Você está na página 1de 5

Origens

Joaquim Calado (1848-1880), um dos criadores do gênero.

Chiquinha Gonzaga (1847-1935).

Ernesto Nazareth (1863-1934).

Pixinguinha (1897-1973): considerado um dos maiores compositores de choro.

Viriato Figueira (1851-1883), da turma do Callado.

Patápio Silva (1880-1907) participou das primeiras gravações fonográficas do


gênero.
Tido como a primeira música popular urbana típica do Brasil, a história está ligada
com a chegada, em 1808, da Família Real portuguesa ao Brasil. Promulgada capital do
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, o Rio de Janeiro passou, então,
por uma reforma urbana e cultural, quando foram criados cargos públicos. Com a
corte portuguesa vieram instrumentos de origem européia como o piano, clarinete,
violão, flauta, bandolim e cavaquinho, bem como seus instrumentistas.Com esses
viajantes, chegou ao Brasil a música de dança de salão européia, como a valsa, a
quadrilha, a mazurca, a modinha, a schottish e principalmente a polca, que viraram
moda nos bailes daquela época.

A reforma urbana, os instrumentos e as músicas estrangeiras, juntamente com a


abolição do tráfico de escravos no Brasil em 1850, foram condições históricas para
o surgimento do choro, já que possibilitou a emergência de novos ofícios para as
camadas populares.[6] Nesse contexto, tendo como origens estilísticas o lundu,
ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros europeus, nasceu o
choro no Rio de Janeiro, por volta de 1870.[1] Esses grupos de instrumentistas
populares, a quem se daria mais tarde o nome de chorões, eram oriundos de segmentos
da classe média baixa da sociedade carioca, sendo em sua grande maioria modestos
funcionários de repartições públicas - como da Alfândega, dos Correios e Telégrafos
e da Estrada de Ferro Central do Brasil - cujo trabalho lhes permitiam uma boemia
regular, e geralmente moradores da Cidade Nova.[7] Sem muito compromisso e sem
precisar tocar por dinheiro, essas pessoas passaram a formar conjuntos para tocar
de "ouvido" essas músicas, que juntamente com alguns ritmos africanos já enraizados
na cultura brasileira, como o batuque e o lundu, passaram a ser tocadas de maneira
abrasileirada pelos músicos que foram então batizados de chorões. Inicialmente,
eles se reuniam aos domingos nos chamados pagodes no fundo dos quintais dos
subúrbios cariocas ou nas residências da Cidade Nova.[2] Com isso, se tornaram os
principais canais de divulgação do estilo para o povo.[8] Um dos preceitos desses
pagodes ou tocatas domingueiras era uma mesa farta em alimentos e bebidas.[7]

As formações pioneiras adotavam como terno de instrumentos a flauta, o violão e o


cavaquinho. A flauta como "solista", o violão na "baixaria" e o cavaquinho como
"centro".[2] Aos poucos, os chorões passaram a se apresentar constantemente em
saraus da elite imperial, executando os gêneros europeus mais em voga imprimindo
uma genuína cultura afro-carioca, sempre com improvisações e desafios entre os
instrumentistas solistas e de acompanhamento, que foram consolidando o estilo.[3]

Atraente
MENU0:00
Choro "Atraente", de Chiquinha Gonzaga, gravação com Pixinguinha no saxofone e
Benedito Lacerda na flauta
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Cruzes, minha prima!


MENU0:00
Polca "Cruzes, minha prima!", composta por Joaquim Callado. Gravação de 1913 por
Agenor Bens (flauta) e Arthur Camilo (Piano)
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Corta-Jaca
MENU0:00
"Corta-Jaca", de Chiquinha Gonzaga, gravada entre 1910-1912 pelo Grupo Chiquinha
Gonzaga.
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.
As mais antigas referências a esses grupos de músicos mencionam o flautista Calado
como o iniciador e organizador desses primeiros conjuntos. Como era professor da
cadeira de flauta do Conservatório Imperial, Calado teve grande conhecimento
musical e reuniu em torno de si os melhores músicos da época, que tocavam por
simples prazer e descompromisso de fazer música. O conjunto instrumental "O Choro
de Calado" costumava se reunir sem ideia prévia quanto a composição instrumental ou
quanto ao número de figurantes de cada grupo.[2] Foi também ele o pioneiro em
grafar a palavra choro no local destinado ao gênero em uma de suas partituras - a
da polca "Flor Amorosa" -, até então, os compositores se limitavam a indicar, como
gênero, os ritmos tradicionais. A polca "Flor Amorosa", composta por Calado em
1867[nota 1] é considerada a primeira composição do gênero. Desse conjunto fez
parte Viriato Figueira, seu aluno e amigo e também sua amiga, a maestrina Chiquinha
Gonzaga, uma pioneira como a primeira chorona, compositora e pianista do gênero.

Em 1877, Chiquinha Gonzaga compôs "Atraente", e em 1897, "Gaúcho" ou "Corta-Jaca",


grandes contribuições ao repertório do gênero, entre outras composições, como "Lua
Branca". O choro era considerado apenas uma maneira mais sincopada (pela influência
do lundu e do batuque) de se interpretar aquelas músicas, portanto recebeu fortes
influências, porém aos poucos a música gerada sob o improviso dos chorões foi
perdendo as características dos seus países de origem e os conjuntos de choro
proliferaram na cidade, estendendo-se ao Brasil.

Século XX

Zequinha de Abreu .

O flautista Agenor Bens (circa 1870-1950) participou de diversas das primeiras


gravações fonográficas do choro, na primeira década do século XX.

O Urubu e o Gavião
MENU0:00
Gravação de 1930 com Pixinguinha na flauta.
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Harmonia Selvagem
MENU0:00
Gravação de 1938 com Dante Santoro na flauta (Composição de Dante Santoro).
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Amapá
MENU0:00
Gravação de 1941 por Dante Santoro na flauta (Composição de Costa Júnior, 1901).
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Aguenta, Seu Fulgêncio


MENU0:00
Choro "Aguenta, Seu Fulgêncio", de Lourenço Lamartine, gravação de 1929 com
Pixinguinha na flauta.
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.
Sofres porque queres
MENU0:00
Gravação de 1919 com Pixinguinha na flauta (composição de Pixinguinha).
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Magoado
MENU0:00
Composição João Pernambuco, gravação em 1930.
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Intrigas no Boteco do Padilha


MENU0:00
Choro "Intrigas no Boteco do Padilha", composto e gravado (em 1940) por Luis
Americano (clarinete).
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Mariana em Sarrilho
MENU0:00
Choro "Mariana em Sarrilho", composto por Irineu de Almeida. Gravação de 1907 pelo
Grupo do Novo Cordão (Clarinete, cavaquinho e violâo, mas membros desconhecidos).
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.

Sultana
MENU0:00
Polca-choro "Sultana", de Chiquinha Gonzaga, gravada em 1908 pelo Grupo Chiquinha
Gonzaga
Problemas para escutar este arquivo? Veja a ajuda.
A partir dos primeiros anos da República, há menção de outros conjuntos de chorões
incorporando outros instrumentos de cordas, bem como a utilização de instrumentos
de banda com a função de solistas ou concertante dentro dos grupos. Eram os casos
do bandolim, da bandola, da bandurra, do bombardino, do bombardão, da clarineta, do
flautim, do oficlide, do pistom, do saxofone e do trombone. Era a participação
ocasional ou improvisada desses instrumentos que determinava a função de cada um no
conjunto musical, que era determinada de acordo com a capacidade do executante,
tanto se incumbindo do solo como do contracanto ou mesmo as duas coisas
alternadamente.[2] Constituídos de polcas, xotes, tangos e valsas, o repertório era
assinado por autores brasileiros, em sua maioria, os próprios conjuntos. Essas
primeiras composições de choro com características próprias foram compostas por
Joaquim Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazareth, dentre
outros.

Durante as primeiras décadas do século XX, as havaneiras, as polcas, os tangos, os


xotes eram já designadas simplesmente como choros, termo que passou não apenas a
denominar um gênero musical genuinamente popular e brasileiro, como também rotular
a produção dos músicos chorões. Os conjuntos de choro foram muito requisitados nas
gravações fonográficas que, no Brasil, tiveram início em 1902. O compositor
Anacleto de Medeiros, regente da banca do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, foi
um dos primeiros ao participar das primeiras gravações do gênero. Misturou a xote e
a polca com as sonoridades brasileiras. Como grande orquestrador, adaptou a
linguagem das rodas de choro para as bandas.

O virtuoso da flauta Patápio Silva, considerado o sucessor de Joaquim Calado, ficou


famoso por ser o primeiro flautista a fazer um registro fonográfico. Autor de "Sons
de Carrilhões", o violonista João Pernambuco trouxe do sertão sua forma típica de
canção e enriqueceu o gênero com elementos regionais, colaborando para que o violão
deixasse de ser um mero acompanhante na música popular. Músico de trajetória
erudita e ligado à escola européia de interpretação, Ernesto Nazareth compôs
"Brejeiro" (1893), "Odeon" (1910) e "Apanhei-te Cavaquinho" (1914), que romperam a
fronteira entre a música popular e a música erudita, sendo vitais para a formação
da linguagem do gênero.

Um dos maiores compositores da música popular brasileira, Pixinguinha contribuiu


diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva. Também
tenor, arranjador, saxofonista e flautista, ele formou em 1919 o conjunto Oito
Batutas, formado por Pixinguinha na flauta, João Pernambuco e Donga no violão,
dentre outros músicos. Fez sucesso entre a elite carioca, tocando maxixes e outros
choros. Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são
considerados dois dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas
composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz.
Outras composições de Pixinguinha, entre centenas, são "Rosa", "Vou vivendo",
"Lamentos", "1 a 0", "Naquele tempo" e "Sofres porque Queres".

Na década de 1920, o maestro Heitor Villa-Lobos compôs uma série de 16 composições


dedicadas ao Choro, mostrando a riqueza musical do gênero e fazendo-o presente na
música erudita. A série é composta de 14 choros para diversas formações, um Choro
Bis e uma Introdução aos Choros. Se a série tem o título "Choros", individualmente
o nome de cada composição vem sempre no singular. O Choro nº 1 foi composto para
violão solo.

Existem também choros para conjuntos de câmara e orquestra. A peça Choro nº 13, de
Heitor Villa-Lobos, foi composta para duas orquestras e banda. Já o Choro nº 14 é
para orquestra, coro e banda. Uma das composição mais conhecida e executada dentre
os choros orquestrais de Villa-Lobos é o Choro nº 10, para coro e orquestra, que
inclui o tema "Rasga o Coração" de Catulo da Paixão Cearense. Devido à grande
complexidade e à abrangência dos temas regionais utilizados pelo compositor, a
série é considerada por muitos como uma das suas obras mais significativas.[carece
de fontes]

Também a partir da década de 1920, impulsionado pelas gravadoras de discos e pelo


advento do rádio, o choro fez sucesso nacional com o surgimento de músicos como
Luperce Miranda e do pianista Zequinha de Abreu, autor de Tico-Tico no Fubá, além
de grupos instrumentais que, por dedicar-se à música regional, foram chamados de
regionais, como o Regional de Benedito Lacerda, que tiveram como integrantes
Pixinguinha e Altamiro Carrilho, e Regional do Canhoto, que tiveram como
integrantes Altamiro e Carlos Poyares.

Ocorreu uma revitalização do gênero na década de 1970. Em 1973, uniram-se o


Conjunto Época de Ouro e Paulinho da Viola no show Sarau. Foram criados os Clubes
do Choro em Brasília, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo,
dentre outras cidades. Surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como Galo Preto
e Os Carioquinhas. O novo público e o novo interesse pelo gênero propiciou também a
redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira,
além de revelar novos talentos, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian e
o violonista Rafael Rabello.

Festivais do gênero ocorreram no ano de 1977. A TV Bandeirantes de São Paulo


promoveu duas edições do Festival Nacional do Choro e a Secretaria de Cultura do
Rio de Janeiro promoveu o Concurso de Conjuntos de Choro.

Em 1979 com o LP "Clássicos em Choro", o flautista Altamiro Carrilho fez sucesso


tocando músicas eruditas em ritmo de choro. Também naquele ano, por ocasião do
evento intitulado "Tributo a Jacob do Bandolim", em homenagem aos dez anos do
falecimento do bandolinista, é criado o grupo Camerata Carioca, formado por Radamés
Gnatalli, Joel Nascimento e Raphael Rabello, dentre outros músicos.

A década de 1980 foi marcada por inúmeras oficinas e seminários de choro.


Importantes instrumentistas se reuniram para discutir e ensinar o gênero às novas
gerações. Em 1986, realizou-se o primeiro Seminário Brasileiro de Música
Instrumental, em Ouro Preto, uma proposta ampla que ocasionou uma redescoberta do
choro.

A partir de 1995 o gênero foi reforçado por grupos que se dedicaram à sua
divulgação e modernização e pelo lançamento de CDs.

Você também pode gostar