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Estimulado pela conversa em torno do complexo material clínico trazido pela colega
Suely Delboni no último encontro do grupo “Transformações em Conversas” ocorrido em
Junho/2012 e no qual emergiram diversas questões sobre o conceito “experiência
emocional” de Bion, resolvi elaborar este estímulo para darmos continuidade ao complexo
tema.
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como vivência emocional que acompanha a experiência de preenchimento de
uma pré-concepção em sua conjunção com um objeto que a satisfaz adequada
ou inadequadamente (realização positiva ou negativa)1;
como experiência psíquica de elos no processo de conhecer, ou sejam, vínculos
positivos e negativos de amor (L), ódio(H) e conhecimento(K).
V. Em “Transformações” (1965), Bion expandiu o modelo da mente para além do uso das
“experiências emocionais” do analisando como matéria prima para o desenvolvimento
de pensamentos. A partir desta obra, a apreensão da realidade psíquica passou a ter
como foco principal a mente do analista, o que se passa nesta na relação com seu
analisando; o interesse nas “experiências emocionais” deslocou-se para o
desenvolvimento dos pensamentos no analista (ou, mais especificamente, nas EEs
geradoras de pensamentos na mente do analista). Deste modo, o analista tornou-se
capaz de trazer para a dimensão do conhecer, experiências psíquicas de áreas da
mente do analisando que ainda não dispõem de recursos simbólicos para
representação (não-conhecidas).
VI. Os conceitos “sendo O” ou “tornando-se O” e “intuição”, apresentados em
“Transformações” e “Atenção e Interpretação” (1970), a meu ver, constituem-se na
evolução natural do conceito “experiência emocional”. O conceito EE, ao passar a ser
analisada a partir da observação da mente do analista (ou seja, a EE do analista naquele
momento daquela relação com o analisando e consigo mesmo concomitantemente),
evolui para um conceito mais específico, o “sendo” ou “tornando-se O”, que é a EE
mais específica possível de ser vivida a dois, uma vez que os limites do que se origina
num ou noutro perde nitidez e mesmo importância. Por sua vez, o conceito “intuição”
pode ser pensado como a EE que ocorre na mente do analista em consequência do
“sendo O”.
VII. O “sendo O” mudou o vértice de observação analítica antes focado no conhecer X não-
conhecer, que são dimensões de K. O “ser ou tornar-se a realidade” e sua
consequência, a possibilidade do uso técnico da “intuição”, especificou e ao mesmo
tempo expandiu o conceito de “experiência emocional”; assim, incluiu no arsenal
técnico da Psicanálise a observação de EEs que podem transitar inconscientemente de
uma mente para outra, criando uma espécie de ‘atalho’ nos processos do conhecer.
[Vide fragmento clínico.]
VIII. Pelo exposto, muitos movimentos psíquicos envolvem “experiência emocional”,
motivo pelo qual penso ser este tema gerador de tanta confusão conceitual. Por
exemplo, os psicanalistas falam em ‘trabalhar na experiência emocional, ou com a
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Em “Aprendendo com a Experiência”, Bion propõe: “... vou supor que uma criança tem uma preconcepção inata sobre a existência
de um seio que satisfaz sua natureza incompleta. A “realização” do seio prove uma experiência emocional.” (Bion, 1962, p.69). A
preconcepção é filogeneticamente herdada, mas o seio real realmente existe, é um fato. Winnicott levou uma década para
contemplar o paradoxo: o seio é criado pela criança, mas já esta lá, a sua disposição para ser percebido. Esta experiência adquire
qualidade emocional se, e quando ela se pareia/casa/conjuga com a preconcepção inata que cada bebê possui a respeito de seio.
Podemos pensar que no momento em que o seio preconcebido se realiza, surge o protótipo de todas as “experiências emocionais”
que podem se seguir.
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experiência emocional’, coisificando algo que é um conceito imaterial e dando a
impressão de ser possível possuir (ou não) a capacidade de trabalhar em tal âmbito.2
IX. A partir de “Transformações”, Bion nos apresenta o modelo da mente
multidimensional e neste novo modelo, que o acompanhou até o final de sua obra, o
conceito de vínculos do conhecer e não-conhecer é substituído pelo conceito de
dimensões mentais conhecidas e não-conhecidas. A partir deste vértice, as
“experiências emocionais” do analista passam a indicar a dimensão da vida mental
prevalente em um dado momento da observação. Se trabalhando em condições
mentais suficientemente favoráveis, as EEs do analista podem ser consideradas
invariantes no reconhecimento das possíveis transformações acontecendo na relação.
Mesmo as “transformações autísticas” (Korbivcher, 2010), quando observadas numa
relação, podem gerar EEs no analista, a quem caberá fazer as transformações em
pensamento.
X. Sinteticamente, ao longo da obra de Bion, o conceito “experiência emocional” pode
ser abarcado como:
vivência emocional geradora de pensamentos (pré-concepção + realização
positiva ou negativa)
vivência emocional inerente aos vínculos ± L, ± H, ± K
“sendo O” ou “tornando-se O”
“intuição”
“feeling” e “impression”
XI. Sandler (2012) refere que “experiência emocional” é como o ar que nos cerca e está
disponível para respirarmos, ele está sempre ali, à disposição, mas - como Bion deixou
claro - depende sempre de uma relação (♀♂). Os elementos apontados acima, a saber:
vivência emocional geradora de pensamentos, vínculos ± L, ± H, ± K, “sendo ou
tornando-se O”, “intuição”, “feeling” e “impression”, constituem boa parte da matéria-
prima da relação analítica, o que nos leva à indagação: o que numa psicanálise não se
constitui em “experiência emocional”? Fica aberta a questão.
XII. Pensando na complexidade da clínica psicanalítica, que requer apreensão de
dimensões mentais conhecidas e não-conhecidas, e seguindo Sandler (2012) e Bion
(1962), proponho pensarmos num espectro que vai desde a apreensão sensorial
(sensações, percepções oriundas dos nossos órgãos dos sentidos) até as emoções
básicas (expressões dos instintos, conforme conceituação de Freud e Klein, e
entendidas como tendo qualidade sensorial antes de serem transformadas pela função
α)3: Apreensão Sensorial ↔ Emoções Básicas.
Este espectro pode ser comparado ao espectro total da luz, do qual apenas uma
pequena parte recai dentro da capacidade de apreensão do olho humano, a maior
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Altamente sofisticado, atualmente, é ‘trabalhar na ou com a experiência emocional’, assim como há alguns anos o jargão
sofisticado era ‘trabalhar na ou com a transferência’.
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Bion: Se a função α estiver perturbada e, portanto, inoperante, as impressões sensoriais das quais o paciente está consciente,
assim como, as emoções que ele está experimentando, permanecem inalteradas. Chamá-las-ei de elementos β. (...) As emoções,
da mesma forma, são objetos dos sentidos. (1962, pág. 6; tradução livre do autor).
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parte de nossas sensações e emoções é como a luz ultravioleta ou a luz infravermelha,
que permanecem fora de nosso alcance perceptivo, portanto, impossibilitadas de uso.
Bibliografia: