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INTRODUÇÃO
introdução _
Esta pesquisa1 visa compreender este processo através da análise de uma situação urbana considerada
crítica, exemplar. Elegida para estudo de caso e que deve ser analisada segundo suas particularidades e
suas relações. Trata-se da Região da Luz, no centro de São Paulo. Se não bastasse sua densidade histórica,
originalmente periferia da urbanização, posteriormente o próprio centro da cidade que se expande,
atualmente é objeto de seguidas tentativas de reestruturação espacial, sua renovação. Planos urbanos que
se estruturam e se reestruturam com a finalidade de se retomar a centralidade deste espaço. Neste estado
crítico, vislumbra-se identificar as estratégias de expansão e formas de resistência, de subversão e,
virtualmente, de superação dos impasses vividos na contemporaneidade. O habitar contemporâneo se
forma na disputa pela produção e distribuição do habitat contemporâneo. Estas características da
produção do espaço urbano, da valorização e capitalização de capital investido, dos lucros e rendas,
constituem o que se pode denominar como a dimensão imobiliária do espaço: o que se consome é fruto
da identidade entre produção e propriedade.
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A presente pesquisa se inicia como um desdobramento da dissertação de mestrado (Petrella, 2009, 2012). Nesta, buscou-se
analisar processos de produção do espaço (Lefebvre, 1974) a partir da comparação entre seis Conjuntos Habitacionais
produzidos na Região Metropolitana de São Paulo: Cecap Zezinho Magalhães Prado em Guarulhos, Cohab Cidade Tiradentes e
Cdhu Iguatemi localizados na Zona Leste de São Paulo, Mutirão autogerido Copromo em Osasco e Cingapura Zaki Narchi e
Locação Social Parque do Gato que estão localizados no Centro expandido de São Paulo. A relação entre suas formas espaciais e
suas formas sociais de apropriação foram observadas em concomitância com aspectos políticos, econômicos, estéticos,
ideológicos, que compõem seu contexto, identificando um modo de habitar. A imbricação dessas análises pôde construir uma
breve «história do Conjunto Habitacional», cujo «nascimento, apogeu e morte» é enquadrado por Renovações Urbanas, objeto
de estudo da presente pesquisa.
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A «crise imobiliária» da Região da Luz, Centro de São Paulo, decorre da desvalorização de seu patrimônio
construído em função da obsolescência diante da diferenciação das ofertas imobiliárias na metrópole.
Essa crise abre a possibilidade da ocupação popular da área central, uma espécie de periferização do
centro, mas também a possibilidade de revalorização imobiliária a partir de um novo processo produtivo
e de sua capitalização (privatizáveis através do monopólio de propriedade privada). Neste sentido, há
uma disputa pelo uso de seu espaço. De um lado, os agentes interessados na monopolização de seu uso
para a construção e consumo do imobiliário, que garantem rendimentos financeiros a partir da
constituição de um novo produto; e de outro lado, os moradores, trabalhadores e «usuários livres», que
estão presentes nesse espaço graças ao processo histórico de desvalorização, fortalecendo formas de uso e
de sociabilidade não totalmente apreendidas pela reprodução do capital com ênfase na produção
imobiliária. Nesta disputa, a produção do espaço se realiza articulando o Estado (obras, recursos
financeiros e jurídicos), agentes produtivos (incorporadores, construtores, projetistas), agentes
«improdutivos» (proprietários imobiliários e agentes financeiros) e os consumidores finais, aqueles que
devem ser capazes de realizar o valor e o preço da mercadoria imobiliária, constituindo-se em oposição
aos antigos habitantes. Esta produção imobiliária aguça a contradição entre o uso do espaço como valor
de troca, o direito à alienação, e o uso do espaço como valor de uso, o direito ao usufruto. Uma disputa de
Valor: ou se orienta para a conexão local-global, como expressão da predominância da reprodução do
capital sobre a reprodução da vida, ou para o desenvolvimento da posse e do uso.
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processo produtivo. O título de propriedade, portanto, sua dimensão jurídica, uma relação de direito,
assume a equivalência de valor desta capitalização. Este processo é acentuado e reproduzido na medida
em que esta diferenciação também se acentua na metropolização.
Neste processo há a mobilização do imobiliário, dado que o título jurídico de propriedade assume
socialmente um preço e equivale a uma renda capitalizada. Como abstração descolada de sua base
material e tangível, ele circula como se fosse dinheiro em busca de capitalização. Neste processo, a
própria forma da propriedade se altera: meio de superar as barreiras à livre-circulação criadas pela
fragmentação do espaço. A propriedade privada em sua forma absoluta desabsolutiza-se. Este processo,
portanto, reestrutura o próprio espaço, constituindo um novo produto imobiliário que, ao mesmo tempo,
satisfaz necessidades e desejos diferenciados (cuja rentabilidade pode ser monopolizável) e que sua
monopolização desabsolutizada (do construir e do uso) permite sua aproximação aos títulos financeiros.
Este produto expande os limites do privado sobre o público em um movimento de generalização da
propriedade privada: extrapola a fronteira do lote e da grande gleba, alcançando e redefinindo a
metrópole. A reestruturação do espaço por meio da renovação urbana constitui um ajuste espacial
conectado às necessidades de reprodução global do capital: possibilidade de generalização da privatização
do produto social e a correspondente dissolução do público e de suas relações sociais correlatas.
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vida pode orientar para a constituição de uma classe social espacial de base urbana, cuja luta conforma
uma força contra o capital.
O problema é como os conflitos em torno do uso e ocupação do espaço (a «disputa por localizações», a
«guerra do espaço») são acentuados na atualidade. Mais do que simples manifestações de diferenciações
culturais, um viés ideológico, eles expressam em nível imediato as contradições da restruturação global
do capitalismo. Isso pode ser observado a partir da mercantilização de serviços e infraestruturas públicos,
do endividamento para produção e consumo (mercadorias, imóveis e serviços), que expande as fronteiras
de acumulação ao se realizar por meio da expropriação e privatização do valor socialmente produzido. A
espoliação imobiliária, urbana e financeira, imbricadas, é a expressão de uma coalizão de classes que
instrumentaliza o espaço, a dívida e o Estado, acentuando a precariedade da reprodução social e da vida
humana. Neste sentido, a sobrevida do capital acentua a subvida do trabalho, ao se realizar mediante a
somatória de exploração e de processos espoliativos.
A emergência deste novo tipo de plano, configurado a partir de consórcios de parcerias público privada,
articula capitais imobiliários, financeiros e Estado; além de buscar rendimentos econômicos a partir da
produção e do consumo do espaço construído. Operam uma inversão de sentido: não se trata de uma
produção de objetos de uso, mas sim de uma produção de propriedades. Aqui, um duplo movimento. A
expansão da mercantilização de serviços e políticas públicos e a intensificação da escassez que decorre da
monopolização de perímetros urbanos especiais. A partir destes novos planos são mobilizados diferentes
níveis e dimensões do movimento de reestruturação ao abrir novas fronteiras (infernais) para a
capitalização imobiliária financeira. Eles permitem o deslocamento espacial da exploração imobiliária.
Partem de áreas exauridas por produções pretéritas e avançam por «campos virgens» ao destravar
espaços travados pela dispersão, fragmentação e judicialização da propriedade imobiliária. Esta sobrevida
ao imobiliário, imediato, corporifica a sobrevida ao financeiro, global, cuja acumulação real combinada
com a fictícia encontra na produção do espaço um meio de absorção e capitalização do excedente.
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O capítulo 1. planos da luz inicia a análise a partir de três planos urbanos: a Concessão
Urbanística Nova Luz (2009-2011), a parceria público privada PPP Casa Paulista (2014) e o PIU Plano de
Intervenção Urbanística (2016). No subcapítulo «1.1 – A racionalidade imediata dos planos» aborda-se
inicialmente seus aspectos arquitetônicos e urbanísticos, as diretrizes de uso e ocupação do solo bem
como a relação com a preexistência. Em seguida, analisa-se a estrutura dos contratos: parceria público
privada, que regulamenta a relação entre agentes produtivos, financeiros e Estado, organizando suas
respectivas responsabilidades e formas de remuneração. Termina com comentários urbanísticos sobre os
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planos, agentes imediatos ou mediadores que contribuem com a problematização dos planos propostos e
sua relação com a reestruturação imobiliária e urbana.
Em «2.2 – Renda e capital fictício» analisa-se teoricamente o papel da renda capitalizada, tanto
imobiliária quanto financeira, como meio de acumulação. Em a especificidade da renda da terra na
construção social do preço do produto imobiliário ilumina-se o imbricamento entre monopólio de
produção e monopólio de propriedade que caracterizam a especificidade do imobiliário. Assim se
acentua o seu caráter fictício, desviando-se da totalização da visão fabril que apenas ilumina as
condicionantes técnicas e de exploração da força de trabalho ambientadas no canteiro de obras. Em
seguida, em capital portador de juros, capital fictício, faz-se a aproximação entre o imobiliário e o
financeiro, como dominância do fictício sobre o real e como predominância de processos espoliativos
como acumulação de capital. Por fim, a «ficçação» (i)mobiliária e sobrevida do capital aponta para a
centralidade do complexo imobiliário financeiro como ordenador da reprodução social.
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Em «2.3 – Mundo invertido da propriedade» reflete-se sobre a alienação que é acentuada pela
centralidade da propriedade. Inicialmente, a contradição entre propriedade privada, posse e Estado
discute as formas de apropriação do bem comum, mediados ou não pelo poder externo do Estado. No
avanço de sua instrumentalização, como realização de interesses particulares de classe, este papel de
mediador social atenua e se dissolve. Em seguida, o bem comum e apropriação privada relaciona o uso da
riqueza social predominantemente como alienação ou como usufruto. O ambiente produzido, como
reflexo e espelho dessas relações sociais, volta-se contra seus produtores. Por fim, em função social da
propriedade, função social da posse discute-se como as concepções econômicas liberais, dominantes na
sociedade burguesa, engendram um conjunto jurídico que dão corpo institucional à reprodução social
sob domínio da propriedade.
Em «3.3 – Classe espacial em direção ao direito à cidade» busca-se iluminar a possibilidade da luta
espacial em assumir contornos de luta anticapital. Inicialmente, em luta de classes sem classe destaca-se a
experiência cotidiana de espoliação, sofrimento e resistência, como processo de tomada de consciência,
desviando-se das lutas tradicionais entre capital e trabalho ao incorporar o domínio do fictício. Em
seguida, luto pela propriedade busca evidenciar o papel da sua centralidade como instituto espoliador e,
portanto, como desvio de objeto de luta. Por fim, em alienação e rebelião problematiza, no nível da
consciência, o papel do domínio da propriedade na constituição do habitar antiurbano e anti-humano.
Por fim, em considerações finais, além de consolidar o movimento da tese aqui exposto,
busca apontar elementos para a reflexão arquitetônica e urbanística que se oriente à real satisfação de
necessidades e desejos do devir humanamente humano. A «Contribuição à arquitetura e urbanismo».
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