Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1.
O humor em tom debochado guarda uma moral: quem leva essa vida difícil
de cara feia morre mais depressa.
2.
A economia algodoeira entrou em colapso nos anos 80, assolada pela praga e
pelos preços baixos. Nos interstícios dessa economia desenvolveu-se o artesanato
da renda e um talento para a tecelagem que foi aproveitado, a preço vil e sem o
pagamento de direitos sociais, pelas cooperativas de confecção montadas pelo
capital oriundo em grande parte da Coréia do Sul. Diz-se que o porto de Fortaleza é
uma conexão do comércio internacional de drogas, um ponto de passagem entre a
Colômbia e as ilhas do Cabo Verde. A exportação de confecções serviria a esse
comércio.
4.
- Está vendo essas terras todas, aqui e lá, a perder de vista? Era tudo
terra de grilagem, disse-me. O dono desse empreendimento, João Gentil é um
posseiro que legalizou as terras dividindo a metade com o Tasso Jereissati. Aquele
de gentil, nada tem. Comanda os negócios de Miami, nem fica aqui.
Enquanto avançávamos, observei no caminho os cataventos, torres de
condensação de energia eólica. É a energia do futuro, comentou. Tudo pertence ao
homem.
- Quem?
- Ao Tasso. Ele tem negócio de turismo e imóveis nas costas Oeste e
Leste. O homem é tão rico que tem mais de 40 empresas, aqui no ceará, Maranhão
e Piauí. Ele é dono da Rede Iguatemi.
- Mas como é que esse cara chegou a ser esse sujeito rico assim?
- Ah, é coisa que tem a ver com o Edson Queiroz, dono da Gás
Nacional. È um herdeiro dele. Aí me contou uma história cheia de meandros para
concluir com essa pérola: os ricos não brigam, arengam.
Se o doutor quiser se servir de uma menina bonita. Tem umas ali na Tia
Bete que eu conheço, o senhor fique à vontade e tranqüilo.
Então ficou claro que a prostituição infantil não aparecia porque a repressão
oficial simplesmente obrigou ao ocultamento de uma rede que se estruturava de
modo mais frouxo e por outro lado de maneira mais eficaz, porque taxistas e
restaurantes passaram a vincular a clientela à rede clandestina por meio de
telefone.
O que não se discute é que se a fome pode ser o que empurra estas meninas
à prostituição, há quem empurre e são muitas vezes as próprias famílias. Mais, há
um lado obscuro nessas histórias familiares, seduções e estupros de parentes que
ninguém quer esclarecer.
5.
Eduardo Stotz