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2, 3 e 4 de Julho de 2009

ISSN 1984-9354

GESTÃO DE RISCOS NA OPERAÇÃO DE


PLATAFORMAS DE PETRÓLEO

Mauricio de Paula Oliveira


UFF

Eduardo Qualharini
UFRJ

Resumo
Com o afundamento da plataforma de petróleo P-36 da Petrobras, foi
constatado pela alta administração dessa empresa que a Gestão de
Riscos deveria sofrer uma reavaliação e nova restruturação e, passar a
ser parte integrante dos processos de Gestão, acompanhando todo o
ciclo de vida da Unidade Marítima de Produção, começando pela
concepção em suas bases de projeto, pela operação até o seu
descomissionamento. Devido às obras realizadas a bordo nessas
unidades durante a fase de operação, a Gestão de Mudança é um fator
essencial ao sucesso da Gestão de Riscos, por isso, esse trabalho
mostrará as metodologias aplicadas no processo de Análise de Riscos.

Palavras-chaves: Gestão de Riscos, Riscos, Plataforma de Petróleo.


V CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO
Gestão do Conhecimento para a Sustentabilidade
Niterói, RJ, Brasil, 2, 3 e 4 de julho de 2009

1. A SITUAÇÃO PROBLEMA VINCULADA À PESQUISA


Com o advento do acidente da plataforma P-36 e seu afundamento, foi necessário
estabelecer um maior controle nos riscos ainda na fase de projeto. Durante a operação das
Unidades Marítimas de Produção é necessária a continuidade do gerenciamento dos riscos
advindos das alterações e adaptações do projeto original, com o intuito de prevenir acidentes.
As alterações propostas durante a construção e montagem de uma plataforma, como
também as mudanças ocorridas durante a fase de operação devem ser tratadas em
Gerenciamento de Mudanças a fim de identificar as alterações nos riscos da unidade de
produção, visto que vários acidentes ocorridos no passado foram oriundos de uma má
administração na documentação de projeto, ou seja, os serviços são planejados e liberados
com base em documentos ultrapassados levando o trabalhador ao erro.
Quando da construção e uma plataforma de petróleo os projetos precisam ser
avaliados tanto nas condições de operação quanto na visão de segurança e seus recursos de
contingência.
Após o início da operação da unidade marítima, toda e qualquer alteração de seu
projeto original deve ser avaliada quanto ao nível de risco e sua confiabilidade.

1.1. OBJETIVOS DA PESQUISA

1.1.1. OBJETIVO GERAL

Apresentar os diversos estudos de Análise de Riscos aplicados a uma plataforma de


petróleo.

1.1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar os estudos de análise de riscos e as fases do ciclo de vida da Unidade de


Produção onde são aplicados e;
 Analisar os resultados dos estudos de conseqüência.

1.1.3. AS QUESTÕES DA PESQUISA

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Para que ao final desse trabalho possam ser respondidas e haja uma visão mais clara
do tema pesquisado, algumas questões foram elaboradas:
1ª Questão: Os projetos podem incorporar propostas de alteração após uma análise de
riscos?
2ª Questão: Como é feito o levantamento dos perigos de uma plataforma de petróleo
durante a sua fase de elaboração e construção?
3ª Questão: Como é feito o levantamento dos perigos de uma plataforma de petróleo
em operação?
4ª Questão: Pode haver diferenças nos resultados das análises de riscos?

2. MÉTODO

Essa pesquisa é de natureza qualitativa, pois o objetivo será de analisar o


desenvolvimento da gestão de riscos em uma plataforma de petróleo. Ela se utilizará de um
método descritivo, uma vez que investigará a literatura existente num modelo das prática
propostas por organismos nacionais e internacionais.

3. REVISÃO DA LITERATURA

3.1. CENÁRIO DA ATIVIDADE DE EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE


PETRÓLEO

3.1.1. POSIÇÃO DO REINO UNIDO

A regulamentação do governo Inglês requer das empresas de petróleo a aprovação de


um “Safety Case” ou demonstração. Esta abordagem inclui a comprovação de que a Empresa
possui um sistema de gerenciamento que assegure o cumprimento com requisitos estatutários
de saúde e segurança, evidências da realização de auditorias internas do Sistema, identificação
de situações potenciais de perigo consideradas significativas, análise de riscos com
conseqüente redução do risco ao nível mais baixo possível (nível aceitável).
Adicionalmente, um plano de ação de emergência envolvendo prontidão, evacuação e
resgate, também deve ser um componente desse Sistema.

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Este processo vem sendo aplicado na região do Mar do Norte, às Unidades Móveis de
Perfuração e demais plataformas de produção de petróleo, com bastante sucesso. A maioria
das Unidades Marítimas pertencentes às companhias que operam no Reino Unido já foram
aprovadas.
Estudos, projetos, melhorias em equipamentos e instalações; bem como
desenvolvimento e manutenção de sistemas de gestão foram implementados pela indústria de
petróleo local. Atualmente, os esforços do setor vêm sendo dirigidos para áreas com maiores
oportunidades de melhoria, não só nas instalações industriais como também no
desenvolvimento de uma legislação mais adequada. (Curso de Gestão, Bureau Veritas, 2002)

3.1.2. POSIÇÃO DOS EUA

O “Mineral Management Services” (Órgão executivo do governo americano),


solicitou a todas as companhias de petróleo que implementassem voluntariamente sistemas de
gerenciamento de segurança e proteção ambiental, usando a norma API- RP 75 como
referência. Este Órgão vem monitorando os resultados das empresas com a implantação
desses sistemas, devendo decidir quanto a aplicação mandatória deste padrão.
A USCG (Guarda Costeira Americana), participou ativamente do desenvolvimento do
Código ISM junto aos Comitês da IMO, tendo publicado uma resolução definindo diretrizes
para implantação do Código em embarcações de bandeira americana. A USCG solicitou às
entidades de classe (IADC, National Offshore Safety Advisory Committee) a formação de
grupos de trabalho para analisar sua resolução, visando adequá-las às unidades marítimas
offshore.
Segundo a USCG com a implantação pelas empresas de Sistemas de Gestão de
Segurança e Meio Ambiente, deverá ser reduzido o escopo e a freqüência de suas
intervenções nas unidades marítimas.

3.1.3. Posição da IMO (Organização Marítima Internacional)

A IMO adotou um conjunto de emendas em sua principal convenção de Segurança


(Convenção SOLAS – Safety of Life at Sea) , Tornando mandatória a implementação do
Código ISM para determinados tipos de Unidades Marítimas. Esta medida afetou

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particularmente as unidades Móveis de Perfuração, que deveriam se enquadrar segundo os


requisitos do Código ISM, até julho de 2002.

O fato do Código ISM ter sido considerado como parte da Convenção SOLAS,
introduziu uma questão que afeta significativamente as empresas de petróleo. A princípio a
Convenção SOLAS é aplicável a embarcações propelidas envolvidas em viagens
internacionais, o que limitaria bastante o universo de unidades offshore para as quais o
Código seria mandatório.
Contudo, sob o ponto de vista técnico o nível de risco das atividades de exploração e
produção é, no mínimo, equivalentes às demais atividades marítimas. Deste modo, as
autoridades marítimas responsáveis pela aplicação das Convenções Internacionais em suas
águas territoriais, deverão estender a aplicação deste Código para outras unidades marítimas,
envolvendo as Unidades Offshore.

3.1.4. POSIÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

O Fórum Internacional das Indústrias de Exploração e Produção (E&P Fórum)


introduziu uma iniciativa notável no gerenciamento de segurança, meio ambiente e saúde
aplicável à indústria do petróleo. Este fórum é uma associação internacional reunindo
Companhias de petróleo do segmento de exploração e produção, tendo como objetivo
principal a proteção do homem e do meio ambiente.
Esta entidade publicou um documento intitulado “Guidelines for Health, Safety and
Environmental Management Systems”, desenvolvido para prover um conjunto objetivo, de
requisitos de gestão aplicáveis as operadoras e contratistas, que assegurem o cumprimento
com políticas de segurança, meio ambiente e saúde; e boas práticas de gestão.
Companhias operadoras européias estão aderindo a este modelo e passam a cobrar de
suas contratadas a implantação de sistemas semelhantes como condição pré-contratual. A
Petrobras tem aplicado essa sistemática contratual através da inclusão do Anexo de SMS nos
contratos com suas prestadoras de serviços, o qual é objeto de auditoria. (Curso de Gestão,
Bureau Veritas, 2002)

3.1.5. POSIÇÃO DA ISO (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR


STANDARDIZATION)

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A Norma ISO 14001 relacionada com a variável Meio Ambiente foi emitida em 1996
com o objetivo de se tornar um padrão internacional para desenvolvimento de Sistemas de
Gestão Ambiental aplicáveis a todos os segmentos econômicos, em particular, os segmentos
industriais.
A Petrobras aderiu fortemente a essa gestão, antecipando às demandas de órgãos
governamentais de meio ambiente e fornecendo insumos para a constante revisão da
legislação, pois essa variável é tratada tradicionalmente em conjunto com as variáveis de
segurança e saúde, antes da própria emissão do conjunto de normas ISO 14000.
Atualmente, vem sendo discutido junto aos comitês da ISO o tratamento a ser dado
para a gestão da segurança e saúde. Inicialmente se pensava na edição de um conjunto de
normas específico para a matéria. Contudo, esta tendência vem perdendo força, sendo
substituída por uma alternativa que considera as variáveis segurança e saúde conjuntamente
com a variável meio ambiente, a partir de uma revisão da norma ISO 14001.

3.1.5.1. REQUISITOS E NORMAS

Analisando os requisitos das diversas normas pode-se notar uma convergência entre os
mesmos temas básicos, com pequenas diferenças nas nomenclaturas utilizadas. É abordado os
seguintes temas principais: políticas, auditorias internas, planos de contingências, análise de
riscos, análise crítica do sistema, tratamento de não conformidades, etc.
Analogamente, os elementos fundamentais para a implantação dos Sistemas de
Gestão, independente da norma adotada, são essencialmente os mesmos, como: liderança,
definição de uma política clara e objetiva, comprometimento da alta administração e
planejamento, dentre outros.
Dentro deste contexto, a proliferação de padrões para tratamento do mesmo tema, com
envolvimento de várias entidades, poderá promover obrigações legais ou contratuais
envolvendo as indústrias do setor, criando elementos complicadores no relacionamento entre
Operadores e Contratistas ou empresas de petróleo sócias em um mesmo empreendimento.
Na implantação dos Sistemas de Gestão na empresa operadora da Unidade Marítima e
suas colaboradoras podem surgir dificuldades potenciais, onde o seu sistema é obrigado a
incorporar os requisitos do ISM Code, por imposição do Governo da bandeira ou do Governo

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responsável pela locação da operação. Tais entidades governamentais poderão, em paralelo,


exigir que o sistema cumpra seus requisitos legais específicos. Com a tendência de empresas
parceiras em determinada operação, como já visto na aquisição de novos lotes leiloados pela
Agência Nacional de Petróleo – ANP, será necessária uma equivalência mínima entre os
elementos dos sistemas próprios. Como mais um fator a ser superado, a globalização de
mercados impõe às indústrias do setor que operem simultaneamente em diferentes países, com
diferentes parceiros ou clientes e, portanto, sob diferentes condições.
Este cenário ilustra a necessidade crescente de adoção de padrões internacionais de
Gestão de Segurança, Meio Ambiente e Saúde que sejam reconhecidos e aceitos por todas as
partes interessadas que formam o setor de exploração e produção de petróleo. No atual
momento em que o Brasil atingiu a auto-eficência na produção de petróleo, a questão da
Gestão de Segurança, Meio Ambiente e Saúde deve ocupar o um lugar de destaque, e
caminhar para a formação de “valor”.

4. SISTEMAS DE GESTÃO E APLICAÇÃO DE ANÁLISE DE RISCOS

4.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A implantação do Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho, de forma que


uma estrutura adequada de responsabilidades e ações seja bem definida e haja uma boa
análise das informações, a empresa poderá alcançar o máximo em SST, otimizando seus
recursos financeiros, humanos, tecnológicos e materiais disponíveis na empresa.
A ausência de um Sistema de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho prejudica no
gerenciamento dos riscos, podendo permitir altos índices de acidentes e doenças do trabalho.
A maior prejudicada é a força de trabalho que não está coberta com um sistema de prevenção
de acidentes e doenças ocupacionais. Os efeitos danosos à saúde dos trabalhadores podem ser
percebidos a curto ou a longo prazo, trazendo a diminuição da capacidade laborativa parcial
ou total de maneira temporária ou até permanente. De todo forma a empresa tem um impacto
decrescente na produção, um ambiente de trabalho negativo com trabalhadores desmotivados
e um comprometimento na qualidade de seus produtos, ameaçando a imagem da companhia.

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4.1.2. NORMA BRITÂNICA BS 8800

A Norma BS-8800 tem como anexos a Relação com a ISO 9001 (1994, Sistemas de
Gestão da Qualidade), a Organização, o Planejamento e Implementação, a Avaliação de
Riscos, a Mensuração do Desempenho e Auditoria que mostram, conforme dito
anteriormente, “como fazer”.
Anexo D - Avaliação de Riscos: No anexo D é explicado os princípios e práticas da
avaliação de riscos de SST, e as razões da sua necessidade. As organizações devem adaptar a
abordagem descrita neste anexo para atender suas próprias necessidades, levando em
consideração a natureza de seus trabalhos e a gravidade e complexidade de seus riscos. O
processo de avaliação de riscos segue os passos apresentados na figura 3.

Figura 3: Processo de avaliação de riscos.

Classificar as atividades de trabalho

Identificar os Perigos

Determinar os riscos

Decidir se os riscos são toleráveis

Preparar plano de ação para o


controle dos riscos (se necessário)

Revisar a adequacidade do plano


de ação

Fonte: BS 8800: 1996

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A avaliação de riscos envolve três passos básicos: identificar perigos; estimar o risco
de cada perigo (a probabilidade e a gravidade do dano) e decidir se o risco é tolerável. A
intenção da avaliação de riscos SST é fazer com que os riscos sejam controlados, antes que
possa ocorrer o dano, sendo um fundamento-chave para a gestão pró-ativa da SST. Uma
avaliação de riscos baseada em uma abordagem participativa dá a oportunidade para a
administração e para os trabalhadores estarem de acordo que: os procedimentos de SST de
uma organização são baseados em percepções compartilhadas de perigos e riscos, são
necessários e viáveis e terão sucesso na prevenção de acidentes.

4.1.3. CÓDIGO ISM (INTERNATIONAL SAFETY MANAGEMENT)

O código constitui o capítulo IX do SOLAS - "Management for the Safe Operation of


Ships", e será mandatário para as empresas registradas sob bandeiras de países signatários
conforme abaixo:
 Navios de passageiros, petroleiros, químicos, gaseiros, graneleiros e embarcações
classificadas como de "alta velocidade", a partir de 01 de julho de 1998; e
 Outros navios de carga e unidades móveis de perfuração, a partir de 01 de julho de
2002.

A razão para documentar a responsabilidade e autoridade do pessoal é assegurar que


aqueles envolvidos com a Segurança e Proteção do Meio Ambiente saibam o que é esperado
deles para que o Sistema efetivamente funcione.
Rotinas de treinamento devem ser realizadas de acordo com os procedimentos e
requerimentos estabelecidos no SMS. As simulações devem enfatizar fainas em situações de
emergência, e seu propósito é o de assegurar que a tripulação atenda aos padrões
estabelecidos no SMS e ganhe confiança para controlar situações que possam surgir caso
ocorra uma emergência.
O resultado de auditorias de segurança, simulações e análise de acidentes, situações de
risco ocorridas e não conformidades são ferramentas de auxílio na identificação da
necessidade de treinamento ou de alteração nos procedimentos do SMS.

4.1.4. GESTÃO DE RISCOS

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4.1.4.1. COMO PODE SER FEITA A GESTÃO DE RISCOS?

a) As avaliações de riscos constituem um processo de suporte e as recomendações


geradas nesses estudos são fruto da percepção da equipe envolvida, a partir da aplicação de
técnicas estruturadas para identificação de perigos, possuindo caráter estritamente técnico. A
implementação dessas recomendações deve ter sua viabilidade avaliada gerencialmente, a
partir da aplicação da filosofia "ALARP" (As Low As Reasonable Practicable - Tão baixo
quanto razoavelmente praticável). Quando aprovadas, tais recomendações se tornam objetivos
relacionados à SMS, cujo controle e provisão dos recursos necessários à sua implementação
cabem ao gestor do projeto ou processo.

b) As recomendações geradas a partir dos estudos de riscos podem eventualmente


inserir mudanças nas instalações e a sua implementação, portanto, deve ser gerenciada
durante a fase de implantação do projeto e durante a fase de operação.

c) Os perigos relacionados à segurança das instalações, associados às falhas


operacionais, devem ter seus riscos avaliados através de Análise Preliminar de Riscos.

d) Os perigos relacionados à execução das tarefas são identificados através da Análise


Preliminar de Risco das tarefas, quando da emissão da Permissão para Trabalho - PT. Os
riscos a eles associados são considerados, em princípio, como não toleráveis, exigindo a
adoção de medidas de controle. Caso estas medidas não possam ser implementadas, as tarefas
não serão realizadas.

e) A criação de um Manual de Segurança estabelece requisitos mínimos e as condutas


a serem seguidas nas várias atividades de trabalho desenvolvidas a bordo das plataformas,
com o intuito de minimizar os riscos identificados e prevenir a ocorrência de acidentes e
incidentes.

Devemos focar nos novos projetos, ou seja, na documentação de Engenharia do


projeto de uma plataforma de petróleo a ser construída. O projeto é dividido em Projeto
Básico e Projeto de Detalhamento, onde em cada fase são definidos os Estudos de Riscos
aplicáveis.

A Figura 1 mostra os Estudos de Riscos a serem desenvolvidos durante o Projeto


Básico dos empreendimentos, como também suas descrições conforme a seguir:

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Figura 1 - Estudos a serem realizados no Projeto Básico

ETAPA ESTUDO DESCRIÇÃO


APR (1) Avaliação de riscos integrada, englobando
instalações submarinas e de superfície.
HAZOP (1) Avaliação de riscos integrada, englobando
instalações submarinas e de superfície.
Avaliações Estudos de dispersão de gases, propagação de
Quantitativas (1) incêndio, explosão etc, nas Instalações de Superfície
EERA (1) Estudo de Escape, Resgate e Abandono nas
Projeto Instalações de Superfície
Básico PPRA Estudo dos riscos ocupacionais relativos à UEP,
com foco na fase de operação.
EIA Estudo de Impactos Ambientais, englobando
instalações submarinas e de superfície.
(4) Avaliação e gestão de riscos nas atividades de
engenharia de poços
Gestão de Controle Integrado de Mudanças em Projetos
Mudanças

A Figura 2 mostra os Estudos de Riscos a serem desenvolvidos durante o Projeto de


Detalhamento dos empreendimentos, como também suas descrições conforme a seguir:

Figura 2 - Estudos a serem realizados no Projeto de Detalhamento

ETAPA ESTUDO DESCRIÇÃO


APR (2) Atualização da avaliação de riscos integrada,
englobando instalações submarinas e de superfície.
HAZOP (2) Atualização da avaliação de riscos integrada,
englobando instalações submarinas e de superfície.
PPRA Atualização do estudo dos riscos ocupacionais
relativos à UEP, com foco na fase de operação.
EIA Atualização do Estudo de Impactos Ambientais,
Projeto de englobando instalações submarinas e de superfície.
Detalhamento ISEA (2) Avaliação dos riscos envolvidos na Interação entre
sistemas elétricos e de automação nas Instalações
de Superfície (Tarefa 15 do PEO)
Avaliações Atualização dos estudos de dispersão de gases,
Quantitativas (2) propagação de incêndio, explosão etc, nas
Instalações de Superfície

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EERA (2) Estudo de Escape, Resgate e Abandono nas


Instalações de Superfície
Avaliação Avaliação ergonomica dos postos de trabalho
Ergonômica
APN-2 Análise Preliminar de Perigos Nível 2 pré
Comissionamento.
APN-2 Análise Preliminar de Perigos Nivel 2 para
padronização de novas tarefas

A Figura 3 apresenta os Estudos de Riscos que poderão ser desenvolvidos durante a


fase de Operação da plataforma, como também suas descrições. No caso de mudança de
projeto, deverá ser avaliado por especialista de segurança qual a metodologia a ser utilizada:

Figura 3 - Estudos a serem realizados na fase de Operação

ETAPA ESTUDO DESCRIÇÃO


APN-2 Análise Preliminar de Perigos Nível 2 para
elaboração / revisão de padrão de execução
APN-2 Análise Preliminar de Perigos Nível 2 para emissão
Operação de PT.
PPRA Atualização do estudo dos riscos ocupacionais
relativos a UEP.
Gestão de Estudos de riscos considerados pertinentes.
Mudanças

A Figura 4 deixa registrado que da época da desativação da plataforma, os riscos


deverão ser analisados conforme as exigências dos órgãos reguladores:

Figura 4 - Estudos a serem realizados na fase de desativação da plataforma

ETAPA ESTUDO DESCRIÇÃO


A depender do Conforme atividades previstas para desativação e
Desativação processo de de acordo com as exigências do Órgão Regulador.
desativação

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Os estudos qualitativos são elaborados por especialistas sem a necessidade de


softwares específicos, já os estudos quantitativos são desenvolvidos a partir de ferramentas
especiais que geram a modelagem específica de acordo com a geometria 3D da plataforma.

4.1.4.2. BREVE DESCRIÇÃO DOS ESTUDOS DE RISCOS

a) Análise Preliminar de Riscos – APR: Técnica indutiva estruturada para identificar


perigos decorrentes de falhas de instalações ou erros humanos, bem como suas causas e
conseqüências e avaliar qualitativamente seus riscos impactando a Segurança Pessoal, Meio
Ambiente, Instalação e Imagem da Empresa. Na Figura 5 é mostrada a planilha para a
elaboração da APR.

Figura 5 – Planilha de APR


Data:
ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCOS
Área: Pag:
Instalação:
Subprocesso: Documentos:
Processo

Modos de Classificação
Possíveis Detecção/ Observações/
Perigo Causas Cenário
Efeitos Salvaguar Severidade Risco Recomendações
das Freq.
SP P M I SP P M I

Onde: SP: Segurança Pessoal M: Meio Ambiente


P: Patrimônio I: Imagem da Empresa

b) Estudo de Perigo e Operabilidade – HAZOP: Técnica estruturada para identificar


perigos de processo e potenciais problemas de operação utilizando palavras-guias associadas a
parâmetros de processo, para avaliar qualitativamente desvios de processo, suas causas e
conseqüências. Na Figura 6 é mostrada a planilha para a elaboração do HAZOP.

c) Estudo de Dispersão de Gases: Esta análise deve ser desenvolvida com o objetivo
de avaliar o comportamento dos vazamentos de gás e definir o número e a localização
otimizada de detectores de gás hidrocarboneto em áreas abertas.

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Figura 6 – Planilha de HAZOP


ANÁLISE DE PERIGOS E OPERABILIDADE Data:

Instalação: Área Processo: Pag:

Nó: Documentos:

Possíveis Possíveis Observações /


Desvio Modos de Detecção/Salvaguardas Cenários
Causas Conseqüências Recomendações

O estudo deve definir pontos de detecção que atendam principalmente a liberações


iniciais (inicio de vazamento) que devem ser monitorados preliminarmente antes mesmo da
detecção dos instrumentos do processo e da ocorrência dos eventos de incêndio e de explosão.
O estudo é feito com simulação dos casos em fluidodinâmica computacional considerando as
4 direções de vazamento e 8 direções de vento a fim de validar a locação dos detectores. A
Figura 7 mostra a modelagem do Estudo de Dispersão de Gases para o Vent dos Tanques de
Carga da plataforma P-43, com a tendência da nuvem de gás sobre a planta de produção da
plataforma. A direção nesse caso é de vento para a popa do navio:

Figura 7 – Dispersão de Gases do Vent dos Tanques de Carga da P-43

Fonte: Relatório do Estudo de Dispersão de Gases da P-43 - MTL Engenharia - 2001

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A Figura 8 mostra a mesma nuvem do Estudo de Dispersão de Gases da P-43 para o


Vent dos Tanques de Carga, com a sua faixa de inflamabilidade, demonstrando se o tamanho
da nuvem gerada traz riscos à plataforma ao alcançar os módulos de produção:

Figura 8 – Nuvem de Gás com a faixa de inflamabilidade

Fonte: Relatório do Estudo de Dispersão de Gases da P-43 - MTL Engenharia - 2001

c) Estudo de Incêndio: Esses estudos visam a avaliar o comportamento das estruturas e


equipamentos da plataforma no caso de incêndio. É elaborado a partir do resultado da APR
onde são selecionados cenários críticos de pequenos e grandes vazamentos de
hidrocarbonetos. Com o resultado das modelagens são sugeridas recomendações como
instalação de proteção passiva e/ou redução de inventário através de colocação de válvulas de
segurança. A Figura 9 apresenta a modelagem de incêndio da plataforma P-43 e as faixas de
temperaturas das chamas que podem atingir as estruturas, equipamentos e tubulações e levá-
las ao colapso, agravando ainda mais o sinistro.

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Figura 9 – Estudo de Incêndio – Faixa de temperaturas

Fonte: Relatório do Estudo de Incêndio da P-43 - MTL Engenharia - 2001

d) Estudo de Explosão: É o estudo aplicado para o dimensionamento das estruturas


da plataforma baseado nos valores de sobrepressão advindas de uma explosão. Também
deverá considerar os cenários críticos de vazamentos de hidrocarbonetos, sua composição,
pressão e temperatura. A modelagem da explosão está diretamente ligada a geometria 3D da
plataforma e o grau de confinamento do ambiente a ser simulado. A partir dos resultados da
sobrepressão resultante do estudo, ações de mitigação deverão ser propostas, como reforço de
estrutura, proteções adicionais, melhora da ventilação, novo arranjo de layout, etc. Os valores
encontrados deverão ser analisados quanto à faixa de Tolerabilidade dos Riscos da Petrobras.
A Figura 10 apresenta um resultado do Estudo de Explosão, onde são apresentados os valores

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de sobrepressão e suas respectivas distâncias no caso de um vazamento de 30 m3 de gás


natural seguido de explosão:

Figura 10 – Tabela de sobrepressão para um vazamento de 30 m3 de gás natural

Categoria da Sobrepressão da explosão (em bar) nas distâncias selecionadas


Explosão
5m 10 m 20 m 30 m
7- Deflagração 1,10 1,.3 0,60 0,35
Forte
6– 0.51 0,49 0,40 0,28
Deflagração
Forte
5 - Deflagração 0,22 0,20 0,15 0,10
Média
4 - Deflagração 0,11 0,10 0,08 0,05
Pequena
Fonte: Relatório do Estudo de Explosão da P-43 - MTL Engenharia - 2001

- Alteração de Projetos (Mudanças): Durante a fase de operação algumas mudanças


nos projetos originais da plataforma podem ocorrer, sendo que a alteração dos riscos deve ser
analisada. Nessa fase os estudos de riscos citados poderão ser aplicados.
Deve-se proceder um gerenciamento das mudanças em uma plataforma durante a fase
de operação.
Um especialista em Análise de Riscos, ao verificar o projeto, deve indicar qual(ais)
estudo(s) deverá ser elaborado ou revisado. A indicação da necessidade de um estudo deverá
ser acompanhada da metodologia a ser aplicada e em qual fase do projeto o mesmo será
desenvolvido.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. ASPECTOS GERAIS

Os riscos estão presentes em muitas atividades industriais, destacando-se os riscos


pessoais, riscos ao ambiente e riscos econômicos.

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Em alguns desses riscos é possível obter uma redução através de práticas seguras de
operação. Alguns riscos residuais, no entanto, são inevitáveis.
No entanto, para se determinar que tais riscos são aceitáveis, dependerá do julgamento
de valores pela sociedade, os quais não podem ser padronizados ou quantificados.

5.2. RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DA PESQUISA

Com essa pesquisa as questões propostas são respondidas apontando para a


possibilidade de mais discussão sobre esse assunto e futuras pesquisas:
1ª Questão: Os projetos podem incorporar propostas de alteração após uma análise de
riscos?
Sim. As recomendações geradas a partir das análises de riscos realizadas na fase do
Projeto Básico podem ser incorporadas na fase de Detalhamento do Projeto. A inclusão dessas
recomendações irá depender da análise gerencial e, impacto ao prazo de término da obra e
entrega da plataforma.

2ª Questão: Como é feito o levantamento dos perigos de uma plataforma de petróleo


durante a sua fase de elaboração e construção?
Os estudos qualitativos são realizados através da aplicação das metodologias
consagradas Análise Preliminar de Riscos – APR e Estudo de Perigos e Operabilidade –
HAZOP. São elaborados com a participação dos especialistas da área operacional, de
segurança e engenharia. Os estudos quantitativos de Incêndio, Explosão e Dispersão de Gases
são elaborados por empresas especializadas que utilizam aplicativos de modelagem
computacional, tendo como insumo os parâmetros de processo e a geometria 3D da
plataforma.

3ª Questão: Como é feito o levantamento dos perigos de uma plataforma de petróleo


em operação?
Na execução das tarefas de bordo, através de uma análise prévia durante a emissão da
Permissão para Trabalho, envolvendo o responsável do equipamento ou da área impactada e o
executante, com o auxílio do Técnico de Segurança. Quando se tratar de alteração do projeto
original, poderá haver necessidade da revisão dos estudos realizados na fase de projeto, a

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Niterói, RJ, Brasil, 2, 3 e 4 de julho de 2009

saber, APR, HAZOP, Incêndio, Explosão ou Dispersão de Gases, considerando a nova


realidade da unidade de produção.

4ª Questão: Pode haver diferenças nos resultados das análises de riscos?


Sim. A depender do grupo indicado para participar das análises qualitativas e, no caso
dos estudos quantitativos, os resultados poderão ter diferenças, devido aos softwares, insumos
e critério de tolerabilidade utilizados.

REFERÊNCIAS

AMERICAN INSTITUTE OF CHEMICAL ENGINEERS. Center for Chemical Process


Safety. Guidelines for chemical process quantitative risk analysis. 2nd ed. New York,
c2000.

AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE. API Recommended Practice 76: contractor


safety management for oil and gas drilling and production operations. Washington, 2004.

BRITISH STANDARDS INTERNATIONAL. BS 8800: guide to occupational health and


safety management systems. London, 1996/2004.

EXPLOSÃO em uma indústria petroquímica. Gerência de Riscos, São Paulo, ITSEMAP


do Brasil, 6(21): 36-7, jan./mar. 1991.

DUARTE, M. Riscos industriais: etapas para a investigação e a prevenção de acidentes.


Rio de Janeiro: FUNENSEG, Rio de Janeiro 2002.

ESTEVES, A. Da S. Gerenciamento de riscos de processo em plantas de petroquímicos


básicos - Uma proposta de metodologia estruturada. 2004.

Dissertação (Mestrado em Sistemas de Gestão) - Universidade Federal Fluminense, Niterói,


2004.

FAERTES, D., “Sobre um Critério de Aceitabilidade de Riscos para Plataformas de


Petróleo Offshore”, MSc. Thesis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1994.

LEES, Frank P., Loss Prevention in Process Industries: Hazard Identification, Assentement
and Control, Vol 1 and 2, Butterworth Heinermann - 2ª Ed., 1996.

Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego e NBR’s associadas.

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Niterói, RJ, Brasil, 2, 3 e 4 de julho de 2009

Norma OHSAS 18000:- occupational health and safety management systems -


specifications. London: Edição 2002.

Requisitos Estatutários da International Maritime Organization – IMO:


- Safety of Life at Sea – SOLAS;
- Mobile Offshore Drilling Unit – MODU CODE;
- International Convention for the Prevention of Pollution from Ships - MARPOL 73/78.

Curso de Gestão do Sistema de Segurança, Bureau Veritas – Petrobras, Rio de Janeiro,


2002. Apostila.

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