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OTÁVIO AUGUSTO BARBOSA DE OLIVEIRA

TRÁFICO DE PESSOAS: UMA ANÁLISE AOS PLANOS NACIONAIS


DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Palmas, TO
2018
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Otávio Augusto Barbosa de Oliveira

Tráfico de Pessoas: Uma análise aos Planos Nacionais de Enfrentamento ao


Tráfico de Pessoas.

Trabalho de Curso em Direito II (TCD II), do


Curso de Direito do Centro Universitário
Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Orientadora: Prof. Msc. Ana Cassia Milaré de


Carvalho

Aprovado (a) em: ______/______/______

BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Prof.ª [nome e titulação do Professor (a)
Centro Universitário Luterano de Palmas
_________________________________________________
Prof.ª. [nome e titulação do Professor (a)
Centro Universitário Luterano de Palmas
__________________________________________________
Prof.ª. [nome e titulação do Professor(a)]
Centro Universitário Luterano de Palmas

Palmas, TO
2018
10

Agradeço a Deus por ter me acompanhado


durante esta longa jornada, aos meus pais,
Roussean e Lusinete, a minha Orientadora Prof.
Msc. Ana Cassia Milaré de Carvalho. A todos
os meus amigos que acompanharam minha
jornada acadêmica. Obrigado.
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RESUMO

O presente trabalho, utiliza-se método dedutivo e de abordagem qualitativa, e possui como


principal escopo informar a sociedade sobre os perigos que Tráfico de Pessoas representa
atualmente, um crime complexo, transnacional e silencioso. De acordo com o Protocolo de
Palermo, promulgado pelo Brasil em 12 de março de 2004, por meio do decreto nº 5.016, o
Tráfico de Pessoas é a terceira modalidade criminosa mais lucrativa do mundo, ficando atrás
somente do tráfico de Drogas e de Armas. No decorrer do presente trabalho, será demonstrado
dados oficiais divulgado pelo Ministério da Justiça, Conselho nacional do Ministério Público,
Defensoria Geral da União entre outros órgãos de combate ao tráfico de pessoas, referentes as
características do crime, das vítimas, dos aliciadores, suas principais modalidades previstas hoje
no ordenamento jurídico brasileiro, mediante o art. 149-A do Código Penal. Por fim, também
será abordado as estatísticas oficiais quanto aos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico
de Pessoas elaborado pelo Brasil, assim como, as novas metas atribuídas neste ano de 2018.

Palavra-Chave: Tráfico de Pessoas. Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.


Protocolo de Palermo.
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LISTA DE ABREVEATURAS

UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes


CPB – Código Penal Brasileiro
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PNETP – Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
MT – Ministério do Trabalho
TRT – Tribunal Regional do Trabalho
SDH – Secretária de Direitos Humanos
Ministério dos Direitos Humanos
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
VIVA/SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificações
SIT/MTE – Secretária de Inspeção do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego
CNJ – Conselho Nacional de Justiça
CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
DAC - Divisão de Assistência Consular
NETP – Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
CNMP – Conselho Nacional do Ministério Público
GTI – Grupo de Trabalho Interministerial
GT – Grupos de Trabalho
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INTRODUÇÃO

1 – CONCEITO DE TRÁFICO DE PESSOAS ................................................................... 16


1.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRÁFICO DE PESSOAS............................................ 16
1.2 - DEFINIÇÃO ATUAL DE TRÁFICO DE PESSOAS ADOTADO PELO BRASIL ...... 19
1.3 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE AO TRÁFICO DE PESSOAS ............. 21
1.4 – TRÁFICOS DE PESSOAS E O TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS A DE
ESCRAVO ............................................................................................................................... 23
2 – PARTICULARIDADES DO TRÁFICO DE PESSOAS .............................................. 29
2.1- O PERFIL DAS VÍTIMAS DO TRÁFICO DE PESSOAS .............................................. 29
2.1.1 – Sexo das Vítimas do Tráfico de Pessoas ................................................................... 30
2.1.2 – Faixa Etária das Vítimas ............................................................................................ 31
2.1.3 – Cor/Raça das Vítimas do Tráfico de Pessoas ........................................................... 32
2.1.4 – Grau de Escolaridade das vítimas do Tráfico de Pessoas ....................................... 33
2.1.5 – Estado Civil e Zona Habitacional das Vítimas do Tráfico de Pessoas ................... 33
2.1.6 – Nacionalidade das Vítimas do Tráfico de Pessoas ................................................... 33
2.2 – O PERFIL DOS ALICIADORES E SUAS CARACTERÍSTICAS ......................... 34
2..2.1 – Sexo dos traficantes/Aliciadores ............................................................................... 34
2.2.2 – Da Faixa Etária e da Relação das Vítimas com os Traficantes .............................. 35
2.3 – AS ROTAS INTERNAS DO TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL .......................... 36
2.4 – PRINCIPAIS MODALIDADES DO TRÁFICO DE PESSOAS .................................... 37
2.4.1 – Remoção de Órgãos .................................................................................................... 37
2.4.2 – Tráfico de Pessoas para a Exploração sexual .......................................................... 38
2.4.3 – Tráfico de Pessoas com a Finalidade de Trabalho em Condições Análogas a de
Escravo .................................................................................................................................... 39
3 – PLANOS NACIONAIS DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS NO
BRASIL ................................................................................................................................... 43
3.1 – I PLANO NACIONAL DE ENFRETAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ........... 43
3.2 – II PLANO NACIONAL DE ENFRETAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ......... 45
3.2.1 – Linha Operativa 2....................................................................................................... 46
3.3 – III PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS ..... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 55
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INTRODUÇÃO

Este presente trabalho de conclusão de curso abordará a sistemática do tráfico de


pessoas em âmbito nacional com uma análise sobre a Política Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas, um mal que afeta a sociedade contemporânea desde os tempos da Colônia.
Por este motivo, vislumbra-se a importância da realização de estudos e debates acerca do tema,
visando esclarecer os aspectos do delito.
Destarte, o tráfico de pessoas caracteriza-se como a terceira modalidade criminosa
mais lucrativa do mundo, razão pela qual, é um dos assuntos mais debatidos entre as
organizações internacionais de proteção aos Direitos Humanos.
A prática do tráfico de seres humanos afronta diretamente os princípios fundamentais
elencados no rol do arts. 1º, 5º e 7º, todos da Constituição Federal de 1988, tais como o direito
a dignidade da pessoa humana, direito a vida, direito de ir e vir, direito ao livre exercício do
trabalho, ao de ninguém ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante etc.
O principal documento que estabelece as diretrizes para o enfrentamento ao tráfico de
pessoas nos dias atuais e que conceitua internacionalmente o delito se refere ao Protocolo
Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo
à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças.
Conceito este descrito em seu art. 3º, e adotado pelo Brasil em 2004 pelo Decreto 5.017 e
criminalizado pelo Código Penal Brasileiro.
No entanto, apenas no ano de 2016 que o Brasil tipificou corretamente as demais
modalidades do tráfico de pessoas, como o trabalho em condições análogas a de escravo,
remoção de órgãos, servidão no art. 149-A do Código Penal.
Este presente trabalho, possui um enfoque mais social, buscando demonstrar à
sociedade as mazelas que o tráfico de pessoas acarreta atualmente, assim como, com base em
relatórios e diagnósticos divulgado pelo Ministério da Justiça, as características das vítimas e
dos traficantes, as Políticas Públicas de Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos,
abordando os Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
Deste modo, o presente trabalho está dividido em 3 capítulos, onde abordará;
O primeiro capítulo dispõe sobre a parte histórica do tráfico de tráfico de pessoas;
conceito adotado pelo Brasil; o que diz a legislação brasileira quanto ao delito de tráfico de
seres humanos etc.
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Já o segundo capítulo abordará dados extraídos do Relatório Nacional Sobre Tráfico


de Pessoas: Dados de 2013, do Ministério da Justiça; do Conselho Nacional do Ministério
Público; da Defensoria Geral da União, dentre outros órgãos.
E o terceiro capítulo aborda sobre os 03 (três) Planos Nacionais de Enfrentamento ao
Tráfico e Pessoas, debatendo algumas das suas principais metas para prevenção, repressão,
responsabilização dos autores e assistências às vítimas do tráfico de pessoas.
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1 – CONCEITO DE TRÁFICO DE PESSOAS

Neste primeiro capítulo, o intuito do presente estudo tem como principal finalidade
expor à sociedade os principais pontos sobre o Tráfico de Pessoas, como sua evolução histórica,
definição aceita atualmente acerca do delito, como a legislação brasileira se refere a respeito
desse crime, e a correlação entre o tráfico de pessoas e o trabalho em condições análogas a de
escravo.

1.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRÁFICO DE PESSOAS

O tráfico de pessoas é uma das espécies delituosas mais velhas do mundo, e ainda
assim, umas das práticas mais comuns na atualidade, não falando só em território nacional, mas
também a nível internacional. É um problema que todos os governos tentam há muito tempo
combater, contudo, umas das grandes barreiras encontradas são o baixo risco e um dos
procedimentos mais vantajosos, seja com a finalidade de exploração sexual, remoção de órgãos,
trabalho análogo a de escravo, adoção ilegal entre outros.
Visualiza-se a conduta do tráfico de seres humanos desde primórdios da humanidade,
passando pelas sociedades dos sumérios, egípcios, gregos, romanos até os dias atuais. Deste
modo, pode-se afirmar que, infelizmente a conduta da prática do tráfico de pessoas está na
natureza do ser humano desde a antiguidade, após vários anos, presencia-se essas práticas.
Como citado anteriormente, Rogério Greco (2017 p. 498) constata o mesmo problema,
quando ele cita que o tráfico de pessoas não é uma atividade criada pela sociedade
contemporânea, mas sim pelas antigas sociedades que se usufruíam da conduta para se
beneficiar principalmente da mão de obra barata para trabalhos laborais no campo.
Ainda de acordo com o Rogerio Greco (2017, p. 500), o tráfico de pessoas, seja para
qualquer dos meios existentes, exploração sexual, trabalho forçado, servidão (...), é uma das
atividades mais lucrativas do mundo, a 3º melhor dizendo, ficando atrás somente para o tráfico
de drogas e de armas.
Seguindo o mesmo entendimento de acima supracitado, Guillermo Julio Fierro (2007,
P 17, apud, GRECO, 2017 p.499) explica como o tráfico de pessoas virou de fato um negócio
comercial:

(...)O tráfico de seres humanos e a sua introdução e saída ilegal em diferentes países
do mundo se converteu em um negócio infame que gera enormes benefícios a quem
explora, aproveitando-se dos altos níveis de pobreza, desemprego, fatores sociais e
culturais adversos, como a violência contra a mulher e as crianças, os migrantes
carentes de recursos, de tal sore que eles são vítimas de vendas, exploração sexual
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mendicância, pornografia infantil, trabalhos forçados obtidos mediante o engano e a


força.

No Brasil, estima-se que se iniciou o tráfico de pessoas a partir do ano 1500,


principalmente por meio da mão-de-obra escrava trazida para o país, para atividades por
exemplo da produção do açúcar e na mineração. Os primeiros a ser escravizados foram os
indígenas e posteriormente os africanos, no qual eram submetidos ao trabalho cansativo e
pesado.
Nos dias atuais, o trabalho escravo, como aquele praticado na época do Brasil Colônia,
mudou-se drasticamente, até pela abolição decretada pela Princesa Isabel como se demonstrará
em momento oportuno, mas está mão-de-obra escrava se amoldou aos novos conceitos globais,
de uma forma mais maquiada, abarcando novos formatos de trabalho obrigado.
Essas “novas formas de trabalho forçado”, no entendimento de Marcia Vasconcelos w
Andréa Bolzon (2008, p. 4), nada mais é:

Como aquelas relacionadas ao fenômeno da migração e à exploração de trabalhadores


e trabalhadoras migrantes fora de seus países ou comunidades de origem, neste
aspecto, tendo forte interface com a questão do tráfico interno e internacional de
pessoas.

Essas novas situações que vem se multiplicando a cada ano, se caracteriza


principalmente na justificativa da vontade/necessidade das pessoas na busca de uma vida
melhor, uma sustentabilidade financeira estável, com isso, os aliciadores do tráfico de seres
humanos se aproveitam das situações em que se encontram as vítimas.
O tráfico de pessoas pode ser confundido facilmente com outra modalidade delituosa
abarcada pela legislação brasileira, em razão de possuir características similares, qual seja, a
escravidão. No entanto, a escravidão possuí como principal finalidade o trabalho servil,
enquanto o tráfico de pessoas tem como objetivo principal a atividade lucrativa
(FALANGOLA, 2013). Ou seja, a característica primordial do tráfico de pessoas é o
recrutamento de pessoas para serem explorados de alguma forma (sexualmente, para retiradas
de órgãos, inclusive para o trabalho em condições análogas a de escravo).
Em 1808, o tráfico de pessoas foi considerado crime diante da sociedade, em virtude
deste fato, o Brasil, décadas após, sob forte influência internacional, aboliu a conduta do tráfico
de seres humanos, pelo menos na teoria, coisa que na prática, sabe-se ser equívoca esta
afirmação. Embora abolida a conduta do tráfico de pessoas pelas autoridades brasileiras, sua
presença é de fácil identificação no mundo moderno, pois as atividades laborais análogas a de
escravo e a exploração sexual é uma das formas mais visíveis do tráfico de seres humanos na
atualidade.
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Diante de tais situações, os organismos internacionais, inclusive os governos


soberanos, se viram em uma posição bastantes pressionados a legislar sobre normas legais de
prevenção, persecução (repressão), proteção a vítima e a parceria entre Estados e a sociedade.
No entendimento de Damásio de Jesus (2003), para se falar na evolução histórica do
tráfico de pessoas, é essencial discutir sobre os tratados e acordos assinados entre os países ao
longo da história. Estes tratados, buscava a todo custo, desde décadas atrás prevenir e
responsabilizar os agentes que de alguma forma contribuíam para execução do tráfico de seres
humanos.
Contudo, apenas em 1904, na cidade de Paris, França, ocorreu o primeiro acordo
internacional referente a normas regulamentadoras sobre o tráfico de seres humanos, convertido
em Convenção anos após. Convenção esta denominada de “Acordo para a Repressão do Tráfico
de Mulheres Brancas”. (DE CASTILHO, 2008).
Em 1910, também na França, houve o “Acordo Internacional para a Repressão do
Tráfico de Escravas Brancas”. A partir deste documento, os órgãos internacionais “passaram a
conceituar o tráfico e exploração da prostituição como infrações criminais puníveis com pena
privativa de liberdade e passíveis de extradição”. (DE CASTILHO, 2008).
Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU), aderiu à “Declaração universal
dos Direitos Humanos”, no qual previa como direitos fundamentais para qualquer indivíduo o
direito à liberdade de ir e vir e a dignidade da pessoa humana. (FALANGOLA, 2013).
Nesta linha temporal, o ano de 1950 ficou caracterizado pela criação de um dos
principais tratados internacionais quanto ao combate do tráfico de pessoas, então nomeado
como “Convenção e Protocolo Final para a Supressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio”,
sancionado pelo Brasil em 1959 pelo Decreto nº 46.981. (CABREIRA, 2016).
No ano de 1993, na cidade de Viena, na Áustria, houve a “Conferência Mundial das
Nações Unidas sobre Direitos Humanos”, em 1995 na cidade de Beijing - China, a “Conferência
Mundial sobre a Mulher”, onde acentuou o posicionamento, que o tráfico de seres humanos é
um ato criminoso que afronta o brio do ser humano e a liberdade individual da pessoa.
Na virada do século XX para o século XXI, mais especificadamente no ano de 2000,
ocorreu a principal Convenção Internacional sobre o tráfico de pessoas, inclusive admitida pelo
Brasil em 12 de março de 2004, quando foi editado o Decreto nº 5.017. Este, então denominada
de “Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à
Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial mulheres e crianças”, ou
igualmente conhecida como Protocolo de Palermo. (GRECO, 2017).
Umas das principais evoluções ocasionadas pelo Protocolo de Palermo foi o aumento
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na abrangência da proteção à vítima do tráfico de pessoas, pois antes de sua criação, apenas às
vítimas de exploração sexual eram juridicamente protegidas. Por outro lado, com a nova
redação, qualquer meio de exploração (seja trabalho em condições análogas a de escravo,
remoção de órgãos, servidão, exploração sexual), são juridicamente amparados pela legislação
brasileira (SANTOS, 2016, 15).
Os países de terceiro mundo, também conhecidos como “em desenvolvimento”, em
razão da busca necessária de sobrevivência, ficam vulneráveis às práticas abusivas e criminosas
do tráfico de pessoas.
Como o crime de tráfico de pessoas é uma modalidade datada de muito tempo atrás, e
estando presente até os dias atuais, percebe-se ser uma prática de difícil combate. Por isso,
internacionalmente há uma grande preocupação em reprimir essa conduta delituosa, em virtude
disso, o Brasil, acompanhado por vários outros países membros do Protocolo de Palermo
ratificaram ao longo das décadas diversas convenções e tratados, com a finalidade de tentativa
de erradicação desta prática.
Diante de tais fatos, concluiu-se importância de todos os Estados membros do
Protocolo de Palermo possuírem lei específica de repressão, combate e responsabilização ao
tráfico de pessoas, em todas as modalidades previstas. O Brasil, não se esquivando destas
responsabilidades, adotou o conceito de tráfico de pessoas expressa no Protocolo, como a
demonstrará a seguir. Inclusive, criou norma penal específica tipificando a conduta como
prática criminosa.

1.2 - DEFINIÇÃO ATUAL DE TRÁFICO DE PESSOAS ADOTADO PELO BRASIL

No Brasil, após a assinatura do Protocolo de Palermo, aderiu-se à definição trazida


pela Convenção, esta mesma, sendo a primeira a instituir uma definição aceita no cenário
internacional de tráfico de pessoas (CUNHA, 2017 p. 224).
Deste modo, o art. 3º, do Protocolo de Palermo, adotado pelo Brasil por meio do
Decreto nº 5.017/04, apresenta a principal concepção de tráfico de pessoas aceita no cenário
internacional, o qual ocorre quando há, in verbis:

a) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de


pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto,
à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à
entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma
pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração
incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de
exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares
à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos;
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b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer


tipo de exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado
irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);
c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de
uma criança para fins de exploração serão considerados "tráfico de pessoas" mesmo
que não envolvam nenhum dos meios referidos da alínea a) do presente Artigo;
d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.
(BRASIL, 2004).

De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), o
Tráfico de Pessoas está caracterizada em 3 elementares específicos, quais sejam: O ato, que se
estabelece pelo recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou o acolhimento de
pessoas; os meios, que se define pela ameaça ou uso da força, coerção, abdução, fraude, engano,
abuso de poder ou de vulnerabilidade, ou pagamentos ou benefícios em troca do controle da
vida da vítima; e o objetivo, seja Para fins de exploração, que inclui prostituição, exploração
sexual, trabalhos forçados, escravidão, remoção de órgãos e práticas semelhantes.
Ainda de acordo com o UNODC, “para verificar se uma circunstância particular
constitui tráfico de pessoas, considere a definição de tráfico no protocolo sobre tráfico de
pessoas e os elementos constitutivos do delito, conforme definido pela legislação nacional
pertinente”.
Em outras palavras, o tráfico de pessoas, com base no disposto no art. 3º do Protocolo
de Palermo, incide em:
Comercializar, escravizar, explorar e privar vidas, caracterizando-se como uma forma
de violação dos direitos humanos por ter impacto diretamente na vida dos
indivíduos. Se houver transporte, exploração ou cassação de direitos, o crime pode ser
classificado como tráfico de pessoas, não importa se há supostamente um
consentimento por parte da vítima. (IGNACIO, 2018).

Assim sendo, diante a definição de tráfico de pessoas regulamentada pelo Protocolo


de Palermo e aderida pelo Brasil, todo ato de recrutar, transportar, transferir, abrigar ou receber
pessoas, seja por qualquer meio, força ou fraude, entre outros meios acima aludidos, caracteriza
a conduta do crime previsto no art. 149 – A do Código Penal Brasileiro (CPB).
Sendo assim, em conformidade com a definição regulamentada pelo Protocolo de
Palermo, ocorre o tráfico de pessoas quando:

A vítima é retirada de seu ambiente, de sua cidade e até de seu país e


fica com a mobilidade reduzida, sem liberdade de sair da situação de
exploração sexual ou laboral ou do confinamento para remoção de
órgãos ou tecidos. A mobilidade reduzida caracteriza-se por ameaças à
pessoa ou aos familiares ou pela retenção de seus documentos, entre
outras formas de violência que mantenham a vítima junto ao traficante
ou à rede criminosa. (THEBRIDGE, 2013).
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Ou seja, o tráfico de pessoas tem como fundamental intenção a exploração da vítima,


só assim, dependendo de qual situação que lhe encontra (exploração sexual, trabalho forçado
etc.), há uma forma diferenciada de tratamento, para repressão ao crime.
Neste sentindo, explica Maria Vasconcelos e Andréa Bolzon:

(...) se o cerne do conceito de tráfico de pessoas, de acordo com a definição do


Protocolo de Palermo, é a exploração, é fundamental entender a lógica que sustenta
essa exploração à luz do conceito de trabalho forçado, sempre considerando sua
interface com as questões de gênero e com aspectos de oferta e demanda de mão-de-
obra relacionada às migrações. Vasconcelos; Bolzon (2008 p. 67).

O Brasil é um dos principais países considerados pelos Órgãos Internacionais de


combate ao tráfico de pessoas como local de origem, trânsito e destino.
A atividade da agricultura é uma das principais causas da ampliação significante do
número de pessoas traficadas com o intuito do trabalhar em condições análogas a de escravo.
Vale destacar, que o rol do art. 3 do Protocolo de Palermo é unicamente exemplificativo,
porque ao se falar “no mínimo”, ele destaca que a outros tipos de exploração não estão ali
elencados.
Realçando o conceito de tráficos pessoas previsto pelo Protocolo de Palermo, não se
deve confundir o crime tráfico de pessoas com a modalidade de tráficos de imigrantes, embora
possuam algumas raras semelhanças, a definição básica do tráfico de imigrantes está previsto
expressamente no art. 3º do Decreto nº 5.016 de 2004, denominado de “Protocolo Adicional à
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, relativo ao Combate
ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea” ou chamado de Protocolo de
Imigrantes, in verbis:

A expressão ‘tráfico de imigrantes’ significa a promoção, com o objetivo de obter,


direta ou indiretamente, um benefício financeiro ou outro benefício material, da
entrada ilegal de uma pessoa num Estado-Parte do qual essa pessoa não seja nacional
ou residente permanente. (BRASIL, 2004).

Isto é, o tráfico de imigrantes prevê como prática delituosa o fato de adentrar alguém
em território estrangeiro de maneira irregular, buscando uma lucratividade. Enquanto o tráfico
de pessoas prevê o recrutamento de pessoas com o intuito de serem oprimidos de alguma forma,
restringido sua liberdade individual a determinado local.

1.3 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA REFERENTE AO TRÁFICO DE PESSOAS

Após a ratificação do Protocolo de Palermo frente a um Decreto-Lei, o Brasil se


encontrava na necessidade de criar uma infração penal que tivesse por finalidade reprimir as
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possíveis práticas das condutas prevista no art. 3º do Protocolo de Palermo, inclusive


protegendo as vítimas, finalidade está prevista no preâmbulo do Protocolo.
O Protocolo de Palermo, dispõe em seu art. 5, parágrafo primeiro, que todos os países
que adotaram o protocolo estão livres para dispor sobre a infração penal em suas legislações
respectivamente. Ou seja, se o crime foi praticado de forma proposital, deve ser punido
penalmente.
Deste modo, o tráfico de pessoas era reprimido pelo ordenamento jurídico brasileiro
somente nas modalidades previstas nos artigos 231 (tráfico internacional) e 231-A (tráfico
interno) do Código Penal Brasileiro (CPB). As outras hipóteses previstas por exemplo no
Protocolo de Palermo também eram criminalizadas, no entanto, ou por artigos próprios ou por
lei específica. Assim, muitas das vezes, a conduta não era associada pela legislação brasileira
ao tráfico de pessoas.
No ano de 2016, os artigos 231 e 231-A foram revogados pelos artigos. 13 e 16 da Lei
nº 13.344 de 6 de outubro de 2016, o qual agregou ao CPB a tipificação de tráfico de pessoas
citado pelo Protocolo de Palermo, no então art. 149-A (CABETTE, Eduardo. 2017). Um dos
motivos para essa modificação foi o entendimento dos legisladores que decidiram aumentar o
leque de proteção ao ser humano, como bem jurídico protegido a liberdade individual, mas
também, adequar legislação brasileira aos tratados e acordos pelo brasil assinado. Assim,
explica a doutrina:

O crime dos arts. 231 e 231-A tinham como bem jurídico a moral pública sexual, e
num sentindo mais amplo, a dignidade sexual (GRECO, 2016 p. 180). Enquanto que
o bem juridicamente protegido do art. 149-A é a liberdade individual, haja vista
encontrar-se inserido no Capítulo intitulado Dos Crimes Contra a liberdade Individual
(SOUZA. 2017 p. 21).

A Lei nº 13.344/16 também modificou as penas majorantes e atenuantes a respeito do


tráfico de pessoas. Em relação às majorantes houve um acréscimo há pena de 1/3 (um terço)
até metade do valor da pena, nos casos de o delito ser realizado por funcionário público no
exercício de suas funções; contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência; se a
vítima for retirada do território nacional entre outras causas expressa no parágrafo primeiro do
art. 149-A CPB. Já a atenuante, está disposta no parágrafo segundo do mesmo artigo, no que
tange que a pena é reduzida de 1 a 2/3 (dois terços) se o agente for primário e não integrar a
organização criminosa (CUNHA, 2017 p. 234-236).
Ademais, o Código Penal Brasileiro não contextuava uma tipificação correta ao tráfico
de pessoas, mas tão somente a finalidade de exploração sexual, que ao tempo de criação do
então CPB, era a modalidade mais preocupante no cenário nacional, que só posteriormente a
23

edição ao Código de 1940, pela Lei nº 13.344/16, o Brasil regulamentou uma tipificação correta,
englobando todas aquelas modalidades de exploração prevista no art. 3º do Protocolo de
Palermo, acrescidas então pelo art. 149-A Código Repressor. Assim explica o Procurador do
Trabalho Renan Bernardi Kalil.

Assim, nota-se que o conceito de tráfico de pessoas atualmente vigente no Brasil é


muito mais amplo e complexo do que as imagens que a maior parte da população
associa de forma imediata a esse fenômeno. Isso produz diversas implicações
negativas, sendo que a principal é a dificuldade do reconhecimento de outras faces do
tráfico de pessoas, fato que cria obstáculos tanto para a identificação do problema,
como para a adoção de políticas de prevenção e repressão. Kalil (2015).

Destarte, nas palavras de Bruno José Saúgo (2018, 18) configura o tráfico de pessoas
quando ao:
Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa,
mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso. Trata-se de tipo misto
alternativo, crime de ação múltipla que pode ser praticado mediante a prática de
qualquer das condutas. Há atos que denotam permanência, tais como transportar e
alojar, casos em que a consumação se prolonga no tempo. É um crime bi comum, não
existindo condição especial do agente ou da vítima.

Ademais, é de grande importância ressaltar também, que o tráfico de pessoas previsto


no art. 149-A do Código Repressor não há cabimento da modalidade culposa, ou seja, qualquer
das condutas prevista em seus incisos se caracteriza como uma conduta dolosa. (CABETTE,
Eduardo. 2017).

1.4 – TRÁFICOS DE PESSOAS E O TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS A DE


ESCRAVO

No mundo contemporâneo, uma das modalidades mais comuns do tráfico de pessoas


é quanto ao trabalho em condições análogo a de escravo. De acordo com Rogério Sanchez
Cunha (2017, p. 224), “o tráfico de pessoas é uma conduta bastante complexa e
multidimensional, podendo ser facilmente confundida com outras condutas delituosas e de
violação aos direitos humanos”.
Assim como o tráfico de pessoas, o trabalho análogo a de escravo também é
considerado uma prática delituosa no Brasil, tipificado pelo art. 149 do CPB, de competência
da Justiça Federal. Assim, Victor Eduardo Rios Gonçalves (2018, p. 356) explica que, “essa
modalidade de infração penal é também conhecida como crime de ‘plagium’, em que uma
pessoa fica totalmente sujeita, submissa a outra” e, ainda de acordo com o posicionamento de
Victor Eduardo, a natureza jurídica do trabalho escravo é a reprimenda a liberdade individual
do ser humano, garantia respaldada pela Carta Magna de 1988, em seu art. 5º.
24

Desta forma, para José Cláudio Monteiro de Brito Filho (2006, p. 11), o trabalho
análogo a de escravo é a ideia da reprimenda a liberdade individual do ser humano, vejamos:

A nota característica do conceito, então, é a liberdade. Quando o trabalhador não pode


decidir, espontaneamente, pela aceitação do trabalho, ou então, a qualquer tempo, em
relação à sua permanência no trabalho, há trabalho forçado.

A incriminação do plagium remonta ao Direito Romano. Na história do Brasil, a


penalização do ato é relativamente recente, uma vez que a escravidão somente foi abolida em
1888. (ESTEFAM, 2010 p. 300).
Mas, não podemos confundir o plagium do direito romano com a definição atual de
redução a condições análogas a de escravo. Ou seja, para o professor Cezar Roberto Bitencourt
(2010, p. 425), a grande diferença é no tocante ao “bem jurídico protegido. Modernamente, não
se reconhece a escravidão como lícita, criando-se, então, pela coação do agente, uma situação
de fato, permanentemente ilegítima”.
Mas a caracterização ou definição de trabalho em condições análogas a de escravo não
se consuma apenas com a hipótese de restrição da liberdade individual do trabalhador. Destarte,
o ordenamento jurídico brasileiro considera trabalho em condições análogas a de escravo não
apenas quando há cerceio da liberdade de trabalhar, mas também quando existentes condições
de trabalho degradantes ou jornadas exaustivas.
Ainda, em conformidade com a doutrina, o comportamento de diminuir alguém a
condições análogas à de escravo, só poderá ser responsabilizada em concordância com o
constituído no caput do art. 149 do Código Penal Brasileiro. Neste sentido, o professor Vicente
de Paula Rodrigues Maggio explica:

Trata-se de crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), plurissubsistente
(em , regra, é praticado por meio de vários atos), comissivo (decorre de uma atividade
positiva do agente: reduzir), de forma vinculada (somente pode ser cometido pelos
meios de execução descritos no tipo penal), material (só se consuma com a produção
do resultado naturalístico, consistente na imposição do trabalho excessivo ou em
condições degradantes como também na privação da liberdade de locomoção da
vítima em razão de dívida contraída com seu empregador, etc. MAGGIO (2015, p.
218-219).

Nos dias atuais não há mais o que se falar em “escravo”, uma vez que essa prática foi
abolida pelo Brasil há muito tempo, pelo menos na teoria, sua definição mais apropriada como
crime, é referida ao trabalho em condições análogas a de escravo, assim de acordo com
(FILGUERA; PRADO; GALVÃO, 2013), “uma coisa é o escravo sobre o qual se exercia o
direito de propriedade, outra, é o trabalho dele, exercido em condições similares àquelas de
tempos idos”.
25

Ainda neste sentido, de acordo com o posicionamento do professor Luiz Fernando


Calegari:
O trabalho escravo ainda permanece arraigado na sociedade tupiniquim, mesmo que
travestido de vínculo empregatício. Diz-se isto, pois, pode-se citar como exemplo o
fato de a restrição da liberdade não mais se dar através de correntes, mas, longe disso,
dar-se por meio de pagamento de salários que, em grande parte ou mesmo
integralmente, possuem a destinação de quitar débitos feitos com o próprio
empregador – também conhecido por “Escravidão por dívida”. Calegari (2017).

A proposta de um suposto emprego descente, com uma bela contraprestação pecuniária


é uma das principais práticas dos traficantes ou também denominados de “gatos”, além de que,
se disponibilizam a custear o transporte do trabalhador, de onde mora até o local de serviço,
custeando também os primeiros meses de moradia e alimentação em casos de local de serviço
distante da moradia do trabalhador, vestimentas etc. Aos olhos do trabalhador, é uma excelente
oferta, e ao passar do tempo, este suposto empregador, se assim podemos dizer, vai descontando
da sua folha salarial, que está, normalmente é sempre abaixo da previsão mínima de salário
previsto em norma regulamentadora, ou quando igual ou mesmo superior, com tanto descontos
chega a ficar em níveis baixíssimos.
Descontos estes, com o argumento de ser em virtude de dívidas acumuladas pelo
trabalhador frente ao empregador, como por exemplo, no transporte, ao abrigo, alimentação,
que em tese, deveria ser de obrigatoriedade do empregador. Ao fim, este trabalhador, fica com
pouca quantia daquele salário, impossibilitando em vários casos, na impossibilidade de sair do
local de trabalho para ver a família, ao lazer entre outras condições sociais de suma importância
para uma boa condição de vida, ou seja, em outras palavras “percebe-se que o trabalhador é
coagido a permanecer laborando para o mesmo empregador uma vez que jamais teria condições
de quitar as dívidas assumidas perante ele por conta do recebimento de valores ínfimos pelo
trabalho prestado”. (CALEGARI, 2017).
Ainda de acordo com o Professor Luiz Fernando Calegari (2017), a necessidade de se
trabalhar, mesmo consentindo em receber uma baixa remuneração, não se pode legitimar a
conduta do empregador, porque na maioria das hipóteses, o trabalhador se encontra em situação
financeira abaixo do contratante/tomador de serviço/empregador. Se esta conduta fosse
legitimada, fosse considerada como normal, lícita, viraria uma febre no cenário nacional atual,
com a possibilidade de os empregadores contratarem empregados e sujeitá-los a condições
análogas a de escravo, apoiando-se na fundamentação na atual realidade financeira vivida pelo
país, por isso, impor-se a baixa remuneração.
Mas, é de suma importância explicar que, o trabalho em condições análogas a de
escravo é apenas um gênero, contendo como espécie o trabalho forçado; trabalho em condições
26

degradantes e o trabalho realizado em jornada exaustiva. Definições estas, consideradas como


modernas - contemporâneas.
O texto legal do art. 149 do Código Penal Brasileiro houve uma modificação em
relação ao sentindo da expressão “alguém”, deste modo, pelo entendimento de (NUCCI, 2016
p. 679), antes da Lei 10.803, de 11 de dezembro de 2003, essa expressão aceitava uma
interpretação de um modo geral, onde qualquer pessoa poderia se configurar como sujeito
passivo, em qualquer função. No entanto, com a nova interpretação dada pela respectiva Lei,
essa interpretação restringiu ao leque apenas do “trabalhador”, “empregado”, aquele que de fato
teve sua liberdade individual retirada.

O tipo penal era excessivamente aberto, impreciso e vago, e reclamava o uso rotineiro
da analogia, procedimento inadequado no Direito Penal... A situação foi alterada coma
edição da Lei 10.803/2003, quando a figura típica agora descreve minuciosamente os
modos de execução do delito, que era de forma livre e passou a ser de forma vinculada
(MASSON, 2013 p. 252).

O tráfico de pessoas com a finalidade do trabalho em condições análogas a de escravo


é bastante comum no Brasil desde os tempos dos plantios de cana-de-açúcar, dos cafezais, das
minerações entre outras atividades laborais, sendo ainda nesta época considerado de fato como
um verdadeiro trabalho escravo, no qual as pessoas eram atraídas por propostas de empregos
nos grandes centros daquela época, regiões como São Paulo – Minas Gerais e eram inteiramente
dribladas, sendo exposta a trabalhos a níveis cruéis, mantidas sem o mínimo de condição de
trabalho, sua liberdade restringida aos locais de serviço.

Infelizmente, o crime de redução a condição análoga a de escravo continua a ser a


praticado em nosso país, inclusive nos Estados mais prósperos da Federação. Em
2006, ano que o Brasil se tornou o maior produtor mundial de açúcar, São Paulo,
vergonhosamente, registou quinze casos de cortadores de cana que, recebendo
pagamento em razão da tonelagem cortada, e não em forma de salário fixo (o que
diminuiria a exaustão desse trabalho que, por sua natureza, já é esgotante), morreram
durante o trabalho (DELMANTO et al., 2010 p.533).

Ainda neste contexto, em virtude das políticas econômicas empreendidas na


atualidade, a exclusão social, a pobreza e obstáculos de acesso a oportunidades é um dos
principais combustíveis para propagação cada vez mais do tráfico de pessoas, em virtude de
proporcionarem as vítimas que normalmente se encontram em condição de vulnerabilidade
desleais promessas de melhoria de vida e proveito financeiro melhor.
Muito se questiona sobre a concordância da vítima ao ser recrutada, se configuraria
tráfico de pessoas para qualquer das finalidades prevista nos incisos do art. 3º do Protocolo de
Palermo, deste modo, a OIT já se posicionou a cerca deste fato, portando, ao se encontrar
presente qualquer um dos meios ilícitos presentes na definição, se enquadraria como tráfico de
27

pessoas, assim é seu posicionamento na íntegra:

De acordo com o entendimento firmado no Protocolo de Palermo, para a configuração


do crime é irrelevante o consentimento da vítima, se há o emprego de algum dos meios
ilícitos descritos na definição (força, coação, engano etc). Vale ressaltar que, no caso
de crianças e adolescentes, mesmo sem o emprego desses meios coercitivos, o simples
recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento para fins de
exploração será considerado tráfico de pessoas. (OIT, 2009 p. 16).

De acordo com dados obtidos perante a Organização Internacional do Trabalho (OIT),


o lucro desta modalidade de tráfico de pessoas chegou a ser superior a 30 bilhões de dólares,
chegou a vitimar mais de 2 milhões de pessoas. (CUNHA, Rogério. 2017 p.233).
O tráfico de pessoas é uma prática muito comum entre países, se caracterizando como
uma modalidade de tráfico internacional, mas cada vez mais, estão ocorrendo à prática do
tráfico dentro de uma determinada localidade específica, também conhecido como tráfico
interno de pessoas. Destarte, neste presente estudo, será abordado o tráfico de pessoas, com a
finalidade de trabalho em condições análogas a de escravo em território brasileiro.
Percebe-se uma inter-relação entre o conceito de definição das duas modalidades
delituosas, entre o tráfico de pessoas e o trabalho em condições análogas a de escravo, assim a
Organização Internacional do Trabalho compreende:

É importante compreender que o tráfico de pessoas possui uma estreita relação com o
trabalho forçado. Com efeito, a principal finalidade do tráfico de pessoas é fornecer
mão-de-obra para o trabalho forçado, seja para a exploração sexual comercial, seja
para a exploração econômica, ou para ambas as finalidades (OIT, 2009 p. 16).

Em 2017, o governo federal assinou a portaria nº 1.129/2017, mediante Ministério do


Trabalho (MT) no qual alterou o conceito de trabalho forçado, jornada exaustiva e condições
análogas a de escravo. De acordo com vários juristas do ordenamento jurídico brasileiro, a
aprovação da portaria foi um retrocesso ao combate da prevenção e erradicação do trabalho em
condições análogas a de escravo, de modo que, dificultaria muito mais para a caracterização do
“trabalho escravo”.
Assim, de acordo com o texto legal da portaria, se reduziu o conceito imposto para a
definição das modalidades de jornadas exaustivas e das condições degradantes, no qual,
obrigatoriamente, deveria ser comprovada a efetiva consumação da restrição de ir e vir do
trabalhador, sua liberdade individual.

Uma vez que traz novos obstáculos a serem transpostos para que a prática reste
configurada, tendo em vista que, a partir de agora, não basta que sejam observadas as
condições absolutamente precárias nas quais o trabalho é desenvolvido, mas torna-se
imprescindível o isolamento geográfico ou a coação através de vigilância ostensiva
que impeçam o trabalhador de ir e vir. (CALEGARI, 2017).
28

Entretanto, o MT, por meio do ex-ministro Ronaldo Nogueira Oliveira, promulgou


uma nova portaria, substituindo a anterior. Principal motivo foi as inúmeras críticas feitas a
portaria antecedente, no qual, inclusive, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal
Federal, suspendeu a portaria nº 1.129/2017 por violar a Constituição e acordos internacionais
celebrados pelo Brasil. Com o novo texto dado pela portaria 1.293, de 28 de dezembro de 2017,
a conceituação de jornada exaustiva e condição degradante, não necessitará comprovar a
restrição da liberdade de ir e vir para caracterizar o trabalho escravo. (ROVER, 2017).
29

2 – PARTICULARIDADES DO TRÁFICO DE PESSOAS

O Protocolo de Palermo ao ser firmado pelo Brasil, mediante o Decreto nº 5.017 de


2004, visou de imediato reprimir, prevenir e proteger as vítimas, valendo-se de novos meios de
atuação ao seu alcance para conseguir atuar de um modo mais intensivo. Em virtude destes
novos meios de atuação, houve um aumento significativo na coleta de dados quanto às
estatísticas dos tráficos de pessoas nos anos posteriores, mas, por outro lado, também houve um
aperfeiçoamento no modo de agir dos criminosos, dificultando mais ainda o trabalho do Estado.
Neste segundo capítulo, serão abordadas as principais características para
identificação dos agentes em relação ao crime de tráfico de pessoas, assim como as
características do crime, as principais rotas do tráfico de pessoas no Brasil, as modalidades mais
comuns do tráfico de pessoas, conforme preceitua o Código Penal Brasileiro (CPB).
Principal meio de estudo se deu por base do Relatório Nacional Sobre o Tráfico de
Pessoas: Dados de 2013, divulgado pelo Ministério da Justiça, no dia 30 de setembro de 2015
em Brasília, e o Diagnóstico sobre o Tráfico de Pessoas do Conselho Nacional do Ministério
Público, elaborado entre os meses de junho e setembro de 2013, entre demais relatórios
apresentados por diversos órgãos.
Outro ponto de suma importância é quanto a abordagem em relação aos perfis das
vítimas; os perfis dos traficantes e suas características; tráfico de pessoas com suas principais
finalidades, como de remoção de órgãos, para exploração sexual e quanto ao trabalho em
condições análogas a de escravo; as rotas internas do tráfico de pessoas no Brasil.
Sabe-se que é muito complicado conseguir trazer para sociedade números concretos
da atual realidade do Brasil em relação ao tráfico de pessoas. Por ser um crime silencioso,
complexo, as entidades que combatem não possuem acesso completo a todos os casos, destarte
são registrados apenas aqueles que chegam ao conhecimento das autoridades competentes (Ex:
Polícia Federal, TRT, Ministério Público Federal).
Ao analisar relatórios distintos disponíveis sobre as estatísticas do tráfico de pessoas
no Brasil, será possível perceber certa diferença de dados sobre o mesmo quesito elaborado,
motivo este que se dá pela complexidade do crime.

2.1- O PERFIL DAS VÍTIMAS DO TRÁFICO DE PESSOAS

O Ministério da Saúde, a partir do ano de 2009, começou a coletar dados quantitativos


e qualitativos das vítimas referente ao tráfico de pessoas no país, em relação a todas as
modalidades prevista no ordenamento pátrio. “Deste modo, constatou-se um grande aumento
30

de vítimas entre os anos de 2009 e 2013 conforme o Relatório Nacional Sobre Tráficos de
Pessoas disponibilizou”.
Graças a estes dados, o Ministério da Justiça elaborou um banco de dados onde se
estabeleceu as características das vítimas do tráfico de pessoas. Estes dados e tanta importância,
que provavelmente eles vão servir de base para o próximo Plano Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas, assim, destaca-se para as seguintes características: Sexo, faixa etária,
cor/raça, nível de escolaridade entre outros dados referentes às vítimas do tráfico de pessoas,
como será abordado a seguir.

2.1.1 – Sexo das Vítimas do Tráfico de Pessoas

Baseado em dados publicados pelo “Relatório Nacional Sobre Tráficos de Pessoas”,


no ano de 2013, constatou-se por meio do Disque-Denúncia da Secretaria de Direitos Humanos
(SDH), que a grande maioria das vítimas no Brasil provem do sexo feminino, entretanto, estes
dados são somente dos casos a qual foi informado aos órgãos de apoio a vítima o sexo da vítima,
que representam cerca 309 (trezentos e nove) casos detectados de tráfico de pessoas no país, e
destes, cerca de 184 (cento e oitenta e quatro) casos eram vítimas do sexo feminino. Maioria
esta que representa 73,4% (setenta e três, quatro por cento) dos ocorridos. Inclusive, observou-
se que este quantitativo expressivo de vítimas entre mulheres, aumentou consideravelmente em
relação a 2011 e 20131.
Um estudo realizado pelo Consulado do EUA no Comitê Paulista de Enfrentamento
ao Tráfico de Seres humano, no Estado de São Paulo no ano de 2008, e publicado em um artigo
pela Secretaria de Nacional de Justiça no ano de 2013, informou que cerca de 800 (oito centos
mil) pessoas são traficadas para o Brasil por ano, já que o país é dos muitos considerado como
local de origem, trânsito e destino2.
Em relação ao “trabalho escravo” especificadamente, o Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) por meio do Relatório Nacional Sobre Tráfico de Pessoas, durante os anos de
2003 a 2013, ano que encerrou, o informou que cerca de 30.358 (trinta mil trezentos e cinquenta
e oito) trabalhadores resgatados eram do sexo masculino, total que chega a quase 96% (noventa
e seis por cento) do total dos casos registrados3.

1
BRASIL, Secretária Nacional de Justiça. Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 34.
2
BRASIL. Secretária Nacional de Justiça. Tráfico de Pessoas: Uma Abordagem para os Direitos Humanos.
Organização de Fernanda Alves dos Anjos... [ET al.]. – 1. Ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013, p. 26.
3
BRASIL, Secretária Nacional de Justiça. Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 41
31

2.1.2 – Faixa Etária das Vítimas

Quanto à faixa etária das vítimas, ficou corroborada que entre os anos de 2011 a 2013,
a grande maioria das vítimas possuía idade entre alguns meses (recém-nascidos) a 17
(dezessete) anos de idade. Por exemplo, no ano de 2013, dos 177 (cento e dezessete) casos
registrados pela Secretaria de Direito Humanos (SDH), 162 (cento e sessenta e duas) vítimas
se enquadravam neste quesito, em porcentagem, estes dados representam cerca de 91,5%
(noventa e um, cinco por cento) dos casos. Ademais, constou a presença de 15 (quinze) adultos
entre os casos registrados, com idade aproximadamente entre 18 (dezoito) e 55 (cinquenta e
cinco) anos de idade4.
Além do mais, o relatório elaborado pelo Ministério da Justiça em parceria com
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), apurou-se que, dos 130 (cento e
trinta) casos identificados no ano de 2012, 104 (cento e quatro) vítimas eram mulheres, destas,
85 (oitenta e cinco) vítimas tinham idade de até 29 (vinte e nove) anos (65%), e o restante era
composto por 26 homens. (STOCHERO, 2014).
Destarte, o Sistema de Informação de Agravos de Notificações – VIVA/SINAN, do
Ministério da Saúde publicados no ano de 2013, nos traz dados semelhantes aqueles
demonstrados pela SDH quanto à faixa etária das vítimas. Para este sistema, a coleta de dados
demonstrou que as vítimas do tráfico de pessoas possuíam idade entre 0 (zero) a 29 (vinte e
nove) anos, representando um total 71,9% (setenta e um, nove por cento) dos casos.
Destacando-se para a alta concentração de vítimas entre 0 (zero) e 19 (dezenove) anos de idade5.
Ainda quanto a faixa etária das vítimas, o sistema do VIVA/SINAN, apurou-se que
cerca de 40,7% (quarenta, sete por cento) das vítimas do tráfico de pessoas possuíam idade
entre 0 (zero) e 19 (dezenove) anos. As vítimas do sexo masculino representavam cerca de
66,7% (sessenta e seis, sete por cento) dos casos. Neste último dado, chamou bastante à atenção
dos órgãos de combate ao crime justamente pelo motivo do grande aumento de vítimas do
tráfico de pessoas do sexo masculino nesta faixa etária6.
Com base nos dados obtidos pela Secretária de Inspeção do Trabalho e do Ministério
do Trabalho e Emprego (SIT/MTE), quanto aos trabalhos em condições análogas a de escravo,
a faixa etária dos trabalhadores resgatados fica entre 18 (dezoito) e os 39 (trinta e nove) anos

4
Ibidem, p. 35
5
Ibidem, p. 37
6
Ibidem, p. 37
32

de idade, não podendo descartar os dados em relação à faixa etária entre 40 (quarenta) e 64
(sessenta e quatro) anos de idade, e entre os 15 (quinze) e 17 (dezessete) anos de idade7.

2.1.3 – Cor/Raça das Vítimas do Tráfico de Pessoas

Na visão da sociedade atual, ao se falar em “tráficos de pessoas” ou principalmente


quanto a uma das suas finalidades específicas, como o “trabalho em condições análogas a de
escravo”, muitos se reportam aqueles fatos datados de décadas, séculos atrás, onde a cor/raça
da vítima representava consideravelmente. Contudo, a Secretária de Direitos Humanos (SDH)
informou que, na atual realidade, a grande maioria das vítimas foram averiguadas como pessoas
de pele “brancas”, seguidas de “pardas” e “pretas”.
Em 2013, ano em que foram informados os dados sobre cor/raça das vítimas pela
Secretária de Direitos Humanos (SDH), do total informado, 57 (cinquenta e sete) vítimas se
consideravam como brancas, representando um quantitativo considerável. Na sequência, 33
(trinta e três) vítimas como pardas e 07 (sete) casos registrados como vítimas pretas. Entretanto,
vale fazer uma ressalva, já que estes dados poderiam ser completamente diferentes, haja vista
que apenas 97 (noventa e sete) das 309 (trezentas e nove) vítimas informaram sua cor/raça8.
Neste sentindo ainda, o sistema VIVA/SINAN do Ministério da Saúde, também
apresentou alguns dados quanto à cor/raça das vítimas do tráfico de pessoas. Para este sistema,
43% (quarenta e três por cento) das vítimas se declararam também como “brancas”, e 38,3%
(trinta e oito, três por cento) se declaram como “pardas”. Em relação às vítimas que se
intitulavam como “pretas”, consistia em 12,1% (doze, um por cento). Este sistema ainda
informou dados sobre cor/raça das vítimas “indígenas” e “amarelas”, representavam 3,7% (três,
sete por cento) e 2,8% (dois, oito por cento) respectivamente9.
Entretanto, em controvérsia com os resultados obtidos pelos demais órgãos, os dados
coletados pela SIT/MTE, em relação ao Seguro-Desemprego requerido pelos trabalhadores
resgatados durante os anos de 2003 a 2013, identificou que a raça/cor das vítimas, a
predominância se deve aos negros, que somado todas as categorias, somam juntos 3.828 (três
mil, oitocentos e vinte e oito) vítimas, do total dos casos informados, cerca de 39,7% (trinta e
nove, sete por cento) do total de casos para os quais havia essa informação disponível, e que cerca

7
Ibidem, p. 40
8
Ibidem, p. 36
9
Ibidem, p. 37.
33

de 30.358 (trinta mil, trezentos e cinquenta e oito) trabalhadores resgatados durantes esses anos era
do sexo masculino, cerca de 90,5% (noventa, cinco por cento) do total10.

2.1.4 – Grau de Escolaridade das vítimas do Tráfico de Pessoas

Quando questionados sobre o grau de escolaridade, as vítimas normalmente


declaravam possuir baixos níveis de escolaridade, onde uma pequena porção destas concluíram
o 1º grau (Ensino Fundamental). Dados obtidos pela VIVA/SINAN despontaram que apenas
31,4% (trinta e um, quatro por cento) das vítimas concluíram esta etapa da escolaridade. Além
disso, observou-se que o número de vítimas analfabetas ou que cursaram o ensino fundamental
apenas até a 4º série é bem relevante, cerca de 23% (vinte e três por cento) dos casos11.

Em virtude desse último dado demonstrado, em um certo comparativo com outras


pessoas da sociedade que obtiveram a conclusão do ensino médio ou conseguiram ingressar
e/ou concluir o ensino superior, essas vítimas do tráfico de seres humanos não obtém maiores
chances no mercado de trabalho, em ter uma vida mais digna, por este e outros motivos que a
sociedade impõe, geralmente se encontram em situações mais frágeis e com isso, os aliciadores
ou também chamados como “gatos” tem mais facilidades para enganar de alguma forma estas
pessoas.

2.1.5 – Estado Civil e Zona Habitacional das Vítimas do Tráfico de Pessoas

Quanto ao estado civil das vítimas, aos dados informados nesta etapa, no ano de 2013,
verificou que aproximadamente 59% (cinquenta e nove por cento) das vítimas se declararam
como solteiras, e 34,2% (trina e quatro, dois por cento) como casadas ou em união estável, e
ainda, foi notado que duas das vítimas, ao momento que foram atendidas no sistema de saúde,
eram gestantes12.
Ademais, o Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas no Brasil do ano de 2013
também relatou onde essas vítimas moravam anteriormente, e cerca de 91,7% (noventa e um,
sete por cento) declaram que moravam na zona urbana habitacional, quase a totalidade, e apenas
cerca de 8,3% (oito, três por cento) declaram morar em zonas rurais13

2.1.6 – Nacionalidade das Vítimas do Tráfico de Pessoas

10
Ibidem, p. 41
11
Ibidem, p. 38
12
Ibidem, p. 39
13
Ibidem p. 39
34

Um dos grandes motivos para visualização destas estatísticas se dá em razão da crise


humanitária e econômica em que os países vizinhos do Brasil andam passando. Além de que,
de acordo com o referido relatório supracitado, a projeção do país no cenário internacional e o
avança de sua economia nos últimos anos acrescenta para aumento dessa estatística14.
Uma das fragilidades destes dados é que não se pode afirmar com clareza os dados
sobre as nacionalidades dos estrangeiros vítimas do tráfico de pessoas no Brasil, já que os
órgãos de amparo, no momento da qualificação, não atentam a este quesito. No entanto, pode
se afirmar genericamente, que cerca de 8% (oito por cento) dos trabalhadores encontrados em
situações análogas a de escravo no ano de 2014 possuíam nacionalidade estrangeira. Já entre os
anos de 2015 e 2016, MT registrou que cerca de 4,4% (quatro, quatro por cento) e 5,4% (cinco,
quatro por cento) respectivamente dos trabalhadores resgatados de origem estrangeira15.
Em números exatos, o Ministério do Trabalho, entre os anos de 2014 a 2016, resgatou
aproximadamente 224 (duzentos e vinte e quatro) estrangeiros em situações semelhantes à de
“escravo” no Brasil16.

2.2 – O PERFIL DOS ALICIADORES E SUAS CARACTERÍSTICAS

Definir um perfil ou caracterizar um traficante é uma atividade bastante complexa,


pois não há meio suficientes para definir um perfil exato, até pelas próprias características do
crime, pois a uma ocultação enorme das atividades ilegais do tráfico de pessoas. Por este
motivo, a Secretaria de Justiça e o Ministério da Justiça, disponibilizaram por meio do Relatório
Nacional Sobre Tráficos de Pessoas: Dados de 2013, elementos específicos que tentaram trazer,
o mais próximo possível, as melhores características dos aliciadores, sejam por relatos das
vítimas, depoimentos dos agentes de combate ao crime dentre outros.

2..2.1 – Sexo dos traficantes/Aliciadores

Dados da Secretária de Direitos Humanos (SDH) disponibilizado entre os anos de 2011


e 2013, em relação às características dos traficantes, ou também conhecidos como “gatos”.
Explanou que as mulheres, principalmente no ano de 2013, são as principais responsáveis por
aliciar pessoas para esta finalidade, em um comparativo ao sexo masculino, tanto para serem
explorados sexualmente, a trabalho em condições análogo a de escravo, servidão, remoção de

14
BRASIL, Ministério da Justiça e Segurança Pública. Relatório consolidado a partir do levantamento e
sistematização de dados sobre o tráfico de pessoas no Brasil sobre o período de 2014 a 2016. Brasília. 2017. p.
51.
15
Ibidem, p. 51.
16
Ibidem, p. 51
35

órgãos dentre outras finalidades não expressa no art. 3 do Protocolo de Palermo, visto que é um
rol meramente exemplificativo17.
Para um melhor entendimento, a figura do “gato” nada mais é que aquele indivíduo
que recruta uma pessoa para a posição de vítima, seja por meio de força, conduta fraudulenta,
ameaça, ou seja, de acordo com Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2014), “ gatos geralmente
fazem propostas de trabalho para pessoas desenvolverem atividades laborais na agricultura ou
pecuária, na construção civil ou em oficinas de costura”.
De acordo com dados disponibilizados pela Secretária de Direitos Humanos (SDH), o
número de mulheres envolvidas entre os anos de 2011 a 2013 é aproximadamente de 174 (cento
e setenta e quatro) mulheres e 131 (cento e trinta e um) homens. Entretanto, em relação apenas
a 2013, último ano de estudos, o aumento das mulheres foi considerável baixo, quando chegou
a uma pequena diferença de 99 (noventa e nove) mulheres para 91 (noventa e um) homens18.
Contudo, ao contrário dos dados apresentados pela SDH, os dados obtidos pelo
Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes do Sistema de Informação de Agravos de
Notificações do Ministério da Saúde (VIVA/SINAN), em relação ao sexo dos traficantes, ou
também denominado no relatório como “autores das agressões”, solidificou que, em 80%
(oitenta por cento) dos casos, os agressores eram provenientes do sexo masculino19.

2.2.2 – Da Faixa Etária e da Relação das Vítimas com os Traficantes

No tocante a faixa etária dos traficantes, os dados obtidos pela Secretária de Direitos
Humanos (SDH) são bastante inconclusivos, mas pode-se afirmar que a concentração maior
fica aproximadamente entre os 18 (dezoito) e 50 (cinquenta) anos de idade, representados por
maioria, em relação à raça/cor por “brancos”, seguidos de “pretos” e “pardos” 20.
Outro fator importante também para compreendermos melhor as características dos traficantes,
são os dados disponibilizados referentes à relação pessoal entre vítimas e aliciadores. Segundo
apurou-se por meio de relatos das próprias vítimas, a maioria dos traficantes são pessoas
desconhecidas, no qual, no ano de 2013, este dado em específico chegou a ser de 72% (setenta
e dois por cento) dos casos registrados. Entretanto, averiguou-se também, que a relação de
parentesco é bastante apreciável, no mesmo ano, 21% (vinte e um por cento) dos casos que

17
Ibidem, p. 45
18
Ibidem, p. 45
19
Ibidem, p. 47
20
Ibidem, p. 45-46
36

chegou ao conhecimento do SDH, eram representados por parente das vítimas, em especial aos
pais e mães que chegavam a 16% (dezesseis por cento) dos casos somados21.
Ao final, a Organização Internacional do Trabalho - OIT lançou um traço do perfil dos
traficantes, levando em conta todos os dados obtidos por meio de estudos em campo, relatórios
e pesquisas disponíveis, para no cenário atual. Consolidou-se que são pessoas com um perfil
socioeconômico completamente distinto das vítimas, geralmente com um alto poder financeiro,
normalmente brancos, com idade média de 41 anos, com grau de escolaridade superior, e que,
em boa parte das vezes, já possuem seus nomes ligados à famosa “Lista Suja”.
Para efeito de compreensão, a lista suja integra aqueles empregadores que outras
oportunidades já foram flagradas empregando trabalhadores a condições análogas a de escravo
etc.

2.3 – AS ROTAS INTERNAS DO TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL

O crime de Tráfico de Pessoas, além de marcar presença em todos os cantos do


mundo, ele está presente em quase todo o território nacional também. O Brasil possui regiões
caracterizadas tanto como de “origem”, “trânsito” e “destino”. Devido a este dado, observa-se
a importância de elencar todas as rotas conhecidas no Brasil do tráfico de pessoas. Para cada
tipo de finalidade do delito, há rotas distintas, mas que acabam se interligando em determinados
pontos do país.
De acordo com a Senadora Ângela Portela, integrante da CPI do Tráfico de Pessoas,
em entrevista concedida ao “Estadão de São Paulo”, Brasil possui cerca de 241 (duzentos e
quarenta e uma) rotas nacionais e internacionais de tráficos de pessoas, apresentando a Região
Norte com um dos maiores índices representativos, cerca de 76 (setenta e seis) das rotas
identificadas, seguidas por Região Nordeste com 69 (sessenta e nove), Sudeste com 35 (trinta
e cinco), Centro-oeste com 33 (trinta e três) e Sul com 28 (vinte e oito) rotas de utilidade para
o tráfico de pessoas. (COSTA, 2012).
Dos dados coletados, se extrai que a região Nordeste é uma das que concentram os
maiores índices de vítimas do crime, caracterizando-as como local de “origem”. Estados como
Maranhão, Piauí e Bahia são os principais donos deste aspecto.
Como local de “destino”, os estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso, Mato
Grosso Sul, Paraná, Rio Grande do Sul sofrem com altos índices de casos onde diversas pessoas

21
Ibidem, p. 46-47
37

foram enganadas muitas vezes por falsas promessas e que muitas das vezes acabam em
prostíbulos da região ou para trabalho em condições análogas a de escravo.
O Ministério do Trabalho destacou em seu site oficial, que entre janeiro e a primeira
quinzena de outubro de 2018, foram resgatados cerca de 1.246 (mil duzentos e quarente e seis)
pessoas em situações análogas a de escravo no Brasil. Estatística essa que já superou os dados de
todo o ano de 2017, quando cerca de 6445 (seiscentos e quarenta e cinco) pessoas foram
resgatadas22.
Os Estados que impulsionaram estas estatísticas foram o de Minas Gerais, com 754
(setecentos e cinquenta e quatro) trabalhadores resgatados, seguidos por Pará (129) e Mato
Grosso (128) respectivamente.

2.4 – PRINCIPAIS MODALIDADES DO TRÁFICO DE PESSOAS

De acordo com o que preceitua o art. 3º do Protocolo de Palermo e pelo rol


exemplificativo do art. 149-A do Código Penal, o tráfico de pessoas esta minimamente prevista
em 05 (cinco) modalidades distintas, quais sejam: Remoção de órgãos, submissão a condições
análogas a de escravo; submissão a qualquer tipo de servidão; adoção ilegal e exploração
sexual.
As modalidades mais frequentes que envolvem o tráfico de pessoas são: Para
exploração sexual, Trabalho em condições análogas a de escravo e a remoção de órgãos. Neste
momento serão abordados levemente algumas situações a respeito dessas modalidades:

2.4.1 – Remoção de Órgãos

A criminalização do tráfico de pessoas com intuito de remoção de órgãos foi


criminalizada pelo art. 149-A do Código penal graças à reforma estabelecida pela Lei nº
13.344/16. Hoje no Brasil a remoção de órgãos, de tecidos ou parte do corpo somente é
permitida para transplantes e tratamento, no entanto, tem que atender todos os requisitos
impostos pela Lei nº 9.034 de 1997. Qualquer prática que desrespeite qualquer das normas
prevista é considerada ilegal e, portanto, crime.
A prática delituosa será abordada neste momento possui como finalidade a locomoção
de “alguém” para retirada de órgãos vitais como, por exemplo: coração, fígado, rins entre
outros, as quais são vendidas a preços elevadíssimos no mercado negro para transplantes.

22
BRASIL, Ministério do Trabalho. Ministério encontra 1.246 trabalhadores em condições análogas às de escravo.
Brasília. 2018.
38

Diariamente, presenciam-se campanhas de Rádios, TV e Jornais, para doação desses materiais,


e é claro que a população mundial enfrenta uma escassez deste tipo de recurso.
Vislumbrando este cenário, alguns indivíduos começaram a se aproveitar da situação,
sequestrando seres humanos e retirando seus órgãos vitais que muitas das vezes, estes
indivíduos não possuem nenhum tipo de preparo na área da saúde e ocasionalmente geram a
morte das vítimas. Após a retirada dos órgãos, é levado normalmente para o exterior por meio
do Mercado Negro. Alguns dos elementares desta prática criminosa é o sequestro ou a
imposição da força. Estima-se que a remoção de órgãos seja a terceira modalidade mais
lucrativa em virtude do tráfico de pessoas.
Vale destacar, que para a caracterização do tráfico de pessoas para remoção de órgãos,
o ser humano necessariamente precisava está vivo, porque há outros meios de retirada de órgãos
de pessoas falecidas que não constitui crime, como assevera Rogério Greco (2017, p. 505):

O delito de tráfico de pessoas não diz respeito à remoção de órgãos, tecidos ou partes
do corpo de pessoa morta, somente sendo aplicado o art. 149-A do Código Penal
quando a vítima, ainda viva, é submetida ao tráfico mediante grave ameaça, violência,
coação, fraude ou abuso.

Embora seja considerada por muitos a 3º modalidade mais lucrativa do tráfico de


pessoas, no Brasil, no ano de 2013 só foi registrada somente 03 (três) vítimas de Tráfico de
pessoas para remoção e transplante de órgãos ocorridos nos Estados de Minas Gerais e Rio de
Janeiro conforme demonstra o Relatório Nacional Sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 201323.

2.4.2 – Tráfico de Pessoas para a Exploração sexual

Considerada por muitos dos Órgãos Internacionais de proteção aos direitos humanos,
à modalidade mais praticada e lucrativa do tráfico de Seres Humanos, e a primeira prevista em
nosso Ordenamento Jurídico, no qual era prevista no já revogado art. 231 do Código Penal
Brasileiro.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho – OIT (2009, apud,
OLIVEIRA, 2014) a exploração sexual ocorre quando se estabelece uma relação de
mercantilização e abuso do corpo de uma pessoa com o objetivo de obter dela serviços
sexuais. No caso de pessoas adultas, a prática da prostituição é considerada exploração sexual
comercial ou prostituição forçada quando aparecem as características de trabalho forçado,
como: cerceamento da liberdade, servidão por dívida, retenção de documentos, ameaça, etc.

23
- BRASIL, Secretária Nacional de Justiça. Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 20
39

De acordo com os dados obtidos pela Secretaria de Justiça, do Ministério da Justiça,


mediante o Relatório Nacional Sobre Tráfico de Pessoas: Dados de 2013, observa-se que a
exploração sexual é de fato umas das modalidades principais em se tratando de Tráfico de
Pessoas. Em 2013, foram 11 (onze) casos de Tráfico Internacional de Pessoas para exploração
sexual e incríveis 123 (cento e vinte e três) casos de Tráfico Interno de Pessoas.
Alana Gandra, repórter da Agência Brasil, publicou em seu portal que entre os anos
de 2014 a 2016 houve 488 (quatrocentos e oitenta e oito) casos registrados de tráfico de
pessoas com o intuito de exploração sexual no Brasil, e destes, 317 (trezentos e dezessete)
eram mulheres e 05 (cinco) de homens. Dados estes obtidos através do Relatório de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes, apresentado durante o 1º
Seminário de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes no Rio de
Janeiro em 201724.

2.4.3 – Tráfico de Pessoas com a Finalidade de Trabalho em Condições Análogas a de


Escravo

A submissão ao trabalho em Condições Análogas a de Escravo, é a segunda


modalidade mais praticada em âmbito nacional e internacional, ficando somente atrás da
exploração sexual.
Com embasamento no respectivo Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas:
Dados de 2013, a Divisão de Assistência Consular (DAC), registrou 62 (sessenta e dois) casos
envolvendo vítimas do tráfico de pessoas. Dentre estes, 21 (vinte e um) casos, cerca de 34%,
(trinta e quatro por cento) eram oriundos do trabalho em condições análogas a de escravo, que
por sua vez, houve predominância do sexo masculino, em torno de 11 (onze) casos. Ademais,
07 (sete) eram mulheres e 03 (três) casos não havia registro quanto ao sexo dos traficantes.25
Quanto ao principal tipo de serviço, averiguou-se, que o “trabalho agropecuário é a
principal ocupação exercida pelas vítimas do tráfico de pessoas no momento em que foram
resgatados pelas operações de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego”, cerca de 25.648
(vinte e cinco mil seiscentos e quarenta e oito) trabalhadores, o que corresponde a 80,4% (oitenta,
quatro por cento) dos casos registrados, além dos trabalhadores do corte de cana-de-açúcar,
tratoristas agrícolas, etc. Mas também houve um acréscimo bastante relevante quanto ao “trabalho

24
- Agencia Brasil. Mulheres são a maioria das vítimas do tráfico de pessoas, aponta relatório. Alana Granda.
Rio de janeiro. 2017.
25
BRASIL, Secretária Nacional de Justiça. Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 17
40

escravo” urbano, como Serventes de Obras, Soldador, Pedreiro etc., no geral serviços que integram
a construção civil 26.
Por exemplo, entre janeiro e a primeira quinzena de 2018, 869 (oitocentos e sessenta e
nove) trabalhadores foram resgatados no meio urbano por integrantes do Ministério do Trabalho.
Enquanto na zona rural, esta estatística ficou entorno dos 377 (trezentos e setenta e sete) casos
registrados27.
Mais recentemente, uma matéria publicada no blog “Agência Patrícia Galvão” no ano de
2017, sobre as vítimas do tráfico de pessoas, informou que o número de vítimas teve um leve
aumento nos dois últimos anos (2015-2016). Baseado em um levantamento organizado pelo “O
Globo”28, nos 16 Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil (NETP), constatou-se
que houve um acréscimo de cerca de 8% (oito por cento) no número de vítimas, passando de um
total de 740 (sete e centos e quarenta) pessoas em 2015 para 797 (sete e centos e noventa e sete) no
ano de 2016.
Estados como o de Minas Gerais, foi um dos principais responsáveis por este aumento, de
112 (cento e doze) casos para 432 (quatrocentos e trinta e dois) casos registrados no ano seguinte.
Mas também houve registros de quedas no número vítimas, estados como de São Paulo e Goiás
houve uma diminuição relevante. (COUTO, 2017).
Quanto a zona urbana, de acordo com dados obtidos pelo Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) em 2013, o trabalho em condições análogas a de escravo cresce cada vez mais
no cenário nacional, ficando neste ano, pela primeira vez na história, desde quando começou a
coleta de dados sobre o assunto, a frente do trabalho em condições análogas a de escravo rural29.
Uma investigação feita pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), entre
os anos de 2000 e 2012, evidenciou que no país havia 1.758 (mil setecentos e cinquenta e oito)
processos judiciais e extrajudiciais referente ao tráfico de pessoas30.
Ademais, outro dado relevante a respeito do trabalho em condições análogas a de
escravo e do tráfico de pessoas, de acordo com o Procurador do Trabalho Renan Bernardi Kalil
(2015, p. 03), foi um levantado feito pelo “Disque-Denúncia de Direitos Humanos da
Presidência da República”, no qual se averiguou que no Brasil, no período relacionado ao ano

26
Ibidem, p.42
27
BRASIL, Ministério do Trabalho. Ministério encontra 1.246 trabalhadores em condições análogas às de escravo.
Brasília. 2018
28
O GLOBO. Vítimas do Tráfico Humano Aumenta nos Dois Últimos Anos: Entidades Protestam Contra a Falta
de Políticas de Combate. Luiza Souto. 16.04.2017.
29
BRASIL, Secretária Nacional de Justiça. Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas: Dados de 2013.
Brasília: Ministério da Justiça, 2014, p. 28
30
BRASIL. Levantamento Sobre o Tráfico de Pessoas CNMP. Conselho Nacional do Ministério Público. 2014,
p. 4-5.
41

de 2012, houve 266 (duzentos e sessenta e seis) registros de trabalho em condições análogas a
de escravo e 28 (vinte e oito) de tráfico de pessoas foram identificados.
Além de outros dados pertinentes, o diagnóstico elaborado pelo Conselho Nacional
do Ministério Público (CNMP), completa dizendo que é suma importância à participação das
Procuradorias Regionais do Trabalho no combate ao tráfico de pessoas com a finalidade do
trabalho em condições análogas a de escravo, que em algum futuro próximo, o conjunto de
esforços poderá de fato, minimizar essa prática delituosa do cenário nacional. 31
Baseando-se em análises de campo, em dados apresentados até o presente
momento, a OIT lançou um traço do perfil dos trabalhadores que se encontram em condições
análogas a de escravo no Brasil hoje, no qual este trabalhador é negro, possui idade
aproximadamente de 31,4 anos, analfabeto ou com baixo nível de escolaridade e uma renda
mensal entorno de 1,3 salários mínimo.
Com embasamento no artigo publicado pela OIT, e sobre dados relativos à
SIT/MTE, entre os anos de 1995 a 2005, cerca de 17.983 (dezessete mil nove e centos e oitenta
e três) pessoas foram resgatadas do trabalho em condições análogas a de escravo, por operações
elaboradas por grupos de fiscalizações em conjunto com órgãos federais. No total, foram pouco
mais de 1.400 (mil e quatro centos) propriedades fiscalizadas em todo o país. Vale destacar,
que os donos dessas propriedades não eram pessoas desinformadas da ilicitude do “trabalho
escravo”, mas sim grandes empresários que se aproveitavam da mão-de-obra barata para
inflamar seus lucros.
De acordo com o artigo publicado pela Secretária Nacional de Justiça no ano de
2013, denominado de “Tráfico de Pessoas: Uma Abordagem para os Direitos Humanos”, o
Brasil é o principal exportador de mulheres, adolescentes e crianças para a exploração sexual
do Continente, enviadas a países desenvolvidos com intuito de exploração sexual, entretanto,
também é um dos principais importadores de mão-de-obra escrava, principalmente para as
atividades agrícolas na região norte e centro-oeste do país e para indústrias têxteis localizadas
na região sudeste32.
Destarte, a real atualidade que vive o Brasil em relação à crise migratória, até em
razão por possuir uma enorme fronteira com quase todos os países da América do Sul, embora
não se possa confundir o crime de tráfico de pessoas com o de tráfico migratório, afeta e muito
para o aumento dos dados dos trabalhos em condições análogas a de escravo no Brasil.

31
Ibidem, p. 7
32
Brasil. Secretária Nacional de Justiça. Tráfico de Pessoas: Uma Abordagem para os Direitos Humanos.
Organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013, p. 28.
42

Além da privação da liberdade de ir e vir do ser humano, uma das principais causas
que caracteriza o trabalho em condições análogas a de escravo, são as condições degradantes
de trabalho e quanto ao valor da remuneração, que são consideradas de suma importância
também para a caracterização da prática delituosa. Diante disso, o Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), por meio da Secretaria de Inspeção do Trabalho, coletou dados importantes
referentes ao valor das remunerações fornecidas aos trabalhadores, de acordo com o colhido
pelo requerimento dos trabalhadores resgatados do Seguro-Desemprego.
Conforme o site global da Organização Internacional do Trabalho, estima-se que no ano
de 2016, cerca de 40,3 milhões de pessoas em todo o mundo estão na escravidão moderna, uma
estimativa de 5.4 vítimas para cada 1.000 pessoas no mundo. Essa escravidão moderna nada mais
é que o trabalho forçado, “um fenômeno global e dinâmico que pode assumir diversas formas,
incluindo a servidão por dívidas, o tráfico de pessoas e outras formas de escravidão moderna”. (OIT,
2017).
43

3 – PLANOS NACIONAIS DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS NO


BRASIL

Sabe-se que não basta criminalizar o tráfico de pessoas ou aderir a tratados e acordos
internacionais que se comprometem a combater o tráfico de pessoas. No dia 26 de outubro de
2006, o Brasil publicou o Decreto 5.948/06, dispõe sobre as Políticas Públicas de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Marco inicial para elaboração dos futuros Planos
Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
Ao longo dos anos, após implementar o Protocolo de Palermo em seu Ordenamento
Jurídico, o Brasil iniciou algumas tratativas internas para elaborar algumas ações, políticas
públicas, com metas pré-fixadas com o intuito da prevenção, repressão, responsabilização dos
seus autores e atenção às vítimas do Tráfico de Pessoas. Dentre estes, o PNETP (Plano Nacional
de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas), subdivido em três fases até a presente data.

3.1 – I PLANO NACIONAL DE ENFRETAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS

O I Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas foi elaborado no ano de


2006 após uma série de estudos e pesquisas de campos. Seu principal intuito era de efetivar o
que o Brasil se comprometeu aderindo ao Protocolo de Palermo dentre outros tratados que
anseia pelos Direitos Humanos. Aprovado pelo Decreto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006,
pelo então Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
A aprovação deste Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas era de fato
o início de uma nova era, onde o Estado passou a olhar de um modo mais severo ao crime de
tráfico de pessoas no país. E não apenas em detectar, mas em reprimir e punir seus autores.
O I Plano Nacional tinha como principal foco suas futuras ações no “combate do
tráfico de pessoas para exploração sexual comercial, à luta contra o trabalho escravo, às
políticas voltadas às mulheres, crianças e adolescentes, sempre numa perspectiva de direitos
humanos”33.
Mas assim também, partiam da ideia que o problema só seria resolvido baseando-se
em 03 (três) eixos importantíssimos, quais sejam: 1) Prevenção ao Tráfico; 2) Repressão do
crime e responsabilização de seus autores e 3) atenção às vítimas.

33
BRASIL. Secretaria Nacional de Justiça. Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas Brasília:
Ministério da Justiça, 2008, p. 08.
44

Deste modo, o texto publicado pela Secretária de Justiça, do Ministério da Justiça, a


função de elaborar o I Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas ficou a cargo de
um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI).
A comissão de elaboração era composto dos principais órgãos do Poder Judiciário do
Brasil, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, a Defensoria Pública da
União, entre outros órgãos, bem como organizações não governamentais, especialistas nos
estudos do crime de tráfico de pessoas dentre outras Organizações Internacionais34
Destarte, como dito anteriormente, o I PNETP possuía 03 eixos fundamentais. No
primeiro bloco se discutia sobre a prevenção e suas principais primazias se relacionavam ao
levantamento, sistematização, elaboração, divulgação de estudos, pesquisas, informações e
experiências sobre o tráfico de pessoas, além de, capacitar e formar atores envolvidos direta ou
indiretamente com o enfrentamento ao tráfico de pessoas na perspectiva dos direitos humanos,
na mobilização e sensibilização de grupos específicos e comunidade em geral sobre o tema do
tráfico de pessoas, na diminuição da vulnerabilidade ao tráfico de pessoas de grupos sociais
específicos35.
Já no segundo eixo do I PNETP discutia sobre a atenção que deveriam oferecer as
vítimas do tráfico de pessoas, não apenas aos brasileiros, já que o Brasil é considerado como
um dos países de “origem” “trânsito” e “destino” desta prática criminosa. Sua principal
finalidade era articular, estruturar e consolidar, a partir dos serviços e redes já existentes, em
um sistema nacional de referência e atendimento às vítimas de tráfico36.
No terceiro e último eixo, seu foco primordial discute sobre os modos de repressão e
responsabilização dos autores do tráfico de pessoas, ou seja, os aliciadores ou também
conhecidos como “gatos”. No centro das prioridades, o I PNETP discute a importância do
aperfeiçoamento da legislação brasileira concernente ao crime de tráfico de pessoas e crimes
correlatos, bem como no aprimoramento de instrumentos para o enfrentamento ao crime etc.37.
Em uma breve síntese, como dita a Cartilha Sobre Enfretamento ao Tráfico de Pessoas,
elaborado no ano de 2015, o I Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP)
“teve sua vigência entre os anos de 2008 e 2010, contemplando ações específicas para as

34
Ibidem, p. 11.
35
Ibidem, p. 13-14.
36
Ibidem, p. 15.
37
Ibidem, 16-17.
45

perspectivas da prevenção, responsabilização e repressão dos agentes e atenção às vítimas


ditando recomendações para então elaboração do II PNETP” 38.

3.2 – II PLANO NACIONAL DE ENFRETAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS

O I PNETP sem dúvidas nenhuma foi um marco histórico para o Brasil no que diz
respeito ao combate ao tráfico de seres humanos. Contudo, os órgãos responsáveis por este tipo
de fiscalização não poderiam se satisfazer ali. O tráfico de pessoas é um crime complexo,
silencioso, flexível e moldável, a qual veio se aperfeiçoando às novas realidades desde 2006.
Neste sentido, o Ministério da Justiça, no decorrer dos anos, começou a elaborar internamente
já alguns estudos para uma futura elaboração do II PNETP, com uma esfera de abrangência
maior de proteção à vítima e no combate e prevenção do crime em si em maior escala.
Após a aprovação do I Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas em
2006, o Ministério da Justiça provou o Decreto nº 7.901, de 04 de fevereiro de 2013, sancionada
pela então Presidente da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff. A vigência do II
Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas ocorreu entre os anos de 2013 a 2016.
No ano de 2016, último ano de vigência do II PNETP, o Ministério da Justiça elaborou
um relatório de avaliação de resultados, se as metas previstas foram alcançadas, quantas
parcialmente foram atingidas e quantas precisa de aperfeiçoamentos, já que não atingiram os
resultados minimamente esperados. Por fim recomendações para o III PNETP.
O II Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP), previsto em 115
(cento e quinze) metas a serem cumpridas e 14 (quatorze) atividades em 05 linhas operativas
distintas. Entre os anos de 2013 a 2016, período de vigência do plano, foi elaborado 09 (nove)
relatórios de avaliação parcial do II PNETP. Neste sentido, ficou demonstrado que das 115
(cento e quinze) metas prevista, alcançou-se 66 (sessenta e seis) delas, com resultados dentro
do previsto.
Entre as metas parcialmente alcançadas e as que não atingiram os resultados
minimamente esperados, estão entre 29 (vinte e nove) e 20 (vinte) metas respectivamente. Isso
em porcentagem significa dizer que cerca de 58% (cinquenta e oito por cento) das metas
prevista no II PNETP obtiveram resultados dentro do previsto. Destas metas, 25% (vinte e cinco

38
BRASIL. Defensoria Pública da União. Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas: cartilha de orientação. Brasília:
DPU, 2015, p. 20.
46

por cento) atingiram resultados parcialmente e apenas 17% (dezessete por cento) obtiveram
resultados negativos, ou seja, não atingiram as metas previstas39.
A linha operativa 1 é composta de 09 (nove) metas. No total, apenas 03 destas
obtiveram resultados satisfatórios, no entanto são consideradas a de maior peso na linha
operativa 1. Os itens 1.A.1 que dispõe sobre a estratégia desenvolvida para viabilizar a
aprovação do Projeto de Lei nº 5.655, de 20 de julho 2009, de autoria do Poder Executivo, que
visa reformular o Estatuto do Estrangeiro; Item 1.A.2 prevê sobre estratégia desenvolvida para
viabilizar a elaboração e aprovação de projeto de lei específico sobre tráfico de pessoas; e o
item 1.A.3 é referente ao anteprojeto de lei elaborado para estabelecer punição mais rigorosa
dos autores do crime de tráfico de pessoas, inclusive na aplicação da lei de execuções penais
para tais casos40.
Uma das principais dificuldades para o combate ao Tráfico de Pessoas na época do II
PNETP era a legislação que tipificava inadequadamente o delito no Código Penal Brasileiro.
Deste modo, uma das principiais metas prevista, está disposto justamente na linha operativa 01,
item 1.A.2 e 1.A.3 e uma das principais conquistas. Trata-se da produção de propostas
normativas para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Meta foi alcançada em graças a Lei nº 13.344/16 que aumentou o rol de modalidades
do tráfico de pessoas tipificado Código Penal Brasileiro. De acordo com o Relatório de
avaliação do II PNETP, este primeiro item do plano, chegou alcançar 34% (trinta e quatro por
cento) de aprovação, muito em favor da aprovação da lei supracitada, já que as metas
parcialmente alcançadas e não alcançadas neste item ficou entorno de 33% (trinta e três por
cento) para ambos os quesitos41.

3.2.1 – Linha Operativa 2

Na linha operativa 2, que destaca quanto ao Aperfeiçoamento da Normatização e do


Marco Regulatório para Fortalecer o Enfrentamento ao Tráfico De Pessoas, prevê 08 (oito)
atividades subdividas em 62 (sessenta e duas) metas a serem cumpridas no decorrer da vigência
do II PNETP. Contudo, nem todas as metas foi possível atingir, ficando algo entorno dos 60%
(sessenta por cento) das metas atingidas. Ainda foram parcialmente atingidas 29% (vinte e nove

39
BRASIL. Ministério da Justiça. II Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2013-2016):
Relatório de avaliação de Resultados. Brasília: 2017, p. 24-25.
40
Ibidem, p. 27
41
Ibidem, p. 26.
47

por cento) dessas metas e cerca de 11% (onze por cento) infelizmente não chegaram a ser
atingidas42.
A linha operativa 2 sem dúvidas é a mais extensa, e por isso entre as 05 linhas
operativas de combate ao tráfico de pessoas pode-se considerar a que resultou em dados
positivos, considerando a etapa de metas atingidas ou parcialmente atingidas. Resultados estes
que na totalidade gira entorno de 89% (oitenta e nove por cento) das metas criadas pelo II Plano
Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas.
Esta importante linha operativa ao combate do tráfico de pessoas, possui 08 (oito)
atividades a serem cumpridas como dito anteriormente, estabelecidas entre os itens 2.A à 2.H.
A atividade 2.A é subdividida em 05 (cinco) metas a serem cumpridas, composta
principalmente com a finalidade de fortalecer a atuação integrada dos atores governamentais de
forma descentralizada, apoiando os Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, os Postos
Avançados de Atendimento Humanizado ao Migrante e os Comitês de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas, garantindo a articulação das ações, o intercâmbio de experiências e a
participação da sociedade civil43.
O item 2.B também é subdivido em 05 (cinco) metas a serem cumpridas, concentrando
seus esforços em construir mecanismos, processos e sistemas para monitorar e avaliar a atuação
no enfrentamento ao tráfico de pessoas e a implementação do II PNETP, com participação e
transparência44.
Ainda nesta linha operativa 02, o item 2.C possui 04 (quatro) metas a serem cumpridas,
alcançando resultados positivo em todas. Seu principal foco está relacionado a promover
relações de cooperação transfronteiriça para o enfrentamento ao tráfico de pessoas, fortalecendo
capacidades e estruturas45.
No item 2.D, apresenta um quantitativo de 19 (dezenove) metas a serem cumpridas,
no entanto, apenas 10 (dez) obtiveram resultados positivos e 17 (dezessete) apresentaram
resultados parcialmente, contudo não foram classificadas como metas totalmente atingidas.
Sua principal atividade é no que diz respeita a criação, financiamento e implementação
de estratégias de integração dos sistemas nacionais de atendimento e reintegração das vítimas
do tráfico de pessoas, fortalecendo a rede de atendimento, integrando normativas e
procedimentos, articulando as responsabilidades entre atores da rede de atendimento, definindo

42
Ibidem, p. 29.
43
Ibidem, p. 30.
44
Ibidem, p. 32
45
Ibidem, p. 34.
48

metodologias e fluxos de atendimento e disseminando material informativo para um adequado


processo de atendimento sob a perspectiva de direitos46.
Quanto ao item 2.E, foram incluídos 12 (doze) metas, alcançando resultados desejáveis
em 08 (oito). Ademais, 03 (três) metas obtiveram resultados parcialmente desejáveis. O item
2.E buscava fortalecer articulação e ampliar as capacidades dos órgãos competentes para
implementar ações de repressão do tráfico de pessoas e responsabilização dos seus autores47.
Neste último quesito, o principal ponto negativo e bastante indesejável, foi quanto ao
fato de não conseguirem implantar durante o período de vigência do II PNETP as delegacias
especializadas a crimes que violam os Direitos Humanos no âmbito da Superintendência da
Policia Federal.
A atividade 2.F possui como principal aspecto o combate a redes, pessoas e
organizações que se beneficiam financeiramente do tráfico de pessoas, nacional e
internacionalmente, por meio de operações táticas integradas de prevenção, repressão e
responsabilização, em uma estratégia de criação de exemplaridade.
Neste item, o II PNETP obteve seu principal fracasso, pelo motivo de apenas 02 (duas)
das 12 (doze) metas elaboradas chegarem a atingir os resultados esperados. Das metas atingidas,
esta por exemplo a do item 2.F.6, dispõe sobre a estratégia integrada de visibilidade das ações
de repressão e responsabilização para gerar exemplaridade institucional, legal e de
procedimentos, além de formar opinião pública nacional contra o tráfico de pessoas
implementada, inclusive com a divulgação de uma operação no Estado do Tocantins,
denominada de da Operação Fontana Di Trevi 48.
O plano 2.G buscava ampliar o acesso a direitos por parte de vítimas e grupos
vulneráveis ao tráfico de pessoas e a oferta de serviços e iniciativas públicas, prioritariamente
em municípios e comunidades identificadas com focos de aliciamento de vítimas de tráfico de
pessoas, com vistas a diminuir tal vulnerabilidade e seus impactos relacionando um total de 06
(seis) metas a serem cumpridas. Destas, 04 (quatro) das metas atingiram resultados
satisfatórios49.
E um dos pontos mais significativos também é relacionado à atividade 2.H, já que o
Brasil é considerado também como um dos países de “trânsito” e “origem”. Neste sentido, o II
PNETP considerou a importância de promover a garantia de direitos de cidadãos estrangeiros

46
Ibidem, p. 36.
47
Ibidem, p. 45.
48
Ibidem, p. 50 e 51.
49
Ibidem, p. 53.
49

vítimas do tráfico de pessoas no Brasil, incluindo 04 (quatro) metas a serem atingidas, obtendo
resultados significativos em 02 (duas) destas50.
A linha operativa 3 é composta por apenas 01 (uma) atividade específica, a qual busca
capacitar, conscientizar e sensibilizar profissionais, atores e grupos sociais para o
enfrentamento ao tráfico de pessoas, com atenção para as localidades onde haja maior
incidência ou risco de ocorrência.
Destarte, esta atividade é subdivida em 25 (vinte e cinco) metas impostas, alcançando
um expressivo resultado de 64% (sessenta e quatro por cento), o que representa cerca de 16
(dezesseis) das 25 (vinte e cinco) metas atingidas. 20% (vinte por cento) das metas parcialmente
atingidas. Destas, apenas 16% (dezesseis por cento) não alcançaram resultados de modo
algum51.
Quanto à linha operativa 4, esta destaca sobre a produção, gestão e disseminação de
informação e conhecimento sobre tráfico de pessoas, onde prevê 03 (três) tipos de atividades,
subdivida em 15 (quinze) metas, onde 47% (quarenta e sete por cento) destas foram atingidas,
e ainda obteve 20% (vinte por cento) das metas parcialmente atingidas e apenas 33% (trinta e
três por cento) não chegaram de algum modo a serem positivas52.
O primeiro item da linha operativa 4, item 4.A dispõe sobre a apoiar, financiar,
desenvolver e disseminar diferentes tipos de pesquisas em parceria com organizações da
sociedade civil e Instituições de Ensino Superior (IES) sobre o tráfico de pessoas e sua relação
com situações de violações de direitos ou vulnerabilidade, com atenção às diferentes dinâmicas
nacionais e internacionais de forma a subsidiar ações e políticas públicas. Este item prevê 08
(oito) metas a serem cumpridas nos 3 anos de vigência do II PNETP. No entanto, apenas 01
(uma) das metas foi atingida53.
A atividade 4.B busca como finalidade realizar iniciativas para troca de
conhecimentos, boas práticas, experiências e aumento do conhecimento sobre o tema por parte
das populações vulneráveis, contribuindo para fortalecer e articular os atores envolvidos no
tema. Neste item, todas as 04 (quatro) metas impostas foram atingidas54.
O item 4.C possui como principal foco a criação de um sistema de dados sobre tráfico
de pessoas informatizado, integrado e multidisciplinar, atualizado permanentemente pelos
atores envolvidos para subsidiar a coordenação de ações e intercambiar informações entre as

50
Ibidem, p. 56.
51
Ibidem, p. 59-60.
52
Ibidem, p. 70.
53
Ibidem, p. 71.
54
Ibidem, p. 74.
50

diferentes organizações. Incluindo no sistema também 04 (quatro) metas a serem cumpridas,


atingindo resultados favoráveis em 03 (três) destas 55.
Como por exemplo, o item 4.C.4, que dispõe sobre os relatórios públicos do sistema
de informações sobre o enfrentamento ao tráfico de pessoas realizado e publicado anualmente,
inclusive com versão na rede mundial de computadores. Neste item, a principal meta atingida
foi por meio do “Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Pessoas: Dados de 2013”. Principal
meio de estudo para composição do II capítulo deste presente trabalho científico56.
E por fim, a linha operativa 5, que realizava diversas campanhas de mobilização para
o enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. Esta linha operativa do II PNETP se enquadra na
modalidade de prevenção ao crime em si. A qual tentam levar ao conhecimento da sociedade
por meios de programas e publicidades em Jornais, TV e Rádio o perigo que o tráfico de pessoas
representa na atua sociedade, as modalidades do crime, os meios de denúncias entre outros.
É composta por apenas 01 (uma) atividade, subdivida em 04 (quatro) metas. 75%
(setenta e cinco por cento) destas metas atingiram resultados desejáveis, enquanto 29% (vinte
e nove por cento) atingiram resultados parcialmente favoráveis. 11% (onze por cento)
indesejáveis57.
Esses meios de comunicação com a sociedade está definida nos itens da linha operativa
05, por exemplo: item 5.A.1 campanha nacional sobre tráfico de pessoas realizada durante os
grandes eventos ou no item 5.A.4 prevê sobre campanha nacional de prevenção ao tráfico de
pessoas realizada, onde o Brasil passou a adotar a partir do ano de 2013 a campanha do coração
azul de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas58.
Por fim, ao realizar toda a avaliação do II Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico
de Pessoas, realizou-se o I Seminário Internacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas e
Contrabando de Imigrantes, realizado entre os dias 19 e 20 de setembro de 2017 no Estado do
Rio de Janeiro. Onde contou com a presença de aproximadamente 150 (cento e cinquenta)
pessoas, incluindo governadores, sociedade civil, instituições internacionais e nacionais de
enfretamento ao Tráfico de Pessoas.
Após analisarem todo o conteúdo do relatório de avaliação, os integrantes do I
Seminário de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e do Tráfico de Imigrantes, começaram a
discutir sobre a criação do novo PNETP, teria vigência entre os anos de 2018 a 2022. Vários

55
Ibidem p. 74
56
Ibidem, p. 75
57
Ibidem, p. 77
58
Ibidem, p. 78- 79
51

debates entre os Grupos de Trabalho (GT) ocorrerão, diversas novas propostas apareceram para
aperfeiçoamento das metas, tanto na prevenção, repressão e responsabilização para os autores
do delito, incluído o de assistência às vítimas.

3.3 – III PLANO NACIONAL DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS

Como dito anteriormente, durante o I Seminário Internacional de Enfretamento ao


Tráfico de Pessoas e Contrabando de Imigrantes, no Rio de Janeiro, iniciou-se as conversas
para a criação do III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas. A partir da
avaliação do II PNETP, chegaram a um quantitativo de 58 (cinquenta e oito) novas metas a
serem cumpridas durante os anos de vigência do III PNETP, entre os de 2018 a 2022.
No dia 03 de julho de 2018, o então Presidente da República Federativa do Brasil,
Michel Temer, juntamente com o Ministro Gustavo Rocha, assinaram o Decreto nº 9.440/18 a
qual aprovou o III Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas (PNETP), incluindo
as 58 (cinquenta e oito) metas dividas em 05 (cinco) eixos de atuação do bloco.
O artigo 2º do Decreto nº 9.440/18 dispõe sobre os objetivos do III PNETP, prevê por
exemplo no inciso I, o ampliamento e aperfeiçoamento da atuação da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios no combate ao tráfico de pessoas, na prevenção e repressão; inciso IV em
capacitar profissionais, instituições e organizações envolvidas com o enfrentamento ao tráfico
de pessoas entre outros objetivos elencados no art. 2 do referido Decreto:
As diretrizes primordiais impostas desde o I PNETP continuam em vigência, onde o
Estado visa prevenir, reprimir e combater o crime do Tráfico de Pessoas acima de tudo. No III
PNETP o governo brasileiro também buscou algumas alternativas para uma melhor atenção às
vítimas do tráfico de pessoas.
O III Plano Nacional de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas é divido em 06 (seis)
eixos essenciais para o sucesso do programa, onde cada um é destinado a um tipo de finalidade,
como acontece também com as Linhas Operativas do II PNETP. Essa composição este definida
em:
Eixo 1 – Gestão Pública: É subdivida em 12 (doze) metas a serem cumpridas até o
fim de vigência do plano que tem duração de 04 anos. Este eixo ele possui uma característica
mais administrativas, onde os órgãos de combate ao tráfico de pessoas, como por exemplo, o
Ministério Público Federal, os Tribunais Regionais do Trabalho, Polícia Federal elaboram
planos de enfrentamento ao tráfico de pessoas em âmbito nacional, divulgam mapas com as
ações de combate, divulgam também as famosas “listas sujas” e o ponto principal até então,
52

composto pelo item 1.11. estabelece em “Apoiar a ratificação do Protocolo à Convenção sobre
Trabalho Forçado, de 2014, da Organização Internacional do Trabalho” 59.
Eixo 2 – Gestão de Informação: Este item está distribuído em 09 (nove) metas a
serem alcançadas entre os anos 2018 a 2022, período de vigência do III PNETP, assim, as
atuações destaca-se mais na esfera administrativa, os chamados bastidores do enfrentamento ao
tráfico de pessoas. Sua principal atividade está relacionada a elaboração e divulgação de estudos
e diagnósticos que abordem os temas da prevenção, repressão e atenção ás vítimas. Bem como
a divulgação dos canais de disque-denúncia por meio do disque 100 e do 18060.
Eixo 3 – Capacitação dos Agentes que Trabalham em Rede Nacional para a
Prevenção, Repressão e Assistências às Vítimas do Tráfico de Pessoas: esta seção esta
subdivido em 08 (oito) metas. Deste modo, busca-se melhorar o nível dos agentes em trabalho
de campo e interno. Capacitação esta, como destaca o item 3.7, também pode-se referir na
abordagem do tema nas escolas com debates entre alunos e professores sobre o assunto tráfico
de pessoas, com disponibilização de obras literárias nas bibliotecas físicas e digitais etc.61.
Os dois três últimos eixos de atuação do III Plano Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas são os mais importantes e os que de fato, apresentam resultados mais
significativos, quando da avalição das metas ao fim do período de vigência.
Eixo 4 – Responsabilização dos Autores: Esta esfera esta subdivida em 11 (onze)
metas, o eixo de número 4 envolve tanto as atuações administrativas, como as atividades de
campo, onde os agentes atendem as denúncias e suspeitas do tráfico de pessoas a fim de
combater a atividade irregular. Por exemplo, o item 4.11, do III PNETP, busca a articulação de
investigações policiais contra o tráfico de pessoas, inclusive com equipes especializadas em
uma das modalidades que nas últimas décadas vem aumentando consideravelmente, o tráfico
de pessoas mediante a rede virtual62.
Outro exemplo que merece destaque referente ao eixo 4 é quanto ao item 4.10,
que busca a realização de estudos sobre a relação entre o tráfico de pessoas e a execução de
grandes obras de infraestrutura, mineração e energia no Brasil. Estudo este que é de enorme
importância para o sucesso do eixo 4, visto que, comprovadamente, o tráfico de pessoas na zona

59
BRASIL. Decreto nº 9.440, de 03 de julho de 2018. Aprova O III Plano Nacional de Enfrentamento Ao
Tráfico de Pessoas. Brasília, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/Decreto/D9440.htm>. Acesso em: 27 out. 2018.
60
Ibidem
61
Ibidem
62
Ibidem
53

urbana, principalmente em regiões com grande concentração de mão-de-obra está em auto


crescimento63.
Estatísticas obtidas de estudos realizados no passado, demonstra que estados
como de São Paulo e Minas Gerais, o tráfico de pessoas para trabalho análogo a de escravo está
cada vez mais em alta, principalmente na área da construção civil.
Eixo 5 – Assistência à Vítima: o III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas tem um cuidado maior com aquela que certeiramente é a que mais sofre com o crime
propriamente dito, a própria vítima. Essas pessoas que suportam as piores violações, onde todos
os seus direitos são ignorados.
Deste modo, o item 5 esta subdivido em 09 (nove) metas. Entre suas principais se
destaca o item 5.7, onde estabelece a iniciativa para inserir às vítimas do Tráfico de Pessoas em
cursos preparatórios, ao ensino técnico, do Ministério da Educação, visando uma melhor
capacitação para então tentar inserir este cidadão em um mercado de trabalho de forma
qualificada, de modo digno64.
Eixo 6 – Prevenção e Conscientização Pública: Subdivida em 09 (nove) metas, este
item destaca-se para as campanhas de conscientização da população, previsto também no II
PNETP, como comerciais em Rádio e TV, nas mídias sociais, adoção da campanha coração
azul, representa a tristeza das vítimas do tráfico de pessoas. Bem como a “realização de
campanhas de conscientização e sensibilização nas esferas federal, estadual e municipal e na
divulgação do aplicativo Proteja Brasil como canal de denúncia do tráfico de pessoas e
aprimoramento dos fluxos de encaminhamento das denúncias recebidas”, como prevê as metas
6.7 e 6.865.
Em suma, o III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, nas palavras
do Ministro dos Direitos Humanos, Gustavo Rocha, terá como principal área de atuação a
“implementação tem foco em populações consideradas vulneráveis, como crianças e
adolescentes, mulheres, pessoas idosas, pessoas com deficiência, população LGBT e vítimas
de trabalho escravo". (MDH, 2018)
Destarte, de acordo com o Secretário Nacional de Cidadania, Herbert Barros, a
proposta do III PNETP é:

Trabalhar estas metas de forma abrangente, com atenção à prevenção e repressão a


este crime, a responsabilização dos autores e o suporte às vítimas. Os atores
envolvidos, principalmente o MDH e o Ministério da Justiça, vão articular para

63
Ibidem
64
Ibidem
65
Ibidem
54

executar ações nas esferas federal, estadual, municipal e distrital, com o apoio da
sociedade civil e organismos internacionais. (MDH, 2018).

Assim, constata-se que embora haja muitos problemas a serem resolvidos ainda, o
Brasil vem buscando os melhores meios para combater, prevenir, responsabilizar os agentes
que facilitem o tráfico de pessoas e com isso, tentar sair da lista de exportador e importador de
seres humanos, seja para exploração sexual, remoção de órgãos, servidão, trabalho em
condições análogas a de escravo etc.
55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo exposto, nota-se que embora o tráfico de pessoas seja um crime datado
de muito tempo atrás, este nunca deixou de ser um grave problema para a comunidade
internacional. Como demonstrado durante todo o corpo do presente Trabalho de Conclusão de
Curso, diversos tratados e convecções foram assinadas durante um longo período de tempo,
sempre com espeque na proteção aos Direitos Humanos, como garantia fundamentais para uma
boa qualidade de vida.
No entanto, os países que compõe este enorme planeta denominado de “Terra” vêm a
muito passando por crises humanitárias, econômicas, sociais e políticas que de uma forma ou
de outra, facilita para o grande aumento das estatísticas do crime.
A Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas adotado pelo Brasil em
2006 marcou um grande salto na história do país contra o tráfico de seres humanos. Observa-
se que os princípios elencados no I Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
foram os eixos básicos para a criação do II e III PNETP.
Os dados obtidos mediante à avaliação do II Plano Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas, e expostos no III capítulo deste presente trabalho, só fortalece o
entendimento que o Brasil está no caminho certo ao combate deste terrível mau que é o tráfico
de pessoas. Embora haja alguns pontos para melhorar, o referido plano, no geral, colheu bons
resultados.
Principal conquista do II PNETP é em razão da elaboração da lei do tráfico de pessoas,
descrita pela Lei nº 13.344 de 2016, no qual acrescentou o leque de hipóteses do tráfico de seres
humanos como já mencionava o Protocolo de Palermo. Já que o ordenamento jurídico brasileiro
tipificava apenas o tráfico internacional e interno de pessoas para exploração sexual.
Um dos grandes pontos negativos do II PNETP foi o fracasso na tentativa de instalar
delegacias especializadas ao tráfico de pessoas na Superintendência da Polícia Federal e no
corte de verbas orçamentárias dos órgãos responsáveis de execução do II PNETP.
O III PNETP, lançado em julho deste ano (2018), busca solucionar algumas metas
não atingidas pelo plano anterior, assim como, aperfeiçoar aquelas que obtiveram resultados
satisfatório. Neste plano o principal foco encontra-se respaldado na proteção à vítima e na
responsabilização dos autores, bem como, em uma melhor conscientização da sociedade.
Por fim, pode-se afirmar que o propósito deste presente estudo se encontra alcançado,
já que umas das principais finalidades era demonstrar a sociedade, ao caro leitor, estatísticas
reais quando ao delito em debate, assim, podendo futuramente identificar uma pessoa em
56

situação de trabalho escravo, de exploração sexual entre outras modalidades, por quais números
é possível denunciar uma hipótese ou suspeita do tráfico de pessoas etc.
57

REFERÊNCIAS

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A Lei no 6.815, de 19 de agosto de 1980, O Decreto-lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941
(código de Processo Penal), e O Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (código
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