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Controle Social e Pluralismo Jurídico

Controle Social
→ “O termo ‘controle social’ possui na sociologia um significado muito amplo, eis que
indica todo o processo de socialização que orienta o indivíduo, integrando-o aos
valores e aos padrões de comportamento social. Por esta razão, o controle social
está intimamente relacionado com os conceitos de ‘poder’ e de ‘dominação política’,
que criam determinada ordem social e integram os indivíduos” (SABADELL, 2010, p.
155)
Controle Social
→ Controle Social pode ser:
a) Orientação (propaganda que visa impedir consumo de drogas)x Fiscalização (polícia
atuando);

b) Difuso (geral) x Localizado (grupo específico)

c) Órgãos estatais x sociedade geral

d) Direto (Professor → Alunos) ; Indireto (MEC - Alunos)


Controle Social

→ A partir da ótica da Sociologia do Direito, é possível dizer que o Direito é um


instrumento de controle social: “Portanto, como o direito decorre da criação
humana, isto é, da vontade da sociedade em auto-regulamentar-se, ele
manifesta-se como controlador do homem social, ou como sistema de controle
social. Sob este prisma, o direito é utilizado como instrumento de dominação
da sociedade, pois esta submete-se, em grau de obediência, às regras de
controle instituídas para organizar a sua convivência” (OLIVEIRA, Jorge Rubem
Folena de. O direito como meio de controle social ou como instrumento de mudança
social?. Disponível em: <
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/324/odireitocomomeio.pdf >
Controle Social

→ Se o Direito é uma forma de Controle Social, para que (e a quem) serve este
controle?
→ Duas respostas possíveis a partir de duas perspectivas sociológicas da sociedade:
funcionalista e conflitiva
a) Funcionalismo: sociedade como uma totalidade composta por indivíduos e
grupos que interagem harmonicamente visando finalidades em comum
b) Conflito social: Sociedade é produto de conflitos e lutas (nem sempre abertas)
entre indivíduos e grupos sociais
Controle Social – Perspectiva
liberal-funcionalista
→ Controle Social busca garantir coesão social perante comportamentos desviantes

→ O Controle Social, assim, diminui conflitos e gera harmonia

→ O Estado produz o Direito para que ele possa garantir a harmonia dos indivíduos e
evitar comportamentos desviantes que podem desestabilizar essa harmonia
→ Ex: Direito de Propriedade; Responsabilidade Penal como harmonizadores
Controle Social – Perspectiva
conflitiva
→ Controle Social busca induzir alguns indivíduos a se comportarem de uma forma desejada por outros indivíduos

→ “O sistema atual é fundamentado na concentração do poder econômico e político. Objeto do controle é o


comportamento que agride a ordem estabelecida, sendo que, na maior parte dos casos, o controle é exercido
sobre as camadas mais carentes da população” (SABADELL, 2010, p. 160)
→ “O controle social visa favorecer os interesses da minoria que detém o poder e a riqueza (capital, prestígio,
educação, bens de consumo). O controle social denota uma preocupação em condicionar as pessoas para
aceitarem a distribuição desigual dos recursos sociais, apresentando a ordem social como “justa” e intimidando
quem a coloca em dúvida” (SABADELL, 2010, p. 160)
→ “As regras sociais não exprimem uma ‘vontade geral’ ou interesses comuns de todos os cidadãos. Em outras
palavras, os adeptos da teoria conflitiva não aceitam a ideia de que é possível realizar um controle social
democrático e em favor da sociedade como um todo, tal como sustentam os liberais” (SABADELL, 2010, p. 160)
→ Ex: Direito de Propriedade; Responsabilidade Penal como instrumentos de conflito e dominação
Pluralismo Jurídico
→ “A tese de que o direito é criado somente pelo Estado caracteriza o monismo jurídico (ou
centralismo jurídico). (…) Esta visão é aceita hoje, sem a menor hesitação, por quase todos
os legisladores, juízes e advogados” (SABADELL, 2010, p. 138)
→ Alguns, no entanto, defendem o pluralismo jurídico: a tese que “sustenta a coexistência
de vários sistemas jurídicos no seio da mesma sociedade” (SABADELL, 2010, p. 139)
→ A questão aqui é: o que entendo como sendo Direito?
a)Se adoto a perspectiva positivista de Kelsen, somente normas que extraem validade
jurídica da Constituição Federal são direito
b) Se adoto uma perspectiva mais ampla, onde direito é qualquer sistema de normas
considerado como obrigatório em um grupo social, então abro caminho para o pluralismo
jurídico
Pluralismo Jurídico
→ O Pluralismo Jurídico não está tão distante:
→ “O pluralismo jurídico vigorou na Europa durante a Idade Média e Moderna. Em paralelo
ao direito criado pelos aparelhos centrais dos Impérios e dos Reinos (direito real),
vigoravam o sistema jurídico da Igreja, uma multiplicidade de direitos locais
consuetudinários ( fundamentados nos costumes e em antigas tradições jurídicas) e os
direitos das várias corporações (Universidades, grupos de profissionais, “Irmandades”). O
direito romano era reconhecido como fonte do direito; as opiniões dos grandes “doutores”
(jurisconsultos) eram consideradas como legalmente válidas. Além disso, os diferentes
grupos étnicos (tais como os mouros, judeus e ciganos) também mantinham o seu próprio
direito, independentemente do lugar em que moravam” (SABADELL, 2010, p. 140)
→ “Acontece muitas vezes que cinco pessoas caminham ou sentam-se juntas e nenhuma
delas tem uma lei comum com as demais” Agobardo, bispo de Lyon, século IX, SABADELL,
2010, p. 140
Pluralismo Jurídico
→ Pluralismo Jurídico hoje em dia, conforme SABADELL, 2010, p. 129:

a) Os princípios de “honra” de um mafioso;


b) As regras de hierarquia e de segredo que devem respeitar os membros de grupos
de extermínio, como ocorreu com os Esquadrões da Morte no Brasil;
c) as obrigações que impõe os “donos” de uma favela aos demais moradores;
d) as regras de conduta e as severas punições aplicadas pelos próprios presos
dentro dos presídios.
Pluralismo Jurídico hoje

→ Direito das favelas: segundo Boaventura de Sousa Santos, “direito do asfalto”,


onde há três autoridades: associações de moradores; traficantes de drogas; polícias
Pluralismo Jurídico hoje

→ Direito dos ameríndios:

Ex: Pacha Mama: Deidade máxima dos povos indígenas dos Andes centrais; reconhecida como sujeito de
direito nas constituições do Equador e da Bolívia; conceito de propriedade comunal diferente do ocidental
→ Estado Plurinacional: Equador e Bolívia; reconhecimento de modos de ser (e, portanto, de regras
jurídicas) dos povos indígenas
→ Reconhecimento do sumak kawsay na Constituição do Equador de 2008: viver pleno e em harmonia
com o ambiente

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