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1.0 Introdução
3.2.3 Alíquota
8.0 Decreto
9.0 Conclusão
1 – INTRODUÇÃO
O sistema tributário nacional, então, deve ser constituído com moldes que
extrapolem a simples visão fiscal da previsão de competências tributárias e sua respectiva
repartição de receitas, atentando-se para as nuances que envolvam a manutenção do pacto
federativo e a continuidade do desenvolvimento regional.
Ocupa fundamental papel na política fiscal de nosso país a figura do ICMS pelo
seu relevante volume de arrecadação, que constitui a principal fonte derivada de arrecadação
dos estados-membros.
Em relação a esse imposto, o art. 155, §2º, VII, “a” e “b” e VIII, estabelece a
forma como se dará a arrecadação do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias quando tal
exação incidir sobre operações interestaduais. De acordo com a previsão constitucional,
quando a operação entre estados tiver como destinatário sujeito contribuinte do imposto,
aplicar-se-á ICMS sob a forma de alíquota interestadual, situação em que caberá ao estado de
destino da mercadoria ou serviço o tributo recolhido pelo complemento de alíquota. Quando
se tratar de adquirente que não seja contribuinte do tributo, entretanto, caberá recolhimento
pela alíquota interna, em favor do estado de origem.
O protocolo estipula que nos casos de vendas não presenciais que envolvam
comprador e vendedor situados em diferentes estados, deverá o estado remetente recolher, na
condição de substituto tributário, o imposto que cabe ao estado destinatário, parcela esta
correspondente ao valor da alíquota interna desta unidade, deduzida de 7% ou 12%, conforme
a origem do bem ou serviço.
Por fim, abordaremos aquilo que é o foco central desta obra, o Protocolo ICMS nº
21, do CONFAZ, e suas implicações fáticas e jurídicas, bem como o Decreto MS nº 13.162 de
2011, com a finalidade de detectar a validade do ato praticado pelos estados e indicar os
possíveis vícios legais que possam revestir os dois institutos. Abriremos um breve adendo
com a finalidade de compreender o semelhante problema vivido nos Estados Unidos da
América envolvendo comércio não presencial e sua carga tributária em âmbito Estadual.
2. Regra-Matriz da Norma Jurídica Tributária
O critério temporal, por sua vez, se refere ao momento indicado pelo legislador
para que seja considerado ocorrido o antecedente da norma. Quando o critério material se
refere a uma ação ou omissão, o critério temporal irá coincidir com a prática ou abstinência
daquele ato (como é o caso do ITBI), ou não (conforme ocorre em certos casos com o próprio
ICMS), como determinar o legislador, ou poderá definir o intervalo de tempo que deve ser
considerado para a verificação da ocorrência ou não do critério material (IRPF). Quando, por
outro lado, o critério material se referir a uma reunião de circunstâncias, a um estado
específico do indivíduo, o elemento temporal se tornará definidor da ocorrência do próprio
antecedente (IPVA).
Por fim, o critério espacial demarca o local a ser considerado para se verificar a
ocorrência da norma fiscal. Tal demarcação pode ocorrer quando há explícita disposição do
local onde será considerado como ocorrido determinado ato, quando há delimitação de
determinada área como local onde a ocorrência de tal ato é tributada ou quando o local
simplesmente coincide com a posição da ocorrência do evento material.
Quando verificadas as ocorrências das previsões materiais, temporais e espaciais,
em caráter imediato e infalível (CARVALHO, 2008, p. 374), incidirá o antecedente da norma,
por meio de um liame jurídico legal consistente no dever-ser neutro deôntico da norma
jurídica. Trata-se de uma relação entre antecedente e consequente, justificada pelo dever-ser e
conectadas objetivamente.
O primeiro se refere ao montante que será tido como referência para liquidação da
obrigação. Ele deve ser capaz de expressar a grandeza proporcional do antecedente normativo
e deverá guardar estrita relação com a hipótese tributária, uma vez que são eles, a hipótese de
incidência e a base de cálculo, os elementos capazes de definir, em meio aos demais, um
tributo.
Da descrição contida nos artigos 155 e seguintes da CF, depreende-se que o ICMS
na verdade constitui cinco diferentes impostos, abrigados por uma mesma sigla (CARRAZA,
2008, p. 36), uma vez que é possível separá-lo em, ao menos, cinco distintas hipóteses de
incidência e bases de cálculo. São eles: o imposto sobre operações mercantis, o imposto sobre
serviços de transporte interestadual e intermunicipal, o imposto sobre serviços de
comunicação, o imposto sobre produção, importação, circulação, distribuição ou consumo de
lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos e de energia elétrica e o imposto sobre a
extração circulação, distribuição ou consumo de minerais.
Dos diferentes impostos extraídos do ICMS, nos cabe análise apenas acerca do
primeiro, o qual, daqui em diante, denominaremos Imposto Sobre Circulação de Mercadorias.
Naquele caso, entretanto, ocorre de forma diferente. Por não se esgotar a cadeia
comercial, o legislador constitucional previu método de arrecadação que contemple as duas
unidades envolvidas. Assim, o estado de origem será considerado como local de incidência,
segundo seu próprio critério material, e fara incidir, no tocante àquela operação, uma alíquota
interestadual, que jamais será superior à alíquota interna. Por sua vez, o estado de destino será
colocado como referência, também por meio de sua própria previsão legal, como local de
incidência de nova aplicação de ICMS, sob a forma de diferencial de alíquota.
Essa obrigação a que se refere a relação jurídica, portanto, será protagonizada por
dois sujeitos, os quais ocupam distintos polos em seu corpo, e será medida por meio de dois
aspectos, a base de cálculo e a alíquota.
Muito embora o art. 119 do CTN seja claro em estipular que somente as pessoas
jurídicas de direito público é que podem ocupar o posto de sujeito ativo da obrigação
tributária, a doutrina diverge acerca da questão, com parte dos autores defendendo que a
delegação da capacidade tributária ativa pode alcançar pessoas de direito privado. Em
consonância com o CTN, Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo:
Nesse sentido, serão aptos para figurar no posso passivo da relação jurídico-
tributária aqueles que, muito embora não se enquadrem no grupo já mencionado, lhes façam
às vezes, como o comerciante de fato e o comerciante irregular, desde que pratiquem ato de
mercancia ou produção com habitualidade (CARRAZZA, 2008, p. 40), elemento que irá
diferenciá-los dos que praticam o comércio de bens em caráter eventual e não contribuirão
pela circulação de mercadorias.
3.2.3 Base de Cálculo
Por fim, a Base de Calculo consiste no elemento da regra matriz que regula o
próprio elemento material da norma jurídica tributária. Desse modo, muito embora o texto
legal que preveja a hipótese de incidência afirme determinada conduta ou fato extraído do
mundo material, caso não se guarde relação de adequação entre tal conduta ou fato e a base de
cálculo, o tributo não será coerente.
Nesse escopo, a base de calculo terá a aptidão de, em conflito com o próprio
critério material, indicar ao aplicador se tal critério eleito deve ser mantido ou negado,
podendo, ainda, indicar o correto critério material a ser levado em consideração para fins de
verificação de incidência do tributo.
3.2.4 Alíquota
Cabe à lei ordinária de autoria do ente competente para tratar do tributo fixar as
alíquotas aplicáveis aos fatos imponíveis, sempre se atentando aos princípios da capacidade
contributiva e do não confisco.
Ocorre que, quando a operação que circula mercadoria o faz de modo a destinar a
outra unidade da federação o seu objeto, há uma mecânica de arrecadação distinta prevista
constitucionalmente no art. 155, VI a VIII:
Não fosse assim, caso apenas o estado fabricante fosse agraciado com
recolhimento do tributo em operação interestadual, estabelecer-se-ia um grande desequilíbrio
federativo, devido ao montante que os estados menos desenvolvidos deixariam de arrecadar
quando consumissem bens e serviços oriundos dos estados que concentram a maior parte do
investimento industrial no Brasil.
A razão disto está contida no contexto histórico em que foi promulgada a nossa
constituição, momento em que a internet ainda não havia se popularizado mundialmente,
razão pela qual é natural que o constituinte deixasse de contemplar com a atenção devida a
possibilidade da explosão do comércio eletrônico e suas consequências no campo tributário.
Ocorre que, ano após ano, o comércio eletrônico vem crescendo, gerando o
aumento da parcela do consumo brasileiro realizado através de tal prática, reduzindo, por
consequência, a parcela da prática costumeira, de comprar o produto em loja física. Diante
desta realidade, os estados que possuem menos indústrias e, por consequência, menor
estrutura em termos de comércio eletrônico, deixam de perceber imposto referente ao
diferencial de alíquota que receberiam, caso o produto tivesse sido vendido numa filial física
neles localizada.
Não é por acaso que a nova modalidade de comércio vem atingindo altos índices
de crescimento:
O aumento nos primeiro seis meses de 2012 foi de 21% em relação ao mesmo
período do ano anterior. Quando se colocam tais dados ao lado de uma redução de 26% da
geração de empregos e de 3,8% da produção industrial, nota-se quão grande tem sido o
crescimento do comércio eletrônico e o quanto é relevante a questão referente à receita
tributária resultante desta prática.
6 Pacto Federativo e Guerra fiscal
Por fim, em 1788, surgiu o primeiro estado federado, com o fim da confederação
dos estados da América e sua reorganização sob uma mesma constituição, estabelecendo as
diretrizes federativas entre os entes integrantes.
De acordo com Pedro Lenza, existem, entre todos estados federativos, alguns
pontos em comum que podem ser identificados, quais sejam:
A constituição estabelece por meio do art. 155, XII, “g”, que é de incumbência de
lei complementar regular a forma como as isenções, incentivos e benefícios fiscais relativos a
tributos estaduais serão concedidos e revogados mediante deliberação dos Estados e do
Distrito Federal. Disto decorre que, muito embora deva uma lei complementar estabelecer
como se dará a deliberação das unidades federadas, cabe a elas, em conjunto e por mera
discussão, como exceção ao princípio da legalidade, estabelecer e revogar isenções,
incentivos e benefícios fiscais dos impostos que lhes competem.
7.1 CONFAZ
Diferentemente do que ocorre com o Value Added Tax, ou imposto sobre valor
agregado, o imposto incide apenas uma vez, e não em cada operação da cadeia comercial. A
responsabilidade referente ao recolhimento do tributo é atribuída, em alguns casos ao
estabelecimento, que é o contribuinte de direito, enquanto que em outros casos, é transferida a
responsabilidade ao consumidor, caso em que se atribui à exação o nome Use Tax, muito
embora sempre ocorra a repercussão do ônus tributário em prejuízo do adquirente, à exemplo
do que ocorre com o ICMS, no Brasil.
Diante dessa nova realidade, surgem vários desdobramentos, como, por exemplo,
a criação de pessoas jurídicas subsidiárias de grande empresas comerciantes, instauradas com
a finalidade de se efetuar vendas não presenciais destinadas a outros estados. Essa nova
empresa funciona como fachada daquela em relação a qual ela é subsidiária. Isso é feito para
que as vendas não sejam tributadas, pois essa nova empresa não possuirá sede nos demais
estados da Federação.
Além disso, ocorre clara situação de concorrência desleal, por ser mais econômico
ao consumidor adquirir a mercadoria pela internet, de uma empresa que não possua sede em
seu estado, do que comprá-la de uma loja em frente à sua casa, uma vez que neste caso,
pagaria imposto, enquanto que na venda não presencial, não.
Enquanto isso, existem alguns estados que possuem carga tributária diferente e
não implementaram o sales tax, como o Alaska, Delaware, Montana, New Hampshire e
Oregon, e por isso não são em nada influenciados pelo conflito na arrecadação do tributo.
No estado de Mato Grosso do Sul, que passou a ser signatário do Protocolo ICMS
nº 21, do CONFAZ, em 25 de abril de 2011, foi editado o decreto nº 13.162, de 27 de abril do
mesmo ano, com a finalidade de introduzir no ordenamento estadual as mudanças promovidas
pelo protocolo.
Art. 2º A parcela do ICMS devido a este Estado nas operações de que trata o
art. 1º corresponderá ao valor resultante da aplicação da alíquota prevista
para as operações internas com a mesma mercadoria ou bem, sobre o valor
da operação de aquisição, deduzido do valor equivalente aos seguintes
percentuais, aplicados sobre a base de cálculo do ICMS devido na origem:
I - 7% (sete por cento), para as mercadorias ou bens oriundos das Regiões
Sul e Sudeste, exceto do Estado do Espírito Santo;
II - 12% (doze por cento), para as mercadorias ou bens oriundos das Regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste e do Estado do Espírito Santo.
§ 1º Aplicam-se os percentuais de dedução estabelecidos neste artigo
inclusive nos casos em que o documento fiscal emitido pelo remetente da
mercadoria ou bem consignar destaque do ICMS pela alíquota aplicável às
operações internas na unidade da Federação de origem .
Acerca do §1º do art. 2º do Decreto, que afirma que o fisco deverá exigir
recolhimento relativo à diferença entre a alíquota interna do Mato Grosso do Sul e a
interestadual do estado de origem, note-se que o Governador formalizou expressa
bitributação, ao instituir a exação, no estado de Mato Grosso do Sul, de imposto já recolhido
na Unidade da Federação remetente.
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