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Bio2 Apostila Zoo 03 PDF
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8 FILO ECHINODERMATA
Os Echinodermatas (gr. echinos, espinho; ouriço + derma, pele) constituem um dos filos
mais facilmente reconhecíveis do Reino Animal, com aproximadamente 6.000 espécies
viventes. Incluem as bem conhecidas estrelas-do-mar, ofiúros, ouriços-do-mar, bolachas-da-
praia, lírios-do-mar (crinóides) e pepinos-do-mar (holotúrias) (figura 88). A diversidade dos
equinodermos hoje é bem menor do que foi no Paleozóico, sobrevivendo apenas 6 das 24
classes do filo.
Todos são animais grandes e nenhum é parasita ou colonial. Praticamente todos têm
hábitos bentônicos e são permanentemente presos ao fundo oceânico ou se movem
lentamente sobre o substrato. São peculiares entre os animais por não apresentarem cabeça;
terem um esqueleto interno; suas larvas apresentarem simetria bilateral e sofrerem
metamorfose para gerar animais adultos de simetria radial e, finalmente, por terem uma
subdivisão interna do celoma que é usada na locomoção e na captura de alimento. Todos os
equinodermos são exclusivamente marinhos, sendo comuns e abundantes em todos os
oceanos do mundo. São animais de sexos separados (dióicos), sem dimorfismo sexual.
A inexistência de cabeça ou plano bilateral de simetria torna os termos dorsal e
ventral, anterior e posterior, lado direito e esquerdo completamente impróprios. Assim
costuma-se falar em face oral (onde situa-se a boca) e aboral (face oposta à boca).
Em resumo: os Equinodermatas são triblásticos, celomados, deuterostômios,
apresentam simetria radial pentâmera (o corpo pode ser dividido em 5 partes organizadas
em torno de um eixo central), têm esqueleto interno de origem mesodérmica e o exclusivo
sistema de canais celomáticos e apêndices superficiais compondo o sistema hidrovascular ou
ambulacrário.
Revestimento e proteção
A epiderme simples recobre o esqueleto e os espinhos (quando presentes). Os
espinhos, que servem como proteção (principalmente no ouriço-do-mar), são bem alongados
e às vezes providos de glândulas venenosas. Algumas espécies possuem ainda pequenas
pinças (pedicelárias) que servem para defesa e para manter sempre limpa a superfície do
corpo.
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Sustentação e locomoção
Possuem endoesqueleto de placas calcárias móveis (articuladas) ou fixas,
freqüentemente com espinhos. As placas podem ser microscópicas, distribuídas pelo corpo,
como nos pepinos-do-mar, ou constituir uma carapaça muito resistente, como nos ouriços-
do-mar. Nestes animais, a locomoção é lenta e é feita pelos pés ambulacrários e ainda por
espinhos movidos por músculos.
Sistema Hidrovascular
É um sistema de canais e apêndices da parede do corpo, peculiar aos equinodermos.
Como todo o sistema deriva-se do celoma, os canais são revestidos por um epitélio ciliado e
são preenchidos por fluido, similar à água do mar, exceto pelo fato de conter amebócitos,
proteínas e altos teores do íon potássio. O sistema hidrovascular é bem desenvolvido nos
asteróides, atuando como meio de locomoção.
Nutrição e digestão
O sistema digestivo é completo (figura 89), exceto nos ofiúros. As estrelas-do-mar são
carnívoras e predadoras, seu alimento preferido são as ostras. Apesar da potente
musculatura das ostras, as estrelas-do-mar conseguem abrir-lhe as valvas, introduzir seu
estômago no interior e lançar enzimas, ocorrendo uma digestão externa. Os ouriços-do-mar
alimentam-se de algas, que são trituradas pelos cinco dentes calcários, que formam uma
estrutura chamada “lanterna de Aristóteles”.
Figura 89: Filo Echinodermata. Secções esquemáticas mostrando nas cinco classes viventes as relações
da boca (M), ânus (A), pés ambulacrários (T) e espinho (S). O trato digestivo delineado.
Circulação e Respiração
Não possuem coração nem mesmo sistema circulatório típico. Existe, porém, um
reduzido sistema de canais (canais hemais), com disposição radial, onde circula um líquido
incolor contendo amebócitos.
A respiração, por difusão, é realizada pelo sistema ambulacrário. Além disso, na
estrela-do-mar e ouriço-do-mar existem diminutas e ramificadas brânquias dérmicas.
A troca gasosa na maioria dos holoturóides (pepinos-do-mar) é realizada por meio de
um sistema notável de túbulos ramificados, as árvores respiratórias. Essas localizam-se no
celoma nos lados direito e esquerdo do trato digestivo principal com muitos ramos, cada um
dos quais terminando numa pequena vesícula. Os troncos das duas árvores emergem da
extremidade superior da cloaca. A água circula através dos túbulos por meio da ação
bombeadora da cloaca e das árvores respiratórias.
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Excreção
Não existe nenhum órgão especializado. Os catabólitos são levados por amebócitos
aos pés ambulacrários, hidropulmões ou a qualquer estrutura exposta à água, que os elimina
por difusão.
Reprodução
São animais de sexos separados e de fecundação externa. Os órgãos sexuais são
simples, existindo, geralmente, apenas gônadas sem ductos genitais. O desenvolvimento é
indireto, aparecendo em cada classe um tipo característico de larva: bipinária (nas estrelas-
do-mar), pluteus (ofiúros e ouriço), dolidária (crinóides) e auriculária (pepino-do-mar).
A simetria é bilateral nas larvas, passando a radial nos animais adultos. A reprodução
assexuada aparece em algumas larvas que se auto-dividem; além disso, as estrelas-do-mar e
o pepino-do-mar têm a capacidade de regenerar partes perdidas.
Evisceração e Regeneração
A expulsão dos túbulos pegajosos a partir da região anal, encontra-se geralmente
associada aos pepinos-do-mar, mas esse fenômeno defensivo geralmente se limita a algumas
espécies dos gêneros de Holothuria e Actinopyga. Alguns desses organismos possuem uma
grande massa de túbulos cegos brancos, rosados ou vermelhos, chamados túbulos de Cuvier
preso à base da árvore respiratória. Quando em perigo, esses pepinos orientam o ânus em
direção ao intruso, contraem a parede corporal e disparam os túbulos, através do
rompimento da cloaca. Os túbulos nem sempre são adesivos, mas podem liberar uma
substância tóxica (a holoturina).
Um fenômeno mais comum, chamado evisceração, pode ser confundido com a
descarga dos túbulos de Cuvier. Dependendo da espécie, partes do intestino e órgãos
associados podem ser expelidos. A evisceração é seguida pela regeneração das partes
perdidas.
8.2 Classificação
Os membros desta classe têm o corpo arredondado (forma: hemisférica ou ovóide, nos
ouriços-do-mar e disciforme, nas bolachas-do-mar) sem braços ou raios livres, mas possuem
espinhos delgados e móveis (fig. 91).
Resumo da classificação:
CLASSE EM PORTUGUÊS CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS
alguns, fixos no fundo do
CRINOIDEA crinóides mar (com tentáculos lírios-do-mar
móveis); outros, flutuantes
livres, corpo em forma de
OPHIUROIDEA ofiuróides medalha com 5 braços finos, serpentes-do-mar
longos e muito móveis
livres, com formato de
ASTEROIDEA asteróides estrela (número de braços estrelas-do-mar
variável)
livres, semi-esféricos e
ouriços-do-mar,
ECHINOIDEA equinóides alguns cobertos de espinhos
bolachas-do-mar
grandes
poucos movimentos,
HOLOTHUROIDEA holoturóides vivendo junto às rochas no pepinos-do-mar
fundo da água
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8.3 Importância para o homem
9 FILO CHORDATA
Caracteres gerais
• Uma notocorda dorsal, semelhante a um bastonete, presente durante pelo menos parte do
ciclo de vida.
• Um tubo nervoso dorsal oco presente em algum momento do ciclo vital.
• Fendas faríngeas durante algum estágio do ciclo vital.
• Cauda projetando-se atrás do ânus, persistente ou não no adulto.
• Simetria bilateral, com três folhetos germinativos e um corpo segmentado.
• Deuterostômios; tubo digestivo completo.
• Celoma de origem enterocélica e bem desenvolvido (exceto em Urochordata).
• O esqueleto, quando presente, é um endoesqueleto formado no mesoderma.
• Sistema circulatório fechado com um coração ventral (exceto em Urochordata).
• Sexos geralmente separados (alguns hermafroditos ou protândricos); ovíparos ou
vivíparos.
Figura 97: Subfilo Cephalocordata. Anfioxo (Branchiostoma). Adulto parcialmente dissecado no lado esquerdo.
Tamanho natural cerca de 5 cm de comprimento.
Caracteres gerais
a) Os Agnatha
Classes Cyclostomata (Ciclóstomos, do gr. cyclos, circular; stoma, boca) e Ostracodermi
(extintos)
Os agnatas eram abundantes nos mares de eras geológicas passadas, mas na fauna
atual estão representados por apenas dois grupos: o das lampreias (com 30 espécies) e o das
feiticeiras (com 20 espécies).
As lampréias são principalmente ectoparasitas de peixes e de baleias. Ocorrem tanto
no mar como na água doce de regiões temperadas. A boca é ampla, com numerosos dentes
córneos que elas usam para se fixar na pele dos outros animais. A língua também apresenta
dentículos córneos, usados para dilacerar a pele da vítima. São dióicos e a fecundação é
externa. Após a eliminação dos gametas, os adultos morrem. Do ovo surge uma larva, que
vive enterrada em detritos e lodo de riachos calmos, filtrando partículas de alimentos na
água. Vivem cerca de 3 a 7 anos, sofrem metamorfose e originam o adulto.
As feiticeiras são exclusivamente marinhas e vivem a mais de 25 metros de
profundidade nos oceanos. São carnívoras, alimentando-se principalmente de pequenos
poliquetos e peixes moribundos. Sua boca, rodeada por 6 tentáculos, é reduzida, com dentes
pequenos usados para arrancar pedaços do corpo da presa. Esses animais são hermafroditas,
mas geralmente só o ovário ou só o testículo é funcional no indivíduo. Dos ovos eclodem
indivíduos jovens, sendo o desenvolvimento direto.
Nos agnatas, as fendas branquiais abrem-se diretamente para fora do corpo, ao
contrário do que ocorre nos protocordados. Além disso, existem brânquias nessa região, a
qual assume um papel meramente respiratório, enquanto nos protocordados a região das
fendas branquiais se relacionava também alimentação.
Caracteres gerais
Os ciclóstomos diferem dos outros vertebrados por não apresentarem cabeça bem
diferenciada, não possuírem mandíbulas verdadeiras, extremidades pares, cinturas, costelas
ou ductos genitais, ligados às gônadas (figura 99).
As lampreias podem ser parasitas ou não, alimentando-se do sangue do hospedeiro
(outro peixe). Os peixes-bruxa normalmente vivem no fundo marinho e se alimentam de
invertebrados e peixes mortos.
Figura 98: Classe Cyclostomata. A. Eptatretus stouti, peixe-bruxa da Califórnia, com boca sugadora
mole, 4 pares de tentáculos e 11 pares de fendas branquiais. B. Lampreia marinha (Petromyzon
marinus), com funil bucal, olhos e 7 pares de fendas branquiais.
Figura 99: Classe Cyclostomata. Estrutura de uma lampreia adulta (Entosphenus tridentatus); grande
parte do lado esquerdo do corpo foi retirada.
O aparecimento da mandíbula.
Figura 100: Classe Chondrichthyes. A. Cação (Squalus acanthias). B. Raia (Raja). C. Quimera (Chimaera colliei).
Caracteres gerais
Pele rija, coberta de pequenas escamas placóides [cobertas de esmalte (figura 101)] e
apresentando muitas glândulas mucosas; tanto nadadeiras medianas como pares
presentes, todas sustentadas por raios; nadadeiras pélvicas com clásperes nos machos;
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nadadeira caudal heterocerca (lobo superior é maior que o inferior).
Figura 101: Escamas placóides (ampliadas). A. Pele com escamas em vista superficial. B. Secção mediana através
de uma escama.
Boca ventral, com dentes cobertos de esmalte; 2 narinas não comunicadas com a cavidade
bucal; tanto mandíbula, como maxila presentes; intestino com válvula espiral (para
aumentar a superfície de absorção).
Esqueleto cartilaginoso, sem ossos verdadeiros; crânio unido a cápsulas sensitivas pares;
notocorda persistente; muitas vértebras, completas e separadas, cinturas peitoral e pélvica
presentes.
Coração com 2 câmaras (1 aurícula e 1 ventrículo), com seio venoso e cone arterial,
contém apenas sangue venoso; diversos pares de arcos aórticos; algumas veias
expandidas em seios; glóbulos vermelhos nucleados e ovais.
Respiração por brânquias presas às paredes opostas de cinco a sete pares de bolsas
branquiais, tendo cada bolsa uma abertura independente em forma de fenda; sem bexiga
natatória.
Dez pares de nervos cranianos; cada “ouvido” com três canais semicirculares.
Excreção por meio de rins mesonéfricos, o principal produto de excreção nitrogenada é a
uréia.
Temperatura do corpo variável (ectotérmicos).
Sexos separados; gônadas tipicamente pares; ductos reprodutores abrem-se na cloaca;
fecundação interna; ovíparos ou ovovivíparos; ovos grandes, com muito vitelo,
segmentação meroblástica; sem membranas embrionárias; desenvolvimento direto, sem
metamorfose.
Figura 103: Disposição das ampolas de Lorenzini na cabeça do tubarão. Os círculos abertos
representam os poros superficiais.
A maioria dos tubarões e raias é marinha, mas alguns vivem em rios ou lagos
tropicais. Tubarões são encontrados em águas abertas e raias no fundo, mas a jamanta e
outras grandes raias nadam perto da superfície. Alguns tubarões ficam deitados no fundo e
são principalmente predadores. São nadadores ativos e geralmente se alimentam no meio de
cardumes de peixes. As espécies menores também comem lulas e crustáceos enquanto
algumas das formas maiores podem capturar focas ou leões-marinhos. Os tubarões-baleia
alimentam-se de plâncton. As raias comem diversos invertebrados. As raias elétricas
atordoam sua presa com choques elétricos. Os espinhos cobertos de veneno das raias-de-
espinho são usados como defesa.
Os peixes ósseos têm esqueleto ósseo, são cobertos com escamas dérmicas, geralmente
tem corpo fusiforme, nadam por meio das nadadeiras e a maioria respira por brânquias
(figura 104). O grupo dos osteícties é o maior entre todos os grupos de vertebrados,
totalizando cerca de 21 mil espécies. Estão presentes em todos os tipos de água, doce, salobra,
salgada, quente ou fria, desde a superfície até cerca de 9 mil metros de profundidade.
Caracteres gerais
Pele com muitas glândulas mucosas, geralmente com escamas de origem mesodérmica
(ciclóides, ctenóides, às vezes ganóides; figura 105); alguns sem escamas; alguns com
escamas revestidas com esmalte; nadadeiras medianas e pares presentes (com algumas
exceções), sustentadas por raios cartilaginosos ou ósseos.
Boca geralmente terminal e com dentes, maxilas e mandíbulas bem desenvolvidas,
articuladas com o crânio; 2 bolsas olfativas dorsais, geralmente não comunicadas com a
cavidade bucal; olhos grandes, sem pálpebras.
Esqueleto principalmente ósseo (cartilagem em esturjões e alguns outros); muitas
vértebras, distintas; cauda geralmente homocerca (lobos são simétricos) nas formas
avançadas (figura 106); restos de notocorda freqüentemente persistem.
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Figura 104: Peixes ósseos
representativos (Classe
Osteichthyes), com diferentes
formas do corpo. A. Bonito
(Scomber), hidrodinâmico e
nadador rápido. B. peixe-cofre
(Ostracion), corpo rígido, somente
nadadeiras móveis. C. Peixe-lua
(Mola), enorme, comprimido
lateralmente. D. Baiacu
(Chilomycterus), corpo espinhoso,
inchado, nada-deiras pequenas. E.
Cavalo-marinho (Hippocampus),
nada em posição ereta por meio
de pequena nadadeira dorsal,
cauda preênsil.. F. Enguia
(Anguilla), longa e altamente
flexível.
Coração com 2 câmaras (1 aurícula, 1 ventrículo) com seio venoso e cone arterial,
contendo apenas sangue venoso; 4 pares de arcos aórticos; glóbulos vermelhos nucleados
e ovais.
Respiração por pares de brânquias em arcos branquiais ósseos dentro de uma câmara
comum em cada lado da faringe, cobertas por opérculo (figura 106a e 107); geralmente
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com bexiga natatória, algumas vezes com ducto para a faringe e semelhante a um pulmão
em DIPNOI e alguns outros.
Figura 106a: Brânquias de um peixe ósseo (carpa). A. Brânquias na câmara branquial com o opérculo
cortado. B. Parte de uma brânquia mostrando os rastelos e filamentos branquiais, com a direção no
sangue dos últimos; vasos aferentes escuros, vasos eferentes claros (em muitos peixes os rastelos
branquiais são delagados). C. Parte de um filamento, muito ampliado; cada lamela contém capilares
onde o sangue é arterializado. D. Posição dos filamentos branquiais durante a respiração. A direção
das correntes de água e do sangue são mostradas, respectivamente, por setas inteiras e interrompidas.
Encéfalo com lobos ópticos e cerebelo bem desenvolvidos; dez pares de nervos cranianos.
Apresentam como órgão sensorial a linha lateral igual aquela dos peixes cartilaginosos
(figura 108 e 108a).
Excreção por meio de rins mesonéfricos; o principal produto de excreção nitrogenada das
larvas é a amônia, da maioria dos adultos é a uréia.
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Figura 107: O mecanismo respiratório dos peixes; secções frontais esquemáticas (lobos da válvula oral
realmente dorsais e ventrais); as setas mostram a direção das correntes de água. CAÇÃO. A. A água
entra pela boca situada ventralmente, que se fecha em seguida; o assoalho da boca levanta-se para
forçar a passagem da água sobre as brânquias e para fora através de fendas separadas. PEIXE ÓSSEO.
B. Inalação, os opérculos estão fechados, a válvula oral aberta, a cavidade dilatada e a água entra. C.
Exalação, a válvula oral fecha-se, a cavidade bucal contrai-se e a água passa sobre as brânquias, em
cavidades comuns os lados da faringe e para fora por baixo dos opérculos.
Figula 108: Parede do corpo da carpa em secção longitudinal com o sistema sensitivo da linha lateral.
Aspecto externo: corpo fusiforme, mais alto que largo, de secção transversal oval para
facilitar a passagem através da água (figura 109). A cabeça estende-se da extremidade do
focinho até o canto posterior do opérculo, o tronco deste ponto até o ânus e o resto é a cauda.
A grande boca é terminal, com maxilas e mandíbulas distintas que apresentam dentes finos.
Na parte dorsal do focinho há duas narinas duplas (bolsas olfativas), os olhos são laterais, sem
pálpebras, e atrás de cada um há uma cobertura fina das brânquias, o opérculo, com margens
livres embaixo e atrás. Por baixo de cada opérculo existem quatro brânquias em forma de
pente. O ânus e a abertura urogenital precedem a nadadeira anal. No dorso há duas nadadeiras
dorsais separadas, na ponta da cauda a nadadeira caudal e ventralmente na cauda a nadadeira
anal; todas estas são medianas. As nadadeiras laterais ou pares são as nadadeiras peitorais,
atrás dos opérculos e as nadadeiras pélvicas ou ventrais, logo abaixo. As nadadeiras são
expansões membranosas do tegumento, sustentadas por raios das nadadeiras. Os espinhos são
rígidos e não articulados; os raios moles são flexíveis, têm muitas articulações e geralmente
são ramificados. As nadadeiras ajudam a manter o equilíbrio, a direção e a locomoção.
Figura 109: Perca-amarela; estrutura geral. O opérculo, a nadadeira peitoral, a maioria da pele e das
escamas e alguns músculos do tronco e da cauda foram retirados.
Os anfíbios (do grego amphi - ambos, dos dois modos e bios - vida) representam os
tetrápodos mais antigos aparecidos na Terra e correspondem a cerca de 4000 espécies
descritas. Seu nome é dado em consideração ao fato de levarem parte da vida (fase larvária)
na água e o restante (fase adulta) em terra firme, embora existam representantes que passam
toda a vida no ambiente aquático. Mesmo os adultos terrestres, ainda não podem dispensar
totalmente a vida em ambientes úmidos e próximos à ambientes aquáticos, tendo em vista a
respiração cutânea e a necessidade da água para a reprodução.
São atualmente incluídos em três ordens (fig. 110):
A. Ordem Urodela ou Caudata - são as salamandras, nas quais a cauda é bem desenvolvida e
os membros, apesar de sofrerem redução em diferentes graus, estão sempre presentes.
Dentre os anfíbios atuais, as salamandras possuem a forma do corpo e a locomoção mais
generalizadas. As salamandras são alongadas, e quase todas as espécies completamente
aquáticas apresentam 4 pernas funcionais. São aproximadamente 350 espécies, quase
totalmente limitadas ao hemisfério Norte, embora atinjam o norte da América do Sul. A
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pedomorfose (retenção de características larvais no “adulto”) é uma característica
amplamente distribuída entre as salamandras. Tais formas podem ser reconhecidas pela
retenção da linha lateral funcional, ausência de pálpebras, retenção de brânquias externas.
B. Ordem Anura - sapos, rãs e pererecas. São adaptados para o salto e não possuem cauda
quando adultos. Em contraste com o limitado número e distribuição geográfica das
espécies de salamandras, os anuros (an= sem; uro= cauda), incluem cerca de 3500 espécies
e ocorrem em todos os continentes, exceto na Antártida.
C. Ordem Gymnophiona ou Apoda - animais ápodos e alongados, conhecidos popularmente
por cobras-cegas ou cecílias.
Figura 110: Classe Amphibia. A. Ordem Urodela. B. Ordem Anura. C. Ordem Gymnophiona.
Caracteres gerais
apresentam pele lisa, fina, úmida e glandular, coberta de muco, ricamente vascularizada,
sem escamas ou placas, apta para a respiração cutânea, que nesses animais chega a ser
mais importante que a respiração pulmonar;
desenvolvimento por metamorfose. Larva chamada de girino, com brânquias
(inicialmente externas e depois internas) e nadadeira caudal. Adultos com pulmões e
pernas (há exceções, pois adultos de algumas espécies podem reter os brânquias);
portadores de cloaca;
fecundação externa em quase todo o grupo (as fêmeas eliminam os óvulos e os machos
disseminam os espermatozóides sobre eles, na água). Há uma falsa cópula que é realizada
dentro d’água;
todos são ectotérmicos, sendo a temperatura corpórea atingida por calor gerado pelo
ambiente;
sangue com hemácias ovóides e nucleadas. Coração com três cavidades: duas aurículas e
um ventrículo. O sangue arterial, que entra na aurícula ou átrio esquerdo, e o sangue
venoso, que chega à aurícula ou átrio direito, vão se juntar no nível do ventrículo único.
Por isso, diz-se que a circulação desses animais é fechada, dupla, porém incompleta (há
mistura de sangue arterial com sangue venoso);
a maioria das rãs e sapos tem ouvido médio e membrana timpânica externa. Os sons
desta membrana, pela cavidade timpânica, para o ouvido interno através de um osso
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(columela). A cavidade timpânica comunica-se com a faringe pela trompa de Eustáquio;
todos os representantes são anamniotas e analantoidianos, isto é, não formam âmnio nem
alantóide durante o desenvolvimento embrionário.
Evolução
Os anfíbios são os primeiros e mais inferiores Tetrapoda. Derivam de um ancestral
semelhante a um peixe. A transição da água para a terra envolveu: modificação do corpo
para andar em terra firme, retendo ainda a capacidade de nadar, desenvolvimento de pernas
em lugar de nadadeiras pares, modificações da pele para permitir a exposição ao ar,
substituição das brânquias por pulmões, modificações no aparelho circulatório para permitir
a respiração pelos pulmões e pela pele, e aquisição de órgãos dos sentidos que funcionam
tanto no ar como na água.
Sistema esquelético
Os anfíbios têm o crânio largo e achatado, se comparado a maioria dos peixes. Como
não existe palato secundário, as coanas se abrem na região anterior do teto da boca. Em
alguns pode não haver nenhum dente, enquanto em outros podem estar ausentes apenas na
mandíbula.
O número de vértebras é bastante variável (10 a 200), além dessas serem mais
diferenciadas que aquelas dos peixes. São os primeiros vertebrados com ESTERNO, mas as
costelas são pouco desenvolvidas e, em nenhum caso, têm contato com o esterno.
A maioria dos anfíbios tem 2 pares de pernas, com 4 dedos em cada perna anterior e 5
dedos em cada perna posterior, embora esse número possa ser reduzido. As pernas
posteriores ou ambos os pares podem estar ausentes (salamandras e cobras-cega,
respectivamente). Alguns dotados de caudas, outros não.
Respiração
Anfíbios têm mais recursos para a respiração que qualquer outro grupo animal,
refletindo a transição de habitats aquáticos para terrestres. Em diferentes espécies as
brânquias, os pulmões, a pele e a bucofaringe servem separadamente ou em combinação.
Três pares de brânquias externas ocorrem em todos os embriões e larvas. Nos adultos, os
pulmões são bastante simples. Geralmente o ar é bombeado para os pulmões através de um
simples processo de deglutição. Em espécies aquáticas os pulmões também servem como
órgãos hidrostáticos, sendo inflados quando os animais estão flutuando. A pele de todos os
anfíbios contém muitos vasos sangüíneos que ajudam na oxigenação do sangue; isto permite
que espécies aquáticas permaneçam submersas durante longos períodos e que hibernem em
açudes.
Muitas espécies têm respiração bucofaríngea; pulsações da região gular movem o ar
para dentro e para fora da cavidade bucal e a oxigenação do sangue ocorre nos vasos
situados por baixo da mucosa aí existente. Cordas vocais na laringe de rãs e sapos servem
para produzir a coaxação familiar, distinta para cada espécie, que serve para reunir os sexos
para a reprodução - principalmente durante a primavera.
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Características Especiais
Pele e Glândulas: a pele dos anfíbios é mais importante para a respiração e proteção.
Numerosas glândulas mucosas lubrificam e fazem com que pele esteja sempre úmida e lisa.
Alguns anfíbios desenvolvem glândulas no focinho e no dorso antes da eclosão e a secreção
serve para romper a cápsula do ovo. Muitos anfíbios possuem glândulas granulosas, que
podem produzir secreções venenosas, servindo como defesa. Nos sapos, as grandes
glândulas paratóides (situadas ao lado do pescoço) representam aglomerações de glândulas
de veneno. A toxidade desses venenos varia enormenente. Algumas rãs neotropicais
apresentam coloração viva e são venenosas, provavelmente “usam” a cor como sinal de
advertência.
Muda: a superfície externa de toda a pele é trocada periodicamente pelos anfíbios.
Parece que esse processo de muda está sob controle hormonal. A camada externa da pele não
é trocada inteira, como em certos répteis, mas em fragmentos. A freqüência das mudas varia
de acordo com a espécie, podendo ter extremos de uma muda por dia (Hyla cinerea). Em
outros anfíbios, o intervalo pode ser de um mês ou mais.
Membros: há uma variação considerável no número de membros e dedos, como
resultado dos diferentes modos de vida. Por exemplo: cobras-cegas são ápodas, mas a
maioria dos anfíbios caudados têm quatro membros com 4 dedos nas pernas anteriores e 5
nas posteriores, geralmente, mas há variações. Os membros de sapos e rãs são em geral
muito mais especializados que os das salamandras, sendo os membros posteriores alongados
e adaptados ao salto. Nas pererecas, as pontas dos dedos são alargadas e com discos adesivos
na superfície inferior, enquanto as rãs possuem membranas natatórias entre os artelhos.
Regeneração: os anfíbios anuros são capazes de regenerar membros ou dedos
perdidos, mas as salamandras não o fazem.
Vocalização: o canto dos anuros é diversificado, varia com a espécie, sendo que uma
espécie pode ter cantos diferentes para diversas situações. Os cantos mais familiares são
aqueles referidos como nupciais (ou de advertência). As características do canto identificam a
espécie e o sexo do indivíduo que canta. As fêmeas dos anuros são sensíveis ao canto de sua
própria espécie durante curto período, quando os óvulos estão prontos para serem
depositados. Acredita-se que os hormônios relacionados à ovulação sensibilizem células
específicas relacionadas à audição.
Atividades estacionais
Anfíbios vivem principalmente na água e em lugares úmidos; nunca no mar. Todos
precisam evitar temperaturas extremas e a seca porque não têm regulação da temperatura do
corpo através de calor gerado pelo metabolismo e, além disso, podem perder facilmente água
através de sua pele fina. Durante o inverno rãs e salamandras aquáticas hibernam no fundo
de lagos e rios que não congelam; sapos e salamandras terrestres enterram-se ou vão até
abaixo da linha de congelamento. Durante a hibernação todos os processos vitais são
reduzidos, o batimento cardíaco é lento e o animal sobrevive de reservas armazenadas no
corpo.
Juntamente com âmnio, surgiram também outros dois anexos embrionários: o córion
(membrana de proteção embrionária externa ao âmnio) e o alantóide, que participam das
trocas gasosas. O alantóide atua também como uma estrutura armazenadora de excretas
nitrogenadas resultantes do metabolismo protéico. A excreta nitrogenada dos embriões de
répteis é o ácido úrico, insolúvel em água e atóxico, podendo ser armazenado dentro do ovo.
Os adultos também excretam ácido úrico, representando uma grande economia de água, uma
vez que não precisa de água para ser eliminado.
O nome da Classe refere-se ao modo de locomoção (do latim reptare - rastejar), e sendo
dividida informalmente em três grandes grupos:
Figura 113: Os Crocodilia diferem pouco entre si ou das formas do Mesozóico. A maior variação interespecífica, nos
Crocodilia atuais, é observada na forma da cabeça. Os jacarés e os caimans são formas de focinho largo, com dietas
variadas. Os crocodilos incluem uma variedade de larguras de focinho. Os mais largos focinhos de crocodilos são
quase tão largos quanto aqueles da maioria dos jacarés e caimans, e essas espécies de crocodilos apresentam dietas
variadas que incluem tartarugas, peixes e animais terrestres. Outros crocodilos possuem focinhos muito estreitos e
são primariamente piscívoros. (a) crocodilo cubano; (b) jacaré chinês; (c) crocodilo americano; (d) gavial.
142
3. Lepidosauria - tuatara, lagartos, serpentes e cobras-de-duas-cabeças.
Os Lepidosauria são distinguidos por diversos caracteres derivados, tanto do
esqueleto como da anatomia das partes moles. Talvez o mais interessante desses seja o
crescimento determinado, ou seja, o crescimento é interrompido quando a placas
cartilaginosas que separam as extremidades dos ossos longos e as epífises tornam-se
completamente ossificadas. Essa modificação do padrão de crescimento contínuo não é
observada em Crocodilia e nas tartarugas.
Dois grupos principais podem ser distinguidos: Sphenodontia (com a tuatara,
único vivente, que ocorre em ilhas da Nova Zelândia) e Squamata (lagartos, serpentes e
cobra-de-duas-cabeças).
Squamata: mostram numerosos caracteres derivados no crânio, esqueleto pós-
craniano e tecidos moles. O mais evidente destes é a perda da barra temporal inferior e do
osso quadrado-jugal , que formava parte dessa barra. Essa modificação faz parte de uma
série de mudanças estruturais do crânio, que contribuem para o desenvolvimento de uma
complexidade de movimentos. Nas serpentes, a flexibilidade do crânio foi aumentada
ainda mais, através da perda da segunda barra temporal.
O órgão de Jacobson tem seu ápice de desenvolvimento em serpentes e lagartos e é
ligado ao teto da boca e não ao canal nasal.
Caracteres gerais
Caracteres especiais
Evolução
Os répteis estão melhor enquadrados ao ambiente terrestre em relação aos anfíbios,
tendo tegumento seco e com escamas, adaptado à vida no ar seco; pernas adaptadas para a
locomoção rápida, maior separação do sangue arterial e venoso no coração, completa
ossificação do esqueleto e ovos adaptados para o desenvolvimento em terra, com membranas
e cascas para proteger o embrião. Aos répteis faltam tegumento isolante, regulação da
temperatura do corpo e algumas outras características de aves e mamíferos.
Répteis Fósseis
Os répteis viventes, apesar de numerosos, são na maioria pequenos e ocupam uma
posição secundária entre os animais existentes. Durante o Mesozóico foram os vertebrados
dominantes e ocuparam a maioria dos habitats animais disponíveis. Variaram em tamanho,
de pequenos a grandes, alguns excedendo de longe os elefantes em comprimento e peso e
foram muito diversificados em estrutura e hábitos. Das 16 ordens de répteis primitivos,
apenas 4 sobreviveram. Entre os espécimes que não são encontrados na atualidade, apenas
em registros fósseis, estão os dinossauros e os pterodáctilos. Ainda hoje existe muita
especulação para se saber a causa da extinção em massa ocorrida na transição Cretáceo-
144
Terciário (figura 114). Alguns autores também sugerem que os répteis tenham sido incapazes
de competir com os mamíferos. Porém, a hipótese mais aceita ainda hoje, diz que mudanças
graduais do nível do mar e um aumento na variação climática tenham fornecido um contexto
no qual pressões físicas e biológicas podem ser combinadas, resultando uma explicação
plausível para as extinções de certos grupos.
Evolução
As aves parecem ter se originado de répteis um tanto delgados, de cauda longa e
andar bípede. Estes animais provavelmente corriam rapidamente com suas pernas
posteriores, tendo os membros anteriores levantados e livres para darem origem às asas. Os
fatores seletivos na evolução das penas não são bem esclarecidos.
Aspecto externo: apresentam uma cabeça distinta, um pescoço longo e flexível e um forte corpo
fusiforme ou tronco. Os dois membros anteriores ou asas prendem-se no alto do dorso e têm
longas penas apropriadas ao vôo (rêmiges). Em cada membro posterior os dois segmentos
superiores são musculosos, enquanto que a canela contém tendões mas poucos músculos e é
revestida com escamas córneas, assim como os 4 artelhos que terminam em garras córneas. A
cauda curta apresenta um leque de longas penas caudais (retrizes). A boca projeta-se como
um bico pontudo, com revestimento córneo (figura 116). No maxilar superior há duas narinas
em forma de fenda. Os olhos são grandes e laterais, cada um com pálpebra superior e inferior;
abaixo destas fica a membrana nictitante (membrana delicada que ocorre sobre os olhos, abaixo
das pálpebras, para proteger o globo ocular). Por baixo e atrás de cada olho há uma abertura
do ouvido, escondida embaixo de penas especiais. A crista mediana carnosa, as barbelas laterais
na cabeça e os esporões cornificados das pernas são peculiares aos galos, faisões e algumas
outras aves. Abaixo da base da cauda fica a cloaca (figura 117). A pele mole, flexível e seca é
presa frouxamente à musculatura subjacente. Faltam glândulas, com exceção da glândula
uropigial acima da base da cauda, que secreta uma substância oleosa para impermeabilizar as
penas e é distribuída com o bico. As penas crescem a partir de folículos na pele.
147
Figura 117: Galo doméstico; estrutura interna. Os dois cecos foram cortados.
Penas: constituem um revestimento do corpo leve e flexível, mas resistente, com espaços
aéreos úteis como isolante; protegem a pele contra o desgaste e as penas finas das asas e da
cauda formam superfícies para sustentar a ave no vôo (fig. 118).
____________________________________
Sistema Esquelético
Muitos ossos contêm cavidades aéreas (ossos pneumáticos) para diminuir o peso e têm
uma estrutura de reforços ósseos que fornecem resistência. O esqueleto é modificado em
relação ao vôo, à locomoção bípede e à postura de grandes ovos com casca dura (figura 120).
Nas aves que voam (também chamadas de carenatas, porque têm carena) os ossos são
extremamente leves. Isso é essencial para diminuir seu peso específico durante o vôo. Os
ossos maiores apresentam cavidades pneumáticas conectadas com sistema respiratório,
sendo os principais: úmero, esterno, vértebras e crânio.
149
Sistema respiratório
É extremamente eficiente e, consequentemente, mais complicado que nos demais
vertebrados de respiração aérea.
As narinas no bico ligam-se às coanas acima da cavidade bucal. A glote em forma de
fenda no assoalho da faringe, abre-se na laringe ou em uma traquéia longa e flexível. A
laringe das aves, entretanto, não é o órgão produtor de som, mas sim o modulador dos tons
que se originam na siringe (caixa vocal), que se localiza na extremidade inferior da traquéia.
Dentro da siringe existem músculos vocais. Da siringe parte um brônquio curto para cada
pulmão (figura 121). Os cantos e gritos das aves são produzidos por ar forçado através de
membranas nas paredes da siringe, que vibram como palhetas e podem variar a tensão para
produzir notas de diferentes alturas.
A maioria das aves pode emitir gritos e cantos. Os gritos geralmente são sons breves,
simples, estereotipados que influenciam o comportamento diário de manutenção,
alimentação, interação entre pais e filhotes, migração, evitando o perigo e reunindo as aves.
Os cantos tendem a ser mais complexos, geralmente são emitidos pelos machos,
150
influenciados pelas modificações endócrinas do ciclo reprodutivo e são relacionados com a
reprodução, estabelecimento e defesa do território, atraem uma parceira, mantém a união de
um casal e sincronizam os ciclos reprodutivos de machos e fêmeas.
Figura 122: Padrão do fluxo de ar durante a inspiração e a expiração. Note que o ar flui através do
pulmão parabronquial durante as duas fases do ciclo respiratório. 1, pulmão parabronquial; 2, saco
aéreo clavicular; 3, saco aéreo torácico cranial; 4, saco aéreo torácico caudal; 5, saco aéreo abdominal.
Sistema Digestivo.
As aves apresentam muitas modificações interessantes, algumas das quais associadas
à ausência de dentes. Como não existem lábios, não há glândulas labiais na boca, mas sim
sublinguais. Nas aves granívoras (que comem grãos) e carnívoras, existe uma porção do
esôfago em forma de saco, o papo, que se destina ao armazenamento temporário de
alimentos. Não há glândulas digestivas no papo, embora nos pombos e espécies aparentadas
existam estruturas semelhantes a glândulas que produzem substância nutritiva (o “leite” dos
pombos), que é regurgitada pelos pais para alimentar os filhotes.
O estômago tem uma porção glandular anterior, o proventrículo, que secreta sucos
gástricos, e uma porção posterior, muscular e com espessas paredes, chamada moela. Na
moela, areia e pedriscos engolidos pela ave ajudam a triturar o alimento. O intestino delgado
é enrolado ou forma alças. A maioria das aves possui um ou dois cecos na junção dos
intestinos delgado e grosso, que por sua vez termina numa câmara cloacal (figura 123).
Reprodução.
A fecundação é sempre interna e todas as aves botam ovos com muito vitelo e uma
casca calcária dura, que precisam ser aquecidos ou incubados para o crescimento do embrião.
Em quase todas as aves cada um ou ambos pais sentam sobre os ovos para fornecer o calor
necessário. Os filhotes de galinhas, codornizes, patos, aves litorâneas e outras são nidífugos
152
(aptos à correr assim que saem do ovo), sendo bem formados, totalmente cobertos de plumas
e capazes de perambular logo após a eclosão, enquanto que os de aves canoras, pica-paus,
pombos e outros nascem com os olhos fechados, nus e desprotegidos. Precisam ser
alimentados e cuidados no ninho; estes são chamados nidícolas.
Migração.
Muitas espécies migram ou deslocam-se regularmente de uma região a outra com a
mudança das estações. Tanto as rotas de verão como as de inverno das espécies são bem
definidas. A maior parte da migração é latitudinal, das regiões setentrionais e subárticas,
onde há facilidades de alimentação e nidificação durante os meses quentes e depois retiram-
se para o sul, onde passam o inverno. Algumas outras aves fazem migrações altitudinais para
regiões montanhosas para passarem o verão e voltam para as terras baixas no inverno.
Migração, reprodução e muda são fases do ciclo anual das aves, todas reguladas pelo sistema
neuroendócrino. Geralmente, antes da migração, acumulam rapidamente reservas de
gordura, não presentes em outras épocas, para combustível extra durante os longos vôos.
Os mamíferos (do latim mamma - mama e feros - portador), com cerca de 4.500 espécies
atuais, distribuem-se por quase todo o globo terrestre, explorando amplamente os recursos
da Terra, de pólo a pólo, do topo das montanhas às profundezas dos mares e mesmo no céu
noturno. Apresentam uma grande disparidade morfológica relacionada à diversidade de
hábitos alimentares e modos de locomoção. Reconhecemos 20 ordens atuais, que refletem
essa diversidade. Essas ordens englobam representantes bem conhecidos popularmente:
gambá, coala, canguru, tamanduá, preguiça, tatu, morcegos, macacos, cão, gato, lontra, onça,
porco, camelo, veado, boi, rinoceronte, baleia, golfinho, elefante, entre outros.
Os mamíferos modernos podem ser divididos em três grupos principais, separados
com base em seus modos de reprodução. Entre os Prototheria, ou Monotremados,
sobrevivem cerca de seis espécies isoladas geograficamente na Austrália e Nova Guiné. Estão
agrupadas em duas subordens, a das équidnas e a dos ornitorrincos. Os Prototheria
caracterizam-se por botar ovos que são incubados e eclodem fora do trato reprodutivo das
fêmeas. Apesar disso, são vertebrados com pêlos, endotérmicos, produtores de leite,
possuindo dentes (apenas na maxila inferior) e portanto classificados como mamíferos.
Os dois grupos restantes de mamíferos são estreitamente relacionados, mas tiveram
histórias evolutivas separadas. Os Metatheria (Marsupiais), cerca de 250 espécies,
caracterizam-se pelo curto período de gestação, pela prematuridade dos filhotes e, em
muitos, por possuírem uma bolsa de proteção (o marsúpio). Esta bolsa recobre as glândulas
mamárias das mães e o jovem arrasta-se até seu interior imediatamente após o nascimento,
para alimentar-se e completar seu desenvolvimento. Os marsupiais são restritos à Austrália e
Novo Mundo.
Os Eutheria, ou placentários, incluem cerca de 3800 espécies, e nascem num estágio de
desenvolvimento muito mais avançado que os marsupiais. Muitos estão prontos para correr
ou nadar ao lado das mães minutos após o nascimento. Embora isso signifique um maior
potencial de sobrevivência, o custo é alto e prolongado para a fêmea.
Caracteres gerais
De um modo geral, as principais características dos mamíferos são:
presença de mamas em número par, com localização variável;
presença de pêlos em algum estágio da vida, os quais contribuem para a manutenção da
temperatura corpórea, já que são chamados homeotérmicos. Os pêlos podem ser
153
reduzidos ou completamente ausentes em alguns mamíferos adultos.
São endotérmicos;
presença de glândulas cutâneas (sebáceas e sudoríparas) em certas regiões do corpo;
além da formação do âmnio e do alantóide, durante o desenvolvimento embrionário,
também ocorre a formação da placenta, um anexo que permite as trocas respiratórias e
nutritivas entre o feto e a mãe, contribuindo para que aquele passe todo o seu período de
desenvolvimento no interior do útero materno, livre dos perigos do meio exterior;
respiração pulmonar, presença de diafragma separando a cavidade torácica da cavidade
abdominal;
encéfalo altamente desenvolvido;
crânio com dois côndilos occipitais, o que não permite uma rotação tão ampla da cabeça
sobre o pescoço, como sucede com as aves (figuras 124 e figura 125);
Evolução
Os mamíferos surgiram na Terra a partir dos répteis Synapsida. Muitas características
tornam os animais da classe Mammalia altamente especializados, diferenciando-os dos
demais tetrápodes. O revestimento isolante do corpo (pêlos e gordura subcutânea) e a
separação completa dos sangues venoso e arterial no coração tornam possível a temperatura
regulada do corpo. Com isto o metabolismo é alto e consequentemente há necessidade de
muito alimento. Os dentes são geralmente conspícuos e diferenciados. Os sentidos da visão,
audição e olfato são altamente desenvolvidos. Cerebelo e cérebro grandes são responsáveis
por um alto grau de coordenação em todas as atividades, pela aprendizagem e pela memória
retentiva.
Classificação
Filo Chordata
Subfilo Vertebrata
Superclasse Tetrapoda
Classe Mammalia
Sistema Esquelético
Maior ossificação em relação às formas inferiores, bem como redução na quantidade
de elementos ósseos, principalmente no crânio. Este é relativamente grande para acomodar o
encéfalo, proporcionalmente aumentado. O crânio articula-se com a primeira vértebra
cervical através de 2 côndilos occiptais.
155
No ouvido médio aparece além do estribo, bigorna e martelo.
As vértebras cervicais são em no de 7 em todos os mamíferos, exceto no peixe-boi (06),
preguiça-de-dois-dedos (06), tamanduá (08) e na preguiça-de-três-dedos (09).
Embora os mamíferos possuam basicamente 4 membros pentadáctilos, estes estiveram
sujeitos a consideráveis modificações em muitos grupos especializados. A redução ocorre
mais freqüentemente no número de dedos, porém nos cetáceos (golfinhos e baleias) e sirênios
(peixe-boi), todas as evidências externas de membros posteriores desaparecem.
A tabela a seguir mostra alguns representantes das subclasses de Mammalia. Obs.: nos
Eutheria não estão colocadas todas as ordens, mas apenas as mais popularmente conhecidas.
Cetacea Baleia,golfinho
Sirenea Peixe-boi
Artiodactyla Porco, boi, girafas
Perissodactyla cavalos, antas
Chiroptera morcegos
Eutheria Edentata tatu, tamanduá
Rodentia rato, capivara
Lagomorfa coelho, lebre
Carnivora gato, cão, leão
Prossimia lêmures
Simia macaco
Hominia Homem
Proboscidia elefantes
Pinnipedia leões-marinhos, focas, morsas
Sistema Muscular
Muito variável nas diferentes formas especializadas. Contudo, aspectos distintivos
podem ser indicados:
a) musculatura dérmica bem desenvolvida (por exemplo, os músculos de expressão facial,
das pálpebras, nariz e lábios);
b) disposição metamérica do tronco, tão evidente nos vertebrados inferiores, desaparece em
grande parte dos mamíferos ou é encoberta.
Sistema Circulatório
Coração com 4 câmaras (2 atriais e 2 ventriculares). Há completa separação do sangue
venoso e arterial como nas aves. Os eritrócitos são anucleados.
Sistema Digestivo
Aspectos particulares de mamíferos:
Existem lábios móveis em todos os grupos, exceto em monotremados e cetáceos.
156
Geralmente existem dentes e estes são tão especializados em certas espécies que os
discutiremos em separado.
As glândulas orais, primariamente relacionadas à secreção de muco, estão presentes
em todos os mamíferos, contudo, são mais desenvolvidas nas espécies terrestres, já que
mantém a boca umedecida e auxiliam na deglutição do alimento.
Muitos mamíferos arfam, isto é, respiram rapidamente com a boca aberta, para ajudar a
regular a temperatura do corpo. Isso ocorre com o resultado da evaporação salivar e da
evaporação nos pulmões.
A maioria dos mamíferos tem a língua muito desenvolvida (com exceção das baleias) e
capaz de muitos movimentos. Em sua superfície superior há numerosas papilas, algumas
relacionadas à gustação.
O estômago tem formas e padrões variados, relacionados com os hábitos alimentares,
podendo ser simples estruturas em forma de saco, até estruturas compostas por uma série de
câmaras, como nos ruminantes.
O intestino delgado é longo e convoluto na maioria, mas nas espécies herbívoras é
ainda maior.
A cloaca aparece somente nos monotremados.
Sistema Respiratório
É muito menos complicado que o das aves. Em alguns mamíferos de água doce
ocorrem adaptações de partes do sistema respiratório. Estas, freqüentemente, envolvem o
desenvolvimento de abas e válvulas para fechar as narinas externas.
Os mamíferos aquáticos apresentam adaptações para mergulhar a grandes
profundidades, sem sofrer privação de oxigênio. Estas podem ser:
• redução da pulsação e da freqüência cardíaca;
Ex.: elefante-marinho: pulso cai de 85 para 12 batimentos/min.
• tem maior tolerância ao CO2;
• tem grande quantidade de mioglobina no tecido muscular para “armazenar” oxigênio.
Os mamíferos que mergulham mais profundamente são os cetáceos, que podem
resistir a uma enorme pressão e segurar a respiração por, pelo menos, uma hora. A pressão
exercida a grandes profundidades é suportada através de um colapso alveolar (a partir dos
60m, aproximadamente) que impede as trocas gasosas. Além disso, o sangue é desviado da
musculatura e pele para suprir as necessidades do encéfalo e coração e, no mergulho, a
freqüência cardíaca é reduzida para cerca de 10 batimentos/minuto.
Sistema urogenital
As fêmeas têm geralmente dois ovários funcionais ligados a dois oviductos [(Trompas
de Falópio) (figura 127)].
Os Monotremados põem ovos e os oviductos abrem-se na cloaca, separadamente,
embora apenas o esquerdo pareça ser funcional.
Nos Marsupiais e placentários, o oviducto expande-se num útero, onde ocorre o
desenvolvimento embrionário dos filhotes. Nos primeiros, a gestação é curta e o
desenvolvimento termina no marsúpio. Após o nascimento, os embriões se arrastam para o
marsúpio, onde agarram fortemente a um mamilo da mãe, sendo então alimentado pela
secreção da glândula mamária.
Nos placentários, a placenta possibilita o desenvolvimento embrionário intra-uterino,
já que o suprimento energético se dá via placenta. Nos machos, os testículos são bem
posteriores ou podem estar no escroto (bolsa fora da cavidade do corpo). Há 1 único pênis.
Adultos apresentam um rim metanéfrico, bexiga urinária e uréia como excreta
nitrogenada.
157
A fecundação é sempre interna e os filhotes são alimentados com leite após o
nascimento.
Figura 127: Tratos reprodutivos característicos de fêmeas do ancestral e dos principais mamíferos
viventes: (a) ancestral hipotético dos mamíferos, semelhante a um lagarto; (b) monotremado ovíparo;
(c) marsupial mostrando estruturas vaginais complicadas; (d) mamífero placentário exemplificado
por um primata avançado.
Características Especiais
Glândulas mamárias: aparecem nos machos e fêmeas, mas são funcionais só nas fêmeas.
Estendem-se numa linha mamária e a posição é variável nas espécies (abdominais, peitorais,
inguinais). “Desembocam” em mamilos (de 1 a 13 pares, geralmente) e os lábios são
importantes para a sucção do leite.
Glândulas cutâneas:
Sudoríparas: eliminam resíduos e ajudam na termorregulação. Têm distribuição diversa pelo
corpo.
Sebáceas: lubrificam os pêlos e a pele.
Odoríferas: têm papel de defesa, atração sexual, reconhecimento.
Pêlos: depois das glândulas mamárias, são a característica mais diagnóstica dos mamíferos.
São estruturas ectodérmicas, com funções de manutenção da homeotermia (nos cetáceos e
paquidermes foram “substituídos”), de proteção e sensoriais (táteis).
Dentes:
Embora encontrados em outros vertebrados, os dentes são mais especializados nos
mamíferos. Foram perdidos em alguns (tamanduás, certas baleias), mas na maioria dos
mamíferos representam um importante papel na vida diária, ajudando na aquisição e
mastigação do alimento, além de muitas vezes, atuar na defesa.
159
A maioria dos mamíferos possui duas dentições, uma decídua ou láctea e outra
permanente, ao contrário de muitos vertebrados inferiores que podem substituir os dentes
por toda a vida.
A dentição permanente, que não é substituída em caso de perda, compõe-se de quatro
grupos de dentes, da parte anterior para a posterior da maxila: INCISIVOS, CANINOS, PRÉ-
MOLARES e MOLARES. O número de dentes em cada um desses grupos varia nos
diferentes tipos de mamíferos, exceto os caninos, que ocorrem em número de apenas um em
cada lado da maxila. Ao expressar o número de dentes de uma espécie, os zoologistas
utilizam-se freqüentemente uma fórmula dentária que representa o número e o tipo de
dentes existentes num lado da cabeça. Abaixo segue o exemplo da fórmula dentária do coiote
e do homem:
Fórmula dentária:
Chifres e Cornos
Chifres: aparece na família Cervidae, presente apenas nos machos. É trocado periodicamente,
de natureza óssea, recoberto por pêlos.
Cornos: exibido nas famílias Bovidae e Antilocapridae. Podem ocorrer em machos e fêmeas,
são ocos e córneos, porém têm um centro ósseo.
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