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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL


Departamento de Estruturas

TEORIA DAS DEFORMAÇÕES

PROF DR. NILSON TADEU MASCIA

CAMPINAS, JANEIRO DE 2006 (REVISÃO 2017)

1
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................... 3
2. Significado físico de deformação ....................................................................................... 3
3. Definição matemática de deformação ................................................................................ 5
4. Deformação elástica ........................................................................................................... 8
4.1 Lei de Hooke ................................................................................................................. 8
4.2 Cisalhamento puro ...................................................................................................... 11
4.3 Lei de Hooke generalizada .......................................................................................... 13
4.4 Análise do coeficiente de Poisson ............................................................................... 13
4.5 Dilatação e módulo volumétrico ................................................................................. 15
5. Deformação no estado plano de tensão ............................................................................ 17
5.1 Equações para a transformação de deformação plana ................................................. 18
5.2 Círculo de Mohr para deformação .............................................................................. 21
6. Exercícios ......................................................................................................................... 23
6.1 Exercício nº1 ............................................................................................................... 23
6.2 Exercício nº2 ............................................................................................................... 24
6.3 Exercício nº3 ............................................................................................................... 26
7. Medidas de deformação - Rosetas .................................................................................... 28
8. Bibliografia ....................................................................................................................... 30

2
TEORIA DAS DEFORMAÇÕES

1. Introdução

A análise das deformações de um corpo sólido iguala-se em importância à análise de


tensões e se constituirá de nosso objeto de estudo nesta segunda parte da teoria das tensões e
deformações.
Para isso será necessária a definição precisa de deformação em primeiro lugar, e das
relações entre tensão e deformação na forma da lei de Hooke generalizada, a seguir.

2. Significado físico de deformação

Um corpo sólido se deforma quando sujeito a mudanças de temperatura ou a ação


de uma carga externa. Por exemplo, num ensaio de corpo de prova de aço, como mostrado
na figura abaixo, ocorre mudança no comprimento do C. P., entre dois pontos A e B. A
carga aplicada é crescente e os pontos A e B são genéricos.

Fig. 1 - Modelo do ensaio de tração

3
Neste ensaio determina-se a variação do comprimento compreendido entre A e B.
Se l0 é o comprimento inicial e l é aquele observado sob tensão de tração, o alongamento da
barra vale:
∆l=l-l0

O alongamento por unidade de comprimento vale:


l
dl l-l0
ε=  =
l0 l0 l0

Esse alongamento por unidade de comprimento é chamado de deformação linear ou


específica, sendo uma quantidade adimensional, mas usualmente se pode referir a ela por
cm/cm ou mm/mm. Algumas vezes é dada em porcentagem. A quantidade ε é numericamente
bastante pequena. Se considerar a variação do comprimento da peça, a expressão anterior
ficaria:
l
dl l
ε=  = ln lll0 =ln
l0 l0 l0

Além da deformação linear descrita acima, um corpo em geral pode se deformar


linearmente em outras duas direções. Analiticamente as direções são ortogonais entre si e
relacionadas nos eixos x, y, z. Assim, um corpo pode se deformar como na figura abaixo.

Fig. 2 - Deformações tangenciais

Tais deformações causam uma mudança nos ângulos inicialmente retos, entre linhas
imaginárias do corpo e essa alteração angular é definida por deformação cisalhante ou
deformação tangencial.

4
3. Definição matemática de deformação

As deformações variam de ponto a ponto num elemento estrutural infinitesimal


(continuidade do material). Para esclarecimento das deformações, via definição matemática,
toma-se um elemento infinitesimal (AB), como mostra a figura:

Fig. 3 - Deslocamento e deformação

Os pontos A e B passam para A’ e B’ respectivamente. Durante a deformação, o ponto


A sofre um deslocamento u. O deslocamento do ponto B é u+∆u, pois, além de u, comum a
todo elemento ∆x, ocorre o alongamento ∆u no elemento. Assim, a definição de deformação
linear é:
u+u+∆u ∆u du
ε= lim = lim =
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x dx

A figura 4 apresenta um corpo que sofre deformações ortogonais, para o caso bi-
dimensional.

Fig. 4 - Deslocamento e deformação: caso plano

5
As deformações decorrentes podem ser indicadas por meio de índices. Pela mesma
razão, é necessário mudarem-se as derivadas ordinárias para parciais. Dessa forma, se em um
ponto de um corpo os componentes de deslocamento nas direções x e y (caso bidimensional)
forem u e v, as deformações lineares são:
∂u
u+ dx-u ∂u
εx = ∂x
∂x
=
dx
∂v
v+ dy-v ∂v
∂y
εy =
∂y
=
dy
No caso tridimensional acrescenta-se:
∂w
εz =
∂z

Onde w representa o deslocamento na direção z.


O sinal positivo se aplica aos alongamentos e o negativo aos encurtamentos.
Além da deformação linear, um elemento pode sofrer uma deformação angular
(transversal), como mostrado na figura abaixo, em relação ao plano x-y:

Fig. 5 - Deformações tangenciais: caso plano

Esta deformação inclina os lados do elemento deformado em relação aos eixos x e y.


Como v é o deslocamento na direção y, na direção x tem-se que a inclinação do lado PQ
inicialmente horizontal é ∂v⁄∂x.1

1
Num elemento do quadrado PRSQ
dx=ds cos θ
dy=ds sen θ

6
Fig. 6 - Deformações tangenciais: análise de γ

Num elemento do quadrado deformado P’R’S’Q’ vem:

Fig. 7 - Deformações tangenciais: análise de γ

Sendo γxy muito pequeno, vem:


π
cos  +γxy  =-senγxy ≅-γxy =γ1 +γ2
2

Analogamente, o lado vertical gira de um ângulo ∂u⁄∂x, como consequência o ângulo


reto PRQ reduz de:
∂v ∂u
∂x ∂y 1 2 xy
+ =γ +γ =γ

Valendo estas considerações para pequenas variações dos ângulos γ1  γ2 de onde se


pode ter:
tg γ1 ≅sen γ1 ≅γ1 , valendo também para γ2 .

O sinal positivo para a deformação angular se aplica quando é deformado segundo a


figura desenhada anteriormente, e pode-se relacionar com os τxy positivos na convenção de
sinais adotada anteriormente.
Para os planos xz e yz as definições são semelhantes, portanto:

7
∂w ∂u
+ =γ = γxy
∂x ∂z zx
∂w ∂v
∂y ∂z yz zy
+ =γ =γ

Observação:
Uma importante observação a respeito das relações deslocamento/deformação é que
as deformações, em número de seis, dependem de três deslocamentos. Assim as equações
não são independentes, necessitando de equações de compatibilidade para solução do
problema.
a) Caso Tridimensional
Deformação: εx , εy , εz ,γxy ,γxz ,γyz
Deslocamentos: u, v, w

b) Caso Plano
i. Caso Plano de Tensões
Deformação: εx , εy , εz ,γxy
Deslocamentos: u, v, w

ii. Caso Plano de Deformações


Deformação: εx , εy , εz ,γxy
Deslocamentos: u, v

4. Deformação elástica
4.1 Lei de Hooke

Suponhamos que o corpo ou sólido a ser estudado siga a lei de Hooke e seja de
material isótropo. Define-se isotropia a propriedade de um material ter o mesmo
comportamento elástico em qualquer direção.
A lei de Hooke é aplicada com as seguintes considerações:
a) Se em todos os pontos de um sólido atua a mesma tensão σ de direção constante,
um comprimento l na direção de σ, sofre um alongamento:
σ×l
∆l=
E

b) Na direção normal à tensão σ no comprimento t, ocorre um encurtamento:


ν×t×σ
∆t=-
E

Esquematicamente:

8
Fig.8 - Alongamento e contração na tração

Fazendo-se:
∆l σ
=
l E
∆t σ
ν×t E
- =

Igualando-se as expressões tem-se:


∆l ∆t
ν×t
=-
l

Como:
∆l

l y
∆t

t x

Tem-se:
εx εx
εy =- → ν=-
ν εy

Sendo ν chamado de coeficiente de Poisson e genericamente representado por:

εi deformação lateral (-)


νij =- =
εj deformação axial (+)

Com ν variando entre 0 e 0,5, como veremos mais tarde.

9
É interessante notar que há, até agora, duas constantes de isotropia, E e ν, válidas para
x, y e z.
Considerando-se agora um elemento tridimensional solicitado segundo as direções
principais:
a) Aplicando-se apenas a tensão σ1 :
l1 ×σ1 ν×l2 ×σ1 ν×l3 ×σ1
∆l1 '= ; ∆l2 '=- ; ∆l3 '=-
E E E

Fig. 9 - Lei de Hooke: caso tridimensional

b) Aplicando-se apenas a tensão σ2 :


ν×l1 ×σ2 l2 ×σ2 ν×l3 ×σ2
∆l1 ''=- ; ∆l2 ''= ; ∆l3 ''=-
E E E

c) Aplicando-se apenas a tensão σ3 :


ν×l1 ×σ3 ν×l2 ×σ3 l3 ×σ3
∆l1 '''=- ; ∆l2 '''=- ; ∆l3 ''=
E E E

Juntando-se ∆l1 para os três casos tem-se:


l1 ×σ1 ν×l1 ×σ2 ν×l1 ×σ3
∆l1 '+∆l1 ''+∆l1 '''= - -
E E E

Fazendo a superposição de efeitos:


∆l1 ' ∆l1 '' ∆l1 ''' 1
+ + = σ1 -ν(σ2 +σ3 )
l1 l1 l1 E
1
∴ε1 = σ1 -ν(σ2 +σ3 )
E

Analogamente para ∆l2 e ∆l3 tem-se:


1
ε2 = σ2 -ν(σ1 +σ3 )
E

10
1
ε3 = σ3 -ν(σ1 +σ2 )
E

4.2 Cisalhamento puro

Considerando-se o cisalhamento puro caracterizado por:


σ1 =-σ3 =σ
 σ =0
2

A figura abaixo mostra uma chapa com este estado de tensão e o respectivo círculo
de Mohr.

Fig. 10 - Cisalhamento puro

O alongamento específico na direção da tração seria:


1 1+ν
ε= σ1 -νσ2 = σ
E E

Tomando-se agora um elemento quadrático 1-2-3-4 cujas faces formam um ângulo


de 45º com as direções principais (tração e compressão), tem-se que a tensão normal nestas
faces é nula, atuando apenas uma tensão cisalhante τ, cujo valor é σ, como mostra o círculo
de Mohr. A diagonal l, horizontal, sofrerá um alongamento tal que:
1+ν 1+ν
∆l=l×ε=l σ , pois ε= σ
E E

11
Fig. 11 - Distorção do elemento

A diagonal vertical encurtará do mesmo valor e deste modo, o quadrado 1-2-3-4


torna-se um losango. Na figura a seguir os desenhos do quadro e do losango são repetidos,
mas com os pontos 1 e 2 fixos.

Fig. 12 - Distorção do elemento.

Assim, é verificado que a deformação se resume numa variação do ângulo reto, ou


seja, a distorção (variação do ângulo reto) vale, para pequenas deformações2:
∆l√2 ∆l
γ≅tg γ≅
∆l
=2 =2ε
l
√2
1+ν
γ=2 σ
E
2
Esta demonstração baseia-se no fato de ∆݈ ser “bastante” pequeno em relação a l e também E ser “bastante”
grande, como ocorre, aliás, nos materiais usuais.

12

pode-se concluir que as tensões τ, iguais em módulo


Isolando-se o elemento 1-2-3-4
às tensões principais ±σ, causaram a variação do ângulo reto. Vale portanto a relação (como
visto em torção):
τ σ
γ= → γ=
G G
E
G=
2(1+ν)

Esta relação vincula os três parâmetros elásticos para materiais isotrópicos: E, G, ν;


sendo, dos três, apenas dois independentes.

4.3 Lei de Hooke generalizada

Pode-se chegar, agora, ao nível de se indicar a lei de Hooke para um elemento


solicitado pelas tensões:
σx, σy, σz, τxy, τxz e τyz

Portanto, considerando-se o caráter linear das relações entre tensão e deformação, que
permite uma superposição de efeitos, tem-se a lei de Hooke generalizada:
1 τxy
εx = σx -ν(σy +σz ) γxy =
E G
1 τxz
εy = σy -ν(σx +σz ) γxz =
E G
1 τyz
εz = σz -ν(σx +σy ) γyz =
E G

Os componentes de deformação (σx, σy, σz, τxy, τxz e τyz) definem o estado de
deformação, similar ao estado de tensão (este tridimensional).

4.4 Análise do coeficiente de Poisson

É interessante a análise do coeficiente de Poisson no sentido de quantificá-lo


numericamente e com isso também quantificar o valor de G função de E e ν, ou tendo G e ν
determinar E, sendo a primeira situação a mais prática.
Imaginando para este fim um corpo cilíndrico de material isótropo carregado nas
bases com pressão P e lateralmente com P1, como mostra a figura:

13
Estado de tensão
σ1 =-P
σ2 =σ3 =-P1

Fig. 13 - Pressão num sólido

Neste caso, tem-se o seguinte estado de tensão:


σ1 =-P
σ2 =σ3 =-P1

A direção longitudinal é uma das principais e qualquer uma das direções transversais
pode ser também principal (a forma da seção transversal não influi). Escolhemos agora a
relação entre P1 e P de tal modo que a deformação elástica consista apenas numa variação
dos comprimentos longitudinais sem variação da área da seção. Tem-se um estado linear de
deformação3 caracterizada por:
ε1 ≠0, ε2 =ε3

Assim, com σ1 = -P, σ2 = σ3 = P1, tem-se:


1 ν
ε2 =- P1 -ν(P1 +P)=0→P1 = P
E 1-ν

E, para ε3 = 0, chegar-se-ia à mesma relação de pressões.


Fazendo-se:
∆l P ν
ε1 = =- 1-2ν 
l E 1-ν
P 2 0,5-ν(1+ν)
ε1 =-
E 1-ν

3 No estado linear de tensão tem-se σ1 ≠ 0, σ2 = σ3 = 0

14
O encurtamento específico ε1 exprime a “variação” de volume, porque a seção não
varia. Desta equação resulta ν < 0,5, pois, caso contrário, as pressões P e P1 produziriam
aumento de volume, o que não é possível.
Da equação
ν
P1 = P
1-ν

Conclui-se que:
ν≥0

Pois se ν < 0 significaria que a tendência da pressão longitudinal P de aumentar a


área deve ser combatida por uma tração transversal, que é compatível com a hipótese do
problema em estudo.
Há, portanto, os limites teóricos para o coeficiente de Poisson:
0 < ν < 0,5

Por curiosidade, para o aço, ν ≈ 0,3. Vale ressaltar que estas deduções servem
apenas para materiais isótropos.
Pode-se então analisar a relação:
E
G=
2(1+ν)

Se ν = 0,3:
E E
G= →G=
2(1+0,5) 3

Conclusão:
G<E

Para o Aço:
G ≈ 8.000 KN/cm2 e E = 21.000 KN/cm2

4.5 Dilatação e módulo volumétrico

Considera-se os lados de um elemento infinitesimal dx, dy, dz. Após a deformação os


lados ficam:
1+εx dx
1+εy dy
1+εz dz

Tomando-se agora o volume antes da deformação e depois da deformação tem-se:

dV=dxdydz
dV+∆dV= 1+εx dx1+εy dy 1+εz dz

15
Faz-se:
dV+∆dV-dV= 1+εx dx1+εy dy 1+εz dz-dxdydz
∆dV≅(εx +εy +εz ) dxdydz

Neste caso foram desprezados os produtos de deformação εx εy , εx εz , εy εz , εx εy εz , pois


são muito pequenos.
A variação de volume é frequentemente denominada de dilatação, e pode ser escrita
por:
e=εx +εy +εz =ε1 +ε2 +ε3

Sendo e um invariante de deformação.


No caso plano:
e=εx +εy =ε1 +ε2

Observa-se, neste momento, que as deformações angulares (γ) não causam variação
de volume.
Com base na lei de Hooke generalizada, a dilatação pode ser expressa em termos das
tensões e das constantes do material.
Assim:
e=εx +εy +εz
1 1 1
e= σx -ν(σy +σz ) + σy -ν(σx +σz ) + σz -ν(σx +σy )
E E E
1-2ν
e= σx +σy +σz 
E

Daí tira-se que e é proporcional a σx +σy +σz , que é também invariante (de tensões).
Portanto:
1-2ν
e= Θ
E

Sendo:
Θ=σx +σy +σz 

No caso de um corpo elástico submetido a uma pressão hidrostática de intensidade p,


tem-se:
σx =σy =σz =-p

Daí:
Θ=-3p
1-2ν
e=-3 p
E

Fazendo-se:
p E
- =K=
e 3(1-2ν)

16
A quantidade K é chamada de módulo de compressão ou módulo volumétrico, e
representa a relação entre compressão hidrostática e a variação de volume.

5. Deformação no estado plano de tensão

Considerando um estado plano de tensões definido por:


σx ,σy ,τxy ≠0

σz ,τxz ,τyz =0

Esquematicamente, é definido por:

Fig. 14 - Estado de tensão

As expressões da lei de Hooke ficam:


1
εx = (σx -νσy )
E
1
εy = (σy -νσx )
ν
E
εz =- (σx +σy )
E
εx ,εy ,εz ,γxy ≠0
τxy E
γxy = com G=
G 2(1+ν)

No caso plano de deformação tem-se:


εx ,εy ,γxy ≠0

εz ,γxz ,γyz =0

17
E as expressões da lei de Hooke ficam4:
1
εx = σx -ν(σy +σz )
E
1
εy = σy -ν(σx +σz )
E
1
εz = σz -ν(σx +σy ) →σz =ν(σx +σy )
E
τxy E
γxy = com G=
G 2(1+ν)

5.1 Equações para a transformação de deformação plana

As equações para a transformação de deformação plana tem desenvolvimento


análogo ao de tensão.

Fig. 15 - Estado de tensão

Então, sendo conhecidas as tensões σx, σy e τxy, deseja-se conhecer as deformações


εx, εy e γxy. Assim:
1
εx = (σx -νσy )→σz =0
E
1
εy = (σy -νσx )→σz =0
ν
E
εz =- (σx +σy )→σz =0
τxy
E
γxy =
G

4
Observação importante: no caso plano de deformação existe uma tensão σz ≠ 0 o que implica um estado de
tensão triaxial

18
Deseja-se, também, conhecer as deformações em um plano girado dθ (anti-horário).
Para rotações de tensões tem-se:
σ̅ =σx cos2 θ+σy sen2 θ+τxy sen2θ
σ =σx sen2 θ+σy cos2 θ-τxy sen2θ
σy -σx
τ
 = sen2θ +τxy cos2θ
2

Tomando-se um elemento dx, dy as deformações ficam como mostradas na figura:

Fig. 16 - Deformação no elemento

Para as direções x e y tem-se:

Fig. 17 - Deformação no elemento

E as deformações ficam:
1
εx = (σx -νσy )
E
1
εy = (σy -νσx )
E

19
ν
εz =- (σx +σy )
τxy
E

γxy =
 G

Substituindo-se na equação de εx os termos de σx e σy vem:


1
εx = σx cos2 θ+σy sen2 θ+2τxy senθcosθ-ν(σx sen2 θ+σy cos2 θ-τxy senθcosθ)
E
1
εx = cos2 θ(σx -νσy )+sen2 θ(σy -νσx )+2senθcosθ(τxy -ντxy )
E

Daí:
1 1 2senθcosθ
εx = cos2 θ  (σx -νσy ) + sen2 θ  (σy -νσx ) +  Gγxy +νGγxy 
E E E

Sendo:
E
γxy G=γxy
2(1+ν)
E E E 1+ν E
Gγxy +νGγxy = γxy +ν γxy =γxy   =γxy
2(1+ν) 2(1+ν) 2 1+ν 2

Assim:
2senθcosθ E
εx = εx cos2 θ+εy sen2 θ+ γxy
γxy
E 2
∴ εx = εx cos θ+εy sen θ+
2 2
sen2θ
2
Ou, em arco duplo:
εx +εy εx -εy γxy
εx =  +  cos 2θ + sen2θ
2 2 2

Analogamente:
εx +εy εy -εx γxy
εy =  +  cos 2θ - sen2θ
2 2 2
γxy

= εy -εx  sen 2θ - γxy cos2θ
ν ν ν
εz = - σx +σy =- σx +σy =- σ1 +σ2 
E E E
Sendo o invariante:
σx +σy =σx +σy =σ1 +σ2

Supondo-se agora dois casos particulares.


1. Os eixos x e y são principais:
σx =σ1 , σy =σ2 e τxy =0→εx =ε1 , εy =ε2 e γxy =0

Ficando as expressões de εx , εy e γxy



:
ε1 +ε2 ε1 -ε2
εx =  +  cos 2θ
2 2

20
ε1 +ε2 ε2 -ε1
εy =  +  cos 2θ
2 2
γxy

= ε2 -ε1  sen 2θ

2. Os eixos x
e y
são eixos principais
a. γxy

=0
0= εy -εx  sen 2θ - γxy cos2θ
γxy
εx -εy
tg2θ1 =

dεxത
b. =0 (máximo de uma função)
εx +εy εx -εy γxy

εx =  +  cos 2θ + sen2θ


γ
2 2 2
dεx εx -εy xy
= -2   cos 2θ + 2cos2θ=0
dθ 2 2
∴(εy -εx ) sen 2θ +γxy cos2θ=0=γxy 

Logo xത é extremo de uma função.




E as deformações principais podem ser escritas:
ε1 εx +εy εx -εy 2 γxy 2
±   + 
ε2
=
2 2 2

As deformações tangenciais nestes planos são nulas.


A deformação máxima de cisalhamento ocorre nos planos a 45º com os planos
principais e vale:
1 εx -εy 2 γxy 2
γmax =  + 
2 2 2

5.2 Círculo de Mohr para deformação

Analogamente ao estado de tensão obtém-se:

21
εx -εy 2 γxy 2
R=  + 
2 2
Fig. 18 - Círculo de Mohr

E como observações há:


a) A deformação linear máxima é ε1 e mínima é ε2. Essas são as deformações
principais e nenhuma deformação angular (γ) está associada a elas. As direções
das deformações principais coincidem com as das tensões principais.
b) A maior deformação angular é γmax e vale o raio do círculo de Mohr. Assim:
ε1 -ε2
R=γmax =
2

c) A soma das deformações lineares em quaisquer duas direções mutuamente


perpendiculares é invariante:
εx +εy =ε1 +ε2 =constante

d) Nos planos em que as deformações angulares (cisalhantes) são máximas, as


deformações normais (lineares) são:
ε1 +ε2
2

e) O ponto P do círculo funciona como pólo e o círculo de Mohr é traçado


analogamente ao das tensões. E, finalmente, pode-se fazer a seguinte analogia
entre tensão e deformação:

22
Tensões Deformações
σx ε
σy εy
τxy
1
γ
2 xy
σx εx
σy εy
τxy 1

γ
2 xy

6. Exercícios
6.1 Exercício nº1

Um elemento de um sólido se contrai de 5x10-4mm/mm, ao longo do eixo x, e se


alonga de 3x10-4 na direção de y e se distorce de um ângulo de 6x10-2 rad, como mostra a
figura. Determinar as deformações principais e as direções nas quais elas atuam. Utilizar o
Círculo de Mohr para a solução do problema.

Solução:

Elemento deformado Analogia com tensão


Fig. 19 - Estado de deformação

23
Fig. 20 - Círculo de Mohr

6.2 Exercício nº2


Sendo εa = 200 x 10-6 e εb = 300 x 10-6 deformações nas direções a e b
respectivamente d um certo ponto numa chapa. Sabendo-se que εa é a deformação e vale ε2,
determine as tensões e as deformações para o ponto indicado. Dados: E = 20.000 KN/cm2, ν
= 0,3.

Fig. 21 - Estado de tensão

Solução:

24
Fig. 22 - Estado de tensão

εb =εy =300×10-6
εa =ε2 =εx =200×10-6

O cálculo de σx, σy, e τxy deverá ser feito pela lei de Hooke. Assim:
1
εb =εy =300×10-6 = (σ -0,3σx )
20.000 y
σy -0,3σx =6 (I)

εx +300×10-6  εx -300×10-6  γxy


εa =εx =200×10 =
-6
+ cos 2×60° + sen 2×60°
2 2 2
εx +1,732γxy =-100×10-6 (A)

Como a direção principal é obtida por rotação de 60º do eixo x-x tem-se:
γxy
tg 2×60°= =-1,732
εx -300×10-6
-εx -0,577γxy =-300×10-6 (B)

De (A) e (B) obtém-se:


εx =500×10-6
γxy =-346×10-6

Com isto:
E 20.000
τxy =γxy G=γxy =-346×10-6 
2(1+ν) 2(1+0,3)
τxy =-2,7 kN/cm2

E:
1 1
εx = (σx -νσy )= (σx -0,3σy )=500×10-6
E 20.000
σx -0,3σy =10 (II)

25
De (I) e (II):
σx =13,0 kN/cm2
σy =9,9 kN/cm2

E o estado de tensão:5

Fig. 23 - Estado de tensão

6.3 Exercício nº3


Para o tubo de parede fina são dados:
εaa =-1,40×10-4
εbb =4,80×10-4
E=21.000kN/cm2
ν=0,3

Fig. 24 - Tubo de parede fina

Determinar F e T

5
Pode-se resolver este problema por rotação de eixo. Assim se:
1
εxത = (σxത -νσyത )
E
σxത =…
σyത =…
Obtêm-se condições básicas para solução.

26
Solução:

Fig. 25 - Tubo de parede fina

a) Cálculo das tensões e deformações


O tubo, segundo sua vinculação, estará sujeito pelos esforços T e F e em qualquer
um dos seus pontos de uma seção transversal relacionado ao estado de tensão da
figura 25.

Assim:
εaa =εy =-1,40×10-4

εbb =εxത =4,8×10-4

Sendo σy e σz nulos pode-se obter por meio da expressão de εy o valor de σx.


1
εy =-1,40×10-4 = 0-0,3(σx +0)

21.000
σx =9,8 kN/cm2

Daí:
1
ε y = σx
E
1
εx = ×9,8=4,67×10-4
21.000

E:
4,67×10-4 -1,40×10-4 4,67×10-4 +1,40×10-4 γxy
-4
εbb =εxത =4,80×10 = + cos2×45° + sen2×45°
2 2 2
γxy =6,33×10-4

E:
E 21.000
τxy =γxy G=γxy = 6,33×10-4
2(1+ν) 2(1+0,3)
τxy =5,1 kN/cm2

27
b) Cálculo dos esforços T e F
i.Momento torçor T
Em tubos de parede final tem-se:
2T
τxy =
π×dm 2 ×t
π×dm 2 ×t 5,1×π×102 ×0,2
∴T=τxy × =
2 2
T=160 kN.cm

ii.Espaço normal F
F
σx = →F=σx ×A
A
F=σx ×π×d×t=9,8×π×0,10×0,2
F=61,6kN

c) Sentido dos esforços:


Sendo σx e γxy positivos tem-se:

Fig. 26 - Tubo de parede fina – esforços

7. Medidas de deformação - Rosetas

Extensômetros elétricos de resistência são pequenos instrumentos de uso comum


em laboratórios quando se deseja medir deformações. Fazendo-se composições com os
extensômetros pode-se chegar a um conjunto chamado roseta.
Na figura a seguir são apresentados dois tipos de rosetas. Uma denominada de
retangular e a outra de delta.

28
Arranjos de sensors Roseta retangular Roseta delta

Fig. 27 - Composições com os extensômetros.

Se conhecidos θ1, θ2 e θ3 e εθ1, εθ2 e εθ3, podem-se obter εx, εy e γxy pelas expressões:
εθ1 = εx cos2 θ1 +εy sen2 θ1 + γxy cosθ1 sen θ1
εθ2 = εx cos2 θ2 +εy sen2 θ2 + γxy cosθ1 sen θ2
εθ3 = εx cos2 θ3 +εy sen2 θ3 + γxy cosθ1 sen θ3

Se θ1=0º, θ2=45º e θ3=90º, tem-se o caso da roseta retangular:


εx =ε0°
εy =ε90°
εx εy γxy
ε45° = + +
2 2 2
∴γxy =2ε45° -(ε90° +ε0° )

Se θ1=0º, θ2=60º e θ3=120º, tem-se o caso da roseta delta:


εx =ε0°
(2ε60° +2ε120° -ε0° )
εy =
3
2
γxy =   (ε60° -ε120° )
√3

A aplicação da técnica das rosetas em problemas experimentais de análise de tensão


é quase rotineiro.

Exemplo:
Se εa = 150×10-6, εb = 300×10-6 e εc = 150×10-6 são deformações em x, y e a distorção
γxy .

Fig. 28 - Exemplo - Extensômetros

Solução:
Aplicando-se a expressão da roseta retangular obtém-se:

29
εx =ε0° =εa =150×10-6
εy =ε90° =εc =150×10-6
εx εy γxy
ε45° =εb = + +
2 2 2
γxy =0
Ou:
γxy =2ε45° -(ε0° -ε90° )
γxy =0

8. Bibliografia

FEODOSIEV, V.I. Resistencia de Materiales. Moscou: Editora Mir, 1980, 583p.

POPOV, E.G. Introdução à Mecânica dos Sólidos. São Paulo: Editora Edgard Blucher
Ltda, 1978. 534p.

SCHIEL, F. Introdução à Resistência dos Materiais. São Paulo: Harpet & Row do
Brasil, 1984. 395p.

Nilson Tadeu Mascia

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