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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA REGIÃO DOS VINHEDOS

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

SOCIOLOGIA JURÍDICA
PROFESSORA ROZALIA BRANDÃO TORRES

ACADÊMICA: ALINE GABRIEL TEDESCO

ANÁLISE SÓCIO-JURÍDICA DO INDULTO DE NATAL

Bento Gonçalves, 24 de novembro de 2011


INTRODUÇÃO

O Ministério da Justiça promoveu em agosto deste ano uma audiência


pública no qual a sociedade brasileira foi convidada a dar sua opinião acerca do
Indulto e Comutação da Pena, disciplinados pelo Decreto Presidencial 7420/2010,
abrindo espaço para um debate amplo sobre o tema. De acordo com o Ministério da
Justiça, a previsão é que cerca de 4.500 presos sejam indultados ou tenham sua
pena comutada ao longo do ano.

O benefício é válido somente aos presos que não tenham cometido crimes
hediondos, arrolados na Lei 8072/1990, salvo os que estejam cumprindo medida de
segurança, por estado agravado de saúde ou grave deficiência mental,
independente da cessação da periculosidade, talvez esse, o ponto mais controverso
do Decreto. O indulto visa beneficiar presos com bom comportamento e que já
tenham cumprido parte da pena.

A prática de um fato tipificado na lei como crime traz consigo a punibilidade,


isto é, a aplicabilidade da pena que é imputada ao causador do delito. A punibilidade
não configura elemento ou consequência jurídica do crime, mas sua consequência
jurídica, devendo ser aplicada a sansão quando se verificar que houve o crime e a
conduta do agente foi culpável. Com a prática do crime, surge o direito de punir do
Estado, que gera a possibilidade jurídica de impor a ação.

Do ponto de vista sociológico, cabe à Sociologia Jurídica analisar os fatos


que geraram a condição do crime e não o seu julgamento, examinando a influência
dos fatores sociais sobre o Direito e as incidências deste na sociedade, através de
uma leitura externa do sistema jurídico. O indulto é um perdão, que favorece alguns
presos do sistema carcerário. A Sociologia deve buscar explicar os mecanismos
sociais implícitos na prática do crime e analisar as consequências sociais que serão
abarcadas à sociedade com a soltura de determinado grupo prisional.

Do ponto de vista jurídico, a extinção da punibilidade, através de institutos


próprios, estão previstas no Art. 107 do Código Penal, podendo ocorrer antes do
trânsito em julgado ou mesmo depois da condenação. Esses institutos serão
brevemente discutidos, com ênfase maior ao indulto, objeto de estudo deste
trabalho.
1.0 A Extinção da Punibilidade

O direito de punir está vinculado ao jus puniendi, uma expressão latina que
pode ser traduzida literalmente como direito de punir do Estado. Refere-se ao poder
ou prerrogativa sancionadora do Estado. Etimologicamente, a
expressão jus equivale a direito, enquanto a expressão puniendi equivale a castigar,
de forma que tanto se traduzi-la literalmente como o direito de punir ou direito de
sancionar. Esta expressão é usada sempre em referência ao Estado frente aos
cidadãos.

Originado o jus puniendi, concretizado com a prática do crime, podem


ocorrer causas que obstem a aplicação das sanções penais pela renúncia do Estado
em punir o autor do delito, falando-se então em causas de extinção de punibilidade.
(MIRABETE, 2002, p. 382). Assim, a pena não é elemento do crime, mas
consequência deste, onde a punição é a consequência natural da realização do ato
delituoso. Com a extinção da punibilidade, o que se extingue é o poder de punição
exercido pelo Estado, mas ação não exaure. O crime, como ilícito penal permanece
gerando todos os demais efeitos civis e criminais, não eliminando o fato.

As causas extintivas podem ocorrer após o fato, durante o processo ou


depois da condenação.

O Art. 107 do Código Penal, assim enumera as causas de extinção da


punibilidade:
“Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de
ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII -(Revogado pela Lei nº 11.106, de 29.03.05);
VIII - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 29.03.05);
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.”

O sistema de extinção de punibilidade aplica-se somente à pena criminal. Na


esfera cível, como prisão por falta de depósito de alimentos, não se aplicam as
causas de extinção, pois não se revestem do mesmo caráter da pena criminal, tendo
apenas caráter coercitivo, destinado a forçar o cumprimento da obrigação civil.

Das causas arroladas no Art. 107 do Código Penal Brasileiro, as do inciso II


(anistia, graça ou indulto), o último é objeto de análise neste trabalho.
2.0. Origem histórica, conceito e fundamentação do indulto

O indulto, dos três institutos descritos acima é a figura penal mais


dificilmente individualizada, quanto à compreensão de suas bases e efeitos. Sua
origem histórica se dá no mesmo período que a de outros importantes institutos, a
graça e a anistia, que correlatamente guardam grande similitude entre si.

Relatos indicam que, a anistia, o indulto e a graça, tenham surgido na


Grécia, no período de 594 a.C, no governo de Sólon que instaurou um regime
democrático e concede atos de clemência ao reintegrar os direitos aos cidadãos
perseguidos pelos regimes tirânicos antecedentes, concedendo assim o perdão a
todos aqueles que foram perseguidos, exceto aos condenados por traição ou
homicídio (BITTENCOURT, 2003, p.445). Em Roma temos a figura do "generalis
abolitio", que segundo Rui Barbosa, possuía os mesmos efeitos, quais sejam,
esquecimento ou perdão.

No período medieval, com a ascensão do feudalismo, observa-se uma


"vulgarização" desse conceito visto que, não havia nenhuma lei que regulamentasse
sua concessão, era concedia a partir dos critérios pessoais de cada senhor feudal.
Essa situação vai até a Revolução Francesa em 1791, onde a ideia de anistia graça
e indulto, no texto da constituição, ficaram como uma atribuição privativa do
Presidente da República. Após a Revolução Francesa, os três institutos foram
incorporados em diversas constituições da Europa, e permanecem até os dias
atuais.

No Brasil, assim como anistia e a graça, o indulto tem uma longa história.
Data do período colonial, no processo de colonização com o surgimento das
capitanias hereditárias, os donatários tinham um amplo poder e estes iam desde a
aplicação da pena de morte à clemência. Assim, diversos condenados à pena de
morte obteriam perdão ao se comprometer a lutar contra os invasores e rebeldes, o
que em princípio, se assemelha a remição pelo trabalho.

Entretanto, é apenas com a Independência e a Constituição de 1824 que o


indulto, bem como a anistia, passam a figurar como institutos do nosso ordenamento
jurídico, cabendo ao Imperador concedê-la ou não, seguindo-se daí em diante a
evolução do instituto de forma a acompanhar a evolução do ordenamento jurídico
brasileiro.

Os institutos arrolados no inciso II, do Art. 107 do Código Penal podem ser
diferenciados como: a graça é compreendida como uma espécie de indulto de
caráter individual e sua concessão deve ser solicitada. O indulto, que é o alvo
propriamente dito desta pesquisa, tem caráter coletivo e espontâneo, concedido por
decreto presidencial. Atinge um número elevado de pessoas, levando em
consideração alguns requisitos legais para que haja sua concessão, ou seja, exige
que os beneficiados se adéquem as condições de concessão; ambos são formas de
extinção da punibilidade, contudo não alcançam os efeitos da condenação, ainda
que haja a concessão do indulto ou da graça podem sobrevir ao beneficiado à figura
da reincidência, enquanto a anistia não leva em consideração o individuo e sim
extingue a existência do fato tipificado como crime. A anistia, segundo Cesar
Roberto Bittencourt, é o esquecimento jurídico do ilícito e tem por objeto fatos
definidos como crime, de regra políticos, militares ou eleitorais. Pode ser concedida
antes ou depois da condenação, e assim como o indulto, pode ser total ou parcial.
(BITENCOURT, Tratado de Direito Penal, 2003, pag. 804).

3. O indulto como instituto jurídico

O indulto é o perdão da pena imposta ao sentenciado que se enquadre nas


normas pré-estabelecidas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP), do Ministério da Justiça, expedido no final de ano por
ocasião das festividades natalinas.

É destinado a um grupo indeterminado de condenados e delimitado pela


natureza do crime e quantidade da pena aplicada, além de outros requisitos que o
diploma legal pode estabelecer. Esse benefício é coletivo, de competência exclusiva
do Presidente da República, ou seja, no exercício da competência privativa que lhe
confere o art. 84, inciso XII, da Constituição Federal de 1988:

“Art. 84.Compete privativamente ao Presidente da República:

XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos


órgãos instituídos em lei;

Parágrafo único.O Presidente da República poderá delegar as atribuições


mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de
Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União,
que observarão os limites traçados nas respectivas delegações.”

A concessão do Indulto extingue a pena na sua totalidade ou parcialmente,


de acordo com o texto decretado pelo Presidente da República, como forma de
permitir a reintegração do apenado à sociedade. Os efeitos da condenação não
perdem totalmente seu alcance, uma vez que o beneficiado não retornará à
condição de primariedade.

No ensinamento de MIRABETE (MIRABETE, 2002, p. 367):

"O indulto coletivo abrange sempre um grupo de sentenciados e


normalmente inclui os beneficiários tendo em visto a duração das penas que
lhe foram aplicadas, embora se exijam certos requisitos subjetivos
(primariedade, etc.) e objetivos (cumprimento de parte da pena, exclusão
dos autores da prática de algumas espécies de crimes, etc.)".
É necessário frisar que certos delitos não são alcançados pelo indulto, como
prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (embora com a
mudança na condição de progressão de regime para os crimes hediondos esteja
havendo uma revisão quanto ao tratamento da aplicação de direitos aos condenados
por tráfico de entorpecentes), o terrorismo, e alguns crimes definidos como
hediondos são insuscetíveis de graça.

Ao contrário do que costuma se pensar no senso comum,


juridicamente, crime hediondo não é o crime praticado com extrema violência e com
requintes de crueldade e sem nenhum senso de compaixão ou misericórdia por
parte de seus autores, mas sim um dos crimes que no Brasil se encontram
expressamente previstos na Lei nº 8.072/90. Portanto, são crimes que o legislador
entendeu merecerem maior reprovação por parte do Estado.

São considerados crimes hediondos, conforme a Lei 8072/90, os


assemelhados à tortura, o homicídio, o homicídio praticado em atividades típicas de
grupos de extermínio, ainda que cometido por um só agente, homicídio qualificado,
latrocínio, extorsão qualificada, extorsão mediante sequestro, falsificação, corrupção,
adulteração de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.

Os crimes hediondos, do ponto de vista da criminologia sociológica, são os


crimes que estão no topo da pirâmide de desvaloração axiológica criminal, devendo,
portanto, ser entendidos como crimes mais graves, mais revoltantes, que causam
maior aversão à coletividade.

Do ponto de vista semântico, o termo hediondo significa ato profundamente


repugnante, imundo, horrendo, sórdido, ou seja, um ato indiscutivelmente nojento,
segundo os padrões da moral vigente. O crime hediondo é o crime que causa
profunda e consensual repugnância por ofender de forma acentuadamente grave
osvalores morais de indiscutível legitimidade, como o sentimento comum de
piedade, de fraternidade, de solidariedade e de respeito à dignidade da pessoa
humana. Ontologicamente, o conceito de crime hediondo repousa na ideia de que
existem condutas que se revelam como a antítese extrema dos padrões éticos de
comportamento social, de que seus autores são portadores de extremo grau de
perversidade, de perniciosa ou de periculosidade e que, por isso, merecem sempre
o grau máximo de reprovação ética por parte do grupo social e, em consequência,
do próprio sistema de controle.1

A Constituição Federal, no seu Art. 5º, Inciso XLIII, que trata das garantias e
direitos do cidadão, assim reza: “a lei considerará crimes inafiançáveis e
insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos,
por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem” (CF/1988).

1
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Crime_hediondo
Nesse mesmo sentido, a partir da aplicação da Lei Infraconstitucional, os
crimes definidos como hediondos, a partir da aplicação da Lei 8072/90, por eles
respondem os mandantes, os executores e, os que podendo evitá-los, se omitem
(coautores), serão inafiançáveis e insuscetíveis de anistia, graça, indulto, fiança e
liberdade provisória, sendo a pena cumprida, integralmente, em regime fechado,
conforme dispõe a legislação acima citada:

“Art. 2º - Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas
Afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em
regime fechado.
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos
neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se
o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
§ 3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente
se o réu poderá apelar em liberdade.
§ 4º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de
dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30
(trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e
comprovada necessidade. ”2

A concessão do indulto está juridicamente fundamentada no art. 107, inciso


II do Código Penal, a ser concedidos pelo Presidente da República, mas ele pode
delegar a atribuição a Ministro de Estado ou outras autoridades, não sendo
necessário pedido dos interessados, nos termos do Art. 84, inciso XII, parágrafo
único, da Constituição Federal Brasileira.

Pode ser concedido de forma plena, fazendo com que a punibilidade


sejaextinta por completo ou de forma parcial, alterando o cômputo da pena a ser
cumprida para a libertação do condenado, podendo alcançar quem esteja sob o
beneficio do sursis3 ou mesmo do livramento condicional; a concessão do indulto
pode ainda resultar na comutação da pena.

Outro ponto a salientar é a inexistência de relação entre o indulto, que é a


concessão de extinção da punibilidade oriunda do decreto presidencial, que pode
ser parcial ou pleno, e as saídas temporárias, conhecidas como “saidão” 4, beneficio

2
www.amperj.org.br/store/legislacao/leis/L8072_hediondos.pdf
3
Suspensão Condicional da Pena ou Sursis é um instituto de direito penal com a finalidade de permitir que o condenado não
se sujeite à execução de pena privativa de liberdade de pequena duração, ou seja, permite que, mesmo condenada, uma
pessoa não fique na cadeia. Sursis quer dizer suspensão, derivado de surseoir, que significa suspender.

Se o juiz define o prazo de dois anos para o sursis, o condenado ficará durante esse período em observação. Se não praticar
nova infração penal e cumprir as determinações impostas pelo juiz, este, ao final do período de prova, determinará o fim da
pena. Se durante o período de prova houver revogação do sursis, o condenado cumprirá a pena que se achava com a
execução suspensa. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sursis
4
O termo saidão é empregado para distinguir o indulto da saída temporária dos presos do regime semiaberto,
conforme: www.correioforense.com.br
concedido aos condenados em regime semiaberto nas épocas festivas, como Dia
das Mães, Páscoa e Natal, que a mídia trata erroneamente como indulto, mas que
não guarda relação com o instituto aqui analisado.

A associação equivocada entre a figura do indulto e das saídas temporárias


provoca muitas vezes uma postura contrária da sociedade em relação à aplicação
do indulto. A evasão elevada dos presos que são contemplados pelo beneficio da
saída temporária e a prática de novos delitos, por estes indivíduos no gozo da
permissão para voltar por tempo determinado ao convívio da sociedade, causa
desaprovação da sociedade como se fosse um incentivo a criminalidade. Esta visão
equivocada surge da falta de conhecimento dos institutos penais, e da importância
de figuras como o indulto no alcance do objetivo da punição em busca da
ressocialização do individuo.

4.0 Decreto Presidencial nº 7420/10 e apontamentos acerca deste:


Art. 1o É concedido indulto às pessoas:

I - condenadas à pena privativa de liberdade não superior a oito anos, não


substituída por restritivas de direitos ou multa e não beneficiadas com a
suspensão condicional da pena, que, até 25 de dezembro de 2010, tenham
cumprido um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se
reincidentes;

II - condenadas à pena privativa de liberdade superior a oito anos e não


superior a doze anos, não substituída por restritivas de direitos ou multa e
não beneficiadas com a suspensão condicional da pena, por crime praticado
sem violência ou grave ameaça, que, até 25 de dezembro de 2010, tenham
cumprido um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se
reincidentes;

III - condenadas à pena privativa de liberdade superior a oito anos que, até
25 de dezembro de 2010, tenham completado sessenta anos de idade e
cumprido um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se
reincidentes;

IV - condenadas à pena privativa de liberdade que, até 25 de dezembro de


2010, tenham completado setenta anos de idade e cumprido um quarto da
pena, se não reincidentes, ou um terço, se reincidentes;

V - condenadas à pena privativa de liberdade que, até 25 de dezembro de


2010, tenham cumprido, ininterruptamente, quinze anos da pena, se não
reincidentes, ou vinte anos, se reincidentes;

VI - condenadas à pena privativa de liberdade superior a oito anos que, até


25 de dezembro de 2010, tenham cumprido, em regime fechado ou
semiaberto, um terço da pena, se não reincidentes, ou metade, se
reincidentes, e tenham filho ou filha menor de dezoito anos ou com
deficiência mental, física, visual ou auditiva, cujos cuidados delas necessite;
VII - condenadas à pena privativa de liberdade não superior a doze anos,
desde que já tenham cumprido dois quintos da pena, se não reincidentes,
ou três quintos, se reincidentes, encontrem-se cumprindo pena no regime
semiaberto ou aberto e já tenham usufruído, até 25 de dezembro de 2010,
no mínimo, de cinco saídas temporárias previstas no art. 122, combinado
com art. 124, caput, da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, ou tenham
prestado trabalho externo, no mínimo por doze meses nos três anos
contados retroativamente àquela data;

VIII - condenadas à pena de multa, ainda que não quitada,


independentemente da fase executória ou juízo em que se encontre,
aplicada cumulativamente com pena privativa de liberdade cumprida até 25
de dezembro de 2010;

IX - condenadas:

a) paraplégicas, tetraplégicas ou portadoras de cegueira total, desde que


tais condições não sejam anteriores à pratica do delito e se comprovem por
laudo médico oficial ou, na falta deste, por médico designado pelo juízo da
execução;

b) paraplégicas, tetraplégicas ou portadoras de cegueira total, ainda que tais


condições sejam anteriores à prática do delito e se comprovem por laudo
médico oficial ou, na falta deste, por médico designado pelo juízo da
execução, caso resultem na incapacidade severa prevista na alínea “c”
deste inciso;

c) acometidas de doença grave e permanente que apresentem


incapacidade severa, grave limitação de atividade e restrição de
participação ou exijam cuidados contínuos que não possam ser prestados
no estabelecimento penal, desde que comprovada a hipótese por laudo
médico oficial ou, na falta deste, por médico designado pelo juízo da
execução, constando o histórico da doença, caso não haja oposição da
pessoa condenada, mantido o direito de assistência nos termos do art. 196
da Constituição;

X - submetidas à medida de segurança, independentemente da cessação


da periculosidade que, até 25 de dezembro de 2010, tenham suportado
privação da liberdade, internação ou tratamento ambulatorial por período
igual ou superior ao máximo da pena cominada à infração penal
correspondente à conduta praticada, ou, nos casos de substituição prevista
no art. 183 da Lei nº 7.210, de 1984, por período igual ao tempo da
condenação, mantido o direito de assistência nos termos do art. 196 da
Constituição;

XI - condenadas à pena privativa de liberdade, desde que substituída por


pena não privativa de liberdade, na forma do art. 44 do Decreto-Lei no 2.848,
de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, ou ainda beneficiadas com a
suspensão condicional da pena, que tenham cumprido, ainda que por
conversão, privadas de liberdade, até 25 de dezembro de 2010, um quarto
da pena, se não reincidentes, ou um terço, se reincidentes;

XII - condenadas à pena privativa de liberdade sob o regime aberto, que


tenham cumprido, presas provisoriamente, até 25 de dezembro de 2010, um
quarto da pena, se não reincidentes, ou um terço, se reincidentes;
XIII - condenadas à pena privativa de liberdade, que estejam cumprindo
pena em regime aberto, cujas penas remanescentes, em 25 de dezembro
de 2010, não sejam superiores a seis anos, se não reincidentes, e a quatro
anos se reincidentes, desde que tenham cumprido um quarto da pena, se
não reincidentes, ou um terço, se reincidentes.

Parágrafo único. O indulto de que cuida este Decreto não se estende às


penas acessórias previstas no Decreto-Lei no 1.001, de 21 de outubro de
1969 - Código Penal Militar, e aos efeitos da condenação.

Conforme se vê, a concessão do indulto é um ato político-jurídico de perdão


ou de clemência estatal em favor de condenados à justiça criminal, que satisfaçam
as condições acima descritas. No entanto, o indulto perdeu suas características
originais. Embora a motivação seja a mesma, o perdão da pena para situações
peculiares no período do Natal, o indulto passou a ter como objetivo o esvaziamento
dos presídios. Assim, mesmo com o crescimento assustador da criminalidade, a
tendência dos decretos de concessão de Indulto tem sido de aumentar a
abrangência, a fim de que, cada vez mais presidiários possam ser colocados na rua.

Um dos pontos mais controversos dos últimos decretos, diz respeito à


possibilidade de indultar presos em medida de segurança, independente do fim de
sua periculosidade. Com a finalidade de entendimento didático, discorre-se acerca
do funcionamento da medida de segurança, subterfúgio muito utilizado por
advogados criminalistas com o intuito de minimizar a aplicação de sanções penais
mais severas aos supostamente “imputáveis”.

A Medida de Segurança é um modo de defesa da sociedade. Deve ser


imposta aos imputáveis5 e se faculta a possibilidade de ser imposta ao semi-
imputável6, podendo ser também privativa de liberdade, porém diminuída, conforme
o § único do artigo 26 do Código Penal. A Medida de Segurança tem por finalidade,
fazer cessar a temibilidade do agente e, de tal forma, que ele não volte a delinquir.

Para que sejam aplicadas as Medidas de Seguranças faz-se necessário a


observância da periculosidade criminal do agente, que se exterioriza a partir do
delito praticado. A periculosidade é, neste sentido, o simples perigo para os outros
ou para a própria pessoa, e não o conceito de periculosidade penal, limitado à
probabilidade da prática de crime.

A natureza das “medidas de segurança”, ou simplesmente “medidas”, não é


propriamente penal, pois não possuírem um conteúdo punitivo, mas o são

5
São inteiramente incapazes de entender o caráter delituoso do fato e de orientar seu atuar de acordo com
aquela compreensão.

6
São os que não são inteiramente capazes de entender o caráter ilícito do fato
formalmente penais, e em razão disso, são elas impostas e controladas pelos juízes
penais.

Existe uma série de diferenças entre a pena e a medida de segurança. A


pena é dividida entre privativa de liberdade e restritiva de direitos, com objetivo
principal de punir o agente da infração penal, e por consequência, prevenir que o
agente cometa novamente o ato ilícito. Porém deve-se observar que essa prevenção
é um tanto quanto subjetiva, de maneira que, o que irá impedir o agente de repetir o
ato ilícito, é a sua própria consciência, a sua moral e o medo de ser punido
novamente. O que ocorre de maneira inversa com as medidas de segurança, uma
vez que estas têm o objetivo principal de prevenir que o agente repita a infração
penal, sem nenhum caráter punitivo.

No Código Penal atual, existem duas espécies de medidas de segurança: a


internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico; e o tratamento
ambulatorial. As primeiras constituem a modalidade detentiva. Estes se destinam
obrigatoriamente aos inimputáveis que tenham cometido crime punível com reclusão
e facultativamente aos que tenham praticado delito cuja natureza da pena
abstratamente cominada é de detenção. (Art. 97 do CP).

A segunda, tratamento ambulatorial, é medida de segurança restritiva.


Nessa modalidade, são dispensados cuidados médicos à pessoa submetida a
tratamento que não implica internação. Quando sujeito a esse tratamento o
delinquente deve comparecer ao hospital nos dias em que o médico determinar,
para que, de tal forma, seja aplicada a terapia prescrita.

Estão sujeitos a esse tratamento os inimputáveis cuja pena privativa de


liberdade seja de detenção e os semi-imputáveis, na mesma situação. (Arts. 97 e 98
do CP).

Outro ponto a ser analisado é a questão dos crimes tipificados como


hediondos não serem suscetíveis de indulto. Generalizadamente, todos os presos
que tem sua condenação embasada no crime hediondo não podem gozar das
prerrogativas do Art. 107, inciso II do Código Penal, isso, porque a própria
Constituição Federal, lei maior do país, veda tal possibilidade. Analisando assim,
independente da motivação ou mesmo da conduta positiva do preso durante o
cumprimento da pena, os condenados por esses crimes não podem ser
beneficiados.

Apesar do chamamento da sociedade a opinar acerca do tema, cabe uma


análise constitucional. A vedação está expressa no Art. 5º da Constituição Federal,
no seu inciso XLIII, conforme já exposto, que trata dos Direitos e Garantias do
Cidadão. O Art. 60, §4º, que trata das Cláusulas Pétreas, isso é, as que não podem
ser modificadas por emenda constitucional pelo Poder Reformador, traz no seu
inciso IV, os “direitos e garantias individuais”. Pensando nesse aspecto, mesmo que
a sociedade votasse a favor da observação não generalizada do crime tipificado
como hediondo, isso seria inconstitucional, pois o inciso da Constituição Federal
que disciplina a matéria é arrolado como Cláusula Pétrea, podendo ser modificado
apenas pelo Poder Originário, isto é, através de uma nova constituição.

Assim, caberia ao juiz, no momento da expedição da sentença analisar o


caso concreto, não tipificando o crime como hediondo. Sabe-se que a justiça
brasileira carece de análise de caso concreto, até mesmo devido a sua origem
germânico-romana, que trabalha com a codificação como base, levando a aplicação
da lei de forma generalizada. No entanto, o juiz pode, devido ao princípio da livre
convicção fundamentada, analisar o caso de forma concreta e enquadrar a situação
de forma que o acusado possa gozar das prerrogativas do Art. 107 do Código Penal.
Conclusão:

A garantia do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, como determina a


Constituição em seu art. 5º, é a base da sociedade brasileira e dos nossos mais
elevados ideais como nação. Portanto, essa garantia deve ser marcante na
execução da pena, pois é fundamental propiciar condições mínimas ao réu, visando
manter a dignidade do ser humano, tendo em vista que nesse momento está
hipossuficiente frente à sociedade e o Estado.

A aplicação da pena deve sempre atender a culpabilidade, sem esquivar-se


do Principio da Dignidade Humana, apoiado ainda por Princípios Lógicos
Fundamentais, como o Principio da Humanidade das Penas, segundo o qual só se
pode aplicar uma pena que não atente, nem atinja a dignidade da pessoa humana; o
Princípio da Individualização da Pena, com a regra legal que a pena deve ser
adequada e correspondente àquele sentenciado; o Princípio da Não Perpetuação
das Penas, onde determina que as penas não podem ser indeterminadas, elas não
podem ser perpétuas. O atual limite no Brasil é a pena de 30 (trinta) anos; o
Princípio da Proporcionalidade, que defina a compatibilidade entre a pena e o
prejuízo causado, fazendo com que a aplicação da pena justa tenha como base a
pena suficiente.

Desta forma, entende-se que o aprofundamento da consciência acadêmica


sobre a relevância da aplicação do acompanhamento da execução da pena, surge à
possibilidade de um sistema carcerário menos abarrotado e, do alcance da meta de
alcançar um sistema de correção que ressocializa, reabilita e devolve à sociedade
um individuo capaz de se reinserir e viver dignamente.

A aplicação correta dos institutos arrolados no Art. 107 do Código Penal, em


especial o indulto, pode ser a diferença entre um sistema prisional inchado, incapaz
de reabilitar o apenado, e a aplicação do Direito Penal como medida de coibição a
prática de delitos, que tem por finalidade levar o individuo a aprender, através da
punição, a importância do convívio social e o respeito à legislação, gerando a tão
desejada reabilitação do cidadão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL, Constituição. Constituição Federal Brasileira de 1988.

BRASIL, Lei Federal nº 8072, de 25 de julho de 1990 – Crimes Hediondos

BRASIL, Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. – Código Penal.

BITTENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Parte Geral 1.


16ª Ed. Editora Saraiva, São Paulo, 2011.

CAPEZ, Fernando. Direito Penal – Parte Geral – Perguntas e Respostas.


Editora Saraiva, São Paulo, 2007.

MIRABETTE, Júlio Fabrini. Manual de Direito Penal. Parte Geral. 18ª Ed.
Editora Atlas, São Paulo, 2002

Consulta na Internet:

www.correioforense.com.br acessado em 6 de novembro de 2011.

www.amperj.org.br/store/legislacao/leis/L8072_hediondos.pdf, acessado em
6 de novembro de 2011.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Crime_hediondo, acessado em 6 de novembro de


2011.

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