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1. Imperatividade
2. Coercibilidade
3. Estatalidade
4. Exterioridade
E diz-se em princípio que a tutela é pública porque por vezes a tutela dos
direitos, excecionalmente, e apenas em casos determinados, pode ser privada. Essa
permissão à tutela privada resulta do facto de a tutela pública por vezes não funcionar
ou funcionar tardiamente e os interesses a defender não se compadecerem com a
resposta mais lenta da tutela pública. Nessas situações, que o próprio sistema
compreensivelmente pretende ver como excecionais, o particular pode recorrer à
tutela privada do seu direito, e mesmo assim só preenchendo determinados requisitos.
Tais situações são as seguintes:
Classificação
O costume
fontes imediatas
A lei
A jurisprudência
fontes mediatas
A doutrina
aa)) O COSTUME
Elementos constitutivos
Importância
O costume parece ter sido erradicado da nossa lei, já que dele não faz
referência o artigo 1.º do CCivil. Todavia, o artigo 348.º CCivil admite
expressamente a sua importância e relevo.
Costumes praeter legem – são costumes que vão para além da Lei,
sem a contrariar.
Os costumes e os usos
Os usos não se confundem com os costumes uma vez que naqueles apenas
se verifica o elemento material mas já não o elemento psicológico dos
costumes. Os usos são apenas práticas reiteradas sem que delas se tenha o
conceito de correspondência com uma norma jurídica. Os usos,
curiosamente, são admitidos no nosso Código Civil de forma mais expressa
do que o costume – nesse sentido, e a título meramente exemplificativo,
3.º, 763.º n.º 1, 885.º n.º 2, 919.º, 1039.º, 1158.º, todos do CCivil.
bb)) A LEI
O Código Civil define lei como a “norma proveniente dos órgãos estaduais
competentes” (1.º CCivil), sendo certo que há leis que não contém normas e
normas que não estão contidas em leis, em sentido estrito. Assim, o termo lei
pode ainda assumir sentidos diversos:
Lei em sentido amplo e lei em sentido estrito
NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO 2012/2013
3. O procedimento legislativo
NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE DIREITO 2012/2013
C) A JURISPRUDÊNCIA
d) A DOUTRINA
São exemplos os
ff)) A EQUIDADE
O dever de obediência à lei pelo julgador não pode ser afastado sob o
pretexto de a lei ser injusta ou imoral (8.º n.º 2 CC)
Daí que a lei admita que o Tribunal possa recorrer ao princípio da equidade
nos casos nela previstos (4.º CC), designadamente quando houver disposição
legal que o preveja (v.g. 72.º n.º 2, 283.º n.º 1, 400.º n.º 1, 566.º n.º 3 CC)
Imperatividade
A norma não é um mero conselho, uma opinião nem uma
simples recomendação. Traduz-se numa ordem, num
comando que deve ser respeitado ou cumprido.
Generalidade e abstração
Generalidade
A norma jurídica faz uma previsão geral, isto é, é
destinada a um conjunto indeterminado de sujeitos.
Atenção que o conceito de generalidade não é
equivalente apenas à destinação a uma pluralidade
de indivíduos: com efeito, a determinabilidade, à
partida, dos destinatários da prescrição excluem-na
como norma jurídica. Por outro lado, o “conjunto
indeterminado de indivíduos” não é incompatível
com o facto de a norma ter como destinatário, em
cada momento, apenas um indivíduo (é o caso das
normas que regulam a competência do Procurador
Geral da República ou do Presidente da mesma:
existe generalidade uma vez que a norma é aplicável
a toda e qualquer pessoa que, hoje e no futuro,
venham a desempenhar tais cargos). O oposto da
generalidade é a individualização
Abstração
A norma jurídica visa regular um número indefinido,
um número indeterminado de casos. A norma abstrai
do caso concreto e regula uma situação abstrata à
qual os casos concretos se poderão subsumir. Se
tiver por fim regular um caso determinado, ou um
grupo determinado ou determinável de casos não é
uma norma mas sim uma decisão sobre esses casos.
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Coercibilidade
A coercibilidade consiste na suscetibilidade que toda a
norma jurídica tendencialmente tem de poder ser aplicada
mesmo contra a vontade do destinatário, com recurso à
força, se necessário. Assim, a sua violação ou falta de
cumprimento é punida com a sua aplicação coerciva ou com
sanções punitivas.
1. Início de vigência
2. Cessação de vigência
O Código Civil prevê duas causas para que as leis deixem de estar em vigor:
a) A caducidade
b) A revogação
1. O problema
A solução dos conflitos de leis no espaço é-nos dada pelo Direito Internacional
Privado (DIP), ramo do direito esse que, congregando um conjunto de normas
instrumentais, remissivas e não substantivas, denominadas normas de
conflitos, destinam-se a regular apenas os problemas emergentes das relações
privadas de caráter internacional.
As conexões das relações jurídicas com as diversas ordens jurídicas podem ter
várias razões, a saber, e por exemplo,
Alguns exemplos:
Personalidade e capacidade de gozo e de agir: é aplicável a lei da
nacionalidade dos indivíduos (25.º a 34.º CCivil)
Quanto à forma dos negócios jurídicos: é aplicável, em princípio, a lei do
lugar da sua celebração
Coisas (direito de propriedade e outros direitos reais, a posse): território
da situação dos bens (46º n.º 1 CCivil)
Relações familiares: são vários os critérios (52º e 57.º a 61.º CCivil)
Sucessões: a lei da nacionalidade do falecido ao tempo do falecimento
(62.º a 65.º CCivil).
1. O problema
António fuma diversos cigarros no jardim frente a sua casa. Alguns dias
depois, e por pressão de diversas associações ambientais, é publicada e
entra em vigor uma lei que pune com prisão até dois anos quem fumar,
mesmo que ao ar livre. Poderá António ser julgado por ter fumado no
jardim?
2. Princípios
a) O direito transitório
O direito transitório, todavia, nem sempre aparece nas leis novas e, nos casos
em que existe, é frequentemente lacunoso, pelo que importa ser determinado
pela Doutrina e pela Jurisprudência um conjunto de critérios que orientem o
intérprete na aplicação da lei no tempo.
O princípio da não retroatividade significa que a lei não dispõe para o passado,
não tem efeitos retroativos.
no direito penal, não pode haver aplicação retroativa de leis que criem
novos crimes ou medidas de segurança ou agravem penas e medidas de
segurança (29.º n.º 1, 3 e 4 CRP)
c) A aplicação imediata
1
De validade substancial estaríamos a falar de regras relativas à capacidade de agir ou das regras de um
contrato celebrado sob erro, dolo ou coação. Da validade formal falaríamos, por exemplo, das regras
relativas à forma de celebração de um contrato.
2
As diferentes alterações históricas às exigências de forma do contrato de mútuo (1143.º CCivil) só são
aplicáveis aos contratos futuros a cada um das sucessivas alterações, não sendo aplicáveis aos contratos
em vigor mas celebrados sob a égide da redação anterior da norma.
3
Assim, se a LN alterar o regime do direito de propriedade aplica-se mesmo aos direitos de propriedade
constituídos antes da sua entrada em vigor. Já as situações em que não é possível abstrairmo-nos dos
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3. Casos especiais
a) No Direito Penal aplica-se a lei mais favorável ao arguido (29.º n.º 4 CRP
e 2.º CPenal)
d) Nos prazos
factos que deram origem aos factos jurídicos atingidos, a contrario sensu devem ser abrangidas apenas
pela LA. Se a lei alterar o regime da responsabilidade contratual ou extracontratual, será sempre
necessário apreciar os factos (os contratos ou os atos lesivos, respetivamente) que dão origem àquelas
responsabilidades. Assim, a alteração destas regras sobre responsabilidade contratual ou
extracontratual não são aplicáveis aos factos ocorridos antes do início de vigência da LN.
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1. Conceito
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Dá-se a revogação tácita de uma norma quando uma outra norma, de igual ou superior valor, e que
tenha entrado posteriormente em vigor, tenha um conteúdo que seja incompatível com a primeira.
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a) Interpretação autêntica
b) Interpretação doutrinal
Corrente subjetivista
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A interpretação doutrinal assume, assim, diversas designações consoante a entidade que faz a
interpretação: Interpretação oficial ou administrativa: é a que é feita em lei de valor inferior ao da
norma interpretada; v.g. a interpretação que o Ministro der por despacho a determinada lei pode ser e
é vinculativa para o seu Ministério, por obediência hierárquica, mas não mais do que isso – é a
interpretação que se funda apenas no poder administrativo;
Interpretação judicial: é a que é realizada pelos tribunais num processo e, salvo os casos de decisões de
uniformização de jurisprudência, tem apenas valor vinculativo no próprio processo em que foi feita; está
apenas sujeita às regras legais sobre a interpretação;
Interpretação particular: é aquela que é efetuada nas restantes hipóteses; não tem força vinculativa
nem geral, mas apenas o valor persuasivo resultante da força das suas razões e argumentos ou até do
prestígio científico do intérprete.
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cabe apurar, de entre os sentidos que a lei objetivamente admite (e, para
alguns pensadores, mesmo que a lei não o admita no seu texto literal mas
seja conceptualmente possível), qual o sentido que esteve na intenção do
legislador;
Corrente Objetivista
Corrente Historicista
Corrente Atualista
5. Elementos da interpretação
Os meios e instrumentos de que o intérprete pode e deve utilizar para
fixar o sentido da lei são dois: o elemento literal (também denominado
elemento gramatical) e o elemento lógico.
Ambos os elementos completam-se, constituindo momentos sucessivos
e complementares da interpretação da lei, sendo inseparáveis na
função interpretativa e devendo utilizar-se harmonicamente, e não
isoladamente.
a) Elemento literal ou gramatical
É constituído pelo texto (ou letra) da lei, sendo este o ponto de
partida da interpretação;
Desempenha duas funções:
Uma negativa (de exclusão) – exclui qualquer
interpretação que não tenha o mínimo de correspondência
no texto da lei;
Outra positiva (de seleção) – se o texto da lei admite mais
do que um entendimento, deve optar-se pelo sentido que
mais próximo fique do significado mais natural e direto das
expressões usadas, optando, destarte, pela interpretação
mais natural em prejuízo das interpretações mais forçadas.
Na procura desse “sentido mais natural”, o intérprete
deverá ter em conta, em primeira linha, o sentido técnico-
jurídico das palavras usadas6; seguidamente, privilegiará a
6
E isto porque o n.º 3 do artigo 9.º do CCivil dispõe que o intérprete deve presumir que o legislador
“soube exprimir o seu pensamento em termos adequados”. Tal presunção, todavia, não impede que se
conclua que o legislador, afinal, não conseguiu esse intento, não conseguiu utilizar as palavras que usa
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7
Por exemplo, o Código Civil Português de 1867, o Código Civil Alemão (Bundesgesetzbuch) de 1900 e o
Código Civil Italiano de 1942 são precedentes normativos do atual Código Civil Português, de 1966,
tendo influenciado muitas soluções neste consignadas.
8
A teleologia (do grego τέλος, finalidade, e -logía, estudo) é o estudo filosófico dos fins, isto é, do
propósito, do objetivo, da finalidade das coisas.
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9
Respetivamente nas expressões “a unidade do sistema jurídico”, “as circunstâncias em que a lei foi
elaborada” e “as condições específicas do tempo em que a lei é aplicada”.
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6. Resultados da interpretação
Interpretação declarativa –
obtém-se uma interpretação declarativa quando se conclui que
a interpretação final faz coincidir a letra da lei com o “espírito”
da mesma, ou seja, da interpretação resulta que o legislador
não disse nada a mais nem nada a menos do que pretendia.
Interpretação extensiva
obtém-se uma interpretação extensiva quando se conclui que
da interpretação final resulta que o espírito da lei é mais vasto
que a letra da lei, ou seja, que o legislador disse menos do que
aquilo que queria. Por isso, o sentido literal vai ser “estendido”
até coincidir com o espírito da lei
vários argumentos podem ser utilizados para a interpretação
extensiva
a identidade de razão – onde a razão da decisão seja a
mesma, a mesma deve ser a solução
a maioria de razão – onde a razão da decisão for ainda
mais forte do que no caso previsto na lei, aí também
deve ser a mesma a decisão
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7. Interpretação enunciativa
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Nem todos os Autores admitem, na situação desta norma, a interpretação extensiva acima defendida.
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exemplo, se a lei não permite passear na rua com cães perigosos, então
é também proibido passear animais ainda mais perigosos, como um
tigre ou um leão.
1. As lacunas
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Ou seja, numa situação valorada pela ordem jurídica e já não vivências que apenas tenham a ver com
outras ordens normativas, sejam elas a religião, o trato social ou a Moral.
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Do latim "non liquere", não líquido, não claro. Non liquet é uma expressão proveniente do Direito
Romano utilizada nos casos em que o juiz não encontrava resposta no sistema jurídico para resolver a
questão e, por isso, deixava de julgar. A denegação de justiça é não só proibida como punida na Ordem
Jurídica portuguesa com responsabilidade criminal (369.º CP) e civil (1083.º e 1093.º CPCivil, 5.º n.º 2 e 3
do Estatuto dos Magistrados Judiciais e 14.º do Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do
Estado e demais Entidades Públicas, aprovado pela Lei 67/2007)
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Há limites à analogia
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A analogia distingue-se, assim, da interpretação extensiva porque nesta a interpretação está ainda
dentro dos limites do espírito da lei enquanto naquela ultrapassa a fronteira desse próprio espírito.
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