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A META 47 DO PLANO NACIONAL DE CULTURA

Crianças, participação
social e democracia
Adulto
Pessoa que, em toda coisa
que fala, fala primeiro de si.

(Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)


QUEM SOU EU

Isabela Fernanda Azevedo Silveira – autora

Doutoranda do Programa de Pós Graduação Multidisciplinar em Cultura e


Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Concluinte da Especialização em Política e Gestão Cultural da Universidade
Federal do Recôncavo Baiano (UFRB)

E-mail: isabela.silveira@gmail.com
DESTE TRABALHO
O presente trabalho traz uma reflexão sobre os resultados do Plano Nacional de Cultura,

visando aqui refletir sobre o cumprimento da meta de número 47, que versa sobre infância e

juventude. Assume-se como referência o quarto relatório produzido pelo Ministério da

Cultura (MINC), no qual constam dados do desempenho dessa e das outras 52 metas do

plano desde sua publicação, em dezembro de 2011, até o dia 31 de dezembro de 2016.

O texto problematiza acerca da não inclusão das crianças nas instâncias e instituições de

participação da sociedade civil no país e em que medida essa não participação se reflete

nos resultados das políticas para crianças no bojo do próprio PNC.


CONCEITOS ORIENTADORES

• Mudança da Doutrina orientadora a partir da Convenção dos Direitos da Criança

(1989) –objeto de políticas para sujeito de direitos;

• Criança como sujeito concreto X Infância como categoria social;

• Cultura como direito;

• Instituições participativas como etapa de amadurecimento das pautas

democráticas;

• Participação direta e relação com incidência política dos diversos grupos.


MODERNIDADE, DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO
As crianças constituem, certamente, a categoria social mais prejudicada pelas
formas de construção de cidadania orientada pelas premissas da Modernidade,
no que nos diz Sarmento: “(...) A modernidade estabeleceu uma norma da
infância, em larga medida definida pela negatividade constituinte: a criança não
trabalha, não tem acesso directo ao mercado, não se casa, não vota nem é
eleita, não toma decisões relevantes, não é punível por crimes (...)”. (DELGADO;
MULLER, 2006, p. 17). Ficando de fora ampla e estruturalmente de todas as
formas de participação social, para agenciarem, construírem e defenderem seus
direitos de cidadania as crianças terminaram por depender exclusivamente de
uma categoria social diferente da sua: os adultos.
SOBRE O PLANO NACIONAL DE CULTURA - PNC

E o mais importante: planejamento feito com democracia. Para tanto, o MinC


chamou os interessados na agenda para discutir e pensar sobre qual Cultura
queremos produzir e vivenciar nos próximos 10 anos. Foi um amplo processo de
debate, que durou meses, e que qualificou a proposta agora entregue à
sociedade.

Trata-se de texto escrito por milhares de mãos, por diversos sujeitos e grupos, por
meio de diferentes instâncias e espaços de experimentação e participação. Um
plano que reflete o esforço coletivo para assegurar o total exercício dos direitos
culturais dos brasileiros e brasileiras de todas as situações econômicas,
localizações, origens étnicas e faixas etárias.”
(BRASIL. MINISTÉRIO DA CULTURA, 2011, p.8. GRIFO NOSSO)
A META 47 E A (TENTATIVA) DE INCLUSÃO DE AGENDAS

Na versão preliminar do Plano Nacional de Cultura, aberto para consulta pública em


setembro de 2011, constando de 275 ações agrupadas em 48 metas, em 36 áreas
estratégicas, o documento não trazia a palavra infância/criança em uma única meta. Isso foi
corrigido em 2012, graças à articulação de grupos de artistas e gestores ligados à Cultura
Infância no país que conseguiram inclusão de uma meta específica para essa categoria
social por meio de diálogo com a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, resultando
na meta 47.

Diz-nos ela: 100% dos planos setoriais com representação no Conselho Nacional de Política
Cultural (CNPC) com diretrizes, ações e metas voltadas para infância e juventude.
OS DESAFIOS DA META 47
A meta: 100% dos planos setoriais com representação no Conselho Nacional
de Política Cultural (CNPC) com diretrizes, ações e metas voltadas para infância
e juventude.

• Composta por um único grupo de agentes – discussão reduzida;


• Condicionada a outra meta (META 46 – 100% dos setores representados no
Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) com colegiados instalados e
planos setoriais elaborados e implementados);
O INDICADOR E O CUMPRIMENTO DA META

INDICADOR (Portaria) número de planos setoriais de cultura elaborados no âmbito do


MinC com diretrizes, ações e metas voltadas para infância e juventude em relação ao
total desses.
Cumprimento da meta no período: 0% (0 de 15 planos propostos até 2016)

Proposta de revisão do indicador: número de planos setoriais de cultura elaborados no


âmbito do MinC com diretrizes, ações ou metas voltadas para infância e juventude em
relação ao total desses.
Cumprimento da meta no período com novo indicador: 80% (12 de 15 planos até 2016)
META-AVALIAÇÃO DA REVISÃO

A meta 47 recebeu proposta de alteração no título e no indicador, buscando simplificar a


forma como o tema cultura e infância deve aparecer nos planos a serem mensurados
para o alcance da meta. No título, propôs-se a exclusão da necessidade de representação
no CNPC para que os planos e ações sejam contabilizados. Portanto, qualquer plano ou
ação voltada para a infância e juventude poderia ser incluído para aferição da meta. No
indicador, os revisores propuseram a ampliação do termo “ações voltadas para a infância
e juventude”. No indicador original, estava previsto que os planos deveriam ter diretrizes,
ações e metas relacionadas ao tema, o que, segundo as discussões, dificultava o alcance
da meta. A proposta de alteração excluiu essa exigência, passando a contabilizar planos
que contenham no mínimo um quesito sobre infância e juventude. A expansão proposta
pela revisão só foi justificada com o objetivo de viabilizar o alcance dos resultados
previstos, o que nos parece pouco apropriado. Ao analisarmos os critérios do modelo
SMART, o único critério evidente no processo de revisão é a relevância da meta. Ao
contrário do que é esperado, a proposta parece deixar a meta menos específica,
mensurável e realizável no tempo previsto.

Análise e avaliação qualitativa das metas e o monitoramento do


Plano Nacional de Cultura (PNC) / Ministério da Cultura.
Secretaria da Diversidade Cultural. – Salvador : UFBA, 2018.
P.233. grifo nosso
ALGUMAS CONCLUSÕES

• Apagamento das pautas e agendas da infância no contexto do


PNC, desde sua elaboração até seu monitoramento;
• Redução contínua da relevância dessa categoria social;
• Prerrogativa da Prioridade Absoluta, prevista no sistema de
garantia de direitos, não alcança nem conceitualmente o âmbito
cultural e suas políticas.
REFERÊNCIAS

ACIOLY, K. Segundo catálogo livre cultura infância: com passeios pedagógicos. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 2014. Dados, Rio de Janeiro, vol. 50, n° 3, p. 443-464, 2007.

AVRITZER, L. Sociedade civil, instituições participativas e representação: da autorização à


legitimação da ação. in: Brasil em Desenvolvimento : Estado, planejamento e políticas públicas /
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Ipea, 2010. p 565-585.
Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3801/1/Livro_Brasil_em_desenvolvimento_2010_
v_3.pdf Acesso em 05/05/2019

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Presidência da República, 1988.

BRASIL. Ministério da Cultura. O Plano Nacional de Cultura (PNC). Brasília, DF: Ministério da
Cultura, [201-]. Disponível em: http://pnc.cultura.gov.br. Acesso em: 20 out. 2017.

BRASIL. Ministério da Cultura. Primeira versão das metas do Plano Nacional de Cultura. Brasília,
DF: Ministério da Cultura, 2011.
BRASIL, Ministério da Justiça. Perguntas frequentes sobre eleições. 2018. Acessível em:
http://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2018/perguntas-frequentes-sobre-as-eleicoes Último acesso em 10 de
maio de 2019

BRASIL, Ministério da Justiça e Segurança Pública. Levantamento nacional de informações penitenciárias


INFOPEN Mulheres - 2ª edição/ Organização Thandara Santos; colaboração Marlene Inês da Rosa [et. al.].
Brasília: 2018. Disponível em: http://fileserver.idpc.net/library/infopenmulheres_arte_07-03-18.pdf Acesso em
20.mai.2019
BRASIL, Ministério da Justiça e Segurança Pública. Levantamento nacional de informações penienteciárias:
IFOPEN atualização - junho 2016. Organização Thandara Santos; colaboração Marlene Inês da Rosa [et. al.].
Brasília: 2017. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/infopen-levantamento.pdf Acesso em 20.mai.2019

CALABRE, Lia. (Org.). Políticas culturais: reflexões sobre gestão, processos participativos e desenvolvimento.
São Paulo: Itaú Cultural, 2010.
CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia. In: Cultura e Democracia – Coleção Cultura é o que?, v.1, BAHIA,
Secretaria de Cultura – SECULT, 2012. Disponível em:
http://www.cultura.ba.gov.br/arquivos/File/oqeculturavol_1_chaui.pdf Acesso: 20.jun.2019

DELGADO, A. C. C.; MULLER, F. Infâncias, tempos e espaços: um diálogo com Manuel Jacinto Sarmento.
Currículo sem Fronteiras, [S.l.], v. 6, n. 1, p.15-24. jan./jun. 2006. Disponível em:
http://www.curriculosemfronteiras.org/vol6iss1articles/sarmento.pdf. Acesso em: 18 out. 2017.
Obrigada!

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