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Curso Terapia Nutricional em Pediatria

Versão 1.0

Adoçantes artificiais: recomendações

Adriana Garófolo

Os adoçantes são substitutos naturais ou artificiais do açúcar que conferem


sabor doce com menor quantidade de energia por grama. São compostos por
substâncias edulcorantes (que adoçam) e por um veículo (espessantes e
anticoagulantes) que conferem durabilidade, boa aparência e textura ao produto final.
Os veículos podem ser derivados de álcool (polióis) ou do amido. São substâncias
encontradas naturalmente em diversos alimentos (beterraba, aipo, cebola, maçã, pêra,
pêssego, ameixas) mas também podem ser produzidas industrialmente.
Os polióis mais usados em adoçantes são o manitol, sorbitol, xilitol, eritrol, lactulol,
isomalte e maltilol. A ingestão de grandes quantidades de alguns deles, como o
manitol (>20 g) ou o sorbitol (>50 g) podem provocar efeito laxativo.
Os derivados do amido mais usados são a lactose, frutose, maltodextrina, dextrina e
açúcar invertido. Todos os agentes usados como veículo são considerados seguros para
o consumo humano, em quantidades ilimitadas.
O poder edulcorante, ou seja, de adoçar, normalmente é medido comparando-
se ao poder adoçante de uma solução de sacarose. São consideradas substâncias
altamente eficazes por sua capacidade de adoçar muito em pequenas concentrações.
Vários adoçantes atualmente comercializados contêm dois ou mais edulcorantes em
suas fórmulas. Segundo os fabricantes, essa mistura visa potencializar as vantagens de
cada edulcorante e neutralizar as desvantagens, principalmente o sabor residual.
No Brasil até os anos 80, de acordo com a legislação vigente, os produtos
dietéticos eram considerados medicamentos sendo consumidos apenas por
portadores de diabetes ou outras doenças com indicação de limitação na ingestão de
sacarose. A situação mudou com a nova classificação dos adoçantes em 1988, que

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© Ao aluno é permitido fazer uma cópia do material didático disponibilizado para uso próprio. De acordo com a Lei no.
9.610 de 19/02/1998, que trata de direitos autorais, todo aluno fica proibido de propagar, distribuir e vender o material
de qualquer forma, sob pena de responder civil e criminalmente por violação da propriedade material e intelectual.
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ampliou seu uso pela população geral, e com a nova legislação nesse mesmo ano que
regulamentou o seu uso no mercado nacional.
A recomendação de ingestão diária aceitável (IDA) para todos os adoçantes (mg
kg/dia) é definida como aquela considerada inócua, inclusive para situações de uso
contínuo por tempo indeterminado. Os cálculos para se chegar à IDA foram aqueles
isentos de efeitos detectáveis nos animais e com valor corresponde a uma dose cem
vezes menor do que a dose máxima. Isso permite ampla margem de segurança e
portanto, uma ingestão superior ao IDA não será necessariamente uma dose nociva.
Os adoçantes atualmente aprovados para uso nos EUA são acessulfame-k,
aspartato, neotame, sacarina e sucralose. Vários outros adoçantes desse tipo estão
atualmente disponíveis para uso em outros paises. Estes incluem alitame, ciclamato e
stévia.
Atualmente, os edulcorantes são classificados em não-nutritivos e nutritivos.
Não-nutritivos são a sacarina, o aspartame, o acessulfame-k, a sucralose, o neotame, o
alitame, a neoesferidina, a taumatina, o ciclamato e a stévia. No segundo grupo estão
os nutritivos: sacarose, frutose e glicose e polióis, que são subdivididos segundo a
estrutura química: derivados de monossacarídeos (sorbitol, manitol, xilitol, eritritol);
derivados de dissacarídeos (isomaltitol, lactitol, matitol, tagatose, trelose); derivados
de mistura de amidos hidrolisados hidrogenados (xarope maltitol etc).
Efeitos adversos:
A frutose não produz efeitos tóxicos, mesmo quando ingerida em grande
quantidade, porém seu consumo excessivo está associado à elevação de triglicerídeos
pelo aumento da síntese de ácidos graxos e esterificação no fígado bem como menor
captação pelo tecido adiposo. Relaciona-se a alguns efeitos colaterais como
gastrintestinais e diarréia osmótica com o uso de quantidade superior a 20 g. O alto
consumo de frutose em bebidas aumenta o risco do aparecimento de diabetes tipo 2.
O consumo de bebidas e alimentos com frutose poderia levar a menor resposta pós-

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prandial à insulina, baixa concentração de leptina, aumentando a resistência à insulina,


hiperinsulinemia e hipertrigliceridemia. Porém esses efeitos foram observados em
animais e não comprovados em seres humanos. A American Diabetes Association
(ADA) não recomenda o uso da frutose na forma de edulcorante.
O sorbitol é rapidamente convertido em frutose no fígado, não dependendo de
insulina, seguindo a partir daí as mesmas vias metabólicas que a frutose. Promove
redução nos níveis de colesterol, não é tóxico, mutagênico, carcinogênico ou
cariogênico. Doses acima de 30 g por dia podem provocar efeito diurético e doses
acima de 10 g por dia estão associadas a distúrbios gastrintestinais, como flatulência,
diarréia osmótica e cólicas intestinais em adultos. Esse composto também aumenta a
excreção de minerais essenciais, principalmente cálcio, podendo predispor à formação
de litíase renal.
O aspartame tem sido alvo de várias críticas, devido a um suposto efeito
neurológico. Após a absorção, ele é rapidamente hidrolisado pela esterase no intestino
delgado em três moléculas: ácido aspártico, fenilalanina e metanol. Existe a
preocupação com a formação de metanol quando o aspartame é estocado por longos
períodos em temperaturas elevadas. O metanol é oxidado no organismo em ácido
fórmico, sendo seu acúmulo associado à acidose metabólica e lesões oculares.
Entretanto, a concentração de metanol necessária para produzir acúmulo e,
consequentemente o efeito tóxico, foi estimada em 200 a 500 mg/kg, ou seja, o
equivalente a 240 a 600 litros de bebidas adoçadas com aspartame em dose única.
A sacarina é o edulcorante artificial mais utilizado mundialmente desde 1882
devido principalmente ao baixo custo. Quando utilizada em quantidades elevadas
apresenta sabor residual amargo e metálico (associado a impurezas). Para reduzir este
efeito é empregada comumente associada a outros edulcorantes, como ciclamato e
aspartame. Quando administrada simultaneamente a pequenas quantidades de
substâncias reconhecidamente promotoras de câncer como as nitrosaminas, associa-

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se à alta incidência de câncer de bexiga em animais. Mais pesquisas são necessárias


em humanos para elucidar seus efeitos de forma mais clara. Apesar de a sacarina
integrar a lista de adoçantes que podem ser utilizados pela população em geral,
incluindo crianças e gestantes, e ter sido excluída da lista de substâncias com potencial
carcinogênico desde 2000, alguns autores tem restrições quanto a sua utilização por
gestantes e crianças. Isto ocorre por falta de informações conclusivas sobre os efeitos
deste no desenvolvimento fetal e crescimento infantil, porque a sacarina tem
absorção transplacentária e transmamária podendo agir sobre o sistema nervoso
central fetal.
O ciclamato tem seu uso proibido pela Federal Drug Administration (FDA)
desde 1969, devido ao potencial carcinogênico em ratos.
O efeito transplacentário foi confirmado para o ciclamato e seu metabólito ciclo-
hexilamina. Assim podem atravessar a placenta e provocar anomalias cromossômicas
em ratos. Devido à falta de confirmação em outras espécies esse efeito ainda
permanece inconclusivo.
A sucralose é pouco absorvida no trato gastrintestinal e excretada
praticamente inalterada nas fezes sendo que pequena parcela absorvida é
rapidamente eliminada pela urina. Até o momento não existem evidências sobre
alterações nos níveis glicêmicos permitindo seu uso por diabéticos. Os estudos
realizados durante 15 anos e até o momento, sugerem que é um edulcorante inerte,
de absorção pobre no trato gastrointestinal, não-tóxico, não-cariogênico, sem efeito
cancerígeno ou mutagênico e, quando administrado em crianças não influenciou o
crescimento destas.
Seu uso é recomendado para a população em geral, incluindo crianças e gestantes.
Segundo a ADA (2004), a ingestão máxima é de 5 mg/kg/dia.
O esteviosídio/stévia é um adoçante natural, não-calórico, extraído a partir das
folhas da Stevia Rebaudiana Bertoni, originária da América Latina. É proibido pela ADA

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pois a FDA não aprovou o uso do esteviosídio por falta de dados sobre sua segurança.
O Comitê Científico para Alimentos da Comunidade Européia não o listou dentre os
edulcorantes permitidos. Ele foi autorizado para o uso no Brasil em 1986 pela
Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação. Não é metabolizável no
organismo, não-fermenta, não é cariogênico, não tem calorias e é de baixo risco
toxicológico. A quantidade ingerida é quase totalmente absorvida pelo TGI e eliminada
inalterada pela urina. Existem controvérsias quanto à capacidade do sistema digestivo
humano em metabolizar tal edulcorante. Não existem evidências sobre a ação
deletéria na gestação ou em outras condições. A ADA não recomenda o uso do
esteviosídio como edulcorante.
O acesulfame-K é um edulcorante artificial aprovado pela FDA em 1988 e no
Brasil em 1989. Não é metabolizado pelo homem e pelos animais, embora seja
rapidamente absorvido (95% da dose) sendo eliminado inalterado em 24 horas,
principalmente na urina. Não existem evidências conclusivas mas acredita-se que não
afeta os níveis glicêmicos e de lipídios no sangue, podendo ser incluído na dieta de
diabéticos. A ADA aprova o uso do acesulfame-K pela população em geral e para as
gestantes, e a ingestão diária máxima estabelecida é de 15 mg/kg/dia.
O neotame é parcialmente absorvido no intestino delgado, rapidamente
metabolizado e excretado nas fezes e na urina. Uma quantidade insignificante de
metanol é liberada durante a metabolização do neotame e menos de 20% da
fenilalanina originada da ingestão deste é liberada no plasma, o que permite a
utilização por indivíduos fenilcetonúricos. Estudos sugerem que o neotame não afeta a
glicemia de jejum ou os níveis de insulina em pacientes portadores de diabetes tipo 2.
O uso de neotame é considerado seguro pela ADA pois não foi evidenciado efeito
tóxico em estudos experimentais sendo recomendada ingestão diária máxima de 2
mg/kg/dia. No Brasil, desde 2008 o neotame foi aprovado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) podendo fazer parte dos aditivos em alimentos.

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Até o momento, de acordo com estudos de caso controle mais recentes, não
tem sido demonstrado aumento no risco de câncer pelo uso dos adoçantes dietéticos
em geral, incluindo o aspartame.
Alguns edulcorantes não-nutritivos ainda aguardam estudos científicos para sua
aprovação pela FDA: alitame, ciclamato, neosferidine, taumatina e stévia. No Brasil,
Resolução da Anvisa, RDC nº 18, de 24 de março de 2008, os adoçantes taumatina,
eritritol e neotame já estão liberados para serem utilizados como aditivos em
alimentos.
A American Dietetic Association (ADA, 2004) propôs o termo adoçantes não
nutritivos para esse tipo de substância. Porém, a aplicabilidade desse termo para o
aspartame é questionável, pois ele é metabolizado e provê energia dietética, embora
em quantidade não significativa. Assim, tem-se optado em utilizar o termo adoçantes
de baixo valor calórico (“low-calorie sweetener”).
A IDA é usualmente estabelecida em 1/100 do nível máximo, até o qual
nenhum efeito adverso foi observado em experimentos animais.
Os níveis de uso em gêneros alimentícios são estabelecidos de forma a assegurar que a
ingestão diária não exceda a IDA.
Na orientação dietética, o profissional deve considerar as condições
socioeconômicas, a quantidade permitida por dia e esclarecer sobre a importância de
se manter o controle da dose utilizada, além de revisar periodicamente os tipos de
edulcorantes presentes nos adoçantes e produtos dietéticos disponíveis no mercado.
Também é importante a orientação sobre o uso alternado e variado dos tipos de
edulcorantes, ressaltando a importância da leitura dos rótulos dos produtos para
identificar a inclusão de substâncias ainda não permitidas.

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