulletion/Hospital for Joint Diseases Med Sci Sports Exerc 1984;16:263-68.
2003;61(3):164-71. 12. Stewart I, McNaughton L, Davies P, Tristram S.
3. Czuba M, Zajac A, Poprzecki S, Cholewa J, Woska Phosphate loading and the effects on VO2max in
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Power and capacity in off Road cyclists. J Sports 4.
Sci Med 2009;8:591-99. 13. Brewer CP, Wallman KE, Guelfi KJ. Effect of
4. Folland J, Stern R, Brickley G. Sodium phosphate repeated sodium phosphate loading on cycling
loading improves laboratory cycling time-trial time-trial performance and VO2 peak. Int J Sport
performance in trained cyclists. J Sci Med Sport Nutr Exerc Metab 2013;23:187-94.
2008;11:464-68. 14. Van Montfort MCE, Van Dieren, Hopkins WG,
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6. Brewer CP, Dawson B, Wallman KE, Guelfi KJ. Thompson CH. The effect of phosphate loading
Effect of sodium phosphate supplementation on on erythrocyte 2,3-biophosphoglycerate levels.
Clin Chim Acta 2002;323:111-4.
REVISÃO

Treinamento resistido aplicado ao processo


de emagrecimento
Resistance training focusing on weight loss

Bruno Macedo de Andrade*, Carolina Francci de Alencar*, Paulo Costa Amaral**,


Henrique Stelzer Nogueira***, Leonardo Emmanuel Medeiros Lima**

*Discente do curso de Educação Física da Universidade Anhembi Morumbi (UAM) São Paulo/
SP, **Docente do curso de Educação Física e Membro do Grupo de Pesquisa em Esportes e Atividade Física
da Universidade Anhembi Morumbi (UAM). São Paulo/SP, ***Docente em cursos de pós-graduação
(FMU, Estácio de Sá, UNIFAE e USCS)

Resumo
A obesidade é um problema mundial que atinge as
pessoas de todas as idades, raças e gêneros em diversos no período de 2011 a 2016. Sendo selecionados para
países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A Organi- esta revisão 9 artigos. Após análise, concluiu-se que
zação Mundial da Saúde estima que em 2025 aproxi- o treinamento resistido junto a outros fatores tem
madamente 2,3 bilhões de pessoas serão classificadas papel significativo para o emagrecimento, contudo,
como pré-obesos e mais de 700 milhões serão obesos, para maior abrangência do assunto, faz-se necessário
estes valores representarão cerca de 10% da população ampliar os estudos para identificar a aplicação do
lutando contra a obesidade. Uma das formas de com- treinamento resistido no processo de emagrecimento
batê-la é por meio da prática regular de atividade física, e para verificar, também, qual a melhor estratégia em
incluindo o treinamento resistido, a fim de promover relação à intensidade e ao volume das sessões para a
a perda de peso. A busca foi realizada na base de dados redução de gordura corporal.
PubMed (Public Medline or Publisher Medline) e foram Palavras-chave: treinamento de resistência, perda de
selecionados para análise apenas trabalhos publicados peso, consumo de oxigênio.

Recebido em 23 de janeiro de 2017; aceito em 31 de março de 2017.


Endereço para correspondência: Leonardo Emmanuel Medeiros Lima, Universidade Anhembi Morumbi, Rua
Dr. Almeida Lima, 1.134, 03164-000 São Paulo SP, E-mail: leonardolimadocente@gmail.com; Bruno Macedo
de Andrade: brunob1bruno@gmail.com; Carolina Francci de Alencar: carolfrancci@gmail.com; Paulo Costa
Amaral: paulocamaral@anhembimorumbi.edu.br; Henrique Stelzer Nogueira: stelzer.h@hotmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 47

Abstract Publisher Medline) and we selected for analysis only


Obesity is a worldwide problem that affects all studies from 2011 to 2016, but we used only 9 in
age group, races and gender in developed and under- this literature review. After analysis, we concluded
-developed countries. The World Health Organization that resistance training together with other factors is
estimates that in 2025 approximately 2.3 billion people important for loss weight, however, more studies are
will be categorized as pre-obese and more than 700 needed to identify the resistance training techniques
million as obese, which means approximately 10% of in weight loss process and also to verify which is the
population in the fight against obesity. One of the ways best strategy in relation to intensity of workouts and
to combat obesity is regular practice of physical activity, volume of sessions to reduce body fat.
including resistance training, aiming loss weight. The Key-words: resistance training, weight loss, oxygen
search was carried out in PubMed (Public Medline or consumption.

Introdução dratos refinados e gorduras de origem animal [9].


Aliado a isso, também houve mudanças signifi-
Segundo a Organização Mundial da Saúde cativas na relação do indivíduo com a prática de
[1], saúde não é apenas a ausência de doenças, exercícios físicos, já que o seu estilo de vida passou
mas sim o estado de completo bem-estar físico, a ter características cada vez mais sedentárias em
mental e social. decorrer da mecanização da maioria das atividades
Nos últimos anos, houve o grande crescimento diárias [10].
de uma doença que atinge pessoas de todas as De uma forma geral, as pessoas passaram a se
idades, raças e gêneros tanto em países desenvol- movimentar cada vez menos e consumir cada vez
vidos como em subdesenvolvidos, a obesidade mais, elevando a taxa de obesidade a um ponto
[2], que é o acúmulo excessivo de tecido adiposo que se tornou uma ameaça à Saúde Pública [11].
trazendo prejuízos à saúde do indivíduo [3]. Ela Neste sentido, é importante a conscientização
é considerada uma doença multifatorial, crônica da população em relação a manter hábitos ali-
e não transmissível [4] e está relacionada com mentares saudáveis e prática regular de exercícios
diversas doenças como osteoartrite, hipertensão, físicos [11]. Para os indivíduos que já enfrentam a
aumento dos níveis de colesterol e de outras doença, é necessário que ocorra o emagrecimento,
gorduras do sangue, diabetes melitus, doenças ou seja, a redução da massa gorda através de um
cardíacas, alguns tipos de câncer e aumento de balanço energético negativo, uma das formas
morte prematura [5], além de contribuir para de se alcançar o déficit calórico é controlando
problemas emocionais como baixa autoestima, fatores ambientais, como a ingestão energética
isolamento social e depressão [6]. e a realização de exercícios físicos, gerando um
Atualmente, o método mais utilizado para a maior dispêndio energético diário e mobilização
identificação da obesidade é o Indice de Massa do tecido adiposo [12].
Corporal (IMC), no qual se enquadram como O treinamento resistido é uma forma de auxi-
pré-obesos indivíduos com IMC de 25 a 29,9 liar no combate a obesidade, visto que por meio da
kg/m² e obesos, indivíduos com IMC igual ou sua prática irá ocorrer maior dispêndio energético
superior a 30 kg/m² [7]. Estima-se que em 2025 diário, promovendo benefícios no processo de
cerca de 2,3 bilhões de adultos serão classificados emagrecimento [13]. O treinamento resistido
com pré-obesidade e mais de 700 milhões serão consiste na prática de exercícios organizados de
obesos. Este valor representa cerca de 10% da forma sistemática com o objetivo de preparar e
população lutando contra a obesidade [8]. O disciplinar o corpo a se mover adequadamente
aumento de pessoas obesas ou com pré-obesidade contra uma força de resistência [14].
pode ser justificado devido às mudanças ocorridas De acordo com o American College of Sports
no último século. Com o crescimento da indústria Medicine [15], o treinamento resistido é reco-
alimentícia, a dieta da população em geral passou mendado para a redução e manutenção do peso
a ser composta predominantemente por carboi- corporal. Segundo Campos [16], o treinamento
48 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

resistido promove o aumento do gasto calórico de publicação; b) protocolos de intervenção; c)


no momento da atividade, o aumento de massa período de duração da sessão de treinamento; d)
muscular, a diminuição do percentual de gordura resultados.
e o aumento nos níveis de excesso de consumo de
oxigênio pós-exercício (EPOC).
Para Melby [17], o EPOC eleva a taxa meta- Resultados
bólica basal após a sessão de treinamento, o que
favorece o emagrecimento e, consequentemente, De acordo com os artigos selecionados para
o controle de obesidade. Devido às características esta revisão, as características dos estudos estão
do treino resistido, o processo de recuperação pós- descritas no Quadro 1.
-treino gera um maior impacto sobre o EPOC em Foram encontrados três artigos relacionados
decorrer da restauração do estoque de oxigênio ao tema que foram publicados no ano de 2012,
sanguíneo e muscular e de fosfocreatina. dois em 2013, dois em 2015, um em 2014 e um
Além disso, o reparo tecidual, aumento da em 2016.
temperatura e da frequência cardíaca e a remoção Dentre os protocolos utilizados nos estudos
do lactato também são fatores que contribuem encontrados, quatro compararam os efeitos do
para um maior efeito EPOC, aumentando o treinamento resistido versus treinamento aeró-
metabolismo de lipídeos em repouso e sua oxi- bio no processo de emagrecimento, três estudos
dação [18,19]. intervieram com restrição calórica, além do trei-
Neste sentido, o objetivo deste estudo é uma namento resistido, um estudo interveio com a
revisão de literatura sobre o papel do treinamento administração de chá verde junto ao treinamento
resistido no processo de emagrecimento. resistido e um estudo interveio apenas com o
treinamento resistido.
Com relação ao tempo de duração de inter-
Material e métodos venção, três artigos utilizaram o tempo de três
meses, dois para um mês, dois para cinco meses,
Esta pesquisa se caracteriza por ser uma revisão um estudo com duração de meses e outro com
de literatura, com base em artigos científicos sobre oito meses.
o treinamento resistido para o emagrecimento. Dentre os resultados encontrados nos estudos,
A busca foi realizada na base de dados PubMed sete apresentaram resultados positivos ao utilizar
(Public Medline or Publisher Medline), encerrada o treinamento resistido no processo de emagreci-
no dia 08/10/2016, foram selecionados para mento, um estudo não encontrou mudanças sig-
análise apenas trabalhos publicados no período nificativas com a aplicação isolada do treinamento
de 2011 a 2016. Foram considerados para esta resistido e um estudo não encontrou resultados
revisão apenas os artigos de ensaios clínicos dis- significativos no período de intervenção com
poníveis na íntegra e foram descartados os artigos treinamento resistido ou treinamento aeróbio.
de revisão bibliográfica.
Foram utilizados os descritores: “treinamento
de resistência” e “perda de peso”, seus equivalentes
em inglês “resistance training” e “weight loss”. O
operador lógico “and” foi usado para combinar
os termos. E foi utilizado como critério de in-
clusão palavras chaves que constassem no título
ou resumo.
Na pesquisa inicial, foram identificados 32
artigos. Após análise do título e dos resumos,
foram selecionados para esta revisão 9 artigos.
Foram analisados os seguintes itens: a) ano
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 49

Quadro 1 - Análise dos artigos.


Duração
Protocolos de interven- da sessão
Autores-Ano Participantes Resultados
ção de treina-
mento
Perda de massa corporal
(74% massa gorda e 26%
24 homens e Separados em dois gru-
massa magra) no grupo
mulheres com pos: treinamento resistido
RT+CR e nenhuma mudan-
idade entre 65 (RT) e treinamento resistido
Chmelo et al. ça significativa no grupo na
e 79 anos não + restrição calórica (RT 5 meses
2016 [20]. composição corporal do
praticantes de + CR). Foram realizados
grupo RT. Após 18 meses de
musculação e 3 treinos por semana
intervenção, as mudanças do
obesos. utilizando 70% 1RM.
grupo RT+CR foram perdi-
das.
Separados em 3 grupos: Redução de dobras antro-
treinamento aeróbio (AT), pométricas e melhora na
33 homens e
treinamento resistido (RT) capacidade funcional e
Herring et al. mulheres obesos
e controle (CON). Foram 3 meses psicológica nos grupos AT e
2014 [21]. com idade entre
realizados 3 treinos por RT. Comparando os resulta-
24 e 68 anos.
semana com intensidade dos de AT e RT, não houve
moderada. diferenças significativas.
126 homens e Separados em dois gru-
mulheres com pos: treinamento resistido Apenas RT+CR reduziu a
idade entre 65 (RT) e treinamento resistido massa total e teve perda de
Nicklas et al.,
e 79 anos não + restrição calórica (RT 5 meses massa magra. Ambos os gru-
2015 [22].
praticantes de + CR). Foram realizados pos reduziram massa gorda e
musculação e 3 treinos por semana percentual de gordura.
obesos. utilizando 70% 1RM.
Redução de massa corporal
ao termino das 4 semanas,
Foram realizadas 2 sema-
sendo maior na fase de ER.
20 homens com nas de restrição energética
Redução de gordura em
Murphy et al., idade entre 60 (ER) seguidas por 2 sema-
1 mês ambas as fases sem diferença
2015 [23]. e 75 anos e nas de restrição energética
significativa entre elas. Redu-
obesos. + treinamento resistido
ção de massa magra durante
(ER+RT).
a fase ER e manutenção dos
valores durante ER+RT
Foram divididas em 3 gru-
Não houve mudanças
pos: treinamento em pla-
significativas na composição
28 mulheres taforma vibratória (WBV),
corporal em nenhum grupo,
Tapp; Signori- sedentárias com treinamento resistido em
2 meses porém uma pequena redução
le, 2013 [24] idade entre 48 e circuito (RT) e treinamen-
no percentual de gordura
65 anos. to aeróbio (AT). Foram
foi observada no grupo AT
realizadas 3 sessões por
seguida por RT.
semana.
50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Quadro 1 - Análise dos artigos (continuação).


Duração
Protocolos de interven- da sessão
Autores-Ano Participantes Resultados
ção de treina-
mento
Foram divididos em dois
grupos: RT e controle (C). Redução significativa de
36 homens O grupo RT realizou 3 massa gorda e aumento de
Roberts et al.,
obesos com idade sessões por semana de 3 meses. massa magra no grupo RT,
2013 [25].
média de 22 anos treino resistido em alta além de melhora no perfil
intensidade com duração hormonal.
de 60 minutos.
Redução da taxa metabólica
de repouso (RMR), perda
de peso e manutenção da
massa magra no grupo 1 e
Foram divididas em 4
Cardoso et 36 mulheres com nenhuma mudança signifi-
grupos: 1: chá verde; 2:
al., 2012 sobrepeso ou 1 mês. cativa no grupo 2. Aumento
placebo; 3: chá verde +
[26]. obesas significativo da RMR, redução
RT; 4: placebo + RT.
de massa gorda e aumento
de massa magra e força
muscular no grupo 3 quando
comparado ao grupo 4.
AT e AT+RT apresentaram
maior redução de massa
corporal total e massa gorda
119 adultos sem apresentar diferenças en-
Willis et al., sedentários com Foram divididos em 3 tre eles quando comparados
8 meses.
2012 [27]. sobrepeso ou grupos:  RT, AT e AT+RT. ao RT. AT+RT e RT tiveram
obesos um maior aumento de massa
magra que AT. Maior redução
na circunferência da cintura
em AT+RT do que AT ou RT.
Foram divididos em: Gru-
po 1 Controle; Grupo 2
aeróbico; Grupo 3 treina-
97 homens e  O grupo 4 apresentou
mentos resistência; Grupo
mulheres sedentá- melhores resultados para a
4 aeróbico e treinamento
Ho et al., rios, com sobre- perda de peso, perda de gor-
resistido. Os grupos que 3 meses.
2012 [28]. peso ou obesos e dura e aptidão cardiorrespi-
receberam intervenção
idade entre 40 e ratória do que as modalida-
realizaram 5 sessões de
66 anos. des realizadas isoladamente.
treino por semana com
duração de 30 minutos e
intensidade moderada.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 51

Discussão tocondrial, favorecendo o processo de redução


de gordura corporal [31,32].
De acordo com os resultados, o treinamento Roberts et al. [25] relataram mudanças
resistido apresentou resultados satisfatórios na significativas na composição corporal com a
melhora da composição corporal na maioria redução de massa gorda e aumento de mas-
dos estudos encontrados. sa magra em 36 homens obesos com idade
Em seu experimento, Murphy [23] veri- média de 22 anos. Porém, Chmelo et al. [20]
ficou que ao intervir com uma dieta hipoca- não observaram mudanças na composição
lórica, os indivíduos apresentaram redução corporal de idosos ao final de cinco meses de
de massa gorda e magra, porém, ao inserir o intervenção em grupos que realizaram apenas
treinamento resistido em suas rotinas, ocor- treinamento resistido. Apenas o grupo de ido-
reu a manutenção da massa magra e redução sos que também sofreu intervenção na restrição
apenas de massa gorda. Esses dados indicam energética apresentou perda de peso, sendo a
que o treinamento resistido pode ser utilizado maior parte proveniente de massa gorda. Ni-
como estratégia na preservação de massa magra cklas et al. [22], com uma amostra maior de
em indivíduos que buscam o emagrecimento e idosos relatou redução de massa gorda em am-
melhora na composição corporal. bos os grupos, e perda de massa magra apenas
Durante a perda de peso através de restrição no grupo que realizou treinamento resistido e
energética, ocorre a redução de cerca de 20% dieta hipocalórica. Os autores ainda relatam
do metabolismo de repouso [29]. Embora to- que os indivíduos com maior adiposidade
dos os mecanismos que expliquem tal queda inicial apresentaram menor mudança em sua
ainda não estejam esclarecidos, sabe-se que sua composição corporal quando realizaram apenas
redução é proporcional à redução de massa o treinamento resistido. Os presentes dados
magra [30]. Desta forma, correlacionando os reforçam a importância da prática de exercício
dados encontrados nos estudos citados, a ma- físico aliado a uma alimentação saudável como
nutenção da massa magra durante o processo estratégias não farmacológicas no combate à
de emagrecimento interferiria na queda do obesidade.
metabolismo de repouso positivamente, faci- Quando comparada a eficiência entre as
litando o processo de emagrecimento. modalidades anaeróbias e aeróbias, os resul-
Cardoso et al. [26] analisaram a taxa de tados se mostram divergentes. Para Herring et
metabolismo em repouso (TMR) após um al. [21], tanto o treinamento aeróbio como o
mês com sessões de treinamento resistido e treinamento resistido apresentaram resultados
verificaram que seus valores foram maiores em positivos na redução de gordura corporal sem
grupos que praticaram o treinamento resistido. diferenças significativas entre os grupos. O
Embora todos os grupos que receberam algum mesmo resultado foi encontrado nos estudos de
tipo de intervenção apresentaram redução de Tapp e Signorile [30], que, embora discretos,
massa gorda, apenas os grupos que realizaram encontraram melhores resultados na redução
as sessões de treino resistido tiveram um au- de gordura corporal no grupo que realizou
mento da TMR. Isso reforça a ideia de que o exercícios aeróbios, seguido pelo grupo que
treinamento resistido pode atenuar a queda de praticou apenas exercício de resistência. O
massa magra e consequentemente a queda de estudo de Tapp e Signorile [24] foi realizado
TMR em períodos de restrição calórica. em participantes pós-menopáusicas por um
Além disso, o exercício físico induz impac- período de dois meses, talvez um maior tempo
tos agudos, como o gasto calórico e aumento de intervenção seja necessário para se alcançar
do metabolismo após seu término, e crônicos resultados expressivos na composição corporal
na mobilização e oxidação de gordura devido de populações nesse perfil.
ao aumento da atividade da enzima lípase Para Willis et al. [27], os resultados en-
hormônio sensível e aumento da densidade mi- contrados sugerem que quando se visa o
52 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

emagrecimento, tanto o treinamento aeróbio pós-treinamento.


executado de forma isolada como a combinação Para Foureaux et al. [33], apesar de estarem
de treinamento aeróbio com o treinamento bem documentados na literatura os efeitos do
resistido apresentaram resultados semelhantes treinamento intervalado aplicado ao processo
na redução de gordura corporal e somente o do emagrecimento, os metabólicos e a compo-
treinamento resistido isolado ou combinado sição corporal, o gasto energético e a oxidação
com treinamento aeróbio teve efeito positivo de substratos energéticos no período pós-trei-
no ganho de massa magra. Todos os grupos namento ainda não estão bem esclarecidos. Os
tiveram redução no percentual de gordura cor- dados apresentados indicam que o treinamento
poral, mas por mecanismos distintos: treina- intervalado, independentemente do tipo da
mento aeróbio devido à redução de massa gorda pausa e o método de descanso, afeta o EPOC
e treinamento resistido devido ao aumento de na sua fase rápida, em torno de 60 minutos
volume muscular. Comparando a redução na após exercícios. Enquanto estudos indicam
circunferência de cintura, o melhor resultado uma duração média de 90 minutos de EPOC
foi identificado no grupo que fazia o treino após atividade anaeróbia, o treino aeróbio teve
misto. Os autores concluem que o grupo misto apenas 30 minutos de duração [34], ou seja, os
apresentou melhores resultados possivelmente efeitos do EPOC não são determinantes para
devido ao maior volume de treino realizado tal objetivo. Têm sido discrepantes os resulta-
nas sessões quando comparado aos grupos que dos dos diversos estudos sobre o EPOC, sobre
praticaram as modalidades isoladas. Resultados a magnitude e a duração do efeito pós-treino.
semelhantes foram encontrados por Ho et al. Enquanto vários estudos demonstram que o
[28], os quais relataram que a utilização de um EPOC pode permanecer por horas, outros têm
treino misto sendo 15 minutos de exercício concluído que o EPOC é transitivo e mínimo
aeróbio e 15 minutos de exercício resistido para o efeito do emagrecimento [33].
trouxe melhores resultados na perda de peso
e gordura corporal quando comparada as
modalidades executadas isoladamente por 30 Conclusão
minutos. Ambos os estudos foram realizados
em participantes sedentários e obesos e apon- Os resultados do presente estudo apontam
tam que estratégias de treino misto apresentam que a aplicação do treinamento resistido pode
melhores resultados na composição corporal ser benéfica para o controle da obesidade e
desses indivíduos. no processo do emagrecimento. Diante da
Existem dois fatores atribuídos ao exer- relevância do tema, a prática regular de ativi-
cício resistido na produção maior no efeito dade física por meio do treinamento resistido,
EPOC (consumo excessivo de oxigênio após representa uma intervenção benéfica para a
o exercício). O primeiro fator se refere às res- população proporcionando inúmeras vanta-
postas hormonais que alteram o metabolismo, gens e resultados.
cortisol e especificamente as catecolaminas. O Dentre os benefícios para o controle da obe-
segundo fator se refere ao dano tecidual que sidade, o gasto calórico é um deles, seja durante
acompanhado de um estímulo externo para o exercício ou logo após a sessão de treinamen-
gerar a hipertrofia tecidual, durante o exercício to (EPOC) gerando o aumento da oxidação de
físico, a síntese de proteína é diminuída, já no gordura, aumento da massa magra e de força
pós-treino existe um fenômeno compensató- associado a outras metodologias como as dietas
rio que se denomina efeito EPOC, em que a controladas. Contudo, para maior abrangência
proteína parece ser estimulada. Além disso, o do assunto faz-se necessário ampliar os estudos
processo da síntese proteica exige alta demanda para identificar a aplicação do treinamento
energética, e este fator pode contribuir para resistido no processo de emagrecimento e para
uma longa estimulação do gasto energético verificar, também, qual a melhor estratégia em
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 53

relação à intensidade e ao volume das sessões 13. Guedes DP, Guedes ERP. Controle corporal:
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REVISÃO

Influência da hidroginástica/hidroterapia no
equilíbrio postural em idosos
The influence of water aerobics/hydrotherapy on postural
balance in elderly

Daniella Oliveira Sousa*, Ana Lúcia Rodrigues de Souza*,


Alexandra Carolina Canonica**, Angelica Castilho Alonso***

*Pós-graduadas pelo curso Fisiologia e Biomecânica do Aparelho Locomotor: Reabilitação e Treinamento


do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HCFMUSP,
**Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo HCFMUSP, ***Pesquisadora do Laboratório do Estudo do Movimento do
Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo HCFMUSP, Docente do
Programa de Pós-graduação em Ciências do Envelhecimento da USJT, São Paulo/SP

Resumo
Introdução: A hidroginástica apresenta caracterís-
tica da ginástica e trabalha o sistema cardiorrespirató- e leitura na íntegra dos trabalhos foram selecionados
rio, enquanto que a hidroterapia com propriedades 16 artigos científicos. Resultados: Os resultados deste
terapêuticas atua principalmente na reabilitação de estudo nos permitiu observar que a prática da hidro-
doenças reumáticas, ortopédicas e neurológicas. Os ginástica/hidroterapia influencia na manutenção e
dois tipos de atividade trazem turbulência a água e melhora do equilíbrio estático e dinâmico de idosos,
consequentemente necessidades de ajustes posturais porém não houve diferenças significativas, quando
para manter-se em pé. Objetivo: Realizar uma revisão comparado com práticas realizadas em solo, no que
na literatura sobre a influência da hidroginástica/hidro- se refere manutenção do equilíbrio e diminuição do
terapia no equilíbrio postural de idosos. Métodos: Foi risco de quedas. Conclusão: Os estudos apresentados
realizado um levantamento de estudos a partir das bases indicaram que há um efeito positivo da prática de
de dados Lilacs, Scielo e Pubmed com os descritores: atividades físicas sobre o equilíbrio postural de idosos
idosos, reabilitação, fisioterapia, equilíbrio postural tanto em água quanto em solo.
e hidroterapia, hidroginástica, no período de 2007 a Palavras-chave: idoso, reabilitação, Fisioterapia,
2014. Após uma criteriosa seleção por título, resumos equilíbrio postural, hidroterapia.

Recebido em 13 de março de 2017; aceito em 12 de abril de 2017.


Endereço para correspondência: Angelica Castilho Alonso, Rua Ovídeo Pires de Campos, 333 Cerqueira
Cesar 05403-010 São Paulo SP, E-mail: angelicacastilho@msn.com
56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Abstract during 2007-2014. After careful selection by title,


Introduction: Water aerobics is similar to land abstracts and full reading of the works, sixteen scien-
aerobics, but focus also in cardiac training. While tific studies were selected. Results: The results of this
hydrotherapy is the use of water with therapeutic study allowed us to observe that the practice of water
effects and primarily operates in the rehabilitation aerobics/hydrotherapy influence in the maintenance
of rheumatic, orthopedic and neurological disorders. and improvement of static and dynamic balance of the
The two types of activity bring turbulence water and elderly. However, there was no significant difference,
consequently proper posture is needed to remain stan- when compared to land aerobics, related to balance
ding. Objective: To carry out a literature review on the maintenance and reduction of falling risk. Conclusion:
influence of water aerobics/hydrotherapy on postural The studies indicated that there is a positive effect of
balance in the elderly. Methods: We conducted a survey physical activity on postural balance in elderly both in
study from Lilacs, Scielo and Pubmed databases with water and in land.
the key words: elderly, rehabilitation, physiotherapy, Key-words: aged, rehabilitation, physiotherapy,
postural balance and hydrotherapy, water aerobics, postural balance, hydrotherapy.

Introdução lidades responsáveis pelos ajustes posturais são


afetadas. Esses mecanismos estão diretamente
Como acontece com outros países em de- ligados à manutenção do equilíbrio e quando
senvolvimento, o Brasil enfrenta um rápido comprometidos a uma tendência a déficit sensó-
envelhecimento de sua população, com cerca rio-motor, deterioração do sistema vestibular, da
de 20,6 milhões acima de 60 anos de idade e acuidade visual, além da sarcopenia, diminuição
aproximadamente três milhões acima de 80 anos. da massa óssea levando a algumas doenças como,
Estima-se que em 2025 a população idosa deverá por exemplo, osteopenia/osteoporose.
chegar a 32 milhões. A expectativa de vida ao Devido a estas alterações o idoso está mais
nascer é de 67,3 anos para os homens e 75,2 para sujeito a quedas que o resto da população. Elas
as mulheres [1]. não são consequências inevitáveis do envelheci-
Desta maneira há uma crescente preocupação mento, mas quando ocorrem sinalizam o início
com a qualidade de vida e funcionalidade destes de fragilidade ou anunciam uma doença aguda.
idosos, isto porque o envelhecimento humano Constituem-se em um dos principais problemas
caracteriza-se por período de vulnerabilidade e clínicos e de saúde pública, devido à sua alta
perdas funcionais, comprometendo os diferentes incidência, com as consequentes complicações
órgãos e sistemas [2]. para a saúde e com os altos custos assistenciais,
A manutenção da postura é um desafio além de causarem incapacidades e até mesmo a
constante para o corpo humano, pois demanda morte [6-8].
um sistema capaz de responder com rapidez e Com o envelhecimento populacional tem se
eficiência a perturbações, mesmo em situações buscado, por meio de diferentes tipos de exer-
instáveis, evitando quedas e mantendo o equilí- cícios e/ou práticas corporais os mais indicados
brio. A posição do corpo em relação ao espaço é para melhorar o equilíbrio, prevenindo assim as
determinada pela integração das funções visual, quedas e suas consequências [9]. Há necessidade
vestibular e sensório-motor [3]. Durante o mo- de investimentos e pesquisas com exercícios físicos
vimento, é necessário um controle do centro de e/ou práticas corporais que possam auxiliar uma
gravidade do corpo enquanto este se desloca sobre velhice saudável, dentre estas atividades estão a
sua base de apoio, e de níveis adequados de força hidroginástica e a hidroterapia.
dos membros inferiores para manutenção do A água é mais uma opção para a prática de
equilíbrio estático e dinâmico [4]. exercício físico e é certamente um meio dife-
Teixeira et al. [5] citam que áreas do sistema renciado e bastante apropriado para pessoas
nervoso central (SNC) são submetidas a processos idosas, permitindo o atendimento em grupos e
degenerativos com o envelhecimento e as habi- a facilitação da recreação, socialização e treino
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 57

de domínio da água com movimentos básicos de quais sobraram 73 artigos. Destes, após a leitura
técnicas aquáticas, que, associadas à funcionali- do resumo foram excluídos 48 artigos, pois não
dade, melhoram a autoestima e a autoconfiança abordavam o tema. Sobraram 25 artigos, que fo-
do idoso [9]. ram lidos na integra e excluídos aqueles que não
As propriedades físicas da água auxiliam ainda atendiam ao objetivo. Ao final do levantamento,
mais os idosos na movimentação das articulações, totalizaram-se 16 artigos científicos (figura 1).
na flexibilidade, na diminuição da tensão articular
(baixo impacto), na força, na resistência, nos siste-
ma cardiovascular e respiratório, no relaxamento,
na eliminação das tensões mentais, possuem com-
ponentes como: a flutuação, pressão hidrostática
e a resistência da água, que de maneira integrada
favorece a melhora do retorno venoso, trás menor
impacto nas articulações e maior amplitude de
movimento nos exercícios [9,10].
A hidroginástica com característica da gi-
nástica trabalha o sistema cardiorrespiratório,
melhorando o condicionamento aeróbio do
indivíduo. Enquanto que a hidroterapia com
propriedades terapêuticas atua principalmente na
reabilitação de doenças reumáticas, ortopédicas e
neurológicas. No entanto, é preconizado que nos
dois tipos de atividade traz turbulência a água e
consequentemente necessidades de ajustes postu-
rais para manter-se em pé.
Assim o objetivo do estudo é realizar uma
revisão na literatura sobre a influência da hidro-
ginástica/hidroterapia no equilíbrio postural de Figura 1 - Organograma da seleção dos estudos.
idosos.

Resultados
Material e métodos
Após criteriosa análise foram selecionados
Trata-se de um estudo de revisão de literatura 15 artigos sobre os programas de hidroterapia/
realizado com artigos científicos sobre hidroginás- hidroginástica na influência de equilíbrio postural
tica/hidroterapia no equilíbrio postural a partir de idosos realizados no Brasil e em outros países.
das bases de dados Lilacs, Scielo e Pubmed.
Para levantamento dos dados no presente
estudo, foram utilizados os descritores: idosos, Discussão
reabilitação, fisioterapia, equilíbrio postural e
hidroterapia, hidroginástica no período de 2007 Este estudo teve como objetivo analisar a
ao atual limitado ao idioma português e inglês. influência da hidroterapia/hidroginástica no
Foram incluídos estudos realizados no Brasil e no equilíbrio postural em idosos. Foram avaliados 15
exterior com idosos, contendo textos completos artigos, em 13 artigos houve melhora no equilí-
e tema compatível ao pesquisado. brio dinâmico e estático ou em outras capacidades
A partir desses critérios, foram identificadas que auxiliam na manutenção do mesmo. Somente
75 publicações pelo título. A primeira seleção em dois estudos de Texeira et al. [5] e Antes et al.
foi retirar a duplicidade nas bases de dados, das [18] não houve nenhum resultado significante
58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Autor e ano Casuística Avaliação Protocolo Resultados


Berger et al. Grupo único de Escala visual analógi- Protocolo de As sessões em água
[10] (2007) 12 voluntários com ca (EVA) plataforma de quatro semanas mostraram-se melhores
idade média de 65 força, Time up and Go de mobilização resultados em relação
anos (TUG) (movimentação) ao protocolo solo para
ativa durante a o teste de equilíbrio
balneoterapia e (TUG) e dor.
mobilização
(movimentação).
Ativa aplicada
em solo exercícios
idênticos.
Medeiros et 9 pacientes idosas Os idosos foram Submetido a exer- Houve melhora signi-
al. [2], (2008) entre 65 e 80 anos avaliados através dos cícios de hidrote- ficativa nos testes de
testes de equilíbrio rapia/ fisioterapia, marcha e equilíbrio dos
dinâmico e estático de por 10 sessões, indivíduos pós- interven-
Tinetti. foram avaliados ção das sessões.
pré e pós- inter-
venção.
Resende 25 idosas com mé- Escala de Berg e teste Submetidas a Houve diminuição no
et al.[11], dia de idade de 72 de time up go (TUG). um programa de tempo de execução do
(2008) hidroterapia de TUG. A hidroterapia
baixa a moderada promoveu melhora no
intensidade, 12 equilíbrio.
semanas duas
sessões por 40
minutos.
Bruni et al. 24 idosas 11 para Dois grupos foram Grupo Hidrote- O GH apresentou
[12], (2008) o grupo hidrogi- submetidos à escala rapia (GH): 10 melhor resultado no
nástica e 13 para de POMA (equilíbrio e sessões de hidrote- equilíbrio e marcha.
controle. marcha) pré e pós- rapia uma vez na
-intervenção. semana, 40 min.
Grupo Controle
(GC): não foi sub-
metido à nenhuma
intervenção.
Cunha et al. Ensaio clínico Escala de Berg; Timed Avaliados pré e Os grupos água e solo
[13], (2009) randomizado 47 Up Go (TUG); escala pós-intervenção de apresentaram bons
idosos divididos em de Tinetti; escala de 8 semanas. Três resultados em relação
três grupos: grupo 1 medo de queda (FES sessões por sema- ao grupo controle. Na
solo, grupo 2 água Brasil) e qualidade de na de 45 min. escala SF- 36, TUG o
e grupo 3 controle vida (SF36). grupo água foi melhor.
Já na escala FES e
Tinetti, o grupo solo foi
melhor.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 59

Almeida et al. 59 idosas prati- Teste sentar e levan- Os participantes GG teve melhor resul-
[4], (2010) cantes de ginástica tar e deste estudo pra- tado no teste de sentar
e hidroginástica Timed Up Go (TUG). ticavam ginástica e alcançar. Os outros
divididas em grupo Os indivíduos foram ou hidroginástica testes não apresentaram
hidroginástica (GH) avaliados pré e pós- no mínimo há seis diferença significativa
=31 idosas -intervenção. meses, três vezes entre os grupos.
Grupo Ginástica por semana.
(GG) 28 idosas.
Cunha et al. 20 idosos com Escala de Berg; SF36 Receberam trei- Houve melhora do equi-
[9], (2010) idade média de 68 (qualidade de vida); namento de 12 líbrio postural avaliado
anos. MIF (medida de inde- semanas, duas pela Escala de Berg já
pendência funcional). sessões semanais os outros parâmetros
Foram avaliados pré e de 45 min em não teve mudança.
pós-intervenção. piscina aquecida
com técnicas de
Ai Chi.
Avelar et al. 36 idosos com Escala de equilíbrio 6 meses de treina- Os dois grupos água e
[14], (2010) media de idade de Berg; dinamic gait mento duas vezes solo melhoram em rela-
60 anos. Foram índex, velocidade da por semana 40 ção ao grupo controle,
divididos em três marcha. Testes aplica- min. (aquecimen- no equilíbrio dinâmico e
grupos: Grupo dos pré e pós. to, alongamento estático com o pro-
água, grupo solo e de membros grama de resistência
grupo controle. inferiores e exercí- muscular dentro ou fora
cios de resistência d’água. Entre o grupo
muscular). água e solo não houve
diferença significativa.
Katsura et al. 20 indivíduos. Teste de equilíbrio - Treinamento de 2 O grupo que fez o
[15], (2010) Divididos em dois time up go (TUG); meses, três vezes programa de treinamen-
grupos (12 com uti- POMS (escala que na semana com to, utilizando exercícios
lização de equipa- avalia estado emocio- 90 min. em cada com equipamento de
mento de resistência nal e humor); testes de sessão resistência melhorou
à água) e (8 que força de triceps sural e nos testes de força,
não utilizaram tibial; teste de sentar e TUG, sentar e alcançar,
equipamento de levantar, avaliados pré 5m andar na máxima
resistência à água ) e pós-intervenção. velocidade. O grupo
sem resistência apenas
no TUG e força.
60 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Teixeira et al. Grupo único com Foram avaliadas pela Idosas ativas reali-
Não teve diferença
[5] (2011) 39 idosas, já prati- plataforma de força zaram hidroginás-significativa na ampli-
cantes de atividade e o conflito sensorial tica duas vezes por
tude de deslocamento
física média de 68 foi realizado em seis semana Antero posterior e médio
anos. testes de organização lateral. Na posturogra-
sensorial (TOS) por fia Somente na TOS 6,
meio da posturografia (testes de organização
dinâmica. sensorial) com os olhos
fechados e pisando em
uma almofada, apresen-
tou maior instabilidade
no equilíbrio. (quanto
mais sistemas sensoriais
forem manipulados ou
suprimidos, mais afetará
o equilíbrio dos idosos).
Mann et al. 36 sujeitos: 31 Foi avaliada a ampli- Os indivíduos Não houve diferença
[7], (2012) idosas e 5 idosos tude e o deslocamento deste estudo significativa entre os dois
com média de 65 médio lateral e não receberam grupos, quando compa-
anos, separados em anteroposterior com nenhuma interven- rados com olhos abertos
grupo hidro = 20 olhos abertos e fecha- ção, apenas foram e fechados dentro de
idosos praticantes dos na plataforma de avaliados os que seu próprio grupo. Com
de hidroginástica e força. praticavam hidro e olhos abertos o grupo
grupo sedentário = os sedentários. hidroginástica foi melhor
16 idosos que não em relação ao grupo
realizavam nenhu- sedentário.
ma atividade física.
Berganin 59 idosos divi- Foi avaliada massa Indivíduos recebe- No teste para o equilí-
et al. [16], didos em grupo corporal, timed up Go ram intervenção brio (TUG) e back-zero
(2013) água- GA; grupo (TUG); para equilí- por seis meses, (flexibilidade de mem-
terra- GT e grupo brio, a flexibilidade de duas vezes por bros superiores o grupo
controle-GC. membros superiores e semana, 60 minu- água obteve melhor
inferiores por meio do tos cada sessão. resultado em relação ao
teste de sentar e alcan- Foram grupo terra e controle,
çar e back- zero (Back avaliados pré e no teste de sentar e
Scratch teste, para pós-intervenção. alcançar os dois melho-
avaliar flexibilidade de raram e nas medidas de
membros superiores). massa corporal o grupo
água obteve maiores
reduções de gordura.
30 indivíduos Foi aplicada a escala Os grupos praticantes
Martins et al média de 74 anos, de Berg, para ava- de atividade física mos-
[17] (2013) divididos em grupo liação do equilíbrio traram uma pontuação
hidroterapia -10, estático e dinâmico melhor que o grupo
grupo karatê-10 e composta por 14 inativo, porém os grupos
grupo inativo- 10 tarefas. hidro e karatê não apre-
sentaram diferença entre
os mesmos.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 61

Yadergarpour 16 homens entre 60 Testes de equilíbrio Intervenção de Exercícios combinados


et al [18] e 70 anos. postural: stance com 16 sessões, com em água e terra se
(2013) Nove no grupo con- os olhos abertos e grupo experimen- complementam para a
trole e 7 no grupo fechados; time up go tal realizando melhoria do equilíbrio
experimental. (TUG). Aplicado pré e exercícios na água estático e dinâmico.
pós-intervenção. e na terra.
Antes et al. Um grupo único Teste de equilíbrio As aulas de hidro- Não houve diferença
[19], (2014) com 27 idosas, semi-estático na ginástica tinham significativa em relação
média de 70 anos, plataforma de força duração de 50 ao equilíbrio semi-está-
praticantes de com os olhos abertos minutos e intensi- tico com olhos abertos e
hidroginástica. e fechados. dade moderada, fechados
duas vezes por
semana.

em praticantes de hidroginástica, pois como não avaliados pré e pós-intervenção. O resultado do


houve outro grupo para comparar não foi possível estudo mostrou que o medo do risco de quedas,
ter uma análise real desses resultados. o tempo de execução do teste de equilíbrio
Quatro estudos compararam grupos de hi- dinâmico TUG e a escala de qualidade de vida
droterapia com grupos controle [7,12,13,17] e melhoraram significativamente.
concluíram que os grupos de hidroterapia me- Em contrapartida, o trabalho de Teixeira
lhoraram o equilíbrio quando comparados com et al. [5] um único grupo foi analisado, sendo
os controles, no entanto estes resultados parecem este composto por indivíduos que já praticavam
óbvio, pois os grupos controles não realizaram atividade física e que utilizaram a hidroginástica
nenhuma atividade. Trata-se de um desenho como prática de intervenção. Nesse estudo não
experimental equivocado e atualmente se discute houve nenhuma diferença significativa pré e pós-
que incluir um grupo controle e não oferecer -intervenção.
nenhum tratamento é adequado em relação aos Este resultado vai de encontro a outros cincos
aspectos éticos. estudos que compararam grupos que realizaram
No estudo transversal de Martins et al. [17], os hidroterapia com aqueles que realizaram exer-
participantes do grupo controle estavam inativos cícios no solo Almeida et al. [4], Avelar et al.
no mínimo a seis meses, e os indivíduos prati- [14], Berganin et al. [16], Berger et al. [10] e
cantes de hidroginástica e karatê, já praticavam Mann et al. [7]. Segundo os resultados, ambos os
a modalidade pelo menos há dois anos. Entre os grupos aumentaram o equilíbrio sem diferenças
indivíduos praticantes de atividade física regular, significativas entre eles. No estudo de Martins et
não houve nenhuma diferença significativa nos al. [17] pode-se observar que tanto o grupo de
aspectos que influenciam no equilíbrio dos idosos, praticantes de karatê como o grupo de pratican-
estes grupos obtiveram pontuações elevadas na tes de hidroginástica obtiveram escores bastante
escala de Berg, quando comparados aos inativos, satisfatórios próximos da pontuação máxima que
podendo constatar um maior risco de quedas em é de 56 na escala de Berg. O mesmo não ocorreu
idosos sedentários. com o grupo de inativos que apresentou escores
Esta diferença entre praticantes de atividade inferiores aos ativos e foram classificados como
física e sedentários pode ser observada no estudo propensão considerável a quedas, por meio do
de Cunha et al. [13] no qual foram avaliados ido- escore total abaixo de 45 pontos. Isso pode ser
sos que não praticavam nenhuma atividade física explicado pelo fato de que idosos sedentários
e que receberam intervenção de hidroginástica apresentam uma musculatura mais fragilizada
e atividades em solo por oito semanas e foram decorrente das degenerações causadas pelo fator
62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

da idade. Outros mecanismos responsáveis pelo desordens na marcha, dentre outras, dificultam
equilíbrio postural, como os sistemas vestibulares, a realização dos exercícios em solo por idosos, e
visuais e proprioceptivos, também se alteram com concorda com Almeida et al. [4] que afirma que,
o envelhecimento, diminuindo a capacidade de no meio aquático, há diminuição da sobrecarga
modificações dos reflexos adaptativos. Os resul- articular, menor risco de quedas e de lesões. Além
tados desses estudos comprovaram a importância disso, a flutuação possibilita ao indivíduo reali-
da atividade física na manutenção do equilíbrio zar exercícios e movimentos que não podem ser
postural, independente da modalidade. realizados no solo.
Bruni et al. [12] em seu estudo diz que o O estudo de Katsura et al. [15] e Resende et al.
envelhecimento está associado à perda gradual [11] enfatizam que exercícios resistidos em idosos
de massa muscular, força, potência e flexibilida- fora da água induz a lesão muscular, devido ao
de. Esse fato contribui para uma diminuição da maior impacto que sofrem as articulações. Dian-
mobilidade, agilidade e funcionalidade, o que está te disso o propósito do estudo foi avaliar idosos
diretamente relacionado com a perda de equilí- utilizando equipamentos criados de resistência
brio. No resultado foi observada uma melhora sig- aquática comparando com grupo que trabalhou
nificativa na força muscular e potência da maioria na água sem o equipamento. O estudo conclui que
dos músculos avaliados nos idosos que praticaram exercícios com equipamento melhoram as funções
hidroterapia, tendo como um fator importante a relacionadas ao equilíbrio, força, caminhada em
resistência que a água promove durante a realiza- velocidade, com obstáculos sendo assim, pode
ção dos movimentos. Bergamin et al. [16] em seu auxiliar na prevenção do risco a quedas.
estudo teve como objetivo avaliar a eficácia de um Diante dessas informações, pode-se verificar a
protocolo de exercício de 24 semanas realizado importância da prática de atividades físicas para os
em água de nascente geotérmica e solo, para me- idosos, no que se refere à manutenção do equilíbrio
lhorar a função física em geral e massa muscular postural tanto nas atividades terrestres ou em água.
em um grupo de indivíduos idosos saudáveis e No entanto, pode-se observar que a maioria dos
encontrou em seus resultados a manutenção da trabalhos não apresentam programas padronizados.
força de membros inferiores, igualmente como o Falta clareza na descrição do exercício realizado,
grupo que realizou atividades em solo, não sendo frequência, intensidade e duração dos mesmos.
a hidroterapia significativamente melhor como
proposto por Bruni.
No estudo de Almeida et al. [4] dois grupos Conclusão
foram avaliados, indivíduos que fizeram ginás-
tica em solo e outro que fez hidroginástica, os O resultado deste estudo nos permitiu obser-
resultados não mostraram diferença significativa var que a prática da hidroginástica/hidroterapia
entre eles, porém, a capacidade de flexibilidade influencia na manutenção e melhora o equilíbrio
apresentou melhores resultados no grupo que fez estático e dinâmico de idosos, assim como a prá-
ginástica em solo. A flexibilidade tende a se dete- tica de outras atividades fora da água pode ser
riorar, dentre outros motivos pelo encurtamento benéfico para esta capacidade física. Os estudos
muscular causado pela menor quantidade de apresentados indicaram que há um efeito positivo
exercícios realizados e pela rigidez aumentada dos da prática de atividades físicas sobre o equilíbrio
tecidos conjuntivos. Neste estudo os indivíduos postural de idosos tanto em água quanto em solo.
que fizeram hidroginástica executaram ao final
das sessões exercícios de relaxamento, já o grupo
solo realizou exercícios de alongamento, fator que Referências
pode ter contribuído para este resultado.
Segundo Resende et al. [11], a multiplicidade 1. Garcez-Leme LE, Leme MD. Costs of elderly
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hidroterapia na recuperação do equilíbrio e pre-
REVISÃO

Mecanismos moleculares associados à


hipertrofia e hipotrofia muscular: relação com
a prática do exercício físico
Molecular mechanisms associated with muscle hypertrophy
and hypotrophy: relationship with physical exercise

Waldecir Paula Lima, D.Sc

Professor Titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Professor
e Orientador do Programa Stricto sensu em Biomateriais – EM (IFSP), Doutor em Biologia Celular e
Tecidual pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP)

Resumo
As células (fibras) musculares estriadas esqueléticas
são altamente especializadas, podendo apresentar uma células satélites; calcineurina/NFAT (Nuclear Factor of
alta capacidade de adaptação morfológica, resultando, Activated T cells); regulação da miostatina. A hipotro-
entre outras adaptações, em hipertrofia e hipotrofia fia muscular relaciona-se com as vias: sinalização das
muscular. Considerando que os processos de hipertrofia catepsinas ou lisossomais; calpaínas dependentes de
e hipotrofia muscular estão diretamente relacionados cálcio (Ca2+); caspases; ubiquitina proteassoma ATP-
ao turnover proteico muscular, é importante destacar -dependente (UPS); FoxO (Forkhead box O); TNFα
que as vias de síntese e degradação proteica ocorridas (Tumor Necrosis Factor-α); NFkB (Nuclear Factor
nesta célula são estimuladas por diversos sinais ex- kappa-B); glicocorticoides. Sendo assim, o objetivo
tracelulares controlados, destacando-se a prática do deste estudo de revisão é elucidar estas vias envolvidas
exercício físico agudo e crônico. Em linhas gerais, a nos processos de hipertrofia e hipotrofia muscular,
hipertrofia muscular está relacionada com as seguintes relacionando-as com os diversos tipos de exercício e
vias de sinalização: Akt/mTOR (mammalian Target of treinamento físico.
Rapamycin) e regulação das AMPK (adenosine mono Palavras-chave: treinamento físico, vias de
phosphate/AMP-activated protein kinase); ativação das sinalização, células satélites, miostatina.

Recebido em 29 de março de 2016; aceito em 12 de abril de 2016.


Endereço para correspondência: Waldecir Paula Lima, Instituto Federal de São Paulo, Rua Pedro Vicente, 625,
Canindé, 01109-010 São Paulo SP, E-mail: waldecir@ifsp.edu.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 65

Abstract AMP-activated protein kinase); activation of satellite


The cells (fibers) skeletal striated muscles are highly cells; calcineurin/NFAT (Nuclear Factor of Activated
specialized and may have a high capacity of morpho- T cells); regulation of myostatin. Muscle atrophy
logical adaptation, resulting, among other adaptations relates to the routes: signaling of cathepsins or lyso-
in muscle atrophy and hypertrophy. Whereas the somal; calpain-dependent calcium (Ca2 +); caspases;
enlargement processes and muscle atrophy are directly ATP ubiquitin dependent proteasome (UPS); FOXO
related to muscle protein turnover, it is important to (forkhead box O); TNFa (Tumor Necrosis Factor-α);
note that the process of protein synthesis and degra- NFkB (nuclear factor kappa B); glucocorticoids. Thus,
dation occurring in this cell is stimulated by several the aim of this review study is to elucidate these path-
controlled extracellular signals, especially the practice ways involved in hypertrophy processes and muscle
of acute and chronic exercise. In general, muscle hyper- atrophy, relating them to the various types of exercise
trophy is related to the following signaling pathways: and physical training.
Akt/mTOR (mammalian Target of Rapamycin) and Key-words: physical training, signaling pathways,
regulation of AMPK (adenosine mono phosphate/ satellite cells, myostatin.

Introdução gra (hipotrofia muscular) ocorrem pelo balanço


positivo ou negativo entre a síntese e degradação
As células musculares estriadas esqueléticas (fi- proteica, promovido pela integração coordenada
bras musculares), inseridas nos músculos estriados de uma rede extremamente complexa de vias de
esqueléticos, são altamente especializadas, poden- sinalização intracelular.
do apresentar uma alta capacidade de adaptação Em linhas gerais, a hipertrofia e a hipotrofia
morfológica. Objetivamente, estas adaptações muscular estão relacionadas com as seguintes vias
resultam em duas situações: no aumento do de sinalização, descritas no quadro 1 [1-4].
tamanho das células musculares, denominada hi-
pertrofia e na diminuição do tamanho das células Quadro 1 - Vias de sinalização relacionadas aos
musculares, denominada hipotrofia. processos de hipertrofia e hipotrofia muscular [1-4].
Importante ressaltar que os processos de hi- Hipertrofia muscular Hipotrofia muscular
pertrofia e hipotrofia que ocorrem em cada fibra Via de sinalização Akt/ a. Via de sinalização
(célula) muscular, promovem, quando analisadas mTOR (mammalian das catepsinas ou
de forma macro, alterações morfológicas no órgão Target of Rapamycin) e lisossomais
músculo, denominadas hipertrofia e hipotrofia regulação das AMPK
muscular. Estes processos estão relacionados à (adenosine mono phos-
área de secção transversa dos músculos (AST), ou phate/AMP-activated
seja: um aumento da AST reflete em hipertrofia protein kinase)
muscular e uma diminuição da AST reflete em Via da ativação das b. Via das calpaínas
hipotrofia muscular. células satélites dependentes de cálcio
Considerando que os processos de hipertrofia (Ca2+)
e hipotrofia (atrofia) muscular estão diretamente Via da calcineurina/ c. Via das caspases
relacionados ao turnover proteico muscular, é NFAT (Nuclear Factor of
importante destacar que as vias de síntese e de- Activated T cells)
gradação proteica ocorridas na célula muscular Via da regulação da d. Via da ubiquitina
estriada esquelética são estimuladas por diversos miostatina proteassoma ATP-de-
sinais extracelulares controlados, entre outros, por pendente (UPS)
hormônios, citocinas, fatores de crescimento e e. Via FoxO (Forkhead
potenciais de ação (estímulos neurais), permitin- box O)
do a possibilidade da remodelação destas células f. Via do TNFα (Tumor
a partir de um processo dinâmico. Desta forma, Necrosis Factor-α) e
entende-se que o aumento da massa magra (hi- NFkB (Nuclear Factor
pertrofia muscular) ou diminuição da massa ma- kappa-B)
66 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

g. Via dos glicocorti- marcadores fundamentais das vias regulatórias de


coides funcionamento celular, relacionados a metabo-
lismo, proliferação, sobrevivência, consumo de
Destacam-se, como estratégia para estímulo glicose, angiogênese e crescimento [8].
destas vias, o treinamento físico e o desuso muscu- A família da Akt é constituída de três iso-
lar, muito embora, atualmente, não exista clareza formas: Akt1, Akt2 e Akt3, embora exista uma
na relação entre os diversos tipos de exercício agu- predominância da expressão de Akt1 e Akt2 em
do e crônico e as vias de sinalização intracelulares células musculares estriadas esqueléticas.
que promovem a hipertrofia e a hipotrofia de A fosforilação e consequente ativação da Akt
células musculares estriadas esqueléticas. são conhecidas por uma diversidade de estímulos,
Sendo assim, o objetivo deste estudo de re- como os fatores de crescimento (IGF1), as cito-
visão é elucidar as principais vias envolvidas nos cinas (Interleucinas) e os hormônios (insulina,
processos de hipertrofia e hipotrofia muscular, testosterona e outros), sugerindo um importante
relacionando-as com os diversos tipos de exercício papel da Akt na promoção de síntese proteica
e treinamento físico. celular.
Um esquema simplificado da via de IGF1/Akt
Revisão da literatura é mostrado na Figura 1.

Hipertrofia muscular: vias de sinalização Figura 1 - Um esquema simplificado da via de IGF1-


intracelular -Akt. Adaptação de Schiaffino e Mammucari [9].

Segundo Goldberg et al. [5], o processo de


hipertrofia do músculo estriado esquelético é resul-
tado do aumento da área de secção transversal da
fibra muscular, culminando com o aumento da área
de secção transversal do músculo. Embora, atual-
mente, os mecanismos responsáveis pela hipertrofia
muscular ainda não estejam totalmente elucidados,
há muito tempo Denny-Brown [6] e Goldspink
[7], entre outros pesquisadores, apontaram que
processos como o aumento da síntese proteica, o
aumento do número e tamanho das miofibrilas e a
adição de sarcômeros no interior da fibra muscular
são fundamentais para que o músculo obtenha
esta adaptação morfológica. Na sequência, serão
abordados os principais mecanismos relacionados
ao processo de hipotrofia muscular.
A ligação de IGF-1 ao seu receptor conduz
Via de sinalização Akt/mTOR (mammalian à ativação da tirosina-quinase intrínseca e sua
Target of Rapamycin) e regulação das AMPK autofosforilação, gerando sítios de ligação para
(adenosine mono phosphate/AMP-activated o substrato receptor da insulina (IRS), que
protein kinase) também é fosforilado pelo receptor de IGF1. O
IRS fosforilado atua também como um sítio de
A AKT, uma serina/treinina quinase também ligação para recrutar e, posteriormente, ativar o
denominada de proteína quinase do tipo B (PKB), fosfatidilinositol-3-quinase (PI3K) que, por sua
apresenta destacada função em uma das diversas vez, fosforila fosfolípidos da membrana, gerando o
vias de sinalização intracelular que regula a sín- fosfoinositide-3,4,5-trifosfato (PIP3). O PIP3 age
tese proteica, além de controlar outros diversos como um local de ancoragem para duas quinases:
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 67

as dependentes de fosfatidilinositol quinase-1 que ativa a sinalização de mTOR. A mTOR


(PDK1) e a Akt. A subsequente fosforilação da forma dois complexos de proteínas diferentes, a
Akt, na serina 308 por PDK1, é que propicia a mTORC1 sensível à rapamicina, quando ligado
ativação da Akt. Todas estas etapas ocorrem na a raptor, e a mTORC2 insensível à rapamicina,
superfície interna da membrana celular (deno- quando ligado a rictor. A mTORC2 é necessária
minada sarcolema, na célula muscular estriada para a fosforilação e ativação de Akt, enquanto
esquelética). A Akt inibe a degradação proteica a mTORC1 fosforila a quinase S6 (S6K), que
por fosforilar os fatores de transcrição da família por sua vez, fosforila a proteína ribossómica S6
FoxO, promovendo inibição de sua atividade e outros fatores envolvidos no início da tradução
(maiores informações no item 2.2.2e) e estimula gênica, estimulando, assim, a síntese de proteínas.
a síntese proteica por meio da ativação da proteína A mTORC1 também ativa a início da tradução
alvo de mamífero de rapamicina ou mammalian gênica do fator 4E (eIF4E) por fosforilação das
Target of Rapamycin (mTOR) e inibição da 3β proteínas inibidoras de ligação eIF4E (4EBPs). A
glicogênio sintase quinase (GSK3β), entre outras Akt também promove a síntese de proteínas por,
moléculas sinalizadoras [8]. diretamente, fosforilar e inativar a GSK3β, pro-
Importante ressaltar que a Figura 01 mostra movendo, assim, a inibição do fator de iniciação
que os fatores de transcrição FoxO são necessários de tradução 2B (eIF2B).
para a regulação da transcrição das ubiquitinas Watson e Baar [13] relatam em seu artigo
ligases atrogin-1 (ou MAFbx) e MuRF1, con- intitulado mTOR and the health benefits of exercise,
duzindo à ubiquitinação de miosina e outras que o exercício físico agudo, mas, sobretudo, o
proteínas musculares, com a sua degradação por crônico, pode trazer diversos benefícios à saúde
ação do proteassoma 26S. Os FoxOs também são por, dentre vários aspectos, modular a ativação da
necessários para regular a transcrição da proteína proteína mTOR.
denominada cadeia leve associada a microtúbu- Hoppeler et al. [14] citam que o treinamento,
los-3 (LC3) que, em conjunto com a Bcl2, é essen- principalmente com cargas elevadas, estimula, por
cial para a ativação da via de autofagia lisossomal. diversas vias intervenientes, a atividade aumen-
No que tange a via de estimulação da síntese tada da via AKT/m-TOR nas células musculares
proteica, TOR é uma proteína serina/treonina estriadas esqueléticas, resultando em maior sín-
quinase com grande tamanho molecular (cerca tese proteica e, consequentemente, aumento do
de 300 kDa), que pertence a família de quinases trofismo celular.
relacionadas com o fosfatidilinositol (PIK). TOR Em contrapartida, Atherson et al. [15] apon-
foi primeira e timidamente descrita, em 1991, tam que o exercício crônico de endurance aumenta
como uma proteína relacionada com aspectos a atividade da proteína quinase ativada por AMP
antifúngicos e imunossupressores [10]. Estudos ou adenosine mono phosphate (AMP)-activated pro-
posteriores revelaram diversas funções importan- tein kinase (AMPK), resultando em fosforilação da
tes de TOR, evidenciando esta proteína quinase TSC2 com consequente inatividade da mTOR,
na posição central da rede de sinalização que induzindo a inibição da síntese proteica quando
regula o crescimento celular. As funções da TOR da prática deste tipo de treinamento.
englobam a regulação do metabolismo, da tradu- Considerando a relação AMPK e AKT/
ção e transcrição proteica, em resposta a ativação mTOR com o exercício físico, uma combinação
de nutrientes e fatores de crescimento [11]. de uma mesma sessão de exercícios de endurance
Segundo Zoncu, Efeyan e Sabatini [12], a ação e de força foi reportada para verificar a resposta
da Akt em mTOR é indireta: a Akt inibe as prote- hipertrófica. Apró et al. [16] apresentavam como
ínas complexas de tuberinas escleroses ou tuberous hipótese que o aumento de AMPK, induzido pelo
sclerosis complex (TSC1 e TSC2), que atuam como exercício de endurance, poderia inibir da sinaliza-
proteínas de ativação de GTPase (GAP) para ção mTORC1. Esta hipótese foi testada em oito
inibir a proteína Ras homólogo enriquecido no homens treinados que realizaram exercícios de
cérebro ou Ras homolog enriched in brain (Rheb) endurance na bicicleta e, depois, exercícios resis-
68 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

tidos. Verificou-se um aumento significativo da renciadas, essa exacerbada condição de adaptação


atividade de AMPK. Contudo, a elevação indu- que estas células apresentam é atribuída a outro
zida pelo ciclismo intervalado de alta intensidade tipo de célula residente no músculo esquelético
na atividade da AMPK não inibiu a atividade do adulto, denominada de célula satélite [18].
mTORC1 após exercícios resistidos subsequentes, Foi indicada, em importante e pioneira pu-
embora os autores do estudo façam resalva a uma blicação no Journal of Biophysical and Biochemical
possível interferência na resposta hipertrófica, por Cytology [19], a primeira descrição das células
possível influência em componentes-chave em satélites musculares. Como características espe-
outras vias da degradação de proteínas. cíficas, as células satélites são mononucleadas e
Sendo assim, entende-se que a influência da indiferenciadas, apresentando sua membrana em
AMPK na atividade de mTORC1 por indução comunicação com a membrana da fibra muscular
da prática de exercício físico agudo e crônico (sarcolema) e com a membrana/lâmina basal. Sua
não está bem estabelecida. Postulando investigar denominação está relacionada com a sua locali-
mais amplamente esta relação, Vissing et al. [17] zação, anexada na periferia de fibras musculares
desenvolveram um estudo com homens que foram estriadas esqueléticas, que são células multinucle-
divididos em 3 grupos: praticantes de exercí- adas (Figura 2).
cios (10 semanas) de endurance, praticantes de
exercícios (10 semanas) de força e grupo de não Figura 2 - Corte transversal de uma fibra muscular
praticantes (controle). Os dados foram obtidos esquelética do músculo sartório de rato.
antes e durante a recuperação pós-atividade de
uma sessão aguda de exercício compatível com
o realizado nas semanas de treinamento. Houve
aumento significativo, após o exercício de força,
nas concentrações do fator de crescimento seme-
lhante à insulina-1 (IGF-1), AKT fosforilado,
mTOR e glicogênio sintase quinase-3, entre
outros marcadores de estimulação de síntese pro-
teica. O aumento da fosforilação da AMPK foi
observado após exercícios de endurance, embora
tenha apresentado o mesmo aumento em relação
ao pós-exercício de força. Os resultados confir-
mam que em indivíduos treinados, a sinalização
de mTORC1 é preferencialmente ativada após o
exercício, o que induziria a hipertrofia muscular, Em destaque: Membranas da Célula Satélite (sp), Fibra
enquanto a sinalização AMPK é menos específica, Muscular (mp) e Basal (bm) Microscopia eletrônica,
quando se trata de sua relação com uma possível aumento: 22.000 X. Fonte: [19].
inibição da via hipertrófica, para os diferentes
tipos de exercício. Do ponto de vista funcional, as células satélites
apresentam grande atividade mitogênica, con-
Via das células satélites tribuindo substancialmente para o crescimento/
desenvolvimento do músculo na fase pós-natal, o
As fibras (células) musculares esqueléticas e os reparo de fibras musculares lesionadas e a manu-
respectivos músculos formados por elas possuem tenção do músculo esquelético morfologicamente
grande capacidade de adaptação frente a diversas constituído.
situações fisiológicas, tais como o crescimento, o Importante ressaltar que quando o músculo
treinamento físico, os danos/lesões, entre outras. não recebe interferências externas ou internas que
Pelo fato das fibras musculares estriadas esquelé- resultam em alterações estruturais, como lesões,
ticas adultas se apresentarem extremamente dife- as células satélites permanecem em estado quies-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 69

cente, ou seja, estado de dormência/repouso/não vitro), apontam para alguns fatores de crescimento
ativo. Contudo, estímulos como o crescimento/ como reguladores de atividade, proliferação e
desenvolvimento, lesões e regeneração/remode- diferenciação (em mioblastos) das células sa-
lação, promovem alteração no comportamento télites musculares Ademais, alguns hormônios
destas células. Assim sendo, as células satélites e citocinas apresentam função regulatória no
sairiam do estado quiescente para o estado de comportamento das células satélites. Estes fato-
ativação e, posteriormente, de proliferação. Ao res de crescimento, hormônios, citocinas e suas
se proliferarem, a partir de atividade mitótica, respectivas ações estão apresentados no quadro 3.
se juntam e se fundem com a fibra muscular Importante constatar a característica autó-
adjacente, promovendo reparo de possível lesão. crina das células satélites (células que produzem
Ademais, doam seus núcleos para a fibra muscu- secreção, lançam em direção ao meio extracelular
lar, aumentando a capacidade de síntese proteica e, posteriormente, receptam a própria secreção),
da mesma, o que resultaria em crescimento e além de, também, serem moduladas por subs-
desenvolvimento da fibra muscular – hipertrofia tâncias oriundas de diversos outros territórios
muscular [20]. É fato que, em qualquer estado, corporais, tais como sangue, células do sistema
estas células são capazes de expressarem diversos imunológico, sistema nervoso [21].
marcadores da linhagem miogênica, apontados Como respostas fisiológicas aos possíveis
no quadro 2. estímulos funcionais (como, por exemplo, a prá-
Diversos estudos [21-24], especialmente os tica do exercício físico que promova microlesões
realizados com a técnica de cultivo celular (in musculares), a célula satélite muscular apresenta

Quadro 2 - Marcadores moleculares utilizados para identificar a população de células satélites do músculo estriado
esquelético em sujeitos adultos [18,21].
Estado que se encontram as células satélites musculares no momento
Marcadores Moleculares
da expressão gênica dos marcadores moleculares
MNF Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites
Pax7 Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites
c-Met Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites
M-cadherin Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites
Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites Atividade de jun-
NCAM
ções neuromusculares
VCAM-1 Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites
MNF-β Quiescência, Ativação e Proliferação de Células Satélites
Myf5 Ativação e Proliferação de Células Satélites
MyoD Ativação e Proliferação de Células Satélites
Desmin Ativação e Proliferação de Células Satélites
Myogenin Ativação e Proliferação de Células Satélites
c-ski Proliferação de Células Satélites
MNF-α Proliferação de Células Satélites
BrdU Proliferação de Células Satélites
PCNA Proliferação de Células Satélites
[3H]thymidine Proliferação de Células Satélites
MNF = Fator Nuclear dos Miócotos; Pax7 = Fator de Transcrição paired box; c-Met = MET gene transformante; M-
-cadherin = M-caderina; NCAM = Molécula de Adesão de Células Neurais; VCAM-1 = Molécula de Adesão de Células
Vasculares; MNF-β = Fatores de Regulação Miogênica do tipo Beta; Myf5 = Fatores de Regulação Miogênica tipo Myf5
MyoD = fatores de regulação miogênica tipo MyoD; Desmin = Desmina; Myogenin = Miogenina; c-ski = Regulador
Transcricional do tipo Ski; MNF-α = Fatores de Regulação Miogênica do tipo Alfa; BrdU = Bromodeoxiuridina; PCNA =
Antígeno Nuclear de Proliferação Celular [3H]thymidine = [3H]timidina.
70 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Quadro 3 - Alguns fatores de crescimento, hormônios e citocinas e suas respectivas ações nas células satélites mus-
culares [21-24].
Fatores de crescimento, hormônios e Ação dos fatores moduladores nas células satélites musculares
citocinas
HGF ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↓ Diferenciação
FGF ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↓ Diferenciação
IGFs ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↑ Diferenciação
mMGF ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↑ Diferenciação
TGF-β ↓ Ativação; ↓ Proliferação; ↓ Diferenciação
IL-6 ↑ Ativação; ↑ Proliferação
Testosterona ↑ Ativação; ↑ Proliferação;
Prostaglandinas ↑ Ativação; ↑ Proliferação;
Insulina ↑ Ativação; ↑ Proliferação; ↑ Diferenciação
T3 ↓ Proliferação
NO ↑ Ativação; ↑ Proliferação;
HGF = Fator de Crescimento do Hepatócito; FGF = Fator de Crescimento do Fibroblato; IGFs = Fatores de Crescimento
semelhante a Insulina; mMGF = Fator de Crescimento Mecânico Muscular; TGF-β = Fator de Crescimento Transforma-
dor-Beta; IL-6 = Interleucina 6; T3 = Hormônio Triiodotironina; NO = Óxido Nítrico.

a possibilidade de participar diretamente do a abertura dos canais de liberação do Ca++ do


processo de reparação com consequente hiper- retículo sarcoplasmático, promovendo a liberação
trofia muscular [25]. É fato que a inativação com deste Ca++ para o sarcoplasma, local onde ocorre
diminuição da proliferação e da diferenciação sua ligação com a troponina C do filamento de
destas células (exacerbada, por exemplo, nos actina, iniciando o processo mecânico de contra-
idosos), está relacionada ao processo de hipotrofia ção muscular [1].
muscular [26]. Importante ressaltar que, no músculo es-
quelético, a entrada de Ca2+ oriundo do meio
Via da calcineurina/NFAT (Nuclear Factor extracelular parece não ser fundamental para a
of Activated T cells) contração muscular, diferente do que ocorre no
músculo cardíaco [27].
É fato inquestionável que o Ca++ age como Ocorre que parte do Ca++ liberado no sarco-
segundo mensageiro em células musculares es- plasma pode ligar-se a molécula de calmodulina
triadas. Portanto, este íon é fundamental para o resultando no complexo Cálcio/calmodulina
processo de contração muscular tanto em músculo (Ca2+/CaM), propiciando condições de ativar
cardíaco quanto esquelético, embora os mecanis- uma via alternativa que resultaria em estímulo
mos moleculares relacionados a essas contrações hipertrófico na fibra muscular estriada esquelética.
sejam diferentes. Segundo Sakuma e Yamaguchi [28], a ligação
Especificamente no tecido muscular esqueléti- do complexo Ca2+/CaM com a subunidade regu-
co, os impulsos nervosos eferentes promovem, no ladora da calcineurina, encaminha a sua ativação.
nível terminal, a liberação de acetilcolina e uma A Calcineurina ativada, desfosforila: o NFATc1
sucessiva despolarização na membrana celular/ (Fator Nuclear de ativação das células T/C1 ou
sarcolema, chegando até os túbulos T. Nos túbu- nuclear factor of activated T cells c1), NFATc3
los T, os canais de cálcio voltagem-dependentes, (Fator Nuclear de ativação das células T/C3 ou
denominados também de Receptores de Diidro- nuclear factor of activated T cells c3), MEF2C (Fa-
piridina (DHPR) comunicam-se física e direta- tor de potencialização de miócitos 2C ou Myocyte
mente com um canal específico de liberação de enhancer factor 2C) e MEF2A (Fator de poten-
Ca++ do retículo sarcoplasmático, os receptores cialização de miócitos 2ª ou Myocyte enhancer
de Rianodina (RyR1). Esta comunicação promove factor 2A), resultando em sua translocação desde
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 71

o citoplasma até o núcleo. Estes fatores de trans- Via da regulação da miostatina


crição induzem a expressão de genes hipertróficas
e/ou de remodelação, tais como Dev MHC (De- Identificada em 1997 [30] nas células mus-
velopmental myosin heavy chain), α-actina, IGF-I, culares estriadas esqueléticas, a miostatina, tam-
miogenina e IL-6 (Interleukin-6). Além disso, a bém conhecida como Fator de Crescimento e
calcineurina inibe o papel funcional da Egr-1 e Diferenciação ou Growth Differentiation Factor-8
da miostatina, reconhecidos fatores estimuladores (GDF-8), é um membro dos fatores de crescimen-
de hipotrofia muscular. to transformador-beta ou Transforming Growth
Mais recentemente, Hudson e Price [29] Factor-beta (TGF-β), pertencentes a superfa-
relatam outras possibilidades da relação entre a mília de fatores de crescimento e diferenciação
calcineurina e o controle dos processos hipertró- secretados por diversas células do organismo.
ficos e hipotróficos (Figura 3). Especificamente, a miostatina funciona como um
regulador negativo do crescimento do músculo
Figura 3 - Visão Geral dos mecanismos promovidos esquelético [30]. Fica estabelecido, então, que a
pela calcineurina em relação ao tamanho das fibras célula muscular estriada esquelética predominaria
musculares estriadas esqueléticas. em sinalizações que resultariam em aumento da
síntese proteica e hipertrofia muscular quando as
ações da miostatina estiverem minimizadas.
A miostatina é considerada uma secreção
autócrina (esclarecida anteriormente) e parácrina
(secretada em direção ao meio extracelular e re-
ceptada pelas células vizinhas). Em conjunção, a
miostatina é também considerada uma substância
endócrina (secretada em direção a rede vascular,
transportada pelo plasma sanguíneo e receptada
por células de outros tecidos/territórios), como
demonstrado por Argilés et al. [31] em importante
publicação no periódico Drug Discovery Today.
A miostatina é uma proteína sintetizada em
uma forma bruta composta por 375 aminoácidos,
prioritariamente no músculo estriado esquelético.
Após duas clivagens, gera o Peptídeo Associado
As linhas sólidas representam percursos à Latência (LAP) (porção um N-terminal), com
estabelecidos enquanto as linhas pontilhadas peso molecular de 40 KDa e a miostatina madura
representam interações potenciais. A Ativação (porção C-terminal), com 26 KDa, A miostatina
de PGC-1α (via MEF2 e NFAT) por meio da madura representa a parte biologicamente ativa
ação da calcineurina está sendo considerada, [32,33].
atualmente, a principal cascata de sinalização A função minimizada da miostatina está
através da qual ela evita a perda de massa mus- associada a um aumento na massa muscular, já
cular. No entanto, parece que a calcineurina observado em bois, ratos e, até, em humanos, as-
apresenta potencial para ativar a miR-23a (de sim como o bloqueio da miostatina melhora a re-
forma direta e/ou indireta, via MEF2 e/ou generação muscular observado em ratos knockout
NFAT), inibindo, assim, a ação de atrogina-1 para a distrofia muscular de Duchenne [34,35].
e MuRF1. Isso representaria um mecanismo Durante a embriogênese, a expressão da
adicional pelo qual a calcineurina poderia miostatina está restrita ao desenvolvimento de
prevenir a perda de massa magra. Adaptado de músculos esqueléticos, embora a miostatina seja
Hudson e Price [29]. expressa por músculos esqueléticos durante a vida
adulta [30].
72 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Conforme apontado por Leal, Santos e Aoki estimuladas, como descrito anteriormente, pela
[36], a miostatina é sintetizada pela célula mus- ação da miostatina. Ademais, é possível afirmar
cular na sua forma latente, sendo secretada em que a SMAD-7, além de inibir a ação hipotrófica
direção ao meio extracelular e, consequentemente, sinalizada pela miostatina, acelera a iniciação e
associada a um propeptídeo, formando o comple- diferenciação miogênica levando à hipertrofia
xo propeptídeo-miostatina. No meio extracelular, celular, sobretudo por meio da interação com a
este complexo é clivado, liberando a miostina em proteína MyoD.
sua forma ativa. A miostatina ativa tem condições Elinka et al. [39] apontam que a miostatina
de vincular-se com seu receptor de membrana e, pode ativar a via das proteínas quinases ativadas
posteriormente, ativar a sinalização cuja função por mitógenos ou Mitogen-activated Protein
é de inibir a síntese proteica com consequente Kinase (MAPK) dos tipos p38 e ERK e inibir a
diminuição do trofismo muscular. sinalização da via AKT/m-TOR, o que resultaria,
Uma das estratégias que inibiria a ação hi- ainda que por ação indireta, na diminuição da
potrófica da miostatina na célula muscular seria síntese proteica com consequente hipotrofia da
evitar que ela fosse receptada, inibindo sua sina- célula muscular.
lização. Entre as diversas e conhecidas proteínas Tanto a prática do exercício agudo [40] como
antagonistas/bloqueadoras dos receptores de a do exercício crônico [41], exercem efeito de
miostatina – heterodímero ALK 4/5 (Activina I) regulação na expressão e ação da miostatina e/ou
e Activina IIB, e os compostos que apresentam moléculas inibitórias que participam de sua via
capacidade de interação com a miostatina no meio sinalizadora. Desta forma, a atividade hipotrófica
extracelular, inibindo sua atividade biológica, re- muscular que é estimulada pela sinalização da
duzindo sua disponibilidade e subsequente intera- miostatina é minimizada pela ação do exercício.
ção com seu receptor, destacam-se a Folistatina ou
Folistatin (FS), o gene relacionado com Folistatina Hipotrofia muscular: vias de sinalização
ou Follistatin–related gene (FLRG) e o Fator de intracelular
crescimento e diferenciação associado a proteína
sérica-1 ou Growth and differentiation Factor- Diversos autores [2,42] apontam para o de-
-associated serum protein-1 (GASP-1) [34,37]. suso do músculo estriado esquelético, sobretudo
A miostatina age fosforilando o receptor Acti- em função de baixas sobrecargas de trabalho,
vina IIB e ativando o receptor ALK 4/5-activina como o principal fator na diminuição da síntese e
I, formando um complexo receptor ativado. Na aumento da degradação proteica, acarretando em
sequência, inicia-se a sinalização intracelular por hipotrofia muscular. Este desuso parece influen-
meio da ligação com uma classe de proteínas ciar de forma negativa o início do processo de
denominada Mothers Against Decapentaplegic tradução proteica, além de facilitar a atividade das
(MAD). As MADs, sistematicamente, formam vias proteolíticas hipotróficas. Na sequência, serão
um complexo com outras MADs inibitórias abordados os principais mecanismos relacionados
(SMADs do tipo 2, 3 e 4). A associação da ao processo de hipotrofia muscular.
SMAD-2 com a SMAD-4 vai permitir seu trans-
porte para o núcleo da célula, território onde Via de sinalização das catepsinas ou
exerce o papel de um fator de transcrição que lisossomais
regula a expressão de proteínas ligadas à degra-
dação proteica, apoptose e inibição do trofismo As catepsinas são proteases, dos tipos B, D, H
celular muscular. Em contraste, as SMADs do e L, encontradas, em especial, nos lisossomos ce-
tipo 6 e, em especial, do tipo 7 agem como anta- lulares. Embora promovam proteólise, suas ações
gonistas à via de sinalização da miostatina. Kollias estão direcionadas para proteínas de membrana,
e colaboradores [38] apontam que o aumento da como receptores, transportadores e canais iônicos.
SMAD-7 inibe a associação da SMAD-2 com a As catepsinas não agem em proteínas citosólicas,
SMAD-4 e o seu acúmulo nuclear, respostas estas como as proteínas miofibrilares [2]. Porém, Zhao
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 73

et al. [43] relatam que a proteólise lisossomal com esta grande liberação de Ca2+ e consequente
dependente de autofagia apresenta mecanismos ativação do sistema de calpaínas.
mais complexos, principalmente em função de Goll et al. [45], em seu artigo de revisão,
uma autofagia aumentada por meio do fator de relatam a presença das calpaínas 1 (m-calpaína)
transcrição FoxO3 (que será posteriormente de- e 2 (μ-calpaína), além de uma calpaína específica
talhado) e uma regulação coordenada entre os sis- denominada calpaína-3 ou calpastatina, nas cé-
temas ubiquitina proteassoma ATP-dependente/ lulas musculares estriadas esqueléticas. Embora
UPS e lisossomal (figura 4). as funções destas calpaínas nas fibras musculares
ainda não estejam descritas claramente na li-
Figura 4 - Vias de sinalização de hipotrofia muscular teratura, estes autores citam a possibilidade do
(ubiquitina proteassoma ATP-dependente/UPS e li- envolvimento destas calpaínas na organização
sossomal) controladas pelo fator de transcrição FoxO3, do citoesqueleto destas células. Goll et al. [45] e
associando mecanismo hipertrófico e hipotrófico. Adap- Donkor [46] também evidenciam que a m-calpa-
tado de Zhao et al. [43]. ína e a µ-calpaína são, efetivamente, as proteases
cálcio-dependentes, enquanto a calpastatina seria
responsável por inibir o sistema proteolítico.
Kandarian e Stevenson [4] relatam que o
aumento exacerbado na concentração sarcoplas-
mática de Ca2+ poderia ativar as calpaínas ligadas
a linha/disco-Z, resultando em proteólise com
consequente hipotrofia muscular. As proteínas
musculares nebulina e fodrina seriam degradadas
na presença das calpaínas ativas [47], assim como
a vinculina e a titina também são considerados
substratos do sistema de calpaínas [2]. Segundo
Kandarian e Stevenson [4], a clivagem da titina,
proteína que mantém o alinhamento do sarcôme-
ro, permite a liberação das proteínas miofibrilares
para serem ubiquitinadas e, posteriormente,
degradadas no sistema proteassoma/UPS, uma
vez que este sistema não é capaz de degradar
proteínas intactas.

Via das calpaínas dependentes de cálcio (Ca2+) Via das caspases

O sistema de calpaínas integra o grupo de As caspases (cysteine-dependent aspartate-


proteases de tipo cisteínas dependentes de cálcio -specific proteases ou, em português, proteases
(Ca2+). Less et al. [44] discorrem, a partir de um aspartato-específicas dependentes de cisteína)
estudo desenvolvido com ratos, que uma grande inserem-se na família das proteases a base de
depleção de glicogênio poderia resultar na inca- cisteína que reconhecem certos tetrapeptídeos
pacidade de reabsorção do cálcio liberado pelas (proteínas-alvo) e os clivam nos sítios próximos
cisternas do retículo sarcoplasmático, sobretudo ao resíduo de aspartato [48]. Segundo Nicholson
pela diminuição nas reservas locais de ATP, o [49], as caspases são essenciais para a iniciação
que promoveria uma incapacidade das bombas e execução de apoptose ou morte programada
de cálcio (caracterizadas por um transporte ativo de células e no processamento e maturação das
– dependente de ATP) funcionarem adequada- citocinas inflamatórias.
mente. Sendo assim, atividades musculares de alto Nos seres humanos, foram identificados 11
volume e intensidade, poderiam estar relacionadas diferentes tipos de caspases: a caspase-1 até a cas-
74 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

pases-10 e caspase-14. Várias caspases adicionais, Kandarian e Stevenson [4] citam que o
incluindo caspase-11, caspase-12 e caspase-13 processo de ubiquitinação ocorre em função da
foram detectados em outros mamíferos, tais como participação de três enzimas, denominadas: E1
roedores e a vaca Bos taurus. Estas 14 caspases ou de ativação da ubiquitina, E2 ou conjugante
encontradas nos mamíferos são classificadas em de ubiquitina e a E3 ou de ligação da ubiquitina.
vários grupos, de acordo com as suas relações O mecanismo proteolítico, segundo estes autores,
filogenéticas e correlacionadas funcionalmente ocorre em função de uma ordem sequencial de
[50]. Dois subgrupos são caracterizados como etapas. Primeiramente, a ubiquitina é ativada pela
iniciadores (caspases-2, -8, -9 e -10) e efetores enzima E1, procedimento que necessita de ATP.
(caspases-3, -6 e -7) na via de sinalização apop- Uma vez ativada, a ubiquitina é transferida para
tótica. Na subfamília das caspases inflamatórias, a enzima E2. Na sequência, a enzima E3 (enzima
estão incluídas as caspases-1, -4, -5, -11, -12 e -13. que esta ligada junto ao substrato proteico a ser
A caspase-14 é única, uma vez que não pertence marcado e. em seguida, hidrolisado), se liga a
nem as caspases apoptóticas e nem caspases infla- enzima E2. Em continuidade ao mecanismo, a
matórias. Ela é considerada uma caspase atuante enzima E2 transfere a ubiquitina para o substra-
na diferenciação de queratinócitos na pele [51]. to proteico (alvo) ligado a E3, marcando-o para
No que tange a fibra muscular, Du et al. posterior clivagem (degradação) no proteassoma.
[2] destacam a caspase-3 que, por meio de uma Este mecanismo ocorre repetidas vezes até que se
conexão entre a via de sinalização da PI3K/Akt forme uma cadeia de quatro ou mais moléculas
e ativação das vias proteolíticas, teria um impor- de ubiquitina, o que permitiria a degradação,
tante papel na hipotrofia muscular induzida por em peptídeos, da proteína alvo no proteassoma
algumas doenças crônico-degenerativas, como (Figura 5 A e B).
o câncer e o diabetes. Kandarian e Jackman [3]
relatam que o sistema proteolítico ubiquitina-pro- Figura 5 - A. Sistema Ubiquitina Proteassoma
teassoma/UPS é capaz de degradar os filamentos ATP-dependente/UPS, promovendo mecanismos de
de actina ou miosina, contudo, como descrito ubiquitinação e degradação proteica. B. Ação das
anteriormente, este sistema não é capaz de quebrar enzimas E1, E2 e E3 enfatizadas no Sistema Ubiqui-
os complexos actomiosina intactos. Sendo assim, tina Proteassoma ATP-dependente/UPS. Adaptado de
as caspases (em especial, a caspase-3) teriam ações Kandarian e Stevenson [4].
conexas àquelas das calpaínas, disponibilizando
as proteínas miofibrilares para a ubiquitinação.
Mesmo com o desenvolvimento de diversos
estudos objetivando investigar e elucidar os meca-
nismos celulares mais intrínsecos, atualmente não
existem evidências mostrando o papel das caspases
na hipotrofia muscular induzida pelo desuso.

Via da ubiquitina proteassoma ATP-


dependente (UPS)

Jackman e Kandarian [2] relatam que o pro-


teassoma 26S, responsável pela degradação da
maioria das proteínas miofibrilares ubiquinadas
decorrente da hipotrofia, caracteriza-se por um
complexo proteico constituído por uma subuni-
dade central, denominada 20S e duas subunidades
periféricas, conhecidas como anéis, denominadas A.
19S.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 75

B.

Como abordado anteriormente, o proteasso- modulam a atividade de vários agentes nas vias
ma não é capaz de degradar proteínas intactas. proteolíticas ubiquitina-proteassoma e autofágica-
Postula-se, então, que a proteólise miofibrilar, -lisossomal, incluindo a autofagia mitocondrial,
oriunda do sistema das calpaínas [45] ou esti- também chamada de mitofagia.
mulada pelas caspases [52], seja exigência prévia Estes fatores de transcrição/Foxo também têm
e fundamental para que ocorram os processos de sido implicados na regulação do mecanismo de
ubiquitinação e, subsequentemente, de degra- apoptose em fibras musculares estriadas esquelé-
dação proteica no proteassoma 26S. Portanto, ticas [55].
sobretudo no desuso muscular, os sistemas das A função dos Foxo é minimizada quando os
calpaínas e caspases atuariam previamente, libe- mesmos são fosforilados em seus resíduos con-
rando proteínas oriundas dos sarcômeros para servados, procedimento que os manteriam no
que, posteriormente, estas sofressem os processos citoplasma. Desta forma, os FoxOs, sobretudo
de ubiquitinação (enzimas E1, E2 e E3) e degra- o FoxO1, não iriam para os núcleos das fibras
dação no proteassoma. musculares ativar a expressão de diversos genes
Thomas e Mitch [53] e Kandarian e Jackman relacionados com a hipotrofia muscular, os quais
[3] discorrem sobre relação entre as proteínas se incluem as chamadas ubiquitinas ligases:
muscle atrophy F-box (MAFbx, também conhecida Atrogin-1 (Muscle Atrophy F-box ou MAFbx) e
como atrogin-1) e a muscle ring finger 1 (MuRF- MuRF-1 (Muscle RING-Finger-1) [56].
1), com a via ubiquitima proteassoma, indicando- Dentre vários fatores, Sandri e colaboradores
-as, inclusive, como marcadores de proteólise da [57] citam o desuso como um importante esti-
referida via. mulador do mecanismo hipotrófico via FoxO,
aproveitando para apontarem, de forma abran-
Via FoxO (Forkhead box O) gente, o comportamento da via FoxO a partir da
ação dos estímulos hipertróficos e hipotróficos.
Os fatores de transcrição FoxO (Forkhead box O exercício físico, quer seja de força ou de en-
O), integram uma subfamília de um grande grupo durance, propicia a condição de ativar as vias que
de fatores de transcrição denominados forkehead, promoveriam a fosforilação dos FoxOs, inibindo
com destacado papel na homeostase celular As cé- assim, a expressão gênica de atrogin-1 e MuRF1
lulas dos seres humanos possuem quatro membros [58]. Estas proteínas estão altamente ligadas com
desta família, FoxO1, FoxO3, FoxO4 e FoxO6, o processo de degradação proteica [59].
sendo todos expressos no músculo esquelético,
embora os três primeiros membros sejam os mais Via do TNFα (Tumor Necrosis Factor-α)
estudados neste tecido [54]. e NFkB (Nuclear Factor kappa-B)
Sanchez, Candau, Bernardi [54] ainda
apontam que, referente ao processo de trofismo Alguns fatores de transcrição, como o Fator
muscular, os FoxO1 e FOXO3 são reguladores- Nuclear kappa-B ou Nuclear Factor kappa-B
-chave da degradação de proteínas, uma vez que (NFkB), desempenham um importante papel
76 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

como mediadores da imunidade e inflamação. O (TWEAK) é um membro da superfamília de TNF


NFkB também é expresso no músculo esquelético, e foi descrito como um indutor de hipotrofia
no qual medeia o efeito de citocinas inflamatórias, muscular [62]. O TWEAK atua sobre as células
particularmente do fator de necrose tumoral-α que respondem pela ligação ao fator-14 (Fn14),
ou Tumor Necrosis Factor-α (TNFα,), na perda um pequeno receptor de superfície celular. O
de massa muscular e caquexia. Dentre os vários Fn14 é regulado positivamente nos músculos
processos, o complexo proteico NF-kB (composto desnervados, permitindo a ativação do NFkB e,
por cinco subunidades diferentes: p65 ou Rel consequentemente, a expressão de MuRF1 (mas
11 A, Rel B, c-Rel, p52 e p50) está envolvido não atrogin-1).
no mecanismo de hipotrofia muscular induzida Outro importante sinalizador positivo de
pelo desuso. NFkB em célula muscular é uma ubiquitina
No estado inativo, o fator NFkB é sequestrado ligase denominada fator associado ao receptor de
no citoplasma por uma família de proteínas inibi- TNF do tipo 6 ou TNF receptor-associated factor
tórias, chamadas de IkB. Em resposta ao TNFα, 6 (TRAF6), tendo importante papel na ativação
o complexo de IkB-quinases (IKKβ), fosforila o da via NFkB por diversos estímulos, entre eles o
IkB, resultando na sua ubiquitinação e degradação jejum [64]. Estes mesmos autores também rela-
no proteossoma. Isso leva a translocação nuclear tam que por meio do TRAF6, ocorre indução da
de NFkB e a ativação da transcrição de genes hipotrofia muscular pela ativação da via FOXO3
modulados por NFkB, como MuRF-1 [60]. e da via AMPK nos músculos em jejum, além da
Corroborando o descrito, Cai e colaborado- ativação dos sistemas proteolíticos: ubiquitina-
res [61] apontam que a superexpressão de IKKβ -proteassoma e autofagia-lisossomal.
específicos do músculo em ratinhos transgênicos
promove uma severa hipotrofia muscular media- Via dos glicocorticoides
da, pelo menos em parte, por MuRF-1, mas não
por atrogin-1. Glicocorticoides é a denominação de uma
Além disto, o TNFα e outras citocinas pró- família de hormônios esteroides produzidos,
-inflamatórias também causam resistência à preferencialmente, na zona fasciculada do córtex
insulina e supressão da via de IGF1-Akt [62]. da glândula adrenal ou suprarrenal. O principal
Portanto, a fosforilação de Akt deve ser sempre representante desta família, em seres humanos, é
ativada quando a via NFkB é minimizada, pelo o hormônio cortisol.
fato da inibição de Akt contribuir substancial- É fato inconteste que a concentração de gli-
mente para a hipotrofia muscular. Este conceito é cocorticoides é aumentada em muitas condições
apoiado pelo estudo de Mourkioti e colaboradores patológicas associadas com a perda de massa
[63], desenvolvido com ratos knockout de IKKβ. muscular.
Estes ratos apresentaram alta resistência à hipo- Não obstante, é sabido que o tratamento com
trofia muscular, além de uma hiperfosforilação da glicocorticoides induz ao aumento da expressão de
molécula de Akt. atrogin-1 e MuRF1, resultando em hipotrofia de
O significado da hipotrofia muscular dimi- células musculares em cultivo (in vitro) e in vivo
nuída após diminuição da atividade de IKKβ [65,66]. Os mecanismos de hipotrofia muscular
e o grau a que esse efeito é dependente de Akt modulados pelos glicocorticoides foram recen-
permanecem obscuros. temente desvendados [67]. Uma vez no núcleo
No entanto, estes resultados destacam a im- da fibra muscular estriada esquelética, o receptor
portância da interação entre as duas vias, e outros de glicocorticoide ativa a expressão de dois ge-
estudos são necessários para elucidar as respectivas nes alvo: o Regulated in development and DNA
contribuições dos caminhos de IKKβ-NFkB e damage-1 (REDD1) e o Kruppel-like factor-15
Akt-FoxO na hipotrofia muscular. (KLF15) [68]. O REDD1 inibe a atividade da
O TNF relacionado à fraca indução de mTOR, por promover o aumento da atividade
apoptose ou TNF-like weak inducer of apoptosis das TSC1 e TSC2. Hayasaka et al. [69] relatam
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 77

que o exercício de endurance induz o aumento exercício físico, sobretudo com os diversos tipos
da expressão gênica de REDD1, sinalizando, de exercício – moderado e intenso, de força e
consequentemente, uma inibição da atividade de resistência muscular, resistidos e não resistidos,
mTORC1, fato este que poderia estar relacionado com predomínio do metabolismo aeróbio e com
com os efeitos “anti-hipertróficos” do hormônio alta participação do metabolismo anaeróbio, entre
cortisol. A inibição da mTOR é permissiva para outros – ainda se mostra pouco esclarecedora,
a ativação de um programa de hipotrofia através necessitando de estudos mais aprofundados para
do KLF15. De fato, a ativação de mTOR atenua a um maior entendimento.
hipotrofia muscular induzida por glicocorticoides.
KLF15 é um fator de transcrição que está envol-
vido em vários processos metabólicos no músculo Referências
esquelético como, por exemplo, na regulação
positiva da aminotransferase de cadeia ramifica- 1. Fernandes T, Soci UPR, Alves CR, Carmo EC,
da 2 (BCAT2). O KLF15 participa também do Barros JG, Oliveira EM. Determinantes mole-
catabolismo muscular regulando a transcrição culares da hipertrofia do músculo esquelético
gênica de FoxO1, Atrogin-1 e MuRF1. Além mediados pelo treinamento físico: Estudo de vias
disso, o KLF15 afeta negativamente a mTOR de sinalização. Revista Mackenzie de Educação
através de regulação positiva de BCAT2 que, por Física e Esporte 2008; 7(1):169-188.
sua vez, induz a degradação de aminoácidos de 2. Jackman RW, Kandarian SC. The molecular basis
cadeia ramificada. Waddell et al. [70] relatam que of skeletal muscle atrophy. Am J Physiol, Cell
FOXO1 e receptores de glicocorticoides coopera- Physiol 2004;287(4):834-43.
ram mutuamente para ativar a expressão MuRF1. 3. Kandarian SC, Jackman RW. Intracellular signa-
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Conclusão 4. Kandarian SC, Stevenson EJ. Molecular events in
skeletal muscle during disuse atrophy. Exerc Sport
Postula-se que os processos de hipertrofia e Sci Rev 2002;30(3):111-6.
hipotrofia muscular estão diretamente relacio- 5. Goldberg AL, Etlinger JD, Goldspink DF, Jablecki
nados ao turnover proteico muscular. É impor- C. Mechanism of work-induced hypertrophy of
tante apontar que as vias de síntese e degradação skeletal muscle. Med Sci Sports 1975;7(3):185-98.
proteica ocorridas na célula muscular estriada 6. Denny-Brown D. Experimental studies pertai-
esquelética são estimuladas por diversos sinais ning to hypertrophy hypertrophy, regeneration
extracelulares controlados, como por hormônios, and degeneration. Neuromuscular Disorders
citocinas, fatores de crescimento, potenciais de 1961;38:147-196.
ação (estímulos neurais) e, com destaque, pela 7. Goldspink NM. The combined effects of exercise
prática do exercício físico agudo e crônico. Assim and reduced food intake on skeletal muscle fibers.
sendo, o objetivo deste estudo de revisão foi eluci- J Cell Comp Physiol 1964;63:209-16.
dar as principais vias envolvidas nos processos de 8. Manning BD, Cantley LC. AKT/PKB signaling:
hipertrofia e hipotrofia muscular, relacionando-as navigating downstream. Cell 2007;129:1261-74.
com os diversos tipos de exercício e treinamento 9. Schiaffino S, Mammucari C. Regulation of skeletal
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toras dos processos de hipertrofia e hipotrofia 10. Heitman J, Movva NR, Hall MN. Targets for cell
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alta relação com a otimização de algumas destas in yeast. Science 1991;253:905-9.
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DO EXERCÍCIO
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REVISÃO

Como treinar força com segurança


na terceira idade
How to use strength training with security in elderly people

Marcus Vinicius Grecco, Ft.*, Rodrigo Juliano Dini, Ft.*

*Especialista em neuromusculoesquelética pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

Resumo
Um programa de treinamento de força bem elabo- Abstract
rado pode resultar em melhoria da performance tanto A successfull program of strength training may
nas atividades da vida diária quanto nas atividades improve daily routine performance of activities that
que exijam força muscular. Esta revisão da literatura require muscular strength. This literature review aims
tem como objetivo verificar se o treinamento de força at verifying if strength training improves functional
melhora os aspectos funcionais de pessoas da terceira status of elderly people. The analyzed studies showed
idade. Nos estudos analisados, observaram-se vários the general benefits of a strength training program:
benefícios gerais de um treinamento de força, entre increased muscular strength, a slightly increase in
eles: aumento da força muscular, aumento das fibras muscular potential, in muscular fiber type I and II,
musculares tanto do tipo I como do tipo II, pequeno indrease of section transversal area, pain relief, lower
aumento da área de secção transversal, diminuição dos abdominal fat, increase of gastrointestinal motility, im-
níveis de dor, diminuição de gordura intra-abdominal, provement in bone density, lower body fat percentage,
melhoria da motilidade gastrointestinal, melhoria lower cardiovascular disease risks and diabetes mellitus,
dos fatores neurais, aumento da densidade óssea, lower risk of lesions caused by falls, increased functional
diminuição da porcentagem de gordura, diminuição capacity, improve posture, high self-motivation and
dos riscos de doenças cardiovasculares, diminuição self-image, increased agility, flexibility and resistance.
dos riscos de desenvolvimento de diabetes mellitus, The list of benefits will increase as other studies will
diminuição de lesões causadas por quedas, aumento continue finding other important benefits to improve
da capacidade funcional, melhoria da postura geral, life quality of the elderly. We concluded that a streng-
aumento da motivação e melhoria da autoimagem, th training program is fundamental for improving
aumento da agilidade, aumento da flexibilidade e functional status of elderly people, as physical capacity
aumento da resistência. A relação tende a continuar interferes in quality of life.
à medida que outros estudos vão encontrando outros Key-words: rehabilitation, old, strength.
benefícios importantes para a melhoria da qualidade
de vida do idoso. Concluiu-se que o treinamento de
força é de fundamental importância no que diz respeito
aos aspectos funcionais das pessoas da terceira idade,
sendo a força a principal capacidade física que interfere
na qualidade de vida.
Palavras-chave: reabilitação, idoso, força.

Recebido em 24 de agosto de 2015; aceito em 10 de dezembro de 2015.


Endereço para correspondência: Marcus Vinicius Grecco, Rua Coriolano, 846/44, Vila Romana, 05047-000
São Paulo SP, E-mail: mvgrecco@ig.com.br
82 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Introdução Capacidade funcional é o nível de condiciona-


mento necessário para uma pessoa cuidar sozinha
Segundo a gerontologia, a senescência (pro- das necessidades domésticas, sociais e da vida diária.
cesso natural do envelhecimento) é um fenômeno A melhoria dos componentes da capacidade fun-
fisiológico decorrente de alterações da atividade cional (força, potência, resistência e flexibilidade) é
celular, e que acarreta ao organismo a deteriori- de extrema importância para manter o desempenho
zação de uma capacidade de manter o equilíbrio de atividades como subir escadas ou levantar uma
homeostático. A senilidade está relacionada com cadeira. Por exemplo: a força dos músculos exten-
as inúmeras afecções que podem acometer os sores do quadril é necessária para levantar, a partir
idosos devido ao processo de envelhecimento [1]. da posição sentada; se esses músculos perderem sua
A Organização Mundial da Saúde tem a se- elasticidade, o gesto de caminhar será limitado, a
guinte classificação e nomenclatura relacionada postura ficará errada, qualquer atividade terá maior
ao envelhecimento (terceira idade): Meia-idade, gasto energético e consequentemente fadiga preco-
indivíduos entre 45 e 59 anos; Idosos, indivíduos ce e desequilíbrio [2,5,6,10,11].
entre 60 e 64 anos; Velhos, indivíduos entre 65 e Hoje se sabe que o treinamento de força tem
90 anos e Muito Velhos, indivíduos acima de 90 um profundo efeito sobre a independência fun-
anos [2,3]. cional e a qualidade de vida de idosos acima dos
Os idosos constituem um grupo caracterizado cem anos [2].
pela grande variação nas capacidades fisiológicas,
mentais e funcionais [4]. Estímulo à saúde
O uso do treinamento de força para idosos é
uma forma de diminuir o declínio das capacidades Estudos epidemiológicos evidenciaram que
físicas e da massa muscular relacionadas com a as populações fisicamente ativas têm menor inci-
idade, que resulta em melhoria da qualidade de dência de muitas doenças e situações patogênicas,
vida [5,6]. entre elas a hipertensão arterial, a obesidade, o
Há centenas de publicações de pesquisa sobre diabetes mellitus, a dislipidemia, a osteoporose,
os benefícios de treinamento resistido para pes- a sarcopenia e também a ansiedade e depressão.
soas acima dos 60 anos de idade, e vários destes Consequentemente, diminui a ocorrência de
estudos demonstraram que, inclusive pessoas aterosclerose e suas consequências: doença coro-
acima de 90 anos, podem obter ganhos de força nariana, doença cerebrovascular e doença vascular
muscular com melhoria da saúde e da capacida- periférica. Também diminui o confinamento no
de funcional, tornando-se mais entusiasmadas e leito devido a fraturas ósseas e incapacidade física
independentes [7]. grave, reduzindo-se a mortalidade por infecções
Na aplicação do treinamento de força para este pulmonares e tromboembolismo.
tipo de população é necessário um profundo co- Um aspecto importante é que os estudos epi-
nhecimento das alterações fisiológicas associadas à demiológicos não evidenciaram superioridade de
idade e dos riscos deste tipo de atividade em faixas nenhuma forma de atividade física sobre outras,
etárias mais avançadas [8]. Uma investigação atra- no que diz respeito à promoção de saúde. Em
vés de minuciosa anamnese e avaliação física, além publicação conjunta com o Centers for Disease
de prévia aprovação médica são fundamentais para Control and Prevention dos Estados Unidos da
a maior segurança e certeza dos benefícios desta América, o American College of Sports Medicine re-
atividade [9]. conheceu em 1995 que as suas próprias recomen-
A falta de condicionamento, inatividade física dações para promoção de saúde, anteriores a essa
ou doença crônica resultam em uma diminuição data, estavam incorretas. A entidade divulgava até
da força, potência, resistência e flexibilidade, pro- então que os exercícios aeróbios que aumentam o
movendo um decréscimo da capacidade funcional volume de oxigênio máximo eram preferenciais
e das habilidades de executar atividades da vida para promoção de saúde. Atualmente consensos
diária [5,6]. internacionais reconhecem que o estímulo à saú-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 83

de ocorre também com atividades anaeróbias e exercícios com carga têm pouco efeito no volume
interrompidas, que não aumentam o volume de de oxigênio máximo, mas estimulam bastante
oxigênio máximo. o limiar anaeróbio. Isto ocorre porque o forta-
Talvez os estudos não tivessem a sensibilidade lecimento dos músculos permite que as tarefas
necessária para esclarecer esta questão, mas o fato sejam realizadas com menor número de fibras.
concreto é que atualmente não é possível afirmar Assim sendo, o nível de produção energética que
que alguma atividade física seja mais saudável se atinge com trinta por cento das fibras aumenta
do que outras. Por esta razão, as campanhas de após o treinamento. Na vida diária da maioria
saúde não enfatizam a necessidade de uma forma das pessoas o volume de oxigênio máximo não é
particular de atividade física, mas a importância utilizado no seu limite máximo. Ao contrário, o
de um estilo de vida não sedentário. Entende-se limiar anaeróbio tem nítida relação com qualidade
por atividade física a contração muscular de qual- de vida, pois as pessoas com baixo limiar fazem a
quer tipo, que pode ou não levar ao movimento, maioria das tarefas laborativas anaerobicamente,
independente da finalidade: postura, trabalho, portanto com fadiga e desconforto [5,10,14,15].
locomoção, esporte e lazer. Desde que o gasto Do ponto de vista biomecânico, a qualidade
calórico seja superior à média diária de duzentas de vida depende basicamente de força e flexi-
kcal, haverá redução na incidência de doenças. bilidade. Os exercícios com carga estimulam
Exercício é conceituado como forma especial de ambas as qualidades, os de alongamento apenas
atividade física, planejada, sistematizada, pro- a flexibilidade, e os aeróbios nenhuma delas em
gressiva e adaptada ao indivíduo, sempre com o grau significativo. Graus máximos de flexibilidade
objetivo de estimular uma ou mais adaptações são necessários apenas para alguns atletas, e as
morfológicas ou funcionais. lesões articulares incidem mais nas pessoas mais
Outro aspecto relevante é que os efeitos dele- flexíveis [16].
térios à saúde produzidos pelo sedentarismo são A homeostase hemodinâmica nos esforços da
lentamente progressivos. Pessoas jovens seden- vida diária e do trabalho físico, com pequenas ele-
tárias não se apercebem dos problemas, que são vações da frequência cardíaca e da pressão arterial,
bastante evidentes no idoso. Esse fato justifica depende basicamente da força muscular. Pessoas
a atitude médica de estimular a atividade física fortes fazem as tarefas com menor número de
em todas as faixas etárias. Também é importante fibras; isto significa menor intensidade de esforço;
notar que a motivação para a atividade física pode consequentemente, menores repercussões hemo-
mudar com a faixa etária, mas isto não afeta o dinâmicas por mecanismos reflexos [5,11,17-20].
efeito promotor de saúde [5,6,12,13].
Considerações sobre faixa etária
Efeitos metabólicos e qualidade de vida
Pessoas idosas costumam apresentar graus
Parâmetros de aptidão como a potência variados de processos degenerativos articulares
aeróbia, medida pelo volume de oxigênio máxi- e vasculares, exigindo maiores cuidados na
mo, e a capacidade aeróbia, medida pelo limiar prática esportiva e nos programas de exercícios
anaeróbio, são mais eficientemente estimuladas terapêuticos ou de condicionamento físico.
pelos exercícios aeróbios. Durante muito tempo, Muitos idosos são sedentários há muitos anos,
o volume de oxigênio máximo foi considerado exigindo atividades iniciais muito suaves com
parâmetro de saúde, pela sua associação com me- lenta progressão. Particularmente as perdas de
nores incidências de doenças crônicas, mas hoje massa óssea e muscular costumam ser impor-
se admite que essa relação seja apenas associativa tantes nos idosos. Uma pessoa sedentária perde
e não de causa e efeito. Pessoas melhoram a saúde cerca de 10% de massa muscular entre os 25 e
quando fazem exercícios, e se os exercícios forem 50 anos de idade, e cerca de 30% entre os 50
de um tipo que aumenta o volume de oxigênio e 80 anos de idade. A força, a resistência e a
máximo podem ocorrer conclusões indevidas. Os flexibilidade diminuem proporcionalmente à
84 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

massa muscular. Estudos mostram ganhos signi- Teste do agachamento


ficativos na força isométrica e isocinética depois
de um programa de treino de força para idosos. Essa avaliação visa os músculos da coxa que são
A força na terceira idade se origina mais de uma muito usados com regularidade e que nos fornece
adaptação neuromuscular que do aumento da o estado geral de nível de força em pessoas adultas.
fibra muscular, se comparada ao ganho de força É um método prático que se pode realizar em
em pessoas jovens, devido ao decréscimo de qualquer lugar, sem equipamento de peso. Como
secreção hormonal (testosterona) na terceira se emprega o próprio peso corporal como carga,
idade. Mulheres idosas conseguem aumentar os resultados são personalizados e não requerem
até 10% a massa muscular e até 200% a força, cálculos matemáticos [4].
com apenas alguns meses de treinamento com
carga. Estes exercícios têm se mostrado os Procedimentos de teste
mais eficientes para as necessidades dos idosos
e também os mais seguros [6,7,11,13,17,21]. Ficar de pé por cerca de 15 a 30 cm diante de
Sabe-se que a perda de massa muscular uma cadeira. Os pés devem estar afastados quase
ocorre tanto na musculatura lisa quanto na es- na largura dos ombros e os calcanhares devem
triada. Portanto, o sistema gastrointestinal, que permanecer sobre o chão. Cruze os braços sobre
é composto por musculatura lisa, é favorecido o peito e agache devagar até o glúteo encostar-se à
pelo treinamento de força, tendo diminuição cadeira sempre mantendo as costas eretas. Agache
do tempo da passagem de alimentos por este e levante, sempre bem devagar e controlando o
sistema, assim, evitando-se a incidência de cân- movimento para não se desequilibrar, quantas
cer de colo. É importante ressaltar que quando vezes puderem e depois correlacione com a tabela
o indivíduo envelhece ocorre um excesso de de classificação de força [4].
ingestão calórica com consecutivo aumento
do depósito de gordura corporal. O equilíbrio Avaliação da força muscular
energético positivo e a falta de atividade física
são os maiores contribuintes para o aumento Depois de realizar a maior quantidade possível
da porcentagem de gordura armazenada e para de agachamentos de maneira confortável, com-
diminuição da massa corporal magra no enve- pare esse número com o da categoria apropriada,
lhecimento [6,7,11,13,17,21]. para avaliar o nível atual de condicionamento
Outro ponto importante para observarmos o de força. Por exemplo: um homem de sessenta
motivo da atrofia muscular é o acúmulo de do- e dois anos que realiza dezesseis agachamentos
enças crônicas, tais como: osteoporose, diabetes, apresenta um nível médio de condicionamento de
hipertensão, ateroesclerose, depressão, inconti- força em seus músculos da coxa e isquiotibiais; e
nência urinária, uso de vários medicamentos e uma mulher de cinquenta e oito anos que realiza
uma alteração na secreção hormonal, e, por isso, dezenove agachamentos possui um alto nível
os níveis de testosterona e hormônio do cresci- de condicionamento de força no mesmo grupo
mento estão muito baixos [6,7,11,13,17,21]. muscular [4].

Teste da força muscular Diretrizes para determinar as cargas


iniciais de pesos
As três características mais importantes que
afetam o condicionamento muscular são o sexo, Embora os níveis de força possam variar
a idade e o estilo de vida. O que realmente im- entre os grupos musculares, o teste de avaliação
porta é a melhoria física pessoal que permite que de membro inferior deve, em geral, fornecer um
melhore a forma como o indivíduo se sente, o bom indicador a respeito do condicionamento
funcionamento do corpo e até a sua aparência [4]. total. Quanto mais alto o nível de força, mais
carga se usa para iniciar os exercícios. Se a pon-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 85

tuação atingir uma média superior no teste, o Conceitos básicos pra um bom treina-
treinamento se iniciará com cargas maiores que mento de força na terceira idade
no caso de pontuação média inferior. Como
diretriz geral cada categoria de condicionamento Para a elaboração de um programa de treina-
de força envolve uma carga de treinamento com mento de força que realmente traga benefícios e
um quilo a mais que a da categoria imediatamen- seja seguro e compatível com o idoso, os seguintes
te inferior. Para níveis baixos de força deve-se fatores devem ser lembrados.
reduzir a carga inicial recomendada em quatro O programa deve ser individualizado e espe-
quilos ou mais [10]. cífico: Sempre há inúmeras variáveis que devem
Naturalmente as cargas iniciais recomen- ser consideradas na montagem do programa e
dadas se baseiam também na idade e no sexo, cada uma delas varia entre os indivíduos. Por
se todos esses fatores forem considerados, as exemplo, se o idoso tiver problemas de equilíbrio,
cargas sugeridas deverão ser adequadas, embora, deve realizar o exercício sentado e em aparelhos
devido às diferenças individuais, algumas das de resistência, e/ou se o idoso tiver dificuldade de
cargas recomendadas possam ser pesadas demais ficar em pé, teremos que enfatizar no programa
e outras possam ser muito leves. Se não for exercícios de força nos músculos da coxa e para-
possível completar pelo menos oito repetições vertebrais [2].
no exercício, deve-se reduzir a carga. Se for A progressão no volume e intensidade dos
possível realizar mais do que doze repetições exercícios deve ser feita de maneira linear. A pro-
do exercício, sempre de forma correta deve-se gressão pode acontecer pelo aumento do número
aumentar a carga. A carga deve ser suficiente- de séries ou de repetições, pela diminuição dos
mente pesada para que se sinta o esforço, mas intervalos entre as séries, pela execução de dois
não tão pesada que cause desconforto muscular. ou mais exercícios para o mesmo grupo muscular,
Se a idade for muito avançada ou o estado físico entre outros.
estiver muito debilitado, recomenda-se come- O uso de várias posições para o mesmo exercí-
çar os exercícios de treinamento de força no cio também desafia o corpo de maneira diferente e
nível mais baixo e evoluir gradualmente. Mas também pode fazer parte da progressão do exercício.
caso o praticante tenha realizado treinamento Por exemplo: na execução de qualquer exercício na
de força recentemente, podem ser as cargas posição em pé há um aumento do trabalho muscu-
sugeridas para o exercício que esteja abaixo de lar total, quando comparado ao mesmo exercício
sua capacidade. O praticante deverá sentir-se à executado na posição sentada. Na posição em pé
vontade para usar mais carga somente se realizar há um maior trabalho dos músculos dos membros
o exercício de maneira perfeita. Nunca se deve inferiores, coluna do que na posição sentada, além
sacrificar a técnica de treinamento em função de uma maior compressão dos discos intervertebrais,
de peso excessivo [4.10,19]. principalmente da coluna lombar. Isto mostra a
importância de enfatizar a coluna lombar com exer-
cícios de fortalecimento e consciência postural antes

Tabela I - Categorias de pontuação do teste do agachamento (em repetições).


Condicionamento Faixa etária
de força 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos
Homem Mulher Homem Mulher Homem Mulher
Baixo 12 a 14 6a8 9 a 11 3a5 6a8 0a2
Abaixo da média 15 a 17 9 a 11 12 a 14 6a8 9 a 11 3a5
Médio 18 a 20 12 a 14 15 a 17 9 a 11 12 a 14 6a8
Acima da média 21 a 23 15 a 17 18 a 20 12 a 14 15 a 17 9 a 11
Alto 24 a 26 18 a 20 21 a 23 15 a 17 18 a 20 12 a 14
Fonte: Westcott, [4].
86 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

de prescrever exercícios na posição em pé, pois ela é preciso água, o músculo é formado por 80% de
um elo fraco de ligação entre os membros superiores água, a recomendação é de 8 copos diários. Área
e inferiores no iniciante [2,8]. de exercícios espaçosa, ventilada e bem iluminada
Quando a progressão é feita bruscamente, o confere segurança e conforto para se treinar sem
tecido muscular geralmente se adapta mais rápido risco de lesão, o local não pode ser um amontoado
que os outros tecidos. Quando o indivíduo que de aparelhos e gente, pois o idoso pode tropeçar
se adaptou desta maneira começa a usar sobre- em aparelhos e se desconcentrar com um ambien-
cargas maiores, o risco de lesões aumenta porque te com muita bagunça [4,19-21].
o músculo produz uma tensão que os tecidos de Requerer a liberação médica para este tipo de
conexão não têm a adaptação compatível para atividade para verificar se o idoso está apto ou não
suportar [2,4,8,19]. para se engajar em um programa de treinamento
Fazer a progressão da intensidade e volume do de força. Após a liberação médica, o segundo passo
exercício de maneira linear é de vital importância para a segurança do exercitante é a avaliação física
no processo de adaptação. Somente desta maneira realizada pelo fisioterapeuta [14,18,20].
a adaptação será sistêmica, ou seja, haverá uma Não utilizar a manobra de Valsalva ou respira-
adaptação não só do sistema muscular, mas de ção bloqueada: a expiração forçada contra a glote
todo o sistema musculoesquelético-articular, fechada, como na manobra de Valsalva, aumenta a
incluindo os tecidos de conexão. Esta adaptação pressão intratorácica e impede o retorno venoso ao
sistêmica é imprescindível para prevenir proble- coração. A respiração bloqueada durante o esforço
mas como tendinites, bursites, periostites e lesões aumenta a pressão arterial [2,15].
como as avulsões, quando o treinamento já estiver Os exercícios escolhidos devem trabalhar os
em um nível mais avançado. A sobrecarga dos grandes grupos musculares com uma média de 4
aparelhos de fortalecimento muscular aumenta a 6 exercícios, mais 3 a 5 exercícios para grupos
de maneira muito brusca. Por exemplo, na mesa musculares menores e pelo menos um exercício
romana a primeira placa pesa 4 kg e a segunda para cada principal grupo muscular. Os exercí-
pesa 7 kg. Isto representa um aumento de 75% cios podem ser feitos com pesos livres e ou com
na intensidade, que promove uma progressão aparelhos. Na fase de adaptação, os aparelhos
muito brusca quando o indivíduo quer aumentar e determinadas posições devem ser preferidos
a intensidade do exercício [2,4,8,19]. por diminuírem a exigência de estabilização e
A ação de radicais livres e o envelhecimento consciência postural. Na escolha dos exercícios
celular: A intensidade correta dos exercícios de é importante selecionar aqueles que têm menor
musculação e alongamentos, bem como uma risco de quedas com possíveis fraturas [2,10].
dieta que suplemente corretamente as principais As ordens dos exercícios devem seguir as
vitaminas antioxidantes (vitaminas A, C e Beta seguintes fases: o aquecimento (bicicleta estacio-
Caroteno) ajudam a diminuir a ação dos radicais nária ou caminhada na esteira), que pode durar
livres que afetam no envelhecimento celular e de 5 a 10 minutos, dependendo da temperatura
aumenta o risco de doenças [21]. ambiente, com a inclusão de alongamentos; a
Os fatores de risco como a obesidade, hiper- sessão de fortalecimento propriamente dita, com
tensão, tabagismo, relação cintura-quadril, entre ênfase nos grandes grupos e depois nos pequenos
outros devem ser levados em consideração para grupos musculares; a volta à calma, que pode
a segurança do exercício. Além disso, vestimenta ser feita com recuperação ativa e exercício de
adequada é importante p/ um treino seguro e alongamento (músculos aquecidos se alongam
confortável e isso envolve tênis antiderrapante, mais fácil), ligamentos, tendões e músculos são
roupas folgadas conferindo liberdade de mo- menos elásticos nos idosos devido à diminuição
vimento e boa transferência de calor evitando de água no organismo, calcificação e substituição
elevação de temperatura. Hidratação adequada, das fibras elásticas por colágeno, por isso a impor-
pois o centro da sede no idoso perde a sensibili- tância de alongamentos em uma programação
dade e para um bom funcionamento muscular é [2,7,11,14,17,18,20].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 87

Exercícios aeróbios são importantes para au- nos quais é utilizada uma separação dos grupos
mentar a resistência cardiovascular e os benefícios musculares trabalhados por dia podem ser feitos
do treino de força, devendo-se fazer de maneira praticamente todos os dias com uma média de 4
gradual 20 minutos ou mais de exercícios de a 5 vezes por semana. Já os programas que traba-
endurance, 3 vezes por semana com intensidade lham o corpo todo no mesmo dia devem ter um
moderada, podendo falar sem dificuldade durante intervalo de pelo menos um dia entre as sessões.
o exercício [,7,11,14,17,18,20]. Quanto maior a intensidade do treinamento
A sobrecarga utilizada varia com o estágio do maior deve ser o período de recuperação para uma
treinamento e com o nível de condicionamento melhor recuperação tecidual (supercompensação)
prévio, mas os valores devem ficar entre cinquenta proporcionando melhor hipertrofia. É importante
e oitenta por cento de uma repetição máxima. ressaltar que a fase de anabolismo pós-exercício
Isto somente em trabalhos científicos como do idoso é mais lenta do que a de um jovem. Se
parâmetros de avaliação, pois na prática diária aparecerem os sintomas de overtraining, o período
é lesivo. Hoje, usam-se cargas relacionadas ao de recuperação pode estar curto demais [2,8-11].
percentual do peso corporal do exercitante e que O princípio da reversibilidade: As adapta-
possa ser levantado entre 8 e 12 repetições sem ções do treinamento permanecem enquanto as
sentir desconforto e sem esquecer o princípio da demandas fisiológicas e metabólicas continuam.
progressão [2,4]. A reversão das adaptações começa dias após a
O número de séries depende de algumas vari- interrupção do treinamento. Uma vez que certo
áveis, mas, de maneira geral, são realizadas duas a nível de condicionamento é atingido, uma míni-
três séries por exercício. Começar com uma série e ma quantidade de exercícios regulares é necessária
avançar para três, em concordância com o avanço para manutenção das adaptações. Em geral, a
das adaptações do idoso [2]. manutenção das adaptações do treinamento
O número de repetições deve variar entre 6 requer menos exercício do que é necessário para
e 15 de acordo com as variáveis. Não é indicada induzir as alterações iniciais. Sendo assim, para
a realização da série até a falha concêntrica, pois o idoso a atividade física deve fazer parte dos
isto aumenta a pressão sanguínea e a frequência afazeres da vida diária e deve perdurar enquanto
cardíaca, principalmente com as cargas entre 50 for possível [2].
e 90% de uma repetição máxima. O princípio da sobrecarga: o corpo se adapta
Menores repetições enfatizam mais força, à demanda fisiológica e metabólica do exercício,
enquanto o aumento das repetições enfatiza a com o tempo. As sobrecargas de treinamento de-
resistência. Para grupos especiais, como o da vem progressivamente aumentar para induzirem
terceira idade, a faixa de repetições mais segura é a contínua melhora das adaptações. No idoso esta
de oito a doze repetições [2,10]. sobrecarga não deve ultrapassar de 80 a 90% de
Repetições acima de quinze devem ser evita- uma repetição máxima [2,4].
das, pois gera um estresse cardiovascular e, menor Periodização: a periodização permite uma
de seis, gera estresse articular [2,10]. variação do treinamento, evita a desmotivação e
Descanso entre as séries e exercícios: O tempo ajuda a prevenir o overtraining. Além disso, per-
de descanso tanto entre as séries quanto entre os mite um contínuo ajustamento do programa de
exercícios depende de muitas variáveis como nível treinamento em resposta ao progresso do idoso
de condicionamento, estado nutricional, intensi- ou a outros fatores com lesões e doenças [2,8,10].
dade do exercício, entre outras. Em geral, quando A mudança nos costumes alimentares para
a intensidade do exercício já estiver próxima de uma dieta balanceada e de qualidade, a interrup-
80% de uma repetição máxima, é recomendável ção do hábito de fumar e/ou beber em excesso,
um descanso de 2 a 3 minutos [2,8]. bem como a importância que estas alterações
Frequência dos treinos: Esta deve variar de trazem para a saúde, devem fazer parte das orien-
acordo com a intensidade do treinamento e com tações do profissional ao idoso, no começo do
a forma do programa. Por exemplo: programas programa de treinamento [14,18,21].
88 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Programas de treino em suas diferentes em grupo controle e grupo de exercício. O pro-


fases grama resultou em significantes ganhos de força
e de capacidade funcional, além do aumento da
Na fase principiante, deve-se empregar cargas atividade espontânea (medida através de monitor
leves, exercícios fáceis de execução (aparelho) e de atividade), nos idosos que participaram do
exercício por grupo muscular. Dar preferência programa, enquanto que, no grupo controle,
aos exercícios básicos (que abrangem muitos gru- não houve mudança. Concluiu-se que o exercício
pos musculares). Deve-se dar importância nesta pode minimizar ou reverter a síndrome da fragili-
fase não à carga, mas sim a execução perfeita do dade física que é tão prevalecente entre os idosos
exercício. Treinar de duas a três vezes por semana. [17]. Este estudo prova que não são somente os
Depois de um mês de adaptação, aumenta-se exercícios aeróbios, que aumentam o volume de
o volume e a frequência, inserem-se exercícios oxigênio máximo, os melhores para estimular a
livres com halteres e eleva-se o número de séries saúde. Center for Disease Control and Prevention
para duas, de exercícios e a carga. Esta é a fase dos Estados Unidos e American College of Sports
intermediária. Para quatro treinos semanais, Medicine publicaram, em 1995, que exercícios
pode-se dividir o treino em duas partes: treino A, anaeróbios e intervalados, que não aumentam o
pelas segundas e quintas: coxas, pernas e braços; volume de oxigênio máximo, serviam também
e, o treino B, pelas terças e sextas: costas, ombros, para promover a saúde, e que suas publicações
peito e abdome. anteriores a esta data sobre recomendações à
Quando o corpo já está adaptado ao treino, promoção de saúde estavam incorretas.
aumentam-se o volume e a intensidade e passa- Atualmente não é possível afirmar que alguma
-se a realizar três séries de cada exercício, de três atividade física seja mais saudável do que a outra.
a quatro exercícios por grupo muscular, seis a Por essa razão, campanhas de saúde pública não
oito repetições devido ao aumento da carga pela enfatizam em particular uma espécie de atividade
adaptação nervosa e hipertrofia muscular. Pode- física, mas sim o fim do sedentarismo [18].
-se, também, dividir o treino em três partes: A, Relata-se que antes das citações do American
segundas e quintas-feiras: peito e costas; B, terças College of Sports Medicine, em 1995, os exercícios
e sextas-feiras :ombro e braço; e C, quartas e sá- anaeróbios eram considerados perigosos e muito
bados: coxa, panturrilha e abdome. Esta é a fase intensos, não recomendados ao público idoso.
avançada [4,10]. Hoje se sabe que ele pode ser suave, como no caso
de uma sessão de musculação com peso submáxi-
mo. Por outro lado, exercícios aeróbios (pedalar,
Resultados e discussão correr) próximos ao limiar anaeróbio podem ser
considerados intensos, pois elevam a frequência
Realizou-se, em 1999, um programa de cardíaca de maneira considerável, podendo ofere-
treinamento resistido de alta intensidade (acima cer risco cardiovascular para pessoas com doenças
de 60% de uma repetição máxima) com 100 in- coronarianas às vezes subclínicas. É importante
divíduos idosos. Os indivíduos foram divididos ressaltar que se o idoso for impedido de realizar

Tabela II - Programa de treinamento da fase principiante.


Exercício Músculo Série Repetições
Leg press Quadríceps e isquiotibiais 1 8 – 12
Supino vertical Peitoral, dos ombros e tríceps 1 8 – 12
Grandes dorsais, bíceps braquial
Remada Sentada 1
e paravertebrais 8 – 12
Reto abdominal, oblíquos, trans-
Abdominal (encolhimento)
verso, abdominal inferior 1 8 – 12
Fonte: Westcott [4].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 89

musculação devido a uma contraindicação abso- exercício: energia, nutrição e desempenho huma-
luta em relação à segurança de sua saúde, o idoso no. 3a. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
não poderá realizar mais nenhuma outra pro- 1991. p. 451-71.
gramação de exercício [5,6,10,12,13,14,17,18]. 9. David O. O atleta idoso. In: Mellion MB. Segredos
em medicina desportiva. 1ª ed. São Paulo: Artes
Médicas; 2000.p. 59-65.
Conclusão 10. Fleck SJ, Kraemer WJ. Treinamento de força para
idosos. In: Fundamentos do treinamento de força
Com os crescentes estudos científicos relacio- muscular. 2a.ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p.
nados aos exercícios resistidos, conclui-se que o 200-10.
treinamento de força é de fundamental importân- 11. Frontera WR, Meredith CN, O’Reilly KP. Streng-
cia no que diz respeito aos aspectos funcionais das th conditioning in older men: skeletal muscle
pessoas da terceira idade, sendo a força a principal hypertrophy and improved function. J Appl
capacidade física, que interfere na qualidade de Physiol 1998;64(3):1038-44.
vida. Deste modo, percebe-se a importância de 12. Pate RR, Pratt M, Blair SN. Centers for disease
profissionais de Fisioterapia estar atualizando-se control and prevention and American College
quanto aos assuntos de treinamento de força: of Sports Medicine - special communication.
anatomia aplicada, cinesiologia, biomecânica, Physical activity and public health. JAMA
fisiologia do exercício, reabilitação do movimento 1995;273(5):402-7.
humano dentre outros. 13. Weineck J. Treinamento para manutenção da
saúde. In: Treinamento ideal. 9a.ed. São Paulo:
Manole; 1999. p.650-62.
Referências 14. Hickson RC, Dvorak BA, Gorostiaga EM. Po-
tential for strength and endurance training to
1. Jacob WF, Sousa RR. Anatomia e fisiologia do amplify endurance performance. J Appl Physiol
envelhecimento. In: Carvalho Filho ET, Papaleo 1998;65(5):2285-90.
Neto M, eds. Geriatria: Fundamentos, clínica e 15. Sale DG, Moroz DE, McKelvie RS. Effect of
terapêutica. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 31-40. training on the blood pressure response to weight
2. Campos MA. Musculação e idosos. In: Muscula- lifting. Can J Appl Phisiol 1994;19(1):60-74.
ção: diabéticos, osteoporóticos, idosos, crianças, 16. Nahas MV. Atividade física, saúde e qualidade de
obesos. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2000.p.79- vida. Londrina: Midiograf; 2003.
96. 17. Cider A, Tygesson H, Hedberg M. Peripheral
3. Weineck J. Idade e esporte. In: Biologia do esporte. muscle training in patients with clinical signs of
1 ed. São Paulo: Manole; 2000. p.319-48. heart failure. Scand J Rehab Med 1997;29:121-7.
4. Westcott W, Baechle T.O teste da força muscular 18. McCartney N, McKelvie RS, Martin J. Weight-
e como ganhar força com segurança depois dos -training-induced attenuation of the circulatory
50 anos. In: Treinamento de força para a terceira response of older males to weight lifting. J Appl
idade.1a. ed. São Paulo: Manole; 2001.p. 11-31. Physiol 1993;74(3):1056-60.
5. Santarem JM. Treinamento de força e potência. 19. Reeves RK, Laskowski ER, Smith J. Weight trai-
In: Ghorayeb N, Barros TL. O Exercício. 1a. ed . ning injuries. The Physician and Sports Medicine
São Paulo: Atheneu; 1999. p. 35-50. 1998;26(2):67-96.
6. Santarem JM. Exercícios com pesos para pessoas 20. Verrill DE, Ribisl PM. Resistive exercise training
idosas. A terceira idade 1995;10(6):51. in cardiac rehabilitation. An update. Sports Med
7. Fiatarone MA, Marks EC, Ryan ND. High- 1996;21(5):347-83.
-intensity strength training in nonagenarians. 21. Fiatarone MA, O’Neill EF, Ryan ND. Exercise
JAMA 1990;263:3029-34. training and nutrition supplementation for phy-
8. McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Atividade sical frailty in very elderly people. N Engl J Med
física, saúde e envelhecimento. In: Fisiologia do 1994;330:1769-75.
Normas de publicação Fisiologia do Exercício

A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publica- 3. Revisão


ção com periodicidade bimestral e está aberta para a publi- Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas re-
cação e divulgação de artigos científicos das áreas relaciona- lacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir,
das à atividade física. analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do
Exercício poderão também ser publicados na versão ele- trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais.
trônica da revista (Internet) assim como em outros meios
eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, 4. Atualização ou divulgação
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem São trabalhos que relatam informações geralmente atuais
estas condições. sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “es- (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características dis-
tilo Vancouver” preconizado pelo Comitê Internacional de tintas de um artigo de revisão.
Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são
detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês das Rec- 5. Relato ou estudo de caso
ommendations for the Conduct, Reporting, Editing, and Pub- São artigo de dados descritivos de um ou mais casos exploran-
lication of Scholarly Work in Medical Journals no site do In- do um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
ternational Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
www.icmje.org, na versão atualizada de dezembro de 2013. idade e pode ser realizado em humano ou animal.
(o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês,
no site de Atlântica Editora em pdf ). 6. Comunicação breve
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com
da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem obser-
eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica en- vações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive
tendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com
será notificado ao autor. condições de argumentação mais extensa que na seção de
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou re- cartas do leitor.
torno de acordo com a circunstância, realizar modificações Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o con- formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho
teúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito,
itálico, sobre-escrito, etc.
1. Editorial Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser
por um de seus membros. editados em Power Point, Excel, etc
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times bibliográficas.
Roman) com todas as formatações de texto, tais como ne-
grito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter 7. Resumos
mais que dez referências. Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e arti-
gos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo
2. Artigos originais do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentan- outros idiomas.
do dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva 8. Correspondência
e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a con- Esta seção publicará correspondência recebida, sem que ne-
vencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material cessariamente haja relação com artigos publicados, porém
e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. relacionados à linha editorial da revista.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publica-
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho dos, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se
12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, publicar a carta.
itálico, sobre-escrito, etc. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especifica-
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato ções anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Excel/Word. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (for-
mato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power- 1. Normas gerais
Point, Excel, etc. 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processa-
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bib- dor de texto (Word), em página de formato A4, formatado
liográficas. da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times)
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como
de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, con- negrito, itálico, sobrescrito, etc.
cisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 91

cada tabela junto à mesma. metodologia, análise).


1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as - Descobertas principais do estudo (dados concretos e es-
especificações anteriores. tatísticos).
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e de- novidade.
senhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, in- chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão
trodução, material e métodos, resultados, discussão, con- utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores
clusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que
tradução do resumo para o inglês e também das palavras- se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.
chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores ex-
por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos istentes.
enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc)
anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no dis- 5. Agradecimentos
quete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio finan-
ceiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de
2. Página de apresentação laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do
A primeira página do artigo apresentará as seguintes infor- artigo, antes as referências, em uma secção especial.
mações:
- Título em português, inglês e espanhol. 6. Referências
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricu- As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
lar e títulos acadêmicos. definido nos Requisitos Uniformes. As referências biblio-
- Local de trabalho dos autores. gráficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no
respectivo endereço, telefone e E-mail. texto, seguindo as seguintes normas:
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques,
para paginação. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In:
aparelhos, etc. autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do
livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos,
3. Autoria editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par- inicial e final, ponto.
ticipado do trabalho o suficiente para assumir a responsabi- Exemplo:
lidade pública do seu conteúdo. 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH,
O crédito como autor se baseará unicamente nas contri- editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and manage-
buições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvim- ment. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
ento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do
artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), le-
conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que tras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publica-
as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na ção seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido
obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar
participação como autor. A supervisão geral do grupo de maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abrevia-
pesquisa também não é suficiente. dos de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas
autores durante o processo de revisão do manuscrito, espe- nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde
cialmente se o total de autores exceder seis. (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6
autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Exemplo:
Na segunda página deverá conter um resumo (com no Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and lo-
máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 calization of urokinase-type plasminogen activator receptor
palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: porta-
- Objetivos do estudo. latlanticaeditora.com.br
- Procedimentos básicos empregados (amostragem,
92 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2

Calendário de eventos

2017
Agosto
Maio
1 a 5 de agosto
8 a 11 maio
XXXVIII Congresso Mundial da IUPS 2017
Congresso Brasileiro de Biomecânica, I
“Rhythms of Life”
Encontro Latino Americano de Biomecânica e
Rio de Janeiro, RJ
VIII Simpósio em Neuromecânica Aplicada
Informações:  www.iups2017.com
Porto Alegre, RS
Informações:  www.biomecanica2017.com.br
Setembro
Julho 14 a 17 de setembro
9º Congresso Internacional de Fisioterapia
27 a 30 de julho
Porto Alegre, RS 
22º Congresso Brasileiro Multidisciplinar em
Informações: contato@sbf.org.br
Diabetes
Paraíso, SP
Informações: www.anad.org.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2 93
94 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2017 - volume 16 - número 2
PÓS-GRADUAÇÃO 2017 - 2º SEMESTRE

MAIS QUE UMA


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