Libras no contexto da educação inclusiva bilíngue.
Nicole Gradice Silva Nº USP: 9283802
A definição de surdez apresenta ambiguidades ainda nos dias de hoje. A
pessoa surda pode ser considerada aquela que utiliza da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para se comunicar, ou também, erroneamente, como a pessoa com deficiência auditiva que tem a necessidade de acessibilidade para conviver normalmente em sociedade. Devido ao contexto histórico e preconceituoso a respeito dos surdos, essas ambiguidades existem, e muitas pessoas pensam no surdo até mesmo como uma pessoa com deficiência intelectual. Apesar disso, a diferença entre surdos e ouvintes é meramente uma questão linguística. Embora surdos sejam incapazes de ouvir, possuem a visão extremamente aguçada, podendo discernir situações como qualquer pessoa sem deficiência. As crianças surdas têm a capacidade de adquirir a língua de sinais assim como os ouvintes podem adquirir a língua oficial de seu país. Para isso, ela deve ser exposta à língua de sinais o quanto antes em sua vida, para que possa adquirí-la naturalmente. No crescimento da criança, é necessário para seu aprendizado que esteja em ambientes propícios para a utilização de sua língua materna, de modo que consiga aprender e se aprimorar em sua comunicação ao ter contato com pessoas mais experientes na língua a ser adquirida. Estes ambientes devem estar presente tanto para ouvintes quanto para surdos. Entretanto, é também imprescindível que o surdo se torne bilíngue e aprenda a língua portuguesa em sua forma escrita, a língua oficial do Brasil. Um mundo em que todos soubessem ao menos o básico da língua de sinais correspondente ao seu país seria o ideal, mas sabe-se que esta não é a realidade, e para um melhor convívio em sociedade, no caso do Brasil, a língua portuguesa deve ser aprendida pelos surdos, não como sua língua materna, que seria a Libras no Brasil, mas sim como segunda língua. A falta de conhecimento das famílias e escolas que lidam com crianças surdas são fatores excludentes, que levam a mal entendidos e a aprendizagem inadequada destas crianças. Tanto a língua de sinais quanto a língua portuguesa devem estar presentes no cotidiano da criança, embora esta não seja a realidade no Brasil. Em mais de 95% dos casos, crianças surdas são nascidas e criadas em meios ouvintes [1], e demoram para aprender a língua de sinais. Este atraso na aquisição da língua materna impacta diretamente no aprendizado da criança, atrasando sua educação escolar. Na situação em que os pais e/ou a escola não têm conhecimento sobre como lidar com o aluno surdo, o ambiente da criança se torna inapropriado para o bilinguismo e biculturalismo. O surdo como indivíduo tem sua língua e também sua cultura, que é expressa pela língua de sinais e, portanto, a criança surda deve ser exposta a língua de sinais e a língua portuguesa nas escolas, com o cuidado de que não se torne o único foco na educação escolar. O surdo tem o direito à ser educado em sua língua materna, seja com um instrutor surdo ou um intérprete, de modo que exista uma identificação da criança com adultos surdos. Embora haja leis que dizem a respeito destes direitos, elas não são realmente efetivadas pela sociedade. Portanto, escolas bilíngues, escolas públicas com intérpretes ou professores bilíngues devidamente formados para o ensino aos surdos são algumas das soluções para que a criança surda viva em um ambiente de aprendizado acessível, sem repressão de sua cultura e sua língua materna, de modo propício para a troca de experiências linguísticas e culturais. Estas escolas trazem um enorme aprendizado tanto para surdos quanto para ouvintes, que reconhecerão seus colegas surdos como indivíduos semelhantes e podem adquirir a conscientização dos direitos dos surdos, pelos quais todos devemos continuar lutando.
[1] FERNANDES, S.; MOREIRA, L. C. Políticas de educação bilíngue para
surdos: o contexto brasileiro. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, Edição Especial n. 2/2014, p. 51-69. Editora UFPR.