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22/07/2019 Qual deve ser o voto de uma esquerda fiscalmente responsável na reforma da Previdência?

| Opinião | EL PAÍS Brasil

OPINIÃO

REFORMA DA PREVIDÊNCIA › TRIBUNA

Qual deve ser o voto de uma esquerda fiscalmente


responsável na reforma da Previdência?
É necessário pensar para além dos termos imediatos da dicotomia
responsabilidade fiscal x justiça social presente no projeto, e pensá-lo em
termos de qual deve ser a estratégia e o papel republicano de uma
esquerda no Brasil de Bolsonaro
RAPHAEL MARTINS

21 JUL 2019 - 07:26 BRT

Deputados comemoram aprovação da reforma da Previdência. LUIS MACÊDO (CÂMARA FEDERAL)

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Nesses tempos de debate político efervescente por conta da


reforma previdenciária, quando o voto de cada deputado está sob
escrutínio máximo, um exercício mental interessante é se colocar no
lugar de um deputado que está no espectro ideológico mais
polêmico para a ocasião: o de deputado de (centro-) esquerda que

Votação da acredita piamente na necessidade de uma reforma significativa.


Previdência em Como conciliar essas duas posições?
comissão da Câmara
dá vitória a ruralistas
no último minuto Examinando o projeto concreto em votação, é óbvio que em muitas
medidas ele representa um avanço importante para o país, como a
implementação de uma idade mínima e alterações na previdência do
setor público. Além disso, ele encarna um ímpeto reformista que é
muito bem-vindo em um país que vinha evitando tais debates
espinhosos. De fato, sua tramitação bem sucedida, mesmo na
ausência de um Executivo forte, depõe ainda mais contra a apatia
Câmara atende
bancada feminina reformista da era PT, quando no auge de seu capital político Lula
com emenda que perdeu a oportunidade de encaminhar reformas nos termos da
ameniza
esquerda.
aposentadoria e
pensão de mulheres

Por outro lado, ele possui problemas graves. O mais importante


deles deriva de um destaque, o último votado na comissão especial, e na calada da
noite. O destaque preservou a isenção da contribuição previdenciária de produtores
rurais que exportem pelo menos uma parte de sua produção, e tornou possível outra vez
a renegociação da dívida previdenciária dos mesmos. Ele foi resultado de intenso lobby
da CNA junto a Bolsonaro, que já havia prometido lealdade na questão aos deputados da
frente agropecuária em uma reunião no dia da votação. Esse destaque é extremamente
relevante em termos fiscais, pois representa cerca de 10% da poupança almejada com a
reforma! Ademais, outro problema grave do projeto atual é a exclusão dos militares.

É importante ressaltar que tais injustiças são o modus operandi de como a democracia
brasileira lida com seus impasses. O resultado é permitir, por exemplo, que deputados
do NOVO argumentem em termos de quão privilegiados trabalhadores que ganham 2
salários mínimos são em comparação com quem ganha 1, e isso passar por argumento
minimamente legítimo.

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Ainda assim, o argumento a favor de votar uma reforma, ainda que bem imperfeita, é
forte. Dado o dilema, é necessário então pensar o voto para além dos termos imediatos
da dicotomia responsabilidade fiscal x justiça social presente no projeto, e pensá-lo em
termos de qual deve ser a estratégia e o papel republicano de uma esquerda no Brasil de
Bolsonaro.

Aqui é importante ressaltar que o voto da esquerda na matéria não será decisivo.
Portanto, não há porque se imolar desnecessariamente no altar do moralismo e definir o
voto em termos da dramaticidade da questão fiscal, pois a distribuição dos votos é tal
que esta já estará encaminhada.

Esta postura pragmática permite que a esquerda se volte para o papel que deve cumprir
qualquer oposição em uma democracia representativa, que é o de vender caro seu voto
a fim de pressionar o Governo a se aproximar de sua pauta. Do contrário, se o
Congresso votasse levando em conta apenas a (justa) urgência dada pelo comentarista
liberal médio à questão fiscal, podemos imaginar um mundo em que a reforma passaria
com todos os votos a favor.

Será que uma esquerda responsável estaria cumprindo seu papel de denunciar o modus
operandi perverso da política brasileira se carimbasse sem ressalvas essa reforma? Ou
será que é importante seu papel de denunciar simbolicamente por meio do voto, de não
deixar sumir da consciência nacional as injustiças do processo, ainda que reconhecendo
sempre a necessidade da reforma e se colocando a disposição para negociar?

Não existe apenas uma maneira de votar “não”. O voto “não” que evita a lógica do
“quanto pior melhor” e a retórica isolante da esquerda tradicional, mas que cumpre o
papel da esquerda de ser um contrapeso no sistema, é o voto “não” de uma esquerda
que o Brasil precisa.

Raphael Martins é mestre em desenvolvimento econômico pela Universidade de Harvard


e doutorando em administração pela Universidade de Nova York.

Adere a

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