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ÁREA TEMÁTICA: GESTÃO DE PESSOAS E DO CAPITAL INTELECTUAL
Recebido em 08 de fevereiro de 2008 / Aprovado em 20 de outubro de 2008
Editores Responsáveis: Roberto Coda, Dr. e Evandir Megliorini, Dr.
Processo de Avaliação: Double Blind Review
RESUMO alcançados agregam valor ao contexto da admi-
A pesquisa realizada abordou aspectos críticos ao nistração por abordarem um recurso extremamen-
processo de gestão do conhecimento a partir da te importante às organizações o conhecimento
análise de conhecimentos, habilidades e atitudes e por corroborarem com o seu processo de ges-
requeridas aos indivíduos trabalhadores do conhe- tão. A pesquisa identificou aspectos críticos
cimento e às organizações responsáveis pela gestão abrangentes e compatíveis com os atuais desafios
do processo. No presente trabalho, desenvolveu- das organizações, direcionando a gestão do pro-
se uma caracterização do processo de gestão do cesso a temas importantes como: o colaborador
conhecimento e conceituaram-se os trabalhado- capaz de criar; a organização capaz de converter
res da informação e do conhecimento. O concei- conhecimento individual em conhecimento
to de competência foi discutido e especialistas no organizacional; o compartilhamento do conheci-
assunto emitiram pareceres sobre competências mento enquanto ainda tácito; a maximização do
críticas ao processo de gestão do conhecimento. uso do conhecimento organizacional; a geração e
Os pareceres foram organizados e analisados por preservação de informações e conhecimentos de
intermédio do método Delphi. Os resultados qualidade entre outros importantes tópicos a
1. Doutor em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo EAESP/FGV e Pós-
doutorado em Administração pela Universidade de São Paulo, Escola de Economia, Administração e Contabilidade FEA/USP.
Professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Programa de Pós-graduação, Mestrado em Administração USCS/
PPGA. [de.sordi@terra.com.br]
Endereço do autor: Rua Santo Antônio, 50 São Caetano do Sul SP Cep. 09521-160 Brasil
2. Mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo EAESP/FGV.
Professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Centro de Economia e Administração PUC/Camp CEA.
[marciacarvalhoazevedo@gmail.com]
Endereço da autora: Rod. Dom Pedro I, Km 136 Campinas SP Cep. 13086-265 Brasil
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serem observados por trabalhadores do conheci- a partir del análisis de, conocimientos, idoneidad
mento e por administradores responsáveis pelo y actitudes requeridas en los trabajadores del
processo de gestão do conhecimento. conocimiento y en las organizaciones encargadas
de la gestión del proceso. En el presente trabajo
Palavras-chave : Competência. Gestão do conhe- se desarrolló una caracterización de proceso de
cimento. Trabalhador do conhecimento. Compe- gestión del conocimiento y se calificaron los
tência individual e competência organizacional. trabajadores de información y del conocimiento.
Se analizó el concepto de la competencia y los
ABSTRACT especialistas dieron su parecer sobre las competencias
The research analyzed critical aspects of the críticas para el proceso de gestión del conocimiento.
knowledge management process, based on the Las opiniones se organizaron y analizaron mediante
analyses of knowledge, abilities and attitudes el método Delphi. Los resultados obtenidos
required to individual knowledge workers and to agregan valor al contexto de la gestión porque
organizations responsible for the management tratan sobre un recurso muy importante para las
process. In the present work a characterization of organizaciones el conocimiento y porque lo
the knowledge management process was corroboran con su proceso de gestión. La
developed and information and knowledge investigación identificó aspectos críticos amplios
workers were defined. Competence concept was y compatibles con los actuales desafíos de las
discussed and specialists gave opinions about organizaciones, orientando la gestión del proceso
critical competences to knowledge management hacia temas importantes como: el colaborador
process. The opinions were organized and analyzed capaz de crear, la organización capaz de convertir
by the Delphi method. The results aggregate value el conocimiento individual en conocimiento
to the management context by discussing an organizacional, el conocimiento compartido
extremely important resource to organizations cuando todavía es tácito, la maximización del uso
knowledge and because they support its del conocimiento organizacional, la generación y
management process. The research identified wide preservación de informaciones y conocimientos
critical aspects that are compatible with current de calidad, entre otros importantes temas que
organizational challenges, directing the process deben observar los trabajadores del conocimiento
management to important themes as: the worker y los administradores encargados del proceso de
able to create, the organization able to convert gestión del conocimiento.
individual knowledge into organizational
knowledge, knowledge sharing while still tacit, Palabras clave: Competencia. Gestión del
the maximization of organizational knowledge conocimiento. Trabajador del conocimiento.
use, information and knowledge generation and Competencia individual y competencia
preservation, among others important topics to organizacional.
be observed by knowledge workers and by
administrators responsible for the knowledge
management process. 1 INTRODUÇÃO
Competence. Knowledge management.
Key-words: Os trabalhos relacionados ao conhecimen-
Knowledge worker. Individual and organizational to estão gradativamente substituindo os trabalhos
competence. tipicamente de produção. A produtividade decor-
rente do conhecimento e, conseqüentemente,
dos trabalhadores do conhecimento configura-
RESUMEN se como um importante fator competitivo da
La investigación realizada analizó los aspectos economia mundial (RUSSETTE et al., 2007). O
críticos del proceso de la gestión del conocimiento, cruzamento entre dados censitários atuais e pre-
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Análise de Competências Individuais e Organizacionais Associadas à Prática de Gestão do Conhecimento
visões aponta para uma carência crescente desse organizacionais relevantes a esse processo. Na parte
tipo de trabalhador, também, nos países desen- final, apresentam-se as conclusões com base no
volvidos. As organizações continuarão a realizar presente trabalho.
muitos esforços no desenvolvimento de compe-
tências requeridas a esses profissionais. Há neces-
sidade de investimentos contínuos em projetos 2 O PROCESSO DE GESTÃO DO CONHE-
de treinamento dos níveis gerenciais com o obje- CIMENTO
tivo de desenvolver competências comporta-
mentais que gerem impacto no desempenho da O processo de gestão do conhecimento das
mão-de-obra diretamente envolvida com o conhe- organizações tem sido intensamente discutido e
cimento (CLARK, 2003). reestruturado desde meados da década de noven-
A descoberta, o tratamento do novo, bem ta. Isso ocorre em função da percepção crescente
como da exceção, caracterizam as principais ati- tanto das organizações quanto do ambiente aca-
vidades desempenhadas pelos atuais trabalhado- dêmico, da importância estratégica dos recursos
res da era do conhecimento (ZARIFIAN, 2001). informação e conhecimento para promoção da
O processo de inovação e geração de novos conhe- inovação e do aumento de competitividade das
cimentos organizacionais está fortemente associa- organizações. O processo de gestão do conheci-
do à eficácia do processo empresarial de gestão mento passou a ser entendido além das fronteiras
do conhecimento. Considerando a necessidade estreitas da área de tecnologia em processamento
das organizações para gerar novos conhecimen- de dados das décadas de 60 e 70, bem como tam-
tos e a dependência do estabelecimento de um bém transpôs os conceitos de sistemas de infor-
eficaz processo de gestão do mesmo, abrangendo mação das décadas de 80 e 90; do século XX, pois
indivíduos competentes na execução de suas ati- seu escopo vai muito além das três atividades ele-
vidades, definiu-se o seguinte problema de pes- mentares de coleta, armazenamento e distribui-
quisa: Quais competências a organização e seus ção de dados e informações. Entre as atividades
indivíduos devem possuir para eficácia do pro- que diferenciam o atual processo de gestão do
cesso de gestão do conhecimento?. Do proble- conhecimento, das proposições tecnológicas das
ma de pesquisa, derivou-se o objetivo: desenvolver décadas passadas, destacam-se, principalmente, a
uma matriz de associação entre as atividades do introdução das atividades de aprendizagem dos
processo de gestão do conhecimento e as compe- colaboradores e a contribuição destes com a par-
tências importantes aos indivíduos e as organiza- tilha de novos conhecimentos de interesse da
ções nesse processo. organização.
Este artigo apresenta nos três próximos A entidade organização é incapaz de apren-
tópicos definições importantes para o entendi- der sozinha. Para essa atividade, ela depende de
mento comum, respectivamente: a) atividades do seus funcionários e colaboradores; é o indivíduo
processo de gestão do conhecimento; b) traba- ser humano que é dotado de tal capacidade.
lhador do conhecimento e c) decomposição do Assim, a metáfora organizações que aprendem
conceito de competência. Em seguida, é feita a ou learning organizations referenciam organiza-
descrição do método Delphi, empregado na pes- ções que desenvolvem, intencionalmente, práti-
quisa, que permitiu a interação anônima de especia- cas que auxiliam no processo de aprendizado das
listas no tema, trocando informações repetitiva- pessoas de seu interesse. Práticas pesquisadas e
mente até se chegar a resultados considerados utilizadas na área de educação estão sendo conside-
satisfatórios pelo próprio grupo. radas e praticadas no ambiente das organizações
No sexto tópico, os resultados são apresen- objetivando aumentar sua capacidade competitiva.
tados, desenvolvendo-se uma análise das competên- No escopo do processo da gestão do conhecimento,
cias críticas ao processo de gestão do conhecimento há a atividade aprender/criar que abrange funda-
e se identificando as competências individuais e mentos e técnicas da ciência pedagógica.
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LGHQWLILFDU REWHU
PDSHDU DGTXLULU
GLVWULEXLU
GHVFDUWDU SDUWLOKDU
GHVSRMDU FRQVWUXLU H
&21+(&,0(172 VXVWHQWDU
FRQWULEXLU
XWLOL]DU
FRPSDUWLOKDU DSOLFDU
DSUHQGHU
FULDU
Figura 1 Atividades realizadas no processo de gestão do conhecimento organizacional.
Fonte: Adaptado de Bukowitz e Williams (1999).
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imitação. Ao contrário, de muitos recur- lares. Porém, adquirir conhecimento por
sos tradicionais, o conhecimento não pode intermédio de experiência consome tem-
ser facilmente adquirido no mercado de po, sendo este, limitado pela capacidade
forma pronta para o uso. Para adquirir das empresas concorrentes em acelerar suas
conhecimento similar, os competidores curvas de aprendizagem, o que demanda
terão que desenvolver experiências simi- grandes investimentos.
Identificar / Mapear Conhecimentos Esta primeira atividade deve identificar e analisar o ambiente
de conhecimento da organização, tanto o existente quanto o desejado. Por ambiente de conheci-
mento, entende-se: habilidades, informações, além de dados internos e externos (PROBST; RAUB;
ROMBARDT, 2000). O desenvolvimento de mapas do conhecimento disponíveis na organização
é uma forma de tornar o conhecimento mais compreensível e familiar às pessoas da organização, ou
seja, uma forma de aumentar a probabilidade de acesso às pessoas da organização, considerando-se
que as pessoas tendem a procurar peças compreensíveis de informação nos cantos do universo com que
estamos familiarizados ou à vontade (DAVENPORT; MARCHAND, 2000, p.168). A definição
dos conhecimentos relevantes a serem apontados nos mapas informacionais envolve a análise
crítica dos conhecimentos já disponíveis na organização e sua comparação com os identificados
como necessários pela estratégia competitiva da organização.
Obter / Adquirir Conhecimentos Consiste no conjunto de ações ininterruptas de exploração do
ambiente de conhecimento da empresa, envolvendo atividades humanas e automatizadas. O principal
cuidado nesta atividade está relacionado à classificação, formatação, estruturação e contextualização
do novo conhecimento identificado (DAVENPORT, 1997). Esses aspectos podem afetar diretamente
a forma com que futuros leitores irão julgá-lo e manuseá-lo. Nessa atividade evidencia-se a demanda
por profissionais especializados no processo de gestão do conhecimento, os quais irão executar um
conjunto de atividades tradicionalmente não realizadas e que normalmente são geridas por bibliote-
cários, profissionais da área de informática ou da área de comunicação corporativa. Nesta atividade
devem ser discutidos o estilo de redação a ser adotado para uma determinada unidade de conheci-
mento, seu idioma, a mídia a ser utilizada, o nível de detalhamento, os índices a serem disponibilizados
para busca, entre outros aspectos que diferenciam a posse ou não do conhecimento pela organização.
Distribuir / Partilhar Conhecimento O ponto principal nessa atividade é a definição da forma de
disponibilização do conhecimento ao usuário: se ele será entregue, isto é, empurrado para seus
usuários, ou se ele será simplesmente comunicado, aguardando que os leitores venham analisar e
puxar o conhecimento que eles julguem pertinente. O modelo de gestão do conhecimento de Bukowitz
e Williams (1999) recomenda uma abordagem mista: não se empurra as unidades de conhecimento
geradas, mas apenas os mapas informacionais que as descrevem. Esses mapas irão alertar as pessoas
da organização sobre novas fontes de conhecimento, deixando a critério delas puxar ou não o con-
teúdo dos novos conhecimentos.
Utilizar / Aplicar Conhecimento Esta atividade contempla o estímulo à experimentação e à
receptividade com relação aos novos conhecimentos, trabalhando intensamente o comportamento
de uso da informação. Entre as práticas para tal estão: declarações e atitudes do alto escalão da
empresa, vínculo do uso do conhecimento corporativo ao processo de avaliação de desempenho de
seus profissionais, recompensando o uso esperado e punindo o não uso. Embora seja difícil mensurar
o uso da informação, é relativamente fácil mensurar, pelo menos, o acesso intencional à informação
(DAVENPORT, 1997).
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Aprender / Criar Conhecimento Esta atividade contempla o estímulo à criatividade para geração
de novos conhecimentos. Embora o processo de criatividade seja muito pessoal e individualizado,
diversos pesquisadores já mostraram ser possível criar processos de ensino para desenvolver pessoas
mais criativas, que aprendem de fato e tornam-se mais criativas (MARAKAS; ELAM, 1997). Gupta,
Bhatt e Kitchens (2005), por exemplo, acreditam que as organizações possam gerar novas reali-
dades e conhecimentos a partir do momento que seus indivíduos questionem as rígidas premissas,
hipóteses e pensamentos organizacionais. A criação do conhecimento é responsável por alavancar
o valor potencial de uma boa solução ou transformar uma solução fracassada em uma nova idéia
com outras implicações. Para que isso ocorra, a empresa deve dar visibilidade à importância estra-
tégica do processo de gestão do conhecimento, tornando-o familiar a toda organização. A fami-
liaridade é alcançada, por exemplo, através de ações que incluam mecanismos de reflexão no hábito
do trabalho, do cultivo da arte do aprender fazendo e do aprendizado com erros, fracassos e
discordâncias.
Contribuir / Compartilhar Novos Conhecimentos O objetivo desta atividade é criar consciência
da importância em transferir conhecimentos aprendidos por indivíduos e equipes ao restante da
organização. A geração de um novo conhecimento, internalizado em um dos indivíduos ou equipes
da organização, não implica num acréscimo do capital intelectual da empresa. Para que isso ocorra,
é fundamental que a fonte geradora do novo conhecimento se disponha a compartilhá-lo. Trata-se
de algo bastante diferente do hábito existente na maioria das organizações, onde as pessoas infor-
mam por meio de relatórios. Na contribuição de novos conhecimentos, o compartilhamento é
caracterizado por uma ação voluntária e não imposta como ocorre no ato de relatar. A contribuição
consome tempo do seu detentor, e o seu valor nem sempre é claro, fazendo com que as contribui-
ções tenham pouca prioridade. A responsabilidade da organização é criar uma cultura de contribui-
ção e apoiar o processo de contribuição por meio de estruturas e funções, que motivem os funcioná-
rios, estabeleçam um clima de confiança e facilitem as atividades de contribuição (BUKOWITZ;
WILLIAMS, 1999).
Construir e Sustentar Relacionamentos Esta etapa envolve as atividades necessárias ao desenvolvi-
mento e apoio da infra-estrutura e das pessoas necessárias ao aumento e renovação dos conhecimentos
indispensáveis à estratégia da organização. Para isso, a empresa deve construir e sustentar relacio-
namentos com suas principais fontes de conhecimento: funcionários, fornecedores, clientes, com-
petidores e comunidades nas quais operam. Como algumas fontes podem ser específicas somente
para algumas atividades do processo de gestão do conhecimento, está destacada na Figura 1 a ativi-
dade construir e sustentar relacionamentos fora do ciclo operacional do processo, evidenciando-a
como uma atividade estratégica que objetiva colaborar com as demais.
Descartar / Despojar Conhecimento Assim como as pessoas, as organizações têm dificuldade em
desprender-se de seus ativos e tendem a agarrar-se ao conhecimento, às atividades e aos recursos
atrelados. O descarte pode ser feito por meio da conversão dos investimentos em conhecimentos de
pouco retorno, para outras fontes de maior valor. Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio da
venda ou descarte de uma unidade de negócio ou da venda ou doação de uma patente. A forma mais
simples de descarte é a não absorção de conhecimentos desnecessários, o que requer bom
discernimento sobre as necessidades informacionais da empresa. Essas necessidades remetem de
volta à primeira atividade do processo de gestão do conhecimento identificar/mapear conheci-
mentos - fechando assim o ciclo e estabelecendo a recorrência entre as atividades.
Quadro 1 Descrição das atividades do processo de gestão do conhecimento.
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trabalho ou cargo, idéia esta contestada e descar- A capacidade da organização em definir
tada pela administração contemporânea que uma estratégia e direcionar seus recursos ao seu
entende competência de forma mais ampla: como alcance é compreendida também como compe-
um conjunto de realizações associadas ao que as tência, neste caso, competência organizacional
pessoas provêm, desenvolvem e entregam em ter- (LEITE; PORSEE, 2005). Assim como ocorre
mos de valor agregado à organização, a elas pró- com as competências individuais, há, também,
prias e ao meio onde estão inseridas (LE BOTERF, muitas pesquisas direcionadas às competências
2003; ZARIFIAN, 2001). organizacionais: Fleury e Fleury (2000); King,
Para Zarifian (2001), os trabalhadores estão Fowler e Zethaml (2002); Javidan (1998); Prahalad
cada vez mais se confrontando com o inesperado, e Hamel (1990); Ruas (2005); entre outros.
com o inusitado no dia-a-dia de trabalho; o impon- Nesta pesquisa, analisou-se competência
derável, a exceção é parte integral do trabalho na perante o contexto de duas instâncias fortemente
era do conhecimento. Posto isso, torna-se impossí- envolvidas com o processo de gestão do conheci-
vel determinar com precisão o conjunto de tarefas mento no contexto empresarial: a) a competên-
e atividades que o trabalhador terá que executar. cia individual, associada aos indivíduos traba-
Desse modo, não tem sentido vincular compe- lhadores do conhecimento; b) a competência
tência ao cargo, mas à pessoa que terá que com- organizacional, associada ao grupo responsável
preender demandas do contexto sobre ela e saber pela administração do processo de gestão do
mobilizar seu repertório para atender a essas conhecimento e por aqueles que definem a estra-
demandas de forma adequada (DUTRA, 2004). tégia corporativa que influencia no direciona-
Segundo Fleury e Fleury (2000) a compe- mento do processo. As competências requeridas
tência do indivíduo é o saber agir responsável e a estas duas instâncias são denominadas ao longo
reconhecido que implica: mobilizar, integrar, do texto, respectivamente, de competência indi-
transferir conhecimentos, recursos, habilidades, vidual e competência organizacional associadas à
que agreguem valor econômico à organização e prática de gestão do conhecimento.
valor social ao indivíduo. Considera-se ainda que
os elementos constituintes da competência são:
a) o saber, referente aos conhecimentos formais 5 METODOLOGIA
do indivíduo; b) o saber-fazer, que se refere as
suas habilidades e destrezas e c) o saber-ser ou A metodologia empregada envolveu duas
saber-agir, relacionado a suas atitudes e compor- técnicas: pesquisa bibliográfica e o método Delphi.
tamentos (RUAS, 2001). A importância do apren- Utilizou-se da pesquisa bibliográfica em artigos
der e inovar para as organizações contemporâ- acadêmicos, tanto nacionais quanto internacionais,
neas é tão significativo que Le Boterf (2003) para identificar a percepção acadêmica sobre com-
sugeriu um quarto elemento constituinte de com- petências necessárias para as atividades envolvi-
petência: o saber-aprender, que consiste em das no processo de gestão do conhecimento. Para
saber tirar lições de experiências. Nesta pesquisa, a pesquisa de artigos de interesse, trabalhou-se,
utilizou-se o conceito de competência, constituí- inicialmente, com dois grupos de palavras-chave:
do por: conhecimentos, habilidades e atitudes o primeiro composto pelas palavras: competência,
(FLEURY; FLEURY, 2000; RUAS, 2001). O conhecimento, habilidade e atitude; o segundo
saber-aprender embora não declarado explici- composto pelas palavras: gestão do conhecimen-
tamente como um elemento constituinte de com- to, empresas que aprendem e capital intelectual.
petência, foi abrangido e incorporado ao escopo Os critérios de pesquisa exigiam que houvesse pelo
da pesquisa por intermédio da análise dos conhe- menos uma palavra de cada um dos dois grupos
cimentos, habilidades e atitudes requeridas ao constando no resumo ou no título do artigo.
êxito da atividade aprender/criar do processo de A pesquisa foi feita na base de dados de artigos
gestão do conhecimento. acadêmicos do ProQuest (com os termos acima
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Análise de Competências Individuais e Organizacionais Associadas à Prática de Gestão do Conhecimento
traduzidos para o inglês) e, nas bases de dados das Da pesquisa à base de currículos, a partir
revistas brasileiras: RAUSP, RAE Eletrônica, dos critérios já apresentados, adicionando as limi-
REAd, e RAC. Foram identificados 79 artigos na tações de disponibilidade de agenda e interesse
primeira fase da pesquisa; na segunda fase ocor- desses profissionais em participarem da pesquisa,
reu a leitura dos resumos dos mesmos, identifi- resultou uma equipe de especialistas composta por
cando a pertinência ou não do artigo para a pes- oito pessoas. Tal quantidade é adequada à propos-
quisa, o que resultou em 44 artigos para terceira e ta do método Delphi, que não se propõe a fazer
última fase da pesquisa bibliográfica que envol- um levantamento estatisticamente representativo
veu a leitura e análise do conteúdo do artigo. da opinião de um determinado grupo amostrado;
De posse das informações provenientes pelo contrário, propõe um grupo restrito e seleto
da pesquisa bibliográfica, formulou-se a primeira de especialistas. Através da capacidade de raciocí-
versão da matriz de associação entre atividades nio lógico deste grupo, da sua experiência e da
do processo de gestão do conhecimento e com- troca objetiva de informações, procura-se obter
petências requeridas aos indivíduos envolvidos opiniões conjuntas sobre as questões propostas
diretamente na operação e gerenciamento deste (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000).
processo. As competências requeridas foram O grupo final de pareceristas que participou
decompostas em conhecimentos, habilidades e ati- efetivamente de três rodadas de discussão foi com-
tudes. Esta matriz foi o documento principal para posto por oito profissionais, sendo: quatro do meio
a primeira rodada de discussão entre pareceristas acadêmico, todos doutores e atuando junto a pro-
utilizando-se o método Delphi. gramas de mestrado e doutorado recomendados
O método Delphi é um exercício de comu- pela CAPES; quatro do ambiente de negócios,
nicação em grupo entre diversos especialistas em composto por gerentes, superintendentes e dire-
determinado assunto (ADLER; ZIGLIO, 1996). tores das áreas de recursos humanos ou pessoas.
Através dele, especialistas interagem no anonimato, As atividades da pesquisa realizaram-se em
trocando informações repetitivamente até se chegar 21 meses, no período decorrido entre fevereiro
a resultados considerados satisfatórios pelo próprio de 2006 a outubro de 2007.
grupo. O Delphi é mais apropriado quando o pro-
blema não é preciso o suficiente para ser estudado
através de técnicas analíticas, mas pode se bene- 6 RESULTADOS
ficiar de julgamentos subjetivos em uma base cole-
tiva. O consenso de opiniões dos diversos especia- 6.1 Análise das competências críticas ao processo
listas é almejado seguindo três condições básicas: o de gestão do conhecimento
anonimato dos especialistas respondentes, a repre-
sentação estatística da distribuição dos resultados, O Quadro 2 apresenta a matriz de associa-
e o feedback de respostas do grupo para reavaliação ção resultante da aplicação do método Delphi,
nas rodadas subseqüentes (MARTINO, 1993). ou seja, descreve informações que obtiveram con-
Para a escolha dos especialistas, primeiro senso do grupo de pareceristas. A matriz apresen-
identificaram-se as características do perfil técni- ta as demandas relativas aos conhecimentos, as
co desejado aos profissionais que iriam compor o habilidades e atitudes, identificadas pelos parece-
time. Como principais critérios de seleção defini- ristas como requeridas aos indivíduos (IND), e às
ram-se: a) ter produção acadêmica relacionada ao organizações (ORG) para eficácia do processo de
tema competências e gestão do conhecimento; ou gestão do conhecimento. A matriz apresenta tais
b) ter participado de projetos diretamente relaci- demandas seccionadas para cada uma das oito ativi-
onados aos dois temas citados no item anterior. A dades do processo de gestão do conhecimento.
primeira abordagem para identificação de nomes Nos parágrafos a seguir são analisadas algumas des-
se deu através da pesquisa de palavras-chave na tas demandas, com destaque àquelas identificadas
base de dados de currículos da plataforma Lattes. pelos pareceristas como: a) tradicionalmente não
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$WLYLGDGHV
- a estratégia atual da organização (ORG); - identificar conhecimentos já disponíveis - apresentar-se como provedor de
,GHQWLILFDU0DSHDU
- informações e conhecimentos necessários na organização, tanto explícitos quanto conhecimento tácito que julgue
para organização alcançar seus objetivos tácitos (IND e ORG); relevante à organização (IND);
estratégicos (ORG); - aplicar técnicas e metodologias para - colaborar ativamente para
- informações e conhecimentos já formulação de estratégias para os recursos identificação de informações e
disponíveis na organização, tanto tácitos informação e conhecimento (ORG). conhecimentos necessários para
quanto explícitos (IND e ORG); competitividade da organização (IND).
- informações e conhecimentos necessários,
porém não disponíveis (DREWHU) (ORG).
- a importância das dimensões de qualidade - redigir texto de qualidade; - buscar conhecer características do
da informação: abrangência/escopo; - desenhar figura/gráfico de qualidade público alvo objetivando obter (criar)
integridade; acurácia/veracidade; (IND); conteúdo segundo as preferências e
confidencialidade /privacidade; - fotografar com qualidade (IND); características informacionais do
disponibilidade; atualidade; - filmar com qualidade (IND); público-alvo (IND).
2EWHU$GTXLULU
- as três formas de divulgação para novos de divulgação (IND); para compartilhar o seu conhecimento
conteúdos, a serem escolhidos conforme o - dominar técnicas de indexação de com os outros (IND);
contexto do público-alvo e do conteúdo a conteúdo ou, pelo menos, de análise de - refletir para cada novo conteúdo a ser
ser comunicado: a) enviar na integra o indexações realizadas automaticamente por disponibilizado na base: seu público-
conteúdo a todo o seu público-alvo intermédio de softwares especialistas alvo e a melhor estratégia de
(“estratégia de empurrar”); b) apenas (IND); divulgação considerando o binômio
disponibilizar na base de conteúdo com - gerir versões históricas da evolução de conteúdo-público (IND);
texto de descrição e palavras-chaves conteúdo (ORG). - considerar os fatos históricos ao
(“estratégia de puxar”); c) enviar apenas o disponibilizar evoluções de conteúdo
“mapa” ou roteiro de novos conteúdos atendo-se à preservação do
disponíveis na base (“estratégia mista”) histórico/passado (gestão de versões
(IND). do conteúdo) (IND).
- a qualidade da pergunta de partida para - pesquisar bases de conteúdo compondo - apreciar a leitura e a pesquisa (IND);
pesquisa é tão importante quanto à operadores aritméticos e lógicos para - ter determinação para desempenhar
qualidade do conteúdo que se deseja formação de regras eficazes de pesquisa trabalho investigativo (IND);
encontrar (IND e ORG); (IND); - pensar antes de agir, por exemplo,
- quais usuários fazem uso inovador de - manusear diferentes equipamentos de para formular pergunta de pesquisa
informações e conhecimentos disponíveis comunicação (PC, terminal, notebook, mais apropriada e eficaz (IND);
no acervo de conteúdo da organização handheld/pocket PC, celular, monitores, - ter responsabilidade em fazer bom
(tanto tácito, quanto explícito) (ORG). impressoras, mouses, scanners, televisores, uso dos conteúdos disponibilizados
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Análise de Competências Individuais e Organizacionais Associadas à Prática de Gestão do Conhecimento
- o erro é parte integral do processo de - dominar e utilizar técnicas e ferramentas - ser persistente (para não desanimar
aprendizagem (IND e ORG); que favoreçam a criação: ferramentas de com os erros durante o processo de
- do ato falho ou do erro também é possível prototipagem, simuladores, ambientes de aprendizagem) (IND);
extrair conhecimentos valiosos para teste (IND); - ser autoconfiante (para analisar e
organização (IND e ORG); - dominar técnicas de observação, análise e acatar críticas e sugestões que
- é permitido discordar, inclusive com reflexão (IND); possam gerar novos conhecimentos)
relação as mais rígidas premissas, hipóteses - administrar o tempo (recurso escasso e (IND);
$SUHQGHU&ULDU
e pensamentos organizacionais (IND e muito importante ao processo de criação) - ser autodidata, ou seja, não ser
ORG); (IND); dependente de instrutores e ter
- a obsolescência do conteúdo ocorre de - dar incentivo e condições para que críticas autonomia para desenvolver
forma cada vez mais rápida, ou seja, a construtivas e sugestões aconteçam na seus próprios estudos e pesquisas
aprendizagem é atividade contínua e organização (ORG); (IND);
obrigatória ao trabalhador (IND e ORG); - dar tempo, condições e incentivos para - refletir antes de aplicar o conteúdo
- a reflexão durante o trabalho é algo muito que as pessoas reflitam durante o trabalho nas atividades observando meios
importante (IND e ORG); (ORG). alternativos ou diferentes de seu uso
- o ato de fazer também é um momento rico (IND);
e valioso para aprendizagem (IND - analisar criticamente os resultados
e ORG). alcançados pela utilização/aplicação
prática de conteúdos (IND).
- conhecimento tácito também é passível de - valorizar e dar créditos aos provedores de - ser desinibido e desembaraçado para
compartilhamento (IND e ORG); novas informações e conhecimentos (ORG); compartilhar conhecimentos tácitos
- para que uma contribuição individual - interagir em ambientes virtuais para (IND);
seja elevada à categoria de conhecimento discussão em grupo (fóruns, chats, - ser motivado e desejoso por
&RQWULEXLU&RPSDUWLOKDU
organizacional é necessário que ela esteja workgroups, comunidades de prática, entre compartilhar novos conhecimentos
disponível a todos os interessados (ORG); outros) (IND); (IND);
- para que uma contribuição individual seja - alterar/evoluir conteúdo no formato de - ser colaborativo, ou seja, desejar
elevada à categoria de conhecimento texto, vídeo, áudio, foto, figura/gráfico e cooperar com os outros, provendo a
organizacional é necessário transformar hipertextos (IND); estes informações e conhecimentos
conhecimentos tácitos em explícito, - expor idéias com clareza (IND); úteis (IND).
tornando-a independente da fonte geradora - expor idéias com objetividade (IND);
(criador ou autor) (ORG); - ter poder de síntese (IND);
- o acréscimo de conhecimento - apresentar-se em público (IND);
organizacional por intermédio de - orientar e ensinar (IND).
aprendizagens internas é fundamental para
ambientes competitivos, por se tratar de
conhecimento de baixo custo e já
contextualizado às demandas da
organização (ORG).
- o conhecimento também sofre um - identificar conhecimentos geridos pelo - ter desapego ao conteúdo
processo de obsolescência (IND e ORG); processo de gestão do conhecimento e que independentemente de forte
- informações e conhecimentos necessários não sejam mais relevantes à organização envolvimento e identificação com o
'HVFDUWDU'HVSRMDU
para organização alcançar seus objetivos (ORG); mesmo, por exemplo, por ser o seu
estratégicos (ORG). - identificar as causas para o não uso de criador (autor) (IND).
informação ou conhecimento, apesar deste
ter sido identificado como necessário à
organização (ORG);
- saber discernir problemas de má qualidade
da informação de problemas relativos a
erros na definição de conteúdos relevantes à
organização (ORG).
- a complexidade dos atuais processos e a - criar mecanismos de incentivo e - ser pró-ativo, no sentido de trabalhar
importância do trabalho colaborativo entre recompensa ao compartilhamento de ou incentivar as atitudes desejáveis:
&RQVWUXLUH6XVWHQWDU
as diversas entidades (IND e ORG); conhecimento tácito, transformando a premiar, ajustar remuneração, realizar
- as entidades importantes para eficácia do tendência natural de sentimento de perda de declarações de incentivo, reconhecer a
processo de gestão do conhecimento da conhecimento privilegiado para provedor autoria, etc (ORG);
organização (ORG). exclusivo de conhecimento diferencial - ser pró-ativo, no sentido de
(ORG); desencorajar atitudes indesejáveis:
- trabalhar colaborativamente (IND); desenvolver treinamentos, aplicar
- desenvolver relacionamentos (IND e sansões, etc (ORG).
ORG);
- direcionar comportamentos desejáveis e
desencorajar os indesejáveis (ORG).
Quadro 2 Matriz de associação entre atividades do processo de gestão do conhecimento e conhecimen-
tos, habilidades e atitudes requeridas aos indivíduos e organizações.
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José Osvaldo de Sordi / Marcia Carvalho Azevedo
observadas ou negligenciadas no contexto da ges- do conhecimento: o entendimento da essência e
tão da informação e do conhecimento das orga- importância das diversas dimensões para quali-
nizações e b) compreendidas como altamente crí- dade do conhecimento e as habilidades requeridas
ticas ao sucesso da atividade e, consequentemente, a estes profissionais para evitar problemas rela-
ao próprio processo de gestão do conhecimento cionados a estas dimensões. Cabe destacar que a
como um todo. obtenção de informação e do conhecimento deve
Os resultados foram analisados tendo ser mais criteriosa e técnica que a praticada para
como referência o modelo adaptado de Bukowitz coleta de dados. A informação e o conhecimento
e Williams (1999). Na primeira atividade do pro- são desenvolvidos, enquanto os dados são mera-
cesso de gestão do conhecimento identificar/ mente coletados, ou seja, são providos, no senti-
mapear conhecimento uma habilidade não mui- do de entregues com facilidade pelo ambiente
to comum de se encontrar nas organizações é a onde se realiza a observação e coleta dos dados. A
identificação e documentação de conhecimentos existência de informações e conhecimentos sem
não-estruturados, ou seja, dos conhecimentos qualidade configura uma situação indesejável às
tácitos disponíveis e importantes à organização. organizações, configurando um cenário mais crí-
Isso implica na realização do inventário dos tico que as empresas que não realizam esforços
conhecimentos tácitos, atividade mais complexa para obtenção destes recursos, considerando-se
que o levantamento dos conhecimentos explíci- que estas não arcam com custos de geração, como
tos em função da natureza intangível do conheci- também não vivenciam problemas decorrentes do
mento tácito. Sobre essa atividade, cabe ainda uso de informação e conhecimento de má quali-
destacar a atitude e o espírito colaborativo neces- dade. Desta forma, a atividade de obtenção ou
sário a esses indivíduos detentores do conhecimen- aquisição de conhecimento, além de ser muita
to tácito, que terão que dedicar parte do seu tem- técnica e especializada (exige conhecimentos e
po de trabalho com o compartilhamento deste habilidades específicas), é altamente crítica ao
conhecimento ainda não estruturado. Para que processo de gestão do conhecimento como um
isso ocorra, a organização deve ter a habilidade de todo. Zack (1999) discute a aquisição do conhe-
desenvolver uma atitude/comportamento favorável cimento como uma fonte de vantagens sustentá-
ao compartilhamento junto aos indivíduos deten- veis para as organizações.
tores de conhecimentos tácitos identificados como Nas organizações, há muitos sistemas de
importantes à organização. Resumidamente, o processamento de dados, uma quantidade menor
principal desafio para o êxito desta primeira ati- de sistemas de informação e menor ainda em ter-
vidade do processo de gestão do conhecimento é mos de sistemas voltados para o recurso conheci-
a identificação dos conhecimentos tácitos impor- mento. Como os sistemas de processamento de
tantes à organização. dados são, costumeiramente, voltados para auto-
Para segunda atividade do processo de ges- mação de atividades manuais, há pouca dificul-
tão do conhecimento obter/adquirir conheci- dade para entender as demandas a serem atendi-
mento o aspecto mais crítico e pouco usual a das, ou seja, o que o sistema deve realizar. Na era
se destacar é o relativo aos cuidados com as diver- da informação e do conhecimento, as demandas
sas dimensões da qualidade da informação e do por novos sistemas não são tão óbvias, muitas vezes
conhecimento: abrangência/escopo; integridade; os sistemas de informação ou de conhecimento
acurácia/veracidade; confidencialidade/privacida- irão produzir resultados até então inexistentes no
de; disponibilidade; atualidade; ineditismo/rari- contexto da organização. Os profissionais envol-
dade; contextualização; precisão; confiabilidade; vidos na sua obtenção ou geração devem fazer um
originalidade; unicidade; singularidade; agregação estudo mais detalhado das demandas informa-
de valor; identidade e audiência. Dois são os aspec- cionais junto às futuras comunidades de usuários
tos centrais que devem ser observados naqueles (público-alvo em potencial). Dessa forma, o com-
diretamente envolvidos com o processo de gestão portamento buscar conhecer características do
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Análise de Competências Individuais e Organizacionais Associadas à Prática de Gestão do Conhecimento
Resumidamente, há grandes desafios rela- tes do aumento do volume das bases de conteúdo
cionados aos conhecimentos, às habilidades e atitu- organizacional. Quanto maior o volume de con-
des pertinentes à atividade de criação e aprendiza- teúdos armazenados, maior o custo para gestão e
gem, estes relacionados tanto à esfera individual, operacionalização destes, por exemplo, aumento
pertinente aos trabalhadores do conhecimento, do custo com armazenamento, maior demanda
quanto organizacional, abrangendo os gestores do de tempo de processadores para realização das
processo de gestão do conhecimento e da organiza- pesquisas, entre outros custos adicionais. Quan-
ção como um todo. Novos conhecimentos devem to maior o volume de conteúdo armazenado,
ser introduzidos, como os relativos ao entendi- maiores também os desafios relativos à manuten-
mento do erro e aos questionamentos ou críticas ção dos níveis de eficácia do processo de busca e
aos pressupostos organizacionais como sendo bené- seleção, caracterizados, por exemplo, pela dificul-
ficos à organização; novas habilidades, como as dade em manter bons níveis para as taxas de
voltadas para testes e reflexão durante o trabalho, revocação e precisão (SOUZA, 2006).
devem fazer parte do dia a dia da organização; e Uma habilidade crítica para eficácia da
novos comportamentos são necessários aos traba- atividade de descarte é a capacidade dos indiví-
lhadores, como a persistência e a autoconfiança. duos, daqueles diretamente envolvidos com o pro-
A sexta atividade do processo de gestão do cesso de gestão de conhecimento na identificação
conhecimento contribuir/compartilhar tem das razões ou causas para o não uso de determi-
como fator crítico a habilidade da organização em nado conteúdo da base. Espera-se que esses indiví-
reverter à tendência das pessoas em guardarem duos estejam capacitados a distingüir a alteração
para si suas novas descobertas. Ao realizarem suas da demanda informacional, ou seja, da obsolescên-
atividades ao longo do tempo, as pessoas erram, cia de informações e conhecimentos, que passam
acertam, adaptam, experimentam e descobrem a ser descartáveis, da ocorrência de não-uso ou de
novos conhecimentos que as tornam mais eficazes pouco uso da informação e conhecimento em
no desenvolvimento de suas atividades. A maioria função da qualidade ruim destes, proporciona-
dos trabalhadores tende a reconhecer este saber, dos por problemas ocorridos junto às atividades
este novo conhecimento de seu uso exclusivo, como do processo de gestão do conhecimento. Os pro-
algo diferencial e estratégico enquanto não com- blemas de pouco uso podem ser decorrentes, por
partilhado e assimilado pelos seus pares. As exemplo, de problemas de qualidade do conteú-
organizações devem ter habilidade para tratar desta do, devido a não observação das dimensões de
importante fonte de resistência à contribuição, qualidade durante a atividade de obtenção; proble-
utilizando-se, por exemplo, de recompensa finan- mas de distribuição, devido à escolha de estraté-
ceira, reconhecimento pelo notório saber, entre gia inadequada considerando-se as características
outras técnicas. A recompensa financeira pode do público-alvo; dentre outros diversos proble-
ocorrer de várias formas: por valor estipulado para mas possíveis de ocorrerem em cada uma das ati-
cada contribuição unitária que seja aceita e reco- vidades do processo de gestão do conhecimento.
nhecida como importante à base de conteúdo da Como comportamento crítico ao êxito desta ati-
organização; ou por contribuição, comprovada- vidade, destaca-se o comportamento de desapego
mente utilizada por outros, e que resultaram em do indivíduo à informação ou conhecimento a
agregação de valor. O mérito pode ser atribuído, ser descartada, sendo este, capaz de se desfazer
por exemplo, por intermédio do processo de ava- deste conteúdo, independentemente, do forte vín-
liação, destacando itens diretamente associados à culo que possa existir entre eles, por exemplo, por
contribuição de novos conhecimentos. ser o seu criador (autor).
A grande importância da atividade descar- A última atividade do processo de gestão
tar/despojar informações e conhecimentos para o do conhecimento refere-se a construir e sustentar
processo de gestão destes recursos se justifica pelo relacionamentos junto a entidades importantes do
acréscimo de dificuldades e problemas decorren- processo. De natureza mais estratégica que opera-
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Análise de Competências Individuais e Organizacionais Associadas à Prática de Gestão do Conhecimento
cional, o aspecto crítico em termos de competência cimento e algumas competências importantes aos
a ser destacado é o conhecimento ou identificação indivíduos e as organizações nesse processo. Essa
ampla das entidades estratégicas para o processo associação é apresentada no Quadro 3 a seguir.
de gestão do conhecimento. A dinâmica de evolu-
ção do próprio processo de gestão do conheci-
mento, agregado à dinâmica dos ambientes e cená- 7 CONCLUSÕES
rios de negócio competitivos, torna a identifica-
ção das entidades relevantes um contínuo desafio. Conhecimentos, habilidades e atitudes
críticas ao processo de gestão do conhecimento
6.2 Identificação de competências individuais e foram identificadas para os indivíduos trabalha-
organizacionais nas atividades do processo dores do conhecimento e para organizações gestoras
de gestão do conhecimento do processo. Os resultados alcançados, de con-
senso dos pareceristas envolvidos no processo de
Do exercício de análise realizado com os desenvolvimento da pesquisa, agregam valor à
pareceristas, evidenciou-se que para cada ativida- administração por abordar um recurso extrema-
de do modelo adaptado de Bukowitz e Williams mente importante às organizações o conheci-
(1999), do processo de gestão do conhecimento mento e colaborar com o processo de gestão do
pode-se determinar diferentes competências mesmo. Os aspectos críticos identificados são
essenciais. Através de uma análise mais detalhada abrangentes e estão alinhados com os atuais desa-
dessas competências podemos identificar diferen- fios das organizações, direcionando a gestão do
tes instâncias do conceito, existindo competên- processo a temas importante como o colaborador
cias vinculadas aos indivíduos e competências vin- capaz de criar; a organização capaz de converter
culadas às organizações. Ou seja, as diferentes conhecimento individual em conhecimento
atividades do processo de gestão do conhecimen- organizacional e a maximização do uso deste
to tornam-se realidade pela existência de compe- conhecimento organizacional.
tências organizacionais (presentes nos gestores do A pesquisa realizada diferenciou-se de
processo de gestão do conhecimento) e de com- abordagens costumeiramente empregadas para
petências individuais (presentes nos trabalhado- análise da gestão por competência aplicada a ati-
res do conhecimento). vidades, projetos, entre outras entidades de inte-
Com base nos resultados obtidos na pre- resse da administração, por decompor o objeto
sente pesquisa, propomos uma matriz de associa- de interesse, as competências, em conhecimen-
ção entre atividades do processo de gestão do conhe- tos, habilidades e atitudes, para posteriormente
&RPSHWrQFLDVGD2UJDQL]DomR
$WLYLGDGHVGR3URFHVVRGH*HVWmRGR &RPSHWrQFLDVGRV,QGLYtGXRV
(dos gestores do processo de gestão do
&RQKHFLPHQWR (dos trabalhadores do conhecimento)
conhecimento)
Quadro 3 Matriz de associação entre atividades do processo de gestão do conhecimento e competências
requeridas aos indivíduos e organizações.
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José Osvaldo de Sordi / Marcia Carvalho Azevedo
PROBST, G.; RAUB, S.; ROMHARDT, K. WRIGHT, J. T. C.; GIOVINAZZO, R. A.
Managing knowledge: building blocks for success. Delphi: uma ferramenta de apoio ao planeja-
Hoboken: John Wiley & Sons, 2000. mento prospectivo. Caderno de Pesquisas em
Administração, São Paulo, v. 1, n. 12, p. 54-65,
RANFT, A.; LORD, M. Acquiring new 2000.
technologies and capabilities: a grounded model
of acquisition implementation. Organization ZACK, M. H. Developing a knowledge strategy.
science , Linthicum, v. 13, n. 4, p. 420-441, California Management Review , Berkeley, v. 41,
2002. n. 3, p. 125-145, Spring 1999.