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Brasília, 30 de setembro a 4 de outubro de 2019 Nº 954

Data de divulgação: 09 de setembro de 2019


Este Informativo, elaborado com base em notas tomadas nas sessões de
julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos de decisões proferidas pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a publicação
do acórdão no Diário da Justiça Eletrônico.

SUMÁRIO
Plenário
Delatado e direito de falar por último – 2
Falta de prestação de contas e suspensão automática do registro ou anotação de órgão partidário
Resolução do Senado Federal: operação de crédito e cessão de dívida ativa a bancos - 2
Controle de serviços jurídicos da administração pública estadual indireta
Competência legislativa e denominação de próprios, vias e logradouros públicos e suas
alterações
1ª Turma
Crime de estupro e “beijo lascivo” – 3
Expulsão de estrangeiro que possui filho brasileiro
Uso de algemas e fundamentação

PLENÁRIO
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Delatado e direito de falar por último – 2


Em continuidade de julgamento, o Plenário, por maioria, concedeu ordem de habeas corpus para
anular decisão do juízo de primeiro grau e determinar o retorno dos autos à fase de alegações finais, a
qual deverá seguir a ordem constitucional sucessiva, ou seja, primeiro a acusação, depois o delator e por
fim o delatado (Informativo 953).
O paciente foi denunciado em primeiro grau pela suposta prática dos crimes de organização
criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, na qualidade de gerente da
Petrobras, ele teria recebido, em conjunto com outros acusados, grande soma de dinheiro, a título de
vantagem indevida, como contrapartida decorrente de favorecimentos concedidos a empresas em
contratos firmados com a referida estatal, especialmente no que toca à construção de terminal aquaviário.
Parte desses valores teria sido repassada ao paciente mediante atos de lavagem, inclusive com posterior
adoção de medidas tendentes à reintegração de recursos.
O paciente foi citado nas declarações prestadas por corréu que celebrou acordo de colaboração
premiada.
Apontava a defesa que, em sede de interrogatório, o juízo de primeiro grau assegurou que os
acusados colaboradores fossem inquiridos em momento anterior aos corréus delatados. Encerrada a
instrução processual, o juízo conferiu prazo comum a todos os acusados para fins de apresentação de
alegações finais, não fazendo distinção entre colaboradores e não colaboradores.
O Tribunal entendeu que o reconhecimento do direito à última palavra atribuída ao réu significa a
consagração da garantia constitucional do due process of law no âmbito do processo penal instaurado sob
uma ordem constitucional de perfil democrático.
Essa essencial prerrogativa consiste em assegurar ao réu, notadamente ao réu delatado por seu
litisconsorte passivo, a possibilidade de pronunciar-se por último, após o órgão da acusação estatal e
depois do agente colaborador, quando esse intervier como corréu, no processo penal condenatório, em
ordem a permitir, ao delatado, o direito de refutar, o direito de contestar, o direito de impugnar, o direito
de contra-argumentar todas as alegações incriminadoras contra ele deduzidas, para que, desse modo,
sejam efetivamente respeitados, em favor do acusado, o direito ao contraditório e à ampla defesa que lhes
são garantidos pela própria Constituição.

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A denegação ao réu delatado da possibilidade de apresentar suas alegações finais, após o prazo
concedido ao agente colaborador, equivale à supressão do seu direito de defesa, porque transgride aquilo
que lhe é essencial à plenitude de sua prática, e configura, na espécie, hipótese caracterizadora de prejuízo
efetivo e real para o acusado em questão.
Considerou que constitui verdadeiro obstáculo judicial ao exercício do contraditório e da ampla
defesa a concessão de prazo comum a todos os litisconsortes penais passivos, os quais figurem,
simultaneamente, numa mesma relação processual penal, agentes colaboradores e corréus por estes
delatados.
Portanto, traduz solução hermenêutica mais compatível com os postulados que informam o
estatuto constitucional do direito de defesa a prerrogativa do réu delatado de produzir suas alegações
finais após a apresentação de memoriais ou de alegações finais do litisconsorte penal passivo que,
mediante colaboração premiada, o incriminou.
Por fim, registrou que, somente se a delação efetivamente tiver auxiliado na obtenção de provas
que permitam a condenação do delatado, é que o delator terá direito ao que foi acordado com o ministério
público e com a polícia. Dessa forma, resta evidente que o interesse processual do delator é
absolutamente oposto ao do delatado, uma vez que o delator não tem mais interesse em se defender, pois,
ao fazer o acordo, assume a sua culpabilidade com diminuição da pena ou até mesmo ausência total de
pena em troca das informações prestadas.
Vencidos os ministros Edson Fachin (relator), Roberto Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Marco
Aurélio, que denegaram o habeas corpus.
O ministro Edson Fachin observou que a legislação não disciplinou imposição de ordem de
colheita das argumentações de cada defesa, tampouco potencializou, para esse escopo, eventual adoção,
ou não, de postura colaborativa. A lei processual diferencia expressamente os momentos de manifestação
do ministério público, do assistente do ministério público e da defesa. Não distingue, entretanto, o
momento de participação entre as defesas em razão de eventual adoção de postura colaborativa por parte
de acusados. A observância de prazo comum para colheita de alegações finais dos acusados colaboradores
e não colaboradores não configura constrangimento ilegal.
Segundo o ministro Roberto Barroso, o impetrante não trouxe um argumento objetivo sequer para
demonstrar o prejuízo que teria sofrido. Reputou que a falta de concessão de prazo sucessivo para
apresentação de alegações finais entre corréus, colaboradores e não colaboradores, não viola os princípios
do contraditório e da ampla defesa
O ministro Luiz Fux aduziu que, no campo do Direito Público, só se pode fazer aquilo que está
previsto em lei e não há previsão legal no sentido de que o delatado fala depois do delator. Para o ministro
Fux, não há razão lógica de o delatado, que acompanhou todo o processo, desde a sua fase preambular, ter
o direito de falar depois do delator. Ademais, o delator e o delatado são corréus e figuram no polo passivo
da relação processual. Jamais poderiam ser assistentes de acusação.
A ministra Cármen Lúcia entendeu que o caso seria de nulidade relativa que, portanto, deveria ser
arguida na primeira oportunidade. Além disso, seria necessária a demonstração do prejuízo, o que não foi
feito pelo impetrante.
O ministro Marco Aurélio asseverou que, consideradas as partes do processo-crime, tem-se
unicamente o ministério público a acusar, e o réu ou os réus a se defenderem. A adoção, por corréu, de
postura colaborativa não o destitui da posição de acusado, tampouco viabiliza, ausente previsão legal, a
distinção de prazos para a apresentação de alegações finais.
Ato contínuo, o ministro Dias Toffoli (Presidente) propôs à Corte a fixação de tese no caso em
julgamento. O colegiado, por decisão majoritária, deliberou positivamente sobre a formulação de tese em
relação ao tema discutido e votado no writ.
Vencidos, no ponto, os ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio. O
ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a adoção da tese implica modulação e requer oito votos. O
ministro Marco Aurélio entendeu que não cabe a edição de tese, de modo a transformar processo
subjetivo em processo objetivo.
Em seguida, o julgamento foi suspenso para fixação da tese em assentada posterior.

CPP: “Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por
20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença.”

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HC 166373/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 2.10.2019. (HC-166373)

DIREITO CONSTITUCIONAL – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Falta de prestação de contas e suspensão automática do registro ou anotação de órgão


partidário
O Plenário iniciou julgamento de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra dispositivos
das Resoluções 23.432/2014, 23.546/2017 e 23.571/2018 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As
normas impugnadas, ao regulamentarem a Lei 9.096/1995 (Lei dos Partidos Políticos), estabelecem a
sanção de suspensão automática do registro ou anotação de órgão partidário estadual ou municipal por
falta de prestação de contas.
O ministro Gilmar Mendes (relator) converteu o julgamento do referendo da medida cautelar em
julgamento definitivo de mérito e julgou parcialmente procedente o pedido formulado na ação direta para
conferir interpretação conforme a Constituição às normas do art. 47, caput, § 2º, da Resolução
23.432/2014; do art. 48, caput e § 2º, da Resolução 23.546/2017; e do art. 42, caput, da Resolução
23.571/2018. Afastou qualquer interpretação que permita que a sanção de suspensão do registro ou
anotação do órgão partidário regional ou municipal seja aplicada de forma automática, como
consequência da decisão que julga as contas não prestadas, assegurando que a penalidade somente possa
incidir após decisão, com trânsito em julgado, decorrente de procedimento específico de suspensão de
registro, nos termos do art. 28 da Lei 9.096/1995 (1).
Entendeu que as normas impugnadas, ao determinarem a suspensão do registro ou a anotação do
partido como consequência imediata do julgamento das contas, violam o devido processo legal.
Segundo o relator, a legislação eleitoral prevê um procedimento específico para o cancelamento do
registro em relação ao partido em âmbito nacional. Por questão de coerência, relativamente aos órgãos
regionais ou municipais, consequência análoga deve ser precedida de processo específico em que se
possibilite o contraditório e a ampla defesa.
Esclareceu que não permitir a suspensão do órgão regional ou municipal que omita a prestação de
contas da Justiça Eleitoral abre uma lacuna no sistema eleitoral e inviabiliza a fiscalização desses órgãos
de direção partidária, o que acarreta riscos para a própria democracia. Entretanto, é necessário
compatibilizar as diversas normas incidentes sobre o dever dos partidos políticos de prestar contas em
todos os níveis de direção partidária, de modo a concluir que a suspensão do órgão regional ou municipal
por decisão da Justiça Eleitoral só poderá ocorrer após o citado processo específico.
Em seguida, o ministro Alexandre de Moraes pediu vista dos autos.

(1) Lei 9.096/1995: “Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o cancelamento
do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado: I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de
procedência estrangeira; II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros; III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as
devidas contas à Justiça Eleitoral; IV - que mantém organização paramilitar.”

ADI 6032 MC-Ref/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 2.10.2019. (ADI-6032)

DIREITO CONSTITUCIONAL – COMPETÊNCIA

Resolução do Senado Federal: operação de crédito e cessão de dívida ativa a bancos – 2

O Plenário, por maioria, julgou procedentes os pedidos formulados em ações diretas para declarar
a inconstitucionalidade da Resolução 33/2006 do Senado Federal, por meio da qual se autorizou estados,
Distrito Federal e municípios a transferirem a cobrança de suas dívidas ativas, por meio de endossos-
mandatos, a instituições financeiras (Informativo 906).
Inicialmente, o Tribunal considerou que as associações requerentes cumprem o requisito da
pertinência temática, pois o ato impugnado legislou sobre cobrança da dívida ativa tributária, matéria
incluída nas funções dos procuradores de estado e fiscais de tributos estaduais.

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No mérito, entendeu que a resolução impugnada atuou fora dos limites da capacidade normativa
cometida ao Senado Federal pelo art. 52, VII (1), da Constituição Federal (CF).
Segundo esse dispositivo, compete privativamente ao Senado dispor sobre limites globais e
condições para as operações de crédito externo e interno da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo poder público federal.
O conceito constitucional de operação de crédito, ainda que por antecipação de receita, deve estar
em consonância com a definição prevista no art. 29, III (2), da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
No entanto, a cessão a instituições financeiras, por endosso-mandato, de valores inscritos em
dívida ativa estatal não caracteriza nenhuma das espécies de operação de crédito previstas na legislação
complementar. Inexiste correspondência entre o conceito de operação de crédito da LRF e a “cessão”
disciplinada pela resolução.
A alteração na forma de cobrança da dívida ativa, tanto tributária quanto não-tributária, demanda
tratamento estritamente legal, afastada a competência do Senado para disciplinar a matéria por meio de
resolução.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que, de início, não reconheceu a legitimidade das associações
requerentes, por falta de pertinência temática. No mérito, votou pela improcedência dos pedidos, por
considerar que a cessão de dívida ativa a instituições financeiras é uma operação de crédito, portanto,
sujeita à regulamentação senatorial.

(1) CF: “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: (...) VII - dispor sobre limites globais e condições para as
operações de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais
entidades controladas pelo Poder Público federal. ”
(2) LRF: “Art. 29. Para os efeitos desta Lei Complementar, são adotadas as seguintes definições: (...) III - operação de
crédito: compromisso financeiro assumido em razão de mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de título, aquisição financiada
de bens, recebimento antecipado de valores provenientes da venda a termo de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras
operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivativos financeiros. ”

ADI 3786/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 3.10.2019. (ADI-3786)


ADI 3845/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 3.10.2019. (ADI-3845)

DIREITO CONSTITUCIONAL – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Controle de serviços jurídicos da administração pública estadual indireta

O Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada contra
dispositivos da Lei Complementar 226/2002 do Estado de Santa Catarina, a qual confere à Procuradoria-
Geral do Estado competência para controlar os serviços jurídicos de entidades da administração estadual
indireta, inclusive a representação judicial, com a possibilidade de avocação de processos e litígios
judiciais, de empresas públicas e sociedades de economia mista.
O Colegiado declarou a inconstitucionalidade da expressão “sociedades de economia mista e
empresas públicas estaduais”, constante dos arts. 1º, 2º, 3º, 4º, VI, 12, caput e parágrafo único, 16, caput
e II, e 17, da lei impugnada.
Entendeu que os referidos dispositivos violam o art. 132 da Constituição Federal (CF) (1), que
confere às procuradorias dos estados atribuições para as atividades de consultoria jurídica e representação
judicial das respectivas unidades federadas, mas apenas relativamente à administração pública direta,
autárquica e fundacional.
Asseverou que a lei cria uma ingerência indevida do Governador na administração das empresas
públicas e sociedades de economia mista, pessoas jurídicas de direito privado, o que impede a defesa
dessas entidades. No ponto, observou que o chefe do poder executivo estadual é quem escolhe o
Procurador-Geral do Estado. Num eventual litígio, por exemplo, entre uma sociedade de economia mista
e a administração pública direta, o Governador poderia determinar a avocação do processo e defender o
seu próprio interesse. Haveria, portanto, partes conflituosas, no mesmo litígio, com o mesmo advogado.
Vencidos os ministros Roberto Barroso e Luiz Fux, que julgaram o pleito improcedente.
Consideraram que as empresas públicas e sociedades de economia mista, embora possuam
personalidade jurídica de direito privado, constituem instrumentos de ação do Estado para a consecução

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de interesses públicos. Em decorrência disso, podem ser supervisionadas e representadas judicialmente
pela Procuradoria-Geral do Estado.
Esclareceram que o art. 132 da Constituição, ao dispor sobre a advocacia pública dos Estados e do
Distrito Federal, não exauriu as suas funções, deixando amplo espaço para a legítima atuação dos poderes
constituídos locais. No caso das entidades privadas da Administração Pública, a representação judicial
pela Procuradoria-Geral do Estado não é, de fato, impositiva. Entretanto, isso não significa que norma
legal que contém essa previsão seja inconstitucional.

(1) CF: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.”

ADI 3536/SC, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 2.10.2019. (ADI-3536)

DIREITO CONSTITUCIONAL – COMPETÊNCIA LEGISLATIVA

Competência legislativa e denominação de próprios, vias e logradouros públicos e suas


alterações
O Plenário, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário para declarar a
constitucionalidade do art. 33, XII, da Lei Orgânica do Município de Sorocaba/SP (1), concedendo-lhe
interpretação conforme a Constituição Federal (CF) no sentido da existência de uma coabitação normativa
entre os Poderes Executivo (decreto) e Legislativo (lei formal) para o exercício da competência destinada
à denominação de próprios, vias e logradouros públicos e suas alterações, cada qual no âmbito de suas
atribuições.

Na espécie, tratava-se de recurso extraordinário veiculado nos autos de ação direta de


inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente no tribunal de justiça estadual, que declarou a
inconstitucionalidade do aludido preceito, com efeitos ex tunc, por violação ao princípio da separação
dos Poderes (Informativo 936).

Preliminarmente, o colegiado reputou ser constitucional a questão debatida e reconheceu a


repercussão geral da matéria.

Em seguida, observou ser comum, na maioria das municipalidades, a existência da previsão


dúplice de o chefe do Poder Executivo, mediante decreto, e de as câmaras municipais poderem
estabelecer nomes de vias e logradouros públicos.

Pontuou que a referida lei orgânica permite essa conciliação. Em nenhum momento, a norma
afastou expressamente a iniciativa concorrente para a propositura de projeto de lei a respeito. Logo, deve
ser interpretada de maneira a não excluir a competência administrativa do prefeito e a possibilitar às
câmaras municipais, por meio de lei formal, a concretização da memorização da história e da proteção do
patrimônio cultural imaterial do município, que é assunto de interesse local.

Vencidos os ministros Roberto Barroso e Marco Aurélio, que negaram provimento ao recurso e
mantiveram a decisão proferida pelo tribunal de justiça. Consideraram que o mencionado dispositivo
subtraiu competência do chefe do Poder Executivo. O ministro Marco Aurélio sublinhou que, da forma
como redigido, o preceito exclui a iniciativa do Executivo no tocante à outorga de nome. Por isso, não
vislumbrou campo para a interpretação conforme a CF.

(1) Lei Orgânica do Município de Sorocaba: “Art. 33. Cabe à Câmara Municipal, com a sanção do Prefeito, legislar sobre
as matérias de competência do Município, especialmente no que se refere ao seguinte: (...) XII – denominação de próprios, vias e
logradouros públicos e suas alterações;”

RE 1151237/SP, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 3.10.2019. (RE-1151237)

PRIMEIRA TURMA

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DIREITO PENAL – TIPO PENAL

Crime de estupro e “beijo lascivo” – 3


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou a ordem em habeas
corpus no qual se pretendia a desclassificação do delito previsto no art. 217-A do Código Penal (CP) (1)
— “estupro de vulnerável” — para a conduta versada no art. 65 da Lei das Contravenções Penais (LCP)
(2) (Informativos 870 e 928).
No caso, tratava-se de paciente condenado a oito anos de reclusão pelo delito de estupro de
vulnerável com base no caput do art. 217-A do CP. A ação consistiu em ato libidinoso (beijo lascivo)
contra vítima de cinco anos de idade.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes (redator para o acórdão), que considerou que,
para determinadas idades, a conotação sexual é uma questão de poder, mais precisamente de abuso de
poder e confiança. Entendeu presentes, no caso, a conotação sexual e o abuso de confiança para a prática
de ato sexual. Para ele, não há como desclassificar a conduta do paciente para a contravenção de
molestamento — que não detém essa conotação.
O ministro Luiz Fux, na linha da divergência iniciada pelo ministro Alexandre de Moraes, denegou
o writ, no que foi acompanhado pela ministra Rosa Weber. Acrescentou que o art. 227, § 4º, da
Constituição Federal (CF) (3) exige que a lei imponha punição severa à violação da dignidade sexual da
criança e do adolescente. Além do mais, a prática de qualquer ato libidinoso diverso ou a conduta de
manter conjunção carnal com menor de quatorze anos se subsume, em regra, ao tipo penal de estupro de
vulnerável, restando indiferente o consentimento da vítima.
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que concedeu a ordem para enquadrar a conduta do
paciente na contravenção penal de molestamento, e o ministro Roberto Barroso, que denegou o habeas
corpus, mas concedeu a ordem de ofício para que o juízo de origem aplicasse ao caso o tipo previsto no
art. 215-A do CP (4), incluído pela Lei 13.718, de 24 de setembro de 2018.

(1) CP: “Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena –
reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.”
(2) LCP: “Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena – prisão
simples, de quinze dias a dois meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
(3) CF: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do
adolescente.”
(4) CP: “Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiro: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. ”

HC 134591/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 1.10.2019. (HC-134591)

DIREITO PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS

Expulsão de estrangeiro que possui filho brasileiro


A Primeira Turma retomou julgamento de habeas corpus em que se discute a possibilidade de
aplicação da medida administrativa de expulsão em relação ao estrangeiro que possui filho brasileiro.
Na sessão do dia 2.4.2019, o ministro Marco Aurélio (relator) deferiu a ordem para afastar o ato de
expulsão, haja vista ter sido demonstrado que o paciente tem filho brasileiro que está sob sua guarda e
dependência.
Na presente assentada, o ministro Alexandre de Moraes acompanhou o relator. Asseverou que, no
caso, verifica-se a existência de excepcionalidade a ensejar a superação do Enunciado 691 da Súmula do
Supremo Tribunal Federal (STF) (1), diante da presença, no caso, de requisito negativo impeditivo da
expulsão, qual seja, a comprovação da dependência econômica e socioafetiva de filho brasileiro, nos
termos da Lei 13.445/2017 (2). Registrou que a nova lei excluiu o critério cronológico do nascimento do
filho e passou a exigir a relação socioafetiva e não só econômica.
Em seguida, o ministro Roberto Barroso pediu vista dos autos.

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(1) Enunciado 691 da Súmula do STF: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado
contra decisão do relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.”
(2) Lei 13.445/2017: “Art. 55. Não se procederá à expulsão quando: (...) II – o expulsando: a) tiver filho brasileiro que
esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;”

HC 150343/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 1.10.2019. (HC-150343)

DIREITO CONSTITUCIONAL – RECLAMAÇÃO

Uso de algemas e fundamentação


A Primeira Turma iniciou julgamento de agravo regimental interposto contra decisão que negou
seguimento a reclamação em que se requer a decretação de nulidade de julgamento do tribunal do júri por
inobservância do Enunciado 11 da Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal (STF) (1).
No caso, a juíza de direito presidente do tribunal do júri, durante julgamento em plenário, indeferiu
o pleito da defesa de retirada das algemas do reclamante. Determinou que, excepcionalmente, fosse o
acusado mantido algemado, na forma do que autoriza o referido verbete sumular, tendo em conta ofício
exibido pela escolta do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), o qual justificaria o uso de
algemas. O juízo de origem considerou, ainda, que os policiais federais responsáveis pela escolta, quando
consultados, afirmaram não poder opinar favoravelmente à retirada das algemas sem ferir o procedimento
recomendado pelo órgão a que pertencem, em relação ao réu custodiado em presídio federal de segurança
máxima.
O tribunal de justiça local, em sede de apelação, afastou a apontada nulidade. Citou o
envolvimento do réu com milícias, bem como seus maus antecedentes e acautelamento em presídio de
segurança máxima.
O ministro Alexandre de Moraes (relator) negou provimento ao agravo, no que foi acompanhado
pelos ministros Roberto Barroso e Rosa Weber.
O relator entendeu que a juíza de primeiro grau justificou devidamente a manutenção do uso das
algemas e que todas as circunstâncias fáticas exigiriam que o acusado estivesse algemado. Destacou que o
réu integra milícia, possui extensa folha de antecedentes criminais e foi transferido para presídio de
segurança máxima, em virtude da sua alta periculosidade, além da possibilidade de sua fuga ou de seu
resgate.
O ministro Roberto Barroso ressaltou, sobretudo, o que consignado pelo tribunal de justiça ao
decidir a matéria. Para ele, não se pode desconsiderar o que está nos autos do processo e na decisão do
juízo a quo. Salientou que a questão da periculosidade, ou não, do réu, é assunto de polícia e não de juiz.
Se a polícia informa que o réu é perigoso, o juiz, que, normalmente, entra em contato com o réu pela
primeira vez, tem de confiar na presunção de legitimidade da informação passada pela autoridade policial.
Fora dos casos de abuso patente, é preciso dar credibilidade àquele que tem o encargo de zelar pela
segurança pública, inclusive no âmbito do tribunal.
O ministro Marco Aurélio, em divergência, votou pelo provimento do agravo para julgar
procedente a reclamação.
Considerou que a fundamentação que respaldou a negativa do pleito de retirada das algemas do
acusado resultou no desrespeito ao referido verbete sumular. Isso porque a acusação não reflete culpa
selada. A defesa requereu que se retirassem as algemas para que os leigos, componentes do corpo de
jurados, não vissem o acusado como uma verdadeira fera, já estabelecendo um entendimento antes dos
trabalhos no plenário do júri.
Não é o fato de o custodiado ser egresso de prisão de segurança máxima que conduzirá sempre ao
uso das algemas em audiência. Há de se apresentar algo concreto, ligado ao caso — não sendo suficiente,
para tanto, a folha penal —, que prove que é imprescindível proceder ao julgamento com o acusado
algemado.

Em seguida, o ministro Luiz Fux pediu vista dos autos.

(1) Enunciado 11 da Súmula do STF: “Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou
de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob
pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se
refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.”

777777777
Rcl 32970 AgR/RJ, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 1.10.2019. (Rcl-32970)

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 02.10.2019 03.10.2019 6 26 62
1ª Turma 01.10.2019 — 3 20 94
2ª Turma 01.10.2019 — 1 0 157

* Emenda Regimental 52/2019-STF. Sessão virtual de 27 de setembro a 03 de outubro de 2019.

Supremo Tribunal Federal – STF


Secretaria de Documentação
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
cdju@stf.jus.br

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