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Agabi não é Agabi? Adahun não é Adahun?

– Os Nomes dos Toques No


Candomblé!
Nos últimos anos, uma grande quantidade de Ogans me indaga sobre a
nomenclatura dos toques de Atabaque. Em sua maioria, desejam saber o nome
do toque de Obá, Yewa e, por aí vai. Desde criança vou à Salvador, até chegar
à idade adulta, no mínimo mais de duas vezes por ano.

Em todas as minhas viagens, ou quase todas, eu aproveitava para visitar uma


casa de Candomblé ao lado do meu pai. Nessas visitas, prestava muita
atenção aos antigos Ogans, quando eles diziam: “Toque Agere para Osoosi”,
“Alujá Para Sango”, “Awo”, etc. Quando chegava a São Paulo, atentava da
mesma forma os Ogans solicitando os toques pelos nomes.

Sem mais,
Opotun Vinicius – 05/04/2011
No entanto, os nomes eram diferentes ou simplesmente, não correspondiam
aos toques executados em Salvador, com àquela mesma denominação. Isso
me deixava um tanto quanto confuso. Em verdade, fui assimilar bem essas
diferenças já em idade adulta.

À exemplo do meu post anterior, sobre a Importância das Escolas do Atabaque


e, seus respectivos Mestres, é muito importante conhecer, não somente os
nomes dos toques, mas se o que você chama de “A” também é chamado de
“A”, na sua escola, ou seja, a consonância do nome com a sua respectiva
escola. Isso deveras é importante, para como se diz em Salvador “Não Passar
Carão” frente aos seus parentes! Aqui em São Paulo, por exemplo, há um
conglomerado de toques que são denominados “Agabi”. Os Ogans, solicitam
como segue: “Agabi para Ògún”, “Agabi para Sàngó”, “Agabi para Yewa”... Data
Venia! “Agabi para Yewa”? Sim! Agabi para Yewa!

Para alguém que aprendeu com baianos, certamente soará no mínimo exótico,
ouvir: “toque Agabi para Yewa”! Isso ocorre, pelo fato de em Salvador, todas as
grandes escolas de atabaque (Iya Naso, Òsùmárè e Gantois) denominar
“Agabi” o ritmo, frenético, cujo três atabaques são executados com as mãos,
em alguns casos, o Hunpi e Lé com Agidavi. Já em São Paulo, o chamado
“Agabi” é executado com Agidavis (os três atabaques), daí o motivo de pedirem
“Agabi para Yewa”.

Em São Paulo, o toque que em Salvador é chamado de “Agabi”, recebe aqui o


nome de “Tedo”. Nesse aspecto, há até uma explicação histórica para tal, ao
passo que a casa que mais entoava cânticos de Agabi (Bahia), era da Nação
Nago Tedo ou “Candomblé da Lama”, no Recôncavo Baiano e no Alto da
Subida do Alvo, em Salvador. No entanto, não tenho informações que
expliquem porque um conjunto de toques é denominado “Agabi”, aqui na terra
da Garoa. Isto posto, à luz das Tradicionais Escolas de Atabaque da Bahia, o
toque “Agabi” é executado com as mãos e, em alguns casos, com Agidavi
somente no Hunpi e no Lé. Outro nome de toque que gera uma enorme
confusão é o Adahun (pronuncia-se: Adarrum).
Para muitos, Adahun é o nome do toque do Òrìsà Ògún. Nesse sentido, com
toda a segurança, afirmo que isso é uma inverdade. Adahun é um toque de
origem Jeje, que é executado com o objetivo de evocar à terra os Voduns. O
Adahun fora assimilado nos tradicionais Candomblés Nagos da Bahia, com a
mesma finalidade, desta feita para evocar os Òrìsàs à terra.

O Adahun está quase que extinto, sendo que poucos sabem executar,
tampouco o que cantar quando do término do toque. Bom, mas ante a narrativa
que Adahun, nunca foi o toque de Ògún, qual seria então o nome deste: Num
primeiro momento, depende de qual toque estamos nos referindo, pois
somente de guerra, há mais de um toque para Ògún. No entanto, nesse
momento ater-me-ei ao mais conhecido: Para ilustrar, vou mencionar a cantiga
da faixa de Ogun, do disco de Vadinho (Djalma Correa): “De Awa De Lode Koro
Mbele”. No Ilé Asè Òsùmàrè e Gantois, o nome do toque dessa cantiga, seria
“VASSI”. Por outro lado, no Ilé Ìyá Naso Oka – Casa Branca do Engenho Velho,
o mesmo toque recebe o nome de Adereja. Bom, face ao exposto, ratifico uma
vez mais, a importância do Tocador, conhecer bem a sua escola de atabaques.

Afinal, do que adianta eu conhecer um nome que me informaram, se em nada


ele tem haver com a minha escola de atabaques Outra grande confusão que
existe, tange aos toques “Bravun”, “Sató”, “Savalu”, “Zondro” e “Modubi”, mas
quiçá, abordaremos esses nomes em outra postagem. Em Tempo: Acredito que
muitos ficaram pensando: E o “Lagunló”? Não é o toque de Ogun? bom, esse
também merece uma outra postagem.

OGAN DANÇA?

Recentemente, observei essa pergunta em ao menos quatro comunidades do


Orkut. Confesso que, a princípio, esse não seria um tema abordado por mim
nesse blog, pelo simples fato de não me apetecer à escrita. Todavia, frente
alguns devaneios que li, resolvi postar algo breve, porém elucidativo que
espero contribuir para àqueles que ainda, encontram-se em dúvidas.

Inicialmente, achei a pergunta bastante aberta, levando por vezes a


ambigüidade e, por conseqüência, ao erro no que concerne sua resposta.
Nasci e criei-me meio às Comunidades Religiosas do Candomblé Tradicional,
mas quando fiz uma primeira leitura sobre a pergunta, iria incidir no erro de
dizer que: NÃO! OGAN NÃO DANÇA!

Deixando de lado o desvario supra-exposto, posso com segurança, dizer que:


SIM! OGAN DANÇA!

Obviamente, que quando digo que Ogan Dança, não refiro-me àqueles que
com alma de ekeji, deixam de executar suas funções para dançar no Hun aos
Òrìsàs. Não refiro-me àqueles que na Hamunya derradeira, almejam ser o
palco das atenções e aventam arriscar dançar algumas das 17 passagens de
Iroko. Não refiro-me àqueles que, por saberem duas ou três passagens de
atabaque, vão à sala dançar, para posicionar-se frente aos tocadores, com
olhar de indagação, solicitando passagens e buscando constrangê-los. Assim
realmente Ogan não dança, pelo menos não os que considero e respeito!

Mas como disse: SIM, OGAN DANÇA! Mas em quais momentos?

Bom, todos sabem que o Tradicional Candomblé Baiano, que tanto admiro e
respeito, apregoa ao mundo que a roda dos Òrìsàs é destinada às mulheres
(concordo pela estética e também prego isso). Mas, mesmo nos mais
tradicionais Candomblés da Bahia, há momentos que algum Ogan é chamado
à dançar. Abaixo, exemplifico alguns desses momentos:

Cânticos Específicos para Ogans com Títulos Honoríficos: Alguns títulos


possuem cânticos específicos que, quando entoados, os Ogans que os
possuem são convidados à dançar, tais como: Alagbé, Eperinlode, Onibode,
dentre outros. Na Bahia, esses momentos são muito comemorados, pois esses
Ogans são reverenciados por todos, ao passo que são muito respeitados e
poucos os vêem dançando. Um momento muito bonito do Olugbajé, é quando
o Asogba (ao som da cantiga que o reverencia), dança ao lado de Obaluwaiye,
divindade maior do seu Culto. Caso esteja presente um Asogba de uma outra
casa, ele também é convidado à dançar.

Festa do Santo para Qual o Ogan foi


Confirmado: É muito comum ver, sobretudo na Bahia, um Ogan que, por
exemplo, fora confirmado para Òsóòsì, sair dançando ao lado do Deus da
Caça, quando da sua festa (leia festa anual do Òrìsà e não no dia da
Confirmação do Ogan – Aliás data que ele também dança). Após isso, os
Ogans sentam-se e, a festa continua normalmente. O mesmo ocorre com
outras Divindades no dia do seu Odun. O Ogan dança na saída do Òrìsà para
qual fora confirmado e depois senta, toca, etc. Nesses casos, os Ogans
geralmente se preparam mais (vestimenta – terno, abada, etc.), para a festa do
Òrìsà para qual foi confirmado, do que para as festividades do seu Òrìsà ou do
patrono da casa. Ao lado (foto), Ogan Junior, do Ilé Ibualamo, saindo junto ao
Òrìsà.

Evocação de Deuses: O Eperinlode, por exemplo, dança quando da evocação


dos Deuses de Caça, de posse dos Oges. Outro exemplo é do Balogun, que
dança com o Alakooro, para evocar Ogun no dia de sua festa. Posso também
citar, o caso dos Oba e Mogba, quando da Roda de Bayanni. Ao Lado (foto),
Eperinlode Paulo, dançando com os "Oges", para evocar os Deuses da Caça! -
Sociedade Ile Alákétu Asè Ibùalámo - 2010.

Ipade: Há cantigas no Ipade, destinada ao Ogan dançar (determinado Ogan).


Somente ele dança!

Àsèsè: Há momentos durante a cerimônia do Àsèsè que são os Ogans que


dançam!

Resumidamente, a resposta: EM MOMENTOS ESPECÍFICOS, MAS SIM, OGAN DANÇA


SIM!

Recordo-me, como hoje, que há mais de 20 anos, na confirmação do já


falecido Josimar, para Asogun do Ilé Alákétu Asè Ibùalámo, meu Pai Tarrafa,
Ogan Decano da Casa de meu Avô Camilo, digno, sério, respeitado e
tradicional. Levantou-se, cantou uma cantiga específica (que não compete
escrever aqui) e dançou em homenagem ao novo Ogan que surgia. Então,
reitero: EM MOMENTOS ESPECÍFICOS, MAS SIM, OGAN DANÇA SIM!

Os Toques do Hunpi e HunLé São Todos Iguais?


É muito comum ouvirmos de grande parte dos Ogans, a seguinte máxima: “No
Kétu, Hunpi e Hunlé são tocados da mesma forma”. Em suma, os
mesmos Ogans completam dizendo: “No Angola que há diferença dos toques
do Hunpi para o Hunlé, no Kétu não”. Há algum tempo estou querendo chamar
atenção para essa importante e sutil diferença, que há entre o Hunpi e
o Hunlé em muitos toques da tradição Kétu-Nàgó.

Em verdade, não podemos deixar de lado que, há casos, em que as frases


musicais executadas no Hunpi e noHunlé são exatamente as mesmas, como
exemplo, cito o caso do Daró, Kitipo, Izo, Adahun, dentre outros. Entretanto, há
toques em que a marcação é distinta, a depender do atabaque
(Hunpi ou Hunlé). Nesse espaço mesmo, já comentei um desses casos,
o Ijesa de Òsun, Òsàlá, Ògún, etc. Obviamente que não há verdade absoluta,
há casas renomadas, de grande tradição musical dentro do Candomblé, em
que as frases músicas, por exemplo, do Ijesa, são idênticas. Todavia, vou
discorrer sobre aquilo que aprendi e que pratico.

Já comentei nesse Blog, que comecei a aprender a tocar atabaques com os


discos do Vadinho, somente depois tive o privilégio de ter grandes Mestres
para me auxiliar e orientar-me em relação as minhas inúmeras dúvidas. Ao
ouvir os discos de Vadinho, sempre tive mais facilidade para “reproduzir” (ou ao
menos tentar reproduzir) as frases músicas do Hun. Quando eu era criança, as
pessoas diziam “Ele só quer tocar Hun”. Isso não era verdade, fato é que, ao
ouvir os discos (na verdade velhas fitas), eu não conseguia compreender de
forma clara as frases do Hunpi e do Hunlé e, mesmo sendo as frases
do Hun muito mais complexas, eu conseguia entendê-las com maior clareza.

A dificuldade em compreender os toques do Hunpi e do Hunlé, devia-se em


parte, a dois fatores: 1) Fita velha, somente depois de anos consegui os discos
originais. 2) Eu não sabia que o Hunpi e o Hunlé estavam marcando diferente.
Afinal, todos afirmavam que ambos marcavam da mesma forma. Assim sendo,
eu tentava fazer em somente um atabaque (ou o Hunpi ou o Hunlé), aquilo que
era proveniente do som de dois atabaques distintos (oHunpi e o Hunlé). Aquilo
me deixava bastante confuso, pois não me conformava em não conseguir
reproduzir com exatidão, aquilo que eu acreditava estar ouvindo dos discos. Ao
ouvir muitos Ogans tocando, eu observava e também não conseguia identificar
no que eles faziam, o mesmo “swing” dos discos.

À época, eu escutava somente três gravações, a saber: “Seu Luís da


Muriçoca”, “Candomblé Korin Nago” de Vadinho e “Cinqüentenário de Mãe
Menininha” também de Vadinho. Eram gravações antigas e, por meio delas,
não conseguia interpretar de forma exata a diferença entre o Hunpi e o Hunlé.
No entanto, o mito de que os toques da tradição Kétu Nàgó, no Hunpi e
no Hunlé eram idênticos, morreu quando consegui mais duas importantes
gravações: “Candomblé – Documentos Sonoros Brasileiros” (tocado por
Vadinho e cantado por Mãe Hilda) e “Baiafro”, tocado por Vadinho e, seu irmão
Dudú.

As últimas faixas do disco “Candomblé – Documentos Sonoros Brasileiros”, são


somente toques. Ao ouvir pela primeira vez, imediatamente consegui observar
que havia algo de muito diferente no Agéré e no Ijesa. Nessa gravação, sem a
interferência do coro e, bem mais lento que as gravações que eu possuía até
então, eu conseguia enfim escutar a diferença entre o Hunpi e o Hunlé. Isso
era mais evidente no disco “Baiafro”, ao passo que nessa, há somente o Hun e
o Hunpi, evidenciando de forma muito clara as frases musicais do Hunpi.
Naquele momento, surgiu um novo universo de estudo, era necessário
entender que, diferente do que a maioria afirmava, havia sim diferença entre
o Hunpi e o Hunlé para muitos toques.

Naquele momento, senti a sensação da Eureka de Arquimedes. Meu


entusiasmo prolongou-se alguns dias, até conseguir compreender todas
aquelas diferenças, mas terminou quando me dei conta de que, ainda havia
outros toques que eu executava e que não tinham aquele “swing” dos discos.
Aí surge então, a figura dos Mestres e Amigos, que muito me ensinaram e
orientaram na minha jornada à busca do conhecimento dos toques do
Candomblé.

Como exemplo, menciono nessa condição, os toques: Agabi (quando eu digo


“AGABI”, estou me referindo ao toque que é executado de mãos nos três
atabaques e não o Vassi que é executado de Agidavi), Jiká, Ijesa, Agéré,
dentre outros. Hoje não vou postar gravações com exemplos, nem mencionar
todos esses toques, desejo somente, motivar aqueles que se interessam em,
da mesma forma que eu, estudar, estudar, estudar e, sobretudo, recorrer aos
Mestres. Acredito que esse veículo de comunicação ajuda a esclarecer muitas
dúvidas, entretanto, de modo algum, substitui o ensinamento dado
pessoalmente, Lese Òrìsà pelo Mestre.

Com esse pequeno artigo, quero despertar um interesse maior ao estudo


do Hunpi e do Hunlé, sendo que, se esses dois importantes atabaques não
estiverem executando suas frases musicais de forma correta e plena, nem
mesmo o maior dos maiores Alagbés, conseguirá desenvolver sua arte com
excelência ao Hun.

É fundamental extinguir o preconceito no que tange os puxadores de Hunpi e


de Hunlé, bem como os de Agogo. Esses instrumentos são de suma
importância para a cadência rítmica do Candomblé. São tão importantes que,
conforme me ensinou o Grande Maestro Gamo da Paz:

“Vinicius, se existir quatro tocadores, você vai usar os três atabaques (Hun,
Hunpi e Hunlé) e o Agogo, se tiver somente três trocadores, serão usados o
Agogo, o Hunpi e o Hunlé. Se for somente dois tocadores, o Agogo e o Hunlé
e, havendo apenas uma pessoa para tocar, somente o Agogo vai ser usado...”

Acho que isso ilustra bem, a importância desses instrumentos que, infelizmente
hoje, estão sendo desprezados em razão da incessante busca pelo Hun. Bom,
espero que uma vez mais, ter contribuindo um pouco para o entendimento e
esclarecimento sobre os Tradicionais Toques do Candomblé Kétu-Nàgó.

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