Você está na página 1de 9

CURSO DE MELHORIA DO ENSINO DA GRADUAÇÃO A PARTIR DO

PROGRAMA DE PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE ENSINO – PPAE

Patrícia Mussi Escobar1


Drª. María Josefina I. Semino de López2
Mitcheia Guma Pinto3
Tamiris Machado Gonçalves4

Resumo

O PPAE é um programa que recebe e seleciona propostas de projetos que visem


práticas alternativas de ensino aos estudantes dos cursos de graduação em suas
atividades acadêmicas. O PPAE concede auxílio financeiro e possibilita a execução
destes projetos. Portanto, a partir do edital do Programa, apresentou-se um projeto para
possível seleção e participação. O projeto do curso de Melhoria do Ensino da Graduação
através de recursos de formação acadêmica para o aluno/pesquisador futuro professor
tinha em 2009 como objetivo principal o ensino aos futuros docentes do curso de Letras
(Português/Espanhol). Entretanto, este ano, embora mantendo a proposta inicial,
desenvolveu-se diferentemente em uma das turmas, devido à diversidade do público
matriculado. Outro elemento renovador foram algumas inovações tecnológicas e
metodológicas oriundas de estudos realizados na Universidade do Minho/PT graças a
uma bolsa de mobilidade acadêmica obtida por uma das ministrantes do curso. A
experiência de ensino através do PPAE e a prática do projeto. Ambas as
apresentaremos neste artigo.

Palavras-chave: Ensino de Línguas; TICs; Metodologias de Ensino; Elaboração de


Materiais Didáticos.
II. Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação

Introdução

O Programa de Práticas Alternativas de Ensino – PPAE tem como


objetivo receber e selecionar propostas para concessão de auxílio
1
Graduanda do Curso de Letras-Português/Espanhol, UFPel-FURG,
patguinha@hotmail.com.
2
Docente do Curso de Letras-Português/Espanhol, FURG/ILA, e-mail:
dlamji@hotmail.com.
3
Graduanda do Curso de Letras-Português/Espanhol, FURG, e-mail:
mitcheia@yahoo.com.br.
4
Graduanda do Curso de Letras-Português/Espanhol, FURG, e-mail:
mtamiris@gmail.com.
financeiro para execução de projetos que visem práticas alternativas de
ensino aos estudantes dos cursos de graduação em suas atividades
acadêmicas; promovendo melhorias no desempenho acadêmico e
escolar, pois muitos destes alunos cursam licenciaturas e atuarão
profissionalmente nas escolas públicas e particulares da região.
Outros objetivos também orientam a proposta do programa, tais
como: fomentar projetos de incentivo, apoiar e acompanhar ao estudante
nas suas atividades acadêmicas; implementar projetos que visem a
melhoria do ensino e da formação acadêmica; propor ações que
contribuam para a redução de fatores determinantes para a reprovação e
a evasão dos estudantes; incentivar os projetos de tutoria entre docentes
e acadêmicos; ampliar as iniciativas de atividades alternativas e
inovadoras para a melhoria do ensino da graduação.
A partir do edital, as propostas deverão ser apresentadas por uma
equipe de trabalho coordenada por um docente efetivo e constituída por
estudantes e docentes vinculados ao curso. Os estudantes que poderão
receber bolsa pelo Programa de Práticas Alternativas de Ensino – PPAE
devem enquadrar-se nos seguintes critérios: estar regularmente
matriculado num curso de graduação da FURG; estar cursando, pelo
menos, o terceiro ano; não receber nenhuma outra bolsa.
As propostas aceitas são aquelas que contemplem, por exemplo, a
realização de cursos, oficinas, aulas de apoio, atividades de tutoria aos
estudantes dos cursos de graduação da FURG, visando reduzir fatores
determinantes para a reprovação e a evasão acadêmica e escolar.
Portanto, com base nestes dados que estão no edital do Programa,
a professora Semino apresentou em 2009 um projeto para possível
seleção e participação da atividade.
Nesta data, o projeto do Curso Melhoria do Ensino da Graduação
através de recursos de formação acadêmica para o aluno/pesquisador
futuro professor, apresentou como objetivo principal o ensino aos futuros
docentes do curso de Letras e em especial do curso de Letras
Português/Espanhol dos recursos disponíveis – materiais didáticos,
programas gratuitos na rede, uso adequado de equipamento como o
multimídia e retroprojetor, entre outros, para a elaboração de suas aulas.
Também buscava demonstrar as possibilidades de uso de vídeos e filmes
para contextualização cultural das aulas de língua estrangeira (podendo
ainda aplicá-las ao estudo da língua materna).
Neste ano, em 2010, surge uma nova versão do projeto, que
adquire uma “roupagem nova” devido aos estudos realizados em
Portugal, na Universidade do Minho, através de uma bolsa de mobilidade
concedida a uma das alunas integrante e bolsista do PPAE no primeiro
semestre de 2010. Esta adaptação, também ocorreu devido à inscrição de
um público não esperado em uma das turmas do Curso de Melhoria do
Ensino da Graduação através de recursos de formação acadêmica para o
aluno/pesquisador futuro professor; esta experiência integrará o assunto
que abordaremos neste artigo.

Marco Teórico

O ensino de línguas estrangeiras no País é geralmente orientado


por modelos e/ou métodos que focalizam aspectos culturais
superficialmente, sem contexto social, histórico, geográfico e político, o
que inevitavelmente, resultará na não assimilação de valores sociais,
morais, ideológicos contidos nessas informações. Serrani (2005) nos
alerta para o fato de que nos materiais existentes para o ensino de
línguas estrangeiras, os aspectos socioculturais são tratados
superficialmente, apenas como curiosidade, e este tipo de proposta é
limitada, unidimensional e acaba, por muitas vezes, ocasionando a
criação de estereótipos e preconceitos.
Com o advento da Internet, atualmente, os docentes de LE podem
buscar materiais da rede – textos escritos e orais, vídeos, documentários
e filmes – e adaptá-los para suas aulas; viabilizando o uso de conteúdos
autênticos que apresentem a inserção do componente cultural, o que
possibilitaria um ensino contextualizado da gramática, do léxico e da
pronúncia da LA.
Atualmente, muitos são os meios para introduzir no ensino de LE a
preconização da cultura com toda sua diversidade. Alguns exemplos
destes recursos são os filmes, os documentários e vídeos que
apresentam a vantagem de serem mostras on line autênticas produzidas
na LA sem manipulação para fins didáticos.
Corder (1992) afirma que a motivação é um elemento fundamental
para que o aprendiz empregue seus conhecimentos subjacentes tanto da
LM (Língua Materna) que são compartilhados com a LE como os da
própria LE. Atualmente trabalhamos com conceitos como
pluri/inter/multiculturalidade que nos servem como base para pensarmos
em um modo de utilizar o conhecimento que o aluno traz para sala de
aula, e a partir dele, construir um ambiente propício para que neste se
interesse pelo que está aprendendo através do contraste entre o
conteúdo a ser aprendido e o conhecimento prévio.
A fim de contemplar a nova ordem e necessidade educacional,
adotou-se para o planejamento das aulas do Curso de Melhoria, uma
abordagem comunicativa intercultural (BYRAM Y FLEMING, 1998), com a
inclusão de outros métodos tais como: a Sugestopédia de Lozanov
(metodologia baseada nos sentidos); o Enfoque Natural (Natural
Approach de Terrell); a proposta de Serrani (2005); quem apresenta um
currículo multidimensional onde se comparam duas culturas com os
seguintes elementos: o intercultural (em relação à diversidade
sociocultural e às práticas discursivas que as salientam), o de língua-
discurso (com esses dois subcomponentes integrados), e, o de práticas
verbais (leitura, escrita, compreensão auditiva e tradução com prática
metadiscursiva ou metalingüística importante); e ainda, a Pedagogia
Identitária e de Imersão Intercultural (SEMINO, 2007). Esta consiste em
um método: a) pedagógico, não somente porque ensina aos alunos do
curso, mas também porque os alunos que ministram as aulas aprendem
também, b) identitário porque o estudante conhece e identifica a cultura
estrangeira e a compara com a sua, e, por último, c) de imersão
intercultural porque mediante o uso de materiais autênticos e o emprego
da Sugestopédia, cria-se um ambiente que remete o discente a outra
realidade, que antes desconhecia, aproximando-o dos aspectos culturais
que permeiam a língua objeto. Este método propõe uma nova maneira
pedagógica para o trabalho em sala de aula; uma abordagem sem limites,
onde as culturas se misturam e onde o uso de materiais reais traz aportes
fundamentais de contextos sociais muito diferentes.
O ensino de LE mediante o estudo da cultura5 visa valorizar a
capacidade do aluno de expressar-se e cotejar hipóteses quando
compara sua realidade com a outra para a qual é apresentado. Com uma
visão intercultural, pretendemos que no futuro os alunos do Curso de
Melhoria, quando professores, façam com que seus alunos superem a
indiferença e o preconceito com relação a outras culturas (e inclusive a
sua própria), instigando-lhes o interesse pelas mesmas, fazendo com que
eles compreendam e tenham uma interpretação positiva sobre a
pluralidade cultural e social (SEMINO, 2007).
Com a inserção do componente cultural e do caráter interdisciplinar
às aulas de E/LE, o docente exercerá um papel de mediador do ensino e
o aluno será incentivado a pesquisar, debater e construir seus saberes a
partir da interação, de forma a garantir-lhe a autonomia e evitar que este
seja passivo no processo de aquisição da LA.

Metodologia, desenvolvimento das aulas e resultados em 2010

O público participante do Curso de Melhoria no ano de 2009 era


formado somente por alunos do curso de Letras - Português/Espanhol,
entretanto, no ano seguinte, em 2010, decidimos ampliar a oferta aos

5
Usamos o conceito da UNESCO contido nas “Recomendações sobre o estatuto
do Folclore”: A cultura é o fluxo de significações criadas, co-produzidas e permutadas
pelos povos. É ela que nos torna capazes de edificar patrimônios culturais e viver em
suas lembranças. Ela nos permite reconhecer nossos elos com nossa linhagem, nossa
comunidade, nossa família linguística, nossa nação – sem falar da própria humanidade.
alunos de outras licenciaturas. Entretanto, esta decisão não foi fator
preponderante para o registro de um público tão especializado em um
curso que primeiramente destinava-se aos alunos dos anos iniciais de
graduação, e sim a necessidade de mestrandos e doutorandos,
especialmente das áreas da saúde e das exatas, por aprenderem mais
sobre planejamento, didática e metodologias de ensino.
A partir deste novo público, formado por graduandos, graduados,
pós-graduandos, pós-graduados, mestres e doutorandos na turma B, as
ministrantes (que eram graduandas) adaptaram o planejamento anterior
às necessidades destes alunos de diferentes níveis de conhecimento e
das mais variadas áreas, como: Artes, Matemática, Biologia,
Enfermagem, Psicologia, Letras (Espanhol, Inglês, Literatura, Português),
Direito, Engenharia.
O desafio de ajustar a proposta do Curso aos interesses destes
discentes partiu da premissa de que sendo todos investigadores, inclusive
as ministrantes do Curso, deveria ser realizada uma pesquisa para
descobrir o que o “eclético grupo” desejava aprender nas aulas. Para isso,
uma ficha de cadastro de dados pessoais foi entregue aos estudantes,
com o questionamento: O que eu desejo aprender nas aulas?
As respostas dos discentes foram:
14

12

10

6
Mestres, doutorand
4 doutores
2 Pós
mestrandos
0
Graduandos, gradua
graduandos

Entre os 23 alunos, 14 integraram o primeiro grupo, 6 o segundo e 3


o terceiro.
Dessa forma, o curso que somava um total de seis encontros,
dividiu-se nos seguintes módulos:
Aula 11.03.2010 As TICs (Tecnologias da Comunicação e
da informação (ferramentas 2.0), blogger
de ensino e currículo Lattes.
Aula 18.03.2010 Plano de Aula e Metodologias.
Aula 25.03.2010 Normas de concurso público para
ingresso na carreira do magistério
superior da Universidade Federal do Rio
Grande e revisão blogger de ensino
(avaliação das ministrantes).
Aula 01.04.2010 Artigo científico, investigação e
buscadores; (apresentação em eventos -
postura e controle emocional).
Aula 08.04.2010 Conhecimento, prática e didática – como
usar tudo que aprendemos na sala de
aula. Dinâmica de grupo – Avaliação dos
alunos.
Aula 15.04.2010 Mistérios e novidades da Web- a
tecnologia móvil.
patguinha@hotmail.com/ Nossos e-mails – um espaço virtual que
sara_sayao@hotmail.com seguirá sempre aberto para trocas de
ideias, dificuldades e novas experiências.
As aulas foram ministradas no laboratório de Informática localizado
no prédio da EAD (Educação à Distância) no Campus Carreiros da FURG,
a turma B sempre às quintas-feiras, das 19h às 22h. E a turma A, às
segundas-feiras, das 14h às 17h.
Os computadores em rede permitiram a participação interativa dos
estudantes que não somente tinham acesso a todo o conteúdo da aula,
como também da internet. Por isso, a maioria da produção dos trabalhos
e atividades solicitadas era realizada em aula com o auxílio das duas
professoras e do monitor do laboratório. Além dos computadores, o
multimídia foi a ferramenta mais utilizada, permitindo acesso às mais
variadas tecnologias da informação contidas na rede virtual.
O uso excessivo destas ferramentas e a não possibilidade do uso
destas também foi objeto de reflexão e debate. Os temas pesquisa e
educação perpassaram e costuraram cada módulo do Curso de Melhoria.
O enriquecimento e o intercâmbio de informações foram favorecidos
a partir do momento em que deixou de existir a situação hierárquica entre
aluno-professor, posicionamento adotado, não pelo nível de titulação
superior de muitos alunos com relação às professoras, mas sim porque é
a situação ideal que se espera encontrar em uma sala de aula neste
século.
Na atualidade, a informação está em qualquer lugar e a disposição
do aluno ou professor, basta que aquele investigue e estude um pouco
mais para saber mais que este. Há campanhas na Europa que conjugam
a possibilidade de aprender online durante o período em que as pessoas
estão no ônibus para que elas conduzam menos seus carros e, portanto,
poluam menos o meio ambiente; com esta medida o governo espera
também diminuir os engarrafamentos.
Em Portugal, o celular na sala de aula não é mais um inimigo do
professor e sim um grande aliado do ensino à distância.
E concluimos que ensinar a um grupo diferenciado de pessoas é
perfeitamente possível seguindo as metodologias mencionadas no marco
teórico, trabalhos incríveis como bloggers de ensino foram gerados em
pouco tempo. Planos de Aulas com metodologias inovadoras e até
mesmo novas profissões foram apresentadas. Avaliações positivas de um
alunado que solicitou mais módulos para a próxima edição do Curso de
extensão “Melhoria do ensino da graduação através de recursos de
formação acadêmica para o aluno/pesquisador futuro professor”.

Referências

BYRAM, Michael; FLEMING, Michael. Perspectivas interculturales en el


aprendizaje de idiomas. Enfoques a través del teatro y de la etnografía.
Madrid: Cambridge, 2001.
CORDER, S. P. La importancia de los errores del que aprende una lengua
segunda. In: Comp. de MUÑOZ LICERAS, Juana: La adquisición de las
lenguas extranjeras. Hacia un modelo de análisis de la interlengua.
Madrid: Visor, Col. Lingüística y Conocimiento, 14, pp. 31-40,1992.
LORENZO, F. Motivación y segundas lenguas. Madrid: Arco Libros, 2006.
RICHARDS, C. J.; RODGERS, S. T. Enfoques y métodos en la
enseñanza de idiomas, Madrid: Cambridge University Press, 2001.
SEMINO, María Josefina I. O educador, a cultura e o ensino do espanhol
como LE no sul do Brasil. In: Primeiros trabalhos do XI CNLF, vol. XI, 2,
Rio de Janeiro: CIFEFIL, pp. 69-86, 2007.
_____. Español y portugués: desenredando las lenguas. Guía para
profesores y alumnos brasileños. Rio Grande: Ed. da FURG, 2007.
SERRANI, Silvana. Discurso e cultura na aula de língua. Currículo –leitura
– escrita. Campinas: Pontes, 2005.

Você também pode gostar