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MEDIDAS E

AVALIAÇÃO EM
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ana Paula Maurilia dos Santos


Avaliação preliminar
da saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever os exames clínicos e laboratoriais mais utilizados e os pro-


tocolos de avaliação de estilo de vida.
 Analisar as tabelas de classificação de acordo com os resultados dos
testes.
 Aplicar um teste para avaliação do estilo de vida.

Introdução
Para possibilitar uma melhor compreensão sobre a avaliação preliminar
de saúde em adultos, é de suma importância para o profissional em
educação física conhecer bem os protocolos padronizados relacionados
à atividade física regular. Assim, é importante saber como e onde utilizar
e quais procedimentos adotar para análise e classificação dos resultados,
de modo a fornecer informações individuais e coletivas para a adoção
de um estilo de vida mais ativo.
Neste capítulo, você vai conhecer como se dá a avaliação pré-par-
ticipação em atividades físico-esportivas. Para isso, abordaremos quais
são os exames laboratoriais e clínicos que devem ser realizados com o
intuito de detectar possíveis fatores de risco, sinais e sintomas sugestivos
de doenças cardiovasculares e outras contraindicações.

1 Pré-participação em atividades físicas:


principais protocolos
Estilo de vida pode ser definido como um “[...] conjunto de ações habituais
que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas”
(NAHAS, 2001, p. 11). Isso diz respeito ao comportamento e as escolhas do
2 Avaliação preliminar da saúde

indivíduo em relação à hábitos do cotidiano, refletindo diretamente no seu


estado de saúde e influenciando sua percepção da qualidade de vida (VEIGA;
CANTORANI; VARGAS, 2016).
Segundo Pôrto et al., (2015), são necessárias algumas atitudes para se
manter um estilo de vida saudável: alimentação balanceada, prática regular
de exercícios físicos, evitar o consumo de álcool e fumo, manter o controle do
peso, do colesterol, da pressão arterial, ter repouso adequado e um equilíbrio
psicológico.
Toda intervenção que vise mudanças de comportamentos parte do reco-
nhecimento pelo próprio indivíduo do estado atual do seu estilo de vida. De
maneira geral, as três principais características do estilo de vida associadas à
saúde individual, ou mesmo determinantes são: nível de estresse, caracterís-
ticas nutricionais e atividade física habitual. Esses três fatores influenciam
decisivamente na saúde dos indivíduos, juntamente com o comportamento
preventivo e a qualidade dos relacionamentos, e são eles que compõem o cha-
mado Pentáculo do Bem-Estar (NAHAS; BARROS; FRANCALACCI, 2000).
Acredita-se que um estilo de vida saudável não é alcançável sem a prá-
tica de atividade física regular; portanto, cabe aos profissionais de educação
física a busca por instrumentos específicos para atender aos parâmetros do
seu universo de atuação: o exercício físico. Além disso, é fundamental que
esse profissional diagnostique e verifique com precisão as reais condições de
saúde de cada um dos seus alunos antes de ingressá-los em um programa de
exercícios físicos.
Dentre os instrumentos que fornecem uma avaliação preliminar da saúde,
podemos citar (ANDREAZZI et al., 2016; MATSUDO et al., 2001):

 Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q) — suge-


rido pela Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício, e exigido
por lei em alguns estados brasileiros antes do ingresso de alunos em
academias, este questionário tem o objetivo de identificar possíveis
riscos quanto à prática de exercícios físicos, bem como direcionar o
aluno que apresenta riscos à avaliação por um médico antes do início
da atividade física.
 Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) — pro-
posto em 1998 pela Organização Mundial de Saúde, este questionário
de determinação do nível de atividade física é utilizando quando se
objetiva alcançar grandes grupos populacionais, para se estabelecer a
extensão da relação entre atividade física e saúde/doença. Trata-se de
um instrumento de precisão, de fácil aplicação e de baixo custo.
Avaliação preliminar da saúde 3

Andreazzi e colaboradores (2016) acreditam que, além do PAR-Q, outros


exames clínicos poderiam corroborar o diagnóstico de doenças crônicas,
muitas vezes não identificadas pelo questionário. Segundo Nahas (2006),
tais avaliações pré-participação podem envolver avaliações de saúde, com-
posição corporal, rendimento, postura e nutrição. Quanto ao protocolo IPAQ,
considera-se sua relevância uma vez que níveis adequados de atividade física
estão associados a um estilo de vida ativo e, como consequência, menor
risco de mortalidade, uma vez que a inatividade física tem sido conside-
rada o quarto maior fator de risco de morte no mundo (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2015).
Para o ingresso em um programa de exercícios físicos, de acordo com a
Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício (NÓBREGA et al., 2013)
existe a necessidade de avaliação clínica pré-participação para atividades físico-
-esportivas. A Diretriz justifica a importância do exame clínico em adultos
que praticam atividades físicas e esportivas de maneira regular (intensidade
moderada a alta) uma vez que permite a detecção de fatores de risco, sinais e
sintomas sugestivos de doenças cardiovasculares, pulmonares, metabólicas
ou do aparelho locomotor.

As técnicas clássicas de anamnese clínica devem ser empregadas, com alguns


diferenciais, notadamente privilegiando aspectos relacionados ao exercício e
à história de doenças familiares ou eventos cardiovasculares relacionados à
prática de esportes (NÓBREGA et al., 2013, documento on-line).

Os exames laboratoriais de rotina visando à saúde propostos pela Diretriz


podem ser classificados como:

 não cardiovasculares — hemograma completo, glicemia de jejum,


ureia e creatinina, lipidograma completo, ácido úrico, hepatograma
(TGO, TGP, gama-GT, bilirrubinas, TAP/INR), exame de urina, exame
parasitológico de fezes;
 cardiovasculares — eletrocardiograma, ecocardiograma, teste ergométrico.

Tais exames tornam-se imprescindíveis para reduzir o risco de morte súbita


e outras morbidades associadas ao exercício físico. Além disso, a importância
desses exames se dá pelo fato de que, quanto mais os indivíduos receberem
informações sobre saúde, mais fácil será mudar seus hábitos de vida. Como
medida preventiva, principalmente nos casos de populações especiais (idosos,
gestantes, hipertensos, diabéticos, obesos, cardiopatas), a realização desses
exames se torna essencial.
4 Avaliação preliminar da saúde

Diante disso tudo, verifica-se que o profissional de educação física pode


e deve realizar outras avaliações complementares, como as físicas e antropo-
métricas, com o objetivo de obter informações mais precisas sobre o estado
de saúde do seu aluno, para assim poder manipular as variáveis agudas do
treinamento (volume, intensidade, intervalo entre as séries, tipo de exercício,
nº. de repetições) de maneira adequada às necessidades do aluno.
Como muitos aspectos do estilo de vida devem ser levados em consideração
na avaliação de saúde de potenciais entrantes em um programa de exercícios
físicos, a seguir examinaremos em mais detalhes a avaliação clínica reco-
mendada, dando maior ênfase à aplicação dos instrumentos PAR-Q e IPAQ,
fundamentais na intervenção do profissional de educação física.

2 Classificação dos parâmetros de avaliação


em saúde
Considerando a Diretriz em Cardiologia do Esporte e do Exercício (NÓBREGA
et al., 2013), apresentaremos as informações básicas sobre os exames labo-
ratoriais de rotina. Vale ressaltar que o profissional de educação física pode
sugerir a realização desses exames, mas quem deve prescrevê-los é o médico,
ao considerar as particularidades do indivíduo. As informações fornecidas por
esses exames são cruciais para planejar e elaborar um programa de exercícios
físicos, sendo mais uma justificava para a sua realização.

Exames laboratoriais e clínicos


Levando em consideração os exames não cardiovasculares e cardiovasculares,
temos como os mais solicitados:

 Hemograma completo — quantifica e avalia morfologicamente as


células do sangue, sendo crucial para o diagnóstico e o controle evolu-
tivo de doenças, como as crônicas, por exemplo (BANDEIRA, 2014).
Segundo Grotto (2009), somente 4 dos 11 parâmetros rotineiramente
fornecidos foram selecionados como úteis e frequentemente utilizados
por mais de 90% dos profissionais inquiridos: dosagem de hemoglobina
(Hb), determinação do hematócrito (Ht), contagens de plaquetas e de
leucócitos. A anemia, por exemplo, é diagnosticada via hemograma,
índices de hemoglobina e hematócrito.
Avaliação preliminar da saúde 5

 Glicemia de jejum — é um teste utilizado para diagnosticar e monitorar


o diabetes mellitus (FRANCO et al., 2019). A grande preocupação é
que incidência de doenças cardiovasculares em indivíduos diabéticos é
duas a quatro vezes maior em relação aos que não têm diabetes. Além
disso, diabéticos devem tomar cuidados especiais ao praticar exercícios
físicos. Os parâmetros de referência, são: normal (inferior a 100 mg/
dL); alterada, ou pré-diabetes (entre 100 e 125 mg/dL), diabetes mellitus
(igual ou superior a 126 mg/dL).
 Ureia e creatinina — esses exames são cruciais para avaliação da
função renal. A principal utilidade clínica da ureia parece estar na
determinação em conjunto com a creatinina.

A razão ureia sérica/creatinina sérica pode indicar estados patológicos diferen-


tes. Em valor abaixo do esperado, ela pode ser encontrada em patologias como
necrose tubular aguda, baixa ingestão de proteínas, condições de privação
alimentar ou redução da síntese de ureia por insuficiência hepática (SODRE;
COSTA; LIMA, 2007, documento on-line).

 Lipidograma completo — envolve de 4 a 6 exames, todos referindo-se


ao conteúdo lipídico no sangue. A ingestão calórica excessiva, com
elevado teor de gordura e colesterol, está associada a níveis séricos
aumentados de colesterol total (CT) e fração de colesterol da lipopro-
teína de baixa densidade (LDLc) (COELHO et al., 2005). Além disso,
p LDLc é considerado fator causal e independente de aterosclerose.
 Hepatograma — avalia os marcadores bioquímicos, enzimas hepáticas
que podem estar alteradas e causando complicações no fígado. Danos
hepáticos causados por medicamentos se traduzem em aumento das
transaminases oxaloacética e pirúvica (TGO e TGP), ou colestático, o que
levará ao aumento de bilirrubinas (particularmente da direta, da fosfatase
alcalina e da gamaglutamiltransferase (G-GT) (BERTOLAMI, 2005). No
âmbito da educação física, podemos considerar que o uso de esteroides
anabolizantes é um dos “medicamentos” que induzem dano hepático.
 Exame de urina e parasitológico de fezes — o estudo do sedimento
urinário é considerado um meio auxiliar de grande importância, não
apenas para diagnosticar como também para avaliar a evolução das
doenças renais, urológicas, hipertensivas e outras (NAKAMAE, 1980).
Já o parasitológico de fezes tem o intuito de pesquisar ovos, larvas e
cistos de protozoários. A infecção parasitária pode ocasionar ou não
alguma patologia e gerar sintomas de diarreia, dores abdominais, perda
de sangue nas fezes, emagrecimento, alterações de humor, ansiedade,
6 Avaliação preliminar da saúde

agitação e até mesmo alterações nos índices hematológicos, causando


principalmente anemia (ANTUNES; MORAIS, 2019).
 Eletrocardiograma — “[...] é um método diagnóstico de simples execu-
ção, de grande utilidade nos diagnósticos das doenças cardiovasculares,
sobretudo as agudas, como as arritmias e o infarto agudo do miocárdio”
(BARROS et al., 2016, documento on-line).
 Ecocardiograma — método de diagnóstico por imagem de grande
importância na prática clínica cardiológica, que analisa a estrutura e o
funcionamento do coração (ÂNGELO et al., 2007).
 Teste ergométrico — é um método universalmente aceito para o
diagnóstico das doenças cardiovasculares, “[...] sendo também útil
na determinação prognóstica, na avaliação da resposta terapêutica,
da tolerância ao esforço e de sintomas compatíveis com arritmias ao
exercício”. No teste, o indivíduo é submetido a um esforço físico pro-
gramado e individualizado, com o objetivo de avaliar suas respostas
clínica, hemodinâmica, autonômica, eletrocardiográfica, metabólica e
eventualmente ventilatória ao exercício (MENEGHELO et al., 2010).

Rosa e Profice (2019) acreditam que, apesar de amplamente difundidos, esses protocolos
podem agir como barreira para a adoção de um estilo de vida mais ativo, uma vez
que a exigência de consulta médica e realização de bateria de exames pode desesti-
mular quem gostaria de iniciar a prática de exercícios físicos prontamente. ‘’A demora
por atendimento na rede pública de saúde e horários de trabalho que dificultem o
agendamento de consultas e exames são apenas algumas razões que podem ir na
contramão do desejo ou necessidade da prática de exercícios físicos’’ (ROSA; PROFICE,
2019, documento on-line).

Em conjunto com especialistas da área, a American College of Sports


Medicine (ACSM) — entidade referência em avaliação em saúde e prescrição
de exercícios — divulgou novo sistema para a triagem pré-participação em
saúde em 2015. Vejamos a seguir as recomendações da entidade para avaliação
pré-participação em exercícios físicos (ROSA; PROFICE, 2019).
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 Pessoas fisicamente ativas, sem sintomas, sem Doenças Cardiovas-


culares (DCV), metabólicas ou renais conhecidas devem continuar
suas atividades físicas usuais e progredir adequadamente para maiores
intensidades, se assim desejarem.
 Pessoas fisicamente ativas, sem sintomas, com DCV, metabólicas ou
renais conhecidas, que tenham sido liberadas pelo médico para prática
de exercícios físicos dentro de 12 meses não necessitam retornar ao
médico para continuar seu programa de moderada intensidade, a menos
que desenvolvam sintomas das doenças mencionadas em item anterior
ou tenham alguma mudança em sua condição de saúde.
 Indivíduos que eram fisicamente ativos e desenvolveram sinais ou
sintomas de DCV, metabólicos ou renais devem procurar avaliação
médica antes de retomarem suas atividades.
 Pessoas fisicamente inativas mas saudáveis e sem sintomas podem
iniciar exercícios físicos leves sem necessitar de avaliação médica. Na
ausência de sintomas, podem progredir adequadamente em intensidade,
se assim desejarem.
 Indivíduos fisicamente inativos, com doenças ou sinais e sintomas
conhecidos de DCV, metabólicas e renais, devem procurar avaliação
médica, qualquer que seja a intensidade almejada do exercício físico.

De acordo com Rosa e Profice (2019), esse novo sistema da ACSM deve
diminuir as barreiras para o início da prática de exercício físico e tornar mais
eficiente a identificação de indivíduos que necessitem de avaliações médicas.
Cabe ao profissional de educação física optar pelo protocolo mais adequado
a seus clientes e sua realidade.

PAR-Q
Esse questionário foi criado em 1978 por pesquisadores da Sociedade Cana-
dense de Fisiologia do Exercício como método de triagem para indivíduos entre
15 a 69 anos de idade que desejavam começar um programa de atividades físicas
(ANDREAZZI et al., 2016). O questionário tem por finalidade detectar fatores
de risco para doenças cardiovasculares que podem levar a morte súbita, mas
tem limitações quanto à detecção de outras morbidades clínicas. A Figura 1
apresenta um exemplo de como um questionário desses se parece.
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Figura 1. Exemplo de um trecho de questionário PAR-Q.

Se o aluno respondeu “sim” a uma ou mais perguntas, deverá assinar um


Termo de Responsabilidade para Prática de Atividade Física. O termo determina
que o aluno está ciente de que é importante conversar com um médico antes de
aumentar o seu nível atual de atividade física. Por ter respondido “sim” a uma
ou mais perguntas, ele assume plena responsabilidade por qualquer atividade
física praticada sem o cumprimento dessa recomendação.
Embora o questionário PAR-Q seja padronizado na literatura atual e usado
na maioria das academias, Lancha Junior e Lancha (2016) alertam para o risco
desse instrumento para algumas populações especiais. De acordo com os autores,
o PAR-Q é um instrumento genérico e de baixa sensibilidade aos pacientes
com doença arterial periférica (DAP), por exemplo. Eles relatam um estudo no
qual grande parte dos indivíduos com DAP respondeu negativamente a todas
as questões do questionário, o que os credenciou, de forma errônea, a iniciar
o programa de exercícios físicos sem a necessidade de realizar avaliação car-
diológica, mesmo apresentando grande risco vascular. Sendo assim, os autores
recomendam que, para a identificação desses indivíduos, faz-se necessário
instrumentos de triagem mais abrangentes que contemplem questões específicas
sobre claudicação intermitente (sensação de cãibra), sintoma associado à DAP.

IPAQ
Esse questionário foi inicialmente proposto em 1998, por pesquisadores durante
uma reunião cientifica em Genebra (Suíça) (MATSUDO et al., 2001). No Brasil,
o Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
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(Celafiscs) é quem coordena e foi quem validou o IPAQ em uma amostra de


adultos brasileiros. O questionário pode ser aplicado em versão curta, exem-
plificada na Figura 2, ou em versão longa (MATSUDO et al., 2001).

Figura 2. Trecho de uma versão curta do IPAQ.


Fonte: Matsudo et al. (2001, documento on-line).

A versão curta do IPAQ [...] permite estimar o tempo despendido, por semana,
em diferentes dimensões de atividade física (caminhadas e esforços físicos de
intensidades moderada e vigorosa) e de inatividade física (posição sentada).
A versão longa do IPAQ apresenta 27 questões relacionadas com atividades
físicas realizadas numa semana normal, com intensidade vigorosa, moderada
e leve, com duração mínima de 10 minutos contínuos, distribuídas em quatro
dimensões de atividade física (trabalho, transporte, atividades domésticas e
lazer) e do tempo despendido por semana na posição sentada (BENEDETTI
et al., 2007, documento on-line).
10 Avaliação preliminar da saúde

Na Quadro 1, a seguir, apresentamos a classificação dos níveis de atividade


física de acordo com o questionário IPAQ.

Quadro 1. Classificação de nível de atividade física em adultos

Aquele que cumpriu as recomendações de:

Muito ativo a) vigorosa: ≥ 5 dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão.


b) vigorosa: ≥ 3 dias/sem e ≥ 20 minutos por
sessão + moderada e/ou caminhada: ≥ 5
dias/sem e ≥ 30 minutos por sessão.

Ativo a) vigorosa: ≥ 3 dias/sem e ≥ 20 minutos por sessão; ou


b) moderada ou caminhada: ≥ 5 dias/
sem e ≥ 30 minutos por sessão.
c) Qualquer atividade somada: ≥ 5 dias/sem e ≥ 150
minutos/sem (caminhada + moderada + vigorosa).

Aquele que realiza atividade física, porém insuficiente


para ser classificado como ativo, pois não cumpre as
recomendações quanto à frequência ou duração.*

Irregularmente Aquele que atinge pelo menos um dos


ativo A critérios da recomendação quanto à frequência
ou quanto à duração da atividade:
a) frequência: 5 dias/semana; ou
b) duração: 150 min/semana.

Irregularmente Aquele que não atingiu nenhum dos critérios da


ativo B recomendação quanto à frequência nem quanto à duração.

Sedentario Aquele que não realizou qualquer atividade física por


pelo menos 10 minutos contínuos durante a semana.

Para realizar essa classificação, soma-se a frequência e a duração dos


*

diferentes tipos de atividades (caminhada + moderada + vigorosa).

Fonte: Adaptado de Centro Coordenador do IPAQ no Brasil (2007).


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A partir daí, o profissional de educação física poderá servir para informar,


sugerir estratégias comportamentais, criar oportunidades e reduzir barreiras
para que os indivíduos conheçam as vantagens, almejem e ajam para ter um
estilo de vida saudável (NAHAS; BARROS; FRANCALACCI, 2000). O
entendimento dos protocolos exigentes são ferramentas bastante úteis para o
profissional que deseja estruturar um programa de exercícios físicos eficiente,
como no caso do PAR-Q. Além disso, mesmo que a interpretação dos exames
laboratoriais seja muito mais um atributo da medicina, cabe ao profissional de
educação física se inteirar sobre o processo fisiopatológico do seu cliente, no
sentido de prescrever exercícios físicos adequados à necessidades individuais.
Aos profissionais que realizam trabalho com grandes grupos, e principalmente
aqueles envolvidos com pesquisa, o entendimento de como se dá a aplicação
do IPAQ se torna essencial. A seguir, passaremos à aplicabilidade desses
testes de avaliação em saúde, por meio de alguns estudos de caso e dados de
pesquisas científicas.

3 Aplicabilidade dos testes para avaliação


do estilo de vida
Para facilitar o entendimento da classificação dos parâmetros de atividade
física regular descrita anteriormente, apresentamos a seguir um exemplo que
ilustra a aplicabilidade do IPAQ.

Avaliação da atividade física: o IPAQ


Um grupo de pesquisadores em educação física aplicaram o IPAQ junto a
sete mulheres que iniciaram um programa de dança, organizado sob projeto
de extensão desenvolvido pela universidade. Por meio das respostas obtidas
no questionário referentes à prática habitual de atividades físicas realizadas
na última semana, o grupo de pesquisadores verificou que grande parte das
mulheres apresenta um nível satisfatório de atividade física, como mostra o
Quadro 2.
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Quadro 2. Exemplo de classificação de nível de atividade física em adultos

Caminhada Moderada Vigorosa


Classifi-
Mulheres
cação
Freq. Dur. Freq. Dur. Freq. Dur.

Ana – – – – – – Sedentária

Bianca 4 20 1 30 – – Irregu-
larmente
ativa A

Rozana 3 30 – – – – Irregular-
mente ativa B

Maria 3 20 3 20 1 30 Ativa

Sabrina 5 5 45 – – – Ativa

Elis 3 30 3 30 3 20 Muito ativa

Joana – – – – 5 30 Muito ativa

Fonte: Adaptado de Centro Coordenador do IPAQ no Brasil (2007).

Podemos perceber que a frequência, bem como a intensidade, da prática de exercícios


físicos diz muito sobre uma pessoa ser suficientemente ativa ou não. Maria e Joana
praticam CrossFit, mas Joana pratica a modalidade cinco vezes por semana, enquanto
Maria pratica CrossFit apenas vez por semana e nos outros dias, yoga e caminhada.
Ambas são suficientemente ativas, uma vez que essas modalidades são de intensidade
moderada (caminhada, yoga) à vigorosa (CrossFit). Contudo, de acordo com a tabela
de classificação IPAQ, para alguém ser classificado como muito ativo, deve realizar
atividades vigorosas ao menos três dias por semana com duração maior ou igual a
20 minutos. Como Maria pratica CrossFit apenas vez por semana, e nos outros dias
pratica atividades físicas moderadas, ela é considerada ativa, ao contrário de Joana,
que realiza apenas CrossFit todos os dias da semana e, por isso, é classificada como
muito ativa. Elis costuma correr vigorosamente por 20 minutos três vezes por semana,
e isso não garante que ela seja muito ativa, segundo os critérios de classificação.
Porém, como também realiza caminhada três vezes por semana e Pilates três vezes
por semana, esse somatório de atividade vigorosa + moderada faz com que ela seja
muito ativa, assim como Joana.
Avaliação preliminar da saúde 13

Baseado em evidências, o diálogo na comunidade científica atual acerca


de um estilo de vida saudável centra-se na importância de se aumentar a
prática de atividade física em vários espectros da vida diária. Sendo assim, a
avaliação clínica pré-participação em atividades físico-esportivas é essencial,
por apresentar uma medida protetiva contra o risco de morte súbita, além de
permitir a detecção de fatores de risco, sinais e sintomas sugestivos de doenças
cardiovasculares. O profissional de educação física precisar ter conhecimento
sobre os instrumentos existentes para criar estratégias efetivas e seguras ao
elaborar um programa de exercícios físicos em consonância com os parâme-
tros de saúde do seu aluno. Para isso, o instrumento de mensuração deve ser
coerente com o objetivo que este pretende atingir, e seus resultados devem ser
confiáveis e relevantes para que a intervenção seja estruturada.
Enfim, os exames laboratoriais, testes clínicos e questionários apresentados
neste capítulo são recomendados pelos principais órgãos de saúde mundial, e
cabe ao profissional de educação física compreender as reais necessidades e
exigências desses testes. Em resposta à crescente morbidade por doenças não
transmissíveis e a fim de reduzir o impacto dos principais fatores de risco,
como inatividade física, nunca se estimulou tanto a prática de exercícios físicos.
Nesse sentido, é preciso ter cautela no processo de prescrição de exercícios
físicos, sendo a avaliação preliminar da saúde um recurso essencial.

ANDREAZZI, I. M. et al. Exame pré-participação esportiva e o PAR-Q, empraticantes de


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Leituras recomendadas
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16 Avaliação preliminar da saúde

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