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A CIDADE LÍQUIDA

A cidade movia-se como um barco.


Não.
Talvez o chão se abrisse em algum lado.
Não.
Era a tontura. A despedida.
Não.
A cidade talvez fosse de água.
Como sobreviver a uma cidade líquida?
(Eu tentava sustentar-me como um barco.)
As aves molhavam-se contra as torres.
Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo.
Apodreciam os cabelos, o olhar.
Havia peixes imóveis na soleira das portas.
Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas.
Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos
navios. Rompiam a entrada dos lugares.
As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas
finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhes os
lábios. Não viam. Amavam depressa ao entardecer.
Era o medo da morte.
A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. Era um
espelho de outras cidades costeiras. Quando se aproximava,
inundava os edifícios, as ruas. Acrescentava-se ao mundo.
Naufragava-o.
Os habitantes que a viam aproximar-se ficavam perplexos a olhá-
la, a olhar-se. Morriam de vaidade e de falta de ar.
Os que eram arrastados agarravam-se ao que restava do interior
das casas.
Sentiam-se culpados. Temiam o castigo.
Tantas vezes desejaram soltar as cordas da cidade.
Agora partiam com ela dentro de uma cidade líquida.
(Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)

[Hoje, também os carros dançam.]


Hoje, também os carros dançam.
As casas movem-se levemente.
E eu – que mudei de casa e de roupa, de cidade e de cama, de
palavras...
Eu, que mudei de música e de carro, de saudade, de quarto...
Eu – que mudei de computador e de rua, de eternidade e de
paisagem, de abraço e de clima...
Eu – que mudei de língua e de lágrimas, de deus e de caderno, de
crenças e de céu...
Eu – que mudei de lume, que mudei de medos...
Eu – que mudei de planos, de lençóis, de secretária...
Eu – que mudei de óculos e de rumo, de amigos, de champô, de
rituais e de supermercado...
Eu – que mudei de tudo que em quase nada mudou,
mudei de dentro de mim para dentro de ti, meu amor.
A CIDADE ESQUECIDA
Para o António.

Ela disse: Sou uma cidade esquecida.


Ele disse: Sou um rio.
Ficaram em silêncio à janela cada um à sua janela olhando a sua
cidade, o seu rio.
Ela disse: Não sou exactamente uma cidade. Uma cidade é
diferente de uma cidade esquecida.
Ele disse: Sou um rio exacto.
Agora na varanda, cada um na sua varanda pedindo: Um pouco
de ar entre nós.
Ela disse: Escrevo palavras nos muros que pensam em ti.
Ele disse: Eu corro.
De telefone preso entre o rosto e o ombro para que ao menos se
libertassem as mãos cada um com as suas mãos libertas.
Ela temeu o adeus, disse: Sou uma cidade esquecida.
Ele riu.
ODE LOUCA

Todos os homens têm o seu rio.


Lamentam-no sentados no interior das casas de interior e como
o poeta que escreve a lápis apagam a memória com a sua água.
Os rios abandonam os homens que envelhecem longe da
infância, e eles choram o reflexo absurdo na distância.
Por vezes, enlouquecem os rios, os homens, os poetas nas
palavras repetidas
que buscam uma ode que lhes diga a textura.

Todos procuram o mesmo:


um lugar de água mais limpa ou um espelho que não lhes negue
a hipótese do reflexo.
O rio sofre mais do que o homem, o poeta, porque dele se
espera que nos devolva a imagem de tudo, menos de si próprio.
Todos os rios têm o seu narciso,
mas poucos, muito poucos, o simples reflexo das suas águas.
O PESO DOS LIVROS

Pensava que os livros não têm peso.


Quero dizer, flutuam no entendimento.
Na memória. Ou melhor: equilibram-se porque não são gente.
Não têm noites, não têm insónias. Não têm sono lá dentro.
Pensava que os livros são menos complexos do que nós.
Mesmo quando não temos linha, quando não temos palavra.
Mesmo quando não conseguimos respirar.
Quando pensei nisso, tive uma vaga noção de título.
E um hálito branco a querer ser página.

NOS DIAS TRISTES NÃO SE FALA DE AVES


Nos dias tristes não se fala de aves.
Liga-se aos amigos e eles não estão e depois pede-se lume na rua
como quem pede um coração novinho em folha.

Nos dias tristes é Inverno


e anda-se ao frio de cigarro na mão a queimar o vento
e diz-se – bom dia! – às pessoas que passam depois de já terem
passado
e de não termos reparado nisso.

Nos dias tristes fala-se sozinho


e há sempre uma ave que pousa no cimo das coisas em vez de
nos pousar no
coração e não fala connosco.
Joaquim Castro Caldas
Cançoninho

Ao espreitar de manhã cedo


Ao fogo de Jesus brando
Vi que Deus me tinha dado
Um coração de brinquedo
E canções pró sapatinho

Para o céu mandei-lhe o medo


De que a corda se partisse
Mas Deus lá voltou e disse
Não ter perigo se eu cantasse
Ao fogo de Jesus brando

Ponho a mão a ver se bate


Estala-se-me a lenha no peito
E sinto quanto mais canto
ao fogo de Jesus brando
Sair-me á voz uma ave...

Velho menino do coro


Ainda á espera do solo
Ao fogo de Jesus brando
Estoiro as veias do pescoço
Como cordas a um violino

Ao fogo de Jesus brando


No meu comboio eléctrico
Da infância para o futuro
Eu a vida ainda apanho
Numa estrela apeadeiro.
RESPONSO

deus nos lavre


deus nos lave
deus nos lucre
deus nos leve
deus nos louve
deus nos laive
deus nos largue
deus nos logre
deus nos lace
deus nos ligue
deus nos legue
deus nos lacre
deus nos leme
deus nos lume
deus nos lime
deus nos lixe
tudo menos
deus nos livre
que cada um
é que sabe
da sua liberdade
Lisbon Revisited (l923)

NÃO: Não quero nada. Já disse que não quero nada.


Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas! Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas
completos, não me enfileirem conquistas Das ciências (das ciências,
Deus meu, das ciências!) — Das ciências, das artes, da civilização
moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso
sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo o direito a sê-lo,
ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? Queriam-me o
contrário disto, o contrário de qualquer coisa? Se eu fosse outra
pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham
paciência! Vão para o diabo sem mim, Ou deixem-me ir sozinho
para o diabo! Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço.
Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho! Ah, que maçada
quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância — Eterna verdade vazia e
perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, Pequena verdade onde o
céu se reflete! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! Nada
me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... E enquanto
tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Ruy Belo – O Valor do Vento

Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento


O vento tem entrado nos meus versos de todas as
maneiras
E só entram nos meus versos as coisas de que gosto

O vento das árvores o vento dos cabelos


o vento do inverno o vento do verão

O vento é o melhor veículo que conheço

Só ele traz o perfume das flores só ele traz


a música que jaz à beira-mar em agosto

Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento

O vento actualmente vale oitenta escudos


Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
Portwine

O Douro é um rio de vinho que tem a foz em Liverpool e em Londres


e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios, cria seus lodos em garrafeiras
velhas, desemboca nos clubes e nos bars.
O Douro é um rio de barcos onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas que no rio se afundam as
barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris, tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns, comerciantes trocam por
esterlinos
o vinho que é o sangue dos seus corpos, moeda pobre que são os seus
destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs, no Cabo e no Rio os fazendeiros
ricos acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe, à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue, por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!, Liberta-te, meu povo! – ou morre.

Joaquim Namorado, in 'Antologia Poética'


Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.


Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.


Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"


Heterónimo de Fernando Pessoa
"Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?"

"Que é vento, e que passa,


E que já passou antes,
E que passará depois.
E a ti o que te diz?"

"Muita cousa mais do que isso.


Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram."

"Nunca ouviste passar o vento.


O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti."

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema X"


Heterónimo de Fernando Pessoa
CARANGUEJOLA

Ah, que me metam entre cobertores,


E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...


Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.


Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,


E eu aninhado a dormir, bem quentinho– que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor –
Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,


Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?...
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo –
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.


Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! levem-me prá enfermaria! –
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará..

Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e


tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,


Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores
maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.

Últimos Poemas, Paris, Novembro 1915


ENLATADOS ENLUTADOS

1.

Milhões de notas falsas Com a cara number one Ainda jovem sensual
Washington girls gemendo Autocolantes no período Elegem o seu novo ídolo Já
fora de circulação
Têm pena de uma explosão Do cio telecomandado E das culpas no Pacífico
Têm dó de um terramoto Nas cidades sem cimento E têm fome de si próprias O
epicentro é o medo
E deixam sair o Superman Erótico a um quadradinho Faz tantas ogivas à terra
Que lhes recua o futuro
É tão humano o desespero

2.

lá vai o Papa de mitra anti-bala Passa um milagre sem cobertura


Espalha o seu amor ao ouro maciço Num desses países onde a ONU disse Já não
há gente para morrer à fome
E todo branco no seu andor blindado Um olhar fulminante
e desvia A rota de Richelieu a Maquiavel
Põe a paz multinacional a prazo Crueldade no carimbo do anel

3.

Lunático ouve na Rádio Acção de despejo do Kuwait começou


Lê no jornal compre Sempre em chez nous
E pilha num hipermercado Mil contos em atum
4.

De braguilha aberta Na faixa de Gaza A sorrir para a câmara Uma criança hasteia
No seu precoce tesão A bandeira USA

5.

em Berlim os parvos dos Punks que não percebem os pioneiros


e que já ninguém olha para eles passeiam-se nus de casacos de peles
só para assustar os pobres dos velhos

6.

Miissivas nucleares Viradas para Meca Give Peace a Chance


À mensagem de Mahomet Allah Need Is Love

7.

Jovens árabes aos domingos Ocidentais hipotecados


Nos cais do Sena de manhã Embrulhados em designs caros
Empurram uma velha alemã Para lhe roubar 20 francos

8.

Já há champagne em pó Nas alcovas de Tóquio


Solitárias a dinheiro Onde se fornica sentado
Com o suor do operário O fedor a hamburguers E as senhoras dos pubs
9.

Em frente à Casa Branca Rambo VI come uma pizza


Larga a arma dá em verde Engana-se na guerra
A sua ingénua juventude He doesn’t know his name
Só exige uma retirada Imediata do Vietname

10.

Em Bruxelas kids cansados Inscritos nas legiões


Pedem nas gares aos bigs Que lhes chutem heroína Falsificada nos urinóis
E o caso entregue aos chuis É devolvido aos jornais

11.

No metro de Londres um cartaz Com uma iraquiana e um marine


Despidos até aos limites das leis
Dizem os especialistas que nós Andamos indiferentes demais
E que é preciso mobilizar Todos os sexos disponíveis

12.

Em Orly milhões de gaivotas Não deixam voar os aviões


Barricam as pistas Entopem os reactores
E é só nesses dias Que morrem poetas
TROVAS PARA SEREM VENDIDAS NA Agora que se anuncia
TRAVESSA DE S. DOMINGOS
já estar regulado o tráfico,
inda mal rompera o dia
O repórter fotográfico
foi ver a fuzilaria
foi ver a fuzilaria.
o repórter fotográfico.
Ganhou o prémio do ano
da melhor fotografia.
Vá lá, vá lá, felizmente,
felizmente que ao chegar
Notícias não confirmadas
inda havia muita gente
informam, de origens várias,
que estava por fuzilar.
que as tropas revolucionárias
recentemente cercadas
Numa ridente campina
acabam de ser esmagadas
de papoilas salpicada,
com perdas extraordinárias.
um sol de lâmina fina
cortava a densa neblina
Na redacção do jornal
da metralha disparada.
corre tudo em sobressalto.
A hora é sensacional.
Berrando como vitelos
Toda a gente dormiu mal,
a malta dos condenados
gesticula e fala alto.
avançava aos atropelos
e arrepanhava os cabelos
Passageiros recém-chegados
com gestos alucinados.
do lugar da revolução
viram dúzias de soldados
O repórter já suava,
prontos a ser fuzilados
não tinha mãos a medir;
e muitos já arrumados
ora a máquina carregava,
e amontoados no chão.
apontava e disparava,
ora no chão se agachava,
pulava e gesticulava
com afanosa presteza. Nunca uma cena de horror,
Uma tragédia tão viva,
Há empregos, com franqueza, tão grande e expressiva dor,
nem haviam de existir. alguém teve ao seu dispor
A um tipo de mãos nojentas defronte duma objectiva.
que aos berros sobressaía
gritando frases violentas, Era uma face crispada,
focou-o mesmo nas ventas um olhar perdido e louco,
no momento em que caía. uma boca de xarroco
em lágrimas ensopada.
Mas o melhor não foi isso.
O melhor foi uma velhota Foi uma sorte, realmente.
que pôs tudo em rebuliço. Um desses casos notáveis,
Rápida como um rastilho, bestiais e formidáveis
em convulsivos soluços, que acontecem raramente.
foi estatelar-se de bruços
sobre o corpo do seu filho. Aquelas faces crispadas
correram pelo mundo inteiro
«Meu menino, meu menino! nas revistas ilustradas,
Valha-me a Virgem Maria! em tiragens esgotadas
Que vai ser o meu destino que deram muito dinheiro.
sem a tua companhia?!
Com aquele sentido humano
Mataram-me o meu menino! da justiça e da harmonia,
Filho do meu coração! o repórter todo ufano,
Que vai ser o meu destino ganhou o prémio do ano
sem a tua protecção?!» da melhor fotografia.

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