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DEFINAÇÃO: Denomina-se sutura à união das bordas de uma ferida com fios específicos, de modo a

promover melhor e mais rápida cicatrização.

A sutura faz parte do ato operatório, sendo um procedimento pertencente à síntese.

1 INTRODUÇÃO
O ato operatório é constituído pela diérese, hemostasia e síntese, que englobam os procedimentos
realizados desde a incisão cutânea e da parede, o ato operatório principal (a finalidade da operação), até o
fechamento da parede e, em algumas situações que é necessária a extirpação de um órgão ou de um
segmento tecidual, a esses fundamentos se acrescenta a exérese.

1.1 DIÉRESE
Ato provocado pelo cirurgião para provocar uma solução de continuidade entre tecidos (ou uma via de
acesso), pela utilização de um conjunto de manobras manuais e instrumentais, com finalidade terapêutica,
estando presente em todo e qualquer ato operatório.

1.2 HEMOSTASIA
Conjunto de manobras destinadas a prevenir ou coibir, deter hemorragias. Enquanto a falha na diérese e na
síntese pode significar complicações de intensa gravidade ao paciente, a falha na hemostasia pode
comprometer a vida.

1.3 SÍNTESE
Conjunto de manobras operatórias destinadas a reconstituição anatômica e/ou funcional de um tecido ou
órgão, consistindo em etapa obrigatória da maioria dos procedimentos cirúrgicos. A síntese pode ser feita
por pelo menos cinco métodos: a aproximação das bordas por meio de ataduras ou fitas adesivas; colas
biológicas; aparelhos gessados; hastes metálicas, placas e parafusos; e suturas.

2 INSTRUMENTAL DE SÍNTESE
São porta-agulhas, agulha, pinças anatômicas e “dente de rato”. O porta-agulha tem io papel de substituir
indiretamente a mão do cirurgião. Existem várias formas e tamanhos, adequado a cada especialidade
cirúrgica. O porta-agulha de Hegar é o mais comumente utilizado na prática médica, com comprimento

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variando entre 14 e 30 cm. O profissional responsável pela realização da sutura deve empunhar o porta-
agulha colocando os dedos polegar e anular nos seus anéis, mas sem introduzi-los demasiadamente, a fim
de facilitar o manejo do instrumento. O indicador é apoiado na haste do mesmo. O movimento para abri-lo
e fechá-lo é o mesmo, pressionando-o.

As agulhas cirúrgicas são desenvolvidas a partir de aço inoxidável ou de material constituído por uma liga
metálica com ferro e carbono. O mercado oferece uma grande variedade de diâmetros, desde 0,001
polegada para uso em microcirurgias até 0,45 polegadas para uso em estruturas ósseas. As agulhas podem
ser retas (geralmente utilizadas na pele) ou curvas, existindo grande variedade de formatos e tamanhos.
Quanto ao formato de seu corpo e ponta, os tipos mais frequentemente utilizados são: (1) cilíndricas ou
redondas (secção circular), que penetram nos tecidos por divulsão e são utilizadas em suturas delicadas,
como no tubo digestório e vasos sanguíneos; (2) triangulares ou espatuladas – com arestas cortantes e que
penetram nos tecidos seccionando fibras, são utilizadas em estruturas mais resistentes, como aponeurose e
pele; (3) mistas – corpo cilíndrico e ponta triangular.

3 FIOS CIRÚRGICOS
Os fios cirúrgicos são utilizados durante uma operação com finalidade hemostática (ligadura ou laqueadura
de vasos sanguíneos) e para sutura (em diferentes órgãos e planos anatômicos).

3.1 PROPRIEDADES FÍSICAS


Compreender as propriedades físicas dos fios é de suma importância para a escolha do material apropriado
para cada tecido. Quanto à estrutura ou configuração física, os fios são classificados em monofilamentares
ou multifilamentares.

3.1.1 Monofilamentares
São produzidos por um único filamento, sendo em geral, menos maleáveis do que os multifilamentares.
Geralmente apresentam menor potencial para desenvolvimento de infecções. Exemplos: categute simples
e cromado, polipropileno, poliéster, polidioxanona, colágeno, seda, náilon e aço inoxidável.

3.1.2 Multifilamentares
são vários filamentos torcidos ou trançados entre si, sendo mais flexíveis e de mais fácil manuseio. São mais
ásperos e traumatizantes ao passarem através dos tecidos. Exemplos: linhom algodão, náilon, aço
inoxidável, ácido poliglicólico, poliglactina revestido ou não, poliéster revestido por teflon ou silicone.

3.1.3 Diâmetro
parte-se de um padrão denominada “0”, que apresenta cerca de 0,40 mm de diâmetro; os fios de maior
diâmetro seguem a denominação 1, 2, 3, 4, 5 e 6 (sendo esse o fio de maior diâmetro que é utilizado para
síntese de tecido ósseo) e os fios de diâmetro menor seguem a denominação 00 ou 2-0; 000 ou 3-0, 4-0, 5-
0 até 12-0 (que é o fio cirúrgico de menor diâmetro utilizado em microcirurgias).

3.2 REAÇÃO TECIDUAL


3.2.1 Absorvível

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é aquele que se degrada e desaparece do tecido onde foi implantado. Sendo assim, quando totalmente
absorvido, ele deixa de atuar como corpo estranho, cessando a possibilidade de favorecer a multiplicação
de microrganismos. A absorção pode ocorrer
por ação enzimática ou por hidrólise surgindo à assimilação pelos tecidos durante a cicatrização. Dentre os
absorvíveis temos:
1- Aqueles que são absorvidos em curtíssimo tempo de espaço: categute simples – sete a dez dias;
2- Em curto espaço de tempo: categute cromado – 15 a 20 dias;
3- Em médio espaço de tempo: ácido poliglicólico e poliglactina 910 – 50 a 70 dias;
4- Em moderado espaço de tempo: poliglecaprona – 90 a 120 dias;
5- Em longo espaço de tempo: polidioxanona – 90 na 180 dias e poligliconato – 150 a 180 dias.
3.2.2 Não absorvível
mantém-se no local onde foi utilizado mesmo após a cicatrização tecidual, ou seja, permanecem
definitivamente no tecido, sendo necessária sua retirada. Os materiais não-absorvíveis são encapsulados ou
isolados pelos tecidos ao redor durante o processo de cicatrização. Dentre ele, temos: algodão, linho, náilon,
polipropileno, sendo, poliéster, poliéster com algodão, politetrafluoroetileno e aço inoxidável. Observação:
mesmo sendo classificados como não absorvíveis ois fios de náilon e seda são biodegradáveis após 2 a 3
anos.

3.2.3 Antigenicidade e alergenicidade


fios cirúrgicos manufaturados a partir de polímeros de ácido glicóico não apresentam proteínas de
coplágeno, antígenos, pirógenos em sua superfície, e se situam, junto ao polipropileno, náilon e aço
monofilamentares, como os menos antígenos e alergênicos. Ao contrário, os mais antigênicos e alergênicos
são os categute simples e o categute cromado.

3.3 TIPOS DE APRESENTAÇÃO


Como padrão, todos os fios de sutura são armazenados em um envelope duplo, confeccionado a partir de
material apropriado à esterilização por óxido de etileno ou radiação gama. A maioria dos fabricantes utiliza
uma padronização universal de cores das embalagens, aplicada tanto para os invólucros internos, quanto
para as caixas que os contém, para a fácil e rápida identificação e diferenciação entre os tipos de fios
cirúrgicos.

3.4 TIPOS DE FIOS


3.4.1 Categute
é um fio biológico monofilamentar torcido, nas formas simples e cromado, originalmente formados por
fibras colágenas obtidas da mucosa do intestino delgado de ovinos ou da serosa intestinal de bovinos. O
categute simples pode ser empregado na sutura peritoneal, na bolsa escrotal, no períneo e na
reaproximação do tecido muscular e do tecido celular subcutâneo. O categute cromado pode ser utilizado
no plano total das anastomoses gastrointestinais, peritônio, bolsa escrotal e no períneo; não deve ser
utilizado no plano aponeurótico, pois é um tecido que leva mais tempo para cicatrizar. Os fios categutes
cromado e simples são mantidos em embalagem contendo solução de álcool isopropílico 85% a 95%,
dietiletanolamina, benzoato de sódio e água, pois se deterioram se contidos secos. Comporta-se
biologicamente como corpo estranho, desencadeando uma reação inflamatória intensa ao seu redor, mais
evidente no categute simples.

3.4.2 Ácido Poliglicóico (Dexon)


primeiro fio absorvível sintético a ser lançado comercialmente, em 1970. É absorvido por hidrólise química
dentro de 50 a 70 dias, dependendo do nível de umidade tecidual, mas apresenta perda completa de
resistência tênsil a partir de quatro semanas. Dentre suas vantagens temos: força tênsil praticamente
inalterada por cerca de 21 dias, segurança regular dos nós, mínima reação inflamatória tecidual e taxa de
infecção significativamente menor do que os fios de categute. Seu uso é preconizado em praticamente todos

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os tipos de tecidos: peritoneal, muscular, aponeurose, subcutâneo, e até mesmo na pele, como sutura
contínua intradérmica.

3.4.3 Poliglactina 910 (Vycril)


fio absorvível manufaturado a partir de 90% ácido glicóico e 10% ácido lático. Possui relativamente as
mesmas características do fio ácido poliglicoico, sendo mais flexível e mais maleável, por apresentar um
revestimento lubrificado. É fabricado nas cores branco e violeta, sendo que este último não deve ser
utilizado na pele, sob-risco de levar a processo indesejado de tatuagem. Deve-se evitar o seu uso em
anastomoses pancreáticas sob o risco de sofrer desintegração pelas enzimas pancreáticas.

3.4.4 Poliglecaprona (Caprofyl)


fio sintético monofilamentar absorvível em moderado espaço de tempo (90 a 120 dias), manufaturado pela
associação de ácido glicóico e épsilon-caprolactona. Tem como características um bom manuseio, com
pouco arrasto tecidual, força tênsil regular, pequeno fenômeno de memória, segurança regular dos nós e
ínfima reação tecidual.

3.4.5 Polidioxanona (PDS)


é um fio sintético, monofilamentar absorvível em um longo espaço de tempo e com grande e duradoura
força tênsil, manufaturado a partir da polimerização da paradioxanona. Pode ser utilizado em qualquer tipo
de anastomose no sistema digestório, inclusive nas pancreáticas, apresentando desintegração bem mais
controlada e uniforme.

3.4.6 Poligliconato (Maxon)


fio sintético monofilamentar absorvível por hidrólise, em longo espaço de tempo (em torno de 150 a 180
dias). Apresenta a melhor e mais duradoura força tênsil e maior segurança em relação aos nós. Possui bom
manuseio e pequeno fenômeno de memória. Está indicado em todos os tipos de tecidos (anastomoses do
trato digestório, suturas brônquicas, entre outras) bem como o fechamento da parede abdominal.

3.4.7 Seda
fio biológico trançado multifilamentar não absorvível, fabricado a partir do casulo da larva do bicho-de-seda,
frequentemente corado de preto. É de fácil manuseio, flexível, possui pequena memória e força tênsil que
decai muio lentamente. Seus nós se ajeitam facilmente e são seguros, mas provoca grande reação
inflamatória, podendo potencializar os processos infecciosos. Pode ser utilizado em suturas gastrointestinais
e ligadura de vasos sanguíneos.

3.4.8 Algodão
fio biológico multifilamentar torcido não-absorvível, fabricado a partir do algodão. É bem flexível e possui as
mesmas características do fio de seda, mas tem menos resistência e maior tendência à floculação. O algodão
leva, frequentemente, a grande reação tecidual por que, ao se desfiarem, as fibras separadas aumentam a
resposta tecidual global. Possui como característica fácil manuseio, nós seguros, baixa memória, mas um
grande efeito de capilaridade. É um fio de baixo custo, sendo utilizado em diversos procedimentos como:
anastomoses gastrointestinais, ligaduras de vasos sanguíneos, cardiovasculares, oftalmológicas,
neurológicas e camadas aponeuróticas, mas, devido às inúmeras desvantagens, tende ao desuso.

3.4.9 Linho
fio biológico multifilamentar não absorvível. Assim como o algodão, ganha força tênsil ao ser umedecido em
solução fisiológica antes do seu uso. Ambos propiciam o assentamento bacteriano formando pequenos focos
de abcessos que se situam superficialmente na ferida, fazendo saliência na pele e formando pequenos sios
que não cicatrizarão até que o fio seja removido. Contra-indicado nos casos de sensibilidade ou alergia ao
linho e algodão.

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3.4.10 Náilon
fio sintético, mono ou multifilamentar trançado, não-absorvível. Possui boa tolerabilidade pelo organismo
devido a pequena reação tecidual que acarreta. Apresenta boa e duradoura força tênsil, e pouca ou
nenhuma ação de capilaridade (exceto na forma multifilamentar). Apesar de ter menor efeito de
deslizamento e ser mais maleável, seus nós apresentam tendência a se soltarem (não produz nó firme). Pode
ser encontrado nas cores preta, verde ou azul, além da variável incolor (para uso na pele, sendo os
preferidos). Por ser um fio relativamente inerte, pode ser utilizado em quase todos os tecidos.

3.4.11 Polipropileno
fio sintético, fabricado com propileno polimerizado, monofilamentar, não absorvível. É extremamente liso,
com coeficiente de atrito muito baixo, permitindo suave passagem pelos tecidos e liberação excelente,
quando de remoção dos pontos. Pode ser utilizado mesmo em áreas infectadas. Excelente para implantes
de próteses cardíacas e anastomoses vasculares, mantendo sua força tênsil por tempo praticamente
indefinido.

3.4.12 Poliéster
fio sintético multifilamentar não-absorvível, fabricado com fibras de poliéster trançadas. Determina pouca
reação tecidual e constitui excelente escolha para o fechamento de aponeurose, pela resistência e
integralidade duradouras. Necessita em torno de cinco alças de nós para torna-los seguros e apresenta
média intensidade de fenômeno de memória.

3.4.13 Aço
fio mono ou multifilamentar torcido ou trançado, fabricado a partir de liga de ferro ou carbono, de uso muito
restrito. É o fio de maior força tênsil existente e o que provê menor reação tecidual. Pouco flexível e pouco
maleável, sendo desconfortável para o paciente e o cirurgião, podendo ocasionar ferimentos durante o
manuseio. Os nós comuns são impraticáveis, sendo, por isso, fixados por meio de torção longitudinal de suas
extremidades com uso de pinças. O aço pode rasgar ou escapar do tecido, podendo ocasionar necrose em
decorrência de nó muito apertado. É utilizado em fechamento de parede abdominal e torácica, hérnias de
parede e procedimentos ortopédicos.

A escolha do fio – Características ideais


 Ser flexível;
 Mostrar grande resistência à tração e torção;
 Fácil manuseio;
 Calibre fino e regular;
 Facilidade para o nó cirúrgico;
 Ocasionar pouca reação tecidual;
 Ser facilmente esterilizável;
 Não servir como nicho para assentamento de infecções;
 Ter baixo custo.

4 SUTURAS
4.1 ELEMENTOS DA SUTURA
Agulhas, porta-agulhas, fios, pinça e tesoura.

4.2 TIPOS DE SUTURA


4.2.1 Simples: comum e invertida
este tipo de sutura proporciona boa coaptação da ferida, tanto superficial quanto profundamente. Quando
o nó se localiza acima ou externamente em relação às estruturas, é denominado comum; quando ele se
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localiza no interior do tecido, recebe o nome de ponto invertido. O ponto comum é o mais habitualmente
empregado, devido à facilidade tanto para sua aplicação quanto para sua retirada. Nas suturas da pele
apenas o ponto comum é utilizado. Comumente o ponto simples cutâneo abrange toda a espessura da pele,
acompanhando ou não por uma fina camada superficial de tecido subcutâneo, visando propiciar perfeita
coaptação das bordas.
Duas variantes do pronto simples podem ser utilizadas: o ponto simples epidérmico – comum (abrangendo
a epiderme e uma pequena parte da derme), e o ponto simples dérmico – comum ou invertido (abrangendo
a derme e a camada superficial subcutânea).
O ponto simples epidérmico é uma excelente opção para um bom resultado estético, quando se faz uma
aproximação das bordas, sem a aplicação de tensão. O ponto simples dérmico também é uma boa opção
para um bom resultado estético.

4.2.2. Contínua
Consiste em um tipo de sutura mais rápida e de fácil execução, sendo aplicada em qualquer tecido com
bordas não muito espessas e pouco separadas. À medida que vai sendo realizada a sutura continua, uma
pinça elástica fechada pode ser introduzida entre as alças de fio, permitindo que elas sejam corretamente
posicionadas e possibilitem regularidade na linha.

4.2.3. Continua ancorada


Consiste na realização de um chuleio simples, em que o fio, depois de passado, é ancorado, sucessivamente,
na alça anterior ou a cada quatro ou cinco pontos.

4.2.4. Donatti
É um ponto usado na pele realizado em duas transfixações: uma é perfurante de 5 – 8 mm da borda, inclui
a pele e tecido subcutâneo e a outra transepidérmica a 2 mm da borda, geralmente chamado de ponto
LONGE-LONGE, PERTO-PERTO. Permite uma aproximação uniforme das bordas e boa hemostasia até em
incisões incorretas como biselamento, feridas traumáticas além de epiderme muito delgada.

4.2.5 Intradérmico
Consiste em uma sutura contínua, em grega, com apoio na derme, penetra na pele a 5 mm do vértice da
ferida, saindo na derme média; passa-se a agulha horizontalmente na derme média e alta em ambos os lados
da ferida em direção ao outro vértice; a saída é igual a entrada – na derme média transfixa-se a pele-
subsequentemente realiza-se um nós em cada extremidade. Este ponto proporciona uma cicatriz altamente
estética, livre de impressões de sutura.

4.2.6. Ponto em X, Comum e Invertido


Podem ser executados com os nós para dentro ou para fora, é também conhecido como “Z” ou “8
horizontal”, cruzados ou de esforço. Geralmente utilizados em fígado, baço, pulmão, rim, músculos e
aponeuroses.

4.3. TIPOS DE SUTURAS PREFERENCIAIS EM DIFERENTES TECIDOS

4.3.1. Pele
Pontos separados simples ou de Donatti (delicados), sem tensão, com fio não absorvível ou absorvível em
moderado ou longo espaço de tempo, diâmetro 4-0 ou 5-0. Quando o efeito estético de impõe, deve-se
preferir a sutura contínua intradérmica longitudinal com a utilização de fios não absorvíveis ou absorvíveis
em longo espaço de tempo, diâmetro 5-0 ou 6-0. Em crianças e em mucosas, pode ser utilizado o categute
simples ou cromado para evitar a necessidade de retirada dos pontos (diâmetro 3-0 ou 4-0), como também
em regiões sensíveis como bolsa escrotal ou períneo.

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4.3.2. Tecido Celular Subcutâneo
Muitas vezes opta-se pelo seu não fechamento, desde que as bordas da pele estejam bem coaptadas, devido
a relativa frequência de reações do tipo corpo estranho. Utilizam-se pontos simples separados com fios
absorvíveis, preferencialmente em médio espaço de tempo (diâmetros 3-0 ou 4-0). Deve-se evitar o uso de
categute, devido a intensa reação inflamatória desencadeada.

4.3.3. Aponeurose
Sutura correta da aponeurose é fundamental no fechamento das incisões abdominais. Devem ser utilizados
fios não absorvíveis ou absorvíveis em longo espaço de tempo (diâmetro 0-1 ou 2). Pesquisas prospectivas
randomizadas demonstram que a cuidadosa sutura mencionada, nos pacientes com fatores de risco para
deiscência da parede abdominal, podem ser acoplados alguns pontos horizontais em “U” (semelhante ao
Donatti, diferindo apenas na posição horizontal da alça), com fios similares, para contenção da primeira linha
de sutura.

4.3.4. Musculatura
Em geral se utilizam suturas em pontos simples ou em “U” com fios absorvíveis em curto ou moderado
espaço de tempo, apenas no sentido de aproximação das bordas, sem tensão (diâmetro 2-0 ou 3-0). Devem
ser evitados pontos muito apertados para não ocorrerem isquemia e esgarçamento teciduais.

4.3.5. Peritônio
Pode ser um tecido ricamente vascularizado, e de rápida e fácil cicatrização, pode ser suturado com chuleio
simples, empregando fios absorvíveis em curto ou moderado espaço de tempo (diâmetro 0 ou 2-0). Mais
recentemente, numerosos trabalhos demonstram que esse plano não deve ser suturado e que seu
fechamento se acompanha de aumento da incidência de aderências aos órgãos da cavidade abdominal.

4.3.6. Vasos Sanguíneos


De modo geral, as suturas vasculares em adultos são realizadas com chuleios simples, sempre com fios não
absorvíveis (diâmetro 5-0 ou 6-0). As anastomoses arteriais com enxertos sintéticos são dependentes
indefinidamente do fi ode sutura, sai a necessidade de se usar o fio mais adequado, o polipropileno.

4.3.7. Tubo Digestório


Podem ser feitas suturas em um ou dois planos. Quando utilizada em plano único extramucoso, tanto pode
ser com pontos separados simples com fio não absorvível ou absorvível em médio ou longo espaço de
tempo, como alguém também com chuleio simples, com os mesmos tipos de fios. Quando realizada em dois
planos: o primeiro – total, incluindo a mucosa – deve ser realizado com chuleio simples com fios absorvíveis
(diâmetro 3-0, desde o categute cromado até aqueles absorvidos em médio ou longo espaço de tempo); e o
segundo – seromuscular – com fios não absorvíveis ou absorvíveis em médio ou longo espaço de tempo
(diâmetro 3-0 ou 4-0).

4.3.8. Vias Biliares


Os melhores fios para o uso nas vias biliares são os absorvíveis em moderado ou longo espaço de tempo
(diâmetro 4-0, 5-0 ou 6-0, com agulha atraumática). Na dependência da experiencia do cirurgião, podem ser
utilizadas suturas contínuas ou com pontos separados.

4.3.9. Fígado e Baço


As suturas no fígado e no baço são quase sempre realizadas em situação crítica, frequentemente em
pacientes politraumatizados, com instabilidade hemodinâmica. As feridas hepáticas devem ser suturadas
com pontos separados, ou pequenos chuleios, com utilização de fios absorvíveis tipo categute cromado, ou

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sintético, como ácido poliglicólico, poliglactina 910 e polidioxanona (diâmetro 2,1,0). Os mesmos fios podem
ser utilizados somente com diâmetro pouco menos (0 ou 2-0).

4.3.10. Vias Urinárias


Suturas uretrais ou vesicais devem ser realizadas com fios absorvíveis em médio a moderano espaço de
tempo, como ácido poliglicólico, poliglactina 910 e polidiocanona, também sendo muito empregado o
categute cromado. Anastomoses útero-uterais devem ser realizadas com pontos separados (fios com
diâmetros 4-0 ou 5-0), ao passo que suturas vesicais podem ser realizadas com suturas continuas (fios 2-0
ou 3-0)

5. CICATRIZAÇÃO
Os fios de sutura cutânea deveram ser mantidos apenas enquanto exercerem a função de manter a
aproximação das bordas teciduais, geralmente em torno de 7 a 10 dias. A cicatrização é um processo natural
em que o organismo procura restabelecer a continuidade dos tecidos lesados e se processa por meio de três
fenômenos: angiogênese, proliferação celular e formação de tecido fibroso.

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6. DIRETRIZES BÁSICAS PARA A SUTURA
Algumas diretrizes básicas são utilizadas com a finalidade de se obter uma linha de sutura eficaz:

6.1. Manipulação e apresentação dos tecidos


Para se efetuar uma sutura, as bordas teciduais devem ser elevadas e apresentadas (primeiro uma borda e
depois a outra) com uma pinça elástica que as mantêm reparadas, uma de cada vez, de modo que possam
ser comodamente transfixadas pela agulha. Geralmente, se utilizam uma pinça delicada com dentes
delicados, tipo Adson (ou sem dentes), para sutura em tecidos friáveis, e uma pinça dente de rato mais
robusta para os tecidos mais resistentes.

6.2. Colocação da agulha no porta-agulha


Comumente, a agulha é presa em sua parte média (ou pouco atrás) pelo porta-agulha; a preensão muito
próxima a ambas as extremidades pode quebrá-la. Habitualmente, sua ponta direcionada para cima e à
esquerda (considerando-se um porta-agulha empunhado). Existem inúmeros modelos de agulhas, que se
ajustam, virtualmente, a qualquer necessidade.

6.3. Direção da linha de sutura


Quando os cirurgiões destros realizam suturas com agulhas curvas ou retas, contínuas ou descontínuas,
comumente se iniciam da direita para a esquerda, com a pinça que mantém as bordas a serem suturadas
sendo sustentada por sua mão esquerda; com agulhas curvas, o sentido da sutura é da borda distal para a
proximal, em relação ao seu posicionamento; com agulhas retas, o sentido se inverte, indo da borda proximal
para a distal.

6.4. Transfixação das bordas

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A passada da agulha pelas duas bordas do tecido pode ser feita em um ou dois tempos. A transfixação em
um único tempo é mais rápida e pode ser realizada sempre que a agulha tenha comprimento suficiente para
atravessar ambas as bordas e os tecidos sejam pouco resistentes. Quando os tecidos são muito rígidos,
prefere-se a passada em dois tempos, uma borda de cada vez.

6.5. Extração da agulha


As agulhas devem ser extraídas dos tecidos em que foram passadas de acordo com a sua forma e com a
direção de suas pontas. Assim, uma agulha curva deve ser tracionada para cima de modo a completar o
semicírculo semelhante a sua forma; similarmente, uma agulha reta deve ser tracionada para adiante, e
somente após transfixa totalmente as duas bordas, deve ser apontada para cima.

6.6. Secção do fio cirúrgico excedente

Princípios fundamentais da síntese:

- Usar instrumental e material adequado a cada tecido ou órgão;


- Usar a menor quantidade possível de corpo estranho ao organismo, desde que respeitada a segurança;
- Não permitir que as bordas da ferida fiquem sob tensão;
- Não suturar em plano único, estrutura com espessura superior a 1 cm;
- Não deixar espaço morto;
- Não apertar excessivamente os nós, nem torcê-los.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

MARQUES, Ruy Garcia. Técnica operatória e cirurgia experimental. Editora Guanabara Koogan, Rio de
Janeiro, 2005.
GOFFI, Fábio Schimidt. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. Editora
Atheneu, 4° edição, São Paulo, 2007.
MONTEIRO & SANTANA. Técnica cirúrgica. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006.

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