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CONCLUSÃO

As origens da filosofia grega — e, portanto, de todo o


pensamentos ocidental — são misteriosas.
Giorgio Colli

O presente trabalho é uma investigação das relações entre o mito, a


filosofia e a medicina na Grécia Antiga. Em verdade, puderam-se ressaltar, após
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metódica reflexão sobre a bibliografia empregada — textos antigos e obras


exegéticas — os seguintes pontos de maior relevância:
(1) Os mitos representam uma verdadeira criação do Espírito, atuando
como fecunda interface entre o homem e a realidade. À época em que a filosofia
emerge no cenário cultural grego, os mitos cosmogônicos  aqueles que se
referem à origem das coisas , já se encontravam “esvaziados” no mister de
trazer  e conter  as verdades necessárias para as mais variadas questões da
realidade, espaço que, paulatinamente, acabou sendo ocupado pela filosofia.
(2) Há íntimos e estreitos pontos de continuidade — ou de contato —
entre a poesia de Homero e Hesíodo — Ilíada, Odisséia, Teogonia e Os
Trabalhos e os Dias — e a filosofia pré-socrática, uma vez que vários elementos
demarcados nos poemas se fizeram recorrentes nos fragmentos dos primevos
pensadores, mencionando-se a guerra de opostos e a primazia da água como dois
bons exemplos.
(3) A natureza dos problemas enfrentados pelos médicos hipocráticos é,
obviamente, radicalmente distinta das questões formuladas pelos filósofos
originários: aos primeiros interessava diagnosticar, prognosticar e tratar os
enfermos, o que pressupunha um resultado prático do seu fazer; aos pensadores,
importava especular sobre a constituição da fuvsi", formulando proposições
Conclusão 167

acerca do real, as quais não possuíam nenhuma necessidade de contemplar as


questões mais práticas do cotidiano. Neste sentido, por sua característica de se
voltar para problemas concretos, a medicina se funda em um método empírico —
é necessário observar os enfermos para que se adquira perspicácia em identificar
os quadros nosológicos, pressuposto para tratá-los —, bastante distinto do
dogmatismo da filosofia.
(4) Apesar de seu marcante traço empírico, a medicina hipocrática é
herdeira da filosofia — e, por conseguinte, do mito — no aspecto de que vários
pontos de seu repertório doutrinário — como a tese dos humores e a dos poros —
possuem decidida influência das concepções pré-socráticas.
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Com base nestas premissas pôde-se concluir que os três fenômenos


investigados — mito, filosofia e medicina — ainda que detentores de
características intrínsecas muito próprias, possuem um fio condutor que os torna
orgânicos no panorama mais geral do Espírito grego.

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