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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CAMPO GRANDE


LINGUAGEM E TECNOLOGIAS DIGITAIS

Acadêmica: Gong Li Cheng – RGM: 34136


Curso: 2º Ano em Licenciatura em Letras – Português, Espanhol e suas Literaturas
Responsável: Prof. Dr. Ruberval Franco Maciel

MENEZES DE SOUZA, L.M. Para uma redefinição de letramento crítico. In:


MACIEL,R.F.; ARAUJO, V.A. Formação de professores de línguas: ampliando
perspectivas. Jundiaí: Paco Editorial, 2011.

Na era da globalização, as multiculturas conviveriam mais pacificamente se con-


seguissem ter um olhar crítico para os seus adversários. Através do letramento crítico,
pode-se preparar aprendizes que confrontem as diferenças das espécies. Paulo Freire
aponta o leitor como um sujeito crítico. O pedagogo contrasta duas formas de ler um
texto: a primeira delas é a leitura “ingênua”, na qual os significados são tomados como
“naturais”, portando incontestáveis e elaborados a partir da “experiência”. O segundo
modo seria o saber “rigoroso”, analítico, como um processo constante e dialógico (no
sentido bakhtiniano) de reflexão crítica, isto é, produto de uma reflexão crítica. O sujeito
leitor deve perceber criticamente o papel do senso comum e superá-lo.
A consciência do senso comum leva a acreditar que aprendemos a “falar falando”,
porém a percepção crítica de estar no e com o mundo (in-der-Welt-sein), dá-se através da
conscientização social e crítica de que não estamos sozinhos no mundo. É através do
letramento crítico que se desenvolve essa percepção. Ao aprender a escutar, o aprendiz
percebe que seus valores e significados originam-se na coletividade sócio-histórica na
qual pertence. Por conseguinte, tanto o autor quanto o leitor estão no mundo e com o
mundo. Este processo influencia e contribui para a produção de escrita e leitura do texto.
Ler criticamente resulta no desempenho de dois atos simultâneos e indissociáveis:
primeiro, perceber como o autor produziu determinados significados; e segundo, ao
mesmo tempo, perceber, enquanto leitores, como esses significados estão inseparáveis do
nosso próprio contexto sócio-histórico. Deste modo, o letramento crítico necessita de
outra interpretação do conceito de “crítica”, que tenha uma dimensão histórica para
complementar a dimensão social.
Conforme Hoy, o ato de escrita e de leitura são atos de produção de texto, assim,
tanto o autor quanto o leitor são construtores de significações através da linguagem.
Portanto, este novo sentido do termo “crítica” tenta focalizar a origem histórica dos sig-
nificados atribuídos aos textos e às leituras. As histórias são sociais e coletivas pelo fato
de que mesmo quando escrevemos ou lemos individualmente, Usa-se palavras, signifi-
cados, textos e leituras que antecederam e que constituem o momento atual de produção
do texto e do próprio autor/leitor. Cada eu origina-se num conjunto coletivo complexo e
interconectado de comunidades do qual ele se destaca e, simultaneamente, o pertenci-
mento às comunidades diferentes fazem com que um eu se diferencie de outro eu, gerando
individualidades. Deste modo, é possível haver leituras/escritas semelhantes como de
gênero (leitura feminina), de classe social (leitura de classe dominante), de faixa etárias
(leitura juvenil), entre outras.
O termo genealogia, elaborado por Michel Foucault, pode explicar essas seme-
lhanças e também as diferenças de leituras de um mesmo grupo. É, pois, importante o
leitor/autor se apoiar num processo de conscientização de sua própria autogenealogia, ao
se produzir um texto (ler ou escrever). Para Freire, o letramento crítico promove uma
percepção do papel da história e da temporalidade da linguagem e do conhecimento. Esta
percepção influencia a percepção do presente. A temporalidade torna cada comunidade
mutável através do tempo, gerando, assim, uma complexidade e multiplicidade de
leituras/escritas produzidas numa dada comunidade, mas também, reduz a multiplicidade
potencial de produções de significação. Cada produção de significação de uma deter-
minada sociedade adquire validade apenas em um dado momento histórico. O valor de
uma produção de significação pode variar conforme o momento temporal.
A nova acepção de letramento crítico propõe que as normas e as verdades são
contingentes e comunitárias e, assim, temporais, locais e mutáveis. Diante de situações
de conflitos entre povos de culturas diferentes é necessário aprender a escutar, não apenas
os outros, mas também escutar a nós mesmos, ouvindo os outros. Deste modo, é inútil
tentar se impor sobre o outro, dominá-lo ou silenciá-lo, pois, a escuta crítica não eliminará
as diferenças entre nós e os outros. Deve-se então, procurar outras formas de interação e
de convivência pacífica diante das diferenças, de forma que não resulte no confronto
direto nem na eliminação das diferenças.

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