Você está na página 1de 5

Nome: Sonia Edith da Silva

Data de entrega: 09/10/2019


Disciplina: Biologia e evolução humana
Professora: Larissa
Trabalho: Fichamento modelo bibliográfico

Referência bibliográfica:

OLIVA, Angela Donato., & VIEIRA, Mauro Luis. (Orgs). Evolução, Cultura e
Comportamento Humano. Florianópolis: Edições do Bosque/CFH/UFSC,
2017. – (Série Saúde e Sociedade, Vol. 1).
Resumo / conteúdo de interesse:

A psicologia evolucionista é uma área recente que tem contribuído para


a promoção da compreensão de vários aspectos do comportamento humano
e na investigação dos processos psicológicos. Como em toda a ciência, há
muitas críticas pertinentes sobre o assunto. No entanto, maior parte de
preconceitos e mal-entendidos decorre de interpretações equivocadas,
geralmente por divulgações pela mídia, a partir de estudos realizados sob essa
linha teórica.
Comportamentos podem ser adaptativos, mas não herdamos
diretamente comportamentos especificamente codificados ou programados.
Nós herdamos as estruturas cognitivas, ou módulos mentais, que são as
adaptações referentes ao comportamento. E são os módulos mentais na sua
interação com o ambiente em que vivemos que produzem comportamentos
dentro de cada contexto cultural
Como a Psicologia Evolucionista reconhece que temos muitos módulos
mentais, que são abertos e calibráveis, ou seja, plásticos e maleáveis pelo
ambiente, e ainda, especializados em gerar e processar conteúdos culturais,
segundo sua perspectiva, o ser humano é biologicamente cultural. A cultura
não é algo antinatural alheio à biologia humana. A cultura é parte essencial da
natureza humana, influencia e é influenciada por nossas adaptações mentais.
Portanto, a diversidade cultural não é a prova de que o comportamento
humano independe de adaptações mentais, mas sim de que nossas
adaptações mentais são ricamente voltadas para os contextos culturais em
que crescemos.
Assim como as adaptações mentais de cada pessoa também são fruto
de uma interação única com seu ambiente, o que torna cada pessoa única.
Mesmo que duas pessoas brasileiras tenham as mesmas adaptações mentais
voltadas ao aprendizado da linguagem, e tenham o mesmo contexto cultural
da língua portuguesa, elas podem ter sotaques e gírias diferentes segundo as
regiões específicas em que cresceram. E isso não é a prova de que elas não
têm adaptações mentais igualmente, mas sim de que suas adaptações
mentais são abertas à informação ambiental que varia de região pra região.
A Seleção Natural moldou filogeneticamente adaptações mentais que
geram tanto comportamentos adaptativos mais controláveis – como a
detecção de trapaceiros e a escolha de parceiros –, quanto os mais
incontroláveis – como os medos.
Nossos módulos mentais foram selecionados no ambiente ancestral, ou
seja, no ambiente de nossa adaptabilidade evolutiva e não no ambiente
moderno e tecnológico atual. Então, pelo viés da Psicologia Evolucionista
muitos de nossos comportamentos atuais são compreendidos como não
adaptados, por estarmos deslocados de nosso ambiente natural. Alguns
comportamentos que eram adaptativos no ambiente ancestral atualmente
podem não ser, a exemplo de comer doces e gordura em excesso. No
ambiente ancestral era adaptativo acumularmos o máximo possível de calorias
em uma única refeição, pois não havia abundância de alimentos tal como
ocorre hoje.
A abordagem do gene egoísta não é uma abordagem molecular para o
egoísmo. O gene egoísta não é “aquilo” que pessoas egoístas têm. Muito
menos a teoria diz que todos os genes têm desejos conscientes egoístas,
como se eles só “pensassem” em si próprios. Os genes não possuem desejos
conscientes. Eles simplesmente se autorreplicam. Aqueles que não se
autorreplicaram não sobreviveram e não estão representados hoje. O padrão
de autorreplicarão cega produz resultados que por vezes são interpretados
como se determinados genes tivessem interesse em ser mais representados
nas próximas gerações. Tais genes não “têm” realmente esse interesse, mas
agem cegamente como se tivessem.
Vivemos em uma unidade de tempo mais rápida que a de nossos genes.
Isso implica em não sermos dominados e controlados por eles. Somos livres
para escolher não comer doces, se assim quisermos, e livres para seguir o
propósito de não ter filhos, se assim o desejamos, livres para abdicar do sexo
e até da própria sobrevivência. Temos esses pequenos vieses herdados em
comer doce, ter filhos, praticar sexo e sobreviver, o que torna mais provável
realizarmos tudo isso e mais difícil resistir a esses comportamentos, por
sermos herdeiros de ancestrais que sobreviveram a ponto de deixar
descendentes. Tais propensões foram moldadas no ambiente ancestral e não
no atual. Então somos livres para fazermos o que bem entendermos agora
com nosso corpo e com nossa mente.
A Psicologia Evolucionista vem descobrindo muitas diferenças
psicológicas inéditas entre homens e mulheres. Essas descobertas têm
gerado confusão e muitos apregoam ser esta uma teoria baseada em
machismo ou sexismo. Essa confusão vem de três problemas: Primeiro, a
generalização ingênua.
O preconceito ocorre quando ingenuamente julgamos a priori uma
pessoa pela média dos atributos de seu grupo. Dizer que homens têm mais
facilidade para a localização espacial não habilita ninguém a destratar,
desmerecer ou desqualificar uma mulher por seu modo de dirigir. Finalmente
vem a confusão entre diferença e desigualdade. Nenhuma diferença
anatômica ou mental entre homens e mulheres implica qualquer julgamento
de valor. Todos os seres humanos devem, por princípio, ter iguais direitos e
oportunidades. Não há incompatibilidade entre sermos diferentes e termos
garantias de igualdade de direitos.
Confundir explicações científicas com recomendações ou justificativas
morais é o erro mais perigoso, por seu forte conteúdo emocional. É conhecido
como falácia naturalista e implica numa nivelação equivocada entre o “é” das
explicações descritivas e o “deve ser” das recomendações morais. Enquanto
cientistas – cientes de que todo conhecimento tem um grau de incerteza –
usam o verbo “dever” no sentido de “haver uma probabilidade de” para explicar
a previsão de uma possibilidade, como na frase “Se existirem componentes
herdáveis na propensão ao estupro e se alguns estupros tiverem gerado filhos,
então deve ter havido uma pressão seletiva favorecendo as propensões
envolvidas no estupro”. Nossas propensões mentais não são desculpa para
nenhum ato danoso.
Por que esses mal-entendidos acontecem com tanta frequência? A
primeira fonte de explicação foca a causa dos mal-entendidos em nossos
próprios padrões cognitivos de processamento de informações. Temos a
tendência a simplificar qualquer informação para reduzir a demanda por
recursos cognitivos e um forte desejo de gerar previsões a partir de casos
específicos, o que nos faz incorrer na generalização. Quando esses padrões
cognitivos são usados na tentativa de entender a relação entre gene, ambiente
e comportamento, facilmente caímos nas super simplificações como “gene
gay” ou “gene da felicidade”, na tentativa de se aplicar o modelo mendeliano,
que é simples, ao comportamento, que não o é. O desenvolvimento
ontogenético é uma complexa interação singular entre genes, sequência
temporal dos ambientes externos e eventos aleatórios. Outra fonte de mal-
entendidos envolve a aparente simplicidade da teoria da evolução. A facilidade
de apreender o conceito de seleção natural leva as pessoas a pensar que
entenderam completamente a evolução depois de um rápido contato com a
teoria. Saber o modo darwinista de explicar o tamanho do pescoço da girafa
não garante pleno entendimento do evolucionismo, principalmente quando
aplicado ao comportamento humano. Isso contribuiu para o aparecimento de
abusos que se seguiram ao surgimento da teoria da evolução, pautados em
mal-entendidos. Nessa época, a teoria de Darwin ainda não contava com a
genética, com estudos sobre comportamentos sociais de animais, com
análises de custos e benefícios para as adaptações e nem com estudos sobre
a cognição.
A identificação, resolução e busca das causas desses mal-entendidos
não deve ser confundido com a busca do fim de críticas e resistência a área
mas sim na diminuição de interpretações mal fundamentadas, fomentando a
promoção de críticas pertinentes.
Conscientizar sobre este tema pode vir a ter uma maior reflexão e
pensamento críticos tanto para o público quanto para os autores, fazendo com
que não se tenha interpretações ambíguas e mal-entendidos.

Você também pode gostar