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O DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS
NO SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO
Elodia Teodoro Valadao de Morais (PUC)
elodiateodoro@hotmail.com
CARLOS AUGUSTO DA SILVA CABRAL (IFG)
cascabral75@gmail.com
Solange da Silva (PUC)
solansilva.ucg@gmail.com
Ricardo Luiz Machado (PUC)
machador@terra.com.br
Introdução
Manter empresas ativas e lucrativas na atualidade é um enorme desafio para os gestores, que
em meio a um mercado instável, onde desponta uma nova modalidade de concorrência, não
mais entre empresas e sim entre Supply Chain Management (SCM), (EOM, KIM, 2005),
precisam de muita habilidade para tornar os negócios rentáveis.
Neste contexto, a eficiência operacional, nem sempre proporciona a vantagem competitiva
que as organizações necessitam para se manterem sólidas no mercado. É preciso incorporar o
conceito de estratégia de operações buscando garantir que os processos de produção e entrega
de valor para os clientes sejam alinhados com os objetivos estratégicos da empresa, tanto em
relação aos resultados financeiros, quanto ao mercado almejado e também em relação ao
ambiente que a organização está inserida (CORREIA e CORREIA, 2008).
Assim, pode-se considerar que uma empresa é tão eficaz quanto seus processos e que se faz
necessário desenvolver e manter relacionamentos duradouros, dentro e fora da empresa
(KRAJEWSKI et al, 2009), a fim de manter a competitividade da organização.
Então é possível perceber duas importantes vertentes de atuação dentro das organizações:
desenvolver seus processos de forma eficiente e eficaz e obter resultados por meio de seus
colaboradores.
Para Ohno (1997, p.30), “eficiência”, na indústria moderna e nas empresas em geral, significa
redução de custos”. Reduzir custos pode significar eliminar os processos que não agregam
valor às operações, ou seja, combater os desperdícios no decorrer do processo produtivo.
E diz também que “o trabalho em equipe combinado com outros pode permitir que um time
menor vença. O mesmo é verdadeiro num ambiente de trabalho”. (OHNO, 1997, p. 43).
Nesta linha de raciocínio, este trabalho aborda o Sistema Toyota de Produção (STP), que
surgiu no Japão, especificamente no setor automobilístico, por necessidade, mas que hoje,
representa uma filosofia composta de práticas gerenciais que podem ser aplicadas em
qualquer parte do mundo (CORRÊIA e GIANESI, 1993), associado à atuação dos
funcionários como impulsionadores da empresa (LIKER e HOSEUS, 2009) e os fundamentos
do STP para o desenvolvimento das pessoas.
Como forma de organizar o estudo dentro da proposta da pesquisa, este trabalho foi
subdividido em cinco Seções. A Seção 2 apresenta os conceitos que norteiam o Sistema
Toyota de Produção. A Subseção 2.1 trata das questões relacionadas às Organizações e as
Pessoas. A Sbuseção 2.2 demonstra a visão do desenvolvimento das pessoas, dentro da
filosofia STP. Os procedimentos metodológicos são apresentados na seção 3. Já a seção 4
refere-se a análise contextual e a 5 retrata as considerações finais sobre o artigo, seguidas das
referências bibliográficas.
2. O Sistema Toyota de Produção
O STP é um tema amplamente discutido nas academias, porém, devido a sua complexidade,
está longe de ser um assunto esgotado e continuam os estudos em torno desta abordagem
filosófica que ainda hoje provoca e estimula pesquisadores a aprimorarem e desvendarem as
nuances deste conceito que revolucionou, ou ao menos, ampliou as possibilidades dos
sistemas produtivos tradicionalmente conhecidos.
O STP, ou Just in Time (JIT), surgiu no Japão, na década de 1970, na Toyota Motors
Company, que necessitava de um sistema produtivo que coordenasse as atividades
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XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
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Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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Correia e Correia (2008), comungam da idéia de que o JIT é muito mais do que técnicas
isoladas de gestão da produção, considerando-o como uma completa filosofia que inclui
gestão da qualidade, administração de materiais, layout, projeto do produto, organização do
trabalho e gestão de recursos humanos, além de outros.
Krajewski et al (2009, p. 288), avança um pouco mais e comenta que “O TPS (Toyota
Production Sistem – Sistema de Produção Toyota) é um exemplo excelente de uma
abordagem para projetar cadeias de valor conhecidas como sistemas de produção enxuta ou
sistemas lean de produção”.
Os princípios desta filosofia foram se ampliando no decorrer dos anos, e a firme decisão de
combate às sete perdas (descritas anteriormente), permitiram que este conceito (eliminar
desperdícios) ultrapassasse as linhas de produção para estabelecer novas formas de pensar,
dando origem ao pensamento enxuto, que é definido por Womack e Jones (2004, p.3) como
“[.] uma forma de especificar valor, alinhar na melhor sequencia as ações que criam valor,
realizar estas atividades sem interrupção toda vez que alguém as solicita e realizá-las de forma
cada vez mais eficaz”.
Dentro desta dimensão, pode-se considerar como princípios administrativos do STP, o modelo
4Ps, sigla em inglês para Filosofia, Processo, Funcionários e Solução de problemas,
representado na figura 2 (LIKER e HOSEUS, 2009):
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Com base nos 4Ps do STP, Liker, apresenta os 14 princípios do Modelo Toyota, que norteiam
a filosofia e se concentram em redução do lead time, por meio da eliminação de perdas,
realizadas por funcionários através de rigorosos métodos para solução de problemas.
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Este passo inicial, fez com que as relações entre organização e indivíduos, fossem percebidas
de maneiras diferentes e a Administração de Recursos Humanos, área extremamente sensível
à mentalidade predominante nas organizações, inicialmente reconhecida com a denominação
de Relações Industriais – devido à forte influência da Revolução Industrial -, surge como
mediadora entre organizações e pessoas. Inicialmente com a visão distorcida de visualizar as
pessoas como recursos produtivos, agentes passivos que deveriam ter suas atividades
planejadas e controladas a partir das necessidades da organização, passando pela gestão de
pessoas, até assumir o caráter de administrar com as pessoas, uma vez que, esta é a tendência
de empresas bem sucedidas no mundo globalizado de ambiente altamente competitivo
(CHIAVENATO, 2002).
Para Maximiliano (2008), muitas características do comportamento humano não são passíveis
de observação direta nem suscetíveis a definição inquestionável. Aspetos como personalidade,
inteligência, atitudes e sentimentos, entre inúmeros outros, não são tangíveis e nem
mensuráveis diretamente, podendo apenas ser inferidos. Além do que, a influência de cada um
desses aspectos sobre o comportamento das pessoas e dos grupos é de difícil mensuração,
senão, impossível.
Portanto, apesar da gestão com as pessoas ser o enfoque, nem sempre é uma tarefa fácil, já
que as características individuais de cada um inviabilizam a sistematização e padronização do
comportamento humano. Para cada situação, as pessoas tendem a agir e reagir de forma
diferente, de acordo com os fatores culturais, sociais e pessoais de cada um (KOTLER, 2006).
Em toda organização existe a divisão do trabalho, os recursos organizacionais sejam
financeiros, humanos ou mercadológicos necessitam de processos de administração, precisam
ser captados do ambiente, aplicados internamente, mantidos, desenvolvidos e controlados para
que o sistema seja eficiente e eficaz (segundo MAXIMILIANO, 2008, eficácia é o termo
usado para indicar que a organização realiza seus objetivos e eficiência indica que a
organização utiliza produtivamente ou de maneira econômica, seus recursos). Portanto as
pessoas não constituem os únicos recursos das empresas, porém são os únicos recursos vivos
e capazes de processar os outros recursos inertes. Desta forma os demais recursos, necessitam
da presença humana para seu processamento (CHIAVENATO, 2002).
Por isso, o capital humano das organizações significa o capital intelectual, talentos que
precisam ser mantidos e desenvolvidos. Um capital invisível e composto de ativos intangíveis
que fazem que o valor de mercado das empresas não dependa mais apenas do seu valor
patrimonial, mas sim, fundamentalmente do seu capital intelectual. O conhecimento, na era da
informação, desponta como o recurso organizacional mais importante, capaz de proporcionar
vantagem competitiva para a organização (CHIAVENATO, 2002).
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quanto à importação da cultura é muito mais difícil do aparenta ser. No caso da Toyota,
apesar de hoje ser uma empresa mundial, ela mesma teve que transportar sua cultura
internacionalmente.
A Toyota nos EUA, especificamente TMMK é um exemplo das dificuldades que a ela
encontrou para desenvolver sua cultura fora do Japão. Isto porque o oriente e o ocidente têm
um jeito diferente de pensar. Por exemplo, em relação a produção enxuta, no ocidente, a
tendência é vê-la como uma caixa de ferramentas que pode facilitar o controle no ambiente
de trabalho para atingir objetivos específicos e mensuráveis. Na Toyota do Japão, quando um
sensei pensa em melhorar o ambiente de trabalho, ele vê um grupo de pessoas que trabalham
em um processo cheio de perdas e seu objetivo é fazer com que as pessoas enxerguem as
perdas no processo (LIKER e HOSEUS, 2009).
Os mesmos autores afirmam também que: “Não há nada de errado em usar ferramentas de
melhoria contínua de processos para atingir resultados específicos. Na verdade esse é o valor
central do Kaizen na Toyota. O problema está em não entender o contexto cultural mais
amplo que permite que isso aconteça ampla e regularmente na Toyota” (LIKER e HOSEUS,
2009, p.56).
Todo este contexto exprime a importância das pessoas para a Toyota, não basta apenas
contratar porque têm cargos disponíveis, na verdade, para a companhia a expectativa é que as
pessoas farão parte da empresa para o resto de suas vidas, por isso, as decisões de contração
são levadas tão a sério. Isto aumenta a responsabilidade do setor de recursos humanos,
tornando seu papel muito mais crítico. Por isso a provisão de cargos é exclusividade do RH e
o planejamento é feito para longo prazo.
O desenvolvimento de pessoas é tão fundamental para a Toyota que Liker e Meier (2009, p.
28) dizem que: “A filosofia de desenvolvimento de pessoas é tão central na Toyota que seis
dos 14 princípios apresentados no livro O Modelo Toyota, relaciona-se intimamente com ela
[.]. Por isso a empresa trabalha continuamente para melhorar seus processos de treinamento”.
Possui três centros de treinamento em pontos estratégicos para atender as necessidades do
Oriente, Europa e América do Norte.
Desde a década de 1950, a Toyota tem como principal ferramenta de aprendizagem o Método
de Instrução do Trabalho (IT), ou Treinamento dentro da Indústria (TWI – Training Within
Industry), ensinado pelas forças de ocupação norte-americanas com o fim da segunda guerra
mundial, com pequenas alterações feitas pela Toyota.
Em O Sistema Toyota de Produção – Além da Produção em Larga Escala, Ohno resume seus
sentimentos em relação ao treinamento: “Essa época em que vivemos desperta em mim a
cruel convicção de que as pessoas tendem a esquecer a necessidade do treinamento”. E
continua analisando a realidade da época, dizendo que as habilidades desenvolvidas naquele
período não eram criativas nem mesmo estimulantes, mas se não fosse necessário buscar as
melhores pessoas, o treinamento não teria sido válido. E conclui com uma visão abrangente
do contexto mundial dizendo que “basta olhar para o mundo como ele de fato é para perceber
que nenhum objetivo, por menor que seja, pode ser concretizado sem treinamento”. (LIKER e
MEIER, 2009, p.xvii).
Com esta declaração de Ohno, é reafirmada toda a base filosófica envolta no desenvolvimento
de pessoas na Toyota, como a organização percebe a importância dos funcionários nos
resultados da empresa. Isa Kato, um dos primeiros instrutores máster da companhia, disse em
entrevista: “Temos um ditado na Toyota, mono zukuri wa hito zukuri, que significa
“desenvolver algo envolve desenvolver pessoas”. Portanto se o objetivo é ter sucesso com a
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