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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

PRINCIPAIS ARGUMENTOS QUE, SEGUNDO LEIBNIZ, ENFRAQUECEM A


TESE EMPIRISTA DE QUE AS IDEIAS TÊM ORIGEM NOS SENTIDOS

NOME: Paulo Henrique Pereira Mota


NºUSP: 9394751
TURNO: Vespertino
PROFº: Oliver Tolle

São Paulo,
11 de Maio de 2015
O presente escrito tem como objetivo apresentar os argumentos do racionalista Leibniz,
por sua vez defende de que há noções inatas, contra a tese dos empiristas, no qual
considera que todas as ideias emanam da experiência.

Friedrich Leibniz começa o Novos ensaios sobre o entendimento humano assentando


que “todos os pensamentos e ações da nossa alma procedem do seu próprio fundo, sem
que possam ser fornecidos à alma pelos sentidos”1. Pensando com base nisso, se
aparenta uma sabedoria certa, de certo modo imediata, em totalidade das pessoas e
abandono por inteiro da experiência para contrução das ideias; porém os sentidos
continuam relevantes, uma vez que eles possibilitam a ocasião de percerber as ideias
inatas. Assim, as ideias, por serem inatas, não significa que todos sabem, sendo até um
princípio unânime, como a Lei da contradição, pois é imprescindível o ato da reflexão
individual: mas nem todas as pessoas tem o costume de meditar. Em suma, temos uma
infinidade de conhecimento, contudo nem sempre é percebido por todos.

É importante ressaltar, ademais, que as verdades necessárias, bem como a Aritmética,


são diferentes das verdades de fato – coisa na qual, segundo Leibniz, John Locke não
distinguiu. Uma ilustração para provar que estas verdades necessárias são caracteres
gravadas na alma: Sócrates, fazendo apenas perguntas, fez um escravo deduzir o
teorema de Pitágoras; ao passo que as verdades de fato são demonstradas não pela
reflexão, não por aquilo que é interno, como da Geometria e da Aritmética, mas pela
experiência, bem como saber se uma comida é doce ou amarga. Inclusive neste
exemplo, o que permite saber se tal comida é e não é algo está num regulamento inato
das coisas, a saber, a lei da contradição: esta não precisa ser demonstrada porque é uma
ideia imediata, de tal maneira que há, por conseguinte, uma aplicação de uma lei inata a
uma verdade sensível. Desse modo, é uma verdade mesclada, pois toma como base uma
ideia inata e é confirmada pelo sentido; por outro lado, dizer “o quadrado não é um
círculo” é inteiramente inata, porque aplica a lei da contradição àquilo que o próprio
entendimento fornece. Em outras palavras, nosso espírito é capaz de conhecer tanto as
verdades necessárias como as verdades de fato, mas a fonte e a demonstração do
entendimento é exclusivamente da primeira. Evidencia-se, dessa maneira, que nem
todas as ideias provém dos sentidos, enfraquecendo tal tese. No entanto, é equivocado
vilipendiar a experiência, em vista que os pensamentos abstratos devem corresponder a

1
Leibniz, G.W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. In: Leibniz, Volume I. Coleção Os
Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.27
algo sensível: “se os traços sensíveis não fossem necessárias, não existiria a harmonia
presstabelecida entre a alma e o corpo”2 .

É patente, assim, que o argumento de comparar a razão com uma tabula rasa, isto é, a
faculdade de conhecer não tem nada escrito, cabendo à experiência preenche-la, está
impreterivelmente descartado, porquanto (1) não significa que se não utilizamos um
saber, quer dizer o vazio da alma; (2) a tabula rasa não são puras faculdades, pois com o
ato constituem as ideias; e (3), se isso estivesse certo, o entendimento não seria a fonte
das verdades necessárias e, portanto, das ideias imutáveis, das quais o espírito tem
disposição tanto ativa, quanto passiva. É uma disposição, uma aptidão, uma pré-
formação, que determina a nossa alma e que faz com que as verdades possam ser
hauridas dela. A alma fornece o ser, a substância, o uno, a causa, a percepção e entre
outro que os sentidos não nos fornecem3. A natureza das verdades, com efeito, depende
da natureza das ideias; “contudo, as ideias que provém dos sentidos são confusas,
sendo-o também as verdades que deles dependem, ao menos em parte; ao passo que as
ideias intelectuais e as verdades que deles dependem são distintos”4. A alma é um
pequeno mundo, na qual as ideias distintas são uma representação de Deus; ao passo
que as ideias confusas, do universo.

Supostamente, os sentidos também fornecem ideias indubitáveis por exemplo: dois


corpos podem estar em um corpo no mesmo lugar; o branco não é vermelho e entre
outros. A primeira proposição não é verdadeira para os cristãos, diz Leibniz, pois é
possível para Deus; a segunda, de novo, é apenas uma aplicação da Lei da contradição,
que é uma ideia imediata e, portanto, sem demonstração. Ela entra em todos os nossos
pensamentos, pois isso é inata. Logo, os sentido estão longe de fornecer seguramente
todas as ideias, tampouco, como vimos, ideias distintas.

A primeiro momento estas ideias gerais e abstratas são mais estranhas ao nosso espírito
do que as noções e as verdades particulares, porém o espírito se apoia sobre os
princípios gerais a todo momento, mas não chega tão facilmente a dintingui-los e
representá-los distinta e separadamente, visto que exige grande atenção. Além disso,
podemos perceber as verdades mais particulares, contudo não impede que “a razão das
verdades mais particulares dependa das mais gerais”. Entretanto, não quer dizer que não

2
Ibid., p.30
3
Cf. Livro II, capítulo I
4
Ibid., 34.
aprendemos as ideias inatas, afinal, apenas aprendemos a matemática, por exemplo,
haurindo da alma quando é por via demonstrativa.

Além de as ideias indeléveis não serem abstrações, bem como o tempo, espaço e outros
seres da matemática pura, pode-se concluir do texto, e segundo Leibniz, que nem todas
as ideias são provindas da experiência (tese central dos empiristas: todas as ideias se
originam dos sentidos), na verdade, apenas uma parte necessita delas para
demonstração; a razão ser uma tabula rasa, onde nada há de escrito inato e os sentidos a
preenche, é pura ficção e, no pior dos eventos, elas nunca são distintas, mas sempre
confusas.

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