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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PRLF
Nº 70072678790 (Nº CNJ: 0031994-46.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS. ENVIO DE E-MAIL
CONTENDO FOTOS ÍNTIMAS E MENSAGENS
DESABONATÓRIAS.
Para a configuração da responsabilidade
subjetiva, é necessária a presença dos
pressupostos da obrigação de indenizar,
previstos no art. 186 e 927 do Código Civil, a
saber, a conduta ilícita, o dano e o nexo de
causalidade. Hipótese em que a autora teve sua
imagem maculada em razão da conduta da
parte ré, no envio de correspondência eletrônica
contendo ofensas, insinuações e fotos íntimas
para a sua pessoa, causando lesão à sua
reputação e imagem. Caracterizado o dano
moral puro, resta o dever de indenizar.

JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA.


OMISSÃO DA SENTENÇA. EXPLICITAÇÃO. É
possível a estipulação dos juros moratórios e
correção monetária a qualquer tempo, inclusive
de ofício, sem que isso represente supressão de
grau de jurisdição, consoante entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, e nos termos do art.
322, § 1º do CPC e da Súmula 254 do STF.

CORREÇÃO MONETÁRIA. DIES A QUO. A


correção monetária incide desde a data do
arbitramento da indenização por dano moral, a
teor da Súmula 362 do STJ. Sentença
explicitada, no ponto.

JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. Em se


tratando de responsabilidade
civil extracontratual, os juros de mora são
devidos a contar do evento danoso, nos termos
da Súmula 54 do C. STJ.

APELAÇÃO DESPROVIDA.
EXPLICITARAM A SENTENÇA.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70072678790 (Nº CNJ: 0031994- COMARCA DE VIAMÃO


46.2017.8.21.7000)

S.R.N. APELANTE
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..
T.R.M. APELADO
..

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Décima


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em NEGAR
PROVIMENTO À APELAÇÃO E EXPLICITAR A SENTENÇA.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os


eminentes Senhores DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA
(PRESIDENTE) E DES. MARCELO CEZAR MÜLLER.

Porto Alegre, 28 de junho de 2018.

DES. PAULO ROBERTO LESSA FRANZ,


Relator.

R E L AT Ó R I O

DES. PAULO ROBERTO LESSA FRANZ (RELATOR)

Adoto o relatório de fls. 123/123v, aditando-o como segue.

Proferindo sentença, a Pretora julgou a demanda nos


seguintes termos, in verbis:

“Pelo exposto, julgo procedente o pedido de


T. R. M. e condeno a ré S. R. N. ao pagamento
de indenização por danos morais arbitrada
em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Condeno ao
pagamento das custas e honorários
advocatícios ao advogado da autora, que fixo
em 15% do valor da condenação, nos termos
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do artigo 85 § 2º do CPC. Fica a ré dispensada


do pagamento dos ônus sucumbenciais, em
face da AJG que lhe defiro.”

Inconformada, a parte ré apelou.

Nas suas razões (fls. 127/128v), afirmou que as imagens


acostadas na inicial e tidas como ofensivas pela julgadora singular foram
requeridas pela própria autora, conforme se depreende das fls. 16/23.
Aduziu que não há falar em desgaste psicológico, pois a autora se
colocou em situação vulnerável ao postular as imagens e que o mero
desfazimento da relação amorosa que mantinha com o Sr. D. não é
suficiente para amparar o pleito condenatório. Mencionou que a ré é tão
vítima quanto a apelada e que o autor dos danos morais suportados pela
requerente é o seu próprio noivo (Douglas), que se relacionou com
terceira pessoa, causando sofrimento em ambas. Ao final, pugnou pelo
provimento do apelo.

Transcorreu in albis o prazo para as contrarrazões (fl. 130v).

Subiram os autos a esta Corte, vindo conclusos para


julgamento.

Registro terem sido cumpridas as formalidades dos artigos


931, 934 e 935 do Novo Código de Processo Civil, considerando a adoção
do sistema informatizado.

É o relatório.

VOTOS

DES. PAULO ROBERTO LESSA FRANZ (RELATOR)

Eminentes colegas.

Impende consignar que a responsabilidade da parte ré deve


ser analisada sob o prisma da responsabilidade subjetiva, nos termos dos
artigos 927 e 186 do Código Civil, in verbis:

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“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186


e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Da exegese dos dispositivos legais supramencionados, pode-


se concluir que são pressupostos da responsabilidade subjetiva: a
conduta culposa ou dolosa do agente, o nexo causal e o dano, e que a
ausência de quaisquer destes elementos, afasta o dever de indenizar.

A respeito do tema, ensina Sergio Cavalieri Filho, (in


Programa de Responsabilidade Civil, 5ª edição, 2ª tiragem, p. 39/40):

"Há primeiramente um elemento formal, que é


a violação de um dever jurídico mediante
conduta voluntária; um elemento subjetivo, que
pode ser o dolo ou a culpa; e, ainda, um
elemento causal-material, que é o dano e a
respectiva relação de causalidade.“

A questão acerca do dever de indenizar foi analisada com


acuidade e justeza pela nobre Pretora, Dr.ª Helga Inge Reeps. Assim que,
visando a evitar a sempre enfadonha tautologia, peço vênia para
transcrever os fundamentos por ela utilizados, adotando-os como razões
de decidir, in verbis:
“As partes estão regularmente representadas e
a contestação foi protocolada tempestivamente.

Passo ao exame do mérito, uma vez que não


foram suscitadas preliminares.

Logo de início, as testemunhas D. e J. disseram


desconhecer a troca de mensagens entre as
partes. A ex-sogra da autora, alegou não saber

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o teor dos recados. Note-se, inclusive a Sra. O.,


havia pedido à ré para que parasse de provocar.
Mesmo assim, Samanta prosseguiu com suas
atitudes.

Do mesmo modo, não é objeto do feito saber se


quem acompanha a ré nas fotografias é D. ou
se havia efetivamente relação entre eles.

Todavia, importante frisar que a ré admitiu ter


remetido as fotografias e mensagens de texto à
autora.

Incontroversas, portanto, a autoria e a


autenticidade dos textos e imagens, resta saber
se tais elementos foram causadores de abalo
moral na autora.

Nesse passo, é desnecessário apurar a


veracidade dos conteúdos e-mails e fotografias
constantes no autos, ou seja, não interessa para
o deslinde do feito saber se havia
relacionamento paralelo entre Samanta e
Douglas.

Ainda que ausentes xingamentos ou palavras


de baixo calão, o conteúdo dos textos e
imagens foi bastante ofensivo.

Verifica-se que as imagens são, efetivamente,


constrangedoras. Mostram órgãos genitais
femininos e masculinos, em ângulos bem
próximos e as conversas demonstram uma
disputa pelo posto de “namorada” de D.. A ré
agiu claramente com o fito de prejudicar o
casal, enviando fotografias em que aparece nua
e de parte do corpo de um homem não
identificado, sugerindo ser o namorado da
autora.

Embora a ré alegue que não tinha intenção de


ofender a autora, não se vislumbra outro
objetivo tivesse ao enviar tais fotografias. Aliás,

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é bom que se sublinhe, que a própria ré


ofendeu também a si mesma ao expor sua
intimidade, como forma de constranger a “rival”
ou “marcar seu território” com relação ao rapaz
que, supostamente mantinha relacionamento
com ambas.

No contexto, o fato de a ré ter optado por


importunar reiteradamente a autora e sua
família, por meio de telefone e internet, já
demonstra sua intenção de vingança. Mesmo
que as fotografias retratem terceiras pessoas,
resta evidenciado o dano moral.

A prova testemunhal de J. R. M. G. à fl. 96,


disse, que T. foi namorada de seu filho, D..
Disse que seu filho beijou Samanta e que ela
achou que estavam namorando. Asseverou que
T. frequentava sua casa por quase três anos.
Disse que conhecia S. “de vista”, mas que ela
não frequentava sua casa, nem namorou seu
filho. Negou ter presenciado discussão entre
autora e ré. Disse que ficou sabendo das fotos,
mas que não viu nada, e que ficou apavorada.
Afirmou que o relacionamento de seu filho com
T. acabou em razão dos fatos narrados na
inicial. Disse que seu filho registrou boletim de
ocorrência pela incomodação causada pela ré
Samantha. Disse que soube que, na época dos
fatos, Thaleana passou mal e sofreu depressão.

A testemunha D. R.O. disse à fl. 105, que S. era


sua colega da graduação. Disse que S. tinha um
relacionamento com D., que andavam juntos na
faculdade, e que ele dizia ter uma namorada,
mas que não se importava muito com essa
namorada. Disse nunca ter visto nenhuma
publicação da ré nas redes sociais sobre a
autora e negou conhecer o conteúdo de e-mails
e fotos.

Por fim, a testemunha J., ouvida, disse à fl. 114,


que conhece Samanta, que era sua cliente
porque trabalha como manicure. Disse
desconhecer ofensas proferidas pela ré S..
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Afirmou que D. namorou com S. antes de


conhecer T. e que manteve o relacionamento
com S. durante o namoro com T.. Disse que S.
lhe confidenciou ter recebido e-mail enviado por
T. no qual a autora dizia ter pena da ré.

Diante de situação humilhante e vexatória, tal


qual a autora se viu envolvida, o dano moral
configurou-se in re ipsa.

Acresço que o fim de um namoro é dissabor


normal na vida moderna. Se o relacionamento
de T. e D. chegou ao seu término, não o foi
somente por somente fatores externos, como
os que ora se apresentam. No entanto, é
inegável que a interferência da ré, ao alegar
insistentemente que mantinha encontros
sexuais com o noivo da autora, teve a maior
contribuição para o rompimento do casal, dado
o desgaste psicológico que acarretou.
(...)”

Em complementação, destaco que a autora registrou


ocorrência policial por difamação e perturbação da tranquilidade em face
da apelada, alegando que estava sendo perseguida pela ré através de
mensagens de texto, e-mails contendo fotos íntimas da ré com seu ex-
namorado, Sr. D., o que corrobora a tese exordial (fl. 41).

A própria ré, em contestação, reconhece que enviou


mensagens de texto via celular para a autora, chamando-a de “Corna” (fl.
46).

Ainda, durante as trocas de mensagens a apelante chega a


pedir desculpas à autora por todo o incômodo causado, segundo se infere
do e-mail da fl. 65.

A prova testemunhal também ampara a versão autora, na


medida que a testemunha J. R. A. M. G., mãe do Sr. Douglas (Ex-noivo da
autora), confirma que a ré importunava a apelada e que o noivada desta
com seu filho acabou em razão da conduta da apelante (fls. 136/137).
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Assim, resta demonstra que a conduta da ré tinha por


objetivo prejudicar a autora perante terceiros, bem como fazer com que o
noivado mantido com o Sr. D. chegasse ao fim, o que, de fato, aconteceu.

Ademais, a bem da verdade, a parte ré, ao remeter e-mail


para a autora contendo insultos e fotos íntimas, incorreu em crime de
injúria, previsto no art. 140 do Código Penal.

Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a


dignidade ou o decoro.
[...]

A propósito da injúria, trago à baila os ensinamentos de


Guilherme de Souza Nucci na obra Código Penal Comentado – 11 ª ed.
rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2012, pp. 140/141:

[...] injuriar significa ofender ou insultar


(vulgarmente, xingar). No caso presente, isso
não basta. É preciso que a ofensa atinja a
dignidade (respeitabilidade ou amor-próprio) ou
o decoro (correção moral ou compostura) de
alguém. Portanto, é um insulto que macula
a honra subjetiva, arranhando o conceito
que a vítima faz de si mesma.

Ainda, a percuciente lição extraída da obra de Yussef Said


Cahali, (in Dano Moral - 4ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2011,
pp.247/249):

O Código Penal define como crime contra a


honra “difamar alguém, imputando-lhe fato
ofensivo à sua reputação” (art. 139); e “injuriar
alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro” (art. 140).
Conforme assinala o STF, “são diversas as
figuras, enquanto a injúria fica configurada

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com frase genérica, a difamação pressupõe a


atribuição, a outrem, de algo determinado;
inexistente a imputação de um certo ato,
descabe cogitar da figura mais gravosa”.
Ainda na lição de Nélson Hungria, consiste a
difamação na imputação de um fato que,
embora sem revestir caráter criminoso, incide
na reprovação ético social, sendo, portanto,
ofensivo à reputação da pessoa a quem se o
atribui[...].
Na injúria, prossegue o notável autor, não é
essencial (diversamente da calúnia e
difamação) que o seu conteúdo seja
comunicado a terceiro: é suficiente que
ele seja ouvido, lido ou percebido apenas
pelo sujeito passivo. O art. 140 define a
injúria como ofensa à dignidade ou decoro de
alguém. Dignidade e decoro são os aspectos da
honra que está em nós. É sutil a diferença entre
uma e outro: dignidade é o sentimento, a
consciência de nossa respeitabilidade pessoal.
E variadíssimos são os meios pelos quais
se pode cometer a injúria. São, afinal,
todos os meios de expressão do
pensamento: a palavra oral, escrita,
impressa ou reproduzida mecanicamente, o
desenho, a imagem, a caricatura, a pintura, a
escultura, a alegoria ou símbolo, gestos, sinais,
atitudes, atos.
[...]
Na realidade, só a “imputação de fato ofensivo
a alguém, com o intuito de molestá-lo,
confundi-lo e humilhá-lo, configura o delito de
injúria”, podendo o anumus injuriandi
evidenciar até mesmo em caso de crítica
excessiva.”

É irrelevante, na hipótese, que tenha a requerida


manifestado sua opinião a respeito da autora por meio de
correspondência eletrônica, em conversa privada com o destinatário do
e-mail.

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Isso porque, ao fazê-lo, a demandada assumiu o risco de que


a ofensa proferida se propagasse, chegando ao conhecimento do
requerente, ou até mesmo de terceiros.

Importante ressaltar que a injúria é crime formal,


consumando-se com a mera ciência do sujeito passivo acerca da ofensa
irrogada, sem necessidade de que terceiros venham a tomar
conhecimento do fato, ou de que este repercuta negativamente para o
ofendido.

Nesse trilhar, a lição de Júlio Fabrini Mirabete e Renato N.


Fabrini (in Código Penal Interpretado, 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.
1126):

Consuma-se a injúria quando o sujeito


passivo toma conhecimento do insulto,
quando ouve, vê ou lê a ofensa, não sendo
necessário que terceiro a perceba. Trata-
se de crime formal, em que se prescinde do
resultado danoso para a sua configuração.

Configurado a injúria, o dano moral se mostra in re ipsa, o


qual se presume, conforme as mais elementares regras da experiência
comum, prescindindo de prova quanto à ocorrência de prejuízo concreto,
diante da ofensa à honra da vítima.

No ensinamento de Rui Stoco (in Tratado de


Responsabilidade Civil Doutrina e Jurisprudência - 8ª ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: RT, 2011, p. 921) tem-se a compreensão da
desnecessidade de prova, quando se trata de dano moral decorrente de
ofensa à honra:

Não há calúnia, difamação ou injúria sem que o


comportamento ultrajante tenha poder de
atingir a honra e a imagem da pessoa, como
partes substanciais do direito de personalidade.
Ofender a honra é o mesmo que ofender a mora
ou o patrimônio subjetivo da pessoa. E, nesse
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caso, basta comportamento ultrajante para


caracterizar a ofensa moral,
independentemente de qualquer comprovação.
[...]
Então, o dano moral é decorrência lógica
da ofensa à honra, dispensa comprovação,
ou seja, emerge in re ipsa do agravo sofrido
e será sempre devido.

Dessarte, a manutenção da sentença, no que toca ao dever


de indenizar é medida que se impõe.

Diante da insurgência recursal, vai mantido incólume o


quantum fixado a título de danos morais.

DA CORREÇÃO MONETÁRIA E DOS JUROS DE MORA.


OMISSÃO DA SENTENÇA. EXPLICITAÇÃO.

A sentença recorrida foi omissa quanto ao marco inicial e


índices aplicáveis dos juros de mora e correção monetária na indenização
a título de danos morais, devendo ser explicitada.

Cumpre ressaltar que a presente decisão não é extra ou


ultra petita, pois, de acordo com o STJ, a matéria é de ordem pública e,
portanto, a correção monetária e os juros de mora podem ser fixados até
mesmo de ofício.
Nesse sentido, o seguinte precedente jurisprudencial do Col.
Superior Tribunal de Justiça.

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.


SÃO PAULO. REENQUADRAMENTO. INOCORRÊNCIA
DE DECADÊNCIA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO NO
ACÓRDÃO RECORRIDO. DECISÃO DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA. JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA.
MANIFESTAÇÃO DE OFÍCIO PELO TRIBUNAL.
POSSIBILIDADE NO CASO EM CONCRETO. 1. O
agravante não trouxe argumentos novos capazes de
infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão
agravada, razão que enseja a negativa de
provimento ao agravo regimental. 2. A alegada
contrariedade ao art. 535 do CPC não restou
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configurada, visto que as instâncias ordinárias


enfrentaram a matéria posta em debate na medida
necessária para o deslinde da controvérsia. 3. O
estabelecimento da incidência de juros e
correção monetária sobre eventual débito
reconhecido em sentença sujeita-se à dupla
disciplina: (i) se a sentença tiver se
pronunciado expressamente sobre essas
verbas, o acórdão recorrido não pode
modificá-las sem pedido da parte interessada,
sob pena de praticar reformatio in pejus; (ii)
por outro lado, se a sentença for omissa
quanto à matéria, é lícito ao Tribunal, mesmo
de ofício, disciplinar a incidência dessas
verbas, sem que se possa argumentar de
extra ou ultra petição. Precedentes. 4. Agravo
regimental não provido. (STJ, ArRg no AREsp
144202/SP, Segunda Turma, Relator Ministro Mauro
Campbell Marques.

Outrossim, insta ressaltar a possibilidade de estipulação, a


qualquer tempo, dos juros legais moratórios, nos termos do art. 322 do
CPC e verbete da Súmula 254 do STF, in verbis:

“Súmula 254. Incluem-se os juros moratórios na


liquidação, embora omisso o pedido inicial ou a
condenação”.

Assim, tratando-se de responsabilidade civil extracontratual,


deve ser considerada a data do evento danoso (data do envio do 1º e-
mail para a autora), à razão de 1% ao mês, nos termos da súmula nº 54
do STJ.
No que tange à incidência da correção monetária, pelo IGP-
M, deve incidir desde a data do arbitramento da indenização (fl.
02/06/2016 – fl. 123), a teor do disposto na Súmula 362 do C. STJ, in
verbis:

“Súm. 362. A correção monetária do valor da


indenização do dano moral incide desde a data
do arbitramento.

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(CORTE ESPECIAL, julgado em 15/10/2008, DJe


03/11/2008)”

Assim, vai explicitada a sentença, no ponto.

Em razão do desprovimento do recurso, passo à majoração


dos honorários de sucumbência, conforme norma constante do artigo 85,
§ 11º, do Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 85. A sentença condenará o vencido a


pagar honorários ao advogado do vencedor.
(...)
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os
honorários fixados anteriormente levando em
conta o trabalho adicional realizado em grau
recursal, observando, conforme o caso, o
disposto nos §§ 2o a 6o, sendo vedado ao
tribunal, no cômputo geral da fixação de
honorários devidos ao advogado do vencedor,
ultrapassar os respectivos limites estabelecidos
nos §§ 2o e 3o para a fase de conhecimento.

Da leitura de tal dispositivo legal, depreende-se a intenção


do legislador de remunerar o trabalho adicional do causídico da parte
recorrida. A lógica de tal previsão é evidente, haja vista que o julgador
que primeiro fixou os honorários sucumbenciais não tem como avaliar a
atividade posterior do advogado da parte vencedora.

Contudo, a doutrina, a qual cunhou a expressão honorários


recursais para denominar a majoração prevista na norma em tela,
sustenta a existência de outra consequência da novel disposição legal,
qual seja: o desestímulo a recursos protelatórios.

Nesse fanal, cito o escólio de Daniel Amorim Assumpção


Neves acerca do tema, in verbis:

“Segundo o § 11 do art. 85 do Novo CPC, o


tribunal, ao julgar o recurso, majorará os
honorários ficados anteriormente levando em
conta o trabalho adicional realizado em grau
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recursal, observando, conforme o caso, o


disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao
tribunal, no cômputo geral da fixação de
honorários devidos ao advogado do vencedor,
ultrapassar os respectivos limites estabelicidos
nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento.
Não resta dúvida de que a nova regra é justa
porque remunera um trabalho do advogado que
ainda está por vir e que, por tal razão, não
poderia ser considerado pelo juiz que proferiu a
decisão recorrida. Não se duvida que um
processo no qual a sentença transitada em
julgado por ausência de interposição de
apelação dá muito menos trabalho do que
aquele que chega até os tribunais superiores,
em razão da sucessiva interposição de recursos.
Essa, entretanto, é a razão nobre do dispositivo,
única, inclusive, reconhecida pelo art. 85, § 11
do Novo CPC.
Há, entretanto, outra razão de ser do dispositivo
legal. A norma servirá como desestímulo à
interposição de recursos, que no Novo Código
de Processo Civil passarão a ficar mais caros
para a parte sucumbente. É óbvio que se o
desestímulo se prestar a evitar a interposição
de recursos manifestamente protelatórios, tal
razão de ser do artigo 85, § 11, do Novo CPC
também será nobre. O problema, entretanto, é
que nada garante tal limitação, podendo a parte
que pretende recorrer, mesmo que não
abusivamente, desistir do caminho recursal
para não ser condenada ao pagamento de
honorários advocatícios. E nesse sentido a
razão de ser da norma ora comentada não terá
nada de nobre, bem pelo contrário. 1”

Justamente em razão dessa dupla finalidade, o STF entende


como despicienda a apresentação de contrarrazões para a majoração
prevista no artigo transcrito alhures. É o que se dessume do seguinte
julgado:

1
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado Artigo por Artigo.
Salvador: JusPodvium, 2017, p.85.
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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
COM AGRAVO. AUSÊNCIA DE OMISSÃO,
OBSCURIDADE OU CONTRADIÇÃO.
REDISCUSSÃO DA MATÉRIA. EFEITOS
INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. MAJORAÇÃO
DE HONORÁRIOS RECURSAIS.
DESNECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE
CONTRARRAZÕES. MULTA. RECURSO
CONSIDERADO IMPROCEDENTE PELA
UNANIMIDADE DO ÓRGÃO COLEGIADO
JULGADOR. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
REJEITADOS. PRECEDENTES. I - Ausência dos
pressupostos do art. 1.022, I, II e III, do Código
de Processo Civil. II - Busca-se tão somente a
rediscussão da matéria, porém os embargos de
declaração não constituem meio processual
adequado para a reforma do decisão, não sendo
possível atribuir-lhes efeitos infringentes, salvo
em situações excepcionais, o que não ocorre no
caso em questão. III – A ratio essendi do
Código de Processo Civil, ao majorar os
honorários sucumbenciais anteriormente
fixados é, também, evitar a reiteração de
recursos. Precedentes. IV - O art. 1.021, § 4°,
do CPC, constitui importante ferramenta que
visa à concretização do princípio da razoável
duração do processo, contido no art. 5°, LXXVIII,
da Constituição, o qual não se coaduna com a
interposição de recursos manifestamente
inadmissíveis ou improcedentes. V - Embargos
de declaração rejeitados. (RE 1013740 AgR-ED,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI,
Segunda Turma, julgado em 21/08/2017,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-193 DIVULG 29-08-
2017 PUBLIC 30-08-2017)

Portanto, deve o julgador atentar-se, ao aumentar os


honorários sucumbenciais, aos parâmetros dos parágrafos §§ 2º e 3º do
artigo 85, ao trabalho suplementar do advogado e ao caráter protelatório
ou não do recurso.

Ao concreto, em atenção às balizas acima mencionadas,


entendo como adequada a majoração da verba honorária de

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PRLF
Nº 70072678790 (Nº CNJ: 0031994-46.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

sucumbência de 15% para 20% do valor da condenação, cuja


exigibilidade fica suspensa, por litigar a parte suplicante ao abrigo da
gratuidade da justiça (fl. 125).

Por derradeiro, apenas consigno que o entendimento ora


esposado não implica ofensa a quaisquer dispositivos, de ordem
constitucional ou infraconstitucional, inclusive àqueles mencionados pelas
partes em suas manifestações no curso do processo.

Diante do exposto, VOTO no sentido de NEGAR


PROVIMENTO À APELAÇÃO, majorando os honorários sucumbenciais
ante o insucesso do recurso, nos termos suso declinados e EXPLICITAR A
SENTENÇA a fim de fixar a incidência de juros de mora de 1% ao mês,
desde o evento danoso e correção monetária, pelo IGP-M, desde o
arbitramento da indenização a título de danos morais.

DES. MARCELO CEZAR MÜLLER - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA (PRESIDENTE) - De


acordo com o(a) Relator(a).

DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA - Presidente - Apelação


Cível nº 70072678790, Comarca de Viamão: "NEGARAM PROVIMENTO À
APELAÇÂO E EXPLICITARAM A SENTENÇA. UNÂNIME. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: HELGA INGE REEPS

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